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Apostila CIVIL 4 - 2020.2 - CORRETAGEM ATÉ TRANSPORTE

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5 CORRETAGEM 
 
5.1 CONCEITO E DISTINÇÃO COM OUTRAS FIGURAS CONTRATUAIS ANÁLOGAS 
 
Nos termos do art. 722 do CC, “pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em 
virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para a 
segunda um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas”. 
Trata-se de mais um contrato de intermediação. 
De um lado, temos o corretor, que se obriga aproximar pessoas a fim de que celebrem 
determinado negócio/contrato; e, de outro, o comitente, que é aquele que contrata tal intermediação 
(atenção para não confundir com o comitente do contrato de comissão). 
O próprio texto legal procurou distinguir o contrato de corretagem de outras figuras 
contratuais análogas, tais como: 
- mandato => no mandato, o mandatário pratica atos pelo mandante, na qualidade de representante; já 
na corretagem, o corretor apenas aproxima (intermedeia) as partes, sem qualquer poder decisório 
ou de representação. 
- prestação de serviços => em que pese se aproxime muito da corretagem (afinal, a atividade do corretor 
não deixa de ser um serviço prestado ao comitente), esta tem especificidades que a distingue da 
prestação de serviços, como a profissionalidade do corretor e a finalidade específica da corretagem 
(realizar determinado negócio jurídico). Além do mais, o prestador de serviço age em nome próprio, 
enquanto o corretor apenas medeia as partes, não concretizando o negócio. 
- comissão => o comissário age também em nome próprio, celebrando o negócio no interesse do 
comitente; mas o corretor apenas encaminha o contrato ao principal interessado e aproxima o 
contratante aos demais interessados, cabendo a este a conclusão do negócio. 
- contrato de emprego => a corretagem não se confunde com o contrato de emprego pois não há 
subordinação jurídica, ainda que seja uma relação de trabalho no sentido amplo1. Outra diferença é 
que o corretor só será remunerado se o negócio jurídico intermediado se concretizar, ou seja, trata-
se de obrigação de resultado; já, no contrato de emprego, empregado faz jus ao salário em razão da 
energia dispendida em favor do patrão, independentemente de resultados. 
 
1 Qualquer conflito entre o corretor, pessoa física (e não jurídica, como imobiliária constituída em forma de socieda de ), 
e aqueles que se beneficiam do contrato por este negociado, será de competência da Justiça do Trabalho (art. 114, I, CF, 
redação dada pela EC n. 45). Entre estes conflitos cita-se a discussão quanto ao valor do serviço realizado, se obtido o 
resultado, ou então discussões relacionadas à responsabilidade do corretor, se, por ação ou omissão, resultar perda ao 
contratante, que pode acontecer com frequência no caso de corretagem de artista ou atletas profissionais. 
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5.2 ESPÉCIES 
 
Há duas espécies ou tipos de corretagem: 
a) corretagem oficial => praticada por corretores investidos de ofício público, gozando de 
prerrogativas, como fé pública. 
b) corretagem livre => praticada por qualquer pessoa capaz, que exerce o ofício de intermediador 
continuadamente, não dependendo de designação oficial. Exemplos: corretores de espetáculos 
públicos e diversões; de empréstimos de obras de arte; de automóveis; de artista; de esportistas; de 
bens móveis; corretores de bens imóveis. 
Especificamente quanto ao corretor de imóveis, vale registrar que, apesar de estar 
disciplinado em lei específica (Dec. nº 81.871/78), é considerado modalidade de corretagem livre, 
pois sua atividade não se enquadra como um ofício público. 
 
