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Efeitos do uso do calor: Aplicação terapêutica do calor. Alguns autores ainda utilizam o termo termoterapia. É dividida em agentes de calor superficial e profundo. Vasodilatação; Aumento do metabolismo; Aumento do limiar de dor; Analgesia; Aumento da extensibilidade de colágeno; O calor apresenta efeitos terapêuticos devido a seus efeitos fisiológicos, tais como: Efeitos hemodinâmicos, neuromusculares, metabólicos e na alteração na extensibilidade do tecido e controle da dor. Efeitos hemodinâmicos O calor dilata os vasos sanguíneos, fazendo com que os capilares permeáveis se abram, aumentando assim o fluxo sanguíneo. A aplicação do calor causa vasodilatação por diferentes mecanismos: Diretamente, através da ativação reflexa do músculo liso dos vasos sanguíneos por parte dos termorreceptores da pele; e indiretamente, através dos reflexos medulares locais por parte dos termorreceptores cutâneos ou mediante a liberação local de reguladores químicos da inflamação. Os termorreceptores cutâneos causam liberação de bradicinina e óxido nítrico, estimulando o relaxamento do músculo liso das paredes dos vasos, levando à vasodilatação na área em que o calor é aplicado. A elevação do fluxo sanguíneo aumenta o metabolismo, o suprimento de oxigênio, nutrientes, células e anticorpos para a área acometida. Como ocorre a regulação do diâmetro dos vasos? O sistema nervoso simpático inerva a maioria da musculatura lisa dos vasos sanguíneos sob o controle do hipotálamo. Sob temperatura normal, os nervos simpáticos mantêm a abertura das paredes dos vasos quase totalmente fechadas, causando a vasoconstricção. Porém, quando o tecido é aquecido, o número de impulsos dos nervos simpáticos é reduzido, levando à dilatação dos vasos (aumento da abertura das paredes dos vasos), permitindo que grande quantidade de sangue flua para os plexos venosos. Ou seja, a diminuição da ativação simpática causa redução da contração do músculo liso, levando assim à vasodilatação, tanto no local em que é aplicado o calor como em áreas distantes. Podemos utilizar desse efeito dilatador distante, conhecido como vasodilatação consensual por calor em condições nas quais a aplicação direta do calor é contraindicada, como em feridas de úlcera abertas. Caso um paciente tenha uma úlcera na perna causada por insuficiência arterial no membro, podemos aplicar o calor na região lombar para aumentar a circulação no membro inferior e o metabolismo para essa região, facilitando a cicatrização da lesão. A vasodilatação e o aumento do fluxo sanguíneo, que ocorrem devido ao aumento da temperatura dos tecidos, servem para distribuir calor adicional pelo corpo e agem também protegendo do aquecimento excessivo e danos, como as queimaduras. O calor também aumenta a pressão hidrostática capilar, causando um aumento no fluxo sanguíneo para os espaços intersticiais. Entretanto, a pressão hidrostática capilar aumentada pode favorecer à formação de edema. Por isso é tão importante se conhecer a fisiologia, pois, dependendo da fase em que a lesão está, pode-se agravar a lesão.. Os agentes de aquecimento superficial produzem vasodilatação maior nos vasos sanguíneos cutâneos, local em que causam aumento máximo de temperatura; a dilatação nos vasos profundos é menos acentuada devido à mudança de temperatura ser menor. Efeitos neuromusculares O aumento da temperatura eleva a velocidade de condução nervosa, podendo contribuir para a redução da percepção do estímulo da dor. O calor produz um efeito de relaxamento no tônus muscular que diminui a hipertonicidade dos músculos. Acredita-se que o aquecimento das terminações nervosas dos fusos musculares aferentes secundários e das terminações tendíneas de Golgi pode reduzir o espasmo muscular. Estudos demonstraram que a aplicação de calor profundo, através do uso do ultrassom ou diatermia por ondas curtas, não alterava a resposta neuromuscular e a força dos grupamentos musculares estudados. Outros estudos ainda observaram que a força e a resistência muscular diminuem durante os 30 primeiros minutos após aquecimento superficial e profundo, devido à diminuição na taxa de disparo dos neurônios motores alfa. Ainda são necessários estudos para avaliar os efeitos do calor na força e resistência muscular. E recomenda-se verificar a força antes da aplicação de alguma modalidade