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DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 1 AUTORIDADES Governador do Estado do Rio de Janeiro Exmº Sr Cláudio Bomfim de Castro e Silva Secretário de Estado de Polícia Militar Exmº Sr Coronel PM Luiz Henrique Pires Subsecretário de Estado de Polícia Militar Ilmº Sr Coronel Carlos Eduardo Sarmento da Costa Diretor-Geral de Ensino e Instrução Ilmº Sr Coronel PM Marco Aurelio C. Guarabyra Vollmer Comandante do CFAP 31 de Voluntários Ilmº Sr Coronel PM Marcelo Andre Teixeira da Silva Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandre Moreira Soares DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 2 APRESENTAÇÃO Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais latente e veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo , formar e especializar os Cabos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Para tal, o Curso ocorrerá na modalidade à Distância, pois as disciplinas ocorrerão no ambiente virtual de aprendizagem, por intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância Cel Carlos Magno Nazaré Cerqueira (CEADPM) e as avaliações de forma presencial no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças ( CFAP 31 Vol.). É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá na parte EaD autonomia de estudos e de horários, mas também é necessário disciplina e dedicação para o êxito dessa jornada, pois alcançar o sucesso depende do esforço coletivo e também individual, objetivando que nossos policiais sejam cada vez mais qualificados, bem treinados e especializados, para cumprirmos nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações. O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o cumprimento de suas funções com dignidade e excelência. Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através deste curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade e seus companheiros de profissão. Que seja um momento de repensar as práticas e fortalecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro. Desejamos a todos bons estudos! Marco Aurélio C. Guarabyra Vollmer – Coronel PM Diretor-Geral de Ensino e Instrução Marcelo André Teixeira da Silva –Coronel PM Comandante do CFAP DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 3 Desenvolvedores Supervisão EAD MAJ PM Rodrigo Fernandes Ferreira Equipe Técnica SUBTEN PM Willian Jardim de Souza 3º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos SD PM Lucas Almeida de Oliveira SD PM Diogo Ramalho Pereira Diagramação 2º SGT PM Alan dos Santos Oliveira 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira CB PM Vanessa Souza Rino Bahia Design Instrucional 1º SGT PM Eloisa Cláudia Clemente de Almeida CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira Filmagem e Edição de Vídeo CB PM Renan Campos Barbosa SD PM Alessandra Albuquerque da Silva Designer Gráfico / Diagramação Interativa 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes SD PM Leonardo da Silva Ramos Suporte ao Aluno CB PM Vanessa Souza Rino Bahia CFAP Supervisão e Coordenação Pedagógica CAP PM Ped. Patrícia Kalife Paiva 3ºSGT Rodrigo Barroso Candido CB PM Juliana Pereira de Carvalho CB PM Fernanda Belísio Oliveira dos Santos SD PM Eduarda Vasconcellos Dias de Oliveira Conteudista 2º SGT PM Daniel Almeida de Barros DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................... 5 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – INSTRUMENTO DE ATUAÇÃO DO ESTADO ................................................................................... 6 ATOS ADMINISTRATIVOS – MANIFESTAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE DA ADMINISTRAÇÃO ............................................. 23 PODERES ADMINISTRATIVOS – PRERROGATIVAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................... 33 SERVIÇO PÚBLICO – ATIVIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................................................ 51 SERVIDORES PÚBLICOS – GESTORES PÚBLICOS / TEORIA DA IMPUTAÇÃO ........................................................................... 55 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO – TEORIA DA RESPONSABILIDADE ............................................................. 64 DIREITO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR – CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO ........................................... 68 CONCLUSÃO ........................................................................... 79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 80 DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 5 INTRODUÇÃO O Direito Administrativo é um ramo recente do Direito Público, que foi criado com o advento da Revolução Francesa, em função da formação do Estado Moderno. A finalidade do Direito Administrativo foi de estabelecer a regulação da atuação do novo modelo, que se torna instrumento profissional, no atendimento dos legítimos interesses sociais. Daí o referencial de toda a sua atuação e emprego ser dirigida ao administrado (cidadão), dentro dos parâmetros e diretrizes que passam a reger a forma de condução dos negócios públicos. A Administração Pública surge como instrumento concreto do Estado Moderno, na busca e realização dos interesses coletivos, em que seus agentes, gestores públicos, encontrarão as diretrizes e princípios que nortearão suas condutas; pois, neste modelo, a referência é o Princípio da Legalidade: “O agente só pode realizar o que a lei autoriza”. Nesse sentido, a importância do Direito Administrativo é fornecer aos gestores públicos conhecimento técnico com a finalidade de desenvolver habilidades e atitudes que permitam a melhor execução de suas funções, bem como a percepção de suas responsabilidades dentro do modelo estabelecido; demonstrando, principalmente, a quem deve ser dirigido, e em benefício de que público as atividades do Estado deverão alcançar. Por fim, a disciplina Noções de Direito Administrativo tem por objetivo apresentar ao policial militar, em linhas gerais, o papel da administração pública, suas prerrogativas, atividades e as suas possíveis responsabilidades. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 6 O fim do direito é a paz, o meio de que se serve para consegui-lo é a luta. O direito não é uma simples ideia, é uma força viva. Por isso a justiça sustenta numa das mãos a balança com que pesa o direito, enquanto na outra segura a espada por meio da qual o defende. A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a espada, a impotência do direito. Uma completa a outra, e o verdadeiro estado de direito só pode existir quando a justiça sabe brandir a espada com a mesma habilidade com que manipula a balança. (Rudolf Von Ihering, A luta pelo Direito,2004, p. 27). Vamos aprender o que é Direito? ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – INSTRUMENTO DE ATUAÇÃO DO ESTADO Conceitos A palavra “Direito”, bem como ele próprio no sentido amplo da Ciência do Direito, vem dos Romanos antigos, e é a soma da palavra dis(muito) erectum (reto,justo,certo), ou seja, Direito em sua origem significa o que é muito justo, o que tem justiça. Entende-se, em sentido comum, o Direito como sendo o conjunto de normas para a aplicação da justiça e a minimização de conflitos de uma dada sociedade. Essas normas, essas regras, essas sociedades não são possíveis sem o homem, porque é o ser humano quem faz o Direito e é paraele que o Direito é feito. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 7 Você sabe o que é Estado? O Estado é um ente personalizado, pessoa jurídica de direito público, pessoa jurídica territorial soberana, formada pelos elementos povo, território e governo soberano. Esses três elementos são indissociáveis e indispensáveis para a noção de um Estado independente: o povo, em um dado território, organizado segundo sua livre e soberana vontade. Apresentando-se tanto nas relações internacionais quanto internamente, é capaz de adquirir direitos e contrair obrigações na ordem jurídica. Em nosso regime federativo, todos os componentes da federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), materializam o Estado, cada um deles atuando dentro dos limites de competência traçados pela Constituição. A evolução da instituição acabou culminando no surgimento do Estado de direito, noção que se baseia na regra de que ao mesmo tempo em que o Estado cria o Direito, deve sujeitar-se a ele. Administração Pública O Direito Administrativo, como instrumento da Administração Pública é um sistema jurídico de normas e princípios, que somente veio a lume com a instituição do Estado de direito, ou seja, quando o Poder criador do direito passou também a respeitá-lo. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 8 O fenômeno nasceu com os movimentos constitucionalistas, cujo início se deu no final do século XVIII. Através do novo sistema, o Estado passava a ter órgãos específicos para o exercício da administração pública e, por via de consequência, foi necessário o desenvolvimento do quadro normativo disciplinador das relações internas da administração e das relações entre esta e os administrados. No período anterior, o regime vigorante era o das monarquias absolutas, em que todos os poderes do Estado desaguavam nas mãos do monarca, tornando frágeis as relações entre o Estado e os súditos. Com a teoria da separação de poderes concebida por Montesquieu, o Estado, distribuindo seu próprio poder político, permitiu que em sua figura reunisse, ao mesmo tempo, o sujeito ativo e passivo do controle público. Dessa forma, foi possível criar normas próprias para a execução desse controle. Para os estudiosos do Direito, o termo administração pública exprime mais de um sentido. Uma das razões para o fato é a extensa gama de tarefas e atividades que compõem o objetivo do Estado. Outra é o próprio número de órgãos e agentes públicos incumbidos de sua execução. Exatamente por isso é que, para melhor precisar o sentido da expressão, devemos dividi-lo sob a ótica dos executores da atividade pública, de um lado, e da própria atividade, de outro. Sentido Objetivo Consiste na própria atividade administrativa exercida pelo Estado por seus órgãos e agentes, caracterizando, enfim, a função administrativa. Trata-se da própria gestão dos interesses públicos executada pelo Estado, seja através da prestação de serviços públicos, seja por sua organização interna, ou ainda pela intervenção no campo privado. Seja qual for a hipótese da administração da coisa pública, a conclusão é de que a destinatária última dessa gestão há de ser a https://www.todamateria.com.br/montesquieu/ DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 9 própria sociedade, ainda que a atividade beneficie, de forma imediata, o Estado. Não se pode conceber o destino da função pública que não seja voltado aos indivíduos, com vistas a sua proteção, segurança e bem-estar. Sentido Subjetivo Significa o conjunto de agentes, órgãos e pessoas jurídicas que tenham a incumbência de executar as atividades administrativas. Toma-se em consideração o sujeito da função administrativa, ou seja, quem exerce de fato. Não se deve confundir a administração pública, no sentido subjetivo com qualquer dos Poderes estruturais do Estado, sobretudo o Poder Executivo, ao qual se atribui a função administrativa. Para a perfeita noção de sua extensão é necessário pôr em relevo a função administrativa em si, e não o Poder em que é ela exercida. Desse modo, todos os órgãos e agentes que, em qualquer desses Poderes, estejam exercendo função administrativa, serão integrantes da Administração Pública. Órgãos públicos A noção de Estado, não pode abstrair- se da de pessoa jurídica. O Estado é considerado um ente personalizado, seja no âmbito internacional, seja internamente. Quando se trata de Federação, vigora o pluripersonalismo, porque além da pessoa jurídica central existem outras internas que compõem o sistema político. Sendo uma pessoa jurídica, o Estado manifesta sua vontade através de seus agentes, ou seja, as pessoas físicas que pertencem a seus quadros. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 10 Quanto à pessoa federativa: de acordo com a estrutura em que estejam integrados, os órgãos dividem-se em: federais estaduais distritais municipais Entre a pessoa jurídica em si e os agentes, compõe o Estado um grande número de repartições internas, necessárias a sua organização.Tão grande é a extensão que alcança e tamanhas as atividades a seu cargo. Tais repartições é que constituem os órgãos públicos. Pode-se conceituar o órgão público como o compartimento na estrutura estatal a que são cometidas funções determinadas, sendo integrado por agentes que, quando as executam, manifestam a própria vontade do Estado. Vamos aprender sobre os Objetivos? O objetivo da administração pública é atender aos interesses da população através dos seus órgãos públicos, utilizando-se do direito administrativo como instrumento legal. Visa sempre à excelência em qualidade, seguindo os princípios norteadores estabelecidos pelo Direito Administrativo, pautando-se nas normas basilares constitucionais, para atender às necessidades dos cidadãos de um dado município, estado ou país, necessidade essas tais como: educação, segurança pública, saúde e etc. Classificação Os critérios adotados para definição da classificação dos órgãos públicos são diversos. Veremos os mais importantes: DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 11 Quanto à composição: sob esse aspecto, podem os órgãos dividirem-se em: singulares Quando integrados por um só agente (como a Chefia do Executivo). coletivos Os mais comuns, quando compostos por vários agentes. Estes últimos podem subdividir-se em dois grupos: Órgãos de Representação Unitária aqueles em que a exteriorização da vontade do dirigente consubstancia a vontade do próprio órgão. Órgãos de Representação Plúrima aqueles em que a exteriorização da vontade do órgão, quando se trata de expressar ato inerente à função institucional do órgão como um todo, emana da unanimidade ou da maioria das vontades dos agentes que o integram. Como a manifestação do órgão resulta da vontade conjugada de seus membros, têm sido denominados de órgãos colegiados. Quanto à situação estrutural: esse critério leva em conta a situação do órgão ou da estrutura estatal. Classificam-se em: Diretivos (Administração direta) aqueles que detêm função de comando e direção Subordinados (Administração indireta) os incumbidos das funções rotineiras de execução. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 12 Agentes públicos Os agentes são o elemento físico da Administração Pública. Na verdade, não se pode conceber a Administração sem a sua presença, sendo o elemento fundamental para a projeção da vontade do Estado. Agente público é todo aquele que, a qualquer título, executa uma função pública como preposto do Estado. São integrantes dos órgãos públicos, cuja vontade é imputada à pessoa jurídica. Formando o perfil da Administração composta por órgãos, agentes e funções. Os atos praticados pelos agentes públicos devem sempre serpautados nos princípios administrativos. Princípios Os princípios fundamentais orientadores de toda a atividade da Administração Pública encontram-se, explícita ou implicitamente, no texto da Constituição de 1988. O Direito Administrativo tem sua base constitucional no artigo 37, caput da Constituição Federal: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, supremacia do interesse público, indisponibilidade do interesse público, razoabilidade, proporcionalidade, autotutela e continuidade dos serviços públicos”. Ademais, o mesmo dispositivo constitucional relaciona os postulados essenciais da Administração Pública brasileira, materializados DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 13 em normas jurídicas expressas e condicionantes de toda e qualquer atuação do administrador, fundamentalmente porque é o fim – e não a vontade – que domina todas as formas de administração. Princípio da legalidade O primeiro princípio estabelecido é o da legalidade. E examinando a regra-matriz da legalidade no sistema constitucional brasileiro, verifica-se que o Artigo 5°, Inciso II, da CF/88, esclarece que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Serve ao propósito de construir regra geral inclusiva: tudo o que não está proibido está juridicamente permitido. Assim é dado aos particulares consideráveis liberdade de ação, posto que a conduta somente possa ser limitada por lei. Não sendo aplicado o mesmo raciocínio quando se cogita do princípio da legalidade para a atividade administrativa. Se o administrador, no plexo das competências outorgadas pela legislação, movimenta-se em prol do interesse público, torna-se evidente que não deterá o mesmo raio de ação concedida aos particulares. Com efeito, enquanto os indivíduos podem praticar toda e qualquer conduta não proibida por lei, o administrador só pode praticar os atos expressamente permitidos pela norma. Desta forma, existe grande distinção entre o princípio da legalidade no que toca aos particulares e com relação ao administrador, principalmente porque o interesse público norteador da atuação administrativa a compele à prática do ato em estrita consonância com a previsão legal. Princípio da impessoalidade Está consubstanciado também no Artigo 37, Caput, da Constituição. Administração impessoal é aquela que não se prende a DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 14 ilegítimos favorecimentos a grupos ou a pessoas individualmente consideradas, bem como a que se não identifica à pessoa do administrador. Também denominado como princípio da imparcialidade, onde a Administração, no curso do procedimento e ao decidi-lo, não deve tomar partido, inclinar a balança ou beneficiar ilegitimamente uma parte em prejuízo de outra, mas adotar a sua decisão unicamente conforme o ordenamento jurídico e com a finalidade do interesse geral que o motiva. A impessoalidade da atuação administrativa impede, portanto, que o ato administrativo seja praticado visando a interesses do agente ou de terceiros, devendo ater-se à vontade da lei. Dessa forma, ele impede perseguições ou favorecimentos, discriminações benéficas ou prejudiciais aos administrados. Qualquer ato praticado com objetivo diverso da satisfação do interesse público será nulo por desvio de finalidade. O princípio da impessoalidade traduz a ideia de que toda atuação da Administração deve visar ao interesse público, tendo como finalidade a satisfação desse interesse. Princípio da moralidade Conceitua-se moralidade administrativa como o princípio destinado a fazer com que se exija da