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Natânia Garcia - XXXIX Nematelmintos CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS NEMATÓDEOS: Indivíduos cilíndricos, cilíndrico-fusiformes ou filiformes, que tem sistema digestório completo (boca – ânus) e dimorfismo sexual presente (fêmea>macho). 1mm – 1m (Dracunculus fêmea). Capa externa acelular (cutícula), composta por 3 camadas, com estriações e que o protege do ambiente. Ela é trocada 4 vezes ao longo da vida, sendo os estágios de desenvolvimento: 4 formas larváreas e os adultos. Conforme ele faz essa muda, troca a cutícula e pode crescer de tamanho. Etapas: L1, L2, L3, L4 e o adulto. o L1 – Rabditoide ou rabditiforme. o L3 – Filaróide ou filariforme. Esses estágios estão associados tanto ao diagnóstico quanto são estágios que em alguns parasitas são infecciosos. Por exemplo: algumas espécies só conseguem infectar humanos quando estão no estágio L3. Ascaris lumbricoides Organismo É um verme grande e grosso, e a obstrução intestinal é o problema. Ele é tão grande que pode formar o bolo de ascaris, onde eles se juntam no intestino e não conseguem ser eliminados. 15 – 30cm o macho e 35 – 45cm a fêmea. A superfície dele é rugosa. Sua cutícula é feita de escamas e essas estruturas apontam pra trás, e ele usa a cutícula pra se aderir a parede do intestino. Ciclo de vida A infecção ocorre ao ingerir o ovo de áscaris, que é liberado nas fezes dos humanos e precisa de um tempo no solo para ser maturado. Os ovos de fezes frescas não são infectivos. São geo-helmintos, contraídos no solo. Natânia Garcia - XXXIX Após a liberação ao meio, o ovo fertilizado demora cerca de 12 dias para atingir o estágio L1 (rabditóide). 30-35°C, com presença de umidade e O2. Em mais uma semana, a larva dentro do ovo sofre outras duas transformações (L2 e L3) e torna-se infectiva, mantendo a cutícula que o protege. Essa larva pode ficar dentro do ovo no chão por 6 meses a 1 ano. O ciclo de vida é iniciado pela ingestão de larva infectante que, sensibilizada pelo suco gástrico, eclodem no duodeno e invadem a corrente sanguínea e linfática. São enviados ao pulmão, onde permanecem cerca de 10 dias, realizando duas mudas (jovem adulto), que migra à faringe e é deglutida, instalando-se no intestino delgado. o Ou seja: a larva L3 não se transforma em adultos direto no intestino. No estômago a casa do ovo é digerida e depois passa pro delgado, onde a L3 invade a mucosa do duodeno e cai na corrente sanguínea, é levada até o pulmão, e no pulmão ela termina de fazer suas mudas e sai como um adulto. Rompe o capilar, sobe pelo alvéolo, brônquio, até chegar na faringe. Indivíduo tosse, expulsa ele, e depois deglute. Ao engolir o adulto resiste ao suco estomacal e vai para o intestino. O período pré-patente da infecção (desde a infecção com ovos embrionados até a presença ovos nas fezes do hospedeiro) é de 60 a 75 dias. Dois meses até liberar ovos nas fezes depois da ingestão. Necator, ancylostoma, strongyloides e ascaris fazem o ciclo no pulmão. Quadro clínico Popularmente conhecida como Lombriga, afeta o tubo digestivo e órgãos anexos. É necessário considerar: o Larvas na sua migração normal pelo aparelho respiratório. o Larvas erráticas em diferentes órgãos. o Adultos em sua localização normal no intestino. o Adultos erráticos em localizações ectópicas. Nas infestações de baixa intensidade (3-4 vermes), geralmente não ocorrem sintomas. Nas infestações de média intensidade (30-40 vermes) ou nas maciças (100 ou mais vermes) os vermes adultos podem causar ação espoliadora, tóxica ou mecânica. Em adultos, a maioria dos quadros é assintomática ou apresenta desconforto intestinal, cólicas, sono intranquilo, abaulamento do abdômen, dor periumbilical. Em indivíduos mais sensíveis, ou em quadros de parasitose intensa, pode ser acompanhado de febre. Natânia Garcia - XXXIX Complicações Obstrução intestinal (adultos e crianças): íleo paralítico; acarreta em abdome agudo. Síndrome de Loeffler: é uma pneumonia eosinofílica, identificada por tosse seca, febre