de calor, e não após, como realizadas em alguns estudos anteriores. Efeitos metabólicos O aumento da temperatura causa um aumento do metabolismo. O calor aumenta a taxa de reações químicas, como a taxa de reações enzimáticas biológicas. A taxa do metabolismo aumenta aproximadamente 13% para cada 1°C na temperatura. Há um aumento da atividade enzimática às temperaturas entre 39°C e 43°C. Entretanto, quando se eleva a temperatura acima de 45°C, as proteínas que constituem as enzimas começam a se desnaturar, diminuindo as taxas de atividade enzimática. Com o aumento da atividade enzimática, cresce a velocidade das reações bioquímicas celulares, podendo levar a uma elevação na demanda e no consumo de oxigênio, acelerando também o reparo tecidual de lesões crônicas. Entretanto, pode-se aumentar a taxa de processos destrutivos, como, por exemplo, no crescimento da atividade da colagenase, enzima que degrada o colágeno, elevando-se assim a destruição da cartilagem articular dos pacientes portadores de artrite reumatoide. Alteração na extensibilidade do tecido O aumento da temperatura dos tecidos moles eleva sua extensibilidade. Quando aplicamos algum agente de calor no tecido mole antes de alongá-lo, esse tecido consegue manter um maior aumento de comprimento após a aplicação da força de alongamento devido à elevação da extensibilidade do colágeno. Sendo assim, menos força será necessária para se obter esse aumento do comprimento do tecido, reduzindo o risco de rompê-lo. Ao aquecermos os tecidos que contêm colágeno (como tendões, ligamento, tecido cicatricial ou cápsula articulares) antes de um alongamento prolongado, proporcionamos o que chamamos de deformação plástica, ou seja, o tecido aumenta seu comprimento e mantém essa medida após se resfriar. Entretanto, se alongarmos os tecidos com colágeno sem aquecermos previamente, ocorre a deformação elástica; o tecido não mantém seu ganho de comprimento após se resfriar. Esse alongamento sustentado do colágeno, que acontece após o aquecimento e o alongamento, se deve à alteração na organização e viscoelasticidade das fibras colágenas. Para o aumento da extensibilidade do colágeno ser alcançado, é necessário que o aquecimento chegue até as estruturas que desejamos tratar. Os agentes de aquecimento superficial causarão aumento de temperatura nas estruturas de superfície, como no tecido conjuntivo da pele e tendões de superfície. Para aquecermos estruturas mais profundas como cartilagem, tendões e ligamentos profundos devemos utilizar os agentes de aquecimento profundo como o ultrassom ou a diatermia. Controle da dor A aplicação local de calor pode aumentar o limiar de dor, tendo assim efeitos analgésicos. Esses efeitos podem ocorrer por diversos mecanismos, como no controle da transmissão da dor pela ativação dos termorreceptores cutâneos, na diminuição do espasmo muscular, na redução da isquemia ou na redução da sensação de dor pela alteração da condução ou da transmissão nervosa. Os efeitos diretos da aplicação do calor na ativação dos termorreceptores cutâneos ocorrem devido a um efeito inibitório imediato na transmissão da sensação de dor no nível da coluna vertebral. Os efeitos indiretos da aplicação do calor para a recuperação dos tecidos e na redução da isquemia são atribuídos à dilatação dos vasos sanguíneos, que leva ao aumento do fluxo sanguíneo. O aumento da circulação sanguínea diminui a isquemia, permitindo que o oxigênio e nutrientes cheguem às células que estão sem esse aporte, alémde auxiliar na remoção de agentes químicos causadores de dor. A isquemia também pode diminuir como resultado da redução do espasmo muscular que comprime os vasos sanguíneos. O calor também possui efeitos benéficos através da percepção da dor pelo indivíduo ao nível psicológico. Os agentes de aquecimento são percebidos como relaxantes e confortáveis, e sua utilização traz ao paciente a sensação de bem-estar. Vale ressaltar que, embora o uso do calor possa reduzir qualquer tipo de dor, não é recomendado seu uso em dores causadas por inflamação aguda, pois podemos agravar seus sinais e sintomas como a inflamação, o edema e hiperemia. Aumento da amplitude de movimento articular O calor aumenta a extensibilidade dos tecidos que contêm colágeno, possibilitando um crescimento do tecido após o alongamento. Além disso, ao utilizarmos calor, outros mecanismos podem