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Leishmaniose Visceral 1-Explicar o diagnóstico sindrômico e anatômico relacionando com dados epidemiológicos, anamnese e exame físico. Diagnóstico Sindrômico: Síndrome febril crônica pois trata- se de uma síndrome clínica caracterizada por febre irregular de longa duração. Epidemiologia: → O calazar é uma das 7 endemias de prioridade da OMS, afeta de 1 a 2 milhões de pessoas, com cerca de 500 mil novos casos por ano. → Cerca de 360 milhões de pessoas estão expostas a esse risco. → No Brasil ela está em franca expansão, sendo os focos de maior endemicidade os estados da Bahia, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Maranhão. → É predominantemente uma endemia rural. → A doença é mais frequente em crianças, devido a sua imaturidade imunológica. → Aqui no Brasil, os estados com maior número de casos são os da região Nordeste (especialmente BA, CE, MA, PI) e, na região Sudeste: MG e RJ (baixada fluminense). Eventualmente o MS e o MT estão na lista de estados endêmicos, especialmente pela presença da Lutzomyia cruzi. Note, ao lado, a distribuição dos casos de leishmaniose visceral no Brasil Anamnese e exame físico: Na anamnese interrogar sobre residência; procedência; emagrecimento acentuado. No exame físico inspecionar características que levem a hipótese de LV; como intensa palidez cutâneo mucosa; hepatoesplenomegalia. 2- Identificar o diagnóstico principal e diferencial relacionando com o quadro clínico do paciente. Paciente com quadro de febre, perda de peso, adenomegalias, baço aumentado, os linfomas também se comportam dessa forma. Como diferenciar? Na LV, a relação albumina/globulina será baixa, eventualmente chamada de “inversão da relação albumina/ globulina”. Isso é característico da leishmaniose visceral, não sendo classicamente observado nas doenças linfoproliferativas. O diagnóstico diferencial da leishmaniose visceral envolve a distinção dessa doença de outras condições médicas que podem apresentar sintomas semelhantes. Alguns dos diagnósticos diferenciais mais importantes incluem: Tuberculose: A tuberculose disseminada pode apresentar sintomas semelhantes à leishmaniose visceral, como febre prolongada, perda de peso e esplenomegalia. Exames de imagem e testes específicos para tuberculose são importantes para diferenciar as duas condições. Infecções Bacterianas ou Virais: Algumas infecções bacterianas e virais, como a brucelose, febre tifoide, infecções por HIV/AIDS, hepatites virais e outras infecções oportunistas, podem manifestar sintomas inespecíficos que se assemelham à leishmaniose visceral. Malária: Em regiões onde a malária é endêmica, os sintomas da leishmaniose visceral podem ser semelhantes aos da malária, como febre intermitente, fadiga e esplenomegalia. Exames de sangue específicos para malária ajudam a fazer o diagnóstico diferencial. Doenças Hematológicas: Algumas doenças hematológicas, como leucemias ou linfomas, podem causar esplenomegalia e sintomas semelhantes aos da leishmaniose visceral. Doenças Autoimunes: Doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico, podem apresentar uma variedade de sintomas que se sobrepõem aos da leishmaniose visceral, incluindo febre, fadiga e manifestações viscerais. Neoplasias 3- Identificar o diagnóstico etiológico relacionando com o resultado dos exames complementares. Agente etiológico: O agente etiológico é um protozoário da família Trypanosomatidae, gênero Leishmania e espécie donovani. Os critérios genotípicos e fenotípicos para caracterização de espécies e subespécies identificam as três subespécies mais importantes causadoras de doença no homem: L. (L.) donovani, L. (L.) infantum e L. (L) chagas. A transmissão pode ser antroponótica (o vetor transmite a infecção de humanos infectados para humanos saudáveis) ou zoonótica (o vetor transmite a infecção do reservatório animal para os humanos). A transmissão de homem para homem por agulhas infectadas tem sido documentada em usuários de drogas intravenosas (IV) na região mediterrânea. A transmissão intrauterina para o feto raramente ocorre. Diagnóstico: Existem diversos exames que podem ser feitos para o diagnóstico dessa doença, os parasitológicos (que enxergam os parasitas diretamente) e os imunológicos (que analisam os anticorpos produzidos na infecção). A leishmaniose visceral aguda se inicia como uma síndrome mono-like, logo, tenho há grande replicação de Leishmania no baço e nos linfonodos. Dessa forma, a pesquisa de amastigotas no aspirado esplênico é o exame com maior sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da leishmaniose visceral. Nas condições em que há importante pancitopenia e risco de sangramento esplênico, poderemos pesquisar formas amastigotas da Leishmania no aspirado de medula óssea, que é um exame menos sensível, porém com uma menor chance de sangramento. Outra opção é fazer os testes imunológicos, pouco sensíveis, mas com um excelente valor preditivo positivo. Existem três métodos imunológicos padronizados pelo Ministério da Saúde para o diagnóstico de leishmaniose visceral: → Reação de imunofluorescência indireta (RIFI) → Testes rápidos imunocromatográficos (como o rK39) → Ensaio imunoenzimático (ELISA). Obs: Não se deve utilizar métodos imunológicos para diagnóstico de leishmaniose visceral como primeira opção, pois sua sensibilidade é muito baixa. Anticorpos só surgem em altos títulos de 6-12 semanas após a infecção inicial, podendo "perder o diagnóstico" de vários casos. 