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GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 ATAXIAS Definição: ataxia palavra derivada do Grego: αταξία, que significa sem ordem; sem coordenação. O termo ataxia locomotora é empregado desde o século XIX, com significado de incoordenação. A ataxia não é uma doença em si, mas um sintoma, ou seja, manifestação clínica presente em uma variedade de doenças. Caracterizada principalmente como a incoordenação dos movimentos voluntários. Outros autores complementam a definição incluindo além da incoordenação dos movimentos, aspectos do controle postural e do equilíbrio. Evidenciam ainda que na ataxia não ocorre o comprometimento da força muscular e do tônus (ARTMUTLU, 2010; LUNDY-EKMAN, 2008). O controle postural normal é resultante da ação simultânea do tônus postural normal, da coordenação muscular e do equilíbrio. Ou seja, em um sistema nervoso íntegro, o controle postural adequado ocorre pela interação de diferentes subsistemas sensório-motores, que precisam atuar em harmonia entre si, em um sistema de rede circular. O sistema vestibular, visual, somatossensorial e o cerebelo, interagem para a orientação postural, de acordo com o objetivo do movimento e das condições ambientais. Cada subsistema pode ser dominante em momentos diferentes, por exemplo: se o tipo da superfície muda (estável para instável – plana para inclinada, etc), o sistema somatossensorial irá perceber e registrar estes aspectos; se a informação visual muda, o sistema visual registrará estas mudanças. Os subsistemas que apresentam as informações mais precisas no momento dominarão e, em última análise, determinarão a resposta motora apropriada. (AKBAR, TETSUO, 2015; ARTMUTLU, 2010). O mau funcionamento de qualquer parte deste complexo circuito pode resultar em incoordenação ou ataxia (ataxia da marcha, dos membros, dos olhos ou a combinação destes) COORDENAÇÃO MUSCULAR: Funcionamento harmônico dos músculos ativos durante o movimento voluntário com: ritmo, velocidade e amplitude apropriados. EQUILÍBRIO: Adaptação postural às mudanças no centro de gravidade. A finalidade básica do equilíbrio é a manutenção da estabilidade corporal tanto em condição estática quanto dinâmica. CONTROLE POSTURAL: Habilidade motora complexa, originada da interação dos sistemas musculoesquelético e neural. Envolve o equilíbrio e a orientação postural. Esta última implica na habilidade de manter a relação apropriada entre os segmentos corporais e o ambiente e depende do controle do alinhamento corporal e do tônus em relação à gravidade, à superfície de suporte, às referências internas e às informações sensoriais. ARTMUTLU, 2010; CARVALHO, ALMEIDA, 2009 GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 Tipos de Ataxia ✓ Ataxia Cerebelar: mais frequente (descrita abaixo) ✓ Ataxia Sensorial: também chamada de ataxia sensitiva (proprioceptiva), resultante do comprometimento das vias proprioceptivas, desde o nervo periférico, passando pela raiz dorsal e tratos espinocerebelares. Assim, o SNC e o cerebelo não recebem as informações proprioceptivas dos fusos musculares e OTG e outras informações sensitivas, alterando dessa forma o controle cinético- postural sobre os segmentos corporais. Como o SNC não recebe informações suficientes da posição espacial dos diversos sistemas corporais, o paciente utiliza as informações visuais (aferências visuais) para suprir este déficit – assim, no exame clínico o sinal característico da ataxia sensitiva é o Sinal de Romberg (tendência à queda imediata após o fechamento dos olhos, sem um sentido preferencial). Características: marcha irregular, base alargada, batendo calcanhares violentamente contra o chão – Marcha Taloneante ou Calcaneante. Nos testes de coordenação (index-index; calcâneo-joelho, etc) os erros de medida (dismetria) pioram com os olhos fechados. Não apresentam nistagmo. Comprometimento