influenciar no aumento da amplitude articular, como: O efeito analgésico promovido pelo aquecimento, possibilitando maior tolerância ao alongamento por parte do paciente; e a vasodilatação, que promove um aumento do fluxo sanguíneo, relaxando estruturas que estavam hipertônicas, diminuindo assim a rigidez articular. Na nossa prática, para que esse efeito seja alcançado, o ideal é atentarmos para o tipo de agente de aquecimento que iremos utilizar e a temperatura que conseguiremos atingir com ele. Recomenda-se manter a temperatura do tecido entre 40°C e 45°C por 5 a 10 minutos para que não haja danos e se obtenham os efeitos desejados. Além disso, o alongamento deve ser realizado, de maneira prolongada e com pouca carga, durante e imediatamente após a aplicação do calor para conseguirmos a deformação plástica; pois, se as partes moles se esfriarem, só conseguiremos a deformação elástica e não atingiremos o aumento máximo de comprimento. Reparo tecidual O calor é um agente físico que pode ser utilizado para acelerar o processo cicatricial, principalmente nas fases proliferativa e de remodelamento. Utilizamos a hipertermoterapia para promover um aumento da taxa metabólica e do fluxo sanguíneo, aumentando o aporte de o² e nutrientes ao tecido lesionado, auxiliando também na remoção de resíduos metabólicos. Além disso, o calor mantém a flexibilidade do tecido e promove a progressão para a fase de remodelamento. Devemos sempre evitar quaisquer efeitos adversos que ocorram nas fases anteriores que impeçam a progressão da reabilitação. Por exemplo, ao utilizarmos o calor, devemos observar se ainda há sinais e sintomas da fase inflamatória, como a presença de edema. Principais agentes da hipertermoterapia – Técnicas de aplicação dos agentes térmicos → Primeiro devemos avaliar o problema do paciente e estabelecer os objetivos do tratamento. → Determinar qual agente da hipertermoterapia é o mais apropriado, levando em consideração a profundidade que deseja elevar a temperatura, a localização e o tamanho da área a ser tratada; → Inspecionar o local a ser aplicado antes e depois da intervenção (presença de lesões, sensibilidade do local, edema, se houve alguma resposta adversa quando aplicado o calor); → Explicar ao paciente o procedimento e descrever as sensações que ele pode sentir; → Documentar a dosimetria, os resultados obtidos, se houve efeitos adversos; → Orientar o paciente, caso necessário, quanto ao uso dos agentes térmicos de calor em casa, lembrando da dosimetria recomendada. Agentes de calor superficial Forno de Bier; Banho de parafina; Turbilhão; Compressas ou bolsas de água quente; Infravermelho; Forno de Bier É um dos agentes de aquecimento superficial mais antigos utilizados na fisioterapia. Consiste em uma cúpula de madeira semicircular, em formato de “U”, aberta nas duas extremidades, revestidas internamente com uma camada de material isolante com a finalidade de evitar a dissipação do calor para o meio externo. Em ambos os lados de suas paredes há resistores de níquel-cromo, protegidos por uma placa, cuja finalidade é evitar queimaduras e eletrocussão caso haja contato direto com o paciente. Quando o segmento do corpo a ser tratado é introduzido dentro do forno de Bier, as extremidades são fechadas parcialmente com cobertores para que haja um mínimo de perda de calor do forno com o meio externo, a fim de manter a temperatura elevada. Atualmente, os fornos à resistência elétrica possuem termostato, permitindo controle da temperatura e promovendo assim maior segurança ao tratamento. A temperatura de tratamento depende principalmente da sensibilidade do paciente ao calor e da área a ser tratada. Recomenda-se que a temperatura de aplicação fique em torno de 45°C a 60°C, produzindo nos tecidos tratados uma elevação de temperatura em torno de 40°C a 45°C, temperatura necessária para a produção dos efeitos terapêuticos desejados. Tempo de aplicação do tratamento é aconselhado: 20 a 30 minutos. A área a ser tratada deve estar exposta, limpa e sem coberturas (como plásticos e cremes parafinados) que impeçam a transpiração. Porém, caso utilize um forno sem termostato, é aconselhado o uso de tolhas úmidas envolvendo a região. Cuidados e precauções: → Devemos sempre verificar a sensibilidade térmica do paciente, bem como a pele antes e depois da aplicação; → Retirar objetos plásticos e