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1 
 
CENTRO DE ENSINO FLÓRENCE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NOÇÕES DO SUS 
 
Texto Atualizado em 2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROF. ADM. REGICLAUDO DE SOUZA SILVA 
 2 
UNIDADE I – HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL. 
1 – Introdução. 
Há evidencias no cotidiano das dificuldades e ou crise do sistema de saúde no Brasil, 
podendo ser constatado através de fatos amplamente conhecidos e divulgados pela mídia, 
como: filas frequentes de pessoas nos serviços de saúde; falta de leitos hospitalares para 
atender a demanda da população; escassez de recursos financeiros, materiais e humanos para 
manter os serviços de saúde operando com eficácia e eficiência; entre outros. Para que 
possamos analisar a realidade hoje existente é necessário conhecer os determinantes históricos 
envolvidos neste processo. Assim como nós somos frutos do nosso passado e da nossa 
história, o setor saúde também sofreu as influências de todo o contexto político-social pelo 
qual o Brasil passou ao longo do tempo. 
 
2 - A Formação Do Estado Brasileiro e As Primeiras Ações De Saúde Pública 
A história das políticas de saúde no Brasil está inserida em um contexto maior que diz 
respeito à origem e à conformação do Estado-Nação. Os primeiros 300 anos da Colônia 
(1500-1800) foram marcados por uma condução política distanciada da Coroa Portuguesa, 
que tinha como interesse extrair as riquezas do país sem, contudo, promover políticas para a 
organização do Estado e o desenvolvimento de instituições de interesse público. Inexistiam 
políticas de Estado de proteção social, deixando a responsabilidade do cuidado à saúde para as 
famílias e instituições de caridade. 
A assistência à saúde no Brasil, durante os três primeiros séculos como Colônia, era 
uma prática sem qualquer regulamentação e realizada de acordo com os costumes e 
conhecimento de cada um dos grupos sociais que aqui conviviam (Portugueses, imigrantes 
europeus, índios, negros). A população recorria, em situações de doença, ao que fosse viável 
financeira ou fisicamente, sendo as instituições de caridade um dos principais recursos 
utilizados pelos pobres. 
A vinda da Família Real para o Brasil (1808) foi um momento de inflexão importante 
nesse cenário. Urgia a organização mínima do espaço social para a garantia de 
sustentabilidade política e econômica da Coroa. O Brasil deixava de ser uma simples colônia 
para tornar-se o ambiente que deveria acolher a realeza e as atividades econômicas que esta 
promovia. 
 3 
Mudanças rápidas começaram a se processar especialmente no âmbito das cidades, 
onde havia maior fluxo de pessoas e de mercadorias e onde se instalou a Corte. A temática em 
torno da criação de um povo e da necessária iniciação de um processo civilizatório começava 
a ganhar contornos. Nesse contexto, foram criadas as primeiras instâncias de saúde pública, 
com o objetivo de regular a prática médica e garantir a salubridade da Corte no combate às 
doenças nas cidades costeiras. 
No mesmo ano da chegada da Família real ao Brasil foi inaugurada a primeira 
faculdade de medicina. Trata-se da escola Médico-cirúrgica, localizada em Salvador, Bahia. 
Tem início aí o processo de institucionalização dos programas de ensino na área médica e a 
normalização da prática em conformidade aos moldes europeus. a regulamentação do ensino e 
da prática médica resultou em um maior controle das práticas populares e na substituição 
gradativa dos religiosos das direções dos hospitais gerais, especialmente a partir da Primeira 
república (1889). Outro resultado da política de normalização médica foi a constituição de 
hospitais públicos para atender algumas doenças consideradas nocivas à população e de 
necessário controle pelo estado, como os transtornos mentais, a tuberculose e a hanseníase. 
Em 1852 foi inaugurado o primeiro hospital psiquiátrico brasileiro no rio de janeiro, o 
hospital D. Pedro II, com o objetivo de tratar medicamente os denominados “doentes 
mentais”. 
 
3 - As primeiras ações de saúde pública voltaram-se especialmente para: 
a) Proteção e saneamento das cidades, principalmente as portuárias, responsáveis pela 
comercialização e circulação dos produtos exportados; 
b) Controle e observação das doenças e doentes, inclusive e principalmente dos 
ambientes; 
c) Teorização acerca das doenças e construção de conhecimento para adoção de 
práticas mais eficazes no controle das moléstias. 
A preocupação maior era a saúde da cidade e do produto; a assistência ao trabalhador 
era uma consequência dessa política. Nesse sentido, algumas campanhas voltadas para os 
trabalhadores começavam a ser implementadas, mas ainda eram pouco resolutivas, como a 
quarentena, afastamento por quarenta dias do doente do ambiente que habita e circula, 
principal estratégia utilizada para evitar a propagação de doenças entre os trabalhadores, sem 
uma preocupação mais efetiva com o tratamento do doente. 
 4 
No período da Monarquia Liberal, não havia qualquer atribuição do Estado prevista 
para a área da saúde, mas na prática já estava em curso o início de uma organização das 
primeiras ações de controle e vigilância da saúde. 
A partir do século XVIII, surgem os primeiros hospitais militares destinados à tropa, 
localizados no edifício dos antigos colégios jesuítas, confiscados após a expulsão da 
Companhia de Jesus, e sustentados pela família real. Anteriormente, o governo internava os 
soldados nas Santas Casas, mediante pagamento de pequena remuneração. Em contrapartida, 
os hospitais militares passaram a receber civis, mediante cobrança de uma taxa. 
Em 1.808, é criado o cargo de Provedor Mór da Saúde, ao qual, entre outras funções, 
compete cuidar do controle sanitário dos portos, das quarentenas dos escravos e das medidas 
de higiene geral. O cargo é extinto em 1.828, ocorrendo a descentralização das atividades, 
atribuindo-se às Câmaras Municipais a responsabilidade de fixar as normas sanitárias, 
fiscalizar o exercício da profissão bem como o comércio de medicamentos. 
Em 1.850, é criada a Junta Central de Higiene Pública, com a incumbência de 
coordenar as Juntas Municipais e, especialmente, atuar no combate a febre amarela. No 
período de 1.881 até o final do século XIX, ocorre a substituição da Junta pela Inspetoria 
Geral de Saúde e Higiene Pública. Posteriormente é criada a Inspetoria Geral de Saúde dos 
Portos, com a finalidade de controlar e bloquear a entrada de doentes no país. 
Até 1850 as atividades de saúde pública estavam limitadas ao seguinte: Delegação das 
atribuições sanitárias as juntas municipais e Controle de navios e saúde dos portos; Nesse 
contexto se percebe que o interesse primordial estava limitado ao estabelecimento de um 
controle sanitário mínimo da capital do império, tendência que se alongou por quase um 
século. O tipo de organização política do império era de um regime de governo unitário e 
centralizador, e que era incapaz de dar continuidade e eficiência na transmissão e execução à 
distância das determinações emanadas dos comandos centrais. A carência de profissionais 
médicos no Brasil Colônia e no Brasil Império era enorme, para se ter uma ideia, encontramos 
referencia literária de que no Rio de Janeiro, até 1789, só existia quatro médicos exercendo a 
profissão. Em outros estados brasileiros eram mesmo inexistentes. 
 
