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LITERATURA BRASILEIRA COLONIAL 
 Dra. Sylvia Bittencourt 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 2022 
 
 
1 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e 
educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um 
como equipamento intelectual e afetivo. Os valores que a 
sociedade preconiza, ou os que considera prejudicais, estão 
presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da 
ação dramática.” 
Antonio Cândido 
 
“Portanto, a educação escolar cumprirá seu papel ao valorizar o 
trabalho do professor como transmissor do saber sistematizado 
e a aquisição desse conhecimento pelos alunos”. 
Nathalia Soares Fontes 
 
 
2 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. O ENSINO DA LITERATURA 
 
Objetivo: 
Apresentar aos estudantes do curso de Letras, de forma sistemática, a Literatura 
Brasileira nos tempos do Brasil Colônia até a o Brasil Império. Seguir um percurso histórico 
é uma opção que não exclui abordagens diferenciadas1 ao longo do Ensino Médio, desde 
que o ato de ler os diferentes gêneros literários, seja a prioridade. Pode-se fazer um 
percurso temático em que se possa mostrar a permanência de certos temas ao longo dos 
séculos e por diferentes escolas literárias. Esta metodologia permite constatar algumas 
linhas mestras de Literatura Brasileira ao longo das diferentes estéticas e entre os diversos 
gêneros literários. 
 
 Mesmo havendo diferentes metodologias de ensino da Literatura, todas elas se 
comprometem com o dever de se promover o "letramento literário", que significa o 
educando apropriar-se da literatura, construindo sua experiência literária, entendida como 
"o contato efetivo com o texto" sendo este contato individual e/ou coletivo. Isso não 
significa, no entanto, dizer que o contexto histórico do texto literário deva ser 
desconsiderado. 
 
Quando se propõe a centralidade da obra literária, não estamos descartando a 
importância do contexto histórico-social e cultural em que ela foi produzida, ou as 
particularidades de quem a produziu (até porque tudo isso faz parte da própria tessitura da 
linguagem), mas tomando - para o ensino da Literatura - o caminho inverso: o estudo das 
condições de produção estaria subordinado à apreensão do discurso literário. Estamos, 
assim, privilegiando o contato direto com a obra, a experiência literária, e considerando a 
História da Literatura uma espécie de aprofundamento do estudo literário, realizado de 
maneira sistemática por leitores proficientes: seus mestres, os críticos literários. E observar 
as obras de arte que sobrevivem e tem significado mesmo com a mudança do milênio. 
Afinal, o humano é sempre fazer a pergunta sempre: o que ser brasileiro? serão o centro 
da criação literária que acompanhará uma linha temática, nas próximas três semanas. 
 
 
1 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) recém apresentada prevê percursos interdisciplinares que uma vez adotados pelas 
escolas, favorecerão o protagonismo dos estudantes e estreitarão os limites entre Teoria e Prática. 
 
 
3 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 Entende-se o texto como objeto central das aulas de Literatura, para ser estudado 
sob a ótica de suas relações com as situações de produção e de recepção, nas quais se 
incluem elementos do contexto social, do movimento literário sem excluir portanto, o 
conteúdo historiográfico da literatura, e as suas relações dialógicas2 com outros textos, 
verbais e não verbais, literários e não literários, da mesma época ou de outras épocas. 
 
 O ensino da Literatura considerara a leitura literária uma possibilidade de interação 
entre imaginação e raciocínio, emoção e inteligência e as informações do texto lido, como 
gerador de atividades, possibilitem ao aluno perceber os processos realmente importantes 
para dar-lhe significado, ou seja: LER. 
 
Nesse sentido, a conexão com outros meios de comunicação se torna importante 
para relacionar diferentes linguagens artísticas ou diversos gêneros textuais de épocas 
diferentes. As aulas de literatura podem ser enriquecidas com recursos como a 
intertextualidade e a chamada "hipermídia", que insere o computador, tão presente na vida 
dos alunos, no universo da Literatura. 
 
 
 
2 É pelo diálogo entre diferentes obras literárias ou não, de gêneros e épocas diferentes que podemos constatar a intertextualidade 
presente na produção literária. 
 
 
4 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. A LITERATURA DA CATEQUESE: TEATRO DE PE. JOSÉ DE 
ANCHIETA 
 
Objetivo: 
Apresentar o teatro catequético produzido por Padre José de Anchieta para exercer 
a missão da Companhia de Jesus: Catequese dos nativos e a retomada do teatro de 
medieval português de Gil Vicente 
 
Os Jesuítas vieram com o objetivo de levar a fé católica pelo mundo e cumpriam um 
regime de obediência a privações que os preparavam para viver em terras distantes e 
sobreviver em regiões adversas, expandindo a fé em Cristo e obediência à Roma. 
 
Chegaram em 1549 nas Terras de Santa Cruz com o objetivo de cristianizar os 
habitantes deste território. 
 
Convém assinalar, desde já, que os impérios ibéricos faziam a colonização com 
dupla finalidade conflitante, de um lado o espírito mercantilista e de outro um certo ideal 
religioso e salvacionista. Por isso, dezenas de religiosos acompanhavam as expedições a 
fim de converter os gentios e encontrar entre eles muitos braços para o trabalho na terra e 
para o combate de inimigos invasores. 
 
Como consequência da contrarreforma3, chegam, em 1549, os primeiros jesuítas 
ao Brasil. Incumbidos de catequizar os índios e de instalar o ensino público no país, 
fundaram os primeiros colégios, que foram, durante muito tempo, a única atividade 
intelectual existente na colônia. 
 
Do ponto de vista estético, os jesuítas foram responsáveis pela melhor produção 
literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, cultivaram o teatro de 
caráter pedagógico, inspirado em passagens bíblicas, e produziram documentos que 
informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos. 
 
 
3 A Cont ra r re fo rma (AO 1945: Cont ra -Refo rma) , ou Refo rma Cató l i ca , é o mov imento c r iado pe la Ig re ja 
Cató l i c a a pa r t i r de 154 5, e que, segundo a lguns autores , te r i a s ido uma respos ta à Reforma Protes tante 
(de 1517) i n ic iada por Mar t inho Lute ro . Or igem: Wik ipéd ia , a enc ic lopéd ia l i v re 
 
 
5 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O instrumento mais empregado para atingir os objetivos pretendidos pelos jesuítas 
(moralizar os costumes dos brancos colonos e catequizar os índios) foi o teatro. Para isso, 
os jesuítas aprenderam a língua tupi. Os índios não eram apenas espectadores das peças 
teatrais, mas também atores, dançarinos e cantores. 
 
Os principais jesuítas responsáveis pela produção literária da época foram o padre 
Manuel da Nóbrega, o missionário Fernão Cardim e o padre José de Anchieta. 
 
Do ponto de vista tanto da mensagem moral cristã como do ponto de vista estético, 
os jesuítas foram responsáveis pela melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. 
Empregaram para isso as técnicas do teatro medieval português de Gil Vicente4. Além da 
poesia de devoção, cultivaram o teatro de caráter pedagógico, inspirado em passagens 
bíblicas, e produziram documentos (cartas) que informavam aos superiores na Europa o 
andamento dos trabalhos. 
 
 Faremos aqui uma análise comparativa o teatro do padre José de Anchieta, em 
especial o Auto de São Lourenço, com o teatro medieval.Para tanto, buscaremos alguns 
pontos comuns entre a obra do jesuíta e os autos representativos da Idade Média, 
analisando o contexto histórico e social da época de sua escritura. 
 
 Começaremos com os valores difundidos pela Contrarreforma que voltam a tratar 
de temas religiosos cristãos, próprios da época. Buscaremos ainda identificar alguns 
aspectos da obra de Gil Vicente, dramaturgo português do período de transição entre as 
Idades Média e Moderna, que também estão presentes na obra de José de Anchieta. 
Principalmente os temas de moralidade. 
 
 Anchieta observou o gosto indígena pelas festas, dança e rituais, procurou, por meio 
do teatro, unir estas tendências naturais à moral e aos dogmas católicos, escrevendo peças 
simples, de caráter doutrinário e didático, os chamados Autos de Catequese, com a 
intenção de converter principalmente os gentios, ao catolicismo. O público que assistia às 
apresentações era formado, além do nativo, por comerciantes e marujos, enfim 
colonizadores que já se fixavam nas terras. Diante de uma plateia com idiomas variados, 
 
4 G i l V icente (1465 -1536) fo i um d ramaturgo e poeta por t uguês , o representante maior da l i te ra tu ra 
renascent is ta de Por tuga l antes de Camões . Cr iado r de vá r ios autos é cons ide rado o fundador do t eat ro em 
Por tuga l . Or igem: Wik ipéd ia , a enc ic lopéd ia l i v re 
 
 
6 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Anchieta escreveu em tupi, espanhol e português, pois visava garantir maior alcance de 
seus ensinamentos, numa ampla imposição da cultura do dominador (o português) ao 
“inculto”, ou colonizado. Este fato semelhante também se deu nos Autos vicentinos que em 
muitos momentos se expressava em português e outras em espanhol. 
 
 As representações medievais religiosas e de moralidade são retomadas por 
Anchieta e delas podemos destacar inúmeras características, como os temas bíblicos e o 
conflito entre o bem e mal, a queda e a redenção da humanidade e esses temas foram 
adaptados á cultura dos locais. O ritual que o indígena dedicava aos mortos constituía-se 
de cerimônias de canto e dança, com o uso de bebidas, como o cauim, e do fumo, além de 
transes induzidos pelo pajé. 
 
