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27 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e 5 CORRETAGEM 5.1 CONCEITO E DISTINÇÃO COM OUTRAS FIGURAS CONTRATUAIS ANÁLOGAS Nos termos do art. 722 do CC, “pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas”. Trata-se de mais um contrato de intermediação. De um lado, temos o corretor, que se obriga aproximar pessoas a fim de que celebrem determinado negócio/contrato; e, de outro, o comitente, que é aquele que contrata tal intermediação (atenção para não confundir com o comitente do contrato de comissão). O próprio texto legal procurou distinguir o contrato de corretagem de outras figuras contratuais análogas, tais como: - mandato => no mandato, o mandatário pratica atos pelo mandante, na qualidade de representante; já na corretagem, o corretor apenas aproxima (intermedeia) as partes, sem qualquer poder decisório ou de representação. - prestação de serviços => em que pese se aproxime muito da corretagem (afinal, a atividade do corretor não deixa de ser um serviço prestado ao comitente), esta tem especificidades que a distingue da prestação de serviços, como a profissionalidade do corretor e a finalidade específica da corretagem (realizar determinado negócio jurídico). Além do mais, o prestador de serviço age em nome próprio, enquanto o corretor apenas medeia as partes, não concretizando o negócio. - comissão => o comissário age também em nome próprio, celebrando o negócio no interesse do comitente; mas o corretor apenas encaminha o contrato ao principal interessado e aproxima o contratante aos demais interessados, cabendo a este a conclusão do negócio. - contrato de emprego => a corretagem não se confunde com o contrato de emprego pois não há subordinação jurídica, ainda que seja uma relação de trabalho no sentido amplo1. Outra diferença é que o corretor só será remunerado se o negócio jurídico intermediado se concretizar, ou seja, trata- se de obrigação de resultado; já, no contrato de emprego, empregado faz jus ao salário em razão da energia dispendida em favor do patrão, independentemente de resultados. 1 Qualquer conflito entre o corretor, pessoa física (e não jurídica, como imobiliária constituída em forma de socieda de ), e aqueles que se beneficiam do contrato por este negociado, será de competência da Justiça do Trabalho (art. 114, I, CF, redação dada pela EC n. 45). Entre estes conflitos cita-se a discussão quanto ao valor do serviço realizado, se obtido o resultado, ou então discussões relacionadas à responsabilidade do corretor, se, por ação ou omissão, resultar perda ao contratante, que pode acontecer com frequência no caso de corretagem de artista ou atletas profissionais. 28 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e 5.2 ESPÉCIES Há duas espécies ou tipos de corretagem: a) corretagem oficial => praticada por corretores investidos de ofício público, gozando de prerrogativas, como fé pública. b) corretagem livre => praticada por qualquer pessoa capaz, que exerce o ofício de intermediador continuadamente, não dependendo de designação oficial. Exemplos: corretores de espetáculos públicos e diversões; de empréstimos de obras de arte; de automóveis; de artista; de esportistas; de bens móveis; corretores de bens imóveis. Especificamente quanto ao corretor de imóveis, vale registrar que, apesar de estar disciplinado em lei específica (Dec. nº 81.871/78), é considerado modalidade de corretagem livre, pois sua atividade não se enquadra como um ofício público. 5.3 CARACTERÍSTICAS O contrato de corretagem caracteriza-se por ser tratar de um contrato: ✓ típico e nominado => previsto dos arts. 722 a 729, CC; ✓ bilateral => há direitos e obrigações para ambos os contratantes: de um lado, o corretor, que assume a obrigação de resultado de mediar a realização de um negócio jurídico; e, de outro, o comitente, que contrata tal intermediação. ✓ oneroso => apesar de que a remuneração do corretor dependerá da concretização do negócio jurídico intermediado. ✓ aleatório => pois a obrigação do comitente somente poderá ser exigida em função da concretização do negócio. ✓ paritário ou por adesão ✓ consensual e não solene => se concretiza com a simples declaração de vontade, podendo ser até verbal. ✓ personalíssimo (ou intuitu personae) => celebrado em razão da pessoa do contratante, que tem influência decisiva para consentimento do outro, para quem interessa que a prestação seja cumprida por ele próprio, pelas características peculiares (habilidade, experiência, técnica, idoneidade etc). ✓ de duração => pois as obrigações do corretor se cumprem por meio de atos reiterados, na busca, diligente e prudente, da realização do negócio pretendido. ✓ causal => se os seus motivos determinantes foram inexistentes, ilícitos ou imorais podem impor o reconhecimento de sua invalidade. 