discreta, dispneia importante, mialgia. O sistema imune tenta matar o verme, e o eosinófilo é responsável por combate a parasitas. Vai para o pulmão, gera pneumonia eosinofílica. Gera densidade radiológica periférica, usualmente bilateral e chiado. Obstrução do colédoco, pancreático. Ele morre obstruindo o ducto colédoco, por onde sai o suco pancreático e a bile, gerando uma pancreatite aguda, hiperbillirrubinemia Abscessos hepáticos e pulmonares: infecção ectópica da larva por reinfecções. Epidemiologia Não é doença de notificação compulsória, o que dificulta a quantificação da incidência e prevalência. É subnotificada. Apenas no Brasil, estima-se em 50-70% a prevalência em crianças de classe baixa. Diagnóstico Identificação direta do parasita após tratamento com albendazol ou mebendazol, onde eles vão sair pelas fezes. Exame parasitológico de fezes: identificação dos ovos não-fertilizados (infecção por fêmea) e fertilizados. Ovos fertilizados / Ovos inférteis (são bem alongados). Tratamento Albendazol (ovocida, larvicida e vermicida). o Adultos 400mg/dia, em dose única e criança, 10mg/kg, dose única. Mebendazol (não é recomendado seu uso em gestantes). o 100mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos. Essa dose independe do peso corporal e da idade. Tratamento da obstrução intestinal: o Não se usa albendazol, ele mata o parasita e ele fica duro depois. o Suspender a dieta. Óleo mineral 40 a 60 ml por dia + hidratação + antiespasmódicos. Causar a morte flácida. Tratamento cirúrgico. o Enema com salina hipertônica, gastrografina (contraste hiperosmolar). Natânia Garcia - XXXIX Larva migrans visceral - Toxocara Organismo Toxocara canis. Infecção pela ingestão de ovos contendo larvas. Infecta o intestino delgado de cães. Por humanos serem hospedeiros incompletos, não há a produção de ovos. Ciclo de vida Criança ingere o ovo e ele começa a fazer o ciclo igual ao áscaris: invade a mucosa do duodeno, cai na corrente sanguínea, mas não completa o ciclo. Ele não se transforma em adulto dentro dos humanos. Em vez disso, a larva migra pra tecidos de maneira errática. Como elas não completam o ciclo, elas morrem, e isso gera uma resposta inflamatória intensa que danifica os tecidos. O principal órgão alvo dessas larvas é o fígado, pois recebe o sangue pela veia porta. Também podem invadir outros órgãos como o pulmão, os rins, o cérebro. Quadro clínico Toxocaríase visceral: frequente em crianças de 1 a 4 anos, acomete fígado, coração, SNC. Toxocaríase ocular: mais frequente em crianças a partir de 7 anos. Assintomática (infecções leves): eosinofilia persistente. Forma Clássica (LMV): febre, hepatomegalia e sintomas respiratórios, eosinofilia crônica (50%). Atinge crianças de 1 a 5 anos. o A síndrome ocorre sobretudo em crianças de 18 meses a 3 anos de idade, mais expostos a ingerir ovos de Toxocara. A prevalência de anticorpos contra antígenos de T. canis varia entre 2-80% em diferentes populações. Forma Ocular (LMO): formação de granulomas e comprometimento visual (unilateral). Diagnóstico Hipereosinofilia, associada a sinais de comprometimento do órgão. A contagem explode e persiste ao longo de semanas, normalmente varia entre 5 a 10% do total de leucócitos, e no caso de larva migrans visceral essa proporção pode atingir 50%. Histórico de contato com fezes de cães e gatos. Natânia Garcia - XXXIX Há uma sorologia positiva grande nos EUA, mais ou menos 25%, o que indica que o contato com o parasita é frequente. Na população canina de rua entre 70 a 90% apresenta toxocara. A fêmea consegue transmitir pela placenta larvas para o filhote, ele já nasce infectado. Larva migrans visceral: o Demonstração das larvas nos tecidos possui baixa sensibilidade.o Pesquisa de anticorpos ELISA e IFI deve-se ter cuidado em populações com alto índice de soropositividade. Larva migrans ocular: o Detecção de anticorpos no soro não é eficiente, pois a produção de anticorpos nessa forma é irregular, muitas pessoas não produzem anticorpos detectáveis no sangue, então a sorologia pode dar falso negativo. A detecção no humor aquoso é mais eficiente. o No exame de fundo de olho é possível ver granulomas, morte de tecido celular por fibrose. Tratamento Tiabendazol e Albendazol. Dietilcarbamazina é alternativa terapêutica. É da mesma família da ivermectina, e ambos têm uma boa distribuição tecidual, para combater esses parasitas que acometem os tecidos. Corticosteróides (nos casos de larva migrans ocular). Ancilostomídeos Organismo São estiofágicos e hemofágicos. Comem tecido e chupam sangue. Dentinhos grudam na mucosa e comem. Ancylostoma (Ancylostoma duodenale): o Róseo esbranquiçado. 