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MARIA HELENA SOARES DE SOUZA JOGOS PEDAGÓGICOS EM MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO: MAIS QUE MOTIVAÇÃO, METODOLOGIA DOUTORADO EM EDUCAÇÃO-CURRÍCULO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2007 MARIA HELENA SOARES DE SOUZA JOGOS PEDAGÓGICOS EM MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO: MAIS QUE MOTIVAÇÃO, METODOLOGIA Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do Título de Doutora em Educação – Currículo sob a orientação do Professor Doutor Fernando José de Almeida. DOUTORADO EM EDUCAÇÃO-CURRÍCULO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2007 BANCA EXAMINADORA _____Alípio Casali___________________ _____Ubiratan D’Ambrosio___________ _____Marcelo Borba____________________ _____Manuel Orisosvaldo Moura_________ Orientador: Fernando José de Almeida DEDICATÓRIA Para: André e Rafael, filhos, Gabriela, neta, doces presenças que dão significado a tudo que faço. Antonio José Romera Valverde, par afetivo, incentivador paciente e cuidadoso. Gabriel, filho do coração. Arnaldo e Zailda (in memoriam), meus pais, sempre presentes na lembrança durante toda a jornada da pesquisa. Francisco Buarque de Holanda e José Miguel Soares Wisnik. Alunos e alunas do Centro Educacional Pioneiro. AGRADECIMENTOS Prof. Dr. Fernando José de Almeida, orientador e amigo, pela dedicação e inteligência com as quais orientou a tese. Professores Doutores César Nunes, Claudia Davis, Maria Elizabeth Bianchini Almeida, Manoel Oriosvaldo Moura e Ubiratan D’Ambrosio, pelas preciosas indicações e sugestões em bancas de qualificação. Professores de mestrado e doutorado da PUC de São Paulo, especialmente ao Prof. Dr. Alípio Casali, que me lançaram na aventura do conhecimento fundamentado. Prof. Dr. Antonio José Romera Valverde, pelo estímulo inicial, ajuda na elaboração do projeto, sugestões, revisões e indicações de leitura. Walter Spinelli, companheiro de muitas jornadas profissionais, pelas sugestões, presença e parceria. Colegas de mestrado e doutorado, notadamente pelo apoio e intermináveis conversas sobre o projeto e caminhos a seguir. César Nunes, Cláudia Davis, Marina Nunes, e a todo o grupo da Oort, que me ajudaram a pensar em problemas ligados à informática. Arnaldo, Cláudio, Luiz e Vera ,irmãos, Franciele e Rita, noras, José Miguel Soares Wisnik, primo, pela presença amiga e apoio. Ana Carolina Pinheiro, Ângelo Alberto Xella (in memoriam), Carlos Emílio Faraco, Fernando Isao Kawahara, Giselda Fátima Santos do Amaral, e Neuza Bezerra, amigos especiais que deram suporte afetivo e intelectual ao trabalho. Claudia Kazuko Yokobatake, Elza B. Okama, Fernando Isao Kawahara e do Centro Educacional Pioneiro, pelo apoio incondicional à pesquisa. Maria Virginia Scopacasa, revisora atenta e grande amiga. Maria Luisa Corbisier, braço direito no Inglês. Colegas, alunas e alunos do Ensino Médio do Centro Educacional Pioneiro, parceiros maravilhosos num oásis educacional. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por bolsa de estudos durante o período de 2006 a 2007. SUMÁRIO RESUMO........................................................................................1 ABSTRACT....................................................................................2 INTRODUÇÃO................................................................................3 MAPA..............................................................................................5 PARTE I: FOCO DE ATENÇÃO 1.1 ASSENTAMENTO: 1.1.1 Apresentação...................................................................13 1.1.2 Problema de Pesquisa....................................................16 1.1.3 Objetivos..........................................................................17 1.1.4 Referencial teórico..........................................................19 1.1.5 Metodologia.....................................................................21 1.2 MINHA CANÇÃO...................26 1.3 CONSTRUÇÃO: 1.3.1 Desigualdade Social.......................................................36 1.3.2 Matemática e Assimetria................................................48 1.3.3 Currículo Brasileiro: um recorte para a Matemática...53 1.3.4 Currículo e Comunidade................................................57 1.3.5 Matemática e Currículo..................................................62 1.3.6 Desenvolvimento e Liberdade......................................73 1.4 ESTRANHO JARDIM: 1.4.1 Conhecimento, Ensino e Aprendizagem.....................78 1.4.2 Organização Escolar.....................................................80 1.4.3 Formação de Educadores............................................86 PARTE II: MATEMÁTICA E CONHECIMENTO 2.1 AGORA FALANDO SÉRIO: 2.1.1 Conhecimento e Virtude ................................................93 2.1.2 Conhecimento Matemático.............................................95 2.2 VIRTUAL: 2.2.1 O Belo, o Humano e o Devir 2.2.2.Tecnologia, Neutralidade e Educação Matemática 2.3 FORTALEZA: 2.3.1 Construção do Conhecimento Matemático 2.3.2 Acervo Vivo 2.3.3 Narrativas e Metáforas em Matemática PARTE III: JOGO, CULTURA E EDUCAÇÃO 3.1 FANTASIA: 3.1.1 Expressão Cultural 3.1.2 Homo Ludens 3.1.3 Categorias de Jogos: Uma Escolha 3.1.4 Jogo e Brincadeira 3.1.5 Combinação de Categorias e Jogos de Azar 3.1.6 Jogos, Brincadeiras e Brinquedos: a Criança e o adulto 3.1.7 A Matemática Prevê tudo? 3.2 CARA A CARA 3.2.1 Guerra Santa e Educação? 3.2.2 Polissemia. 3.2.3 Planejamento e Validação do Uso 3.2.4 Intencionalidade e Conhecimento Matemático 3.2.5 Sobre resolução de Problemas: Estratégias 3.3 TERRA ESTRANGEIRA 3.3.1 Jogos Eletrônicos: Informações e Reflexões 3.4 TROCANDO EM MIÚDOS 3.4.1 Aplicações e Natureza do Jogo Pedagógico 3.4.2 Primeiro Fundamento 3.4.3 Zoom 3.5 BASTA UM DIA 3.5.1 Novas Tecnologias 3.5.2 Professores de Matemática e jogos 3.5.3 Caracterização de professores e professoras PARTE IV: EXEMPLOS DE JOGOS PARA O ENSINO MÉDIO 4.1 Levantados do chão 4.1.1 Feche a Caixa 4.1.2 Go 4.1.3 Ludopédio ou Escrete 4.2 MOMENTO ZERO 4.2.1 Nofap: Sequência 1 4.2.2 Problemas da Sequência 1 4.2.3 Dados Fornecidos pelo questionário 4.2.4 Nofap: Sequência 2 4.2.5 Problemas da Sequência 2 4.3 TEM MAIS SAMBA 4.3.1 Jogo rápido: Kit-cores Estatística 4.3.2 Jogo rápido: Roleta Matemática 4.4 SEM RECEITA 4.4.1 Probabilidado 4.5 LINHA DE MONTAGEM 4.5.1 Porco 4.5.2 RPG: O Livro do Conhecimento PARTE V: CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES 5.1 PARA TODOS 5.1.1 Leque de Possibilidades 5.1.2 Potencial Pedagógico dos Jogos 5.1.3 Jogos e Ética 5.1.4 Campo de Forças 5.2 DE TODAS AS MANEIRAS 5.2.1 Algumas Preocupações 5.2.2 Objetivo: Universal, particular esingular 5.2.3 Utilização dos jogos: Metodologia 5.2.4 Jogos: Criação e Representação social 5.2.5 Jogos: Professores e professoras 5.3 EMBEBEDADO 5.3.1 Mais que Motivação, Metodologia 5.3.2 Sonhar e Andar sobre “Peúgas Fortes” ANEXO 1. Jogo Rápido: Trigonometria em Linha e Coluna 2. Mandala Trigonométrica 3. Mandala Trigonométrica em Simetria 4. RPG: Fichas do Livro do Conhecimento 5. Páginas do Raphy 6. Jogo Rápido: O Jogos dos Números REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RESUMO Autores com publicações reconhecidas pela comunidade científica, em Educação e Psicologia da Educação, afirmam que a prática da utilização do jogo pedagógico tem sido efetiva em qualquer nível de ensino. Porém, o jogo é pouco utilizado como elemento de ensino/aprendizagem eficaz em Matemática, para o Ensino Médio, mas sim como componente motivador pedagógico. Foi tomada como ponto de partida, a indagação sobre a possibilidade do uso do jogo pedagógico, em Matemática para o Ensino Médio, a ser considerado metodologia, para além da metodologia de resolução de problemas, como a voltada para o desenvolvimento do estudante, que ajuda a conduzir à liberdade emancipatória social. A pesquisa mostrou a utilização no Ensino Médio, de forma específica para a Matemática, valendo-se de conteúdos considerados mais espinhosos, como a Trigonometria e a Matemática da casualidade, com todos os passos que antecedem e sucedem o procedimento de caráter lúdico, analisados e comparados, como metodologia e não como elemento meramente motivador. A pesquisa é composta do estudo e das análises de representações culturais dos jogos, destacando as funções pedagógicas e sociais, a partir do ensino da Matemática, evidenciado o trajeto sócio-cultural, tomado em conta não ser possível pensar em funções pedagógicas para o jogo sem pensar em ligações interdisciplinares com a Arte, a Filosofia – sobretudo a Ética -, a Antropologia, a Língua Materna, a História e a Psicologia. A tese desenvolveu-se em dois níveis paralelos, conectados e orientados, como num sistema cartesiano: num eixo encontra-se o embasamento teórico e, no outro, a criação e a aplicação da metodologia da utilização