4- As Primeiras Crises na Saúde Brasileira 
A varíola então chamada de mal das bexigas era uma doença conhecida desde 3000 a.c pelos povos 
do oriente e da África. É provável que tenha vindo para o continente americano com os escravos africanos, 
tornando-se a principal causa da mortandade que periodicamente assolava as cidades e as vilas brasileiras. Dos 
núcleos urbanos, a doença se disseminava pelos sertões, provocando a morte de grande número de índios e de 
 5 
escravos que trabalhavam nos engenhos de açúcar do Nordeste e na extraçãode ouro em Minas Gerais. O 
isolamento dos infectados era prática aceita por todos, médicos e pacientes, o mesmo não acontecia quando os 
médicos tentavam prevenir a varíola fazendo um pequeno corte no braço, colocando aí um pouco de pus 
extraído das feridas de um doente em convalescença. 
 Nesse momento, muita gente fugia aterrorizada dos povoados e da fazenda e se escondia nas matas, 
esperando que os agentes médicos se retirassem ou fossem expulso do lugar. Filhos do seu tempo, os médicos 
do império, sobretudo os que atuavam na corte, não sabiam o que fazer para evitar as doenças infecciosas que 
atingiam os habitantes da capital, depois disseminados pelos viajantes por todo o país, inclusive entre os índios 
da Amazônia. 
Uma primeira hipótese nem sempre verdadeira levantada nos debates médicos foi a de os navios 
vindos do estrangeiro seriam os principais causadores das epidemias cariocas, como as de varíola, febre 
amarela e cólera. Por fim, alguns médicos concluíram as epidemias eram causadas por miasmas, isto é, pelo ar 
contaminado que vinha do mar, pairava sobre acidade. A proclamação da republica em 1889 foi embalada por 
uma idéia de modernizar o Brasil a todo custo, e para muitos, o lema era positivista, Ordem e Progresso, 
inscritos na bandeira nacional, só começaria a concretizar-se a partir do momento em que o pais contasse com 
uma ditadura republicana, fiadora da necessária ordem, e com um povo suficientemente saudável e educado 
para o trabalho cotidiano, força propulsora de progresso nacional. 
A atuação médica, porém enfrentaria o choque entre as ideias tradicionais, que atribuíam as epidemias 
aos ares corrompidos, e as teorias da medicina moderna baseadas nos conceitos da bacteriologia e fisiologia 
desenvolvidos na Europa e tinham Louis Pasteur e Claude Bernard seus principais divulgadores. Para 
assegurar a eficiência das tarefas dos higienistas e dos fiscais sanitários, o governo paulista organizou vários 
institutos de pesquisas, articulados á estrutura do serviço sanitário. Em 1892 foram criados os laboratórios 
Bacteriológicos, Vacinogênico e de Análises Clinicas e Farmacêuticas. Ampliados logo depois, 
transformaram-se, respectivamente, nos institutos Butantã, Biológico Bacteriológico (este último mais tarde 
denominado Instituto Adolfo Lutz). 
A descoberta do Dr. Chagas Tudo começou no verão de 1909, quando Carlos Chagas trabalhava na 
organização de uma campanha com a malária na cidade mineira de Lassance (hoje Carlos Chagas). 
Preocupado em conhecer os insetos locais, o pesquisador percebeu a existência de um grande numero de 
insetos hematófagos (que se alimentavam de sangue humano), conhecidos como barbeiros. A partir desse 
achado, o médico descreveu o quadro clinico apresentado pelos contaminados, estudando também as 
características da doença e seu modo de propagação. Soube-se então que os barbeiros infestavam as casas de 
pau-a-pique, atacando os moradores enquanto eles dormiam. Estava descoberta a enfermidade chamada de 
doença de chagas. Acreditavam as autoridades sanitárias que pouco poderia ser feito pelos doentes e pela saúde 
publica nacional, a não ser o desaparecimento dos grupos humanos considerados biologicamente inferiores, 
 6 
entre os quais se incluíam os negros e os indígenas. Contrariando essa pregação, outra parcela da elite 
intelectual via o Brasil como vasto hospital, que necessitava de urgente intervenção do governo no 
setor sanitário. 
 
5 – A Saúde Brasileira na Era Elói Chaves e Era Vargas até a Ditadura Militar. 
 
 Em 24 de janeiro de 1923, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei Eloi 
Chaves, marco inicial da previdência social no Brasil. Através desta lei foram instituídas as 
Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s). Essas instituições eram mantidas pelas 
empresas que passaram a oferecer esses serviços aos seus funcionários. A União não 
participava das caixas. 
 A lei Elói Chaves tinha como propósito: 
 1) A lei deveria ser aplicada somente ao operariado urbano. Para que fosse 
aprovado no Congresso Nacional, dominado na sua maioria pela oligarquia rural foi imposta a 
condição de que este benefício não seria estendido aos trabalhadores rurais. Fato que na 
história da previdência do Brasil perdurou até a década de 60, quando foi criado o 
FUNRURAL. 
 2) Outra particularidade refere-se ao fato de que as caixas deveriam ser 
organizadas por empresas e não por categorias profissionais. 
 3) A criação de uma CAP também não era automática, dependia do poder de 
mobilização e organização dos trabalhadores de determinada empresa para reivindicar a sua 
criação. 
 A primeira CAP criada foi a dos ferroviários, o que pode ser explicado pela 
importância que este setor desempenhava na economia do país naquela época e pela 
capacidade de mobilização que a categoria dos ferroviários possuía. 
 O Estado não participava propriamente do custeio das Caixas, que de acordo com 
o determinado pelo artigo 3
o
 da lei Eloy Chaves, eram mantidas por: empregados das 
empresas ( 3% dos respectivos vencimentos); empresas ( 1% da renda bruta); e consumidores 
dos serviços das mesmas. 
 A criação das CAP’s deve ser entendida, assim, no contexto das reivindicações 
operárias no início do século, como resposta do empresariado e do estado a crescente 
importância da questão social. 
 Em 1930, o sistema já abrangia 47 caixas, com 142.464 segurados ativos, 8.006 
aposentados, e 7.013 pensionistas. 
 7 
6 - Era Vargas 
Esse modelo começa a mudar a partir da Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas 
toma o poder. É criado o Ministério da Educação e Saúde e as caixas são substituídas pelos 
Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), que, por causa do modelo sindicalista de 
Vargas, passam a ser dirigidos por entidades sindicais e não mais por empresas como as 
antigas caixas. Suas atribuições são muito semelhantes às das caixas, prevendo assistência 
médica. O primeiro IAP foi o dos marítimos. A União continuou se eximindo do 
financiamento do modelo, que era gerido pela contribuição sindical, instituída no período 
getulista. 
Quanto ao ministério, ele tomou medidas sanitaristas como a criação de órgãos de 
combate a endemias e normativos para ações sanitaristas. Vinculando saúde e educação, o 
ministério acabou priorizando o último item e a saúde continuou com investimentos irrisórios. 
Dos anos 40 a 1964, início da ditadura militar no Brasil, uma das discussões sobre 
saúde pública brasileira se baseou na unificação dos IAPs como forma de tornar o sistema 
mais abrangente. É de 1960, a Lei Orgânica da Previdência Social, que unificava os IAPs em 
um regime único para todos os trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas 
(CLT), o que excluía trabalhadores rurais, empregados domésticos e funcionários públicos. É 
a primeira vez que, além da contribuição dos trabalhadores e das empresas, se definia 
efetivamente uma contribuição do Erário Público. Mas tais medidas foram ficando no papel. 
A efetivação dessas propostas só aconteceu em 1967 pelas mãos dos militares com a 
unificação de IAPs e a consequente criação do Instituto Nacional de Previdência Social 
(INPS). Surgiu então uma demanda muito maior que a oferta. 
A solução encontrada pelo governo foi pagar a rede privada pelos serviços prestados à 
população. Mais complexo, a estrutura foi se modificando e acabou por criar o Instituto 
Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) em 1978, que ajudou 
nesse trabalho de intermediação dos repasses para iniciativa privada. 
Um pouco antes, em 1974, os militares já haviam criado o Fundo de Apoio ao 
Desenvolvimento Social (FAS), que ajudou a remodelar e ampliar a rede privada de hospitais, 
por meio de empréstimos com juros subsidiados. Toda essa política acabou proporcionando 
um verdadeiro boom na rede privada. De 1969 a 1984, o número de leitos privados cresceu 
aproximadamente 500%. De 74.543 em1969 para 348.255 em 1984. Como podemos 
observar, o modelo criado pelo regime militar era pautado pelo pensamento da medicina 
curativa. Poucas medidas de prevenção e sanitaristas foram tomadas. A mais importante foi à 
criação da Superintendência de Campanhas da Saúde Pública (SUCAM). 
 8 
 Na tentativa de conter custos e combater fraudes o governo criou em 1981 o 
Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP) ligado ao 
INAMPS. O CONASP passa a absorver em postos de importância alguns técnicos ligados ao 
movimento sanitário, o que dá início a ruptura, por dentro, da dominância dos anéis 
burocráticos previdenciários. A proposta do CONASP era iniciar plano uma fiscalização mais 
rigorosa da prestação de contas dos prestadores de serviços credenciados, combatendo-se as 
fraudes, que encontrou forte oposição da Federação Brasileira de Hospitais e de medicina de 
grupo, que viam nesta tentativa a perda da sua hegemonia dentro do sistema. 
 Já em 1983 foi criado a AIS (Ações Integradas de Saúde), um projeto 
interministerial (Previdência-Saúde-Educação), visando um novo modelo assistencial que 
incorporava o setor público, procurando integrar ações curativas-preventivas e educativas ao 
mesmo tempo. Assim, a Previdência passa a comprar e pagar serviços prestados por estados, 
municípios, hospitais filantrópicos, públicos e universitários. Este período coincidiu com o 
movimento de transição democrática, com eleição direta para governadores e vitória 
esmagadora de oposição em quase todos os estados nas primeiras eleições democráticas deste 
período (1982). 
 
7 - O Fim Do Regime Militar 
 Com o movimento das Diretas Já em 1984 e 1985 e a eleição de Tancredo Neves 
marcaram o fim do regime militar, gerando diversos movimentos sociais inclusive na área de 
saúde, que culminaram com a criação das associações dos secretários de saúde estaduais 
(CONASS) ou municipais (CONASEMS), e com a grande mobilização nacional por ocasião 
da realização da VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986, a qual lançou as bases da 
reforma sanitária e do SUDS - 1987 (Sistema Único Descentralizado de Saúde). Estes fatos 
ocorreram concomitanmente com a eleição da Assembleia Nacional Constituinte em 1986. 
 