5.3 CARACTERÍSTICAS 
 
O contrato de corretagem caracteriza-se por ser tratar de um contrato: 
✓ típico e nominado => previsto dos arts. 722 a 729, CC; 
✓ bilateral => há direitos e obrigações para ambos os contratantes: de um lado, o corretor, que 
assume a obrigação de resultado de mediar a realização de um negócio jurídico; e, de outro, o 
comitente, que contrata tal intermediação. 
✓ oneroso => apesar de que a remuneração do corretor dependerá da concretização do negócio 
jurídico intermediado. 
✓ aleatório => pois a obrigação do comitente somente poderá ser exigida em função da 
concretização do negócio. 
✓ paritário ou por adesão 
✓ consensual e não solene => se concretiza com a simples declaração de vontade, podendo ser até 
verbal. 
✓ personalíssimo (ou intuitu personae) => celebrado em razão da pessoa do contratante, que tem 
influência decisiva para consentimento do outro, para quem interessa que a prestação seja cumprida 
por ele próprio, pelas características peculiares (habilidade, experiência, técnica, idoneidade etc). 
✓ de duração => pois as obrigações do corretor se cumprem por meio de atos reiterados, na busca, 
diligente e prudente, da realização do negócio pretendido. 
✓ causal => se os seus motivos determinantes foram inexistentes, ilícitos ou imorais podem impor o 
reconhecimento de sua invalidade. 
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✓ de atividade => implica a prestação de uma conduta de fato, ou seja, vincula-se à realização de 
uma finalidade proposta, gerando uma obrigação de resultado. 
✓ acessório => depende da celebração do negócio jurídico objetivado (entre as partes, e não pelo 
corretor) para configurá-lo. Dessa forma, a nulidade do negócio principal implicará na nulidade da 
corretagem. 
✓ definitivo => em relação ao corretor e o comitente, mesmo tendo a sua produção de efeitos, para 
fins remuneratórios, condicionada ao contrato principal. 
 
5.4 DIREITOS E DEVERES DAS PARTES 
 
Por ser um contrato de resultado, cuja remuneração está condicionada à concretização do 
negócio principal, a princípio o contrato de corretagem gera obrigações apenas ao corretor. 
De acordo com o art. 723, “o corretor é obrigado a executar a mediação com diligência e prudência, e a 
prestar ao cliente, espontaneamente, todas as informações sobre o andamento do negócio”, sob pena de responder 
por perdas e danos (parágrafo único). 
Dessa forma, todo o risco da atividade é do corretor, que deve buscar, de todas as formas, a 
realização do negócio. Isso decorre do princípio da boa-fé objetiva. 
Por outro lado, o dever do comitente surgirá se o negócio jurídico pretendido for celebrado, 
caso em que deverá arcar com a remuneração do corretor. 
Vale registrar que, se tiver estabelecida cláusula de exclusividade na corretagem, a qual 
deverá ser expressa e específica, o comitente deverá observá-la, sob pena de arcar com o valor da 
remuneração, mesmo que o negócio principal seja realizado por outro corretor, em preterição do 
corretor exclusivo, salvo se comprovada a sua inércia ou ociosidade (art. 726). 
Em outras palavras, a cláusula de exclusividade faz pressupor a existência do direito do 
corretor à remuneração, enquanto exigível o contrato, cabendo ao comitente o ônus de prova que o 
corretor descumpriu a sua obrigação básica de atuar com diligência e prudência. 
 
5.4.1 A remuneração do corretor 
 
A remuneração do corretor é conhecida como comissão, preço ou corretagem, sendo devida 
apenas após a conclusão do negócio principal. 
Impossível se cogitar um contrato de corretagem gratuito, vez que a própria lei, a saber, o 
art. 724, estabelece que, na ausência de estipulação, a remuneração deve ser arbitrada segundo a 
natureza do negócio e os usos locais. 
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Se o corretor desempenhou suas atividades de mediação e conseguiu concluir o negócio 
jurídico, terá o direito à remuneração, ainda que as partes venham a se arrepender ou realizar o 
distrato (art. 725), posto que a obrigação de resultado se perfaz. 
A remuneração é devida, inclusive, na hipótese de extinção do contrato de corretagem, 
desde que haja a celebração posterior do negócio principal, fruto do trabalho do corretor. 
EM SUMA: “a ocorrência de situações supervenientes como o distrato ou mesmo o 
exercício do direito de arrependimento não podem afetar o direito adquirido do corretor à sua 
retribuição” (GAGLIANO, PAMPLONA, 2004, p. 318). 
Atenção: não confundir arrependimento com desistência, porque o arrependimento 
pressupõe o negócio já celebrado; e a desistência, não, pois se situa em fase pré-contratual, 
não tendo sido ainda celebrado o negócio principal. Neste caso, não há que se falar em 
comissão (remuneração). 
 