 O hábito da antropofagia, esclarece professor Alfredo Bosi significava para o 
silvícola o aumento de forças recebidas pela absorção do corpo e da alma do inimigo que 
era morto de forma honrosa em combate. Entretanto a Contrarreforma combatia todas 
formas de magia, por essa razão, Anchieta acreditava que toda cerimônia que abrisse 
caminho para a volta dos mortos deveria ser extirpada e combatida. Eram, pois, tidas como 
bárbaras e foram empregadas para representar um processo de demonização. 
 
Nos autos de Anchieta, o mal vem de fora das criaturas e pode fazê-las praticar atos 
perversos. Ele está espalhado pelos matos, mas o perigo maior é quando penetra na alma 
do homem. Esse mal advém do cauim, que provoca a luxúria e a brutalidade, do fumo, que 
permite o transe aos pajés, e da carne crua dos inimigos, o mais bárbaro dos costumes. O 
fragmento abaixo é uma fala do demônio Guaixará, personagem do Auto de São 
Lourenço, que ilustra bem esta ideia, além de ridicularizar a figura do indígena. 
 
Boa medida é beber cauim até vomitar. 
Isto é jeito de gozar 
a vida, e se recomenda 
a quem queira aproveitar. 
 
Que bom costume é bailar! 
Adornar-se, andar pintado, 
Tingir pernas, empenado 
fumar e curandeirar, 
andar de negro pintado. 
 
Andar matando de fúria, 
Amancebar-se, comer um ao outro, 
e ainda ser espião, prender Tapuia, 
desonesto a honra perder. (Anchieta,) 
 
 
7 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
No Auto de São Lourenço, é importante, ainda, ressaltar a animalização da figura do 
diabo. Os espíritos infernais se autodesignam com nomes de animais peçonhentos ou 
indomáveis. Portanto, tudo o que no reino animal metia medo ou nojo ao europeu é 
aproveitado na peça como signo dúbio de entidades funestas, tanto no plano natural como 
no sobrenatural, já que a intenção é a de identificar o índio a essas entidades. Os trechos 
abaixo são exemplos claros desta situação: 
 
 
Guaixará5 
Sou Guaixará 
embriagado sou boicininga, jaguar, antropófago, agressor, andira-guaçu alado, 
sou demônio matador 
 
Aimbirê 
Sou jiboia, sou socó, 
o grande Aimbirê tamoio. 
Sucuri, gavião malhado, 
sou tamanduá desgrenhado, 
 sou luminoso demônio 
 
Tudo o que Guaixará nomeia como obra sua na peça teatral representa os elementos 
presentes nos rituais dos Tupis, enquanto o colonizador é apresentando como virtuoso, 
num claro contraste com a condição de pecador atribuída ao índio, evidente nas falas dos 
demônios. Portanto, está desfeita a imagem paradisíaca dos nativos segundo o olhar de 
Pero Vaz de Caminha. Desfaz- se o mito da Ilha Brazil como Ilha dos Santos 
 
Guaixará: 
“Esta virtude estrangeira 
me irrita sobremaneira 
Quem a teria trazido, 
com seus hábitos polidos 
estragando a terra inteira 
 
Aimbirê: 
Conosco vivem em paz 
pois se entregam aos desmandos 
... 
E nem sequer raciocinam que é o inferno que cultuam. 
 
Enfim, a moralidade da catequese procura incutir na alma do fiel, no caso o índio, o 
horror ao pecado, com visões aterradoras do além. 
 
 
5 Guaixa rá Guaixa rá , re i dos d iabos , é o nome de um heró i tamo io de Cabo F r io que po r duas vezes a tacou 
os por t ugueses em São Sebas t ião, R io de Jane i ro 
 
 
8 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O Auto de São Lourenço é uma obra dividida em cinco atos. No primeiro apresenta-
se o martírio de São Lourenço ao morrer queimado. No segundo ato, São Lourenço, São 
Sebastião e o Anjo da Guarda impedem que Guaixará (rei dos diabos) e seus servos 
Aimbirê e Saraiva destruam uma aldeia indígena com o vício e o pecado. No terceiro ato, 
os dois servos do demônio torturam Décio e Valeriano, responsáveis pela morte de São 
Lourenço. No quarto ato, o temor de Deus e o Amor de Deus mandam sua mensagem de 
que os índios (público-alvo de José de Anchieta) devem amar e temer a Deus que por eles 
tudo sacrificou. O quinto é um jogral de doze crianças na procissão de São Lourenço. Assim 
como os outros autos de José de Anchieta, este auto também tem como objetivo a 
catequese dos índios e usa elementos indígenas (foi escrito em tupi e espanhol 
principalmente) para torná-los católicos 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. POEMAS ÉPICOS DO BRASIL COLONIAL: CARAMURU E URAGUAI 
 
Objetivo: 
 Apresentar dois poemas épicos do século XVIII que trazem a ambientação e 
personagens do Brasil da época dos descobrimentos. 
 
Primeiramente é preciso estudar o Gênero Épico em sua expressão poética: a 
epopeia. Por se tratar de um gênero textual clássico, sua composição deve seguir uma 
estrutura e uma combinação de elementos fixos. A proposta de uma epopeia é narrar em 
tom grandioso um acontecimento ou lenda de importância nacional. 
 
Elementos de uma epopeia são: 
• um narrador, ou seja, uma voz (um eu-lírico) que conduz a narrativa. Entretanto, 
o foco é sempre na apresentação dos fatos; 
• um distanciamento do narrador daquilo que é narrado; 
• a ação, isto é, da narração de acontecimentos; 
• o encadeamento das ações, que são apresentadas de maneira progressiva; 
• é História centrada em personagens moralmente elevadas – heróis nacionais 
cujos feitos os aproximam de deuses, e que remetem a uma coletividade cultural 
– e narradas sempre em busca da glorificação dos feitos apresentados, dignos 
de serem lembrados e eternizados, por representarem os valores de uma nação 
ou grupo; 
• há divisão em partes autônomas, organizadas de maneira autossuficiente, uma 
vez que poderiam existirestrutural e historicamente por si mesmas; 
 
Para ser classificada como epopeia, a obra deve conter as seguintes estruturas: 
• Proposição: parte introdutória, em que o poeta apresenta o tema que será 
cantado; 
• Invocação: momento em que o poeta invoca as musas ou deuses, para que lhes 
deem fôlego e perseverança para narrar com maestria o longo poema; 
• Dedicatória: de uso facultativo, é a parte em que o poeta dedica a alguém a 
epopeia; 
• Narração: parte em que o poeta narra, de fato, os grandes acontecimentos 
praticados pelo protagonista. 
https://brasilescola.uol.com.br/redacao/generos-textuais.htm
 
 
10 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Trataremos nesta aula de duas epopeias. 
A primeira é de: Frei José de Santa Rita Durão que nasceu em Minas Gerais, em 
1722. Após a queda Pombalina (1777), quando assumiu a cátedra de Teologia na 
Universidade de Coimbra, iniciou a elaboração de Caramuru. 
 
Em Caramuru, expressa um nativismo, exalta a paisagem brasileira, dos seus 
recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas tradições. Apesar do retrocesso ao 
tipo de crônica informativa dos primeiros descobridores, sua intenção maior é analítica e, 
como já tem a cosmovisão do Arcadismo idealização da vida natural acompanha o ideário 
do século XVIII, valorizando a vida campestre e simples distante da corrupção. Faz 
referências a fatos históricos, do século XVI até sua época. 
 
Em versos decassílabos6 com dez cantos e cinco partes, retoma fielmente o modelo 
camoniano de Os Lusíadas. Todavia, o mundo cristão substitui a mitologia pagã, 
característica da poesia épica. Apresenta outros recursos expressivos. Emprega sonhos, 
previsões, vaticínios, material narrativo, projeções futuras a partir do evento central no 
século XVI- o tempo dos Descobridores. 
 
Este poema Frei José de Santa Rita Durão data de 1781 e resgata o antigo estilo 
dos poemas estruturados em 10 cantos e em oitava rima.7 Narra o triunfo de uma figura 
mítica do passado colonial brasileiro, o qual simboliza também a vitória de um país. 
 
A trama se baseia em um evento verídico. O protagonista é Diogo Álvares Correia, 
um náufrago lusitano que se transformou em líder dos indígenas da tribo tupinambá, 
 
 
6- Canto I 
De um va rão em mi l casos ag i tado A 
 
que as pra ias d iscor rendo do Oc i den te B 
descobr iu o Recôncavo a fa mado A 
da cap i t a l b ras í l i ca po ten te : B 
do F i lho do Trov ão denomi nado, A 
que o pe i t o domar soube à fera gen t e ; C 
 
 
o va lor canta re i na advers a sor te D 
po is só conheço heró i quem ne la é for te . C 
 
7 Oitava r ima é uma es t ro f e , surg ida no f ina l do sécu lo XI I I e in íc i o do XIV , de o i to versos decass í labos , 
com r ima consoante e o segu in te esquema de r imas : ABABABCC. 
http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/caramuru1.htm
http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/arcadismo1.htm
https://www.infoescola.com/brasil-colonia/caramuru-diogo-alvares-correia/
 
 
11 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
sediada na Bahia um dos fundadores da cidade de Salvador. Há inegáveis aspectos da 
ficção agregados à vida real de Diogo em nosso país. Por exemplo o que ocorre no 
instante em que sua embarcação afundou até a hora em que assume o posto de 
funcionário do governo de Portugal 
 
A verdade histórica é a relação de Diogo (Caramuru) com Catarina Paraguaçu, uma 
idealista que tinha o poder de antever os confrontos que se desenrolariam futuramente 
entre os colonizadores e os holandeses. É real a ida do casal à Europa para que a índia 
fosse batizada e os dois pudessem se casar. E, logo depois, eles voltam para o Brasil. Tudo 
mais é considerado lenda, sem qualquer base histórica. 
 
