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Filosofia do Direito: Platão e Aristóteles PLATÃO – 427 – 347 A.C. (SÉC. V – IV A.C.) Mesmos pressupostos elementares do pensamento socrático: a virtude é conhecimento e o vício é fruto da ignorância. Em consonância com o problema ético, figuram preocupações gnosiológicas, psicológicas, metafísicas e éticas propriamente.... O pensamento platônico é decorrência de pressupostos transcendentes: a alma, a preexistência da alma, a reminiscência e subsistência da alma. Distanciamento (decepção) das atividades prático-políticas, diferença em relação a Sócrates; cria a academia – lugar apertado; vê-se, nesse contexto, uma derrocada do ideal de perfeição democrática; A prudência (phrónesis) socrática se transforma em vida teórica (bíos theoréticos) – melhor forma de vida – modelo de felicidade humana; TRIPARTIÇÃO DA ALMA: 1. Logística (racional, diferença em relação aos outros seres, importalidade do ser, excelência humana, é hegemônica sobre as outras, capaz de reflexão (dianóia), de opinião (dóxa) e imaginação (phantasía), capaz de razão (noûs) – acesso às IDEIAS pela contemplação: parte superior do corpo (cabeça) – filósofo; 2. Irascível (virtude: coragem, segurança do corpo, proteção) parte mediana do corpo (peito): cavaleiros, guardiões, guerreiros; 3. Apetitiva (sensual, necessidades do corpo, alimentação/prazeres, sentidos) parte inferior o corpo (baixo ventre): artesãos, comerciantes, agricultores, povo. A ciência só é possível do que é certo, imutável, eterno: as ideias (contemplação: atividade da alma logística, racional) VIRTIDE E VÍCIO: ORDEM E DESORDEM Funções da alma: regidas pela alma racional conduz ao fim: ordem e coordenação das atividades humanas; Faculdades da alma: domínio, a partir da alma racional, das tendências irascíveis (instintivas, impetuosas,) e concupiscíveis (desejos de bens materiais, impulsos sensuais, vaidade, fama), encontrar a medida justa. Razão sobre a concupiscência = temperança (moderação); Razão sobre a cólera = coragem ou da prudência; Parte racional = reconhecimento; Virtude: controle, ordem, equilíbrio, proporcionalidade... Buscar a virtude: afastar-se do que prende o ser ao corpo (orfismo e pitagorismo – rituais de purificação); deve-se buscar o que há de melhor – semelhança com os deuses. O corpo não permite chegar à verdade (essência das coisas), nunca conduz a um pensamento sensato (Platão/Sócrates – Fédon). O modo de vida virtuoso tem os deuses a favor. Por isso, a alma tem de buscar a purificação: raiz da ética platônica: praticar o bem, viver justamente com base na verdade e na razão para liberta-se. Todos se submetem ao julgamento dos deuses: bons e maus, justos e injustos, virtuosos e viciosos: os que vivem virtuosamente têm suas recompensas e os que vivem viciosamente têm suas punições – constante reencarnação – transmigração da alma em busca da purificação e libertação – conhecimento da verdade, do bem e prática virtuosa. A alma é imortal: deve-se cuidar dela até após a morte. Enquanto estiver envolvida com a prática viciosa não haverá escapatória a não ser torna-se melhor e mais sábia. Ao que deve visar o ser humano: aperfeiçoamento da alma, sobretudo da razão e através dela; Vicioso: desequilíbrio: não realização das funções próprias ou desmesuradamente; daí a desordem, o conflito, a violência contra si os demais. No vício está o desgoverno. Da mesma forma, na pólis há três classes sociais: 1. Econômica (provisão), predomina a parte concupiscente da alma: busca de riquezas e prazeres; se no governo: sérios problemas econômicos, desigualdades; 2. Guerreiros (defesa), predomina a parte colérica: apreço pelos combates a fama; se governarem: constante estado de guerra = insegurança e instabilidade; 3. Magistrados (política); deve governar as outras duas classes e em