UNIDADE II – A REFORMA SANITÁRIA 
O termo “Reforma Sanitária” foi usado pela primeira vez no país em função da 
reforma sanitária italiana. A expressão ficou esquecida por um tempo até ser recuperada nos 
debates prévios à 8ª Conferência Nacional de Saúde, quando foi usada para se referir ao 
conjunto de ideias que se tinha em relação às mudanças e transformações necessárias na área 
da saúde. Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas todo o setor saúde, 
introduzindo uma nova ideia na qual o resultado final era entendido como a melhoria das 
condições de vida da população. 
 9 
No início das articulações, o movimento pela reforma sanitária não tinha uma 
denominação específica. Era um conjunto de pessoas com ideias comuns para o campo da 
saúde. Em uma reunião na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em Brasília, esse 
grupo de pessoas, entre os quais estava Sergio Arouca, foi chamado de forma pejorativa de 
“partido sanitário” Apesar disso, o grupo não se constituía como partido, sua mobilização era 
mais ampla, sendo considerada uma ação social. Em uma dissertação de mestrado orientada 
por Sergio Arouca em 1986, Reviravolta na saúde: origem e articulação do movimento 
sanitário, a atuação desse grupo foi chamada pela primeira vez de movimento sanitário. 
Surgiram, também, outras denominações, como "movimento pela reforma sanitária". No livro 
O dilema preventivista uma nota feita por Arouca diz que todos esses termos podem ser 
usados indistintamente. 
Considerado "o eterno guru da Reforma Sanitária", Sergio Arouca costumava dizer 
que o movimento da reforma sanitária nasceu dentro da perspectiva da luta contra a ditadura. 
Existia uma ideia clara na área da saúde de que era preciso integrar as duas dimensões: ser 
médico e lutar contra a ditadura. Os departamentos de Medicina Preventiva da Universidade 
de São Paulo e da Universidade de Campinas e o Instituto de Medicina Social da 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro eram os espaços adequados para isso. 
Durante todo o processo de modificação da abordagem da saúde, várias correntes se 
juntam como protagonistas. O movimento estudantil teve um papel fundamental na 
propagação das ideias e fez com que diversos jovens estudantes começassem a se incorporar 
nessa nova maneira de ver a saúde. As Semanas de Estudos sobre Saúde Comunitária, 
realizadas pela primeira vez em 1974, e os Encontros Científicos dos Estudantes de Medicina, 
em especial os realizados entre 1976 e 1978, foram importantes nesse sentido, por serem 
espaços praticamente ignorados pela repressão militar, que não identificava o caráter político 
de suas discussões. 
Entre esses diversos atores do movimento sanitário, destacam-se ainda os médicos 
residentes, que na época trabalhavam sem carteira assinada e com uma carga horária 
excessiva; as primeiras greves realizadas depois de 1968; e os sindicatos médicos, que 
também estavam em fase de transformação. Esse movimento entra também nos conselhos 
regionais, no Conselho Nacional de Medicina e na Associação Médica Brasileira – as 
entidades médicas começam a ser renovadas. A criação do Centro Brasileiro de Estudos de 
Saúde (Cebes), em 1976, também é importante na luta pela reforma sanitária. A entidade 
surge com o propósito de lutar pela democracia, de ser um espaço de divulgação do 
 10 
movimento sanitário, e reúne pessoas que já pensavam dessa forma e realizavam projetos 
inovadores. 
Entre 1974 e 1979, diversas experiências institucionais tentam colocar em prática 
algumas diretrizes da reforma sanitária, como descentralização, participação e organização. É 
nesse momento que a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz 
se incorpora como espaço de atuação da abordagem marxista da saúde. Vários projetos de 
saúde comunitária, como clínica de família e pesquisas comunitárias, começaram a ser 
elaborados e pessoas que faziam política em todo Brasil foram treinadas. 
Quando a ditadura chegou ao seu esgotamento, o movimento já tinha propostas. 
Assim, esse movimento conseguiu se articular em um documento chamado Saúde e 
Democracia, que foi um grande marco, e enviá-lo para aprovação do Legislativo. Uma das 
coisas mais importantes, segundo Arouca, era transferir o Instituto Nacional de Assistência 
Médica e Previdência Social (INAMPS) para o Ministério da Saúde. 
A ideia era fazer isso pelas conferências de saúde (que na época eram espaços 
burocráticos) convidando a sociedade para discutir e participar. A 8ª Conferência Nacional de 
Saúde reuniu, pela primeira vez, mais de quatro mil pessoas, das quais 50% eram usuários da 
saúde. A partir da conferência, saiu o movimento pela emenda popular, a primeira emenda 
constitucional que nasceu do movimento social. Esse é considerado o maior sucesso da 
reforma sanitária. 
Arouca participou de perto de todas essas conquistas. Ele apresentou o documento 
Saúde e Democracia, presidiu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, apresentou a emenda 
popular e, como Deputado Federal, foi designado como relator da extinção do INAMPS. 
Entre os resultados do movimento pela reforma sanitária, ele cita a conquista da 
universalização na saúde (o principio constitucional que estabelece que todo brasileiro tem 
direito à saúde), definindo com clareza o dever do Estado e a função complementar da saúde 
privada; a ideia de que a saúde deve ser planejada com base nas conferências; a formalização 
dos Conselhos de Saúde como parte do SUS, tendo 50% de usuários; e a formação da 
Comissão Nacional da Reforma Sanitária, que transformou o texto da constituinte na Lei 
Orgânica 8080. 
 
UNIDADE III – A 8ª CONFERENCIA NACIONAL DE SAÚDE Texto elaborado porÁlvaro Nascimento, coordenador do RADIS/ENSP/FIOCRUZ. 
A 8ª Conferência Nacional da Saúde, realizada em março de 1986, considerada um 
marco histórico, consagra os princípios preconizados pelo Movimento da Reforma Sanitária. 
 11 
Em 1987 é implementado o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), como 
uma consolidação das Ações Integradas de Saúde (AIS), que adota como diretrizes a 
universalização e a equidade no acesso aos serviços, a integralidade dos cuidados, a 
regionalização dos serviços de saúde e implementação de distritos sanitários, a 
descentralização das ações de saúde, o desenvolvimento de instituições colegiadas gestoras e 
o desenvolvimento de uma política de recursos humanos. 
O processo que culmina com a realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) 
remonta a antes da década de 70 e é acima de tudo o resultado de um grande movimento de 
âmbito nacional em defesa da saúde. Originário nos grupos de profissionais que configuravam 
uma oposição às propostas para o setor, implementadas pelos governos militares, o chamado 
"movimento sanitário" cresce e ganha consistência, ao mesmo tempo em que avança na 
produção de conhecimento, na crítica ao modelo de política de saúde vigente e na denúncia da 
situação sanitária da população. 
Com o projeto da auto-proclamada "Nova República", aglutinam-se em torno dessas 
propostas as forças sociais e políticas comprometidas com o processo de mudança. Realizam-
se várias reuniões para debater a saúde e o CONASS (Conselho Nacional de Secretários 
Estaduais de Saúde) se manifesta em defesa da bandeira do Sistema Único de Saúde (SUS), 
antes vaga e pouco consistente, mas que começa aqui a traduzir-se em propostas concretas 
resultantes de diferentes estratégias. 
A disputa pela posse da interlocução no setor saúde, que a essa época era também a 
disputa em torno da composição dos ministérios, se refletia, finalmente, no texto elaborado 
pela Comissão do Plano de Ação Governamental (Programa de Ação do Governo - Setor 
Saúde) que propõe a unificação do sistema por decreto, com uma transferência pura e simples 
de órgãos, configurando novo rearranjo institucional. 
A questão passa, portanto, da coerência das formulações em nível técnico para a base 
de sustentação política e legitimidade dos agentes encarregados de torná-las realidade. As 
ideias debatidas ali não eram fruto daquele momento ou da conjuntura momentânea. Ao 
contrário, aquelas propostas tinham história e se sedimentaram numa longa trajetória de luta 
política. 
Esse mesmo "movimento sanitário" nacional, através de trabalho político intenso e 
articulado, conquista alguns importantes postos de condução da política setorial, conseguindo 
uma articulação que atinge partidos políticos, organizações sindicais, associações de 
moradores e instituições do aparelho do estado. Estes fatos marcaram de forma importante a 
conjuntura do início do Governo Sarney (1985). 
 12 
3.1 A preparação da 8ª CNS 
A morte de Tancredo Neves, as relações de José Sarney com o PMDB e a reforma 
ministerial trazem incertezas. Esses movimentos de gangorra repercutem intensamente em 
todos os setores do Governo e a política de saúde não foi uma exceção. 
O regimento interno especial da 8ª CNS determinava que a sua finalidade seria "obter 
subsídios visando contribuir para a reformulação do Sistema Nacional de Saúde e 
proporcionar elementos para se debater a saúde na futura Constituinte". 
As resistências à reformulação do sistema de saúde por decreto são então explicitadas. 
O Ministro Waldir Pires, da Previdência e Assistência Social, convoca os trabalhadores para a 
discussão e para a defesa de seus direitos, afirmando que essa mudança deveria passar pela 
Assembleia Nacional Constituinte. Carlos Santana, Ministro da Saúde, empunha a bandeira da 
unificação e anuncia a realização da Conferência. 
O processo de preparação da 8ª Conferência foi então desencadeado através do 
estímulo e apoio à realização das Pré - Conferências estaduais e da ampla divulgação do 
temário para a discussão na sociedade em geral. Todos os estados brasileiros realizaram suas 
Pré-Conferências, sendo que alguns tiveram várias conferências municipais antes do evento 
estadual, como foi o caso de Minas Gerais, Paraná, Sergipe e Pará. 
Estes encontros se constituíram, realmente, em fóruns representativos de debate, 
contando sempre com a participação de mais de mil pessoas e aprovando relatórios finais que 
muito contribuíram como subsídios para o debate nacional. 
Assim, o "movimento sanitário" ampliou-se ainda mais e discutiu-se sobre saúde nos mais 
diferentes lugares e situações, como nunca anteriormente havia sucedido. 
 