O autor registra dados muito importantes sobre os nativos de nosso país. A missão 
do herói era conversão ao Cristianismo. Paraguaçu é retratada como uma jovem de 
características brancas e domina o idioma português. Recurso atenuador de seus traços 
nativos e pagãos. As Personagens da epopeia são: 
 
Diogo Álvares Correia - o Caramuru; Paraguaçu - filha do cacique Taparica; 
Gupeva e Sergipe - chefes indígenas; Moema - índia amante de Diogo. 
 
Caramuru tem os elementos tradicionais do gênero épico: duros trabalhos de um 
herói, contato de gentes diversas, visão de uma sequência histórica. 
 
A segunda epopeia é O Uraguai, poema épico escrito por Basílio da Gama - 1769, 
narra a história da disputa entre jesuítas, índios e europeus (espanhóis e portugueses) 
nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul. 
 
O poema épico trata da expedição mista de portugueses e espanhóis contra as 
missões jesuíticas para executar as cláusulas do Tratado de Madrid8 celebrado entre 
Portugal e Espanha. Esse poema é também um marco na literatura brasileira pois 
representa um abandono do modelo clássico do poema épico. O Uraguai é composto por 
apenas cinco cantos e apresenta 1377 versos brancos (sem rima) e nenhuma estrofação. 
Outra característica que diferencia O Uraguai dos outros poemas épicos é o fato de narrar 
 
8 Pe lo T ra tado de Madr i , c e leb rado ent re os re is de Por tuga l e de Espanha, as ter ras ocupadas pe los 
jesuí tas , no Uruguai , deve r iam passar da Espanha a Por tuga l . Os por tugueses f i car i am com Sete Povos das 
Missões e os espanhóis , com a Colôn ia do Sacramen to . 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Poema
https://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_%C3%A9pica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bas%C3%ADlio_da_Gama
https://pt.wikipedia.org/wiki/1769
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jesu%C3%ADta
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Europa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Espanha
https://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sete_Povos_das_Miss%C3%B5es
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Madrid_(1750)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Poema
https://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_%C3%A9pica
 
 
12 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
um episódio histórico muito recente. Ou seja: a proximidade temporal não permite a criação 
de um mito do herói. Nota-se que também se dá uma crítica aos jesuítas. Ele relata que os 
jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para serem eles mesmos seus senhores. 
O enredo registra eventos expedicionários e de um caso de amor e morte. 
 
O poema é escrito em decassílabos brancos, sem divisão em estrofes, sem a 
linguagem mitológica, própria do classicismo, mas ainda se vale do maravilhoso/ mitologia 
indígena. 
 
Apesar da intenção ostensiva de fazer um panfleto anti-jesuítico para obter as graças 
de Pombal, Basílio da Gama revela outros intuitos como descrever o conflito entre a da 
Europa seguidora da Razão e o primitivismo do índio. 
 
Fragmento do Canto IV – A Morte de Lindóia 
 
 
“A morte de Lindoia”, tela de José Maria de Medeiros (1849-1925), retrata o episódio 
do poema épico "O Uraguai", de Basílio da Gama, em que o irmão da índia mata - tarde 
demais - com uma flechada a serpente que ela usou para se suicidar. Medeiros procura 
captar o espírito do autor que diz ser bela a morte em Lindoia 
 
 
 
 
 
13 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A morte de Lindóia(Canto IV) 
Este lugar delicioso, e triste, 
Cansada de viver, tinha escolhido 
Para morrer a mísera Lindóia. 
Lá reclinada, como que dormia, 
Na brandarelva, e nas mimosas flores, 
Tinha a face na mão, e a mão no tronco 
De um fúnebre cipreste, que espalhava 
Melancólica sombra. Mais de perto 
Descobrem que se enrola no seu corpo 
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge 
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. 
Fogem de a ver assim sobressaltados, 
E param cheios de temor ao longe; 
E nem se atrevem a chamá-la, e temem 
Que desperte assustada, e irrite o monstro, 
E fuja, e apresse no fugir a morte 
 Fonte: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_uraguai 
 
 
 
 
https://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_uraguai
 
 
14 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. LINGUAGEM POÉTICA DO BARROCO 
 
Objetivo 
Este material aprofunda os conhecimentos abordados na videoaula 4. Aqui nos 
deteremos na identificação dos recursos estilísticos que caracterizam o cultismo na escrita 
barroca. Trata-se de um estudo da Estilística uma das disciplinas da ciência da linguagem 
que teve primeiro tratado com o filósofo Aristóteles. 
 
Estilística, segundo o dicionário Houaiss, é a arte de escrever de forma apurada, 
elegante fruto de uma busca dedicada. Para outros estudiosos, é a disciplina que estuda 
os recursos expressivos que individualizam os estilos. Podendo, ainda, ser definida como 
uma conexão histórica entre a Poética e a Retórica. 
 
A Poética decorre dos recursos estilísticos, uma vez que estes não surgem ao acaso, 
mas são escolhidos, ou rebuscados mesmo de forma inconscientemente, pelo emissor, de 
acordo com sua intenção9. Quer emocionar? Quer persuadir? Quer confundir? Para cada 
objetivo, há um recurso. Por isso, há figuras cuja base é a analogia (comparação, metáfora, 
catacrese, alegoria etc.), há outras que é a substituição de um termo por outro, desde que 
entre eles haja uma relação de sentido (metonímia, antonomásia etc.). 
 
 Se o objetivo é apresentar contradição de ideias ou de palavras: antítese, 
paradoxo, ironia etc., no entanto, se a necessidade é suavizar ou exagerar: 
eufemismo, hipérbole.10 
 
Às vezes, as palavras ou estruturas são repetidas propositalmente (anáfora, 
pleonasmo, paralelismo), há momentos em que a sonoridade será relevante (assonância, 
aliteração, onomatopeia) ou será importante inverter (hipérbato, anacoluto, etc.). 
Geralmente, menos palavras indica mais expressividade na mensagem (elipse, zeugma, 
silepse, alusão, etc.). 
 
9 Respos ta de Arna ldo Antunes em ent rev is ta “ A pa lav ra cer ta de Arna ldo Antunes por E la ine Daf fara e 
Ingr i d Kebian, Es tado de São Paulo : 23/10/2002 
 Pergunta ram para o mús i co se hav ia insp i ração para compor . E le res ponde: 
Antunes _ Sim, mas pa ra c r ia r não é necessár i o es tar insp i rado. Na ve rdade, é necessár i a mais 
t ransp i ração do que insp i ração 
 
10 Para o es tudo mais deta lhado das f igu ras , sug i ro na programação semanal , a le i tu ra de um resumo das 
f iguras de es t i l o 
 
 
15 Literatura Brasileira Colonial 
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Viram como os recursos estilísticos são importantes? Por isso, é preciso conhecê-
los, pois fazem a diferença na construção de um enunciado ou em sua interpretação. É 
possível, inclusive, cometer desvios da linguagem padrão com o objetivo de enfatizar um 
termo, uma mensagem ou seu contexto. Entretanto, isso deve ser feito conscientemente e 
não por desconhecimento.11 
 
• A relação da Estilística com a Retórica 
Os recursos estilísticos não se limitam ao âmbito da língua escrita. O tempo todo os 
interlocutores objetivam a comunicação – tanto oral quanto escrita _, que em geral vem 
permeada de tentativas de convencimento. Em nossos dias, a retórica não perdeu sua 
importância. Diariamente é usada no marketing, por políticos, que precisam embasar seus 
discursos para convencer a população, por cidadãos que buscam persuadir seu interlocutor 
ou pelas fake News. Desde o filosofo Aristóteles é o destinatário do texto que indica ao 
emissor o tipo de recursos da linguagem precisa a ser adotado pelo emissor, sob uma 
determinada ótica filosofia. Ou seja: submissa à verdade, ou plausível, ou inverdade. 
(sofisma) 
 
Aristóteles vê a retórica como algo que faz parte da vida social e política, como uma 
arte importante para o desenvolvimento dessas áreas. Ele tem em vista que a distinção 
conceitual, envolvendo o estudo dos termos e como estes termos escolhidos 
cuidadosamente, podem contribuir para a composição lógica e persuasiva dos 
argumentos. Portanto, é fundamental para que o ser humano possa entender com clareza 
suas ideias e comunicá-las socialmente. 
 
 Seguindo esse raciocínio, ele propõe a formação de um mestre de retórica que saiba 
identificar as vantagens e (ou) desvantagens persuasivas na construção de cada discurso, 
visando estabelecer, conforme suas próprias palavras, “(...) quase por completo os 
fundamentos sobre os quais devemos basear os nossos argumentos, quando falamos a 
favor ou contra uma proposta.” 12 
 
11 Um exemplo pe r fe i to do abandono in t en c iona l das normas g ramat ic a is . Oswald de Andrade 
V íc io na Fa la 
Para d izerem mi lho d izem mio 
Para melho r d izem mió 
Para p io r p ió 
Para te l ha d izem te ia 
Para te l hado d izem te iado 
E vão fazendo te lhados 
 
12 Lembre-se des ta exp l i cação quando l er o t ex to 5 , ana l i se o soneto sob re a pa r t e e o todo 
 
 
16 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O estilo barroco ao valorizar as figuras de linguagem distingue as verdades 
imutáveis da natureza (theoria), que seriam do domínio da ciência, e as verdades 
contingentes (phronesis) como exemplo estão as definições sobre o justo ou o injusto, o 
belo ou o feio, útil ou inútil, envolvendo crenças e valores que transitam pelo que é 
verossímil, ou seja, provável. 
 
 O barroco brasileiro soube ouvir as palavras do filósofo grego que era incentivador 
do homem cidadão participativo das decisões da cidade. São os exemplos tanto Gregório 
de Matos como Pe. Antônio Vieira. 
 
