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Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS INFECÇÕES POR HERPES-VÍRUS: INFECÇÃO POR HERPES SIMPLES: A herpes simples é causada por dois tipos de vírus, o HSV-1, responsável por infecções de face e tronco, e o HSV-2, associado a herpes genital. A transmissão se dá por meio de contato direto com indivíduos portadores, havendo penetração viral por mucosas ou áreas de solução de continuidade da pele. No caso do HSV-2, isso ocorre por meio de relações sexuais. Após a interação inicial, há um período de incubação de 10 dias até o desenvolvimento da primoinfecção, que pode ser tanto assintomática, como grave, com evolução arrastada. O herpes vírus então torna-se latente em gânglios de nervos cranianos ou espinhais, causando a herpes recidivante ao migrar novamente em direção à pele ou mucosas. HERPES SIMPLES NÃO GENITAL: A infecção primária por HSV-1 em crianças se dá predominantemente sobre a forma de gengivoestomatite herpética, iniciada após 3 a 10 dias da exposição. O quadro clínico pode ser discreto ou contar com erupções vesicobolhosas com febre alta, adenopatia e queda do estado geral. Após o rompimento das bolhas, surgem lesões ulceradas recobertas por placas brancas, que causam edema das gengivas. A alimentação torna-se difícil. Lesões agudas causadas por gengivoestomatite herpética Destaca-se também a queratoconjuntivite herpética como manifestação inicial, levando à formação de erosões na conjuntiva e córnea, capazes de causar cegueira quando recorrente. Infecção ocular por HSV De modo geral, a primoinfecção se estende por 2 a 6 semanas, regredindo espontaneamente sem tendência a sequelas. O diagnóstico requer diferenciação entre manifestações como infecções bacterianas, candidose e Síndrome de Stevens-Johnson. Indivíduos adultos são mais propensos à ocorrência de herpes não genital recidivante, podendo surgir em qualquer área de pele ou mucosa. O quadro se inicia com ardor discreto no local, seguido pelo aparecimento de vesículas agrupadas em base eritematosa, principalmente nos lábios. A transmissão pode ocorrer mesmo na ausência de lesões clínica características, o que é comum na herpes genital Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Os principais fatores desencadeantes dessa manifestação são a exposição solar, traumas, tensão emocional, período menstrual e infecções respiratórias. Lesões vesiculares por herpes simples em lábio superior HERPES SIMPLES GENITAL: A primoinfecção por HSV-2 em adultos normalmente ocorre de 5 a 10 dias após o contato com o vírus, sendo marcada por agrupamentos de vesículas dolorosas, que podem formar úlceras, nas genitais e no ânus. Em homens, as lesões se disseminam em todo o pênis, acompanhadas por febre, cefaleia e linfadenopatia, ao passo que mulheres sofrem com quadro de vulvovaginite, podendo afetar o colo uterino. A forma recidivante normalmente se apresenta de modo semelhante, com pequenas vesículas que se rompem facilmente, perdurando por 5 a 10 dias. Não costumam haver sintomas sistêmicos. Lesões por herpes genital O HSV-2 pode ainda causar infecção intrauterina, levando a complicações gestacionais ou malformações congênitas, mesmo na ausência de sintomas na mãe. Quando a contaminação ocorre durante o parto, o neonato apresenta vesículas e bolhas erosadas cobertas por crostas, predominante na cabeça ou nádegas, podendo ser fatal. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico de infecções por herpes simples normalmente é confirmado por achados da anamnese e exame físico, porém pode ser amparado por exames complementares, tais como o teste citológico de Tzanck, que busca identificar células virais gigantes multinucleadas. Apesar de sua fácil execução, esse exame não consegue diferenciar os subtipos virais HSV-1 e HSV-2. Célula multinucleada de Tzanck, comum à múltiplas infecções por herpes-vírus Os diagnósticos diferenciais a serem considerados são a candidose O panarício herpético é uma manifestação do HSV observada em profissionais da saúde que trabalham sem EPI. Nesses indivíduos, a inoculação viral ocorre nos dedos e mãos, levando ao desenvolvimento de vesículas coalescentes e adenopatia Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS (especialmente na infância), o cancro duro e o eritema medicamentoso. TRATAMENTO: Os medicamentos de escolha para o tratamento de infecções pelo HSV são fármacos que inibem a replicação viral, como o aciclovir (VO 200 mg, 4/4h, podendo se omitir a dose noturna), mantidos por 5 dias. Em pacientes imunocomprometidos ou nas apresentações graves, a dosagem deve ser duplicada. Caso ocorram recidivas frequentes, pode ser feita a administração profilática desse antiviral (400 mg 1-2x/dia) por pelo menos 6 meses. Os efeitos adversos associados