3.2 - Principais Temas 
O temário da Conferência propunha três questões cruciais: "Saúde como dever do 
Estado e direito do cidadão", "Reformulação do Sistema Nacional de Saúde" e 
"Financiamento setorial". Algumas propostas, que tinham longa trajetória de debate no 
campo da antiga oposição em saúde, encontram, agora, diferentes percepções e alternativas, 
uma vez que eram submetidas à discussão pelas diversas representações da sociedade civil, 
das instituições oficiais e dos partidos políticos. 
Optou-se assim pela discussão das diretrizes da política de saúde global, que 
orientasse, na continuidade do debate, as discussões sobre os temas específicos. Estes, em 
número de 22, teriam o seu debate nacional realizado posteriormente, enfatizando a 
implementação da política setorial proposta naquelas ações que lhe são próprias. 
 13 
3.3 - A Conferência 
Superando todas as expectativas e estimativas feitas anteriormente, mais de quatro mil 
pessoas participaram da Conferência, em jornadas de discussão que duraram até 14 horas. 
Destes, mil eram delegados escolhidos e/ou indicados pelas instituições, organizações e 
entidades como seus representantes. 
Esta forma de organização concretizou a proposta do debate democrático, 
possibilitando que os representantes da sociedade civil organizada sentassem à mesma mesa 
de discussão com técnicos, profissionais de saúde, intelectuais e políticos. Por outro lado, o 
confronto de opiniões e de ideias entre produtores de serviços de saúde e consumidores foi 
outro fato que materializou o processo de construção da democracia que se pretendia. Essa 
organização, portanto, marca toda a diferença e dá o principal tom à 8ª Conferência. 
A definição desta representatividade obedeceu aos seguintes critérios: 50% dos 
delegados (500) eram representantes das instituições (públicas, estatais, educacionais, de 
pesquisa, etc.) e os outros 50% da sociedade civil. 
A distribuição de vagas entre as organizações da sociedade civil se fez da seguinte 
maneira: entidades, associações e órgãos de representação de produtores privados de serviços 
de saúde com 15% das vagas; entidades das diversas categorias de profissionais do setor 
saúde com 20% ; sindicatos e associações de trabalhadores urbanos e rurais com 30% ; 
associações de moradores com 10%; entidades comunitárias e outras entidades civis com 20% 
e partidos políticos com 5%. Quanto às outras instituições, a distribuição foi a seguinte: nível 
federal com 50% (Ministério da Saúde - 16%; MPAS - 16%; Ministério da educação - 8%; 
outros Ministérios e órgãos - 10%); nível estadual com 22%; nível municipal com 18% e 
parlamento com 10%. 
O comparecimento do Presidente José Sarney e de várias personalidades políticas 
como Waldir Pires (Ministro da Previdência), Carlos Santana (Saúde), Ulisses Guimarães 
(Presidente do PMDB e mais tarde da Constituinte), Pimenta da Veiga (Líder do Governo) e 
Almir Pazzianoto (Ministro do Trabalho) conferiu ao evento legitimidade política 
inquestionável. Em seu discurso, Sarney disse que "(...) o Governo, que fez da opção social 
sua meta prioritária, tem a obrigação de fazer da saúde dos cidadãos um bem tutelado pelo 
Estado e pela sociedade. (...) Aqui se definemos rumos de uma nova organização do sistema 
de saúde no Brasil (...) Faço votos de que esta Conferência (...) há de representar a pré-
constituinte da saúde no Brasil". 
Ao contrário das conferências anteriores, não houve um documento base a ser 
apresentado, discutido e aprovado, mas sim vários documentos, que foram encomendados 
 14 
pela Comissão Organizadora a técnicos e estudiosos do setor, para que servissem de subsídio 
e trouxessem informações à discussão. 
O Relatório final da 8ª Conferência traduziu as principais conclusões predominantes 
na quase totalidade dos grupos de trabalho, que foram aprovadas por expressiva votação na 
plenária final. 
UNIDADE IV – HISTÓRICO DO SUS 
O SUS existe há pouco tempo. Surgiu como resposta à insatisfação e 
descontentamento existente em relação aos direitos de cidadania, acesso, serviços e forma de 
organização do sistema de saúde. Nos anos 70 e 80, vários médicos, enfermeiros, donas de 
casa, trabalhadores de sindicatos, religiosos e funcionários dos postos e secretarias de saúde 
levaram adiante um movimento, o "movimento sanitário", com o objetivo de criar um novo 
sistema público para solucionar os inúmeros problemas encontrados no atendimento à saúde 
da população. O movimento orientava-se pela idéia de que todos têm direito à saúde e que o 
governo, juntamente com a sociedade, tem o dever de fazer o que for preciso para alcançar 
este objetivo. 
As duas últimas décadas foram marcadas por intensas transformações no sistema de 
saúde brasileiro, intimamente relacionadas com as mudanças ocorridas no âmbito político-
institucional. Simultaneamente ao processo de redemocratização iniciado nos anos 80, o país 
passou por grave crise na área econômico-financeira. 
No início da década de 80, procurou-se consolidar o processo de expansão da 
cobertura assistencial iniciado na segunda metade dos anos 70, em atendimento às 
proposições formuladas pela OMS na Conferência de Alma-Ata (1978), que preconizava 
"Saúde para Todos no Ano 2000", principalmente por meio da Atenção Primária à Saúde. 
Várias foram às propostas de implantação de uma rede de serviços voltada para a 
atenção primária à saúde, com hierarquização, descentralização e universalização, iniciando-
se já a partir do Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), em 
1976. Em 1980, foi criado o Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV-
SAÚDE) - que, na realidade, nunca saiu do papel -, logo seguido pelo plano do Conselho 
Nacional de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP), em 1982, a partir do qual foi 
implementada a política de Ações Integradas de Saúde (AIS), em 1983. Estas constituíram 
uma estratégia de extrema importância para o processo de descentralização da saúde. 
 
4.1 – A Constituição Federal e a Saúde 
 15 
A Constituição Federal de 1988 determinou ser dever do Estado garantir saúde a toda 
a população. Para tanto, criou o Sistema Único de Saúde. Em 1990, o Congresso Nacional 
aprovou a Lei Orgânica da Saúde, que detalha o funcionamento do Sistema. Portanto, o SUS 
resultou de um processo de lutas, mobilização, participação e esforços desenvolvidos por um 
grande número de pessoas. 
A Constituição de 1988, promulgada em 5 de outubro, pretendeu substituir o conceito 
de seguro (cobertura ao contribuinte direto) pelo conceito de seguridade social – cobertura ao 
cidadão. O fundamento foi o de eliminar a dupla punição: exclusão do processo econômico 
formal e exclusão da cobertura do Estado. 
O capítulo dedicado à saúde na nova Constituição Federal, promulgada em outubro de 
1988, retrata o resultado de todo o processo desenvolvido ao longo dessas duas décadas, 
criando o Sistema Único de Saúde (SUS) e determinando que "a saúde é direito de todos e 
dever do Estado" (art. 196). 
Entre outros, a Constituição prevê o acesso universal e igualitário às ações e serviços 
de saúde, com regionalização e hierarquização, descentralização com direção única em cada 
esfera de governo, participação da comunidade e atendimento integral, com prioridade para as 
atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais. A Lei nº 8.080, promulgada 
em 1990, operacionaliza as disposições constitucionais. São atribuições do SUS em seus três 
níveis de governo, além de outras, "ordenar a formação de recursos humanos na área de 
saúde" (CF, art. 200, inciso III). 
 