8-11 mm. o Na extremidade posterior, apresenta a bolsa copuladora. Necator (Necator americanos): o Formato similar ao Ancylostoma, apresenta bolsa copuladora. 5-9 mm. Natânia Garcia - XXXIX Ciclo de vida As larvas L3 entram pelo pé, pela pele, comendo o tecido e invadindo ate chegar na corrente sanguínea e linfática. O sítio de infecção pode gerar coceira. Na corrente sanguínea ele vai para o pulmão e se transforma em adulto. Tosse, engole e se instala no intestino delgado, onde se fixam, atingindo a maturidade em 6 a 7 semanas. Permanece lá mordendo a mucosa, comendo e causando ulceração. Produzem milhares de ovos por dia. São geo-helmintos e monoxênicos (homem como único hospedeiro, só se detecta ele nas fezes de outro humano). Os ovos são liberados no ambiente pelas fezes e tornam-se larvados (L1). A larva rabditóide leva por volta de uma semana para tornar-se larva filarioide no solo (L3). Pode permanecer infectante por semanas no solo. Fisiopatologia Ação patogênica das larvas: o Ao transporem o tegumento promovem irritação, prurido e infecção bacteriana. o Em sua migração, ao passar pelos pulmões, podem gerar pequenas hemorragias que, se numerosas, podem confluir e causar lesões maiores, porém, muitas vezes se traduzindo pelos sintomas de uma pneumonia benigna. Ação patogênica dos adultos: o O intestino é acometido pela histiofagia e hematofagia do parasita. o Pode provocar formação de úlceras intestinais, anemia microcítica e hipocrômica e até hipoproteinemia (amarelão). Quadro clínico Alterações gastrointestinais parecidas com as do Ascaris, entretanto menos intensas. Úlceras, anemia microcítica e hipocrômica (característica de anemia ferropriva, hemácias menores que o normal), hipoproteinemia. Presença de disenteria em infestações maiores. Em casos de parasitismo elevado, desenvolve-se anemia importante, quando associada à diminuição da oferta de ferro na dieta. As Infecções severas (>50 vermes) têm prevalência maior em crianças, podendo causar anemia microcítica e hipocrômica, desnutrição proteico-calórica severa, dor abdominal, diarreia. Natânia Garcia - XXXIX Epidemiologia Não é doença de notificação compulsória, o que dificulta a quantificação da incidência e prevalência. É considerada uma doença tropical negligenciada. Estima-se entre 2-5% de prevalência em populações urbanas, a 15% em populações rurais. Diagnóstico Identificação direta do parasita (após tratamento com albendazol ou mebendazol). Exame parasitológico de fezes: identificação dos ovos através dos métodos de Lutz, Willis ou Faust, realizando-se também a contagem de ovos pelo Kato-Katz. Ovo é alongado. Hemograma com anemia microcítica e hipocrômica e eosinofilia. Tratamento Albendazol 200mg 2 cp VO dose única ou 10ml de suspensão (5ml = 200mg). Mebendazol 100 mg VO de 12/12 horas por 3 dias. Pamoato de Pirantel 10 mg/kg VO por 3 dias. Sulfato Ferroso 5 mg/kg/dia para tratar anemia. Larva migrans cutânea Famoso “bicho geográfico”. Ancylostoma braziliense e A. caninum. Parasitose relativamente frequente, principalmente no litoral. Tem como hospedeiro definitivo os cães. Ovos são liberados nas fezes dos cães e os humanos entram em contato com as larvas. Invade pela pele. Ela não consegue se transformar em adulto nos humanos. Natânia Garcia - XXXIX Ciclo de vida Larvas filarióides penetram a pele do cão e gato, onde completam seu ciclo. O ciclo de vida começa quando esses animais infectados por helmintos