a esses fármacos são raros, representados principalmente por náuseas, desconforto abdominal e diarreia. Como tratamento tópico, recomenda-se apenas a limpeza das lesões, seguida por uso de antissépticos. VARICELA HERPES-ZÓSTER: O vírus varicela herpes-zóster (VZV ou HHV-3), provoca duas doenças distintas, a varicela, durante o primeiro contato (frequentemente na infância), e o herpes- zóster, quando reativado em indivíduos adultos. Essa particularidade se deve à capacidade do VZV de se manter em latência em gânglios nervosos sensitivos, onde chega por disseminação hematogênica. Padrões de apresentação clínica da infecção pelo vírus varicela herpes-zóster Durante a infecção, o DNA do vírus é integrado ao material genético humano, desencadeando uma série de processos que promovem a inativação de “barreiras de replicação” celular e transformam os neurônios afetados em polos de síntese e liberação viral. A reativação propriamente se sege a uma mudança no equilíbrio O processo de reativação do VZV ocorre através de uma mudança no balanço intraneuronal de duas proteínas octaméricas (OcT), em que a proteína viral alfa-TIF liga- se Oct-1 dos queratinócitos promovendo transcrição do genoma viral. A situação normal seria predominância de Oct-2 nos neurônios e assim, a alfa-TIF não conseguiria exercer seu efeito, mas em situação de lesões cutâneas há liberação de fator de crescimento neuronal (FCN) alterando o balanço Oct-1/Oct-2 temporariamente Manifestações generalizadas de herpes- zóster na vida adulta (“varicela símile” com lesões em vísceras) são observadas em pacientes imunossuprimidos No herpes genital, o manejo pode ser feito com fanciclovir (250 mg 2-3x/dia na primoinfecção, e 125 mg 12/12h nas recidivas Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Representação de mecanismos celulares que possibilitam a reativação viral do VZV VARICELA: A primoinfecção por VZV é marcada pelo surgimento de vesículas sobre base eritematosa distribuídas universalmente em pele (predominantes no tronco, raras em extremidades) e mucosas. O quadro é altamente contagioso, com transmissão mediada pelo contato com secreções respiratórias. Normalmente cursa com período de incubação de 2 a 3 semanas, conferindo, após a cura, imunidade por toda a vida. As manifestações clínicas iniciais são de febre moderada, mal-estar e manchas eritematosas, que evoluem em sequência para vesículas pequenas (1 a 3 mm) de conteúdo purulento e, após a descamação, para crostas. Em adultos, os sintomas são mais intensos, com febre elevada, cefaleia, anorexia e mal-estar geral. Lesões por varicela em criança Esses sintomas tendem a desaparecer após uma semana, havendo apenas a eliminaçãoterminal de formas crostosas. O diagnóstico geralmente é clínico, porém, como achados laboratoriais típicos, destacam-se: Citodiagnose de Zanck: células multinucleadas (presentes em múltiplas infecções por herpesvírus); Histopatologia: vesículas epidérmicas com células balonizantes; Degeneração em balão de queratinócitos com inclusão Exames imuno-histoquímicos: antígeno viral reagente; Detecção de PCR viral; Sorologia: identificação de anticorpos IgM. O tratamento da varicela consiste em repouso e administração de antitérmicos A presença de lesões em múltiplos estágios evolutivos é uma característica importante da varicela Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS (dipirona ou paracetamol) para o controle da febre. O prurido deve ser abordado com o uso de anti-histamínicos. O manejo tópico se baseia na limpeza das lesões com água boricada ou solução de Burrow (diluição 1:20), associada a antibacterianos. A profilaxia, em caso de contato do doente com indivíduos não imunes, consiste na observação clínica por 2 semanas. Para gestantes e outros imunossuprimidos, recomenda-se a administração de imunoglobulina (125 u/kg) em até 96 horas da exposição, conferindo proteção por 3 semanas. HERPES-ZÓSTER: A reativação viral do VVZ apresenta, na grande maioria dos casos, quadro clínico típico, marcado por dor neuropática que precede o aparecimento de achados cutâneos. Esse período prodrômico pode também apresentar sintomas constitucionais semelhantes à gripe. As lesões elementares dessa condição são descritas como vesículas transparentes (hemorrágicas em idosos) sobre base eritematosa de erupção unilateral, segundo o trajeto de um dermátomo, mas que pode afetar nervos contíguos. O desenvolvimento do quadro é gradual (2 a 4 dias), com a regressão das crostas sendo observada em até 4 semanas, criando cicatrizes ou manchas pigmentares. Lesões por herpes zóster acometendo um dermátomo torácico As áreas de acometimento preferencial são o tronco (maioria dos casos), face (no território do nervo trigeminal), região lombossacra e cervical. A depender do dermátomo afetado, podem