da sensibilidade profunda (propriocepção, artrestesia, sensibilidade vibratória, tato grosseiro). Doenças: tabes dorsalis, neuropatia diabética, alcóolica (com comprometimento das vias sensitivas) ✓ Ataxia Vestibular: pode ocorrer por lesão periférica (lesão do VIII nervo craniano) ou central (lesão dos núcleos vestibulares). Predomínio de alterações de equilíbrio, coordenação motora e movimentos apendiculares são praticamente normais. No exame do equilíbrio estático: Pseudo-Romberg ou Romberg Vestibular: tendência à queda após um período de latência (não imediata ao fechar os olhos) para um sentido preferencial. Presença de Nistagmo. Marcha alterada, com base alargada e tendência de desvio para o lado comprometido. Na marcha em linha reta de frente e depois de costas = Marcha em Estrela de Babinski-Weil (https://www.youtube.com/watch?v=8YyrowgVbtU); Marcha no lugar: Marcha de Fukuda ou Unterberger (https://www.youtube.com/watch?v=VCyJP9Orf0Y) ✓ Ataxia Frontal: Comprometimento do córtex frontal (tumores, hidrocefalia, infartos), sua fisiopatologia não é bem compreendida, está relacionada com dificuldades de comunicação entre o córtex frontal, estruturas subcorticais e cerebelo. Equilíbrio dinâmico está mais afetado, dificuldade em iniciar a marcha, passos curtos com os pés arrastados no chão (reação magnética – sensação de pés “colados” ao chão. ✓ Ataxia Talâmica: Comprometimento da região lateral do tálamo, geralmente apresenta outros sintomas neurológicos associados (déficits motores e/ou sensoriais) https://www.youtube.com/watch?v=VCyJP9Orf0Y GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 Tabela 1: Características dos principais tipos de ataxias Ataxia / Sinais Cerebelar Sensitiva Vestibular Sinal de Romberg Não ocorre Presente “Pseudo Romberg” ou Romberg Vestibular Sensibilidade profunda Normal Comprometida Normal Coordenação com os olhos abertos Comprometida (predomínio de dismetria) Normal Normal Coordenação com os olhos fechados Inalterada Piora (erro de direção – dismetria) Piora Nistagmo Pode estar presente Ausente Presente (geralmente com os componentes horizontal e vertical) Marcha Ebriosa Taloneante Marcha em estrela e Marcha de Fukuda Tendência para lateralização da queda Ausente Ausente Presente Outros Hipotonia, reflexos pendulares Hiporreflexia Arreflexia Vertigens, déficits auditivos Fonte: MUTARELLI, 2000 Ataxia Cerebelar Não Cerebelar Sensitiva Central Periférica Frontal Vestibular Central Periférica Talâmica GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 ATAXIA CEREBELAR O cerebelo é a principal estrutura do SNC responsável pela coordenação e controle postural. Também está envolvido em diversas atividades relacionadas com a preparação e execução de ações como: - Iniciação dos movimentos voluntários - Planejamento motor - Coordenação dos movimentos dos olhos, cabeça, tronco e membros - Manutenção do equilíbrio e tônus muscular - Ajustes preditivos, reativos e adaptativos do controle postural - Influencia no aprendizado motor Anatomicamente o cerebelo, também chamado de pequeno cérebro - Localização: na fossa posterior do crânio, inferiormente ao cérebro e posterior ao tronco encefálico. - Estruturas anatômicas: formado por dois hemisférios que são unidos pelo Vérmis do cerebelo e pelo Lobo Floculonodular. Outras estruturas importantes são as Tonsilas ou Amígdalas cerebelares e os pedúnculos cerebelares - Divisão: 3 lobos – Lobo anterior, Lobo Posterior e Lobo Floculonodular Figura 2: Divisão anatômica do Cerebelo em lobo anterior, lobo posterior e lobo flóculonodular. Lobo anterior em vermelho.Em verde o lobo posterior. Em azul o lobo flóculonodular. Observa-se também a tonsila cerebelar. Figura 1: Vista posterior do cerebelo GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 O cerebelo, assim como o cérebro, possui externamente a substância cinzenta, que forma o córtex do cerebelo, e