 Temos consciência de que, geralmente, não é fácil a relação entre pessoas 
diferentes entre si (em temperamento, traços de caráter, formas de raciocinar, etc.), pois o 
coletivo não se compõe apenas de indivíduos reunidos em maior ou menor número; ela se 
forma ainda de homens especialmente diferentes; os elementos que a constituem não são 
absolutamente semelhantes. 
 
 Sonha-se que seria muito bom o fato de todos os cidadãos estarem de acordo ao 
dizer a mesma coisa quando falam de um mesmo assunto, mas acrescenta-se que isso é 
impossível, e nada tem que prove absoluta unanimidade. A menos em três situações: uma 
comunidade vigiada e obrigada a concordar e obedecer a ORDEM, ou no caso de 
manipulações da linguagem em que se diz o avesso da verdade e no terceiro caso 
decorrente dos dois primeiros: a robotização da consciência humana. 
 
Aristóteles continua ao revelar que os homens são dotados de racionalidade. Então 
o que leva à diversidade nos modos de pensar? Por que pensamos conforme interesses 
variados, individuais e coletivos, que, inevitavelmente, levam a pontos de tensões e 
constantes discussões entre os cidadãos que buscam decidir o que é melhor para a cidade? 
 
Diante dessa inevitável realidade, ele propõe uma ordenação, um espaço que se 
abriria para a arte retórica a fim de que sirva como instrumento de ligação entre os 
cidadãos; suas ideias e seus ideais. As palavras como alternativa contra o ódio e lutas. Foi 
esse o alicerce da democracia das cidades-estados, da Grécia Antiga. 
 
 
 
17 Literatura Brasileira Colonial 
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Ao RE BUSCAR palavras seria uma forma que sedimentar argumentos e fatos que 
consolidariam a paz na sociedade. Na Grécia, costumava vencer aquele que melhorargumentasse. E argumentos e fatos costumam ser comprovados pelas Ciências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 Literatura Brasileira Colonial 
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5. O CULTISMO E O CONCEPTISMO 
 “[...] o mais simples dos homens, que tem paixão, persuade mais que o 
mais eloquente, que não a tem. “ 
La Rochefoucauld, 
Objetivo 
Expor aqui de forma prática uma leitura de um soneto de Gregório de Matos Guerra 
que nos leva a admirar13 o manejo da língua Portuguesa para criar um exercício lógico 
sobre os conceitos de Todo e de Parte. Lembra-se a surpresa e foi admirar o altar mor de 
na videoaula 2? A atordoamento é natural para todos os leitores, mas não desista. Espero 
que ao final da leitura do texto 5 você tenha aprendido de uma forma diferente.: 
Surpreendendo-se, maravilhando-se ... Vamos ao soneto 
 
O todo sem a parte não é todo, 
A parte sem o todo não é parte, 
Mas se a parte o faz todo, sendo parte, 
Não se diga, que é parte, sendo todo. 
 
Em todo o Sacramento está Deus todo, 
E todo assiste inteiro em qualquer parte, 
E feito em partes todo em toda a parte, 
Em qualquer parte sempre fica o todo. 
 
O braço de Jesus não seja parte, 
Pois que feito Jesus em partes todo, 
Assiste cada parte em sua parte. 
 
Não se sabendo parte deste todo, 
Um braço, que lhe acharam, sendo parte, 
Nos disse as partes todas deste todo. 
 
Esta imagem teve uma grande importância na fé do povo baiano: ficava num altar da 
antiga Sé primacial de Salvador, para onde acorriam os fiéis no período colonial, colocando-
 
13 Olhar, contemplar, considerar com admiração, deslumbramento / Causar surpresa 
 
 
 
19 Literatura Brasileira Colonial 
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lhe nas mãos os pedidos, as preces e anseios. Sua existência sempre foi cercada de 
aventuras e histórias que a tornam uma peça de valor inestimável para o entendimento da 
religiosidade e da tradição católica brasileira. 
 
 Esta imagem está ligada, conta a crença popular que o padre Antônio Vieira (1608-
1697). ao contemplar a beleza desta imagem, quando ainda menino e estudante do Colégio 
de Jesus em Salvador, rezava, que ocorreu-lhe o famoso “estalo”, que o tornou inteligente 
e arguto, um brilhante orador, como documentam seus sermões e suas obras. Conta-se 
que após uma dor de cabeça, a inteligência de Vieira se abriu e ele tornou-se o grande 
sermonista. É possível que esta lenda sobre mais este milagre da Virgem, explique o 
mistério que é o ato de aprender. Esta forma de entender a lenda aproxima-se do que disse 
Aristóteles: é uma experiência de maravilha é o maravilhar-se que abre nosso entendimento 
para a realidade. 
 
Esta é a imagem que foi trazida de Portugal para Salvador 
Nossa Senhora das Maravilhas (dos Milagres) 
https://www.google.com/search?q=imagem+de+Nossa+Senhora+das+maravilhas&rlz=1C1GCEA_enBR89
2BR892&sxsrf=ALeKk01 acesso em 05/05/2020 
 
O soneto aqui apresentado é um primor da prática do conceptismo, pois trabalha 
com o jogo de ideias, de conceitos 14 a partir das etimologias das palavras “maravilha” 'do 
 
14 (ma.ra.vi.lha) sf. 
1. Coisa ou fato surpreendente, assombroso, extraordinário 
2. Coisa ou fato impressionante por sua beleza, intensidade etc.: 
https://www.google.com/search?q=imagem+de+Nossa+Senhora+das+maravilhas&rlz=1C1GCEA_enBR892BR892&sxsrf=ALeKk01
https://www.google.com/search?q=imagem+de+Nossa+Senhora+das+maravilhas&rlz=1C1GCEA_enBR892BR892&sxsrf=ALeKk01
 
 
20 Literatura Brasileira Colonial 
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latim 'mirabĭlĭa', «coisas admiráveis” é de ‘mirācŭlu-', <<prodígio, maravilha, coisa 
extraordinária» A palavra terá sofrido influência culta, provavelmente eclesiástica. Na Idade 
Média existiu a forma intermédia "miragre". Assim houve a fusão de dois vocábulos de 
origens distintas, mas que durante a evolução, por motivos culturais, foram associadas e 
ambas apontam para o insólito, o arrebatador, algo que é maior e não pode ser 
completamente contido em nossas emoções. 
 
Outro episódio refere-se a um texto que narra que no ano de 1624, num gesto 
sacrílego, alguém profanou e furtou a imagem, arrancando dos braços de Maria, o Menino 
Jesus e espalhando as partes por diversas localidades da então pequena cidade de 
Salvador sendo que, aos poucos, as partes destroçadas foram aparecendo, até que a última 
delas – uma perna – foi encontrada por uma negra que buscava lenha para o fogo: ao atiçar 
a peça junto a outras no fogo, esta teria voltado. Ao descobrir do que se tratava, a mulher 
teria levado a peça até a Igreja da Sé, onde foi restituída e novamente “encarnada”, voltando 
a fazer parte da imagem de Nossa Senhora: 
 
 Para termos de fato autonomia de leitura precisamos de conhecimentos prévios, de 
procurar informações históricas, culturais, enfim aderirmos intelectualmente às crenças em 
que tal arte foi concebida. Elas não precisam ser a nossas ideologias e sim entregar-se ao 
pensamento do autor. 
 
 A religião católica alicerça- se em dogmas 15 que para os devotos é a maior 
demonstração da FÉ em Deus e na Igreja Católica. Gregório de Matos fundamenta sua 
escrita barroca (em argumentos fortes em seu contexto histórico e cultural) ou seja: em 
verdades teológicas. São os dois dogmas sobre a Eucaristia que é elaborada a 
argumentação lógica e racional por meio de um jogo de palavras. 
 Ao escrever o soneto com uma argumentação lógica, racional , sendo matéria de 
Fé, _ algo que não pode ser cientificamente comprovado _ ele estabelece um pacto com o 
leitor sobre a fé católica ou seja : ele provoca a confusão no entendimento para que os que 
leem, experimente o sentimento de fé que é pelos sentidos e pelo querer, pela vontade que 
 
3. Qualidade do que é perfeito; PRIMOR: 
15 Ponto básico de doutrina religiosa, considerado certo e indiscutível: o dogma da Santíssima Trindade. 
2. Fig. Qualquer doutrina que se apresenta como verdade indiscutível e, portanto, deve ser aceita sem contestação 
3. Ideia ou preceito apresentados como irrefutáveis 
4. Em religiões, doutrina que se apoia na autoridade de sua fonte, que deve prevalecer sobre qualquer dúvida dos fiéis 
5. Hist. Na Grécia antiga, decisão de autoridade, o soberano ou assembleia 
[F.: Do gr. dógma, pelo lat. dogma.] 
 
 
21 Literatura Brasileira Colonial 
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se entende e nada se pergunta. Só os que querem crer, o aceitam e entendem, pois a lógica 
e a razão são secundárias E uma vez aceito e sentido, passa a ser vivenciado por aqueles 
que creem. 
 
A Eucaristia é o único sacramento instituído por Cristo: "Aquele que come Minha 
Carne e bebe Meu Sangue tem a vida eterna." Cristo está presente no sacramento do altar 
pela transubstanciação de toda a substância do pão em seu corpo e toda substância do 
vinho em seu sangue.” 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dogmas_da_Igreja_Cat%C3%B3lica 
 acesso em 17/05/20 
 
Observe os três pares de antíteses, ou seja, a oposição conceitual entre Matéria X 
Espírito, entre o real X e o milagre, entre o comum X a maravilha, entre o cotidiano X e o 
surpreendente 
 O COMUM, REAL A MARAVILHA / MILAGRE 
Matéria / ciência / história X Espírito/ metafísico 
Jesus Homem crucificado X Cristo sendo Jesus Ressuscitado 
Pão e vinho X Corpo e Sangue de Cristo 
 Hóstia X Cristo Eucarístico 
 
Os teólogos explicam como o Corpo de Cristo pode estar simultaneamente presente 
em diversas hóstias consagradas e em vários lugares ao mesmo tempo., pois Jesus não 
está presente na Eucarística conforme suas aparências, como o tamanho ou a localização 
no espaço. 
 