eliminam os ovos do parasita nas fezes. As fezes contaminadas quando em contato com um solo quente, úmido e arenoso se tornam um meio ótimo para a evolução dos ovos, que eclodem, liberando as larvas. No solo, as larvas recém-nascidas se alimentam de bactérias, e em 5 a 10 dias, passam por duas fases evolutivas até se tornarem aptas a infectar humanos ou outros animais. Larvas na 3ª fase evolutiva (fase infecciosa) podem sobreviver no ambiente por até quatro semanas, se encontrarem condições favoráveis. A contaminação do homem se dá quando há um contato da pele com o solo contaminado por larvas, habitualmente, quando andamos descalços sobre terreno arenoso. Praias, principalmente aquelas onde há fezes de cães e gatos na areia, são locais propícios para conterem larvas de helmintos. Quadro clínico É uma infecção de curso benigno, em cerca de 2 semanas o corpo elimina as larvas e evolui para cura. O problema é que o prurido pode causar lesões e virar uma porta de entrada para infecções secundárias. Lesões apresentam-se como pequenas pápulas eritematosas, pruriginosas. Esse incômodo usualmente leva a lesões provocadas pelo paciente. São lesões serpiginosas. Na extremidade do túnel, onde encontra-se a larva viva, as lesões apresentam-se frequentemente vesiculosas. Tratamento Albendazol 200mg 2 cp VO dose única ou 10ml de suspensão (5ml = 200mg). Mebendazol 100 mg VO de 12/12 horas por 3 dias. Pamoato de Pirantel 10 mg/kg VO por 3 dias. A coceira persiste por um tempo, mesmo após o uso de vermífugo pois as proteínas ainda permanecem na pele até os macrófagos destruírem. Não pode deixar coçar. Natânia Garcia - XXXIX Estrongiloidíase Organismo Diferente de outras espécies de nematoides, Strongyloides stercoralis apresenta seis estágios evolutivos. A forma parasitária é uma fêmea partenogenética, que mede de 1,7 a 2,5 mm de comprimento, 0,03 a 0,04 mm de largura, não apresentando receptáculo seminal. É mais comum em crianças e em pessoas imunodeprimidas. A larva rabditoide de S. stercoralis tem as mesmas características gerais dos ancilostomídeos, porém o primórdio genital é bem desenvolvido em S. stercoralis. No ambiente, as larvas evoluem para os estágios filarioide, adultos de vida livre ou estercorais. A principal característica da larva filarioide de S. stercoralis é sua extremidade posterior, que termina em ponta entalhada. É um parasita pequeno, ciclo de reprodução diferente. A fêmea parasita, no intestino do humano, produz ovos viáveis na ausência do macho. A aploidia desse parasita é variável, onde a fêmea parasitaria é triploide, a de vida livre é diploide, e o macho de vida livre é haploide. Ciclo de vida A fêmea no intestino produz três tipo de ovos: ovos triploides, ovos diploides (produz fêmeas de vida livre, que só sobrevivem na terra), e ovos haploides. Nas fezes dos indivíduos infectados há os três tipos de ovos. No solo os machos e fêmeas de vida livre se encontram e se reproduzem. A reprodução deles no chão é sexuada, e as larvas produzidas são todas fêmeas parasíticas. Larvas de fêmeas parasitárias que estão no chão evoluem até o estágio L3, invadem o ser humano pela pele, fazem todo o ciclo pulmonar e se instalam no intestino delgado. As larvas parasíticas podem não ir embora nasfezes, permanecem no intestino e invadem a mucosa, começando de novo o ciclo sem cair no solo. Ou seja, as fêmeas causam uma autoinfecção interna, multiplicando o número de parasitas do organismo. Natânia Garcia - XXXIX Strongiloides continuam multiplicando e causam lesão da mucosa intestinal. Migram para outros órgãos, causando a strongiloidíase disseminada. CICLO DIRETO: As fêmeas realizam a postura de ovos embrionados por paternogênese. Os ovos permanecem na mucosa intestinal, onde eclodem as larvas rabditóides (L1 e L2). Estas larvas rabtidóides são liberadas nas fezes e, em condições apropriadas (25-32°C, umidade) tornam-se larvas filarióides (L3), de segundo estágio. As larvas sobrevivem por dias no meio externo, realizam a infecção do hospedeiro penetrando o tegumento cutâneo. Após