metálicos da área a ser tratada; → Orientar o paciente sobre o comportamento adequado durante a aplicação para evitar queimaduras; → Não permitir que o paciente durma, pois isso diminui a percepção térmica; → Sempre observar a temperatura do forno e a percepção do calor relatada pelo paciente; → Monitorar a pressão arterial e as frequências cardíaca e respiratória; → Cuidado especial com crianças e idosos. O forno de Bier não deve ser utilizado nas seguintes regiões: cabeça, face, cervical, ombro, saco escrotal, áreas com implantes siliconados e com fixadores externos. Banho de parafina Consiste em um tanque de aço inoxidável aquecido por um sistema de resistência elétrica, ou “banho maria”, para o derretimento de uma mistura de parafina medicinal e óleo mineral. A proporção média é de sete partes de parafina para uma parte de óleo. A parafina em estado sólido e já misturada ao óleo mineral é colocada no interior do tanque para derreter e chegar ao ponto de fusão em torno de 54°C. Após o derretimento completo mantemos a temperatura do banho entre 42°C e 52°C. A combinação de parafina com óleo mineral possui calor específico baixo, ou seja, permite que o paciente tolere melhor o calor do que o tratamento com a água na mesma temperatura. Para relembrar, agentes com calor específico alto aquecem mais rapidamente e possuem maior condutividade. Por ser uma forma de transferência de calor superficial, geralmente utilizamos o banho de parafina para aquecer as extremidades pequenas e de formas irregulares, como as mãos, dedos, punhos e pés. Cuidados e precauções: Devemos ter alguns cuidados importantes na aplicação e manuseio do banho de parafina, como: → Manter o tanque de parafina sempre fechado quando não estiver em uso, evitando o depósito de micro-organismos; → Substituir a parafina com frequência e nunca repor a que já foi usada; → Fazer a assepsia da área a ser tratada antes e depois da aplicação; → Verificar a temperatura do banho antes de iniciar o tratamento; → Verificar a sensibilidade térmica do paciente, bem como a pele antes e depois da aplicação; → Posicionar o paciente confortavelmente; → Instruir o paciente sobre o comportamento adequado durante a aplicação, pedindo para ele não encostar na cuba metálica ou na resistência elétrica presente no fundo da cuba para evitar queimaduras; → Orientar o paciente para permanecer com o segmento a ser tratado imóvel, para evitar rachaduras da parafina e a perda de calor. Métodos mais comuns de aplicação da parafina: Imersão contínua ou “mergulhe e deixe”: Nessa técnica, o pacientemantém a área a ser tratada imergida por toda a duração do tratamento (cerca de 30 minutos). Imergir e envolver ou método da luva: Essa técnica consiste em colocar no tanque de parafina o segmento a ser tratado e, em seguida, retirá-lo, aguardando de 3 a 5 segundos para que a parafina fique opaca, e colocá-lo novamente no tanque, repetindo esse procedimento durante 6 a 10 segundos até formar uma luva de parafina sólida. Depois devemos envolver esse segmento com um plástico, ou uma toalha, para manter a temperatura local de 20 a 30 minutos. Pincelamento: Nessa técnica deve-se formar uma camada espessa de parafina na área a ser tratada com a ajuda de um pincel, esperar que a parafina fique opaca e, em seguida, aplicar outra camada. Repetir esse procedimento de 3 a 5 vezes. Depois, cobrir a área com um saco plástico ou toalha para manter a temperatura do local de 20 a 30 minutos. Deve-se atentar para a rapidez da aplicação, pois a demora favorece o resfriamento e a ineficiência da técnica. Turbilhão Banheira ou cuba na qual a água é agitada por uma turbina elétrica. O turbilhão deve ser do tamanho correto para o segmento do corpo a ser tratado. É um dispositivo bem efetivo de aplicação de calor, principalmente para as áreas de contorno irregular. A água quente transfere calor por condução; entretanto, ao agitarmos a água, o calor é transferido por condução e convecção. Vale relembrar que a água possui um calor específico e uma condutividade térmica elevados. Por isso, a temperatura do turbilhão não deve exceder 43°C para evitar queimaduras. A agitação da água causada pelo turbilhão proporciona efeito massageador, aumentando a circulação sanguínea, resultando em sedação e analgesia. A água também pode fornecer flutuabilidade (auxiliando na realização de movimentos ativos), e