conduta do administrador e do indivíduo que se relaciona com a Administração Pública adequação não apenas à lei, mas também às regras comuns de moralidade já consolidadas no meio social. A atividade dos administradores, além de traduzir a DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 15 vontade de obter o máximo de eficiência administrativa, terá ainda que corresponder à vontade constante de viver honestamente, de não prejudicar outrem, e de dar a cada um o que lhe pertence. Este princípio torna jurídica a exigência de atuação ética dos agentes da Administração Pública. A denominada moral administrativa, por ser jurídica, causa a invalidação dos atos administrativos que sejam praticados com inobservância dele. Por ser um princípio erigido constitucionalmente, permite afirmar que ela é um requisito de validade e legitimidade do ato administrativo sem consequência. O ato contrário à moral administrativa deve ser declarado nulo. A moral administrativa liga-se também à ideia de probidade e de boa-fé. A Lei 9.784/1999, no seu artigo 2°, parágrafo único, refere-se a tais conceitos nestes termos: ”nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”. Para atuar observando a moral administrativa, não basta ao agente cumprir formalmente a lei na frieza de sua letra. É necessário que se atenda à letra e ao espírito da lei, que ao legal junte-se o ético. Por essa razão, que o princípio da moralidade complementa ou torna mais efetivo o princípio da legalidade. Princípio da publicidade O princípio da publicidade apresenta duas exigências em face do sistema decorrente da Constituição de 1988, a saber: DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 16 1- Exigência de publicação, em órgão oficial, como requisito de eficácia dos atos administrativos que devam produzir efeitos externos, e dos atos que impliquem ônus para o patrimônio público. Neste entendimento, a publicidade está ligada à eficácia do ato, isto é, enquanto não publicado, o ato não está apto a produzir efeitos. A rigor, não se pode dizer que o ato já esteja inteiramente formado enquanto não ocorre a sua publicação, nas hipóteses em que esta é obrigatória, o ato que obrigatoriamente deva ser publicado é um ato imperfeito enquanto a sua publicação não ocorre. 2- Exigência de transparência da atuação administrativa que diz respeito ao controle da Administração Pública, oferecida de forma mais amplamente possível pelos administrados. Um dispositivo que deixa clara essa exigência de atuação transparente é o Inciso XXXIII, do Artigo 5°, da Constituição, porém, deve-se observar que não se trata de um direito absoluto. XXXIII – Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Uma importante garantia individual apta a assegurar a exigência de transparência da Administração Pública é o direito de petição aos Poderes Públicos. Decorrência lógica do princípio da transparência é a regra geral de que os atos administrativos devem ser motivados. A motivação que DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 17 é a exposição por escrito dos motivos que levaram à prática do ato, possibilita o efetivo controle da legitimidade do ato administrativo pelos órgãos de controle e pelo povo em geral. Princípio da eficiência O objetivo do princípio da eficiência é assegurar que os serviços públicos sejam prestados com adequação às necessidades da sociedade que os custeia. A ideia de eficiência aproxima-se da ideia de economicidade, e refere-se ao controle financeiro da Administração Pública. Busca-se o atingimento de objetivos traduzidos por boa prestação de serviços, do modo mais simples, rápido, econômico, melhorando a relação custo-benefício da atividade da administração.O administrador deve sempre procurar a solução que melhor atenda ao interesse público, levando em conta o ótimo aproveitamento dos recursos públicos. Eficiência tem como corolário a boa qualidade. A partir da positivação desse princípio como norte da atividade administrativa, a O princípio da eficiência impõe à Administração Pública Direta, Indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia, e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitar desperdícios e garantir uma maior rentabilidade social. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 18 sociedade passa a dispor de base jurídica expressa para exigir a efetividade do exercício de direitos sociais, como a educação, segurança pública e a saúde, os quais têm que ser garantidos pelo Estado com qualidade satisfatória. Princípio da supremacia do interesse público Neste princípio, presume-se que toda atuação do Estado seja pautada pelo interesse público, cuja determinação deve ser extraída da Constituição e das leis, manifestações da vontade geral, em que a atuação do Estado subordina os interesses privados. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 19 Decorre deste princípio que existindo conflito entre o interesse público e o interesse particular, deverá prevalecer o primeiro, tutelado pelo Estado, respeitados, entretanto, os direitos e garantias individuais expressos na Constituição, ou dela decorrentes. O Estado, portanto, embora tenha assegurada pela ordem constitucional a prevalência dos interesses em nome dos quais atua, está adstrito aos princípios constitucionais que determinam a forma e os limites de sua atuação, como o princípio do devido processo legal, do contraditório e ampla defesa, da proporcionalidade, dentre outros. O postulado da supremacia do interesse público não tem caráter absoluto. Princípio da indisponibilidade do interesse público Do princípio da indisponibilidade do interesse público derivam todas as restrições especiais impostas à atividade administrativa. Tais restrições decorrem, exatamente, do fato de não ser a Administração Pública dona da coisa pública, e sim mera gestora de bens e interesses. Os bens e interesses públicos são indisponíveis, não pertencem à Administração, tampouco a seus agentes públicos. Cabendo apenas a sua gestão, em prol da coletividade, verdadeira titular dos direitos e interesses públicos. Em razão deste princípio, são vedados ao administrador quaisquer atos que impliquem renúncia a diretos do Poder Público ou que injustificadamente onerem a sociedade. Princípio da razoabilidade e proporcionalidade Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade não se encontram expressos no texto constitucional. São eles, na verdade, princípios gerais de Direito, aplicáveis a todos os ramos da ciência jurídica. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 20 O Princípio da Razoabilidade É associado às análises de adequação e de necessidade do ato ou da atuação da Administração Pública. Não basta que o ato tenha uma finalidade legítima, é necessário que os meios empregados pela Administração sejam adequados ao seu objetivo e que sua utilização, quando se trate de medidas restritivas ou punitivas, seja realmente necessária. O Princípio da Proporcionalidade É o princípio da proibição do excesso, em que haja proporcionalidade entre os meios utilizados pelo administrador público e os fins que ele pretende alcançar. Se o ato administrativo não guarda uma proporção adequada entre os meios empregados e o fim almejado, será um ato desproporcional, excessivo em relação a essa finalidade. O princípio da razoabilidade tem por finalidade aferir a compatibilidade entre os meios empregados e os fins visados na prática de um ato administrativo, de modo a evitar restrições aos administrados inadequadas, desnecessárias, arbitrárias ou abusivas. A Administração, ao atuar, terá que obedecer a critérios aceitáveis do ponto de vista racional, com o senso normal de pessoas equilibradas e respeitosas das finalidades da competência exercida. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 21 É importante frisar que os atos válidos, sem qualquer vício, que no entender da Administração se tornarem inconvenientes ao interesse público, também podem ser autotutelados através de revogação deste ato válido que se tornou inconveniente. Princípio da autotutela O princípio da autotutela possibilita à administração pública controlar seus próprios atos, apreciando quanto ao mérito e legalidade. É um instrumento da Administração para a revisão de seus próprios atos sob dois aspectos: A Administração Pública, no desempenho de suas atividades, está sujeita a erros, podendo ela mesma tomar a iniciativa de repará- los, a fim de restaurar a situação de regularidade e zelar pelo interesse público. Portanto, não é necessário que a Administração seja provocada para rever seus atos ilegais, podendo fazê-lo de ofício. Legalidade: Em que a Administração pode, de ofício ou provocada, anular os seus atos ilegais; Mérito: Em que examina a conveniência e oportunidade de manter ou desfazer um ato legitimo mediante revogação. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 22 O princípio da autotutela administrativa está consagrado na Súmula 473, do STF, nos termos: 473 – A Administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. Princípio da continuidade dos serviços públicos O princípio da continuidade dos serviços públicos é um princípio que estabelece que os serviços públicos, este compreendido em sentido amplo como todas as atividades administrativas executadas sob regime jurídico de direito público, são prestados no interesse da coletividade, devendo ser de forma adequada e não podendo sofrer interrupções. A interrupção de um serviço público prejudica toda a coletividade, que dele depende para a satisfação de seus interesses e necessidades. Decorrência relevante do princípio da continuidade dos serviços públicos é o fato de o texto constitucional tratar a greve dos servidores públicos não como um direito autoexercitável, de forma plena, independente de regulamentação legal, mas sim como um direito a ser exercido nos termos e limites definidos em lei específica. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 23 ATOS ADMINISTRATIVOS – MANIFESTAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE DA ADMINISTRAÇÃO Conceitos Os princípios fundamentais orientadores de toda a atividade da Administração Pública encontram-se, explícita ou implicitamente, no texto da Constituição de 1988. O direito administrativo tem sua base constitucional no Artigo 37, Caput,da Constituição Federal: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, supremacia do interesse público, indisponibilidade do interesse público, razoabilidade, proporcionalidade, autotutela e continuidade dos serviços públicos”. Podemos conceituar ato administrativo como sendo a exteriorização da vontade de agentes da Administração Pública ou de seus delegatários, nessa condição, que,sob regime de direito público, vise à produção de efeitos jurídicos, com o fim de atender ao interesse público. Devem ser considerados três pontos fundamentais para a caracterização do ato administrativo. É necessário que a vontade emane de agente da administração pública ou dotado de prerrogativas desta. Que seu conteúdo propicie a produção de efeitos jurídicos com o fim público. Por fim, deve toda essa categoria de atos ser regidos basicamente pelo direito público. Elementos O ato administrativo praticado sem a observância dos elementos formadores ou requisitos de validade estará contaminado de vício de https://www.dicio.com.br/delegatario/ DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 24 legalidade, fato que o deixará sujeito à anulação, bastando tão somente a inobservância de somente um deles, que são: COMPETÊNCIA a) Sentido - É o círculo definido por lei dentro do qual podem os agentes exercer legitimamente sua atividade. b) Fonte - Sendo o Estado integrado por grande quantidade de agentes, e estando a seu cargo um número incontestável de funções, conclui-se que a competência tem que decorrer de norma expressa. No direito público não há presunção de competência administrativa, devendo esta originar-se de texto expresso. c) Características - A competência se reveste de duas características que são a inderrogabilidade, onde a competência de um órgão não se transfere a outro por acordo entre as partes, ou por assentimento do agente da Administração. Fixada em norma expressa deve a competência ser rigidamente observada por todos. E a improrrogabilidade, a incompetência não se transmuda em competência, ou seja, se um órgão não tem competência para certa função, não poderá vir a tê-la supervenientemente, a menos que a antiga norma definidora seja alterada. Requisitos competência objetivo forma motivo finalidade https://www.dicionarioinformal.com.br/inderrogabilidade/ https://www.dicio.com.br/improrrogabilidade/ DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 25 Critérios definidores da competência A norma que define a competência recebe o influxo de diversos fatores que são os critérios definidores da competência. Esses critérios constituem fatores necessários à consecução do fim último do instituto que é a organização e distribuição de tarefas. O critério relativo à matéria envolve a especificidade da função para sua melhor execução. Quanto à hierarquia, o critério encerra a atribuição de funções mais complexas ou de maior responsabilidade aos agentes situados em plano hierárquico mais elevado. O critério de lugar inspira-se na necessidade de descentralização territorial das atividades administrativas. É o que ocorre com as circunscrições territoriais de certos órgãos, como as delegacias regionais. O critério de tempo será quando a norma conferir a certo órgão competência por período determinado. Delegação e Avocação Delegação de competência é quando a norma autorizar que um agente transfira a outro, normalmente em plano hierárquico inferior, funções que originariamente lhe são atribuídas. No fenômeno inverso, ocorre a Avocação, quando o delegante atrai para a sua esfera decisória a prática de ato objeto de delegação, sendo esse um meio de evitar decisões concorrentes e eventualmente contraditórias. OBJETO a) Sentido - O objeto ou conteúdo é a alteração no mundo jurídico que o ato administrativo se propõe a processar. Significa, como informa o próprio termo, o objetivo imediato da vontade exteriorizada pelo ato, A definição da competência decorre dos critérios em razão da matéria, hierarquia, lugar e do tempo. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 26 a proposta do agente que manifestou a vontade com vistas a determinado alvo. b) Requisitos de validade - Para que o ato administrativo seja válido, seu objeto deve ser lícito. A licitude é o requisito fundamental de validade do objeto. Além de lícito, deve ser o objeto possível, ou seja, suscetível de ser realizado. Esse é o requisito da possibilidade. c) Discricionariedade e vinculação - A vontade do agente, exteriorizada pelo ato administrativo, tem que reproduzir, às vezes, a própria vontade do legislador. Em outras situações, é a lei que permite ao agente que faça o delineamento do que pretende com sua manifestação de vontade. Quando se trata de atividade vinculada, o autor do ato deve limitar-se a fixar como objeto desse o mesmo que a lei previamente já estabeleceu. Aqui pode dizer-se que se trata de objeto vinculado. Em outras hipóteses, é permitido ao agente traçar as linhas que limitam o conteúdo de seu ato, mediante a avaliação dos elementos que constituem critérios administrativos. Constitui a parte variável do ato, sendo possível a fixação de termos, condições e modos. Nesse caso estamos diante de objeto discricionário. FORMA a) Sentido - A forma é o meio pelo qual se exterioriza a vontade. A vontade, tomada de modo isolado, reside na mente como elemento de caráter meramente psíquico, interno. Quando se projeta, é necessário que o faça através da forma. Por isso a forma é elemento que integra DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 27 a própria formação do ato. Sem sua presença, o ato não completa o ciclo de existência. b) Requisito de validade - A forma do ato para ser considerada válida,deve cumprir o requisito de compatibilidade com a lei ou com ato equivalente. Não basta simplesmente a exteriorização da vontade pelo agente administrativo, mas que o faça nos termos em que a lei a estabeleceu, sob pena de vício de legalidade suficiente para a sua invalidação. c) Princípio da solenidade - O princípio da solenidade no direito público norteia que a exteriorização dos atos deve ser escrita, registrada e publicada. Pode ainda em situações singulares a vontade administrativa se manifestar por outros meios como é o caso de gestos (guardas de trânsito), palavras (atos de polícia de segurança pública) ou sinais (semáforos e placas de trânsito), esses meios, porém, são excepcionais. MOTIVO a) Sentido - Situação de fato ou de direito que gera a vontade do agente quando pratica o ato administrativo. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 28 b) Discricionariedade e vinculação - Classifica-se o motivo em motivo de direito e motivo de fato conforme a situação por força da qual o ato é praticado. Motivo de direito é a situação de fato eleita pela norma legal como ensejadora da vontade administrativa. Motivo de fato é a própria situação de fato ocorrida sem descrição na norma legal. Ocorrendo a situação de fato já delineada na norma legal, cabe tão somente ao agente praticar o ato, cumprindo a lei em virtude do princípio da legalidade. Caracterizando o ato vinculado por haver vinculação do agente à lei. Sendo diversa na hipótese de quando a lei não delineia a situação fática, transferindo ao agente a verificação de sua ocorrência atendendo a critérios de conveniência e oportunidade. Nesse caso o agente elege a situação fática geradora da vontade, permitindo maior liberdade atuação, sem, contudo, afastar os princípios administrativos. Desvinculando o agente de qualquer situação de fato prevista na lei, sua atividade reveste-se de discricionariedade, redundando na prática de ato discricionário. c) Motivo e motivação - Motivo é a situação de fato por meio da qual ocorre a manifestação de vontade da Administração. A motivação é a justificativa do pronunciamento tomado, exprime de modo expresso e textual todas as situações de fato que levaram o agente à manifestação da vontade. d) Teoria dos motivos determinantes - Baseia-se no princípio de que o motivo do ato administrativo deve sempre guardar compatibilidade com a situação de fato que gerou a manifestação da vontade.e) Congruência entre o motivo e o resultado do ato - Elemento calcado em situação anterior à prática do ato, o motivo deve sempre ser ajustado ao resultado do ato, ou seja, aos fins a que se destina. Impõe- se, desse modo, uma relação de congruência entre o motivo, de um lado, e o objetivo e a finalidade, de outro. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 29 FINALIDADE a) Sentido - Finalidade é o elemento pelo qual todo ato administrativo deve estar dirigido ao interesse público. O administrador, como gestor de bens e interesses da coletividade, não pode estar voltado a interesses privados. b) Finalidade e objeto - A finalidade e o objeto podem ser considerados como vetores do resultado do ato, mas o objeto representa o fim imediato, ou seja, o resultado prático a ser alcançado pela vontade administrativa. A finalidade, ao contrário, reflete o fim mediato, o interesse coletivo que deve o administrador perseguir. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 30 Atributos Os atributos são qualidades ou características dos atos administrativos, enquanto que os requisitos dos atos administrativos constituem condições que devem ser observadas para sua validação. Os atributos podem ser entendidos como as características inerentes aos atos administrativos. Os atributos dos atos administrativos são: Sendo que o segundo e terceiro atributos são observáveis somente em determinadas espécies de atos administrativos. PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE A presunção de legitimidade ou presunção de legalidade é um atributo presente em todos os atos administrativos, quer imponham obrigações, quer reconheçam ou confiram direitos aos administrados. Esse atributo deflui da própria natureza do ato administrativo e está presente desde o nascimento e independe de norma legal que o preveja. Presunção de legitimidade Imperatividade Tipicidade Autoexecutoriedade DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 31 O fundamento da presunção de legitimidade dos atos administrativos é a necessidade de que o poder público possa exercer com agilidade suas atribuições, tendo em conta a defesa do interesse público. O ato administrativo obriga os administrados por ele atingidos, ou produz os efeitos que lhe são próprios, desde o momento de sua edição; ainda que alguém aponte a existência de vícios em sua formação, que possam acarretar a futura invalidação do ato. IMPERATIVIDADE A imperatividade traduz a possibilidade de a administração pública, unilateralmente, criar obrigações para os administrados, ou impor-lhes restrições. Este atributo não está presente em qualquer ato administrativo, mas apenas naqueles atos que implicam obrigação para o administrado, ou que são a ele impostos, e devem ser por ele obedecidos, sem necessidade de seu consentimento, como é nos casos punitivos e no exercício do poder de polícia. Em decorrência do atributo da presunção de legitimidade, presente em todos os atos administrativos, os atos caracterizados pela imperatividade podem ser imediatamente impostos aos particulares a partir de sua edição. AUTOEXECUTORIEDADE Atos auto-executórios são os que podem ser materialmente implementados pela administração, diretamente, inclusive mediante o uso da força, se necessária, sem que a administração precise obter autorização judicial prévia. A autoexecutoriedade não é um atributo presente em todos os atos administrativos. Afirma-se que ela é qualidade própria dos atos inerentes ao exercício de atividades típicas da administração, quando está atuando na condição de poder público. A necessidade de defesa DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 32 ágil dos interesses da sociedade justifica essa possibilidade de a administração agir sem prévia intervenção do Poder Judiciário, especialmente no exercício do poder de polícia. A presteza requerida evidentemente faltaria, se fosse necessário recorrer ao Judiciário toda vez que o particular opusesse resistência às atividades administrativas contrárias a seus interesses. TIPICIDADE É o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela lei como aptas a produzir determinados resultados. Esse atributo, corolário do princípio da legalidade, teria o condão de afastar a possibilidade de a administração praticar atos inominados. Dessa forma, para cada finalidade que a administração pretenda alcançar, deve existir um ato típico definido em lei. Como consequências desse atributo, temos a representação de uma garantia para o administrado, pois impede que a administração pratique um ato, unilateral e coercitivo, sem prévia previsão legal, e afasta também a possibilidade de ser praticado ato totalmente discricionário; pois a lei, ao prever o ato, já define os limites em que a discricionariedade poderá ser exercida. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 33 PODERES ADMINISTRATIVOS – PRERROGATIVAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Poder-dever O regime jurídico- administrativo tem fundamento nos postulados básicos do princípio da supremacia do interesse público e no princípio da indisponibilidade do interesse público. Do postulado da supremacia do interesse público deriva as prerrogativas especiais de que dispõe a administração pública, as quais a ela são conferidas tão somente na exata medida em que são necessárias à satisfação dos fins públicos. Tais prerrogativas consubstanciam os chamados poderes administrativos. Esses poderes são exercidos pelos administradores públicos nos termos da lei, com observância dos princípios jurídicos e respeito aos direitos e garantias fundamentais, como o devido processo legal, as garantias do contraditório e da ampla defesa, a garantia da inafastabilidade da tutela judicial, etc. Do postulado da indisponibilidade do interesse público, a Constituição e as leis impõem ao administrador público alguns deveres específicos e peculiares, preordenados a assegurar que sua atuação efetivamente se dê em benefício do interesse público e sob controle direto e indireto do titular da coisa pública, o povo. São esses os chamados deveres administrativos. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 34 Poderes e deveres administrativos em espécie São deveres impostos aos agentes administrativos pelo ordenamento jurídico o poder–dever de agir, o dever de eficiência, o dever de probidade e o dever de prestar contas. Poder-dever de agir Sendo as competências administrativas, conferidas com o objetivo do atingimento dos fins públicos, implicam ao mesmo tempo um poder para desempenhar as correspondentes funções públicas e um dever de exercício dessas funções. O poder de agir no direito administrativo é uma imposição, um dever de exercício das competências, de que o agente público não pode dispor. Dever de eficiência Exigência de elevado padrão de qualidade na atividade administrativa, na imposição de que o administrador e os agentes públicos em geral tenham sua atuação pautada na celeridade, perfeição técnica, economicidade, coordenação, controle, entre outros atributos. É um dever imposto a todos os níveis da administração pública. O dever de eficiência tem característica de princípio constitucional administrativo, manifestando preocupação com a produtividade do servidor e com o aperfeiçoamento de toda a máquina administrativa, por meio da criação de institutos e controles que permitam o aprimoramento e uma adequada avaliação do desempenho de seus órgãos, entidades e agentes. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 35 É um modelo de gestão pública caracterizada pela ênfase nos controles de resultado e flexibilização dos controles de procedimentos, possibilitando a perda do cargo do servidorpúblico estável em razão de insuficiência de desempenho, o estabelecimento de avaliação especial de desempenho como condição para a aquisição da estabilidade, a exigência de participação do servidor público em cursos de aperfeiçoamento como um dos requisitos para a promoção na carreira, entre outros. Dever de probidade Exige que o administrador público, no desempenho de suas atividades, atue com ética, honestidade e boa-fé, em consonância com o princípio da moralidade administrativa. O dever de probidade é imposto a todo e qualquer agente público. O § 4° do art.37 da Constituição da República estabelece que, sem prejuízo da ação penal cabível, os atos de improbidade administrativa acarretarão, na forma e gradação previstas em lei: a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário. A lei 8.429/1992, regulamentando esse importante dispositivo constitucional, tipifica e sanciona os atos de improbidade administrativa. Dever de prestar contas Decorre diretamente do princípio da indisponibilidade do interesse público, sendo inerente à função do administrador público, mero gestor de bens e interesses alheios, vale dizer, o povo. É um dever indissociável do exercício de função pública, imposto a qualquer agente que de algum modo seja responsável pela gestão ou conservação de bens públicos. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 36 Os poderes administrativos representam instrumentos que utilizados isolada ou conjuntamente, permitem à administração cumprir suas finalidades. Os principais poderes administrativos são: Poder vinculado É aquele de que dispões a administração para a prática de atos administrativos em que é mínima ou inexistente a sua liberdade de atuação, é o poder de que ela se utiliza quando pratica atos vinculados. Com relação aos atos vinculados, não cabe à administração fazer juízo de oportunidade e conveniência, nem escolher seu conteúdo. O poder vinculado apenas possibilita à administração executar o ato vinculado nas estritas hipóteses legais, observando o conteúdo rigidamente estabelecido na lei. Assim, o poder vinculado é mais um dever da administração pública, do que um poder, pois quando pratica um ato vinculado à administração está muito mais cumprindo um dever do que exercendo uma prerrogativa. Poder vinculado Poder discricionário Poder hierárquico Poder disciplinar Poder regulamentar Poder de polícia Os principais poderes administrativos são o Poder vinculado, Poder discricionário, Poder hierárquico, Poder disciplinar, Poder regulamentar e Poder de polícia. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 37 Poder discricionário É conferido à administração para a prática de atos discricionários. É aquele em que o agente administrativo dispõe de uma razoável liberdade de atuação, podendo valorar a oportunidade e conveniência da prática do ato, quanto ao seu motivo e escolher dentro dos limites legais o seu conteúdo. O poder discricionário tem como núcleo a autorização legal para que o agente público decida, nos limites da lei, acerca da conveniência e da oportunidade de praticar, ou não, um ato administrativo. Sendo, portanto,o núcleo essencial do poder discricionário o denominado mérito administrativo. Diante de um caso concreto, a administração, nos termos e limites da lei, decidirá, segundo seus critérios de oportunidade e conveniência administrativas, a conduta, dentre as previstas na lei, mais condizente com a satisfação do interesse público. Observe-se que, também, tem fundamento no poder discricionário a revogação de atos discricionários que a administração pública tenha praticado e que num momento posterior, passe a considerar inoportunos ou inconvenientes. Quanto aos limites do poder discricionário, além do próprio conteúdo da lei, os princípios jurídicos administrativos, sobretudo os da razoabilidade e da proporcionalidade. A extrapolação dos limites legais, assim como a atuação contrária aos princípios administrativos, configura arbitrariedade, caso em que, por ser um ato ilegal ou ilegítimo, poderá ser anulado. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 38 Poder hierárquico A hierarquia caracteriza-se pela existência de níveis de subordinação entre órgãos e agentes públicos, sempre no âmbito de uma mesma pessoa jurídica. A subordinação só existe no âmbito de uma mesma pessoa jurídica, e é estabelecida entre agentes e órgãos de uma mesma entidade, verticalmente escalonados, como decorrência do poder hierárquico. As relações de natureza hierárquica, entre superior- subordinado, são típicas da organização administrativa, não havendo, entretanto, hierarquia entre diferentes pessoas jurídicas, nem entre os Poderes da República, nem mesmo entre a administração e os administrados. Como decorrência do poder hierárquico temos as prerrogativas exercidas pelo superior sobre os seus subordinados, que são as de dar ordens, fiscalizar, controlar, aplicar sanções, delegar e avocar competências. A prerrogativa de dar ordens permite ao superior hierárquico que assegure o adequado funcionamento dos serviços sob sua responsabilidade, dando ordens diretas, verbais ou escritas, como também edita os atos administrativos ordinatórios, como ordens de serviço, portarias, instruções, circulares internas, que obrigam os agentes subordinados a executar as tarefas neles disciplinadas. Os servidores públicos têm o dever de acatar e cumprir as ordens de seus superiores hierárquicos com dever de obediência, exceto quando manifestamente ilegais. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 39 A delegação de competência é ato discricionário, revogável a qualquer tempo, mediante o qual o superior hierárquico confere o exercício temporário de algumas atribuições, originariamente pertencentes ao seu cargo, a um subordinado. A avocação é o ato discricionário mediante o qual o superior hierárquico traz para si o exercício temporário de determinada competência atribuída por lei a um subordinado. O poder-dever de fiscalização diz respeito ao acompanhamento permanente, pelo superior, da atuação de seus subordinados.Corolário da fiscalização é o poder de controle. Com efeito, o mero acompanhamento da atuação dos subordinados nenhuma serventia teria se o superior não pudesse controlar essa atuação, mantendo os atos que devam ser mantidos e extinguindo os ilegais, inadequados, inconvenientes ou inoportunos. A aplicação de sanções administrativas nem sempre está relacionada ao poder hierárquico, somente derivam do poder hierárquico as sanções disciplinares aplicadas aos servidores públicos que pratiquem infrações funcionais. Poder disciplinar O poder disciplinar é um poder-dever que possibilita à administração pública punir internamente as infrações funcionais de seus servidores e punir infrações administrativas cometidas por particulares a ela ligados mediante algum vínculo jurídico específico. Quando a administração aplica uma sanção disciplinar a um agente público, essa atuação decorre imediatamente do poder disciplinar e mediatamente do poder hierárquico. Entretanto, quando a administração pública aplica uma sanção administrativa a alguém DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 40 que descumpriu um contrato administrativo, há exercício do poder disciplinar, mas não existe liame hierárquico. Nesses casos, o poder disciplinar não está relacionado ao poder hierárquico. Não se deve confundir o poder disciplinar da administração pública com o poder punitivo do Estado, que é exercido pelo Poder Judiciário e diz respeito à repressão de crimes e contravenções tipificadas nas leis penais. Poder regulamentar A expressão “poder regulamentar”designa as competências do Chefe do Poder Executivo para editar atos administrativos normativos. Os atos administrativos normativos contêm determinações gerais e abstratas. Tais atos não têm destinatários determinados; incidem sobre todos os fatos ou situações que se enquadrem nas hipóteses que abstratamente preveem. Os atos administrativos normativos editados pelo Chefe do Poder Executivo assumem a forma de decreto. O exercício do poder regulamentar, se materializa na edição de decretos e regulamentos destinados a dar fiel execução às leis. São os decretos de execução ou decretos regulamentares. Ao lado dos decretos de execução ou regulamentares, passou a existir a partir da EC 32/2001, previsão de edição de decretos autônomos para tratar das matérias específicas que não se destinam a regulamentar determinada lei. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 41 As competências para a edição desses outros atos de caráter normativo não se fundam no poder regulamentar, o qual é exclusivo do Chefe do Poder Executivo. Esses outros atos administrativos têm fundamento no poder normativo da administração pública. É esse genérico poder normativo reconhecido à administração pública que é invocado para defender a constitucionalidade dos denominados regulamentos autorizados. O poder regulamentar é uma espécie do gênero poder normativo, porém, como o poder regulamentar é exclusivo do Chefe do Poder Executivo, é mais frequente, quando se refere a essa autoridade, tratar de poder regulamentar. Importante notar que ao praticar atos com base no poder regulamentar (espécie), o Chefe do Poder Executivo não deixa de estar exercendo o poder normativo da administração pública (gênero). Importante ressaltar que em nosso ordenamento jurídico, diversos órgãos e autoridades administrativas, e mesmo entidades da administração indireta, têm competência para editar atos administrativos normativos. A amplitude dessas competências normativas, a constitucionalidade de sua atribuição, mediante lei, a variados órgãos, autoridades e entidades administrativas, a legitimidade de seu exercício visando a produzir efeitos externos, todos esses pontos são motivo de controvérsia doutrinária. Certo é que diversas autoridades administrativas, que não o Chefe do Poder Executivo, editam atos administrativos normativos. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 42 São espécies de atos, os Decretos de execução ou regulamentares, Decretos autônomos e Regulamentos autorizados: Decretos de execução ou regulamentares São definidos como regras jurídicas gerais, abstratas e impessoais, editadas em função de uma lei cuja aplicação de algum modo envolva atuação da administração pública, visando a possibilitar a fiel execução da lei. A edição de decretos de execução, tem como pressuposto a existência de uma lei, que é o ato primário a ser regulamentado. O decreto de execução deve restringir-se aos limites e ao conteúdo da lei, explicitando-o, detalhando seus dispositivos. As leis devem ser redigidas em termos gerais; o detalhamento necessário à sua aplicação é efetuado pelo Poder Executivo, que não pode restringir, ampliar e contrariar as hipóteses nela previstas. Decretos autônomos Alguns sistemas constitucionais conferem ao Poder Executivo a prerrogativa de editar regulamentos como atos primários, diretamente derivados da Constituição. Esses atos são classificados como regulamentos independentes ou autônomos e se dividem em: externos, que contêm normas dirigidas aos cidadãos de modo geral; e internos, que dizem respeito à organização, competência e funcionamento da administração pública. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 43 Até a promulgação da EC 32/2001 a Constituição não permitia a edição de decreto autônomo em nosso ordenamento jurídico. O texto constitucional somente aludia à expedição de decretos regulamentares, explicitando que tais atos devem assegurar a fiel execução da lei. Todavia, a partir da EC 32/2001, passou a existir autorização expressa no Inciso VI, do Artigo 84, da Constituição, para a edição decretos autônomos pelo Presidente da República, específica e unicamente para dispor sobre organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; e extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos. Podendo ser objeto de delegação a disciplina dessas matérias pelo Presidente da República, a outras autoridades administrativas. Regulamentos autorizados É quando o Poder Legislativo, na própria lei, autoriza o Poder Executivo a disciplinar determinadas situações nela não reguladas. A lei traça apenas linhas gerais, parâmetros, diretrizes, e incumbe o Poder Executivo de completar as disposições dela constantes, não simplesmente regulamentá-la. É importante enfatizar que a existência dos regulamentos autorizados não tem previsão expressa no texto constitucional, diferentemente do que ocorre com os regulamentos de execução. Os regulamentos autorizados completam a lei, veiculam disposições que não constam da regulação legal, inovam o direito; os regulamentos de execução não podem, na teoria, inovar o direito, de forma alguma. A lei geralmente incumbe órgãos e entidades administrativas de perfil técnico da edição de regulamentos autorizados, que devem dispor acerca de matérias de cunho técnico pertinentes à área de atuação do órgão ou entidade; os regulamentos de execução são de DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 44 competência privativa do Chefe do Poder Executivo, indelegável, e não se restringem a assuntos de ordem técnica, podendo tratar de qualquer assunto administrativo. Poder de Polícia Está conceituado no artigo 78 do Código Tributário Nacional: Art.78. Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando o direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 45 De forma mais concisa, “O poder de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado”. O poder de polícia é inerente à atividade administrativa. A administração pública exerce poder de polícia sobre todas as condutas ou situações particulares que possam, direta ou indiretamente, afetar os interesses da coletividade. É competente para exercer poder de polícia administrativa sobre uma dada atividade o ente federado ao qual a Constituição da República atribui competência para legislar sobre essa mesma atividade, para regular a prática dessa atividade. O princípio da predominância do interessedetermina a repartição de competências entre as pessoas políticas na Constituição de 1988, da seguinte forma: “os assuntos de interesse nacional ficam sujeitos à regulamentação e policiamento da União; as matérias de interesse regional sujeitam-se às normas e à polícia estadual; e os assuntos de interesse local subordinam-se aos regulamentos edilícios e ao policiamento administrativo municipal”. Não se confundem as atividades de polícia administrativa com a prestação de serviços públicos em sentido estrito. PODER DA POLÍCIA FISCALIZAÇÃO DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 46 Com efeito, o exercício do poder de políciaacarreta restrições à esfera jurídica individual do administrado, a seus direitos e interesses, ao passo que a prestação de serviços públicos tem efeito exatamente oposto, isto é, amplia a esfera jurídica individual do particular destinatário, porquanto se traduz no oferecimento, pelo poder público, de prestações positivas, de comodidades ou utilidades materiais diretamente fruíveis pelo usuário do serviço. O poder de polícia integra o rol das denominadas atividades jurídicas do Estado – aquelas cujo desempenho se funda no poder de império, como decorrência da própria noção de soberania-, enquanto a prestação de serviços públicos configura atividade material, enquadrada na categoria das chamadas atividades sociais do Estado – atividades destinadas a incrementaro bem-estar social, que não impliquem exercício de poder de império. Diferenciação importante que se deve ressaltar é entre atividade de polícia administrativa e atividade de polícia judiciária. Será atividade de polícia administrativa a que incida na seara das infrações administrativa se atividade de polícia judiciária a concernente ao ilícito de natureza penal. O exercício da primeira esgota-se no âmbito da função administrativa, enquanto a polícia judiciária prepara a atuação da função jurisdicional penal. Cumpre observar, ainda, que a polícia administrativa é exercida sobre atividades privadas, bens ou direitos, enquanto a polícia judiciária incide diretamente sobre as pessoas. Por fim, a polícia administrativa é desempenhada por órgãos administrativos de caráter fiscalizador, integrantes dos mais diversos setores de toda a administração pública, ao passo que a polícia judiciária é executada por corporações específicas, como a polícia civil e a Polícia Federal e, em alguns casos, a polícia militar, que também exerce a função de polícia administrativa. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 47 Poder de polícia originário Exercido pela administração direta, ou seja, pelos órgãos integrantes da estrutura das diversas pessoas políticas da Federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Poder de polícia delegado Executado pelas pessoas administrativas do Estado, isto é, pelas entidades integrantes da administração indireta. Poder de polícia preventivo O poder público estabelece normas que limitam ou condicionam a utilização de bens (públicos ou privados) ou o exercício de atividades privadas que possam afetar a coletividade, exigindo que o particular obtenha anuência da administração pública previamente à utilização desses bens ou ao exercício dessas atividades. Poder de polícia repressivo Consubstanciado na fiscalização das atividades e bens sujeitos ao controle da administração pública. Sendo verificada a existência de infração, a autoridade fiscalizadora deverá lavrar o auto de infração pertinente e cientificar o particular da sanção a ser aplicada. São diversas as sanções aplicáveis previstas nas mais variadas leis administrativas, de todos os níveis da Federação, passíveis de ser aplicadas no âmbito da atividade de polícia administrativa. Conforme explicado, o poder de polícia incide sobre atividades e sobre bens, não diretamente sobre os indivíduos, ressaltando que não existem sanções de polícia administrativa que impliquem detenção ou reclusão de pessoas. Quanto aos meios de atuação do poder de polícia pode ser exercido preventiva ou repressivamente. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 48 Dentre as inúmeras sanções cabíveis temos: A atuação da administração pública no exercício do poder de polícia, em regra, é discricionária e restrita, estando limitada pela lei e pelo direito globalmente considerado, especialmente pelos princípios constitucionais administrativos. A atuação da polícia administrativa só será legítima se realizada nos estritos termos jurídicos, respeitados os direitos do cidadão, as prerrogativas individuais e as liberdades públicas asseguradas na Constituição e nas leis. Há que se conciliar o interesse social com os direitos individuais consagrados no ordenamento constitucional. Caso a administração aja além desses Imposição de multas administrativas Interdição de estabelecimentos comerciais Suspensão do exercício de direitos Demolição de construções irregulares Embargo administrativo de obra Destruição de gêneros alimentícios impróprios para o consumo Apreensão de mercadorias irregularmente entradas no território nacional DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 49 mandamentos, ferindo a intangibilidade do núcleo dos direitos individuais, sua atuação será arbitrária, configuradora de abuso de poder. Qualquer medida imposta no exercício da atividade de polícia administrativa deve ser adotada com observância do devido processo legal, assegurando ao administrado o direito à ampla defesa. A doutrina tradicionalmente aponta três atributos ou qualidades características do poder de polícia e dos atos administrativos resultantes de seu regular exercício. Discricionariedade A discricionariedade no exercício do poder de polícia significa que a administração, quanto aos atos a ele relacionados, dispõe de uma razoável liberdade de atuação, podendo valorar a oportunidade e conveniência de sua prática, estabelecer o motivo e escolher, dentro dos limites legais, seu conteúdo. A finalidade de todo ato de polícia, assim como a finalidade de qualquer ato administrativo, é requisito sempre vinculado e traduz-se na proteção do interesse da coletividade. Discricionariedade Autoexecutoriedade Coercibilidade DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 50 Autoexecutoriedade Consiste na possibilidade que certos atos administrativos ensejam de imediata e direta execução pela própria Administração, independente de ordem judicial. É atributo típico do poder de polícia, presente, sobretudo, nos atos repressivos de polícia. A administração pública precisa ter a prerrogativa de impor diretamente, sem necessidade de prévia autorização judicial, as medidas ou sanções de polícia administrativa necessárias à repressão de atividades lesivas à coletividade, ou que coloque em risco a incolumidade pública. Coercibilidade Traduz-se na possibilidade de as medidas adotadas pela administração pública serem impostas coativamente ao administrado, inclusive mediante o emprego da força. Caso o particular resista ao ato de polícia, a administração poderá valer-se da força pública para garantir o seu cumprimento. A imposição coercitiva dos atos de polícia também independe de prévia autorização judicial, mas está sujeita, assim como ocorre com todo e qualquer ato administrativo, a verificação posterior quanto à legalidade, ensejando, se for o caso, a anulação do ato e a reparação ou indenização do particular pelos danos sofridos, sempre que se comprove ter ocorrido excesso ou desvio de poder. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 51 SERVIÇO PÚBLICO – ATIVIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Noções gerais e conceito Trata-se de expressão que admite mais de um sentido, e de conceito que, sobre ter variado em decorrência da evolução do tema relativo às funções do Estado, apresenta vários aspectos diferentes entre os elementos que o compõem. Todavia, sendo a pretensão de colocar o tema com a maior simplicidade, deve-se esclarecer que a expressão “serviço público” admite dois sentidos fundamentais, um subjetivo e outro objetivo. No primeiro, levam-se em conta os órgãos do Estado, responsáveis pela execução das atividades voltadas à coletividade. No sentido objetivo, é a atividade em si, prestada pelo Estado e seus agentes, sendo neste que o tema será desenvolvido. A noção geral de serviço público deve ser entendida como todo e qualquer serviço prestado pelo Estado; com menor amplitude,prestados, individual ou coletivamente, à coletividade; e com sentido ainda mais restrito, apenas aqueles que beneficiam especificamente certos indivíduos. Desta forma podemos conceituar serviço público como toda atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, basicamente sob regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e secundárias da coletividade. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 52 Serviços delegáveis e indelegáveis Serviços administrativos e de utilidade pública Serviços coletivos e singulares Serviços sociais e econômicos. Classificação Os serviços públicos são classificados em: Serviços Delegáveis São aqueles que, por sua natureza ou pelo fato de assim dispor o ordenamento jurídico. Comportam ser executados pelo Estado ou por particulares colaboradores. Como exemplos, os serviços de transporte coletivo, energia elétrica, sistema de telefonia, etc. Serviços Indelegáveis São aqueles que só podem ser prestados pelo Estado diretamente, ou seja, por seus próprios órgãos ou agentes. Como exemplos, os serviços de defesa nacional, segurança interna, fiscalização de atividades, etc. Serviços Administrativos e de Utilidade Pública O Estado, ao prestar serviços públicos, sempre se volta aos interesses da coletividade. Mas a fruição dos serviços pode ser direta ou indireta. De fato, quando executa serviços de organização interna, DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 53 Serviços de pavimentação de ruas Iuminação pública Outros o Estado, embora atendendo à conveniência sua, beneficia indiretamente a coletividade. Os serviços de utilidade pública se destinam diretamente aos indivíduos, ou seja, são proporcionados para sua fruição direta. São exemplos: Energia domiciliar, fornecimento de gás, ensino, etc. Serviços coletivos e singulares Serviços coletivos são aqueles prestados a grupamentos indeterminados de indivíduos, de acordo com as opções e prioridades da Administração, e em conformidade com os recursos de que disponha. São exemplos: Por essa razão, consideram-se serviços administrativos aqueles que o Estado executa para compor melhor sua organização, como o que implanta centro de pesquisa ou edita a imprensa oficial para a divulgação dos atos administrativos. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 54 Uso de linha telefônica Energia domiciliar Serviços singulares preordenam-se a destinatários individualizados, sendo mensurável a utilização por cada um dos indivíduos. São exemplos: Serviços Sociais e Econômicos Serviços sociais são os que o Estado executa para atender aos reclamos sociais básicos e representam ou uma atividade propiciadora de comodidade relevante, ou serviços assistenciais e protetivos. Serviços econômicos são aqueles que, por sua possibilidade de lucro, representam atividades de caráter mais industrial ou comercial, razão por que alguns os denominam de serviços comerciais e industriais. Apesar de estarem as atividades econômicas dentro do sistema da liberdade de iniciativa e, portanto, cabendo aos particulares exercê-las, o Estado as executa em algumas ocasiões específicas. A própria Constituição o permite quando para atender a relevante interesse coletivo ou a imperativo de segurança nacional. DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 55 SERVIDORES PÚBLICOS – GESTORES PÚBLICOS / TEORIA DA IMPUTAÇÃO Agentes públicos: conceito e classificação Conceito A expressão agentes públicos tem sentido amplo. Significa o conjunto de pessoas que, a qualquer título, exerce uma função pública como preposto do Estado. Essa função pode ser remunerada ou gratuita, definitiva ou transitória, política ou jurídica. Tais agentes quando atuam no mundo jurídico estão de alguma forma vinculados ao Poder Público. O Estado só se faz presente através das pessoas físicas que em seu nome manifestam determinada vontade, e é por isso que essa manifestação volitiva acaba por ser imputada ao próprio Estado. São todas essas pessoas físicas que constituem os agentes públicos. Classificação Sendo quantitativa e qualitativamente tão abrangente a categoria dos agentes públicos, há que se reconhecer a existência de grupamentos que guardem entre si algum fator de semelhança. Para melhor compreensão, torna-se necessário agrupar os agentes públicos em categorias que denotem referenciais básicos distintivos. Trata-se de classificação de natureza didática, relevante para a formação de um sistema lógico de identificação: DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 56 Agentes Políticos Agentes políticos são aqueles aos quais incumbe a execução das diretrizes traçadas pelo Poder Público. São estes agentes que desenham os destinos fundamentais do Estado e que criam as estratégias políticas por eles consideradas necessárias e convenientes para que o Estado atinja os seus fins. Caracterizam-se por terem funções de direção e orientação estabelecidas na Constituição e por ser normalmente transitório o exercício de tais funções. Como regra, sua investidura se dá através de eleição, que lhes confere o direito a um mandato, e os mandatos eletivos caracterizam-se pela transitoriedade do exercício das funções, como deflui dos postulados básicos das teorias democráticas e republicana. Por outro lado, não se sujeitam às regras comuns aplicáveis aos servidores públicos em geral; a eles são aplicáveis normalmente as regras constantes da Constituição, sobretudo as que dizem respeito às prerrogativas e à responsabilidade política. São eles os Chefes de Estado (Presidente, Governadores e Prefeitos), seus auxiliares (Ministros e Secretários Estaduais e Municipais) e os membros do Poder Legislativo (Senadores, Deputados e Vereadores). Agentes Particulares Colaboradores Esta categoria de agentes públicos, embora sejam particulares, executam certas funções DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 57 Os jurados Pessoas convocadas para serviços eleitorais Servidores Públicos Civis e Militares Servidores Públicos Comuns e Especiais Servidores Públicos Estatutários, Trabalhistas Temporários especiais que podem se qualificar como públicas, sempre como resultado do vínculo jurídico que os prende ao Estado. Alguns deles exercem verdadeiro munus público, ou seja, sujeitam-se a certos encargos em favor da coletividade a que pertencem, caracterizando- se, nesse caso, como transitórias as suas funções. São exemplos: Servidores Públicos A categoria dentre os agentes públicos que contém a maior quantidade de integrantes. Formam a grande massa dos agentes do Estado, desenvolvendo, em consequência, as mais variadas funções. Tais agentes se vinculam ao Estado por uma relação permanente de trabalho e recebem, a cada período de trabalho, a sua correspondente remuneração. As categorias de servidores públicos são classificadas em: DIREITO ADMINISTRATIVO –CEFC 58 Direitos e deveres dos servidores Os regimes jurídicos modernos impõem uma série de deveres aos servidores públicos como requisitos para o bom desempenho de seus encargos e regular funcionamento dos serviços públicos. Há duas espécies de deveres funcionais: os gerais, que se aplicam a todos os servidores, e os especiais, que obrigam a determinadas classes ou em razão de determinadas funções. Quanto aos deveres gerais, são classificados ainda em internos e externos, conforme se dirijam à conduta do servidor no desempenho de suas atribuições ou ao seu procedimento na vida privada. São eles: Dever de lealdade Também denominado dever de fidelidade,
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