4.1.1 Seção II da CF/88 
Da Saúde 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal, igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder 
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo 
sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou 
jurídica de direito privado. 
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e 
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes 
diretrizes: 
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; 
 16 
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo 
dos serviços assistenciais; 
III - participação da comunidade. 
Parágrafo Único. O Sistema Único de Saúde será financiado, nos termos do art. 195, com 
recurso do orçamento da seguridade social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, além de outras fontes. 
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. 
§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de 
saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo 
preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. 
§2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições 
privadas com fins lucrativos. 
§3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na 
assistência à saúde no País. 
§4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, 
tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a 
coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo o tipo de 
comercialização. 
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos 
da lei: 
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a 
saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, 
hemoderivados e outros insumos; 
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde 
do trabalhador; 
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; 
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento 
básico; 
V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico; 
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor 
nutricional, bem como bebidas e águas para o consumo humano; 
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização 
de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; 
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. 
 17 
UNIDADE V – LEIS ORGÂNICAS DA SAÚDE (8080/90) 
Para dar materialidade à política de saúde, a Constituição instituiu o Sistema Único de Saúde 
(SUS), definido na Lei nº 8.080 de 1990 como “o conjunto de ações e serviços públicos de 
saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da 
administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público”. Estão incluídas 
nesta definição: 
1. Atividadesdirigidas às pessoas, individual ou coletivamente, voltadas para a 
promoção da saúde e prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de agravos e 
doenças. 
2. Serviços prestados no âmbito ambulatorial, hospitalar e nas unidades de apoio 
diagnóstico e terapêutico geridos pelos governos (quer seja pelo governo federal, 
estaduais ou municipais), bem como em outros espaços, especialmente no domiciliar. 
3. Ações de distintas complexidades e custos, que variam desde aplicação de vacinas e 
consultas médicas nas clínicas básicas (clínica médica, pediatria e ginecologia-
obstetrícia) até cirurgias cardiovasculares e transplantes. 
4. Intervenções ambientais no seu sentido mais amplo, incluindo as condições sanitárias 
nos ambientes da vida e de trabalho, e na produção e circulação de bens e serviços, o 
controle de vetores e hospedeiros e a operação de sistemas de saneamento ambiental. 
5. Instituições públicas voltadas para o controle da qualidade, pesquisa e produção de 
insumos, medicamentos, sangue e hemoderivados e equipamentos para a saúde. 
Explicita-se que, quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a 
cobertura assistencial à população de uma determinada área, o SUS poderá recorrer aos 
serviços prestados pela iniciativa privada. A participação complementar dos serviços privados 
deve ser realizada mediante o estabelecimento de contratos e convênios, sendo observadas as 
normas de direito público, os princípios éticos e a regulamentação expedida pelos órgãos de 
direção do SUS quanto às condições para seu funcionamento, controle e fiscalização. 
O SUS, portanto, não é composto somente por serviços públicos, mas integra uma 
ampla rede de serviços privados, principalmente hospitais e unidades de diagnose e terapia, 
que são remunerados a partir dos recursos públicos destinados à saúde. O financiamento 
oriundo de receitas arrecadadas pelo Estado (seguridade social) permite que as ações e 
serviços prestados no âmbito do SUS sejam oferecidos de forma gratuita no momento do 
atendimento, sem que os usuários tenham que comprovar qualquer forma de contribuição 
financeira prévia. 
 
 18 
5.1 Lei 8.080/1990 
A Lei 8.080 foi votada em 19 de setembro de 1990. Essa lei aborda as condições para 
promover, proteger e recuperar a saúde, além da organização e o funcionamento dos serviços 
também relacionados à saúde. 
Por meio desta lei, as ações de saúde passaram a ser regulamentadas em todo território 
nacional. A participação da iniciativa privada no SUS é aceita em caráter complementar com 
prioridade das entidades filantrópicas sobre as privadas lucrativas. 
A descentralização político-administrativa é reforçada na forma da municipalização 
dos serviços e das ações de saúde, com redistribuição de atribuições e recursos em direção aos 
municípios. 
A partir desta lei, observamos que algumas das atuações do SUS são: 
1. Assistência terapêutica integral; 
2. Assistência farmacêutica; 
3. Controle e fiscalização de alimentos, água e bebidas, garantindo Orientação familiar; 
4. Participação na preparação de recursos humanos; 
5. Orientação familiar; 
6. Acompanhar a Saúde do trabalhador; 
7. Vigilância epidemiológica; 
8. Vigilância nutricional; 
9. Vigilância sanitária. 
Trata da gestão dos recursos financeiros, condicionando a existência de conta 
específica para os recursos da saúde e a fiscalização da movimentação bancária pelo Conselho 
Municipal de Saúde. Define os critérios para a transferência de recursos: perfil demográfico e 
epidemiológico, características quantitativas e qualitativas da rede, desempenho técnico e 
econômico-financeiro no período anterior e nível de participação orçamentária para a saúde, 
além de definir que o Plano Municipal de Saúde é a base das atividades e da programação de 
cada nível de direção do SUS. Para concluir, uma coisa fundamental também tratada nesta lei 
é a garantia da gratuidade das ações e dos serviços nos atendimentos públicos e privados 
contratados e conveniados. 
 
5.1.1.Os principais princípios e diretrizes do SUS estabelecidos na Lei Orgânica da 
Saúde (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, complementada pela Lei nº 8.142, de 28 
de dezembro de 1990) 
 
 19 
1. Universalidade de acesso em todos os níveis de assistência. 
O acesso universal é a expressão de que todos têm o mesmo direito de obter as ações e 
serviços de que necessitam, independentemente da complexidade, custo e natureza dos 
serviços envolvidos. Ele implica a substituição do modelo contributivo que vigorou por um 
longo período no Brasil e condicionava o acesso dos contribuintes da Previdência Social, 
inicialmente compostos por determinadas categorias profissionais e posteriormente, pelos 
trabalhadores inseridos formalmente no mercado de trabalho aos serviços públicos e privados 
credenciados ao sistema previdenciário. 
Com a universalidade, as condições socioeconômicas da população não devem implicar 
acesso diferenciado a determinados tipos de serviços, pois os riscos de adoecimento e o 
financiamento passam a ser repartidos de forma solidária, sendo de responsabilidade de toda a 
sociedade. 
2. Igualdade na assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. 
Esse princípio reitera que não pode existir discriminação no acesso aos serviços de saúde, isto 
é, não é aceitável que somente alguns grupos, por razões relacionadas a renda, cor, gênero ou 
religião, tenham acesso a determinados serviços e outros não. Somente razões relacionadas às 
necessidades diferenciadas de saúde devem orientar o acesso ao SUS e a escolha das técnicas 
a serem empregadas no cuidado das pessoas. 
3. Integralidade da assistência. 
A integralidade é entendida, nos termos da Lei, como um conjunto articulado e contínuo das 
ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em 
todos os níveis de complexidade do sistema. A ideia é que as ações voltadas para a promoção 
da saúde e a prevenção de agravos e doenças não sejam dissociadas da assistência 
ambulatorial e hospitalar voltadas para o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação. Por isso, 
os profissionais de saúde e os gestores do SUS devem empenhar-se em organizar as práticas 
dos serviços de modo a permitir que essa integração ocorra. No âmbito mais geral da política 
de saúde, a integralidade também remete à articulação necessária entre as políticas de cunho 
econômico e social no sentido de atuar sobre os determinantes do processo saúde e doença e 
garantir as condições satisfatórias de saúde da população. 
4. Participação da comunidade. 
A participação da comunidade é a garantia de que a população, por intermédio de suas 
entidades representativas, possa participar do processo de formulação de diretrizes e 
prioridades para a política de saúde, da fiscalização do cumprimento dos dispositivos legais e 
normativos do SUS e do controle e avaliação das ações e serviços de saúde executados nas 
 20 
diferentes esferas de governo. A materialização desse princípio se expressa no âmbito do SUS 
pela constituição dos Conselhos de Saúde e a realização das Conferências de Saúde, que 
representam um canal permanente de diálogo e interação entre os gestores, os profissionais de 
saúde e a população. 
5. Descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo, 
com: 
a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; 
b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde. 
A descentralização com comando único implica que os governos estaduais e, particularmente, 
os municipais, tenham maior responsabilidade e autonomia para decidir e implementar ações 
e serviços de saúde. 
Ela tem como propósito promover a democratização do processo decisório e aumentar a 
capacidade de resposta dos governos em relação aos problemas de saúde de uma dada 
comunidade. No entanto, visto que os problemas desaúde não se distribuem uniformemente 
na população, no território e no tempo e envolvem tecnologias de diferentes níveis de 
especialização, densidade tecnológica e custo, faz-se necessário organizar a rede de serviços 
do SUS de modo que ela ofereça os procedimentos necessários sem ociosidade. Para isso, é 
preciso definir o perfil das unidades por níveis de atenção (hierarquização) e distribuí-las 
geograficamente (regionalização). 
Em um nível mais básico estariam os serviços dotados de tecnologias e profissionais para 
realizar os procedimentos mais frequentemente necessários (ex.: vacinas, consultas com 
médicos generalistas, com médicos das especialidades básicas e outros profissionais de saúde, 
parto normal). Esses serviços deveriam se distribuir o mais amplamente possível em todo o 
território nacional. 
Em um nível mais especializado ou complexo, estariam situados os hospitais, os ambulatórios 
e as unidades de diagnose e terapia capazes de realizar aqueles procedimentos menos 
frequentemente necessários, para os quais não é aceitável ociosidade dadas as implicações 
sobre os custos crescentes sobre o sistema e da qualidade da assistência prestada (ex.: cirurgia 
cardíaca, ressonância nuclear magnética, transplantes de medula óssea). 
A regionalização e a hierarquização determinam que os usuários sejam encaminhados para 
unidades mais complexas do sistema quando necessário e que possam retornar à sua unidade 
de origem (correspondente a um nível mais básico do sistema) para acompanhamento 
(mecanismo de referência e contra referência). Isso implica um fluxo adequado de 
informações entre as unidades que compõem o sistema, sejam elas hospitais ou postos de 
 21 
saúde, públicas ou privadas credenciadas ao SUS, situadas em diferentes municípios ou 
estados. A articulação de diferentes gestores para promover a integração da rede de serviços 
do SUS que transcenda o espaço político-administrativo de um município ou estado é uma 
questão bastante complexa e esbarra em uma série de dificuldades políticas e operacionais. 
 