penetrar na pele, o ciclo é parecido com o de Ancylostoma, ciclo de Looss. Durante a passagem a larva sofre duas mudas, quando atinge o intestino torna-se adulta. Tem uma evolução rápida: 12 dias da penetração na pele até surgirem as primeiras larvas rabditóides nas fezes. CICLO INDIRETO: Fêmeas realizam a ovipostura e ainda no intestino ocorre a eclosão dos ovos, com liberação de larvas rabditóides. Larvas rabditóides são eliminadas pelas fezes e transformam-se em machos e fêmeas de vida livre (solo). Após a fecundação e ovopositura, originam-se larvas rabditóides que, após alguns dias, passam a filarioides. As larvas filarióides continuam seu desenvolvimento somente após penetração cutânea e ciclo pulmonar. AUTOINFECÇÃO: Larvas ainda no intestino tornam-se filaróides, realizando o ciclo de infecção sem a necessidade da passagem pelo solo. A autoinfecção explica a permanência por longos períodos de S. stercoralis no hospedeiro (parasitismo crônico). Vive 6 meses no intestino, mas fica se multiplicando. Natânia Garcia - XXXIX A autoinfecção externa consiste na invasão do tegumento por larvas filaróides na região perianal, apresentada em condições de péssima higiene. O principal local por onde essa larva invade é a região perianal, causando a larva currens. Causa reação de hipersensibilidade clássica tipo 1, causando prurido. Em imunodeprimidos essa autoinfecção começa a acelerar. Infecção disseminada. Larva currens É o nome da lesão. Ancylostoma – cães e gatos o Move lentamente ~2cm/dia. o Inflamação definida. Strongyloides – autoinfecção na região perianal o Move rapidamente ~10cm/dia. o Inflamação pouco definida, larga, urticária. Fisiopatologia Essa parasitose intestinal, na grande maioria dos casos, é assintomática ou oligossintomática. As formas sintomáticas podem cursar com manifestações dermatológicas, pulmonares ou intestinais. Dentre as alterações pulmonares, é possível ter tosse seca, dispneia ou broncoespasmo e edema pulmonar (síndrome de Loefler), que cursa com eosinofilia sanguínea elevada. Principais alterações na estrongiloidíase são provocadas por: ação traumática, ação irritativa, tóxica, antigênica. Enterite catarral: parasitos nas criptas glandulares causam uma reação inflamatória leve. o Dor epigástrica (antes refeição) ou cólica, náuseas, vômitos. Enterite edematosa: parasitas nas túnicas da parede intestinal causam uma reação inflamatória com edema de submucosa. Síndrome de má-absorção intestinal. Enterite ulcerosa: parasitos em grande quantidade geram uma inflamação intensa, que leva a ulcerações com invasão bacteriana e substituição por tecido fibrótico, gerando rigidez da Natânia Garcia - XXXIX mucosa intestinal e lesão irreversível. A fibrose pode provocar alterações no peristaltismo, ocasionando íleo paralisado. Pode levar a óbito. A sintomatologia intestinal pode ser de média ou grande intensidade, como: distensão abdominal, flatulência, dor em cólica ou em queimação em epigástrio, anorexia, náusea, vômitos, diarreia secretora ou esteatorreia, e desnutrição proteico-calórica. Nos casos de hiperinfecção, pode-se observar quadro grave manifestado por febre, dor abdominal, anorexia, náuseas, vômitos e diarreia (ou disenteria), podendo inclusive em alguns casos cursar com hemoptise e angústia respiratória. Em casos de imunossupressão, ocorre a doença disseminada: larvas em múltiplos órgãos (rins, fígado, bexiga, vesícula biliar, coração, cérebro, pâncreas, tireóides, adrenais, próstata, glândulas mamárias, linfonodos). o Dor abdominal, vômitos, diarréia, pneumonia, insuficiência respiratória, anemia, tontura, ascite. Pode evoluir a óbito. Diagnóstico Visualização das larvas nas fezes. Técnica de Barmann-Moraes: fezes frescas, coletadas sem conservantes, baseado no termotropismo das larvas. Método de Harada-Mori: em filtro de papel umidificado. As técnicas apresentam boa sensibilidade em pacientes infectados agudamente, mas a possibilidade de ocorrer disseminação de infecções crônicas (oligo ou assintomáticas) exige testes com alta