de jogos pedagógicos em Matemática para o Ensino Médio, especificamente para os conteúdos Matemática da Casualidade e Trigonometria. O embasamento teórico desenvolveu-se por assuntos, nas três primeiras partes, enquanto a validação da prática e as conclusões foram apresentadas nas duas partes finais. Palavras-chave: Matemática, jogo pedagógico, metodologia, representações culturais, conexões interdisciplinares, prática, embasamento teórico, Ensino Médio. ABSTRACT Well-known issues by authors of the scientific community, in Education and Educational Psychology, state that the practice of pedagogical game has been effective in any level of teaching. Nevertheless, the game is little used as an effective tool in teaching /learning Mathematics, for High School, but as a pedagogical motivating element. In the beginning, it was questioned about the possibility of using the pedagogical game in Mathematics for High School, to be considered as methodology, going beyond the methodology of problem solving, as one targeted to the development of the student that helps to lead to social emancipation. The research showed the use of it in High School, a specific way in Mathematics, to take advantage of very difficult contents, as Trigonometry and Mathematics of Casualty, with all the steps that anteceded and succeed the playful character procedure, analyzed and compared, as methodology and not only as a mere playful element. The research is constituted of study and analysis of cultural representation of games, detaching the social and pedagogical functions, from the teaching of Mathematics, making clear the social culture way. It was taken into consideration that it is not possible to think about pedagogical functions without thinking about interdisciplinary connections as Art, Philosophy-mainly Ethics-Anthropology, Mother Tongue, History and Psychology. The thesis was developed into parallel levels, connected and oriented, as a Cartesian system: in one axis we have the theoretical basis and in the other the creation and the use of pedagogical game methodology in Mathematics for High School, especially for the contents of Mathematics of Causality and Trigonometry. The theoretical basis was done by subjects, in the three first parts, meanwhile the validation of practices and conclusions were presented in the two final parts. Key words- mathematics, pedagogical game, methodology, cultural representations, interdisciplinary connections, practice, theoretical basis, High Scholl. INTRODUÇÃO A tese, Jogos Pedagógicos em Matemática no Ensino Médio: mais que motivação, metodologia, é resultado de estudo, pesquisa e análise da prática metodológica que utiliza jogos pedagógicos no ensino da Matemática para alunos e alunas do Ensino Médio. Elaborou-se a inserção do objeto e objetivos da tese no contexto educativo – organizado como está explicitado em “Mapa” -, levando em conta o currículo, a formação de professores e professoras e o conhecimento matemático para analisar e compreender o jogo como elemento de cultura, evidenciar a função pedagógica do jogo em Matemática, tomados como referência alguns exemplos tirados da prática da autora. O propósito, além da validação teórica da metodologia, é mostrar que, depois de vencidas as resistências que existem - e apontar algumas delas, como pano de fundo -, é possível criar e produzir jogos sem que haja por trás da criação nenhuma genialidade do professor e da professora, ou partir de receitas prontas. A par disso, explicita-se a necessidade de uma abordagem política, visando o desenvolvimento dos alunos e alunas como seres sociais. A escolha da forma de apresentação busca o hipertexto como organizador da leitura e é absorvida como metáfora das transformações comunicacionais e subjetivas de nosso tempo. Etimologicamente a palavra texto aproxima-se de tecer, pois em latim textus significa tecido, enquanto hipertexto, em metáfora de Pierre Lévy (1993) aproxima-se da idéia de rede, evocando transformações não restritivas e mais abertas para a pluralidade dos sentidos, que se estendem ad infinitum, inclusos sentimentos e alumbramentos frente ao que é belo. A apresentação faz uso de imagens e textos literários, em busca da imaginação como quer Bachelard (2001), isto é mais que formar o que é fornecido pela primeira percepção, mas deformar - ou transformar -, fazendo uso de mobilidades para a demanda de novos desejos. O significado de uma imagem, de um título de capítulo - que é também de uma canção - ou de um texto literário não pára no primeiro olhar, mas ao vaguear pelas suas “superfícies”, em “scanning”, como indica Flusser (2002), revela intencionalidades de autoria e daquele que vê. O olhar circular, proposto na apresentação, que faz novo o que foi visto antes, acaba por evidenciar elementos preferenciais e conceituais. “Deste modo, o olhar vai estabelecendo relações significativas. O tempo que circula e estabelece relações significativas é muito específico: tempo de magia. Tempo diferente do linear, o qual estabelece relações causais entre eventos. No tempo linear, o nascer do sol é a causa do canto do galo; no circular, o canto do galo dá significado ao nascer do sol. Em outros termos: no tempo da magia, um elemento explica o outro, e este explica o primeiro. O significado das imagens é o contexto mágico das relações reversíveis. “ (Flusser, 2002; p.8) Textos e imagens compõem-se na apresentação da tese em busca de mediações que possam mostrar o significado real e a riqueza do imaginado no trabalho de pesquisa.“ Embora textos expliquem imagens a fim de rasgá- las, imagens são capazes de ilustrar textos, a fim de remagicizá-los.Graças a tal dialética, imaginação e conceituação que mutuamente se negam, vão mutuamente se reforçando. As imagens se tornam cada vez mais conceituais e os textos, cada vez mais imaginativos. “ (Flusser, 2002; p.10) O processo de captação das imagens, técnicas e artísticas, e dos textos, literários ou não, procurou fugir da “caixa preta” de quem fez a busca. Caixa preta aqui considerada como zona de incompreensão, gerada pela escolha de textos e imagens, que procura não quebrar o elo entre eles e seus significados, mas que não decodifica o processo. A ideia foi tratar toda a composição da apresentação da tese não como homo faber, apenas trabalhando com ela, mas de certa forma, contra ela, como homo ludens, evidenciando suas potencialidades e o lúdico ao buscá-las. Esta forma de apresentação é um convite à imaginação mobilizada e mobilizadora; propõe saltos por sobre barreiras lineares de tempo e espaço sem fugir da apresentação de conceitos e ideias, pela presença inequívoca das intenções de autoria. MAPA MAPA ESCULPIDO EM PEDRA, NA ANTIGA BABILÔNIA (BIBLIOTECA BRITÂNICA) Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação. Jogos pedagógicos em Matemática para o E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Código das caixas usadas no “hipertexto”. Ícones que aparecem nos títulos: 1) Para título de canção de Chico Buarque de Holanda O ícone é uma caricatura de 2006. 2) Para título de canção de José Miguel Wisnik O ícone é capa do disco Pérolas aos poucos. Barra de orientação: ao pé de cada página, indicando, pelo amarelo, em qual parte - e capítulo -está o leitor: Comentários e acréscimos pessoais ao texto. As caixas podem incluir imagens. Indicações de leituras e sites. Descrição sucinta de algum jogo, imagens de jogos, fotos, telas artísticas e citações literárias. Comentários sobre a pesquisa em campo. Funciona como um glossário, contendo pequenas explicações que auxiliam na compreensão do texto. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação. Jogos pedagógicos em Matemática para o E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas MAPA O texto é composto por cinco partes, além do anexo e das referências bibliográficas. PARTE I: FOCO DE ATENÇÃO Na Parte I inserem-se os objetivos e o objeto da tese no contexto educativo, em três níveis: Assentamento: apresenta o problema de pesquisa, os objetivos, o referencial teórico e a metodologia de pesquisa. Minha Canção: apresenta a autora do trabalho e o relato de sua inserção no tema pela apresentação de alguns motivadores, sejam de ordem política, sejam de ordem pessoal, bem como as circunstâncias que favoreceram sua escolha. Construção: inicia a construção do encaixe do tema com algumas considerações sobre a desigualdade social e aponta a Matemática como um dos vetores para a assimetria social; apresenta o tema currículo; encaixa a Matemática no currículo e seus vínculos com a Língua Portuguesa e a Filosofia; traz reflexões sobre o desenvolvimento individual e o social para a emancipação libertária, tomada como referência a educação. Estranho jardim: aborda, de forma concisa e referenciada em Matemática, a formação de professores e a complexidade que envolve ensinar e aprender. PARTE II: MATEMÁTICA E CONHECIMENTO A Parte II trata do conceito conhecimento, com um recorte para o conhecimento matemático, em três capítulos: Agora falando sério: aborda o conhecimento, de forma geral, relacionando-o com a virtude; insere o conhecimento matemático. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Virtual: analisa a Matemática contextualizada, como ferramenta, impulsionada por ideias e antenada com o devir. Fortaleza: mostra como é possível compreender e trabalhar com o conhecimento matemático em redes de significados. PARTE III: JOGO, CULTURA E EDUCAÇÃO O tema da Parte III é trazer a percepção do jogo como elemento de cultura, e apresentar a função pedagógica do jogo em Matemática . O bloco foi dividido em quatro capítulos: Fantasia: define e especifica características culturais de jogos, com base em fundamentos antropológicos e sociais; diferencia jogo de brincadeira enquanto cria a primeira categorização para os jogos. Cara a cara: inicia a validação teórica para o uso de jogos em situações pedagógicas, inclusas as que envolvem a Matemática. Terra estrangeira: aborda o tema “jogos eletrônicos” – games – e as inquietações que dele advêm para a metodologia dos jogos. Trocando em miúdos: descreve as características e as categorias dos jogos pedagógicos; lista e descreve os elementos primordiais, os tipos e as formas de aplicação dos jogos; discute como se pode elaborar um projeto que envolva jogos pedagógicos, definindo um referencial de organização e avaliação que possa servir de parâmetro, mas longe de se colocar como receita. Basta um dia: tece considerações sobre tecnologia e educação; aponta, a partir de uma investigação simples, o porquê do não uso de jogos pelos professores de Matemática do Ensino Médio. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas IV JOGOS PEDAGÓGIVOS PARA A MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO Na Parte IV são apresentados cinco tipos de jogos usados na pesquisa, analisados quanto às categorias, objetivos, tarefas preparatórias e conseqüentes, inclusos os procedimentos de avaliação. Levantados do chão: apresenta dois jogos, já existentes, que foram analisados pelos alunos e pelas alunas. Momento Zero: descreve um software, na forma de jogo, que é objeto de aprendizagem e cujo objetivo é fazer com que o aluno reconheça e recupere as estratégias cognitivas usadas na resolução de problemas. Tem mais samba: descreve a elaboração dos “jogos rápidos”, criados para trabalhar com a Matemática da casualidade. Sem receita: apresenta jogos mais complexos, que fazem uso de um mesmo tabuleiro em situações diferentes e relata como o jogo foi transformado e melhorado pelos alunos – causas e transformações. Linha de montagem: descreve jogos criados por alunos, produzidos por encomenda ou atendendo às necessidades da classe. PARTE V: CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Para todos: inicia as argumentações para as conclusões. De todas as maneiras: faz o levantamento dos cuidados a serem tomadas no uso dos jogos pedagógicos e respostas às questões iniciais da pesquisa. Embebedado: traz comentários pessoais sobre a pesquisa. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas ANEXO Estão presentes no anexo alguns jogos criados para o ensino da Trigonometria, fichas do RPG confeccionado pelos alunos, um jogo para o ensino da Estatística . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICÁS PARTE I: FOCO DE ATENÇÃO SIRON FRANCO PARTE I -1 ASSENTAMENTO PORTINARI (TRABALHADORESRURAIS) Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento PARTE I - FOCO DE ATENÇÃO 1.1.ASSENTAMENTO “Cheio de anseios e esperança Comunico a toda a gente Que há lugar na minha dança” CHICO BUARQUE (Benvinda) 1.1.1 APRESENTAÇÃO Durante muito tempo buscou-se afastar da Escola os momentos que envolviam situações de competição. Os educadores e educadoras temiam a ideia de rivalidade intrínseca à própria palavra, mas esta atitude provocou o abandono do sentido desafio-luta inerente a ela. É saudável que o aluno e a aluna sintam-se desafiados, lutem e busquem recompensas na competição e na vitória. Como alcançá-las sem que a ação resulte em confrontos inadequados? Como premiar a vitória sem tornar o aprendizado um momento de troca mercenária, em que a “mercadoria” de troca, muitas vezes, pode ser a nota? Os jogos pedagógicos são uma boa resposta para estas questões, pois além de auxiliarem na construção de conceitos matemáticos, mesmo os considerados mais árduos como os da Trigonometria ou da Probabilidade, traçam caminhos para o humanismo e a ética. Parte-se da hipótese que, ao participarem de um jogo pedagógico bem elaborado, os alunos ou as alunas necessitam retomar o que já sabem, confrontar o que fizeram com o que seus colegas apresentam, o que conduz a conjeturar e formular hipóteses; criar estratégias pessoais de previsão e desenvolvimento; retificar, elaborar e reelaborar conceitos; compreender regras e também criá-las, além de estimular a subsunção de atitudes éticas - que incluem negociações internas e externas -; a cumprir normas combinadas, adequadas à atividade proposta. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Na década de 90 do séc. XX, trabalhando com o que é chamado capacitação do professor de Matemática, foi possível observar que os jogos didáticos eram considerados inadequados para o Ensino Médio, embora prontamente identificados como necessário para os mais jovens. Os professores e as professoras de Matemática do Ensino Médio, aparentemente, desconsideravam o ato de jogar como parte constitutiva da vida humana e capital cultural da humanidade. Além disso, aparentavam ter preconceitos contra os jogos, não conhecerem os que são eficientes para o ensino da Matemática, nem tampouco perceberem que os tradicionais – mesmo aqueles que propõem atividades físicas - contêm, de alguma forma, determinado saber matemático, saber este distinto das metáforas simplórias, condenadas pelos educadores matemáticos. O trabalho com os números inteiros, por exemplo, não pode ter como única abordagem as situações que envolvem perdas e ganhos, assim como para aprender proporção não é suficiente ensinar ao aluno fazer um bolo. É possível que os professores e as professoras conheçam o uso de jogos pedagógicos porque existe uma vasta bibliografia acerca do assunto. O conhecimento teórico, porém, quase não tem influenciado os educadores em sua prática, pois a bibliografia existente, em sua maioria, contempla o jogo como atividade infantil. SILVA, Benedito(2003), em seu artigo Contrato Didático, na obra Educação Matemática: uma introdução, escreve: “Desejando que seus alunos obtenham bons resultados, o professor tende a facilitar-lhes a tarefa de variadas maneiras, fornecendo-lhes abundantes explicações, ensinando pequenos truques, algoritmos e técnicas de memorização ou mesmo indicando-lhes pequenos passos nos problemas.”(p.55) ....Neste caso ocorre o “efeito Topázio”, quando os objetivos anteriormente visados desaparecem completamente.” O nome vem da peça de teatro homônima, que descreve um professor, Topázio, que faz um ditado para um aluno e, inconformado com suas dificuldades, vai dando pistas sob códigos didáticos cada vez mais transparentes. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento No entanto, comprova-se com exemplos e práticas, apontadas por autores de prestígio, que o jogo pedagógico funciona em qualquer nível de ensino. Há uma concordância geral quanto a isso. Ainda assim, é muito pouco usado o jogo pedagógico no Ensino Médio. Com estas considerações, posso afirmar que meu interesse pelo assunto “jogos e aprendizagem” tem sido única e exclusivamente ligado à educação, inserida a Matemática no contexto educacional. Embora saiba que hoje os professores façam uso de elementos lúdicos, desconheço uma pesquisa que mostre a utilização no Ensino Médio, de forma específica em Matemática, valendo-se de assuntos considerados mais espinhosos, com todos os passos que antecedem e sucedem o procedimento de caráter lúdico, analisados e comparados, considerando a utilização de jogos uma metodologia e não apenas como elemento motivador. A partir do reconhecimento da natureza dos jogos pedagógicos, e ampliando sua utilização como metodologia, espera-se e até deseja-se que os frutos da pesquisa realizada possam ser utilizados por professores e professoras, tanto da Rede Pública quanto da Particular, com segurança no embasamento teórico que lhes dá sustentação, permitindo aos educadores e educadoras a reflexão necessária para a utilização e criação de jogos pedagógicos no ensino da Matemática. Num livro mais recente, surgem análises e idéias sobre jogo e projeto. Trata-se da obra: MACEDO, Lino de e MACHADO, J. Nilson. Jogo e projeto. São Paulo: Summus, 2006. Há também uma dissertação, a de VILLAS BÔAS, Lucia Pintor Santiso. Jogo didático:um estudo de representações sociais Dissertação de Mestrado. São Paulo : Puc. 2003. A autora trata do uso de jogos pedagógicos em História, no Ensino Médio. O estudo mais detalhado do uso de jogos para o ensino da Matemática será feito na parte III. Jogos e brincadeiras têm sido elementos de reflexão de psicólogos e psicólogas, educadores e educadoras, e são , muitas vezes, propostos como recursos pedagógicos, diagnóstico psicológico, diagnóstico psicopedagógico ou em psicoterapia. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento 1.1.2 PROBLEMA DE PESQUISA Levado em conta as considerações anteriores, o problema de pesquisa pode ser colocado: “O jogo pedagógico, em Matemática, tem sido desconsiderado no Ensino Médio como elemento de aprendizagem eficaz, com possibilidades de ganhos sociais e éticos, sendo reduzido a seus aspectos de motivação que infantilizam o aluno e a aluna, deixando-se assim de aproveitar seu enorme potencial pedagógico e humanizador.” Tal problema conduz a uma questão: “O uso do jogo pedagógico, em Matemática para alunos do Ensino Médio, pode ser considerado uma metodologia, entendida como metodologia para o desenvolvimento que conduz à liberdade emancipatória?” A questão anterior estabelece questões correlatas, que envolvem conceitos a serem especificados; que visam esclarecer como os professores “enxergam” a utilização dos jogos; que tentam levantar quais são os preconceitos que os professores têm a respeito; que interrogam acerca dos jogos clássicos ou matemáticos conhecidos, dentre outras questões que emergiram da pesquisa, como: O jogo é visto como metodologia ou está inserido na metodologia de resolução de problemas? Como osprofessores “veem” a utilização dos jogos? Percebem, ao menos em parte, os jogos como representação social ou eles são vistos, exclusivamente, como elementos motivadores de aprendizagem? Quais jogos clássicos ou matemáticos os alunos ou alunas e professores ou professoras conhecem? Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Os alunos e as alunas identificam os saberes matemáticos que permeiam os jogos clássicos? Os alunos e alunas reconhecem organizações e/ou representações sociais em jogos ou estratégias? Como os alunos e as alunas podem criar jogos pedagógicos? De que natureza e de que forma? 1.1.3 OBJETIVOS Faz parte de um estudo voltado para a utilização de jogos fazer análises de representações culturais. O que se pretende na pesquisa é destacá-los em possíveis funções pedagógicas e sociais, a partir do ensino da Matemática, evidenciado o seu trajeto sociocultural, levado em conta não ser possível pensar em funções pedagógicas para o jogo sem pensar em ligações com a Arte, a Filosofia – sobretudo a Ética -, a Antropologia, a Língua Materna, a História e a Psicologia. Objetiva-se criar e validar a utilização de jogos como metodologia, para o ensino da Matemática, e também como ferramenta a mais para o desenvolvimento social e ético, visando a libertação emancipatória do ser social, que é o aluno ou aluna do Ensino Médio. Para que o objetivo de pesquisa se cumpra, faz-se necessário: Mostrar que a metodologia dos jogos engloba a metodologia de resolução de problemas. Isto significa que no processo todo, não apenas no ato de jogar, à semelhança da metodologia da resolução de problemas, os conhecimentos dos alunos e das alunas são associados para que eles resolvam, de forma criativa e autônoma, uma situação-problema de qualquer área do conhecimento. O conceito de desenvolvimento e liberdade baseia-se em Amartya Sen (2001) e encontra-se na parte I, em Construção. O entendimento da função social do jogo será explicitado ao longo do texto. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Significa, também, e principalmente, maiores possibilidades dos alunos e das alunas agirem com clareza, habilidade e capacidade em diversas situações às quais forem expostos: em situações do cotidiano e em situações escolar, sejam elas planejadas com objetivos específicos, em contextos matemáticos ou não; naquelas em que há necessidade de aplicação de noções matemáticas para a resolução do problema; naquelas inseridas num contexto interdisciplinar. Garantir que os alunos e as alunas possam expressar seu pensamento ou manifestar suas capacidades de várias formas, que permitam a descrição de seus percursos de aprendizagem; que mostrem como eles e elas resolveram uma situação-problema e quais relações estabeleceram; que evidenciem como foi a valorização dos progressos experimentados; que valorizem tanto a escrita quanto a oralidade na explicação de procedimentos. Verificar quais conceitos matemáticos foram aprendidos, se os alunos e as alunas têm claro o que aprenderam e como o fizeram, garantindo, no processo, os registros organizados. Cuidar para que estabeleçam a consciência do aprendizado também pela auto-avaliação, que permite que cada aluno ou cada aluna reflitam sobre o aprendizado, os progressos e as dúvidas, os anseios e as necessidades, pensem sobre o próprio pensamento e façam novas relações conceituais. Estabelecer conexões com outras disciplinas. A mais simples e imediata é com a Língua Materna, pois Matemática e Língua Portuguesa possuem funções e metas que se complementam e os jogos pedagógicos são um forte vínculo e fio condutor. Porém, outras conexões são necessárias e podem surgir da própria natureza da metodologia dos jogos. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográfic as Assentamento 1.1.4 REFERENCIAL TEÓRICO A definição de jogos, as conceituações polissêmicas e a especificação de características culturais - com base em fundamentos antropológicos e sociais – que descrevem as características, as categorias, os elementos primordiais, os tipos e as formas de aplicação são estabelecidas a partir de autores como Adamuz (2000), Brenelli (1996), Brougére (1998), Geertz (1997) , Huizinga (2001) , Caillois (1990), Ortiz (1986 ), Moura(2001) e Benjamin ( 2002). O jogo evidencia-se como representação universal do dinamismo da ação humana, embora seja particular em cada cultura. É importante salientar que, segundo Geertz (1978), não há essência na humanidade, como também não há essência no jogo, mas sim o que é geral em suas características, como transformador da realidade e ser deliberadamente “não sério”, dentre outras, que são apontadas na pesquisa. Da leitura fascinante de Homo Ludens (2001), sintetiza-se neste texto o que dela interessa extrair e elaborar, exemplificado com situações concretas retiradas da prática cotidiana de sala de aula. Tendo o jogo como ponto de partida, o embasamento teórico da pesquisa inicia-se com considerações sobre currículo, a Matemática inserida no currículo e seus vínculos com a Língua Portuguesa e a Filosofia, tomadas referências de alguns teóricos críticos do currículo como Apple (2000), Sacristán (2000) ou Santomé (2003). Segue-se uma abordagem concisa da formação de professores e da complexidade que envolve ensinar e aprender, calcadas no pensamento de Nóvoa (1982), Perrenoud (2002), Shön (2002) e Freire (1997). Todas as datas colocadas nesta parte não são as de lançamento da obra, mas sim as de publicação da obra consultada. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento O currículo servirá como encaixe para considerações teóricas sobre o conhecimento, em particular, o conhecimento matemático, analisando-o de forma contextualizada, como ferramenta, impulsionado por ideias e antenado com o devir, como querem os autores voltados para a Educação Matemática, como Machado (1995), D’Ambrosio (2003), Borba (2002), Bocher (1991) e Moura (2006) ou para a Filosofia, como para Severino (2001). Objetiva-se mostrar como é possível compreender e trabalhar com o conhecimento matemático em redes de significados, levando em conta as múltiplas inteligências e formas de aprender, a partir de Pierre Levy (1998), Sternenberg (2000), Piaget (1982) e Gardner (1995). Para justificar os usos pedagógicos do jogo, salientados os ganhos psicológicos e sociais, além de levantar as razões psicológicas e éticas que os fortalecem, faz-se necessário um levantamento dos princípios básicos de Psicologia da Educação, que explicam e explicitam o entendimento de determinados conceitos matemáticos através do uso de jogos, bem como procedimentos de metacognição para Piaget (1982), Vygotsky (1991), Lino Macedo (2000) e Schoenfeld (1992). No entanto, é impossível validar o trabalho com jogos pedagógicos sem estabelecer os princípios e funções da metáfora, da narrativa e do enredo, tanto no ensino de Matemática, quanto fora dele. Tais princípios serão explicitados desde Avedon (1971) e Barbosa (1974), Ortega Y Gasset (1987), até Todorov (1996). A pesquisa faz uso de alguns conceitos presentes em Dussel (2002) - e seu estudo sobre Éticada Libertação -, em autores da Filosofia Antiga, como Aristóteles (1979), ou contemporâneos, como Lima Vaz (1996) e Matos (2004), e ainda buscar economistas como Sen (2000), ou sociólogos, como Santos (2007), para encaminhar a sua validação ética, no desenvolvimento para a libertação. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Estabelecido que a pesquisa pretende mostrar o uso dos jogos pedagógicos como metodologia de ensino/aprendizagem, é preciso analisar e definir os heurísticos utilizados em resolução de problemas, de modo a inseri-los na metodologia dos jogos pedagógicos. Para tanto, recorreu-se a Pozo (1998), Polya (1978) e Schoenfeld (1980). 1.1.5 METODOLOGIA O norte do problema de pesquisa desenvolve-se em dois níveis, que correm paralelos, conectados e orientados, como num sistema cartesiano: num eixo encontra-se o embasamento teórico e no outro, a criação e aplicação de metodologia de trabalhos com jogos pedagógicos em Matemática para o Ensino Médio, especificamente para Trigonometria e Matemática da Casualidade. O embasamento teórico desenvolve-se, por tema, nas partes I, II e III, embora também faça parte das conclusões, apresentadas na parte V. Para a apresentação dos resultados da pesquisa em campo, foram escolhidos os jogos que envolvem a Matemática da Casualidade e os dois softwares desenvolvidos para o projeto Nofap. Os outros, que foram usados e desenvolvidos para o ensino da Trigonometria, foram colocados no Anexo. Trata-se de uma pesquisa experimental - não havendo grupo de controle -, com intervenção, pois foram criados e aplicados jogos pedagógicos durante a pesquisa, na busca de modificações comportamentais e cognitivas, sem deixar de levar em conta que a observadora era Professora do grupo pesquisado. A pesquisa teve início em 2001, com alunos e alunas do primeiro ao terceiro ano do Ensino Médio, no Centro Educacional Pioneiro. Os dados, recolhidos e analisados, acompanharam cada turma em seu percurso de três anos. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Tabela:freqüência das turmas de alunos Turma Número de alunos em cada turma De 2001 a 2003 40 De 2002 a 2004 30 De 2003 a 2005 29 De 2004 a 2006 42 De 2005 a 2007 32 Total 173 Fonte: Centro Educacional Pioneiro – Ensino Médio ( 2001 a 2007) Os dados estatísticos e entrevistas foram feitos com professores e professoras do Ensino Médio, recolhidos e analisados, de 2002 a 2003. A tabela abaixo não diz respeito a entrevistas, mas sim a questionários. Tabela:freqüência de professores e professoras Origem dos dados Número de professores pesquisados Teia do Saber ( em 2003) 103 Centro de Estudos Prisma, do Colégio Santa Maria) – ( em 2002) – Curso/oficina: “Os jogos na sala de aula” 85 Universidade Ibirapuera –(em 2003) Palestra: “Os jogos e o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático” 68 Pós Graduação Lato-Sensu na Universidade São Judas –( em 2002) Palestra/oficina: Jogos didáticos de Estatística e Probabilidade 45 A criação e a aplicação da metodologia de pesquisa, com jogos pedagógicos, implicaram : Elaboração e análise de questionários iniciais para detecção de preconceitos e de resistências, em relação aos jogos, por parte dos alunos e das alunas; Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Elaboração e análise de questionários e entrevistas semi- estruturadas com professores e professoras para detectar preconceitos e resistências em relação aos jogos; Observação etnográfica - e análise de resultados alcançados - de alunos e alunas durante jogos, complementada com entrevistas semi-estruturadas, pequenas avaliações de conteúdos específicos e leituras de relatórios e dossiês elaborados pelos alunos e alunas; Acompanhamento de grupos de alunos, com registros de dados, propiciando reflexões conjuntas sobre o meio utilizado no aprendizado da Matemática; Criação de jogos, visando a verificação da eficácia de tal procedimento, como aperfeiçoamento e libertação do indivíduo e do grupo, sem cultuar o sucesso ou evidenciar dificuldades; Acompanhamento e análise – quanto às categorias dos jogos, tema, uso de imagens, faixa etária e quantidade de alunos e alunas, objetivos específicos para a Matemática - e avaliação da criação de jogos produzidos pelos alunos e alunas – quanto à eficácia para o aprendizado de Matemática, motivação, categorização, etc. Dos procedimentos metodológicos estiveram presentes, de forma entrelaçada: A apresentação de alguns jogos tradicionais de nossa cultura e de outras, levantados os possíveis saberes matemáticos destes jogos; A apresentação da histórica de alguns jogos de nossa cultura ou de outras e as possíveis relações com o contexto social e cultural; A apresentação de alguns jogos didáticos operacionalizados para a Matemática, já produzidos, incluindo jogos com uso de novas tecnologias; O levantamento de possíveis heurísticos utilizados em resoluções de problemas e aplicáveis às situações dos jogos; Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento A análise, efetuada pelos alunos, alunas e/ou professores e professoras, para a categorização dos jogos apresentados. A categorização dos jogos dirigiu o foco de atenção para estabelecer se os jogos apresentados para os alunos e alunas, ou criados: Podem ser utilizados para dar oportunidade de escolha de participação individual; com a classe dividida em grupos ou em duplas; envolvendo a classe toda; Almejam diferentes objetivos, como iniciar assuntos, aplicar conceitos em situações novas, ou ainda se podem servir como elemento de avaliação do aluno ou aluna, ou do curso. É, portanto, primordial estabelecer a natureza do jogo. Estabelecidos objeto, objetivos, referências teóricas e metodologia, o próximo passo é mostrar o trajeto profissional da autora deste trabalho e seu envolvimento pessoal com os jogos pedagógicos. PARTE I – 2 MINHA CANÇÃO CHIRICO Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos, cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha Canção 1.2 MINHA CANÇÃO “ Faz-se certeza, minha canção, réstia de luz....” CHICO BUARQUE DE HOLANDA –Minha canção Embora paulistana, sou filha de mineiros e vivi em Barretos até os 15 anos. Como não podia deixar de ser, a orientação de vida era baseada em “tradição e família”, com o peso e consequências cabíveis, que se evidenciaram até mesmo quando terminei o Ensino Fundamental. Foi nessa época que enfrentei minha primeira batalha, a de não fazer o curso Normal - equivalente ao Magistério - e tornar-me professora de primeira à quarta série do Ensino Fundamental. Nem sei o que me moveu, a não ser a vontade de ir para a universidade. A argumentação de meus pais era a de que, dessa forma, eu teria um diploma – e não apenas um certificado - e melhor preparo para o casamento. Teimei e fui fazer o curso Científico - equivalente ao Ensino Médio - voltado para exatas,frequentado preferencialmente pelos rapazes. Para se ter uma idéia, havia duas classes de Científico, com quarenta e dois alunos em cada uma delas e apenas quatro meninas no total, três japonesinhas vindas do campo, que mal falavam o português, e eu. Curiosamente, não quis fazer o curso Clássico – também equivalente ao Ensino Médio - mais voltado para humanas, apesar de ser uma leitora voraz e haver criado um clubinho de leitura, no clube recreativo da cidade. No Científico tornei-me uma boa aluna, tentando ser respeitada no espaço masculino, o que manteve acesa minha curiosidade pela ciência. Quando terminei o Científico, no momento de escolher a faculdade, tive uma conversa decisiva com o meu pai. A situação financeira em casa estava bastante difícil e ele impôs uma condição: eu só poderia tentar uma vez o vestibular, e na USP. Se não conseguisse entrar, teria que trabalhar em período integral, no que fosse possível. Universidade de São Paulo, estadual e gratuita. “Foi bom para mim ser afligido.” (do salmo 118) Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos, cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha Canção Aparentemente a exigência era cruel, nascida de uma descrença no estudo para mulher, mas tornou-se um enorme desafio, um “chamar aos brios” irrecusável. Temendo não passar na primeira tentativa, sem ter feito cursinho preparatório, não prestei o vestibular após o término do Científico e trabalhei para poder pagar a primeira mensalidade. A direção do cursinho devolvia o valor equivalente ao da mensalidade – ou parte dele – aos alunos que tirassem dez nas provas mensais. Sempre tive todas as mensalidades devolvidas e a primeira e única que paguei serviu para comprar os primeiros livros no início do curso universitário. Tive que estudar muito, razão pela qual perdi festas e bailes, coisa difícil para uma jovem. No final do cursinho, fui sorteada para fazer um teste vocacional, cujo resultado não obtive em tempo de decisão. Depois, já cursando a Universidade, fui chamada para recebê-lo. O resultado não foi entregue antes porque revelava, como tendência vocacional, música e literatura. Portanto, nada em exatas. Um teste vocacional não diz tudo, mas o resultado não estava totalmente errado, pois as ferramentas dadas pela literatura e pela música – eu tocava piano – fizeram-me uma professora de