internamente a substância branca. No interior da substância branca, encontram-se os núcleos cerebelares, que são formados por substância cinzenta, são quatro pares de núcleos cerebelares: o núcleo denteado - o principal deles - o núcleo emboliforme, núcleo globoso e núcleo fastigial. Os núcleos emboliforme e globoso formam o núcleo interpósito. Figura 3: Vista anteroinferior e superior do cerebelo Figura 4: Secção sagital do cerebelo e vista superior Figura 5: Corte transversal do cerebelo e núcleos cerebelares: núcleo fastigial, núcleo globoso, núcleo emboliforme e núcleo denteado GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 O cerebelo também pode ser dividido de acordo com o tempo de origem de suas partes, que é a divisão filogenética. Nesta divisão o córtex cerebelar é composto por três partes: arquicerebelo, paleocerebelo e neocerebelo. O arquicerebelo é o mais antigo e é representado pelo lobo flóculo-nodular. Ele faz conexões com os núcleos vestibulares do tronco encefálico, por meio do núcleo fastigial, que também faz parte do arquicerebelo. O paleocerebelo, é representado pelo vérmis, inferior e superior e pelos núcleos emboliforme e globoso (núcleo interpósito). O neocerebelo é a porção mais recente do cerebelo, formado pela maior parte do córtex cerebelar e pelo núcleo denteado, estando envolvido em conexões com o córtex cerebral, pré-motor e motor. Figura 6: Representação do cerebelo de acordo com a representação anatômica, classificação filogenética e funcional GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 Figura 7: Divisão anatômica do cerebelo, classificação filogenética e funcional, aferências (órgão vestibular, medula e córtex cerebral) e eferências (sistema motor medial e lateral) Figura 8: Aferências e eferências cerebelares GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 Uma lesão restrita ao cerebelo não altera a percepção sensitiva ou força muscular, no entanto ocorre um prejuízo na coordenação dos movimentos dos membros e olhos, do equilíbrio e diminuição do tônus muscular. Os sinais e sintomas clínicos apresentados indicam a parte do cerebelo que foi comprometida, conforme apresentado no quadro abaixo Quadro 1: Distúrbios cerebelares de acordo com a região anatômica comprometida Lobo Flóculo-Nodular Arquicerebelo Vestíbulo-Cerebelo Vérmis e Zona Intermediária Paleocerebelo Espinocerebelo Hemisférios Neocerebelo Cerebrocerebelo Distúrbio na manutenção do equilíbrio, postura e motricidade ocular Perda do equilíbrio e ataxia Controle dos movimentos de tronco e membros Dificulta o planejamento e início dos movimentos voluntários ➔ perda do equilíbrio sem alteração do tônus muscular ➔ Dificuldade na correção do ato motor que está ocorrendo ➔ Modula os comandos corticais, corrigindo qualquer imperfeição do mov. - Mov. Voluntários ➔coordenação preservada quando deitado ➔ Movimentos grosseiros ➔ Produz incoordenação motora para movimentos finos de extremidades ➔ Mais frequente em crianças - Tumores ➔ Ocorre na degeneração cortical por alcoolismo crônico ➔ Sinais: dismetria, decomposição, tremor, disdiadococinesia As lesões cerebelares produzem sinais sempre homolaterais e para a realização dos testes o paciente precisa estar consciente. As principais características clínicas da doença cerebelar incluem distúrbio do equilíbrio, do tônus muscular e da execução dos movimentos, sendo que os seguintes achados podem estar presentes: hipotonia, ataxia, dismetria, disdiadococinesia, nistagmo, fenômeno do rebote (ou rechaço) instabilidade postural, distúrbio da fala (fala escandida) e tremor de intenção. Estes achados podem ser lembrados pela seguinte regra mnemônica: HANDS TREMOR (Tremor das mãos): H = Hipotonia (perda do tônus muscular) A = Assinergia (falta de coordenação), ataxia N = Nistagmo (oscilação ocular) D = Disartria (anormalidades na fala), dismetria, disdiadococinesia S = Station (= ortostatismo) e marcha atáxica Tremor = tremor intencional grosseiro GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 ETIOLOGIA DAS ATAXIAS CEREBELARES As síndromes cerebelares podem ser decorrentes de alterações hereditárias ou não hereditárias, conforme esquema gráfico abaixo: Ataxias Não Hereditárias Adquiridas: Esclerose Múltipla, AVE, TCE, intoxicações por álcool, medicamentos, metais pesados e solventes, alterações imunes, doenças infecciosas, neoplasias, malformações, deficiência de vitaminas (B), alergia ao glúten, doenças metabólicas Ataxias Não Hereditárias Degenerativas: Atrofia de múltiplos sistemas, Ataxia cerebelar idiopática de início tardio (ILOCA). Ataxias Hereditárias: geralmente são lentamente progressivas e estão associadas com a atrofia do cerebelo. Além do comprometimento cerebelar outras áreas do SNC também podem sofrer processos degenerativos, assim os pacientes podem apresentar sinais e sintomas de outras síndromes associados à ataxia cerebelar como sinais e sintomas da síndrome extra-piramidal, da síndrome piramidal (1º neurônio motor), e/ou síndrome periférica. O padrão de herança é recessivo ou dominante. Ataxias Hereditárias Recessivas: são mais raras pela necessidade de herdar um gene causador do problema do pai e outro da mãe. Mais de 20 doenças compõe este grupo, algumas muito raras. O tipo mais comum é a ataxia de Friedreich (FRDA), que tem início precoce (entre a puberdade e 25 anos) e apresenta, além dos sintomas cerebelares, comprometimento da medula com alteração proprioceptiva e presença do sinal de Babinski (lesão de neurônio motor superior), alterações cardíacas, alterações músculo- esqueléticas (pé cavo, escoliose), entre outros. Ataxias Hereditárias Dominantes: na herança dominante se a pessoa herdar apenas um gene causador do problema ela vai desenvolver a doença. O grupo de Ataxias Espinocerebelares (SCA) são as ataxias hereditárias dominantes mais comuns, com mais de 40 tipos já descritos. As SCAs cursam com quadros progressivos de atrofia cerebelar (síndrome cerebelar = sinais atáxicos), acompanhados ou não de degeneração de outras do SNC, como: tronco encefálico, córtex, medula, nervos cranianos e diencéfalo (características clínicas específicas – sinais não atáxicos). ATAXIAS CEREBELARES Não Hereditárias Adquiridas Degenerativas Herditárias Recessivas Dominantes GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 As SCAs tipo 1 – 3 e 6 são as mais frequentes no mundo. No Brasil, o tipo mais prevalente e a SCA 3, também chamada de Doença de Machado-Joseph. REABILITAÇÃO NAS ATAXIAS O objetivo da reabilitação nas ataxias depende dos déficits nas estruturas neurológicas e das limitações que afetam as funções do paciente. Assim, buscamos melhorar o nível funcional do paciente por meio de técnicas restauradoras e quando isso não é possível, utilizam-se estratégias compensatórias para que o paciente tenha um desempenho o mais independente possível dentro do nível funcional que apresenta. Para a determinação dos objetivos é necessária uma avaliação cuidadosa das alterações funcionais do pacientee o entendimento das vias acometidas. Assim, a avaliação é fundamental, pois, além de determinar o atual nível funcional, orienta o fisioterapeuta para estabelecer as metas e planejar as etapas e estratégias utilizadas no tratamento. AVALIAÇÃO NEURO FUNCIONAL A avaliação físico-funcional é o ponto de partida para caracterizar os déficits, potencialidades e limitações do paciente e é fundamental para o estabelecimento de um programa de tratamento individualizado, adequado às necessidades e expectativas de cada paciente e sua família - Anamnese: ✓ Anamnese: grande oportunidade de conhecer a realidade emocional e psicossocial do paciente e de sua família e quais as expectativas a respeito do tratamento; ✓ Busca identificar fatores relacionados à história do paciente e da sua doença que