resistência (quando realizamos exercícios em velocidade mais rápida para o fortalecimento muscular). Para a realização de exercícios é recomendado que a temperatura da água esteja na faixa de 26ºC a 33ºC; a temperatura entre 33ºC e 35,5ºC é adequada para a limpeza de feridas abertas, pacientes com problemas circulatórios ou com hipertonicidade. Já a temperatura entre 35,5ºC a 37ºC pode promover maior mobilidade e relaxamento. Temperaturas mais elevadas, entre 37°C a 43°C, são recomendadas para controle da dor e elevação da extensibilidade do tecido mole. Recomenda- se que o tempo de aplicação seja de 15 a 20 minutos. A pressão do jato do turbilhão é um agente mecânico que auxilia no massageamento da região, podendo ser utilizado para a dessensibilização do coto, diminuir aderências e fibroses e auxiliar no alívio de contraturas musculares. Cuidados e precauções: → O turbilhão deve ser limpo com frequência para prevenir o crescimento de bactérias; recomenda-se substituir a água no início do dia de trabalho e, no mínimo, mais uma vez durante a rotina desse mesmo dia; → Não ligar a resistência do aparelho sem água; → Fazer a assepsia da área a ser tratada antes da aplicação; → Evitar o uso por parte de pacientes com doenças contagiosas; → Checar se a água possui alguma substância antisséptica; → Posicionar o paciente confortavelmente, permitindo que a parte a ser tratada esteja imersa no turbilhão; → Verificar a temperatura do turbilhão antes de iniciar o tratamento; → Acompanhar todo o tratamento do paciente, estando ao lado dele para qualquer eventualidade. Compressas ou bolsas de água quente Agentes térmicos superficiais que transferem calor para o paciente por condução. As compressas encontradas no mercado são cobertas com lona e preenchidas com gel de sílica ou substância semelhante. O gel de sílica é hidrofílico, capaz de reter uma grande quantidade de água. Elas ficam imersas em água a aproximadamente 70°C a 76°C em um dispositivo de aquecimento controlado por um termostato. Ao serem retiradas desse dispositivo, elas conseguem armazenar o calor por cerca de 30 a 45 minutos. A bolsa de água quente é um artefato feito de borracha, resistente e com uma abertura em forma de bocal em uma das suas extremidades. As bolsas mantêm a temperatura entre 38°C a 42°C, devendo ficar posicionadas sobre a pele por 30 minutos. Recomenda-se, para pessoas com sensibilidade térmica, colocar uma toalha úmida entre o agente térmico de calor e a pele. Também podemos utilizar outros tipos de compressas, como toalha felpuda ou um pedaço de gaze absorvente. Mergulhamos essas compressas em água muito quente e retiramos o excesso de água fazendo uma leve torcedura. Aplica-se diretamente no local a ser tratado por 20 a 25 minutos. Esse tipo de recurso tende-se a esfriar rapidamente, por isso, as compressas devem ser substituídas a cada 5 minutos para manter a temperatura local até o final do tempo de tratamento. Cuidados e precauções: → Verificar se a temperatura da bolsa ou compressa está adequada para a aplicação, pois se as compressas estiverem com a temperatura muito elevada podem queimar o paciente; → Certifique-se de que a bolsa está bem fechada, evitando o extravasamento da água quente; → A área a ser tratada deve estar livre de metais e objetos de plástico; → Posicionar o paciente confortavelmente e verificar frequentemente sua sensibilidade quanto ao calor. Devemos estar atentos quanto ao tipo de agente de aquecimento que iremos utilizar e à temperatura que conseguiremos atingir com ele. Para relembrarmos um pouco sobre transferência térmica, cada material aquece a uma taxa diferente e em graus e profundidades diferentes. Por exemplo, as compressas de água quente aquecem mais rapidamente a pele do que os banhos de parafina, pois a água tem calor específico e condutividade maiores do que a parafina. Infravermelho A luz infravermelha é considerada uma modalidade de energia eletromagnética, que transfere calor por radiação. É considerada a mais “natural” das radiações, pois qualquer corpo aquecido acima de 0° Kelvin emite essa radiação. O Sol é a principal fonte natural de radiação infravermelha. A radiação infravermelha (IV) possui comprimentos de onda entre 770nm a 106nm (1mm), e é invisível aos nossos olhos, situando-se dentro do espectro eletromagnético entre as micro-ondas e a luz visível. Existem dois