exatas interessada em humanas, com o gosto pela ligação entre arte e matemática grudado no trabalho desenvolvido em sala de aula. Estudei piano por alguns anos, mas nunca fui uma boa pianista. Frequentava os concertos no Teatro Municipal com meu pai, que adorava música erudita e me conduziu nesse gosto. O trabalho era para a Anderson Clayton e envolvia pesquisa de mercado, na organização de dados. “Eu sempre sonho que uma coisa gera, nunca nada está morto. O que não parece vivo, aduba. O que parece estático, espera.” (Adélia Prado- Leitura) Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos, cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha Canção No mesmo contexto posso colocar o desejo de conhecer e estabelecer ligações entre Filosofia e Matemática, suscitado pela leitura da República de Platão, no Científico, aos dezessete anos. Sou muito grata à maravilhosa professora de História e Filosofia, Nazima - de quem só sei o nome -, por esta apresentação aos clássicos. A escolha do curso universitário também foi feita de forma prática. Prestei o vestibular para Matemática, matéria com a qual eu tinha intimidade – e também certa facilidade -, razão pela qual eu achava que poderia ser aprovada, embora na época imaginasse ser cinematográfico cursar Direito, pensando em tribunais de filmes. Fiz também o exame para a escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que tinha, naquela época, uma primeira fase, como hoje são feitos os exames vestibulares. Fui aprovada nessa fase, o que trouxe um dilema: o exame vestibular da Faculdade de Filosofia coincidia com o da segunda fase da Escola Politécnica. Decidi, durante a noite, para onde me dirigiria no dia seguinte e o que pesou foi não conseguir pensar em mim como engenheira. Na manhã do exame, rumei para a Maria Antônia, felizmente. Fui aprovada pela USP, conforme o trato, mas não sabia o que fazer com o curso. Não pensava na possibilidade de ser professora e na época me incomodava escolher uma profissão considerada mais feminina. O curso de Matemática funcionava parcialmente na Rua Maria Antônia, local atraente para uma jovem que desejava mudanças radicais na política do país. Fiz durante o segundo do científico, um trabalho escrito, no qual a obra de Platão era posta em julgamento, com argumentos de acusação e defesa. Uma forma interessante de adquirir, além dos conceitos da própria obra filosófica, noções de direito romano e filosofia. “Uma rã se achava importante Porque o rio passava nas suas margens. O rio não teria grande importância para a rã Porque o rio que estava ao pé dela.” Manuel de Barros (de A Rã) Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos, cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha Canção Durante o tempo de faculdade fiz um estágio – como bolsista - na computação, com máquinas enormes, colocadas numa sala gelada com apenas seis pessoas dentro dela, pois se assim não fosse, o ambiente esquentaria, danificando-as. Que salto depois disso na tecnologia! Não gostei do isolamento e desisti da computação, embora tivesse lidado com uma linguagem sofisticada, o Fortran, que acabou por me fornecer alguma habilidade na lógica da computação. Todo meu tempo de universitária foi pontuado pela política – meu período na Universidade foi de 1964 a 1968 -, tempos difíceis para a USP. Também na vida familiar a política punha sua marca, pois meu tio era um dos dirigentes do Partido Comunista e foi preso e torturado nessa época. Por conta disso, tive alguns livros de Matemática jogados no lixo - junto a alguns panfletos que seriam distribuídos nas portas de cinemas. Cuidados de mãe. Ao final do curso, fui convidada pelo meu professor de prática de ensino, Scipione de Piero Neto, a trabalhar na rede pública, numa das quatro escolas escolhidas como experimentais – GEPE, Escola Estadual Pluricurricular Experimental -, coordenadas pedagogicamente pelo Professores Joel Martins e Therezinha Fran. Ambos arrebentaram com meu gesso positivista, construído por cursar uma matéria considerada, ilusoriamente, a mais exata de todas. Lá trabalhei durante um ano, época em que estudei bastante, sob orientação dos professores citados. Em 31 de março de 1964 foi instaurado um regime militar por um golpe de Estado, o qual se estendeu até o final do processo de abertura política, em 1985. Foi marcado por autoritarismo, supressão dos direitos constitucionais, perseguição policial e militar, prisão e tortura dos opositores e pela censura prévia aos meios de comunicação. O ano de 1968 foi povoado por greves na Universidade de São Paulo. Sobre o período da ditadura, recomenda-se a leitura de : GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada.São Paulo: Companhia das Letras, 2002. “Oh, Tupã deus do Brasil Que o céu enche de sol De estrelas de luar e de esperança Oh, Tupã tira de mim esta saudade Ah, Anhangá me fez Sonhar com a terra que perdi” Villa-Lobos e C.Paula Ramos (em Canto do Pajé) Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos, cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões Anexo ReferênciasBibliográficas Assentamento Minha Canção Ao terminar a universidade, casei-me e fui morar em Niterói. Logo em seguida passei seis meses na Bélgica, onde conheci uma escola judaica que se dizia renovadora, mas não era tanto, e mergulhei na arte flamenga. Findos dois anos, acabei voltando para São Paulo. Nesta altura, já trabalhava como professora em escolas particulares e públicas. Em São Paulo fui novamente convidada pelo professor Scipione para trabalhar numa escola muito boa, onde conheci o professor Fernando José de Almeida. Seis anos depois, fui para outra escola, que era dirigida por ele, onde permaneci por vinte e quatro anos. Ao Fernando e a essa escola devo tudo que sou profissionalmente porque ambos souberam extrair de mim o que melhor podia oferecer, por acreditarem no meu potencial e incentivarem minhas iniciativas na produção de material didático. Hoje escrevo livros, produzo material didático – que pode fazer uso das novas tecnologias -, trabalho em atividades de assessoria para professores e professoras, produzo itens para avaliação para instituições especializadas - governamentais ou não -, e continuo sendo professora, apaixonada pelo ofício de ensinar, no Centro Educacional Pioneiro. O interesse pelos jogos pedagógicos surgiu de minha prática em sala de aula. Fui professora do Ensino Fundamental e coordenadora de Matemática nesse segmento por mais de 15 anos. Em 1976 comecei a dar aulas de Matemática para o Ensino Médio e sempre me causou estranheza a quebra brusca de procedimentos apoiados em material concreto e a retirada do lúdico no ensino da Matemática. Sabendo, intuitivamente, que tanto a utilização de materiais concretos de manipulação quanto a introdução de jogos pedagógicos trariam interesse e maior compreensão dos conteúdos dessa fase do ensino, comecei a criar jogos. Colégio Rainha da Paz, escola católica dirigida por irmãs dominicanas. O professor Fernando, como coordenador pedagógico da Escola Nossa Senhora das Graças, além de depositar confiança nas pessoas que trabalhavam com ele, orientava e incentivava leituras, pesquisas e escrita. Sua presença em minha vida profissional é marcante. Peças de um jogo de Trigonometria, o Trigominó, feitas em EVA pela MMP. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos, cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha Canção Alguns deles foram publicados na coleção de Matemática para o Ensino Médio, pela Editora Scipione, elaborados em parceria com o Prof. Walter Spinelli. Outros têm sido confeccionados artesanalmente por MMP –Marli Materiais Pedagógicos -. A participação dos alunos não era apenas no uso do material, mas na análise crítica de seus processos cognitivos desencadeados pelo lúdico, além da avaliação da eficácia do próprio material, aliada à produção pessoal de jogos. Os primeiros jogos foram criados com estruturas semelhantes aos jogos existentes, isto é, fazendo uso de cartas, cartelas, tabuleiros, dados etc. Um jogo era imaginado para determinado assunto ou conceito, produzido artesanalmente – tentando dar a ele uma forma atraente – e testado em uma turma apenas. Se o jogo se mostrasse adequado era produzido em maior quantidade, com a ajuda dos alunos. Com o tempo fui ficando mais segura na produção de jogos, pois além da parceria dos alunos, empenhei-me em pesquisas a livros, fabricantes e sites especializados. No começo tal procedimento bastava. Com o tempo, comecei a buscar em leituras especializadas as possíveis justificativas teóricas para o uso de material lúdico em Matemática - ainda que de forma pouco convencional - destinados aos alunos na faixa etária de 14 a 18 anos, em busca de fugir ao senso comum. Marli Esteves Guimarães licenciada em matemática, durante sua carreira de professora do Ensino Fundamental, Médio, Magistério e de cursos de graduação da Fundação Santo André