29 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e ✓ de atividade => implica a prestação de uma conduta de fato, ou seja, vincula-se à realização de uma finalidade proposta, gerando uma obrigação de resultado. ✓ acessório => depende da celebração do negócio jurídico objetivado (entre as partes, e não pelo corretor) para configurá-lo. Dessa forma, a nulidade do negócio principal implicará na nulidade da corretagem. ✓ definitivo => em relação ao corretor e o comitente, mesmo tendo a sua produção de efeitos, para fins remuneratórios, condicionada ao contrato principal. 5.4 DIREITOS E DEVERES DAS PARTES Por ser um contrato de resultado, cuja remuneração está condicionada à concretização do negócio principal, a princípio o contrato de corretagem gera obrigações apenas ao corretor. De acordo com o art. 723, “o corretor é obrigado a executar a mediação com diligência e prudência, e a prestar ao cliente, espontaneamente, todas as informações sobre o andamento do negócio”, sob pena de responder por perdas e danos (parágrafo único). Dessa forma, todo o risco da atividade é do corretor, que deve buscar, de todas as formas, a realização do negócio. Isso decorre do princípio da boa-fé objetiva. Por outro lado, o dever do comitente surgirá se o negócio jurídico pretendido for celebrado, caso em que deverá arcar com a remuneração do corretor. Vale registrar que, se tiver estabelecida cláusula de exclusividade na corretagem, a qual deverá ser expressa e específica, o comitente deverá observá-la, sob pena de arcar com o valor da remuneração, mesmo que o negócio principal seja realizado por outro corretor, em preterição do corretor exclusivo, salvo se comprovada a sua inércia ou ociosidade (art. 726). Em outras palavras, a cláusula de exclusividade faz pressupor a existência do direito do corretor à remuneração, enquanto exigível o contrato, cabendo ao comitente o ônus de prova que o corretor descumpriu a sua obrigação básica de atuar com diligência e prudência. 5.4.1 A remuneração do corretor A remuneração do corretor é conhecida como comissão, preço ou corretagem, sendo devida apenas após a conclusão do negócio principal. Impossível se cogitar um contrato de corretagem gratuito, vez que a própria lei, a saber, o art. 724, estabelece que, na ausência de estipulação, a remuneração deve ser arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais. 30 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o mu m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e Se o corretor desempenhou suas atividades de mediação e conseguiu concluir o negócio jurídico, terá o direito à remuneração, ainda que as partes venham a se arrepender ou realizar o distrato (art. 725), posto que a obrigação de resultado se perfaz. A remuneração é devida, inclusive, na hipótese de extinção do contrato de corretagem, desde que haja a celebração posterior do negócio principal, fruto do trabalho do corretor. EM SUMA: “a ocorrência de situações supervenientes como o distrato ou mesmo o exercício do direito de arrependimento não podem afetar o direito adquirido do corretor à sua retribuição” (GAGLIANO, PAMPLONA, 2004, p. 318). Atenção: não confundir arrependimento com desistência, porque o arrependimento pressupõe o negócio já celebrado; e a desistência, não, pois se situa em fase pré-contratual, não tendo sido ainda celebrado o negócio principal. Neste caso, não há que se falar em comissão (remuneração). Por fim, merece destaque o art. 728 do CC, o qual, se interpretado literalmente, pode conduzir a diversas injustiças. É que o referido dispositivo legal estabelece que “se o negócio se concluir com a intermediação de mais de um corretor, a remuneração será paga a todos em parte iguais, salvo ajuste em contrário”. Todavia, sabemos que, não raras às vezes, vários corretores podem ter participado dos diversos atos que envolve a prática da corretagem (mediação conjunta), de modo um pode ter feito só primeiro contato, e o segundo feito todo o restante do trabalho de aproximação e convencimento das partes, ou vice-versa. Nessas situações, evidentemente que retribuir ambos os corretores em partes iguais é totalmente desarrazoado e injusto, devendo se interpretar a expressão “salvo ajuste em contrário” de forma ampla, a abranger um ajuste tácito de proporcionalidade de pagamento pela atuação de cada corretor. Logo, o pagamento igual para todos os corretores só deve ser feito quando for impossível a comprovação de divisão das tarefas. Sendo possível, mas ainda assim os corretores divergirem sobre tal divisão, deverá o comitente consignar em juízo a comissão. 