podem interferir no quadro físico funcional - Exame Físico: ✓ Observação/inspeção ✓ Avaliar condições associadas que podem coexistir com a ataxia, como alterações da pressão arterial, acometimento de outros sistemas: musculoesquelético, cardiovascular, pulmonar e outros, que podem influenciar a função e o desempenho nas atividades de vida diária ✓ Determinar as deficiências das funções corporais: a partir do exame das funções corporais como FM, tônus, reflexos, coordenação, sensibilidade etc, é possível identificar quais estruturas do SN estão comprometidas, caracterizando a presença, além da síndrome cerebelar, de outras síndromes neurológicas (Síndrome extrapiramidal, piramidal ou do 1º neurônio motor; vestibular, sensitiva). O comprometimento de outras áreas do SN pode ocorrer em algumas ataxias cerebelares hereditárias ✓ A partir do exame da das funções corporais: FM, ADM ativa e passiva, sensibilidade superficial e profunda, tônus e reflexos, nervos cranianos, equilíbrio e coordenação é possível determinar quais os déficits e limitações estão causando as alterações de equilíbrio e coordenação, assim, se uma pessoa apresenta GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 diminuição de FM de MMII ela pode apresentar alteração do equilíbrio, no entanto, não apresenta uma ataxia cerebelar. ✓ Caracteriza as limitações nas atividades funcionais (CORE tarefas: sentar, passar para de pé, em pé, andar, subir degrau, alcance e manipulação) Como já mencionado anteriormente, as lesões cerebelares têm como principais características alterações de equilíbrio e coordenação Avaliação do Equilíbrio e da Coordenação Categorias de testes: 1. Testes neurológicos clássicos (para confirmar ou descartar sinais e sintomas de uma síndrome neurológica); 2. Instrumentos de avaliação padronizados: escalas e questionários. A escolha destes dependera do que se busca quantificar, se são aspectos estruturais e de função dos sistemas ou se estão relacionados às limitações das atividades ou restrição da participação; 3. Instrumentos de avaliação não padronizados. Avaliação da Coordenação 1. Testes Neurológicos Clássicos de Coordenação Os movimentos coordenados são caracterizados por velocidade, distância, direção, cadência, força e tensão muscular adequados. Durante o exame observamos a presença de tremor de intenção (tremor cinético), erro no alvo (dismetria), decomposição do movimento (assinergia/dissinergia), capacidade (diadococinesia) ou não de realizar movimentos rápidos e alternados (adiadococinesia/disdiadococinesia). Estas alterações podem ocorrer isoladamente ou associadas no mesmo teste realizado. Os seguintes testes ou provas são utilizados para a avaliação da coordenação: - Calcanhar joelho: https://www.youtube.com/watch?v=aSgq3fvPzlc https://www.youtube.com/watch?v=I-lp7RStjXw (identifica erros de medida = dismetria) - Prova dos movimentos alternados – Diadococinesia e Disdiadococinesia https://www.youtube.com/watch?v=p_pZFvU7x2o - Índex – Índex - Índex – Nariz – Índex - Índex – Nariz https://www.youtube.com/watch?v=-dFMisBl1aM https://www.youtube.com/watch?v=1I4Sl_Jmxl4&list=PL70A9056D04D0FF7B https://www.youtube.com/watch?v=hmdYxjHbwog https://www.youtube.com/watch?v=aSgq3fvPzlc https://www.youtube.com/watch?v=I-lp7RStjXw https://www.youtube.com/watch?v=p_pZFvU7x2o https://www.youtube.com/watch?v=-dFMisBl1aM https://www.youtube.com/watch?v=1I4Sl_Jmxl4&list=PL70A9056D04D0FF7B https://www.youtube.com/watch?v=hmdYxjHbwog GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 - Prova do Rechaço (manobra de Stwart-Holmes) - Provas Gráficas: escrever, desenhar linha reta entre duas barras, traçar linha em labirinto sem ultrapassar limites - Caracterização da fala: fala escandida, fala com dificuldade de coordenação (disartria) https://www.youtube.com/watch?v=c5cHzBluljw Resumindo: os achados possíveis nos testes de coordenação são: - Tremor