Uma vez que os fragmentos de pão ou de hóstia se multiplicam com a sua 
localização própria no espaço; assim onde quer que haja um pedaço de pão consagrado, 
está de fato, o Corpo Eucarístico de Cristo. Constata-se aqui o milagre de as partes serem 
o TODO,e o Todo ser as partes. 
É preciso, então, entender que a presença de Cristo Eucarístico pode se multiplicar, 
sem que o Corpo do Senhor se multiplique. Isso faz com que a presença do Cristo 
Eucarístico possa multiplicar (sem que o Corpo d’Ele se multiplique) se forem multiplicados 
os fragmentos de pão consagrados nos mais diversos lugares da Terra. Não há bilocação 
nem multilocação do Corpo de Cristo. Há sim um milagre, maravilha Desta feita, não se 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dogmas_da_Igreja_Cat%C3%B3lica
 
 
22 Literatura Brasileira Colonial 
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pode dizer que a tal fragmento da hóstia, uma parte dela corresponda a uma determinada 
parte do Corpo de Cristo. Os versos ganham sentido claro: 
O braço de Jesus não seja parte, 
Pois que feito Jesus em partes todo, 
Assiste cada parte em sua parte. 
 
Não se sabendo parte deste todo, 
Um braço, que lhe acharam, sendo parte, 
Nos disse as partes todas deste todo. 
O poeta chega à conclusão do raciocínio: 
1- Não há bilocação (estar em dois lugares ao mesmo tempo), nem multiplicação 
(estar em todos os lugares do Corpo de Cristo 
2- Em todas as partes ELE é TODO 
 
 E o leitor está impulsionado a ir além, numa lógica comum: 
Sem mãe não há filho 
Sem filho não há mãe. 
 
SE: Mãe e filho são inseparáveis. São um TODO. 
 
LOGO: Se Cristo é Salvador, Maria também Salva. 
 
Assim, a RETÓRICA empregada por um rebuscado processo de argumentação, 
chega ao ponto desejado pelo poeta: Propagar o pensamento da Contra Reforma que 
combatia a Reforma Protestante: Mãe e Filho são Salvadores dos homens. 
 
 
 
 
 
 
23 Literatura Brasileira Colonial 
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6. A HISTÓRIA DO FUTURO: O MESSIANISMO EM PE. VIEIRA 
 
“... não somos nós que temos um sonho, e sim o sonho que nos tem.” 
Teixeira Coelho - O que é Utopia - Série Princípios 
 
 “Para satisfazer, pois, à maior ânsia deste apetite [de saber o futuro] e para correr a 
cortina aos maiores e mais ocultos segredos deste mistério, pomos hoje no teatro do 
Mundo esta nossa História, por isso chamada do Futuro”. 
Pe.Vieira. 
Objetivo 
Prover os participantes de informações sobre o mito Sebastianista e sobre a História 
do Encoberto para tornarem-se aptos para dar significado à História do Futuro, obra de 
Vieira. 
 
 Sempre a humanidade constrói narrativas que projetam o sonho humano: o retorno 
ao Paraíso Perdido. Religiões, Teologias, Filosofia, Sociologia, enfim tanto Ciências e Fé 
religiosa nos projetam um futuro em que não haja dor, guerras, fome, sofrimentos e que a 
humanidade alcance o estado de um paraíso na terra. A esse discurso podemos nomear 
como utópico. 
 
Thomas More no romance filosófico escrito em 1516, Utopia empregou esta palavra, 
unindo duas palavras gregas: "ου" (não) e "τοπος" (lugar), para criar uma palavra tão viva 
ainda em nosso milênio. Se formos interpretar a palavra seguindo sua etimologia, Utopia 
significa um lugar que não existe na realidade, ou seja o não-lugar. 
 
No entanto, a obra tornou-se tão célebre que o termo foi considerado uma espécie 
de gênero de escrita caracterizado por conter como principal tema uma organização política 
e/ou social ideais: eutopia (Eu =bom ; Topos= Lugar : Lugar Bom), geralmente em 
contraponto a uma desorganização política e/ou social de tempos conturbados de pobreza 
extrema, injustiças e perda da liberdade: distopia (dis = mal + Topos = lugar: Lugar Ruim). 
 
Esse eixo temático que percorre a História da literatura portuguesa (Messianismo), 
chega ao Brasil por meio dos estudos de Pe. Antônio Vieira que em a História do Futuro 
 
 
24 Literatura Brasileira Colonial 
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traz ao Brasil essa narrativa mítica que vem sendo atualizada por vários movimentos 
insurgentes, como o de Antônio Conselheiro16, aqui no Brasil. 
 
A nossa herança Messianista foi anunciada em Portugal por Gonçalo Anes Bandarra 
(1500-1566) que profetizava a vinda de um Rei Messias. Bandarra era sapateiro do norte 
do Portugal, região onde os cristãos-novos17 eram numerosos. Desde o final do século 
XVI, as Trovas do Bandarra já circulavam no Brasil, e o espírito messiânico que as 
caracteriza ressurgiria séculos mais tarde em movimentos como o de António Conselheiro. 
Com o desaparecimento de D. Sebastião no Norte de África – o termo Sebastianismo passa 
a ser associado ao Messianismo e à profecia do Quinto Império. 
 
Afinal o desejado retorno de D. Sebastião, desaparecido na batalha de Alcácer 
Quibir, no norte de África com a aniquilação do exército português pelos mouros, passa a 
ser a narrativa de base para o mito. Essa volta de D. Sebastião alimentava no povo _ 
durante séculos _ a esperança que Portugal recuperaria seu esplendor das Conquistas na 
África e América e também sua independência do Reino da Espanha que dominou Portugal 
e suas colônias no Mundo até a Dinastia de Bragança, a quarta e última dinastia de reis e 
rainhas portugueses, que reinou em Portugal entre 1640 e 1910. 
 
 Resumindo: a cultura popular luso-brasileira alimenta em períodos sombrios, os 
mitos messianistas / sebastianistas que são narrativas da Utopia de haver uma salvação 
coletiva. Em outras palavras, em momentos de disforia coletiva (sofrimento coletivo) surge 
o discurso messiânico para anunciar uma visão eufórica do futuro. 
 
O pensamento profético do padre Antônio Vieira tem sido cada vez mais alvo de 
estudos. Intimamente relacionado a determinado período da história portuguesa – a perda 
da autonomia para os poderosos Felipes da Espanha. 
 
 
16 Foi um conflito no sertão baiano (1896 e 1897), que terminou com a destruição do povoado de Canudos – daí o nome da Guerra. 
Foi um grupo de sertanejos liderados por um líder religioso, Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro .A população 
miserável da região agregou-se em torno do beato Conselheiro, que havia passado anos pelo sertão pregando uma mistura de 
doutrina cristã e religiosidade popular criam na Volta do Messias para ter o Reino de Paz e Justiça. Á espera dessa utopia dá-se no 
nome de Messianismo, alimentado pela crença do povo judeu/ português. 
 
17 Cristão-novo ou Converso era a designação dada em Portugal aos judeus convertidos ao cristianismo e seus descendentes, em 
contraposição aos cristãos-velhos. A expressão foi difundida após a conversão forçada de judeus feita em 1497 pelo rei de Portugal, 
anos antes da instauração do Tribunal da Inquisição. Wikipédia 
 
 
25 Literatura Brasileira Colonial 
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O assunto principal desta obra era o surgimento do Quinto Império ou do Reino 
consumado de Cristo na Terra - este reino de mil anos duraria até à vinda do Anticristo e 
seria um reino universal, a abranger todos os continentes, todas as raças e todas as 
culturas; um reino cristão e católico, que havia de rematar a conversão dos hereges. Seria 
um reino de paz e harmonia regido por Cristo, sendo que o governo espiritual seria exercido 
pelo papa de Roma e o governo temporal por um rei português. 
 
 Parte desta obra foi encontrada no processo inquisitorial, onde fazem parte onze 
maços que o autor teve de entregar à Mesa da Inquisição no dia 14 de setembro de 1665. 
Estes fragmentos só foram editados no século XX. 
 
 História do Futuro tem um livro introdutório que fornece esclarecimentos 
preliminares sobre o espírito profético. É o chamado Livro Ante Primeiro, em que Vieira 
pretendeu definir as profecias e dividi-las em canônicas e não canônicas e, finalmente, 
demonstrar que o Reino de Portugal, desde a sua fundação, fora um dos temas prediletos 
dos diversos profetas. 
 