5.5 EXTINÇÃO DO CONTRATO O contrato de corretagem pode extinguir-se: a) naturalmente => com a celebração do negócio jurídico entre as partes. 31 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e b) por todos os demais meios de dissolução de contrato => distrato, resilição unilateral, resolução, rescisão etc. c) com o advento do termo => quando o contrato for celebrado por prazo determinado. 32 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e 6 TRANSPORTE 6.1 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS O transporte é o contrato pelo qual alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar de um lugar para outro pessoas ou coisas. É uma espécie de prestação de serviço, mas com regulamentação própria, nos arts. 730 a 756 do CC. Caracteriza-se por ser um contrato: ✓ bilateral e oneroso, uma vez que a própria lei civil exclui a possibilidade de sê-lo gratuito (o art. 730 diz: “mediante retribuição”); ✓ comutativo, pois há certeza e não aleatoriedade das prestações das partes (ainda que a coisa se perca ou avarie, não transforma o contrato em aleatório, fazendo surgir a responsabilidade civil do transportador); ✓ não solene, via de regra, já que não exige uma forma específica pela lei, mas apenas da emissão de um conhecimento de transporte no caso de transporte de coisas (trata-se de um título de crédito que vincula as partes nessa relação contratual); ✓ consensual, pois não há necessidade de tradição (entrega da coisa) ou outras formalidades para a sua existência e eficácia. Exemplo: um simples abanar de mão de uma pessoa num ponto de ônibus já é manifestação de vontade suficiente para caracterizar a adesão e formação do contrato de transporte (GAGLIANO; PAMPLONA, 2008, p. 420). ✓ de adesão, e, por consequência, encerra numa relação de consumo. Ex: transporte público urbano ou interurbano; passeios turísticos ou viagens; despachamentos de bens para outra localidade (“caminhão de mudança”) etc. No transporte de pessoas, a contratação acaba sempre por encerrar uma relação de consumo, pois, quando remunerado, depende de autorização, permissão ou concessão do Poder Público (art. 731, CC; art. 231, VIII, CTB). Portanto, a atuação do transportador, nesse caso, é profissional e o caracteriza como fornecedor de serviço. Desta feita, aplicam-lhe todas as regras relativas à responsabilidade civil no contrato de consumo, previstas no CDC. 6.2 ESPÉCIES 6.2.1 Transporte de Pessoas a) Responsabilidade civil do transportador 33 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e É notório no meio jurídico que a responsabilidade do transportador, pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, é objetiva, ou seja, independe de demonstração de culpa, salvo por motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente de responsabilidade (art. 734, CC, e Súmula 161 do STF). Se houver culpa de terceiro, ainda assim o transportador responderá pelos danos causados ao passageiro, cabendo, no máximo, ação regressiva contra o terceiro (art. 735, CC; e Súmula 187, STF). O fato de terceiro apenas elidirá/afastará/excluirá a responsabilidade do transportador quando for completamente desconexo com os riscos naturais à atividade. Exemplo é o roubo dos passageiros, pois tal fato é considerado um fortuito externo (fato estranho à atividade do transporte e que não pode ser evitado por resistência do transportador). Este tem sido o entendimento da maioria da doutrina e do STJ. Mas tal assunto está longe de ser pacífico pois há quem entenda que, por se tratar de uma relação de consumo, o transportador responderá quando não fornecer a segurança que o consumidor dele razoavelmente esperar (art. 14, §1º, CDC), somente cabendo falar em força maior ou fortuito externo se, mesmo com a tomada de todas as precauções, o evento ocorreu. Embora o contexto ainda seja o transporte de pessoas, tal discussão se estende à questão da responsabilidade pelo roubo de carga transportada. Nesse caso, o STJ entende tratar-se também de hipótese de