sensibilidade, especialmente no Brasil, onde a prevalência da doença é alta. Dificuldades no diagnóstico: diferenciar a larva. o Larva rabtidiforme: Ancilostomídeos: peça bucal longa. Estrongilóideos: peça bucal curta, primórdio genital bem desenvolvido. o Larva filaróide: Ancilostomídeos: esôfago curto, cauda afunilada e breve. Estrongilóideos: esôfago em cerca de metade do corpo, cauda com entalhe. o Algumas dicas podem ser utilizadas: Larvas rabtidiformes de Stongyloides estão presentes em fezes frescas. Natânia Garcia - XXXIX Devido ao tempo para a eclosão, as larvas de Ancilostomídeos aparecem em fezes de 24h. Importante fazer a identificação de todas as larvas rabditóides e filaróides encontradas. Pode ocorrer coinfecção. Tratamento Ivermectina: por via oral 200μg/Kg/dia administrados em 2 vezes Benzimidazólicos: o Tiabendazol: 250 mg/Kg, 2 vezes ao dia, durante 7 a 10 dias. o Albendazol: oralmente 400mg/kg/dia durante 3 dias. Cambendazol: 5mg/Kg dose única. Enterobíase Organismo Enterobius vermicularis: também denominado oxiúro, é um agente parasitário cosmopolita, associado especialmente a baixas condições de higiene e aglomerações forçadas. Machos de 2-5mm, com a parte posterior enrolada; fêmeas de 8-12mm, com a porção posterior retilínea. São visíveis a olho nu. Tem incidência relativamente elevada no país. Ciclo de vida Ingestão de ovos embrionados. Os ovos eclodem no intestino delgado, sem a passagem por outros órgãos (não passa no pulmão), e os adultos vão para o intestino grosso, onde machos e fêmeas habitam. O macho fertiliza a fêmea e morre no intestino, a fêmea fertilizada vai até o reto durante a noite, sai pelo ânus e deposita os ovos na região perianal. Os ovos são recobertos por uma película de glicoproteínas que é adesiva, e se grudam na superfície podendo permanecer no ambiente por até duas semanas. Autoinfecção ânus-boca. Natânia Garcia - XXXIX Quadro clínico Usualmente assintomático durante a etapa intestinal. Quando sintomático, os sintomas são comparáveis aos de colite inespecífica. Após a migração das fêmeas para o ânus, a reação imune local (histamínica) pode levar à apresentação mais comum, o prurido anal. Diagnóstico Na maioria das vezes o diagnostico laboratorial é desnecessário, só com a clínica consegue fechar o diagnóstico. Swab anal ou teste da fita gomada (método de Graham): o Sensibilidade maior que 90% quando realizado em três dias consecutivos. o O teste consiste em pressionar uma espátula ou lâmina na região perianal com a face adesiva da fita gomada para a pele. Após a retirada, a fita é imediatamente observada em microscópio. Tratamento e recomendações Mebendazol ou Albendazol: 100mg, 2 doses semanais; 400mg de Albendazol acima dos 6 anos. Evitar o uso de cremes ou loções na região perianal,a fim de evitar maior irritação da pele, salvo pastas à base de óxido de zinco (hypogloss) para evitar o prurido. Observar ocorrência de infecções e aparecimento de lesões. Lavar roupas de cama e íntimas regularmente (diariamente), uma vez que os ovos podem sobreviver no ambiente por até 2 semanas, causando reinfecção ou infecção de outros indivíduos. Lavar brinquedos e outros fômites. Tricuríase ou Tricocefalíase Organismo Trichuris trichiura. A região anterior afilada e a posterior alargada, lembrando um chicote, são as principais características da morfologia externa dos vermes adultos de T. trichiura. Natânia Garcia - XXXIX Os vermes machos medem cerca de 3 a 5 cm de comprimento, sendo um pouco menores que as fêmeas, que atingem 11cm. Ciclo de vida Não é invasivo e o ciclo não passa pelo pulmão, é direto pro intestino grosso. Infecta consumindo ovos embrionados, que estão no solo. A pessoa infectada defeca e cerca de 10 dias depois o ovo se torna infeccioso. Ao comer o ovo ele eclode e os adultos se instalam no intestino grosso, principalmente na região do ceco, na parte ascendente. Fisiopatologia e quadro clínico A gravidade da infecção depende da carga parasitária, da idade e do estado nutricional dos hospedeiros – em geral crianças. A carga