tipos de geradores de luz vermelha: Gerador de luz infravermelha curta ou próxima (luminoso) – a radiação curta possui maior poder de penetração na ´pele (cerca de 2 a 10 mm de profundidade); Gerador de luz infravermelha distante ou longa (não luminoso) – a radiação longa penetra menos (cerca de 0,1 a 2 mm); No infravermelho dito luminoso, como as lâmpadas vermelhas, a frequência de emissão está próxima da frequência da cor vermelha visível, sendo por isso chamado de luminoso. Atualmente na fisioterapia utilizamos a fonte de calor luminosa por ser mais eficiente para o aquecimento da pele, pois têm maior poder de penetração. A energia para o tratamento é produzida transferindo a energia elétrica por meio de filamentos de tungstênio ou de carbono. Quando as radiações eletromagnéticas entram em contato com os tecidos, elas podem ser refletidas; outras irão penetrar sofrendo dispersão e refração, sendo finalmente absorvidas pelos tecidos. A água e as proteínas absorvem fortemente o raio IV. O aumento da temperatura no tecido produzido pela radiação IV depende do comprimento de onda, intensidade da fonte luminosa (W), distância entre a fonte e o tecido, ângulo de incidência da radiação e coeficiente de absorção dos tecidos. Quanto maior a potência, maior é a radiação na pele. As lâmpadas atualmente fabricadas possuem uma potência na faixa de 50 a 1.500W, com comprimento de onda entre 780 e 1500nm, e liberam uma radiação que é absorvida nos primeiros milímetros do tecido. Quanto maior o comprimento de onda, mais profunda é a penetração. A distância do posicionamento entre a fonte de IV e os tecidos também influencia na quantidade de energiaque chega ao paciente. Se afastarmos a lâmpada da área de tratamento, a intensidade da radiação diminui (lei do quadrado inverso). A quantidade de energia que atinge a superfície de tratamento também está relacionada ao ângulo de incidência da radiação. De acordo com a lei do cosseno (a intensidade da radiação que incide sobre uma área é proporcional ao cosseno do ângulo de incidência), o ângulo deve estar perpendicular à superfície da pele para a absorção se dar de forma mais proveitosa, minimizando a energia refletida. A radiação IV é absorvida por tecidos com alto coeficiente de absorção de IV. Esse coeficiente depende da cor do tecido. Tecidos e pele mais escuros absorvem mais radiação do que os de cores mais claras. A quantidade de energia absorvida deve ser suficiente para estimular respostas fisiológicas no tecido-alvo. Aplicações, cuidados e precauções: • Posicionar o paciente adequadamente e expor a área a ser tratada; • Verificar a pele e a sensibilidade térmica do paciente; • Posicionar a lâmpada com as radiações em ângulo reto com a área a ser tratada; colocar a uma distância apropriada (50 a 75 cm). • Orientar o paciente sobre o procedimento e o nível apropriado de aquecimento a ser percebido. Instruí-lo a não tocar na lâmpada ou no aparelho; • A dosimetria é ajustada para que o paciente sinta um grau confortável de calor. Considerar a distância entre lâmpada e o paciente, aumentando ou diminuindo essa distância para controle da quantidade de radiação; • Recomenda-se que a radiação IV seja aplicada entre 20 e 30 minutos. Durante esse tempo, sempre verificar a temperatura e a sensação percebida pelo paciente; • Ao final do tratamento, a superfície tratada deve estar leve ou moderadamente quente, e pode apresentar eritema moderado. Os raios IV não devem ser utilizados nas seguintes regiões: olhos, pele desidratada, saco escrotal e enxerto de pele recente. Indicações gerais do uso do calor superficial Condições clínicas subagudas ou crônicas, como osteoartrite, lesões musculares, lesões tendinosas, espasmos e contraturas; Analgesia, Diminuição da rigidez articular; Aumento da amplitude de movimento; Pré-cinesioterapia ou pré-massoterapia; Remoção de edema subagudo; Entorse subaguda; Contusão subaguda. Contraindicações gerais do uso do calor superficial Áreas com alteração de sensibilidade térmica ou pele extremamente fina; Déficit cognitivo; Condições inflamatórias agudas; Áreas desvitalizadas e isquêmicas ou com comprometimento circulatório; Tromboflebite; Hemorragia recente ou iminente; Neoplasia maligna; Lesões de pele ou doenças dermatológicas; Doença vascular periférica; Quadros febris. Agentes de calor profundo Aumentam a temperatura de