Art. 2º (Lei 8.080/90) A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado 
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. 
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de 
políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e 
no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos 
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. 
§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da 
sociedade. 
Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a 
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a 
educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da 
população expressam a organização social e econômica do País. 
 
Dos Princípios e Diretrizes – Capitulo II 
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou 
conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo 
com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos 
seguintes princípios: 
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; 
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das 
ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em 
todos os níveis de complexidade do sistema; 
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; 
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer 
espécie; 
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; 
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua 
utilização pelo usuário; 
 22 
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de 
recursos e a orientação programática; 
VIII - participação da comunidade; 
IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de 
governo: 
a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; 
b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; 
X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento 
básico; 
XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, 
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à 
saúde da população; 
XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e 
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para 
fins idênticos. 
 
5.2 Lei 8.142/90 – Controle Social No SUS. 
 
 
A LEI Nº 8.142, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1990 Dispõe sobre a participação da 
comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências 
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. 
A Lei 8.142/90 foi votada em 28 de dezembro de 1990, e aborda a participação da 
população na gestão do Sistema Único de Saúde e as transferências de recursos da área de 
saúde entre os governos. 
É por meio desta lei que são instituídas as instâncias colegiadas e os instrumentos de 
participação social em cada esfera de governo. Os recursos financeiros só são recebidos 
mediante existência de Conselho Municipal de Saúde, funcionando de acordo com a 
legislação. 
 23 
Afinal de contas o que são as instâncias colegiadas? As instâncias colegiadas são as 
Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde. As Conferências devem ser realizadas em 
cada esfera de governo, organizadas no mínimo a cada quatro anos e paritárias, ou seja, deve 
ter igualdade na porcentagem de participantes, onde 50% devem ser usuários do Sistema 
Único de Saúde20. 
Já os Conselhos são órgãos representativos em caráter permanente e deliberativo. 
Define a participação do CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e do 
CONASEMS (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde), no Conselho 
Nacional de Saúde. Concede o repasse regular e automático de recursos para municípios, 
Estados e Distrito Federal. 
Porém, também determina que para receberem esses recursos de forma regular e 
automática Estados, Distrito Federal e municípios deverão ter Fundo de Saúde, Conselho de 
Saúde, Plano de Saúde e contrapartida de recursos em seus orçamentos. 
Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19 de 
setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder 
Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas: 
I - a Conferência de Saúde; 
II - o Conselho de Saúde. 
 
5.2.1 – As Conferencias de Saúde 
A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários 
segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da 
política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, 
extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde. 
 
Apesar de se ter como marco de referência da participação social na saúde a Lei nº 
8.142/1990, as Conferências Nacionais de Saúde são anteriores ao próprio SUS, tendo 
 24 
ocorrido pela primeira vez em 1941. Porém, somente a partir de 1986, com a VIII 
Conferência, é que deixaram de ser restritas a uma cúpula da gestão federal e passaram a ter 
participação ampliada dos diversos segmentos. 
As Conferências de Saúde têm como objetivos avaliar a situação de saúde e propor as 
diretrizes para a formulação da política desse setor. Convocadas pelo Poder Executivo ou, 
extraordinariamente, por outra Conferência ou pelo Conselho de Saúde, devem ocorrer no 
máximo a cada quatro anos e contar com a representaçãodos vários segmentos sociais 
(BRASIL, 1990). 
É reconhecida a relevância das Conferências de Saúde para o fortalecimento do processo 
democrático de participação social e para a formulação de uma política de saúde que atenda, 
de fato, aos anseios da população. Juntamente com outros instrumentos de participação da 
comunidade na gestão do SUS, representam uma verdadeira reforma pela democratização da 
política de saúde e do Estado, ampliando as relações entre democracia representativa e 
democracia participativa direta, sobretudo por seu caráter ascendente, que visa à participação 
desde a análise da situação de saúde local até a definição de prioridades e a formulação da 
política pública. 
As Conferências Nacionais de Saúde são organizadas em etapas, que iniciam nos municípios 
(podendo ser precedidas de etapas locais para democratizar ainda mais o acesso e a 
participação), vão para as estaduais e avançam para a nacional. As discussões das 
Conferências municipais e estaduais são sistematizadas e subsidiam a etapa nacional, que tem 
como principal produto, além da mobilização, o Relatório Final, o qual traz as deliberações, 
no formato de diretrizes, propostas e moções, buscando subsidiar a gestão e favorecer o 
monitoramento por parte da população. Entretanto, cada vez mais, tem-se discutido a 
efetividade dos espaços de participação e as possibilidades de potencializá-los. Um dos 
aspectos a se considerar é que, para atenderem aos seus objetivos, as Conferências de Saúde 
devem pautar o planejamento da gestão do SUS, influenciando diretamente os processos de 
tomada de decisão dos gestores. E esse aspecto, muitas vezes, tem recebido insuficiente 
atenção da gestão, dos participantes das Conferências, do controle social e mesmo da 
academia. 
5.2.2 – Os Conselhos de Saúde 
 25 
O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado 
composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e 
usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na 
instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões 
serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. 
50% de Usuários 
25% de Prestadores de Serviço de Saúde e Gestores 
25% de Trabalhadores da Saúde 
O Plenário do conselho de saúde que se reunirá, no mínimo, a cada mês e, 
extraordinariamente, quando necessário, funcionará baseado em Regimento por ele elaborado 
e aprovado. A pauta e o material de apoio às reuniões devem ser encaminhados aos 
conselheiros com antecedência. As reuniões plenárias são abertas ao público. 
O Conselho exerce suas atribuições mediante o funcionamento do Plenário, que, além 
das comissões intersetoriais estabelecidas na Lei nº 8.080/90, instalará comissões internas 
exclusivas de conselheiros, de caráter temporário ou permanente, bem como outras comissões 
intersetoriais e grupos de trabalho para ações transitórias. Grupos de trabalho poderão contar 
com integrantes não conselheiros. 
As decisões do Conselho serão adotadas mediante quorum mínimo da metade mais um 
de seus integrantes. 
5.3 Da Competência dos Conselhos de Saúde 
Aos Conselhos de Saúde Nacional, Estaduais, Municipais e do Distrito Federal, que 
têm competências definidas nas leis federais, bem como, em indicações advindas das 
Conferências de Saúde, compete: 
I - Implementar a mobilização e articulação contínuas da sociedade, na defesa dos 
princípios constitucionais que fundamentam o SUS, para o controle social de Saúde. 
II - Elaborar o Regimento do Conselho e outras normas de funcionamento. 
III - Discutir, elaborar e aprovar proposta de operacionalização das diretrizes 
aprovadas pelas Conferências de Saúde. 
IV – Atuar na formulação e no controle da execução da política de saúde, incluindo os 
seus aspectos econômicos e financeiros e propor estratégias para a sua aplicação aos setores 
público e privado. 
 26 
V - Definir diretrizes para elaboração dos planos de saúde e sobre eles deliberar, 
conforme as diversas situações epidemiológicas e a capacidade organizacional dos serviços. 
VI - Estabelecer estratégias e procedimentos de acompanhamento da gestão do SUS, 
articulando-se com os demais colegiados como os de seguridade, meio ambiente, justiça, 
educação, trabalho, agricultura, idosos, criança e adolescente e outros. 
VII - Proceder à revisão periódica dos planos de saúde. 
VIII - Deliberar sobre os programas de saúde e aprovar projetos a serem encaminhados 
ao Legislativo, propor a adoção de critérios definidores de qualidade e resolutividade, 
atualizando face ao processo de incorporação dos avanços científicos e tecnológicos, na área 
da Saúde. 
IX - Estabelecer diretrizes e critérios operacionais relativos à localização e ao tipo de 
unidades prestadoras de serviços de saúde públicos e privados, no âmbito do SUS, tendo em 
vista o direito ao acesso universal às ações de promoção, proteção e recuperação da saúde em 
todos os níveis de complexidade dos serviços, sob a diretriz da hierarquização/regionalização 
da oferta e demanda de serviços, conforme o princípio da eqüidade. 
X - Avaliar, explicitando os critérios utilizados, a organização e o funcionamento do 
sistema de saúde do SUS. 
XI - Avaliar e deliberar sobre contratos e convênios, conforme as diretrizes dos Planos 
de Saúde Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais. 
XII – Aprovar a proposta orçamentária anual da saúde, tendo em vista as metas e 
prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (art. 195, § 2º da Constituição 
Federal), observado o princípio do processo de planejamento e orçamentação ascendentes (art. 
36 da Lei nº 8.080/90). 
XIII - Propor critérios para programação e execução financeira e orçamentária dos 
Fundos de Saúde e acompanhar a movimentação e destinação dos recursos. 
XIV - Fiscalizar e controlar gastos e deliberar sobre critérios de movimentação de 
recursos da Saúde, incluindo o Fundo de Saúde e os transferidos e próprios do Município, 
Estado, Distrito Federal e da União. 
XV - Analisar, discutir e aprovar o relatório de gestão, com a prestação de contas e 
informações financeiras, repassadas em tempo hábil aos conselheiros, acompanhado do 
devido assessoramento. 
XVI - Fiscalizar e acompanhar o desenvolvimento das ações e dos serviços de saúde e 
encaminhar os indícios de denúncias aos respectivos órgãos, conforme legislação vigente. 
 27 
XVII - Examinar propostas e denúncias de indícios de irregularidades, responder no 
seu âmbito a consultas sobre assuntos pertinentes às ações e aos serviços de saúde, bem como 
apreciar recursos a respeito de deliberações do Conselho, nas suas respectivas instâncias. 
XVIII - Estabelecer critérios para a determinação de periodicidade das conferências de 
Saúde, propor sua convocação, estruturar a comissão organizadora, submeter o respectivo 
regimento e programa ao Pleno do Conselho correspondente, explicitando deveres e papéis 
dos conselheiros nas pré-conferências e conferências. 
XIX - Estimular articulação e intercâmbio entre os Conselhos e entidades 
governamentais e privadas, visando à promoção da Saúde. 
XX - Estimular, apoiar e promover estudos e pesquisas sobre assuntos e temas na área 
de saúde pertinentes ao desenvolvimento do Sistema Único de Saúde. 
XXI - Estabelecer ações de informação, educação e comunicação em saúde e divulgar 
as funções e competências do Conselho, seus trabalhos e decisões por todos os meios de 
comunicação, incluindo informações sobre as agendas, datas e local das reuniões. 
XXII - Apoiar e promover a educação para o controle social. Constará do conteúdo 
programático os fundamentos teóricos da saúde, a situação epidemiológica, a organização do 
SUS, a situação real de funcionamento dos serviços do SUS, as atividades e competências do 
Conselho, bem como a Legislação do SUS, suaspolíticas de saúde, orçamento e 
financiamento. 
XXIII - Aprovar, encaminhar e avaliar a política para os Recursos Humanos do SUS. 
XXIV - Acompanhar a implementação das deliberações constantes do relatório das 
plenárias dos conselhos. 
 