parasitária elevada pode levar a retardo no crescimento, perda de peso e, em casos extremos, anemia. Cólica, tenesmo, desconforto abdominal, prurido anal, anemia hipocrômica. Em infecções maciças, há intensa irritação intestinal que pode levar à exteriorização do reto (prolapso retal); diarreia intermitente mucossanguinolenta. Diagnóstico Identificação dos ovos em amostras de fezes. Técnica de Kato-Katz ou Stoll: ovos por grama. o A contagem, em matéria fecal, dos ovos de diversos helmintos intestinais é parâmetro de valor incontestável, como índice da intensidade de parasitoses e recurso laboratorial de avaliação da eficácia de procedimentos terapêuticos. Tratamento Mebendazol (100mg 2x ao dia, 3 dias) ou associação de Albendazol (400mg ao dia) com Ivermectina. Impedem a absorção de glicose pelos helmintos, determinando sua destruição. O albendazol atua também sobre o ovo e as larvas. Pamoato de pirantel, Oxiprantel. Natânia Garcia - XXXIX Triquinelose Organismo Trichinella spiralis. Aproximadamente 1,5 mm de comprimento. A forma adulta habita o intestino delgado de porcos, ursos, ratos e humanos. É um problema em carne de caça, consumo de carne mal cozida. Não libera ovos nem larvas nas fezes, a transmissão é direta pelo consumo de carne. A forma larval é invasiva, e habita principalmente fibras musculares. Ciclo de vida No musculo do javali e no porco dele ficam as larvas encistadas. O ciclo tem início quando a pessoa come carne mal cozida ou crua de porco ou animais selvagens contaminados pelo parasita. Após a ingestão da carne, esse cisto eclode e a larva é liberada no intestino delgado, onde vira adulta, sofrem diferenciação em macho e fêmea, formam casais e produzem novas larvas. Em seguida, há liberação de larvas que entram na circulação e atingem outros músculos e tecidos, onde se alojam, causam sintomas e formam novos cistos. Acredita-se que o ciclo de vida da triquinose é mantido devido ao canibalismo que pode acontecer entre algumas espécies de mamíferos e cadeia alimentar dos mesmos, em que roedores infectados são comidos por outros animais, por exemplo. Fisiopatologia A intensidade dos sintomas depende da quantidade de larvas ingeridas. Na primeira fase, um a dois dias depois da infecção inicial, enquanto as larvas amadurecem nas paredes do intestino, sinais como diarreia, dor abdominal, náusea e vômito podem estar presentes. Depois de duas a oito semanas, quando as larvas migram para os músculos estriados e formam cistos os sintomas podem ser de febre alta, dor muscular, edema, cefaleia e sensibilidade a luz. Natânia Garcia - XXXIX Quadro clínico A resposta imune do hospedeiro leva à expulsão dos vermes adultos após várias semanas; as larvas, uma vez nas células musculares estriadas, podem persistir por meses ou anos, embora os sinais e sintomas clínicos tipicamente diminuam após vários meses. Os primeiros sinais de triquinelose (diarréia, febre, mialgia e edema, principalmente da face) correspondem à nova migração de larvas pelo corpo e podem persistir dias ou semanas. Além do dano físico aos tecidos afetados, a penetração larval e a migração tecidual causam uma reação inflamatória mediada pelo sistema imunológico e estimulam o desenvolvimento da eosinofilia. Manifestações mais graves incluem miocardite, encefalite e doença tromboembólica. Epidemiologia Muito comum até a década de 80, reduzida devido a ações sanitárias como a proibição da alimentação animal com carne de animais abatidos e congelamento da carne antes do envio. Diagnóstico Biópsia muscular. Histórico de consumo de carne mal cozida, de caça ou carne de procedência duvidosa. Sorologia não é recomendada, pois há reação cruzada com Trichuris trichiura. Tratamento Tiabendazol, Albendazol: 400mg, 2x ao dia, 8-14 dias. Mebendazol: 200-400mg, 3x ao dia por 3 dias; seguido por 400-500mg, 3x ao dia, por 10 dias. Eficazes na forma intestinal, o tratamento da fase tecidual é realizado com ivermectina ou praziquantel, além de suporte em casos graves.
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