de intenção - Decomposição dos movimentos (assinergia/dissinergia) - Dismetria (hipo ou hipermetria) 2. Instrumentos de Avaliação Padronizados para Coordenação Não foram desenvolvidos para avaliar os problemas de coordenação das ataxias, são utilizados avaliar a função do MS em diversas outras condições neurológicas como esclerose múltipla, doença de Parkinson, AVC. - Nine Hole Peg Test - Box and Blocks test - Teste de Jebsen Taylor - Peurdeu Pegboard Test - Prova ou teste em espiral Avaliação do Equilíbrio - Equilíbrio Estático - Equilíbrio Dinâmico: Marcha* Habilidade * Alguns autores consideram a marcha como equilíbrio dinâmico, já O’Sullivan, Schmitz e Fulk (2018), classificam a marcha como uma Habilidade. Para os autores as Habilidades Motoras Funcionais são compostas por: Mobilidade Transicional, Controle Postural Estático (ou estabilidade), Controle Postural Dinâmico (ou mobilidade controlada) e Habilidade. 1. Testes Neurológicos Clássicos do Equilíbrio a. Equilíbrio Estático: - Teste de Romberg (caracteriza a alteração do equilíbrio decorrente de déficit proprioceptivo – sensibilidade profunda, ou seja). https://www.youtube.com/watch?v=IZke04XyStk - Single Leg Test: manter-se em apoio unipodal por um tempo determinado - Four Stage balance test: manutenção do equilíbrio em quatro posições progressivamente mais desafiadoras: 1- pés unidos, paralelos; 2- pés únicos, com um pé à frente (calcanhar https://www.youtube.com/watch?v=c5cHzBluljw https://www.youtube.com/watch?v=IZke04XyStk GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 do pé à frente na altura da base do hálux); 3- posição de tandem (um pé na frente do outro); 4- apoio unipodal. Paciente deverá ser capaz de manter as posições por pelo menos 10 segundos. https://www.youtube.com/watch?v=Um15GXDBhao - Posturografia - Exame qualitativo do equilíbrio estático: observação da manutenção da postura em diferentes posições (sentado, gatas, ajoelhado, semi-ajoelhado, em pé) b. Equilíbrio Dinâmico: O déficit do equilíbrio dinâmico compromete a habilidade da marcha com consequente aumento do risco de quedas. O padrão de marcha difere de acordo com o tipo de ataxia: cerebelar, sensitiva, frontal e vestibular. Nas ataxias cerebelares a marcha é do tipo ebriosa, que é uma marcha instável, caracterizada por aumento na base de sustentação, na largura do passo, trajetória irregular, oscilações do tronco, a pessoa com ataxia geralmente mantém o olhar nos MMII e no chão. A análise visual qualitativa do padrão de marcha auxilia na identificação da alteração do equilíbrio dinâmico, podendo ser solicitado marcha anterior, posterior, em tandem, na ponta dos pés, sobre os calcanhares. Outra possibilidade é a análise cinemática e cinética da marcha em laboratórios de marcha, com o registro computadorizado de dados da cinemática, da cinética e da EMG dinâmica da marcha. Ainda em relaçãoa avaliação do equilíbrio dinâmico é importante a análise visual qualitativa das mudanças de postura e das reações frente à estímulos externos que alteram o equilíbrio. 2. Instrumentos de Avaliação Padronizados do Equilíbrio Existem vários instrumentos padronizados e validados para avaliar os aspectos do equilíbrio para diversas patologias, mas não existe um único instrumento capas de avaliar todos os aspectos da ataxia. A seleção do instrumento de avaliação depende da gravidade do quadro apresentado pelo paciente e do objetivo funcional estabelecido. No quadro abaixo seguem alguns instrumentos utilizados e sua finalidade (quadro 2). Quadro 2: Instrumentos de avaliação do Equilíbrio Estático, Dinâmico e da marcha Instrumento de Avaliação Objetivo Mini Best Test Avalia o equilíbrio funcional dinâmico Escala de Equilíbrio de Berg Avalia o equilíbrio funcional estático e dinâmico e o risco de queda Teste do Alcance Funcional Avalia o equilíbrio funcional estático e dinâmico Índice Dinâmico de Marcha - DGI Avalia o equilíbrio dinâmico e a marcha. Avalia a habilidade do indivíduo de modificar o equilíbrio enquanto caminha na presença de demandas externas Time Up and Go - TUG Avalia a marcha e a funcionalidade do equilíbrio dinâmico. Risco de queda Teste da caminhada de 10 metros Avalia a marcha e a funcionalidade do equilíbrio dinâmico (cadência, velocidade, comprimento do passo e da passada https://www.youtube.com/watch?v=Um15GXDBhao GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 Além dos instrumentos padronizados para a avaliação do equilíbrio e da marcha existem instrumentos que classificam e verificam os segmentos e funções comprometidas pela ataxia (Quadro 3). Quadro 3: Escalas para a Classificação e Verificação do Comprometimento nas Ataxias Instrumento de Avaliação Objetivo Escala para Avaliação e Classificação da Ataxia – Scale for Assesment and Rating of Ataxia - SARA Avalia a ataxia de tronco e extremidades, a marcha e a fala Escala Internacional de Classificação da Ataxia – ICARS Avalia a ataxia de tronco, extremidades e marcha, o nistagmo e a fala Escala abreviada de classificação da ataxia - BARS Avalia a ataxia de tronco, extremidades e marcha, o nistagmo e a fala Escala de componentes funcionais da ataxia Avalia a velocidade da marcha, a ataxia de extremidades superiores e a acuidade visual Inventory of Non-Ataxia Index - INAS Identifica sinais não atáxicos Escala de Impacto da Ataxia de Friedreich Avalia a fala, a função de membros superiores e inferiores, os movimentos do corpo, as tarefas complexas, o isolamento, o humor e a autopercepção ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NAS ATAXIAS Atualmente a resposta ao tratamento medicamentoso da ataxia é bastante limitada e as melhores evidências são as intervenções específicas de habilitação e reabilitação. Para que as intervenções fisioterapêuticas sejam efetivas é necessário um diagnóstico correto da condição de saúde, permitindo o delineamento do prognóstico e auxiliando no planejamento do tratamento fisioterapêutico. Porém o fisioterapeuta não atua na condição de saúde, mas nas disfunções apresentadas pela pessoa com ataxia. Assim, todo programa de tratamento deve ser individualizado e tem como ponto de partida a queixa funcional do paciente em relação às suas limitações nas atividades e/ou restrição na participação. O programa de reabilitação deve conter abordagens voltadas para o equilíbrio, coordenação, propriocepção, estimulação sensorial e cognitiva, pois todos interagem entre si. Possíveis abordagens fisioterapêuticas na Ataxia: - Exercícios de coordenação motora fina e grossa (grosseira) ✓ Coordenação motora fina: escrever, digitar, utilizar talheres, manipular pequenos objetos. A terapia ocupacional pode ser muito útil GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 ✓ Coordenação motora grosseira: dividida em três categorias que se sobrepõe ao equilíbrio estático e dinâmico e habilidade. a. Atividade Locomotora: andar, correr, saltar, pular b. Atividades não locomotoras: alcançar, estender, girar, empurrar, puxar, levantar, abaixar. c. Habilidades Manipulativas: manipulação e aplicação de força para mover objetos maiores – arremessar, chutar, golpear, pegar ✓ Exercícios de Coordenação Global ✓ Abordagem compensatórias: uso de pesos ✓ Exercícios para Equilíbrio Estático: iniciar com superfícies estáveis, realizar sequência de postura, evoluir do apoio externo, uso carga axial (pesos), diferentes condições de visão, superfícies instáveis, dupla tarefa (cognitiva) ✓ Exercícios para Equilíbrio Dinâmico: evoluir se forma semelhante aos exercícios estáticos, movendo cabeça, tronco e/ou membros, dupla tarefa (motora) ✓ Exercícios de Frenkel ✓ FNP ✓ Realidade Virtual ✓ Neuromodulação não Invasiva: TMS e TDCS ✓ Pilates, dança, marcha guiada por lenço ✓ Órteses GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 DICAS PARA