Deste livro constam 12 capítulos que tratam a "matéria, verdade e utilidade da 
História do Futuro". Vieira deu-lhe o subtítulo de "Esperanças de Portugal" que é uma 
exaltação da pátria portuguesa,escolhida entre todas as nações do Mundo para propagar 
a fé cristã, predestinada a "descobrir o mundo ao mesmo mundo. Esta crença de Portugal 
como Reino Eleito por Cristo revela o desejo português de hegemonia, algo que pode ser 
observado pelo tom de entusiasmo em trechos que se dirigem aos portugueses/Portugal, 
como se vê no fragmento a seguir: 
 (...) tudo o que leio de ti são grandezas, tudo que descubro melhoras, tudo o que 
alcanço felicidades. Isto é o que deves esperar, e isto o que te espera; por isso em 
nome segundo e mais declarado chamo a esta mesma escritura Esperanças de 
Portugal, e este é o comento breve de toda a História do Futuro. (...) a melhor parte 
dos venturosos futuros que se esperam, e a mais gloriosa deles, será não só própria 
da Nação portuguesa, senão única e singularmente sua. Portugal será o assunto, 
Portugal o centro, Portugal o teatro, Portugal o princípio e fim destas maravilhas; e 
os instrumentos prodigiosos delas os Portugueses. Pe Antônio Vieira 
 
A História do futuro, de Vieira, apresenta elementos da Retórica do discurso 
messiânico, isto é, um conjunto de recursos estilísticos ligados ao fazer crer e que fazem 
parte da identificação com os jogos lógicos -discursivos do messianismo. Tal discurso 
nasce de um contexto histórico -social da Europa do século XVII, ameaçada tanto pela 
expansão do império Turco-Otomano, quanto pela pressão da Espanha sobre Portugal. Ao 
 
 
26 Literatura Brasileira Colonial 
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ver a vulnerabilidade do reino, do império e do povo, o jesuíta vaticina O Quinto Império18, 
ou seja, uma sociedade cristã/católica, livre dos conflitos da Europa e livre da expansão do 
Império Turco e do Islã. Desta feita, os cristãos portugueses oprimidos pelos conflitos, pela 
pressão espanhola. sobre o reino e pela perda do poder e tendo passadas as conquistas 
marítimas. A estes desesperançados, o pregador Vieira dirige um discurso com predições 
que anuncia uma próxima plenitude, trazida por um virtual advento do Império do Cristo 
sobre a Terra, império cuja liderança caberia a Portugal. 
 
E assim, passados os quatro 
Tempos do ser que sonhou, 
A terra será teatro 
Do dia claro, que no atro 
Da erma noite começou. 
 
Grécia, Roma, Cristandade, 
Europa — os quatro se vão 
Para onde vai toda idade. 
Quem vem viver a verdade 
Que morreu D. Sebastião? 
Quinto Império in Mensagem de 
Fernando Pessoa 21-2-1933 
 
 
 
 
 
 
 
18 Padre Vieira fez uma interpretação do sonho bíblico para dar o significado dos reinos não revelados 
por Daniel ao rei. A cabeça de ouro seria os Assírios, conforme já indicado por Daniel; os peitos e braços de 
prata seriam os Persas; o ventre de bronze, os Gregos; as pernas e os pés de metal e barro, seria os 
Romanos; e por fim a pedra, seria o quinto e último império, seria o Império Português. 
 
 
27 Literatura Brasileira Colonial 
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7. ILUMINISMO, NEOCLASSICISMO E ARCADISMO 
“A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade 
deprava-o e torna-o miserável.” 
 
“Os homens dizem que a vida é curta, e eu vejo que eles se 
esforçam para a tornar assim.” 
 Jean-Jacques Rousseau 
Objetivo 
Estabelecer paralelos e realizar a interrelação entre as três concepções oriundas da 
França e que alimentaram a Filosofia, as Artes e até inspiraram transformações políticas, 
tanto na Europa como nas Américas. 
 
• Iluminismo representa amplo movimento, que sintetiza tradições filosóficas, 
correntes intelectuais e atitudes religiosas. Movimento de ideias ocorrido no 
século XVIII, na Europa Ocidental, mas foi na França que ele se consolidou. 
conhecido como Século das Luzes. 
 
A origem do nome vem do latim “lumini” que quer dizer luz. Também conhecido como 
filosofia das luzes, ilustração, esclarecimento, pois que o ser humano descobriu que através 
de sua razão ele chega ao conhecimento. Na época, expressou um pensamento que todos 
os seres humanos poderiam transformar o mundo em um lugar melhor, mediante o estudo 
das ciências e do engajamento político-social. E as críticas ao movimento ao Antigo Regime 
monárquico, eram também contra o Mercantilismo, Absolutismo e poder da igreja e das 
verdades reveladas pela fé. 
 
Com base nos três pontos acima, o Iluminismo defendia: 
• A liberdade econômica, ou seja, sem a intervenção do estado na economia. 
• O Antropocentrismo, ou seja, o avanço da ciência e da razão. 
• O predomínio da burguesia e seus ideais. 
 
Tanto que grandes mudanças sociais aconteceram tais como a Revolução Francesa 
que se inspirou nos ideais iluministas e a Independência dos Estados Unidos. Alguns reis 
absolutistas, com medo de perder o governo passaram a aceitar algumas ideias iluministas. 
Estes reis eram denominados Déspotas Esclarecidos. 
 
 
 
28 Literatura Brasileira Colonial 
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• Neoclassicismo (novo classicismo) representa um movimento artístico e 
cultural que envolveu a literatura, a pintura, a escultura e a arquitetura. Recebe 
esse nome uma vez que esteve baseado nos ideais clássicos. Trata-se de um 
movimento de oposição aos exageros, rebuscamentos e complexidades do 
Barroco. 
 
Ele surge após a Revolução Francesa (1789), no início da Revolução Industrial e no 
contexto do Iluminismo chamado de “Era da Razão”., portanto esse dois termos, podem ser 
encontrados para a mesma postura cultural, no entanto aplicados em contextos diferentes: 
Neoclássico é empregado nos contexto das artes. E apresenta mais alguns paradigmas 
que foram adotados. Ou seja: a valorização do passado histórico; influência da arte clássica 
(greco-romana); harmonia e beleza estética; uso da proporção e da clareza; simplicidade e 
equilíbrio das formas; imitação da natureza, racionalismo e idealismo. 
 
• No Arcadismo os autores pouco utilizam efeitos estilísticos para demonstrar 
habilidades de inteligência, aproximaram-se assim, da linguagem denotativa. 
 
Para os árcades, a arte apresenta um fim didático e moralizante; a poesia prima pela 
descrição objetiva das situações; assim, o poeta deve procurar, ao máximo, conter as 
emoções, evitando, também, os aspectos cruéis da realidade. Outra grande diferença 
entre a linguagem do barroco e do arcadismo é que enquanto no barroco o uso de figuras 
de linguagem é recorrente (antítese, hipérbole, paradoxo, etc.), os poetas árcades 
empregam a linguagem denotativa. 19 Importante notar que os escritores árcades, 
prezavam pela simplicidade da linguagem, expressas sobretudo nos sonetos de versos 
decassílabos. 
 
Além disso, eram chamados de “Poetas Fingidores” ou “Poetas Pastores” Visto que 
utilizavam pseudônimos (nomes artísticos, de pastores mencionados na poesia grega ou 
latina) em suas obras simulando sentimentos poéticos bem como imitavam os clássicos 
renascentistas. 
 
19 v íncu lo d i re to de s ign i f i c ação (sem sent idos der iva t i vos ou f i gurados) que um nome es tabe lece com um 
ob je to da rea l idade. h t tps : / /www.google .com/ 
 
 
29 Literatura Brasileira Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Lembre-se que o Arcadismo (também chamado de Setecentismo ou 
Neoclassicismo), tem a influência Iluminista e representou um movimento artístico-literário 
que vigorou no século XVIII no Brasil e no Mundo. 
 
Lembre-se que o Iluminismo francês possuía três pilares que influenciaram a 
maneira de se expressar dos poetas árcades: natureza, razão e verdade. Em síntese: as 
principais características do arcadismo são: o retorno ao clássico (cultura greco-romana), 
o bucolismo, o pastoralismo, a idealização amorosa e a escolha de temas cotidianos e 
relacionados com a natureza. 
 
Vale lembrar que o nome dessa escola literária provém das Arcádias, ou seja, das 
sociedades literárias da época. A Arcádia Romana, criada na Roma, em 1690.O Arcadismo 
em Portugaliniciou-se no século XVIII, com a fundação da Arcádia Lusitana que procurava 
seguir os mesmos valores, O termo Arcádia remete à ideia de vida rústica e em harmonia 
com a natureza. Os escritores idealizavam a vida na região montanhosa e no campo, 
autodenominando-se pastores e referindo-se às mulheres como pastoras. No Brasil, o 
Arcadismo teve como marco inicial a fundação da “Arcádia Ultramarina”, em Vila Rica. 
 
Jean-Honoré Fragonard - O Balanço - 1766 
 
Na obra árcade, depara-se expressões latinas que sintetizam conceitos clássicos. 
Vejamos: 
 
Fugere Urbem: Fuga da cidade, ou seja, expressa por uma vida simples, bucólica e 
pastoril no campo, em detrimento de uma vida urbana e materialista. 
 
 
30 Literatura Brasileira Colonial 
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Locus Amoenus: Lugar ameno e agradável, ou seja, um lugar para viver que seja 
longe dos centros urbanos, onde reina a paz. 
Aurea Mediocritas: Equilíbrio de ouro, ou seja, expressa a tranquilidade e a paz, 
rica em aspectos espirituais donde se idealiza a vida mais simples no campo. 
Inutilia Truncat: Cortar o inútil e buscar o equilíbrio, ou seja, denota a simplicidade 
da linguagem árcade em contraposição à linguagem rebuscada e culta do barroco. 
Carpe Diem: Aproveite o momento e a vida, ou seja, termo expresso para indicar a 
efemeridade do tempo. 
 
 É importante registrar que o Arcadismo lusitano exerceu grande influência estética 
e ideológica. Para exemplificar veremos um soneto de Manuel Maria de Barbosa du 
Bocage, considerado um dos principais autores do arcadismo português. Adotou 
o pseudônimo Elmano Sadino. 
Olha, Marília, as flautas dos pastores 
Que bem que soam, como estão cadentes! 
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes 
Os Zéfiros brincar por entre as flores? 
 
Vê como ali beijando-se os Amores20 
Incitam nossos ósculos ardentes! 
Ei-las de planta em planta as inocentes, 
As vagas borboletas de mil cores. 
 