4- Explicar a fisiopatologia da doença justificando os sinais e sintomas da síndrome consumptiva. Obs: A maioria (60-85%) das pessoas que tem contato com a Leishmania chagasi curará a doença de forma espontânea e assintomática. O que determina isso é o tipo de resposta imune adaptativa que nosso hospedeiro irá montar. Pacientes com resposta Th1 abundante terão maior ativação de macrófagos, destruindo as células parasitadas pelas formas amastigotas e curando a doença. Em contrapartida, pacientes com abundante resposta Th2 adoecerão, pois os imunocomplexos produzidos por essa resposta não serão efetivos para o controle da doença. A fase crônica será marcada pela caquexia e emagrecimento, que serão resultados da disabsorção proteica com aumento de consumo calórico pela infecção. Nessa fase, podemos observar de forma importante a hipergamaglobulinemia (devido ao aumento de anticorpos ineficazes que nosso corpo faz tentando controlar a doença) e hipoalbuminemia (resultante da desnutrição grave). Nessa fase também temos o ápice da esplenomegalia (a leishmaniose visceral vai gerar, junto com os linfomas, os maiores baços da medicina), com hepatomegalia por refluxo sanguíneo da veia esplênica para a veia porta. Em casos mais avançados, teremos a invasão medular pela Leishmania chagasi, com a ocorrência que resultará em pancitopenia. Quando atingimos o estágio de pancitopenia, o paciente poderá apresentar fadiga (resultante da anemia), infecções bacterianas múltiplas (que ocorrem devido à leucopenia) e sangramentos (advindos da plaquetopenia). → O ciclo de vida do parasita Leishmania envolve duas formas: a forma promastigota, encontrada no vetor, que é transmitida ao ser humano pela picada do mosquito flebótomo, e a forma amastigota, que se replica no interior das células do sistema mononuclear fagocitário, especialmente nos macrófagos. → Após a inoculação do parasita pela picada do flebótomo, as formas promastigotas são fagocitadas por macrófagos no hospedeiro humano. Dentro dos macrófagos, as promastigotas são transformadas em amastigotas, que se reproduzem e se multiplicam no interior dessas células. → Essa replicação das amastigotas nos macrófagos leva à destruição dessas células e resulta em um processo inflamatório localizado, especialmente nobaço, fígado e medula óssea. Isso causa esplenomegalia, hepatomegalia e disfunção do sistema retículo- endotelial. Sinais e Sintomas: → Perda de peso inexplicada → Fraqueza e fadiga → Febre intermitente → Anemia → Esplenomegalia: O baço pode aumentar de tamanho devido à infecção, causando desconforto abdominal. → Hepatomegalia → Perda de apetite → Infecções secundárias: Devido a redução do sistema imunológico. → Alterações na pele: Pode haver alterações cutâneas, como manchas ou erupções cutâneas. 5- Explicar o tratamento da doença justificando a utilização do Antimonial Pentavalente e Anfotericina B. O tratamento dos pacientes com casos confirmados poderá ser feito com os antiparasitários antimoniais pentavalentes ou com a anfotericina B lipossomal, sendo o primeiro o tratamento de escolha. O antimonial pentavalente é administrado via endovenosa ou intramuscular diariamente (não se preocupe com a dose, pois isso não é explorado pelas bancas), durante 20 a 40 dias, que são calculados a depender da resposta clínica do paciente (melhora da febre, ganho de peso, redução de esplenomegalia, aparecimento de eosinófilos no hemograma e redução das provas inflamatórias). Atenção, meu caro Estrategista: o antimonial pentavalente é bastante tóxico, de forma que devemos monitorizar alguns efeitos colaterais do seu uso durante o tratamento. Já a anfotericina B lipossomal nunca será primeira escolha no tratamento da leishmaniose visceral. Quando a usarei? Nas condições a seguir, durante 5 a 7 dias: O uso da anfotericina B pode ser particularizado como primeira escolha em alguns casos com apresentações graves, como nos casos com hepatomegalia intensa com aumento de transaminases, pancitopenia ou desnutrição grave.
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