tecidos mais profundos (como os grandes músculos e as estruturas periarticulares), produzindo um aquecimento a uma profundidade de 3 a 5 cm. São exemplos: Diatermia por ondas curtas, ou por micro-ondas; Ultrassom. Diatermia Consiste na conversão de energia eletromagnética de alta frequência em energia térmica para aumentar a temperatura no interior dos tecidos. O calor é gerado pela resistência do tecido à passagem da energia. São exemplos de diatermia as radiações por ondas curtas e por micro-ondas. Diatermia por ondas curtas A diatermia por ondas curtas está na faixa da radiofrequência (3kHz a 300MHz), semelhante às ondas de rádio, porém com comprimento de onda menor. O valor no espectro eletromagnético varia quanto à frequência (10 a 100 MHz) e comprimento de onda (3 a 200m). Na diatermia terapêutica, são utilizadas faixas de ondas mais curtas; a frequência é de 27,12MHz com um comprimento de onda de 11m. A diatermia por ondas curtas pode ser aplicada por modo contínuo ou pulsado. No modo contínuo há produção do calor; entretanto, no modo pulsado, o calor se dissipa, produzindo assim efeitos não térmicos. Tipos de diatermia por ondas curtas A diatermia pode ser administrada ao paciente por um campo capacitivo ou um campo de indução para produzir calor. Na aplicação capacitiva, utiliza-se os tecidos do paciente como parte do circuito, colocando duas placas isoladas em ambos os lados da área a ser tratada. A corrente passa de uma placa para outra, produzindo um campo elétrico e um fluxo de corrente no tecido entre elas. Isso gera uma resistência ao fluxo de energia, produzindo calor. A aplicação por meio da indução não insere o paciente diretamente no circuito. Utiliza-se um eletrodo com cabo isolado que pode ser enrolado na extremidade a ser tratada ou embutido em um tambor. Através desse cabo passa a corrente elétrica, criando um campo eletromagnético em torno da área a ser tratada e oscilando as partículas carregadas do tecido. A fricção produzida por essa oscilação causa aquecimento tecidual. Eletrodos da diatermia A diatermia por ondas curtas utiliza vários tipos de aplicadores ou eletrodos, que conectam o paciente ao circuito. 1 - Capacitivos: Os eletrodos capacitivos encontrados são as placas metálicas flexíveis e os eletrodos Schliephack. As placas metálicas estão revestidas por materiais como plásticos, borrachas, feltros ou espuma. Utiliza-se uma camada de toalha entre a placa e a pele do paciente para evitar o risco de aquecimento. A área tratada fica entre os dois eletrodos. Os eletrodos Schliephack são metálicos e redondos, estão incluídos numa cobertura de plástico transparente ou vidro e acoplados a braços mecânicos que possibilitam seu ajuste até a área a ser tratada. Não se utiliza toalhas com esse tipo de aplicação, pois a própria cobertura de plástico mantém o espaço entre o paciente e o eletrodo. 2 - Indutivos: Pouco utilizados no Brasil, são encontrados na forma de tambor ou cabo. O tambor consiste em um único eletrodo, cujo interior contém uma bobina indutiva. Na aplicação coloca-se o eletrodo próximo à área a ser tratada, e, a bobina, paralela à superfície da pele. O cabo é dotado de isolamento, e é por ele que passa a corrente elétrica. Pode ser enrolado envolvendo a área a ser tratada. Utilizamos toalhas para aumentar a distância entre a pele e o cabo. Posicionamento dos eletrodos Contraplanar ou transversal: Os eletrodos estão em faces anatômicas opostas, mas na mesma direção. Utilizamos esse posicionamento quando queremos atingir estruturas mais superficiais; Coplanar: Os eletrodos estão no mesmo plano sobre a região a ser tratada. Esse posicionamento dos eletrodos terá um efeito mais superficial, com poucas profundidades; Longitudinal: A área a ser tratada está paralela aos eletrodos, de modo que os tecidos estão na mesma linha de força. Ocorre maior elevação da temperatura das estruturas mais condutoras, como os músculos, pois temos uma penetração mais efetiva do eletromagnetismo. Microondas A diatermia por micro-ondas possui frequência muito mais alta e comprimento de onda mais curto do que a produzida por ondas curtas. São vibrações eletromagnéticas com frequência na faixa de 300MHz a 300Ghz; o espectro está entre a de radiofrequência e a infravermelho, com comprimento de onda de 1 mm a 1 m. As micro-ondas geram aquecimento tanto na pele quanto em tecidos mais