Naquele arbusto o rouxinol suspira, 
Ora nas folhas a abelhinha para, 
Ora nos ares sussurrando gira. 
 
Que alegre campo! Que manhã tão clara! 
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira, 
Mais tristeza que a noite me causara. 
Manuel Maria de Bocage 
 
 Bocage como um escritor árcade está preocupado em ser simples, racional, 
inteligível. E para atingir esses requisitos imitou autores consagrados da Antiguidade, 
preferencialmente os pastoris. Só a imitação dos clássicos asseguraria a vitalidade, o 
racionalismo e a simplicidade da manifestação literária. Daí a contínua utilização da 
mitologia clássica como recurso poético, representando outra convenção, tornada 
obrigatória pelo prestígio dos modelos antigos. 
 
 
 
20 Zéf i ro : a person i f i cação mi to lóg ica desse vento . Amores : E ros na mi to l og ia g rega e Cupido na mi to l og ia 
la t ina 
 
 
31 Literatura Brasileira Colonial 
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8. ARCADISMO BRASILEIRO. CLÁUDIO MANUEL DA COSTA 
 “O desenvolvimento econômico proporcionado pelo ouro e 
pelos diamantes, forma uma agitada vila com intensa vida 
urbana e cultural que assistirá ao surgimento de oficiais como 
Aleijadinho e de poetas como o bacharel Cláudio Manuel da 
Costa e do ouvidor de Vila Rica, Tomas Antônio Gonzaga. 
 Cândida Vilares Gancho, e V Toledo, 1991. 
 
Objetivo 
Oferecer aos participantes, conhecimentos prévios de diferentes áreas do 
conhecimento (históricas, filosóficas e estéticas) a fim de subsidiar o letramento literário. 
 
No Brasil, o Arcadismo surge na segunda metade do século XVIII, mais precisamente 
em 1768, com a fundação da “Arcádia Ultramarina”, em Vila Rica, e a publicação de “Obras 
Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa. 
 
 Para se entender o contexto histórico é bom lembrar a descoberta do ouro na região 
de Minas Gerais, em fins do século XVII, o que deu início a grandes mudanças na sociedade 
colonial brasileira. A busca do metal desloca para montanhas da atual Minas Gerais, até 
então desertas, uma multidão de aventureiros paulistas, baianos e, em seguida, 
portugueses. Com a riqueza, os primeiros acampamentos de mineiros transformam-se 
rapidamente em cidades. 
 
 A princípio, o ouro parece ser suficiente para todos, pois enriquece os mineiros, os 
comerciantes, os tropeiros e, acima de tudo, o reino português. Centenas de toneladas do 
de ouro são levadas para o luxo, o desperdício e a ostentação da Corte. Parte considerável 
deste ouro vai parar na Inglaterra, financiando a Revolução Industrial, na medida em que o 
domínio comercial dos ingleses sobre a economia portuguesa era absoluto. Jovens de 
famílias abastadas iam estudar em Coimbra, de onde trouxeram o novo ideário iluminista. 
 
Contudo, a partir da segunda metade do século XVIII, a produção aurífera começa a 
cair e as minas dão sinais de esgotamento. Se não bastasse esse horizonte sombrio, o 
Marquês de Pombal, primeiro-ministro português e representante do despotismo 
esclarecido, inicia uma série de reformas para salvar Portugal da decadência e aumenta de 
maneira brutal os impostos e realiza a expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas. 
 
 
32 Literatura Brasileira Colonial 
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Cada vez mais endividada, a Coroa aumenta ainda mais a pressão econômica sobre a 
Colônia: Além dos pesados impostos, surge a proibição de qualquer atividade industrial na 
colônia, fato que determinou o aumento da dependência do Brasil 21 junto à indústria 
europeia. 
 
O crescente endividamento dos proprietários de minas com a Coroa aumenta a 
revolta contra Portugal. Ainda mais com o sucesso da Independência Americana de 1776 - 
inspiradora das ideias revolucionárias - vozes começam a se insurgir em favor da Liberdade 
do Brasil da Metrópole. 
 
 Era o pensamento iluminista infiltrando-se na sociedade letrada através de livros 
que circulavam clandestinamente por Vila Rica e outras cidades. Desta forma, os fatos 
estimulam os membros das elites e alguns representantes populares ao levante de 1789, 
conhecido por Inconfidência Mineira. 
 
imagem da Internet 
 
Em 1768, dera-se a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa. Os 
autores árcades, em geral, viveram na cidade de Vila Rica, onde hoje fica Ouro Preto (MG). 
Alguns desses escritores participaram inclusive da Inconfidência, assim como 
Tiradentes (o único dos envolvidos na Inconfidência Mineira a ser condenado à morte, 
 
21 Lembrar da Revo lução indus t r ia l que se dava na Ing la te r ra ; 
 
 
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tornando-se mártir posteriormente), os escritores foram presos após Joaquim Silvério dos 
Reis delatá-los. Como punição, Tomás Antônio Gonzaga foi exilado em Moçambique, e 
Cláudio Manuel da Costa, supostamente, suicidara-se na prisão. 
 
Os escritores árcades adotavam pseudônimos e o de Cláudio Manuel da Costa era 
Glauceste Satúrnio, um pastor que amava sua musa, Nise. As principais obras de Cláudio 
Manuel da Costa são: Labirinto de Amor (1753), Obras Poéticas (1768) e Vila Rica (1773). 
 
 A Crítica Literária aponta sistematicamente as seguintes características nas obras: 
Linguagem simples, temática lírica, bucolismo22, pastoralismo, culto à natureza. 
 
Para contatação do que vem sendo apontado, apresenta-se dois Soneto do poeta 
Árcade. 
SONETO XIV 
Quem deixa o trato pastoril amado 
Pela ingrata, civil correspondência, 
Ou desconhece o rosto da violência, 
Ou do retiro a paz não tem provado. 
 
Que bem é ver nos campos transladado 
No gênio do pastor, o da inocência! 
E que mal é no trato, e na aparência 
Ver sempre o cortesão dissimulado! 
 
Ali respira amor sinceridade; 
Aqui sempre a traição seu rosto encobre; 
Um só trata a mentira, outro a verdade. 
 
Ali não há fortuna, que soçobre; 
Aqui quanto se observa, é variedade: 
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!https://www.policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/ctpmbarbacena/26112018114300623.pdf 
 
Trata-se de um soneto de temática lírica que conserva a forma do soneto 
decassílabo italiano (dois quartetos e dois tercetos. Com rimas A-B-A-B / B-A-B-A / C-D-C-
D-C-D . O tema do soneto é a contradição entre tranquilidade do campo e corrupção da 
vida urbana. Nos primeiros versos, há uma metáfora 'Rosto da violência'(1 estrofe, 3 verso) 
que mostra o quão ruim é para o eu-lírico afastar-se do campo. É o campo que sintetiza 
toda a idealização do Fugere Urbem, do Locus Amoenus e da Aurea Mediocritas. 
 
22 Qual idade, cond ição do que é bucó l i co2. Es t i lo poét ico e l i t e rár io l i gado a temas pas to r is .Caráte r pas tor i l 
de cer t as obras ar t í s t i cas . 
https://www.policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/ctpmbarbacena/26112018114300623.pdf
 
 
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O tema do soneto é a contradição entre tranquilidade do campo e corrupção da vida 
urbana. Nos primeiros versos, há uma metáfora 'Rosto da violência'(1 estrofe, 3 verso) que 
mostra o quanto é ruim para o eu-lírico afastar-se do campo. Alguns outros versos, retratam 
a calmaria trazida pela simplicidade da área afastada da cidade. É no lugar sereno no 
campo que se encontra a felicidade. 
 
Para o ensino da literatura sempre é uma forma de motivação, aproximar temáticas 
e estéticas do milênio passado com o atual. Leia a letra de música de Peninha e depois 
ouça para experimentar a sensação e a emoção do Fugere Urbem. 
 
Casinha Branca - Peninha 
Eu tenho andado tão sozinho ultimamente 
Que nem vejo à minha frente 
Nada que me dê prazer 
Sinto cada vez mais longe a felicidade 
Vendo em minha mocidade 
Tanto sonho perecer 
 
Eu queria ter na vida simplesmente 
Um lugar de mato verde 
Pra plantar e pra colher 
Ter uma casinha branca de varanda 
Um quintal e uma janela 
Para ver o sol nascer 
 
Às vezes saio a caminhar pela cidade 
À procura de amizades 
Vou seguindo a multidão 
Mas eu me retraio olhando em cada rosto 
Cada um tem seu mistério 
Seu sofrer, sua ilusão 
 
 Sugiro que você veja e ouça a canção para perceber que arte exige a experiência 
sensorial e emocional. Vamos visitar o nosso Locus Amoenus? 
https://www.youtube.com/watch?v=mGcDHfyYMZM acesso em 16-05-2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=mGcDHfyYMZM
 
 
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9. ARCADISMO BRASILEIRO. TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA 
 
Para viver feliz, Marília, basta 
Que os olhos movas, e me dês um riso. 
Objetivo 
Com o estudo da obra de Tomás Antônio Gonzaga, formar uma visão de conjunto 
das vozes poéticas: a do Pastor Dirceu e a do cidadão formado em Coimbra que o coloca 
em contato com as ideias libertárias do Iluminismo. 
 
Tomás Antônio Gonzaga nasceu em Porto, Portugal, no dia 11 de agosto de 1744. 
Seu pai era um magistrado brasileiro. Quando retornou ao Brasil, como Ouvidor de 
Pernambuco, Tomás estava com sete anos de idade. Para tanto este conteúdo ficará 
completo com a Videoaula 9. 
 