UNIDADE VI – REDE DE ATENÇÃO A SAÚDE - RAS - Portaria Nº 4.279, de 30 de 
Dezembro de 2010. 
 
A organização de serviços de saúde e de redes assistenciais de que trataremos nesta unidade, o 
objetivo é a organização de serviços em redes, uma das diretrizes do SUS e a estratégia que 
foi seguida por todos os sistemas de saúde que têm por princípios a universalidade, equidade e 
integralidade. Neste tópico, serão descritos, em linhas gerais, dois modelos de organização de 
serviços nos sistemas-tipo, um com ênfase na organização em redes e outro com as principais 
modificações introduzidas no sistema de saúde britânico pelas reformas realizadas a partir do 
início da década de 90. 
O conceito de redes de serviços não é novo. Quando das discussões iniciais acerca da 
constituição de um sistema que cobrisse toda a população britânica, o primeiro-ministro da 
 28 
Saúde nomeou uma comissão com a incumbência de definir “esquemas para a provisão 
sistematizada de serviços médicos e afins que deveriam estar disponíveis para a 
população de uma área dada” (Webster, 2002). Que se propunha, pela primeira vez, a 
definição de bases territoriais e populações-alvo, ou seja, regiões de saúde. Estas populações 
seriam atendidas por unidades de diferentes perfis assistenciais, organizadas de forma 
hierárquica. 
Assim, propôs que a “porta de entrada” no sistema fosse um centro de saúde, que 
empregaria os médicos generalistas ingleses, que já então clinicavam de forma autônoma. 
Estes centros de saúde, localizados em vilas, estariam ligados a um centro de saúde mais 
complexo, já então denominado secundário; e os casos que não pudessem ser resolvidos aí 
seriam referenciados aos hospitais no modelo proposto, hospitais de ensino. 
 
Conceitos de RAS 
A Rede de Atenção à Saúde é definida como arranjos organizativos de ações e serviços de 
saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio 
técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado. 
O objetivo da RAS é promover a integração sistêmica, de ações e serviços de saúde com 
provisão de atenção contínua, integral, de qualidade, responsável e humanizada, bem como 
incrementar o desempenho do Sistema, em termos de acesso, equidade, eficácia clínica e 
sanitária; e eficiência econômica. 
Caracteriza-se pela formação de relações horizontais entre os pontos de atenção com o 
centro de comunicação na Atenção Primária à Saúde (APS), pela centralidade nas 
necessidades em saúde de uma população, pela responsabilização na atenção contínua e 
integral, pelo cuidado multiprofissional, pelo compartilhamento de objetivos e compromissos 
com os resultados sanitários e econômicos. 
Os 13 atributos essenciais das redes integradas de atenção à saúde baseadas na atenção 
primária: 
1. População/território definidos sob sua responsabilidade e amplo conhecimento de suas 
necessidades e preferências em saúde, as quais determinam a oferta de serviços de saúde. 
2. Extensa rede de serviços de saúde que provê promoção, prevenção, diagnóstico, 
tratamento, gestão de enfermidades, reabilitação e cuidados paliativos e integra os 
programas focalizados em patologias, riscos e populações específicas e os serviços pessoais 
e de saúde pública. 
 29 
3. Um primeiro nível de atenção que cubra toda a população e atue como porta de entrada 
do sistema, que integre e coordene o cuidado da saúde e que resolva a maioria das 
necessidades de saúde da população. 
4. Prestação de serviços de especialidades nos locais mais apropriados, os quais acontecerão 
preferencialmente em ambientes extra-hospitalares. 
5. Existência de mecanismos de coordenação assistencial ao longo do continuam de serviços 
de saúde 
6. Cuidado da saúde focado na pessoa, na família e na comunidade. 
7. Um sistema de governança único para toda a rede. 
8. Ampla participação social. 
9. Gestão integrada dos sistemas de apoio administrativo, clínico e logístico. 
10. Recursos humanos suficientes, competentes, comprometidos e valorizados. 
11. Sistema de informação integrado, que se vincula a todos os membros da rede. 
12. Financiamento adequado e incentivos financeiros alinhados com as metas da rede. 
13. Ação intersetorial ampla e abordagem dos determinantes da saúde e da equidade em 
saúde. 
Relação horizontal da RAS. 
Caracteriza-se pela formação de relações horizontais entre os pontos de atenção com o centro 
de comunicação na Atenção Primária à Saúde (APS), pela centralidade nas necessidades em 
saúde de uma população, pela responsabilização na atenção contínua e integral, pelo 
cuidado multiprofissional, pelo compartilhamento de objetivos e compromissos com os 
resultados sanitários e econômicos. 
Fundamenta-se na compreensão da APS como primeiro nível de atenção, enfatizando a 
função resolutiva dos cuidados primários sobre os problemas mais comuns de saúde e a 
partir do qual se realiza e coordena o cuidado em todos os pontos de atenção. 
São exemplos de pontos de atenção à saúde: os domicílios, as unidades básicas de saúde, as 
unidades ambulatoriais especializadas, os serviços de hemoterapia e hematologia, os 
centros de apoio psicossocial, as residências terapêuticas, SAMU, Hospitais, Cerest entre 
outros. 
Os hospitais podem abrigar distintos pontos de atenção à saúde: o ambulatório de pronto 
atendimento, a unidade de cirurgia ambulatorial, o centro cirúrgico, a maternidade, a unidade 
de terapia intensiva, a unidade de hospital/dia, entre outros. 
 30 
Todos os pontos de atenção a saúde são igualmente importantes para que se cumpram os 
objetivos da rede de atenção à saúde e se diferenciam, apenas, pelas distintas densidades 
tecnológicas que os caracterizam. 
Fundamentos da Rede de Atenção À Saúde 
Para assegurar resolutividade na rede de atenção, alguns fundamentos precisam ser 
considerados: 
1. Economia de Escala, Qualidade, Suficiência, Acesso e Disponibilidade de 
Recursos Economia de escala, qualidade e acesso são a lógica fundamental na 
organização da rede de atenção à saúde. 
A Economia de Escala ocorre quando os custos médios de longo prazo diminuem, à medida 
que aumenta o volume das atividades e os custos fixos se distribuem por um maior número 
dessas atividades, sendo o longo prazo, um período de tempo suficiente para que todos os 
insumos sejam variáveis. Desta forma, a concentração de serviços em determinado local 
racionaliza custos e otimiza resultados, quando os insumos tecnológicos ou humanos relativos 
a estes serviços inviabilizem sua instalação em cada município isoladamente. 
 