Por fim, merece destaque o art. 728 do CC, o qual, se interpretado literalmente, pode 
conduzir a diversas injustiças. 
É que o referido dispositivo legal estabelece que “se o negócio se concluir com a intermediação de 
mais de um corretor, a remuneração será paga a todos em parte iguais, salvo ajuste em contrário”. 
Todavia, sabemos que, não raras às vezes, vários corretores podem ter participado dos 
diversos atos que envolve a prática da corretagem (mediação conjunta), de modo um pode ter feito 
só primeiro contato, e o segundo feito todo o restante do trabalho de aproximação e convencimento 
das partes, ou vice-versa. 
Nessas situações, evidentemente que retribuir ambos os corretores em partes iguais é 
totalmente desarrazoado e injusto, devendo se interpretar a expressão “salvo ajuste em contrário” de 
forma ampla, a abranger um ajuste tácito de proporcionalidade de pagamento pela atuação de cada 
corretor. 
Logo, o pagamento igual para todos os corretores só deve ser feito quando for impossível a 
comprovação de divisão das tarefas. 
Sendo possível, mas ainda assim os corretores divergirem sobre tal divisão, deverá o 
comitente consignar em juízo a comissão. 
 
5.5 EXTINÇÃO DO CONTRATO 
 
O contrato de corretagem pode extinguir-se: 
a) naturalmente => com a celebração do negócio jurídico entre as partes. 
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b) por todos os demais meios de dissolução de contrato => distrato, resilição unilateral, resolução, 
rescisão etc. 
c) com o advento do termo => quando o contrato for celebrado por prazo determinado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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6 TRANSPORTE 
 
6.1 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS 
 
O transporte é o contrato pelo qual alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar 
de um lugar para outro pessoas ou coisas. É uma espécie de prestação de serviço, mas com 
regulamentação própria, nos arts. 730 a 756 do CC. 
Caracteriza-se por ser um contrato: 
✓ bilateral e oneroso, uma vez que a própria lei civil exclui a possibilidade de sê-lo gratuito (o art. 
730 diz: “mediante retribuição”); 
✓ comutativo, pois há certeza e não aleatoriedade das prestações das partes (ainda que a coisa se 
perca ou avarie, não transforma o contrato em aleatório, fazendo surgir a responsabilidade civil do 
transportador); 
✓ não solene, via de regra, já que não exige uma forma específica pela lei, mas apenas da emissão de 
um conhecimento de transporte no caso de transporte de coisas (trata-se de um título de crédito que 
vincula as partes nessa relação contratual); 
✓ consensual, pois não há necessidade de tradição (entrega da coisa) ou outras formalidades para a 
sua existência e eficácia. Exemplo: um simples abanar de mão de uma pessoa num ponto de ônibus 
já é manifestação de vontade suficiente para caracterizar a adesão e formação do contrato de 
transporte (GAGLIANO; PAMPLONA, 2008, p. 420). 
✓ de adesão, e, por consequência, encerra numa relação de consumo. Ex: transporte público urbano 
ou interurbano; passeios turísticos ou viagens; despachamentos de bens para outra localidade 
(“caminhão de mudança”) etc. 
No transporte de pessoas, a contratação acaba sempre por encerrar uma relação de 
consumo, pois, quando remunerado, depende de autorização, permissão ou concessão do Poder 
Público (art. 731, CC; art. 231, VIII, CTB). Portanto, a atuação do transportador, nesse caso, é 
profissional e o caracteriza como fornecedor de serviço. Desta feita, aplicam-lhe todas as regras 
relativas à responsabilidade civil no contrato de consumo, previstas no CDC. 
 