Tomás iniciou seus estudos com os jesuítas na Bahia, até 1761. Com 17 anos foi 
estudar na Universidade de Coimbra. Já formado em Direito, aos 24 anos, redigiu uma tese 
para habilitar-se ao cargo de professor, hoje publicada como "Tratado de Direito Natural”. 
Em 1782, já no Brasil, foi indicado para ocupar o cargo de Ouvidor Geral na comarca de 
Vila Rica (atual Ouro Preto), em Minas Gerais. 
 
A Inconfidência Mineira, também chamada de Conjuração Mineira, foi a 
conspiração de uma pequena elite de Vila Rica - atual Ouro Preto (MG) -, ocorrida em 1789, 
contra o domínio português. Desse grupo, fizeram parte intelectuais, religiosos, militares e 
fazendeiros, dentre os quais estava o alferes Joaquim José da Silva Xavier, sempre 
lembrado como principal líder do movimento. O motivo principal da Inconfidência foi a 
questão da derrama. Tratava-se de uma operação fiscal realizada pela Coroa portuguesa 
para cobrar os impostos atrasados. O chamado quinto, como o próprio nome já indica, 
correspondia à cobrança de 20% (1/5) sobre a quantidade de ouro extraído anualmente. 
Quando o quinto não era pago, os valores atrasados iam se acumulando. Então, a 
Metrópole podia lançar mão da "derrama" para cobrar esses impostos, utilizando-se até 
mesmo do confisco dos bens dos devedores. 
A elite econômica de Minas Gerais, insatisfeita com os impostos cobrados pela 
Coroa portuguesa iniciaram a Conspiração na década de 1780. Por causa da insatisfação 
 
 
36 Literatura Brasileira Colonial 
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com os impostos, a maioria dos envolvidos na revolta defendiam ideais de separatismo e a 
transformação de Minas Gerais em uma república. 
 
O momento crítico aconteceu quando Luís da Cunha Meneses e Visconde de 
Barbacena foram governadores de Minas Gerais. O primeiro prejudicou os interesses da 
elite mineira em detrimento dos seus próprios interesses. O segundo implementou a 
derrama, uma cobrança obrigatória de imposto sobre o ouro. 
 
Isso enfureceu a elite mineira porque a extração de ouro estava em queda naquele 
momento. Com isso, os preparativos para iniciar uma revolta contra Portugal foram 
antecipados e marcados para o dia em que a derrama acontecesse. 
 
Além da questão fiscal, os inconfidentes também foram motivados pelo Iluminismo, 
que defendia ideais como os direitos do homem e sua igualdade perante a lei. 
 
A questão da escravidão não era unanimidade entre os inconfidentes: alguns 
defendiam a abolição do trabalho escravo, enquanto outros defendiam sua manutenção. 
Depois que o movimento fosse iniciado em Vila Rica, os inconfidentes planejavam espalhá-
lo por toda Minas Gerais. A estratégia para derrotar Portugal era impor uma guerra de 
desgaste que prejudicaria a economia portuguesa, forçando o país a reconhecer a 
independência de Minas Gerais. A revolta em si, entretanto, nunca chegou a acontecer. 
 
 As novas ideias políticas do Século das Luzes trariam consequências para o 
posicionamento dos intelectuais que tiveram a ousadia de planejar um levante contra a 
autoridade da Coroa Portuguesa. 
 
 Vê-se que ao lado efervescência intelectual da política e os riscos de afrontar a 
metrópole não diminuíram o enlevo poético provocado pelo simples, pelo bucolismo, pelo 
amor idealizado que percorrem a produção literária dos intelectuais inconfidentes. O amor 
do Pastor pela pastora ocupa grande parte da estética mineira. 
 
O poema autobiográfico Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga foi obra 
essencial do arcadismo brasileiro. Dividido em três partes, foi escrito e divulgado em 
diferentes momentos da vida do escritor. A publicação saiu em 1792 (primeira parte), em 
1799 (segunda parte) e em 1812 (terceira parte). 
 
 
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LIRA II 
 
Pintam, Marília, os Poetas 
A um menino vendado, 
Com uma aljava de setas, 
Arco empunhado na mão; 
Ligeiras asas nos ombros, 
O tenro corpo despido, 
E de Amor, ou de Cupido 
São os nomes, que lhe dão. 
Porém eu, Marília, nego, 
Que assim seja Amor; pois ele 
Nem é moço, nem é cego, 
Nem setas, nem asas tem. 
Ora pois, eu vou formar-lhe 
Um retrato mais perfeito, 
Que ele já feriu meu peito; 
Por isso o conheço bem. 
Os seus compridos cabelos, 
Que sobre as costas ondeiam, 
São que os de Apolo mais belos; 
Mas de loura cor não são. 
Têm a cor da negra noite; 
E com o branco do rosto 
Fazem, Marília, um composto 
Da mais formosa união. 
 
 
38 Literatura Brasileira Colonial 
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Tem redonda, e lisa testa, 
Arqueadas sobrancelhas; 
A voz meiga, a vista honesta, 
E seus olhos são uns sóis. 
Aqui vence Amor ao Céu, 
Que nodia luminoso 
O Céu tem um Sol formoso, 
E o travesso Amor tem dois. 
Na sua face mimosa, 
Marília, estão misturadas 
Purpúreas folhas de rosa, 
Brancas folhas de jasmim. 
Dos rubins mais preciosos 
Os seus beiços são formados; 
Os seus dentes delicados 
São pedaços de marfim. 
Mal vi seu rosto perfeito 
Dei logo um suspiro, e ele 
Conheceu haver-me feito 
Estrago no coração. 
Punha em mim os olhos, quando 
Entendia eu não olhava: 
Vendo o que via, baixava 
A modesta vista ao chão. 
Chamei-lhe um dia formoso: 
Ele, ouvindo os seus louvores, 
Com um gesto desdenhoso 
Se sorriu, e não falou. 
Pintei-lhe outra vez o estado, 
Em que estava esta alma posta; 
Não me deu também resposta, 
Constrangeu-se, e suspirou. 
Conheço os sinais, e logo 
Animado de esperança, 
Busco dar um desafogo 
 
 
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Ao cansado coração. 
Pego em teus dedos nevados, 
E querendo dar-lhe um beijo, 
Cobriu-se todo de pejo, 
E fugiu-me com a mão. 
Tu, Marília, agora vendo 
De Amor o lindo retrato, 
Contigo estarás dizendo, 
Que é este o retrato teu. 
Sim, Marília, a cópia é tua, 
Que Cupido é Deus suposto: 
Se há Cupido, é só teu rosto, 
Que ele foi quem me venceu. 
 
Desenho feito a partir da descrição do poema 
 
Os versos de Marília de Dirceu fazem referência ao amor proibido de Maria Joaquina 
Dorotéia Seixas e do poeta, que se vê refletido nos versos como o pastor Dirceu. Portanto, 
Dirceu é sujeito lírico de Gonzaga que canta seu amor pela pastora Marília, sujeito lírico de 
Maria Joaquina e as musas eram vistas como pastoras. 
 
A jovem é idealizada pela sua beleza, assim como o cenário onde os dois se 
encontram. A paisagem bucólica do campo é igualmente louvada: 
 
 
 
 
 
 
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Parte I, Lira I 
“Os teus olhos espalham luz divina, 
A quem a luz do Sol em vão se atreve: 
Papoula, ou rosa delicada, e fina, 
Te cobre as faces, que são cor de neve. 
Os teus cabelos são uns fios d’ouro; 
Teu lindo corpo bálsamos vapora. 
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora, 
Para glória de Amor igual tesouro. 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela!” 
 
E para mantermos nossa linha de trabalho metodológico, trago uma canção do 
genuíno repertório da música popular brasileira de 1953.Duas Contas do compositor 
Garoto, interpretada por Gal Costa e nas Violas Raphael Rabello numa apresentação 
magnifica em contraponto, ou seja: a arte de sobrepor uma melodia a outra; o conjunto de 
técnicas composicionais da polifonia. 
Teus olhos 
São duas contas pequeninas 
Qual duas pedras preciosas 
Que brilham mais que o luar 
São eles 
Guias do meu caminho escuro 
Cheio de desilusão 
E dor 
Quisera que eles soubessem 
O que representam pra mim 
Fazendo 
Que eu prossiga feliz 
Ai, amor 
A luz dos teus olhos. 
Ouça em :https://www.youtube.com/watch?v=nr0k_xPX8Ko acesso em 17?05/ 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=nr0k_xPX8Ko
 
 
41 Literatura Brasileira Colonial 
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BINET, Ana Maria. A inconfidência mineira: literatura e história em dois 
tempos in 
 BOTON, Flavio Felicio. A inconfidência mineira: literatura e história em dois 
tempos 
 in file:///C:/Users/Innove/Downloads/10177-34153-1-PB.pdf acesso em 
18/05/2020 
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 
1992. 
CARLSON, Marvin. Teorias do teatro. Estudo histórico-crítico dos gregos à 
atualidade. Trad. Gilson César Cardoso de Souza. São Paulo: Ed. da Unesp, 
1997.(Prismas). 
RODRIGUES André Figueiredo, PAULA, Roberta Albino Oliveira. A 
representação de Nice na poesia de Cláudio Manuel da Costa de Paula.in 
http://www.histoecultura.com.br/artigos/04/AFR%20AGL%202013.pdf 
acesso em 18/05/2020 
 VICENTE, Gil. Três autos. Da alma, da barca do inferno, de Mofina Mendes. 
Adaptação de Walmir Ayalla. Rio de Janeiro: Ediouro, 1962. (Coleção 
Prestígio). 
 
Fontes digitais: 
http://literarizando.blogspot.com.br/2006/09/sobre-caramuru.html 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Rita_Dur%C3%A3o 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caramuru_(livro) 
https://www.passeiweb.com/estudos/livros/caramuru

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