utilizava materiais e jogos que reproduzia ou criava para concretizar determinados conceitos e levar os estudantes a pensarem e entenderem a Matemática. Site: http://www.mmpmateriaispedagogi cos.com.br/ ( acessado em março de 2007 ) ”Não se deixe enganar, o senso comum é demasiado comum para ser senso, no fundo não passa de um capítulo da estatística, e o mais vulgarizado de todos”. (p. 66) “Em minha opinião, senso comum e curiosidade são incompatíveis.” (p.66) in SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. http://www.mmpmateriaispedagogicos.com.br/ http://www.mmpmateriaispedagogicos.com.br/ Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos, cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha Canção A primeira leitura foi sugerida por um professor de Filosofia da PUC-SP, com o qual atualmente sou casada: trata-se da obra Homo Ludens, de Huizinga. Em seguida, tornei-me autodidata, o que não desmerece as leituras nem o procedimento, mas o resultado fica aquém do que poderia ou gostaria de considerar um sólido conhecimento sobre o tema. Posso ainda ressaltar três outras experiências decisivas na minha vida profissional. A primeira foi participar da elaboração da Proposta curricular para o Governo do Estado do Amapá, na área de Matemática, no ano 2000, em atividades pedagógicas para a formação de multiplicadores da proposta. Neste trabalho foi possível, pela própria natureza da Proposta Curricular - que pedia o aproveitamento do saber local - tomar contato com jogos e brincadeiras dos indígenas brasileiros e pensar, com a participação dos professores multiplicadores da proposta, no aproveitamento do material lúdico no aprendizado da Matemática. A segunda foi a leitura dos livros de Paulus Gerdes, editados em Moçambique – e trazidos para mim pelo educador Fernando Almeida - que, ao tratar e valorizar as abordagens dos diferentes grupos étnicos africanos na aplicação da Matemática, mostrou-me novamente o valor do jogo como instituição cultural e social da humanidade. A obra é abordada em “Fantasia”, na parte III desta dissertação. “Mas reconhecer o jogo é, forçosamente, reconhecer o espírito, pois o jogo, seja qual for a sua essência, não é material. “(Huizinga, 1971, p.6) Um exemplo de jogo africano : o jogo da tarumbeta. As crianças Chaga , da Tanzânia, fazem uma brincadeira com contagens chamada tarumbeta. Para iniciar o jogo são necessários 45 feijões. Eles devem ser dispostos em linhas, formando um triângulo. A maior linha tem 9 feijões e as demais têm, sucessivamente, um feijão a menos que a anterior.Uma pessoa é escolhida para ser o chefe, mas na verdade ele é o juiz, e senta-se no lado onde está o topo do triângulo formado pelos feijões. O lugar do concorrente é o da base , isto é, o lugar onde estão os 9 feijões , mas ele deve sentar-se de costas para o triângulo. Os outros dois colegas devem ficar sentados nos outros dois lados. Cada um deles, um de cada vez, vai tirando os feijões, um por um, limpando fila por fila, da base até o topo. Quando retira um feijão, pergunta ao concorrente quantos feijões foram removidos. Ele deve responder seguindo as regras do jogo: 1)Não pode responder quando é retirado o primeiro feijão de uma fila, mas quando é permitido responder, deve incluí-lo na contagem. 2)Se responder na hora errada, troca de lugar com um dos jogadores que está tirando o feijão. Ganha o jogo quem não errar nenhuma vez. Nesse caso, fica com todos os feijões. O jogo era jogado, primitivamente, com cereais - às vezes com sacos deles - pelos adultos, numa disputa, sem guerras, pela alimentação. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos, cultura e educação Jogos pedagógicospara a Matemática do E.M. Conclusões Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha Canção Na obra de Gerdes é freqüente o aparecimento de jogos africanos em que conceitos e atividades essencialmente matemáticos estão embutidos. Paulus Gerdes é um matemático moçambicano, professor universitário em Maputo, Moçambique, que publicou dezenas de obras voltadas para a geometria e sistemas de numeração africanos, trazendo contribuições valiosas para a etnomatemática em todo o mundo. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha canção A terceira foi a participação no projeto de pesquisa NOFAP - Novas tecnologias, novas formas de aprende? -, financiado pelo CNPq e executado, em conjunto, pelo OORT, pela Fundação Carlos Chagas e pelo CENPEQ, entre 1999 e 2001. O principal produto do projeto foi um software envolvendo situações-problema em Matemática e Ciências, apresentados sob a forma de jogo. Posteriormente, participei de mais um projeto que envolveu novas tecnologias e jogos pedagógicos - projeto RIVED, da Proinfo, construindo um módulo, junto com Walter Spinelli, para o estudo de probabilidade e estatística. Só em 2003 consegui tempo e ganhei coragem para fazer a pós-graduação, estimulada por muitas pessoas amigas, alguns parceiros de trabalho e meu marido, o que trouxe uma reviravolta na forma de trabalhar com jogos no ensino da Matemática. Há, hoje em dia, um olhar de pesquisadora e respaldo teórico para a prática. Aqui estão as minhas fichas, vamos ver como foi jogar com elas. Rede Internacional Virtual de Educação (Rived) da Secretaria da Educação a Distância (Seed) do Ministério da Educação. Atualmente existem módulos pedagógicos virtuais das disciplinas de Exatas e Biológicas (Matemática, Física e Química). O software é composto por duas seqüências de aventuras, com etapas a serem vencidas pela resolução de alguns problemas. O raciocínio do aluno ou aluna é rastreado e, ao resolver as situações propostas, o programa fornece dicas de resolução e feedback , além de simulações de possíveis heurísticos utilizados que devem ser reconhecidos. Em “Momento Zero”, na parte IV desta tese há maior explicitação deste software. Oort Tecnologia S.C. Ltda., empresa especializada em tecnologia. Cenpec: Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Cultura e Ação Comunitária. PARTE I -3 CONSTRUÇÃO Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha canção Construção 1.3 CONSTRUÇÃO “ Um marinheiro me contou que a boa brisa lhe soprou que vem aí bom tempo...” CHICO BUARQUE DE HOLANDA ( Bom Tempo) 1.3.1 DESIGUALDADE SOCIAL ”Atrás dos muros altos com garrafas partidas bem atrás das grades de silêncio imposto as crianças de olhos de espanto e de medo transidas as crianças vendidas alugadas perseguidas olham os poetas com lágrimas no rosto. Olham os poetas as crianças das vielas mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas o que elas pedem é que gritemos por elas as crianças sem livros sem ternura sem janelas as crianças dos versos que são como pedradas.” SIDÓNIO MURALHA – (Os Olhos Das Crianças) A construção dos elementos, percurso, procedimentos e validação de uma pesquisa em educação, pedem a apresentação, além do contexto em que ela foi executada, dos objetivos políticos que a norteiam. É o que se inicia neste capítulo. A sociedade brasileira, desde o início do século XXI, continua em estado de desigualdade social, que se expressa em todos os aspectos, em constante ameaça ao sistema vida, ainda que se evidencie, de certa forma, o crescimento da riqueza no país, fruto do desenvolvimento econômico. As políticas públicas não estão voltadas para a distribuição desta riqueza, ao menos de forma mais eqüitativa entre todos os segmentos da sociedade, de modo a garantir as condições que levem à superação das carências reais dos menos favorecidos e à sua sobrevivência. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha canção Construção O problema é abrangente, pois envolve todos os aspectos da existência humana no país e manifesta-se no universo do trabalho, na esfera das relações político- sociais e no âmbito da “cultura simbólica”, inclusa a educação. Ainda que existam leis para garantir o direito à educação, direito este conquistado pelo discurso da Modernidade e não total e adequadamente cumprido, mas sempre reiterado, e de par com regras para que elas ocorram, a realização das expectativas legais, segundo Curtis (2002), entra em choque com as adversas condições de funcionamento social, ou até mesmo com incapacidades administrativas. Desta forma, a importância das leis não é reconhecida como instrumento de realização social e passa a ser espaço de luta por cidadania, que contém a ampliação da democratização pela educação. Pode-se dizer que o reconhecimento da lei entre os educadores pode trazer como consequência, – e tem mesmo trazido em algumas situações - um aumento de qualidade na educação, o que, visto deste ângulo, descaracteriza a injustiça social mutiladora. Ocorre que a defesa da escolarização para todos, que remete à escola pública, acaba por evidenciar fraturas no conceito de democratização: em muitas cidades não há vagas para todos os alunos – até mesmo para o ensino fundamental -; o ensino nem sempre é de qualidade, socialmente reconhecida como boa; os conteúdos escolhidos, em geral, não levam em conta a realidade social brasileira, dentre tantas outras falhas apontadas no sistema. Parte integrante desse quadro – e em destaque em muitas escolas – está o ensino da Matemática. Artigo XXVI, Direitos Humanos, 1948. Convenção Relativa à Luta Contra à Discriminação no Campo do Ensino de 1960. Art.13 do Pacto Internacional dos Direitos, Econômicos Sociais e Culturais, 1966. Sugere-se a leitura de RAWS, John. Uma Teoria da Justiça. Lisboa: Presença, 1993. Para o autor, propor e empregar um modelo justo de distribuição de bens – materiais e imateriais – é tarefa política inquestionável e interminável em uma sociedade democrática. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha canção Construção No Ocidente, é necessário pensar a educação com base em princípios da modernidade e dos direitos humanos e, por isso mesmo, não há como desconhecer a gravidade da situação, que é de caráter estrutural, e reforçada pelas políticas públicas que se compõem com o modo de produção capitalista e, de certa forma, também são responsáveis pela assimetria social, embora seja possível apontar a presença de alguns programas educacionais descontínuos – e muitas vezes isolados -, criados para resolver problemas localizados. Tais programas não asseguram a toda população uma educação pública de qualidade, que dispense ações compensatórias e assistencialistas. A realidade que se impõe é, em alguns casos, o agravamento dos problemas, não as suas soluções. A situação da educação no país extrapola a possibilidade de enfrentá-la e superá-la apenas como cidadão,mas é inegável não ser possível eximir-se das reflexões e ações que visem compor um quadro coletivo modificador do que ora existe. Não há dúvida que os projetos de pesquisa em educação precisam assumir com clareza e empenho, a partir das esferas específicas de atribuições e responsabilidades, os compromissos com as propostas e as ações destinadas a contribuir, de forma inequívoca, com a construção de uma sociedade menos assimétrica. No entanto, vê-se hoje a transformação social sob o viés da regulação e da resolução de problemas sociais, mas com as expectativas voltadas para o “pior”, entre uma força dirigida para a assimilação e outra para a emancipação. Colocadas num só caldo, visão e ação são movimentos paralisantes para qualquer perspectiva de modificação, embora as promessas da Idade Moderna – igualdade, liberdade e solidariedade - ainda sejam aspirações contemporâneas. Mas a compreensão do mundo não passa, necessariamente, pela visão ocidental. É preciso o alargamento de caminhos e de modos de enxergar. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha canção Construção Para pensar em transformação social e na racionalidade impeditiva de sua realização, busca-se a argumentação de Santos (2007), que aponta a desmobilização da vontade - no Ocidente - de modificar o que é vivido, e analisa a intensificação da vontade em culturas orientais: “Em nossa cultura, ao contrário, não temos possibilidade disso; nossa vontade está muito relacionada às condições objetivas, o que não pareceria mal se completássemos com outra reflexão que as ciências sociais têm deixado de fora: a distinção entre a ação rebelde e a ação conformista. Estou mais interessado nessa distinção e em como criar subjetividades rebeldes do que em ficar discutindo os conceitos de estrutura e ação a vida toda.” (p.24) A falta de vontade está associada, segundo o autor, à racionalidade - instrumental -, dominante nos países do Norte, e influencia o pensar, o desenvolvimento da ciência e as concepções de vida e de mundo nas demais regiões do planeta. “A essa racionalidade – seguindo Gottfried Leibniz – eu chamo de indolente e preguiçosa” (p. 25) Santos (2007) destaca duas formas de manifestação de indolência: a metonímica e a proléptica. Tomar a parte pelo todo é ter, como conceito, um todo composto por partes homogêneas; é pensar como em determinados procedimentos estatísticos, nos quais os dados que fogem da homogeneidade – os de valores extremos – são desprezados. Cria-se, desta forma, uma concepção restrita do presente, que deixa de lado algumas realidades e experiências vividas por grupos não hegemônicos; é uma concepção que desperdiça. Metonímia: figura da teoria literária e retórica, que consiste em tomar a parte pelo todo. Prolépse: figura literária, que faz uso de conhecimento do futuro, de antecipação. É encontrada em romances nos quais o narrador sugere conhecer o fim, mas não vai contá-lo antes. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha canção Construção A racionalidade proléptica traz o conhecimento antecipado do futuro, no presente, e expande-o, tornando-o infinito, pois propõe ações de desenvolvimento – econômico, sobretudo – para além das pessoas vivas no presente, o que acaba por produzir a contração do presente. Pode-se pensar, primeiramente na racionalidade metonímica, e de que forma o conhecimento e a razão são vividos a partir dela. Segundo Santos (2007), a base da racionalidade são as ideias de simetria dicotômica, que escondem hierarquias e diferenças e são, portanto, assimétricas. A ideia de totalização do pensamento faz com que não seja possível pensar no homem sem a mulher, no Norte sem o Sul, no educando sem o educador. A racionalidade vivida dessa forma impede enxergar as realidades para além das relações entre as partes, como, por exemplo, saber o que existe na mulher – ou no homem – que não depende da relação entre eles. Impede fazer perguntas cruciais, como “O que é vivido e criado no Sul, que não depende do Norte?” ou “Quais ações são vividas pelo educando que não são criadas pelo educador? O anseio de transformação do real, sem passar pela consciência, leva a erros, como a contração do presente e a extensão do futuro. Como é possível evidenciar a realidade que é tida como “não existente”, mas que de fato existe? Santos (2007) propõe, como resposta, a Sociologia das Ausências, para mostrar o não existente, tido como alternativa descartável e invisível à realidade hegemônica - que diminuiria a riqueza e a contradição do presente. O autor propõe cinco ecologias, que se opõem aos cinco modos de produção de ausências, ou monoculturas, advindas da racionalidade metonímica: Dicotomia: repartição do conceito em dois outros, contrários e complementares, abarcados no conceito gerador. Exemplo: seres humanos em homens e mulheres. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha canção Construção Ecologia dos saberes, que se opõe à monocultura do saber e do rigor, e que não tenta “descredibilizar“ a ciência. O que se propõe é um diálogo entre o saber acadêmico e o saber popular, dos indígenas, das populações urbanas marginais e o camponês, para, por exemplo, evidenciar não apenas como o conhecimento representa o real, mas o que ele produz na realidade. Ecologia das temporalidades, que se opõe à monocultura do tempo linear, que compreende e concebe a ideia de um tempo linear, mas não ignora que existem também outros tempos: o dos antepassados, fundamental para alguns povos; das estações do ano; de sociabilidades diferentes. A ecologia evita a ideia de que a história tem direção e sentido já determinados e que os países desenvolvidos estão na frente, e, consequentemente, os outros estão atrás. A temporalidade linear, de uma certa forma, traz a extensão do passado, o que também produz a redução do presente, além de validar a ideia do progresso como garantia de desenvolvimento. Ecologia do reconhecimento, que se opõe a monocultura da naturalização das diferenças, e “descoloniliza” as mentes, para que possam distinguir o que é produto da hierarquia do que não é, e validar as semelhanças e, sobretudo, as diferenças que ficaram após a distinção. Ecologia da “transescala”, que se opõe a monocultura da escala dominante, traz em si a possibilidade de articular projetos em escalas locais, nacionais e globais, abandonando a idéia de universalismo hegemônico. Ecologia das produtividades, que se opõe a monocultura da produtividade capitalista, recupera e valoriza sistemas alternativos de produção, de organizações econômicas populares, cooperativas de trabalhadores, empresas autogestionadas, economia solidária, etc. Mapa Foco de atenção Matemática e conhecimento Jogos: cultura e educação Jogos pedagógicos para a Matemática do E.M. Conclusões e considerações Anexo Referências Bibliográficas Assentamento Minha canção Construção Concebida a ideia de ecologias que permitem ampliar o presente, Santos (2007), vislumbra a redução do futuro, pela Sociologia das Emergências, que confronta a razão proléptica. Ela se alimenta das possibilidades existentes, emergentes que são descartadas, invisíveis ou “descrebilizadas” no presente. “Entre o nada e o tudo – que é uma maneira muito estática de pensar a realidade
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