força maior como excludente de responsabilidade da transportadora. Importante registrar que, por outro lado, se a pessoa transportada sofrer prejuízos decorrentes de sua própria transgressão às normas e instruções regulamentares, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, o juiz reduzirá equitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano (culpa concorrente ou da vítima – art. 738, parágrafo único). b) Transporte gratuito ou por cortesia De outro giro, todas essas regras NÃO SE APLICAM quando o contrato de transporte for firmado gratuitamente, por amizade ou cortesia (art. 736). É a famosa “carona”. De acordo com a Súmula 145 do STJ, neste caso, o transportador só responde civilmente se demonstrada a culpa ou o dolo (responsabilidade subjetiva). ATENÇÃO: Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas – art. 736, parágrafo único. Ex: empregador que contrata empresa para transportar seus empregados até a sede do trabalho; trata-se de salário in natura e há uma vantagem indireta, de modo que, caso ocorra 34 [ C a p t u r e a at e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e algum acidente no trajeto, não poderá o empregador se eximir da responsabilidade sob o pretexto de gratuidade. c) Direitos e deveres do passageiro Por ser um contrato normalmente oneroso, e, consequentemente, encerrando uma relação de consumo, o transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado/passageiro o justificarem (art. 739). Ex: passageiro portador do coronavírus. Tal norma está em linha com o estatuído no art. 39, II, CDC, que prevê prática comercial abusiva a recursa de atendimento às demandas dos consumidores. Ainda dentro da perspectiva de proteção máxima ao transportado que, na condição de consumidor, é considerado a parte hipossuficiente desta relação, o art. 740 lhe estabelece o direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada. Duas observações merecem ser feitas quanto ao artigo citado: 1) na verdade, trata-se mais de resilição do que de rescisão, pois se concede ao transportado a prerrogativa de desfazer a relação contratual unilateralmente, sem que impute inadimplemento ou culpa ao transportador; 2) a expressão “tempo de ser renegociada” traduz num conceito jurídico aberto, de modo que apenas no caso concreto o juiz verificará se, de fato, o passageiro comunicou ao transportador a intenção de rescindir o contrato em tempo razoável. Isso deve ser considerado com cuidado pelo magistrado, uma vez que é muito comum os transportadores venderem passagens até minutos antes do horário de embarque, especialmente se tratar de transporte terrestre, o que permite ao passageiro rescindir ‘em cima da hora’. Em transportes aéreos e marítimos, por haver recomendações expressas quanto ao horário antecipado para checagem de bilhetes e bagagens, restringe-se mais esse prazo para o passageiro. A bem da verdade, ainda que já iniciada a viagem, é facultado ao passageiro desistir do transporte; no entanto, ser-lhe-á devida a restituição correspondente apenas ao trecho não utilizado, desde que provado que fora substituído por outra pessoa a ser transportada em seu lugar (§1º do art. 740). 35 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e No entanto, evidentemente não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado (§2º, art. 740). Em todo caso, o transportador terá direito de reter até 5% (cinco por cento) da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa compensatória (§3º, art. 740). Se a viagem se interromper por qualquer motivo alheio à vontade do transportador, ainda que em razão de evento imprevisível, fica ele obrigado a concluir o transporte contratado em outro veículo da mesma categoria, ou, com concordância do passageiro, por modalidade diferente, à sua custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e alimentação do usuário, durante a espera do novo transporte (art. 741). A responsabilidade do transportador existe não só em caso de interrupção, mas também no caso de atraso ou descumprimento dos roteiros e itinerários em qualquer situação (art. 737), salvo em caso de força maior. Neste tocante, incide aí a discussão sobre a assunção ou não do risco da atividade do transportador, sobretudo se o atraso for decorrente de ato/omissão do Poder Público, como em caso de suspensão de atividades de controladores de vôo, no transporte aéreo ou de circunstâncias alheias à vontade da empresa etc. Especificamente, quanto: ✓ defeito em equipamento => o STJ já decidiu que defeito em turbina de avião, em razão de sucção de aves, é fato corriqueiro no Brasil, não se atribuindo, portanto, a imprevisibilidade marcante do caso fortuito (REsp 401.397/SP – Rel. Mina. Nancy Andrighi). ✓ atrasos em vôo2 => se for em decorrência de greves ou paralisações de funcionários considerados essenciais ao serviço, como controladores de vôo, também o entendimento dominante na jurisprudência pátria no sentido de sempre se configurar a responsabilidade do transportador. Por fim, nos termos do art. 742, cabe ao transportador o direito de reter as bagagens ou outros objetos pessoais do passageiro para garantir o pagamento do valor da passagem que não tiver sido feito no início ou durante o percurso. 2 Valor da indenização no extravio de bagagem e no atraso de vôo em transporte aéreo internacional: em que pese a adesão pelo Brasil, às Convenções de Varsóvia e Montreal (que limitavam os valores indenizatórios), a questão tem si do resolvida, pelo STJ, à luz do CDC, conferindo-se ao passageiro indenização pelo valor real de seus prejuízos, além do dano moral correspondente, quando se tratar de relação de consumo posterior à vigência do CDC, por força do princípio da especialidade. 36 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e 6.2.2 Transporte de Coisas a) Requisito especial De acordo com o art. 743, a coisa, entregue ao transportador, deve estar caracterizada pela sua natureza, valor, peso e quantidade, e o mais que for necessário para que não se confunda com outras, devendo o destinatário ser indicado ao menos pelo nome e endereço. O instrumento para a descrição desses dados é o conhecimento de transporte, regulado por lei especial. Se o ‘conhecimento de transporte’ contiver os requisitos estabelecidos em lei valerá como verdadeiro título de crédito, podendo ser executadas as obrigações nele contidas. b) Responsabilidade civil do transportador A responsabilidade do transportador fica limitada ao valor constante nesse documento e começa quando ele, ou os seus prepostos, recebem a coisa; e termina quando esta é entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, se este não for encontrado (art. 750). Todavia, pode ser que os termos da contratação seja o inverso: que o transportador se obrigue a buscar a coisa do remetente no domicílio deste. Isso vem a reafirmar a ideia de que o contrato de transporte é consensual, e não real, já que a sua validade e eficácia não dependem de entrega (tradição) da coisa para a outra parte para a geração de obrigações, como ocorre no deposito e no comodato, por exemplo. À exemplo do transporte de pessoas, se o contrato for remunerado, a responsabilidade civil do transportador é objetiva, dependendo da demonstração de culpa ou dolo apenas nos casos de graciosidade ou cortesia. Aplica-se também a já mencionada Súmula 162 do STF quanto à proibição da cláusula de não indenizar. c) Prazo para exercício de direitos Em caso de informação inexata ou falsa descrição no ‘conhecimento de transporte’, o transportador poderá ingressar com uma ação para ser indenizado pelo prejuízo que sofrer, num prazo de 120 dias, a contar do ato de recebimento (art. 745). Em que pese o referido artigo diga que tal prazo seja de decadência, na verdade trata-se de prazo de prescrição, vez que a pretensão indenizatória é de cunho condenatório. Registra-se que: 37 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e - em caso de transporte rodoviário por conta de terceiros e mediante remuneração, o prazo é de 1 ano, contado a partir do conhecimentodo dano pela parte interessada (art. 18, Lei n. 11.442/2007); - se o dano for decorrente de outras circunstâncias que não a descrita no art. 745, o prazo prescricional será o genericamente de 3 anos, consoante o que dispõe o art. 206, §3º, V, CC. d) Direitos e deveres do remetente Até a entrega da coisa, pode o remetente desistir do transporte e pedi-la de volta, ou ordenar seja entregue a outro destinatário, pagando, em ambos os casos, os acréscimos de despesa decorrentes da contraordem, mais as perdas e danos que houver (art. 748). Se a coisa for depositada ou guardada nos armazéns do transportador, reger-se-á a hipótese, no que couber, pelas disposições relativas ao depósito (art. 751). e) Direitos e deveres do transportador Entre os direitos e deveres do transportador destacam-se: - recusar a coisa quando a embalagem seja inadequada, bem como se puder pôr em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e