FISIOTERAPIA PARA MELHORAR EQUILÍBRIO NA ATAXIA ✓ Usar a CIF para ajudar no seu raciocínio clínico tanto para avaliação, determinação do diagnóstico, objetivos e condutas ✓ Utilizar a progressão de posturas: ex: supino (DD) → sentar → levantar ou Prono (DV) → puppy → gatas → ajoelhado → semi-ajoelhado → de pé Em cada postura conquistar os componentes do controle motor: Mobilidade – estabilidade – mobilidade controlada e habilidade (em cada postura existe a necessidade de controlar um determinado número de articulações ou segmentos contra a gravidade. Quanto mais alta a postura maior número de articulações/segmentos corporais que precisam controlados) - Mobilidade: adotar uma postura (exemplo: passar de ajoelhado para semi ajoelhado) - Estabilidade: permanecer na postura adotada (mesmo frente a desafios que tentam tirar a pessoa desta postura - aqui é possível usar as técnicas da FNP, dentre elas a reversão de estabilizações pode ser bastante útil) - Mobilidade Controlada: manter a postura adotada e realizar movimentos que “desafiam” o equilíbrio nesta postura (exemplo: virar a cabeça e tentar alcançar um alvo (objeto) a frente – transferência de peso em diversas direções - Habilidade: aqui entram atividades mais elaboradas (exemplo: receber e jogar uma bola, e a própria deambulação). ✓ Inicialmente utilizar superfícies estáveis para progredir nas diferentes posturas. ✓ Progredir para atividades em superfícies instáveis (gradativamente diminuir os apoios que a pessoa utiliza na superfície instável e até mesmo a visão), pode usar bozu, disco, bola, colchonetes... principalmente a criatividade). ✓ Atividades de dupla tarefa (Habilidade) sempre considerando o item de atividade da CIF. ✓ Orientar e prescrever exercícios domiciliares. ✓ Buscar propostas de tratamento embasadas na literatura. GASPERIN, S. I. Apostila da disciplina de Neurologia III. Curso de Fisioterapia – UNIVALI, 2022/1 REFERÊNCIAS AKBAR, Umar; TETSUO, Ashizawa. Ataxia. Neurologic clinics v.33, n.1, p.225-48, 2015. DOI:10.1016/j.ncl.2014.09.004. ARMUTLU, K. Ataxia: physical therapy and rehabilitation applications for ataxic patients. Buffalo University. 2010. Disponível em: https://pdfcoffee.com/ataxia-physical- therapy-and-rehabilitation-applications-for-ataxic-patients-pdf-free.html Acesso em: 03 de junho de 2022. ASHIZAWA, Tetsuo. Ataxia. Movement Disorders. v.22, n.4, p. 1208-1226, 2016. DOI: 10.1212/CON.0000000000000362 BRAGA-NETO, Pedro et al. Translation and validation into Brazilian version of the Scale of the Assessment and Rating of Ataxia (SARA). Arquivos de Neuro-Psiquiatria [online]. v.68, n. 2, p. 228-230, 2010. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0004- 282X2010000200014>. Acesso em: 08 jun. 2022. CARVALHO, R. L.; ALMEIDA, G. L. Aspectos sensoriais e cognitivos do controle postural. Revista Neurociências, [S. l.], v. 17, n. 2, p. 156–160, 2009. DOI: 10.34024/rnc.2009.v17.8576. Disponível em: https://www.periodicos.unifesp.br/index.php/neurociencias/article/view/8576. Acesso em: 10 jun. 2022. LUNDY-EKMAN, Laurie. Neurociências: Fundamentos para a Reabilitação. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. MUTARELLI, Eduardo. Propedêutica Neurológica – do Sintoma ao Diagnóstico. São Paulo: Sarvier, 2000. O'SULLIVAN, Susan B.; SCHMITZ, Thomas J.; FULK, George D. Fisioterapia avaliação e tratamento. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2018. ZONTA, Marise Bueno; SANTOS, Lucia Helena Coutinho dos; TEIVE, Helio Afonso Ghizoni. Reabilitação nas ataxias: orientação multiprofissional aos pacientes, cuidadores e profissionais. Curitiba: Editora UFPR, 2018. https://pdfcoffee.com/ataxia-physical-therapy-and-rehabilitation-applications-for-ataxic-patients-pdf-free.html https://pdfcoffee.com/ataxia-physical-therapy-and-rehabilitation-applications-for-ataxic-patients-pdf-free.html
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