Objetivos Fundamentais da RAS. 
1. Qualidade - um dos objetivos fundamentais do sistema de atenção á saúde e da RAS é a 
qualidade na prestação de serviços de saúde. A qualidade na atenção em saúde pode ser 
melhor compreendida com o conceito de graus de excelência do cuidado que pressupõe 
avanços e retrocessos nas seis dimensões, a saber: 
1. Segurança 
2. Efetividade 
3. Centralidade na pessoa 
4. Eficiência e 
5. Equidade 
2. Suficiência – significa o conjunto de ações e serviços disponíveis em quantidade e 
qualidade para atender às necessidades de saúde da população e inclui cuidados primários, 
secundários, terciários, reabilitação, preventivos e paliativos, realizados com qualidade. 
3. Acesso – ausência de barreiras geográficas, financeiras, organizacionais, socioculturais, 
étnicas e de gênero ao cuidado. Deverão ser estabelecidas alternativas específicas na relação 
entre acesso, escala, escopo, qualidade e custo, para garantir o acesso, nas situações de 
populações dispersas de baixa densidade populacional, com baixíssima oferta de serviços. O 
 31 
acessopode se analisado através da disponibilidade, comodidade e aceitabilidade do 
serviço pelos usuários: 
4. Disponibilidade de Recursos - é outro fator importante para o desenvolvimento da RAS. 
Recursos escassos, sejam humanos ou físicos, devem ser concentrados, ao contrário dos 
menos escassos, que devem ser desconcentrados. 
 
Integração Vertical e Horizontal da RAS 
Na construção da RAS devem ser observados os conceitos de integração vertical e 
horizontal, que vêm da teoria econômica e estão associados à concepções relativas às cadeias 
produtivas. 
Integração Vertical - consiste na articulação de diversas organizações ou unidades de 
produção de saúde responsáveis por ações e serviços de natureza diferenciada, sendo 
complementar (agregando resolutividade e qualidade neste processo). 
Integração Horizontal: consiste na articulação ou fusão de unidades e serviços de 
saúde de mesma natureza ou especialidade. É utilizada para otimizar a escala de atividades, 
ampliar a cobertura e a eficiência econômica na provisão de ações e serviços de saúde através 
de ganhos de escala (redução dos custos médios totais em relação ao volume produzido) e 
escopo (aumento do rol de ações da unidade). 
 
Região de Saúde ou Abrangência 
A organização da RAS exige a definição da região de saúde, que implica na definição dos 
seus limites geográficos e sua população e no estabelecimento do rol de ações e serviços que 
serão ofertados nesta região de saúde. As competências e responsabilidades dos pontos de 
atenção no cuidado integral estão correlacionadas com abrangência de base populacional, 
acessibilidade e escala para conformação de serviços. 
A definição adequada da abrangência dessas regiões é essencial para fundamentar as 
estratégias de organização da RAS, devendo ser observadas as pactuações entre o estado e o 
município para o processo de regionalização e parâmetros de escala e acesso. 
 
Níveis de Atenção 
Fundamentais para o uso racional dos recursos e para estabelecer o foco gerencial dos entes 
de governança da RAS, estruturam-se por meio de arranjos produtivos conformados segundo 
as densidades tecnológicas singulares, variando do nível de menor densidade (APS), ao de 
 32 
densidade tecnológica intermediária, (atenção secundária à saúde), até o de maior densidade 
tecnológica (atenção terciária à saúde). 
 
UNIDADE VII – O PACTO DE SAÚDE 
 
É fundamental reafirmar que o novo acordo busca preservar os princípios do SUS 
previstos na Constituição e na Lei Orgânica da Saúde. O próprio Pacto prevê estratégias que 
afirmam esses princípios. É a partir deles que se construiu uma pactuação que contempla três 
grandes áreas: 
a) Pacto pela Vida 
b) Pacto em Defesa do SUS 
c) Pacto de Gestão do SUS 
7.1 - Pacto pela Vida tem como foco central o estabelecimento de um conjunto de 
prioridades sanitárias a serem assumidas pelos gestores das três esferas. As prioridades são 
apresentadas em forma de metas nacionais, estaduais, regionais e municipais. Elas se 
originam a partir da realidade específica de cada gestão. As prioridades do pacto pela vida; 
1. Saúde do idoso; 
2. Controle do câncer do colo de útero e da mama; 
3. Redução da mortalidade infantil e materna; 
4. Fortalecimento das capacidades de resposta às doenças emergentes e endemias, com 
ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; 
5. Promoção da saúde; 
6. Fortalecimento da atenção básica 
Essas prioridades buscam enfrentar os principais problemas de saúde que assolam o 
país, os estados, as regiões e os municípios. Definidas as prioridades nacionais, os estados e 
municípios constroem as suas a partir do contexto local. Entretanto, é importante que as 
prioridades não focalizem algo que já é parte do cotidiano do sistema, como por exemplo, a 
vacinação. Ela deve continuar sendo feita com qualidade, mas não necessariamente precisa 
constar como prioridade porque já faz parte da cultura dos gestores, conselheiros e cidadãos. 
 33 
7.2 - O Pacto em Defesa do SUS tem como objetivo discutir o sistema a partir dos seus 
princípios fundamentais. Pode-se dizer que se trata de repolitizar o debate em torno do SUS 
para reafirmar seu significado e sua importância para a cidadania brasileira. Ele é parte do 
processo democrático do país e tem como primeira finalidade a promoção e efetivação do 
direito à saúde. Embora esse propósito muitas vezes seja desvirtuado por diferentes interesses, 
é fundamental que a sociedade compreenda a importância da política pública para a efetivação 
dos direitos. 
As diretrizes do pacto em defesa do SUS são a Regionalização, ao Financiamento, ao 
Planejamento, à Programação Pactuada e Integrada da Atenção à Saúde (PPI), à Regulação da 
Atenção à Saúde e da Assistência, à Participação e Controle Social, à Gestão do Trabalho e à 
Educação na Saúde. 
 
7.3 - O Pacto de Gestão do SUS definiu com maior clareza as responsabilidades de cada 
esfera de governo. Com certeza, todos convivemos com o chamado “empurra-empurra” 
(descumprimento de pactuações) entre os gestores, que aumentam cada vez mais as tensões 
para ver de quem é a responsabilidade na saúde. E o cidadão fica no meio, sem saber ao certo 
a quem deve recorrer para garantir o seu direito. Com a nova pactuação, as responsabilidades 
ficaram melhor definidas. 
Outro aspecto que deve ser ressaltado no Pacto de Gestão do SUS é o esforço de 
reconhecer que o controle social tem importância estrutural na gestão do SUS. Já passou o 
tempo em que o gestor centralizava todas as decisões sobre a saúde. Para que o controle social 
tenha melhores condições de atuação. 
 
UNIDADE VIII – LEI 7.508/2011 
Breves considerações sobre o Decreto 7.508/11 que regulamenta a Lei Orgânica 
da Saúde (Lei 8.080/90) Paulo Ricardo R. Miranda - Advogado, Pós-graduado em 
Direito Público e Membro da Comissão de Direito Sanitário e Defesa do Direito da OAB/MT. 
A referida lei não é assim, e por isso teve que ser regulamentada, contudo, ninguém 
consegue explicar o porquê de tamanha demora. O desrespeito pela pessoa humana, a 
violação do princípio da isonomia, a falta de gestão dos hospitais públicos, descaso do Estado 
em regular o terceiro setor, que se abrilhantam os olhos ao ver tamanha lacuna na legislação e 
a possibilidade de lucrar com isso, trouxeram consequências enormes durante todos esses 
anos para a população isso, sem falar na violação de nosso bem maior, o direito a vida. 
 34 
A Constituição Federal de 88, por ser uma Constituição Dirigente, é clara quando 
dispõe sobre o direito à saúde em seu art. 196 e seguintes, senão vejamos: 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder 
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo 
sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou 
jurídica de direito privado. 
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e 
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes 
diretrizes: 
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; 
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo 
dos serviços assistenciais; 
III - participação da comunidade. 
O Decreto7508/11 teve como principal tarefa esclarecer alguns conceitos e inovar em 
elementos para tentar corrigir algumas falhas no sistema. E é claro, procurando dar fiel 
interpretação e sem sair dos limites do que preceitua a Constituição, que é dar maior garantia 
ao acesso universal e igualitário da população

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