profundos; entretanto, penetra menos profundamente do que a diatermia por ondas curtas. As micro-ondas operam à frequência de 2450MHz e comprimento de onda de 12,25cm nas aplicações médicas. Por ter essa frequência muita alta, são bem absorvidas pelo organismo, com menos perdas do que as ondas curtas. Como a frequência das micro-ondas é muito elevada, seu processo de obtenção se dá por um dispositivo único, denominado Magnetron. Ele gera uma corrente de alta frequência através das oscilações dos elétrons que estão em alta velocidade. Essa frequência é transmitida ao longo de um cabo axial até a antena ou o emissor, indo a uma superfície refletoraque direciona as micro-ondas até o paciente. As superfícies refletoras na verdade são os eletrodos, que possuem vários tamanhos e formas, e, por isso, se acoplam a regiões diferentes. Quando a energia eletromagnética da radiação por micro-ondas é absorvida pelos tecidos, ela produz movimento de íons, rotação de dipolos e distorção da órbita dos elétrons, gerando vibração e atrito intermolecular, levando ao aquecimento dos tecidos, principalmente aqueles ricos em água e eletrólitos. Como as micro-ondas são aplicadas de fora para dentro dos tecidos, espera-se que o aquecimento seja maior na superfície e diminua em sua profundidade. Para uma melhor absorção da radiação por micro-ondas, deve-se respeitar as leis do cosseno e do quadrado inverso comentadas anteriormente. Os eletrodos também são chamados de aplicadores e possuem duas formas básicas: Circulares – com temperaturas máximas na periferia; Retangulares – com temperatura máxima no centro do campo de radiação; Geralmente, os eletrodos são posicionados a uma distância de 10cm da área a ser tratada Aplicação, cuidados e precauções da diatermia: Com relação à dosimetria para a diatermia, utilizamos uma escala padronizada (Escala de Schliephake) que dependerá do relato das sensações térmicas que o paciente apresenta: I. Calor muito débil = Calor imperceptível, abaixo do limiar de sensibilidade de aquecimento; II. Calor débil = Imediatamente perceptível, início da sensação de aquecimento; III. Calor médio = Sensação mais clara do calor, é um calor agradável; IV. Calor forte = No limite da tolerância, é um calor desconfortável. Essa escala é utilizada para graduar a dose. Em casos subagudos, recomenda-se utilizar as doses mais baixas; em patologias crônicas, mais elevadas. Na aplicação das micro-ondas, a dose utilizada depende da sensação de calor relatada pelo paciente e da fase em que a lesão se encontra: I. Fase aguda - 10 a 40% de potência; II. Fase aguda - 10 a 40% de potência; III. Fase subaguda - 80 a 100% de potência; IV. Fase crônica - 100 a 120% de potência. → Com relação à intensidade terapêutica, utiliza-se aproximadamente 70mA durante 30 minutos, para as ondas curtas. → Com relação ao tempo: Ondas curtas: Preconiza-se utilizar uma média de 10 a 30 minutos. Nas fases mais agudas, de 10 a 15 minutos; fase subaguda, de 15 a 20 minutos; e fase crônica, de 20 a 30 minutos; Micro-ondas: Casos subagudos – de 3 a 8 minutos; em casos mais crônicos, de 5 a 15 minutos. → Sobre a escolha dos eletrodos: Ondas curtas: Devem ser do mesmo tamanho; um pouco maiores que a área a ser tratada. Quando aplicados mais distantes da pele, a distribuição do campo se torna mais uniforme. Há uma penetração maior da força nos tecidos, por isso recomenda-se a colocação das toalhas secas dobradas naqueles que não ficam distantes; Micro-ondas: Dependendo da intensidade utilizada, o distanciamento entre o eletrodo e a pele do paciente pode variar entre 2 e 15 cm; → Equipamentos eletrônicos ou magnéticos devem ser removidos do campo, devido à radiação eletromagnética; tanto do paciente quanto do terapeuta; → A área a ser tratada deve estar desnuda e seca; → O aparelho não deve ser utilizado nas camas de metal; → Acompanhar o paciente durante todo o tratamento, observando sua sensibilidade térmica e os parâmetros do aparelho; → Examinar a área tratada antes e depois. As contraindicações do uso da diatermia são as mesmas do uso de calor superficial, acrescentando algumas como: Áreas com osteossínteses com placas e parafusos e fixadores externos; cardiopatas descompensados; tecidos expostos à radioterapia, feridas ou curativos molhados e aplicação nas gônadas e olhos.
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