haver erosões e vesículas em mucosas oral, vesical e genital. O zoster oftálmico resulta da infestação viral sobre o ramo nasociliar do nervo oftálmico, havendo surgimento de vesículas no lado e ponta do nariz, bem como conjuntivite, proptose e paralisia dos músculos extraoculares. Distribuição e achados comuns no zóster oftálmico As formas graves dessa infecção requerem o uso de aciclovir (VO ou IV) O herpes zóster pode ainda apresentar manifestações específicas com comprometimento dos nervos facial e/ou auditivo, denominadas respectivamente como paralisia de Bell (distorção da face) e síndrome de Ramsey-Hunt (paralisia facial associada a zumbido, vertigem e déficit auditivo) Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Assim como na primoinfecção, o diagnóstico é clínico, podendo se valer de técnicas como histopatologia e citodiagnose de Zanck, com achados já descritos anteriormente. A sorologia não é utilizada para a confirmação de casos de herpes zóster, uma vez que não há mudança no perfil de anticorpos prévio. O tratamento principal é realizado com aciclovir (800 mg, VO, 5x/dia por 7 dias), iniciado precocemente, de modo a prevenir a neuralgia pós-herpética. O medicamento pode ser substituído por fanciclovir (1g, 12/12h, também por 7 dias), caso necessário. Nas formas graves da doença, indica-se infusão intravenosa de aciclovir (10 mg/kg, em no mínimo 1h de infusão, a cada 8h). Analgésicos podem ser indicados de acordo com a intensidade da dor, sempre respeitando a escada analgésica da OMS. NEURALGIA PÓS-HERPÉTICA: A neuralgia pós-herpética corresponde à persistência da dor nos segmentos afetados pelo vírus mesmo após um mês do desaparecimento das lesões infecciosas. Os axônios se encontram inflamados, sofrendo degradação de fibras Aδ e C (sensibilização e desaferenciação), o que aumenta e modifica o campo de percepção sensitiva e sua interpretação cortical. Possíveis evoluções para o acometimento pelo VVZ Essa é a causa de dor crônica mais comum na população idosa, implicando em grande prejuízo em amplamente sua qualidade de vida e relações familiares. Incidência de neuralgia pós-herpética em diferentes faixas etárias após 3 meses e 1 ano da manifestação cutânea Destacam-se como fatores de risco para o desenvolvimento de neuralgia pós-herpética: Idade avançada; Maior intensidade dos sintomas na fase aguda; Desenvolvimento antes do surgimento de erupções; Acometimento cutâneo grave (> 50 erupções com crosta). Os principais sintomas relatados nesse quadro são alodinia (incômodo intenso após estímulo tátil), hiperalgesia (reação dolorosa aumentada) e hiperestesia (sensibilidade ao toque aumentada). As características mais associadas à dor pós-herpética são: Dor surda; Dor em queimação; A limpeza das lesões segue o mesmo protocolo aplicado à varicela (infecção primária), com uso de água boricada Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Dor constante; Dor paroxística (intensa); Intolerância às roupas; Intolerância ao calor/frio; Não se altera com o movimento. Como resultado dessas manifestações crônicas e debilitantes, o isolamento social e o desenvolvimento de transtornos de humor são desfechos frequentes. Além disso, pode haver perda de apetite (pela própria neuralgia ou por quadros depressivos) e anorexia resultante, o que aumenta a susceptibilidade individual a infecções oportunistas. O tratamento empregado no controle da neuralgia pós-herpética divide-se em farmacológico e não-farmacológico, a saber: Estratégias farmacológicas: São empregados antidepressivos (amitriptilina), anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina e carbamazepina) e, quando necessário, opioides. O uso de antipsicóticos não é mais recomendado devido à baixa eficácia, quando comparados aos medicamentos acima. Em caso de susceptibilidade aumentada a efeitos adversos, preparações tópicas também podem ser usadas, já que apresentam mínima absorção sistêmica. Seus representantes mais usuais são: o Lidocaína: promove a dessensibilização de receptores TRPA1 e o bloqueio de canais de sódio, de forma a reduzir as descargas ectópicas associadas à dor. Tem elevada tolerância pelos pacientes; o Capsaicina: é um importante agonista seletivo para o receptor TVRP1. A administração promove, inicialmente, sensação de ardência momentânea e eritema, porém atua analgesia por períodos prolongados. Estratégias não-farmacológicas: As práticas mais utilizadas são acupuntura (relevante para pacientes com insuficiência renal ou hepática), TENS (ativação seletiva de fibras aferentes, impedindo a propagação medular), meditação, psicoterapia (autogerenciamento da dor), massagens e radiofrequência. Principais mecanismos terapêuticos no controle da neuralgia pós-herpética
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