conformidade com a justiça. Na cidade, para haver justiça: governo deve ser exercido pelos magistrados, funções próprias. Educação: preparar os indivíduos de cada classe para sua função e virtude: econômica – frugalidade e a temperança; militar – coragem; magistrados – prudência. Combinação de todas gera uma quarta e principal virtude: a justiça. Cidade justa: cada classe cumpre harmoniosamente o papel que lhe cabe: harmonia = realização da justiça. Ética: deflui da alma racional: controle e equilíbrio (ordem – táxis) entre as partes da alma, reflexo na cidade. IDEALISMO ÉTICO E MITO DE ER Idealismo: núcleo da teoria: IDEIA (eidos) – quadro das especulações humanas; Supremo bem – governa o cosmo (kósmos) – apesar de figurar como inatingível, irrealizável. Ideias de ética e virtude = conhecimento necessário adquirido pela reminiscência: recuperação das ideias latentes (esquecidas – passagem do Hades para a Terra – Rio Amelete) = conhecimento de vivência/vidas passadas. Alma logística: contemplação da verdadeira realidade: conhecimentos certos e definitivos para os homens – aléthea: desvelamento da verdade (tirar o véu do esquecimento). ÉTICA JUSTIÇA E METAFÍSICA Surgem as noções de realidade divina, justiça divina como algo inteligível, perfeito, imutável, absoluto, sendo a contemplação o modo de acessar os princípios ideias para o governo da cidade, através do filósofo rei. Justiça é questão metafísica: justiça universal – retribuição: recompensa; ou pena: critérios de julgamento; Não se pode ser justo ou injusto somente para esta vida, pois se a alma preexiste ao corpo, é porque também subsiste à vida carnal, de modo que ao justo caberá o melhor e ao injusto, o pior. Ética: pressupõem a ideia de justiça que governa o mundo – fundada no bem supremo. As ideias humanas acerca da justiça são parciais. ARISTÓTELES – 384 – 322 A.C. (SÉC. IV A.C.) Classificação geral de suas obras: I – Escritos lógicos – órganon – lógica como instrumento da ciência; II – Escritos sobre física: Cosmologia, Antropologia, Filosofia... III – Escritos metafísicos: Matafísica (14 livros); IV – Escritos morais e políticos: Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo e a Grande Ética (Magna Moralia) e a política (oito livros); V – Escritos retóricos e poéticos; a retórica e a poética; Classificação das ciências: Teoria do conhecimento: I – Contato com o objeto é através dos sentidos; II – A impressão do objeto é percebida passivamente pelo intelecto; III – O intelecto transforma a impressão em conceito, grau máximo de abstração Razão pluridiferenciada (razões): inteligível no sensível Conhecimento do necessário e do contigente: Necessário: Filosofia primeira e a ciência; Contingente: Arte e Sabedoria Prática Divisão da ciência (cap. I do livro VI da Metafísica): I – Teoréticas: no geral – Filosofia primeira; no particular: Física e Matemática – tem por fim a verdade (aletheia); II – Práticas: política, economia e ética – filosofia prática – tem por fim a obra, a ação; III – Produtivas (poiéticas): Medicina, ginástica, gramática, música, dialética, retrórica e poética O fim, nas ciências teoréticas e poiéticas, é a perfeição do objeto = ou a ser contemplado em sua verdade na teoria, ou a ser fabricado em sua utilidade na poisis. Fim da ciência da práxis ou ciência prática: perfeição do agente pelo conhecimento da natureza e das condições que tornam melhor ou excelente o seu agir Aspecto fundamental: teleologia (reflexão acerca dos fins: do conhecimento e do agir) Arquitetura dos saberes: No caso da prática: converge para a política (ciência arquitetônica por excelência), incluindo ética – práxis individual – e política – práxis social Qual o objeto da ciência prática – política? O bem – fim em si mesmo. O bem é o fim, pois é o fim a que todo ser aspira. Virtude – posse do bem pela razão = estado de autorrealização ou autossatisfação – Eudaimonia Livro I da ética a nicômaco: trata do bem, do fim e da Eudaimonia Noção de bem supremo – ao qual todos os outros se ordenam Bem da política = maiselevado para o ser racional = eudamonia Ligados a essa noção de bem, estão os gêneros de vida: a) Vida de prazer; b) Vida política; c) Vida de contemplação; Assim, Eudaimonia (autorrealização/autossatisfação) = Posse do BEM – FIM (melhor para o agente) – capacidade de ser BOM – bem viver (eu zen)/bem agir (eu prattein) Pergunta central (objeto zetético da ética): quais os verdadeiros bens da vida humana e como classificá-los hierarquicamente? Como devemos viver? Em Aristóteles, procura-se não o que é em si virtude, o bem, mas como nos tornamos bons, praticando a virtude, o bem. A relação entre o bem e a Eudaimonia é ponto de partida para o problema da liberdade. Critério para avaliar a medida de liberdade = conhecimento e ação conforme o bem Eudaimonia = bem divino A Eudaimonia é uma atividade (energia) da alma segunda a virtude perfeita (virtude = atividade fonte da Eudaimonia) Ética Aristotélica: Ética a Nicômaco – escrito da maturidade (fundação do Liceu – 335 – 323 a.c.) Parte de uma reflexão (que antecede) política Momentos fundamentais da ética a nicômaco: 1. O bem como fim e sua realização como bem humano: a Eudaimonia, cuja atividade própria é a virtude (livro, I, 12); divisão das virtudes segundo as atividades da alma (virtudes éticas (morais) e dianoéticas (intelectuais) (I, 13); 2. As virtudes éticas: a) Em geral (características e definição da virtude ética (II, 1-7); a virtude ética como mediania (II, 8-9); condições subjetivas da virtude ética: voluntariedade, deliberação, escolha, responsabilidade (III, 1-5). b) Catálogo das virtudes éticas (III, 6 - IV, 9); coragem, temperança, liberdade, magnificência, magnanimidade, equanimidade, placidez, amabilidade, veracidade, jovialidade, pudor, justiça, ajustiça como principal virtude ética (V, 1-11). 3. As virtudes dianoéticas (centro de equilíbrio da construção da EN) – condição primordial do exercício das virtudes (função reguladora) : filosofia (sabedoria teórica), sabedoria prática (phronesis ou prudência) (VI, 1-8); Deliberação, entendimento, juízo: a filosofia e a sabedoria prática (VI, 9-13). 4. As condições da virtude: a) A continência e incontinência (VII, 1-10); b) O prazer (VII, 11-14). A amizade: a) espécies e propriedades da amizade (VIII, 1-14); b) natureza da amizade (IX, 1-120. 5. Ainda sobre o prazer (x, 1-5); Eudaimonia e sua perfeita realização: a contemplação (x, 6-8); necessidade da lei: passagem à política (x, 9) Compreensão antropológica dicotômica: Alma não obediente (irracional, alogon) Vegetativa – incapaz de virtude (I, 1-13...) Apetitiva – participa de forma parcial da racionalidade (I, 13...) Alma obediente 9racional, kata logon) Virtudes do entendimento (dianoéticas) – intelectuais; frutos do ensinamento Virtudes do caráter (éticas) – relação razão-apetitiva – morais; frutos do hábito Por fim, O problema da perfeita Eudaimonia: fim último da vida humana Celebração da teoria = superioridade da vida contemplativa (teoria) sobre a vida política (prudência) Inteligência (nous) e sabedoria = “o divino ou o que há de mais divino” (x, 7...) no homem Atividade da teoria – mais perfeita, desde que dirigida ao mais perfeito dos objetos – o divino e daí procedendo a mais perfeita Eudaimonia JUSTIÇA = VIRTUDE Justiça – campo ético – saber prático Conjunto de conhecimentos existentes: pré-socráticos, socráticos, socratismo, sofistas, platonismo Justiça – discussão, exposição e crítica – Ética a Nicômaco (livro v): ética (ação prática, vícios, virtudes, deliberação, decisão, agir voluntário, educação...) Relação com questões sociais, políticas, retóricas... Divisão da ciência: A) Teorética; B) Poiética; C) Prática (agir humano) Ética = ciência prática: busca a compreensão do que é justo/injusto; do bom/mau, do bem/mal, o que é ser virtuoso, corajoso. Desdobramentos individuais e sociais dos comportamentos. Imbricação entre ética e campo social realização (político) Polotikon Zoon – só pode haver realização humana plena em sociedade (contexto social) Reflexão ético-filosófica: Conhecimento fundado na experiência de vida e na vivência do homem Princípios éticos (justiça etc.) não se aplicam a todos indistintamente. Cabe analisar o caso concreto – o justo meio: sensível à dimensão individual. Justiça como virtude: justo meio – meio termo entre carência e excesso – equilíbrio Educação ética – hábito – comportamento ético Deliberação pela razão – comportamento virtuoso SER JUSTO = prática de atos voluntariamente justos A figura do prudente = virtuoso, bom – homem de perfeição moral. Impossível ser prudente sem ser bom (EN) Direito deriva da justiça, conforme se depreende das lições de Aristóteles. Para ele existem dois grandes conceitos de justiça: total/geral: é a justiça legal que toca a todos (lei); particular/específica: dividida em: a) Justiça distributiva regida pela ideia de proporcionalidade: distribuição meritória (conforme o mérito distribui-se mais ou menos) de bens, funções, privilégios etc. b) Justiça corretiva (COMUTATIVA) regida pela ideia de equidade/igualdade/equilíbrio: não deve prevalecer nem o excesso nem a carência. b.1) De caráter voluntário (vínculo): bilateralidade/reciprocidade (relações contratuais – busca-se correção contratual – CORRETIVA b.2) De caráter involuntário (vínculo): clandestinidade/violência/crimes e outras espécies de lesões... – busca-se reparação via pena/sanção – REPARATIVA – papel e importância do juiz: “igualar as coisas mediante penas” – justiça judicial (Giorgio Del Vecchio) Direito: a justa parte de cada um; Superação da justiça da RECIPROCIDADE (talião) – nem corretiva, nem distributiva Justo: retidão e realização da justiça. Assim, o objetivo da justiça é o justo. Nesse sentido, cabe analisar a ordem natural das coisas: seres diferentes têm necessidades diferentes conforme a constituição de cada um. Assim, o que é bom para o homem é desempenhar adequadamente sua ação. Então o que é a natureza humana? 1. Ser racional e de linguagem racional: suas ações devem manifestar/refletir a sua compreensão racional das coisas; 2. Ser social: deve manifestar a virtude social – a justiça. O homem (político por natureza) deve ser o correto e o justo, o que implica em determinada forma de regime político. Nesse contexto pode-se pensar uma justiça política (direito político): a) Natural: que tenha mesma força para todos em todos os lugares – caráter universal; b) Legal: se manifesta de várias maneiras, conforme contextos e povos diferentes: fruto da convenção a respeito do que se quer como lei. É assim que se expressam as constituições. EQUIDADE: Correção da lei: “uma correção da lei quando ela é deficiente em razão de sua universalidade”; Preenchimento de lacuna: “[...] quando a lei se expressa-se universalmente e surge um caso que não é abrangido pela declaração universal, é justo, uma vez que o legislador falhou e errou por excesso de simplicidade, corrigir a omissão...” (Cf. NADER, Paulo, Filosofia do Direito, 21° ed, Rio de janeiro: Forense, 2012) O caminho para esta realização pessoal e coletiva é o do conhecimento como superação da ignorância que conduz a erros. Assim, praticar o justo, o correto, o viver bem está diretamente relacionado com o conhecimento interior (forças que atuam no ser: paixões, desejos, instintivos; aptidões, potencialidades, virtudes etc.) e exterior (leis externas: necessidade – subsistência da vida, da espécie; causalidade: ação e reação.
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