outros bens (art. 746); - recusar, obrigatoriamente, a coisa cujo transporte ou comercialização não sejam permitidos, ou que venha desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou regulamento (art. 747); - conduzir a coisa ao seu destino, tomando todas as cautelas necessárias para mantê-la em bom estado e entregá-la no prazo ajustado ou previsto (art. 749), respondendo objetivamente se a coisa vier a se perder ou deteriorar durante o trajeto; - se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, solicitar, incontinenti, instruções ao remetente e zelar pela coisa, por cujo perecimento ou deterioração responderá, salvo força maior (parágrafos do art. 753). f) A figura do destinatário No contrato de transporte, fala-se muito do remetente e do transportador, que são as partes as quais se vinculam em obrigações. No entanto, a par deles, há a importante figura do destinatário, que não assume obrigação alguma, sendo apenas o beneficiário da prestação assumida pelo transportador. 38 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e Ocorre que, não raro, o destinatário se obriga ao pagamento da prestação devida ao transportador, aparecendo aí o que chamamos de frete. Assim, de acordo com o art. 752, desembarcadas as mercadorias, o transportador não é obrigado a dar aviso ao destinatário, se assim não foi convencionado, dependendo também de ajuste a entrega em domicílio, e devem constar do “conhecimento de embarque” as cláusulas de aviso ou de entrega em domicílio. Portanto, se emite ao destinatário o chamado “conhecimento de embarque”, que nada mais é o título de crédito com a descrição da mercadoria embarcada e a ser transportada e entregue ao destinatário ou ao portador do documento, devidamente endossado. Assim, as mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem apresentar o conhecimento endossado. Deve o destinatário conferir os objetos e apresentar as reclamações que tiver, sob pena de decadência instantânea dos direitos (art. 754). O parágrafo único deste artigo atenua tal rigor ao estabelecer um prazo de 10 dias para tal reclamação se se tratar de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista (parágrafo único, art. 754). Este prazo se refere à reclamação pelos defeitos ou avarias pessoalmente diante do transportador, sendo a ação reparatória prescritível em 3 anos (art. 206, §3º, V, CC). Conclui-se que, independentemente da condição do destinatário de pagante ou não do frete, terá ele ação contra o transportador se ficar caracterizada a frustração da expectativa de recebimento idôneo da coisa, ou seja, sem danos ou avarias. E, se a relação for de consumo, tal ação poderá ser contra também o remetente (responsabilidade solidária - arts. 7º, parágrafo único, 12, 14, 18, 20, 25, §1º e 34 do CDC). De acordo com o art. 755, havendo dúvida acerca de quem seja o destinatário, o transportador deve depositar a mercadoria em juízo, se não lhe for possível obter instruções do remetente; se a demora puder ocasionar a deterioração da coisa, o transportador deverá vende-la, depositando o saldo em juízo. 6.2.2 Transporte Cumulativo É aquele em que parte do percurso é realizado por um transportador e parte por outro. Pode ser de pessoas ou coisas. Nos contratos de transporte cumulativo de pessoas, cada transportador se obriga a cumprir o contrato relativamente ao respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causados a pessoas e coisas (art. 733). De acordo com o §1º deste artigo, o dano, resultante do atraso ou da interrupção da viagem, será determinado em razão da totalidade do percurso. 39 [ C a p t u r e a a t e n ç ã o d o l e i t o r c o m u m a ó t i m a c i t a ç ã o d o d o c u m e Já nos contratos de transporte cumulativo de coisas, a situação é diferente: a responsabilidade dos diversos transportadores é solidária perante o remetente, restando a eles apenas a apuração de responsabilidades da quota de cada um entre si, de modo que o ressarcimento recaia, por inteiro, ou proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso houver ocorrido o dano. Tal regra está descrita no art. 756. Boa parte da doutrina entende que tal solidariedade estende aos transportadores cumulativos de pessoas, quando o transporte for remunerado, por se tratar de relação de consumo, aplicando-se, por consequência, o art. 7º, parágrafo único e art. 25, §1º do CDC, em mitigação do disposto no art. 733, CC
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