6.2 ESPÉCIES 
 
6.2.1 Transporte de Pessoas 
 
a) Responsabilidade civil do transportador 
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É notório no meio jurídico que a responsabilidade do transportador, pelos danos causados às 
pessoas transportadas e suas bagagens, é objetiva, ou seja, independe de demonstração de culpa, 
salvo por motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente de responsabilidade (art. 
734, CC, e Súmula 161 do STF). 
Se houver culpa de terceiro, ainda assim o transportador responderá pelos danos causados ao 
passageiro, cabendo, no máximo, ação regressiva contra o terceiro (art. 735, CC; e Súmula 187, STF). 
O fato de terceiro apenas elidirá/afastará/excluirá a responsabilidade do transportador 
quando for completamente desconexo com os riscos naturais à atividade. Exemplo é o roubo dos 
passageiros, pois tal fato é considerado um fortuito externo (fato estranho à atividade do transporte 
e que não pode ser evitado por resistência do transportador). Este tem sido o entendimento da 
maioria da doutrina e do STJ. 
Mas tal assunto está longe de ser pacífico pois há quem entenda que, por se tratar de uma 
relação de consumo, o transportador responderá quando não fornecer a segurança que o 
consumidor dele razoavelmente esperar (art. 14, §1º, CDC), somente cabendo falar em força maior 
ou fortuito externo se, mesmo com a tomada de todas as precauções, o evento ocorreu. 
Embora o contexto ainda seja o transporte de pessoas, tal discussão se estende à questão 
da responsabilidade pelo roubo de carga transportada. Nesse caso, o STJ entende tratar-se também de 
hipótese de força maior como excludente de responsabilidade da transportadora. 
Importante registrar que, por outro lado, se a pessoa transportada sofrer prejuízos 
decorrentes de sua própria transgressão às normas e instruções regulamentares, constantes no 
bilhete ou afixadas à vista dos usuários, o juiz reduzirá equitativamente a indenização, na medida 
em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano (culpa concorrente ou da vítima – art. 
738, parágrafo único). 
 
b) Transporte gratuito ou por cortesia 
 
De outro giro, todas essas regras NÃO SE APLICAM quando o contrato de transporte for 
firmado gratuitamente, por amizade ou cortesia (art. 736). É a famosa “carona”. De acordo com a Súmula 
145 do STJ, neste caso, o transportador só responde civilmente se demonstrada a culpa ou o dolo 
(responsabilidade subjetiva). 
ATENÇÃO: Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem 
remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas – art. 736, parágrafo único. 
Ex: empregador que contrata empresa para transportar seus empregados até a sede do 
trabalho; trata-se de salário in natura e há uma vantagem indireta, de modo que, caso ocorra 
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algum acidente no trajeto, não poderá o empregador se eximir da responsabilidade sob o 
pretexto de gratuidade. 
 
c) Direitos e deveres do passageiro 
 
Por ser um contrato normalmente oneroso, e, consequentemente, encerrando uma relação 
de consumo, o transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos 
regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado/passageiro o justificarem 
(art. 739). Ex: passageiro portador do coronavírus. 
Tal norma está em linha com o estatuído no art. 39, II, CDC, que prevê prática comercial 
abusiva a recursa de atendimento às demandas dos consumidores. 
Ainda dentro da perspectiva de proteção máxima ao transportado que, na condição de 
consumidor, é considerado a parte hipossuficiente desta relação, o art. 740 lhe estabelece o direito a 
rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do 
valor da passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada. 
Duas observações merecem ser feitas quanto ao artigo citado: 
1) na verdade, trata-se mais de resilição do que de rescisão, pois se concede ao 
transportado a prerrogativa de desfazer a relação contratual unilateralmente, sem que 
impute inadimplemento ou culpa ao transportador; 
2) a expressão “tempo de ser renegociada” traduz num conceito jurídico aberto, de modo que 
apenas no caso concreto o juiz verificará se, de fato, o passageiro comunicou ao 
transportador a intenção de rescindir o contrato em tempo razoável. Isso deve ser 
considerado com cuidado pelo magistrado, uma vez que é muito comum os 
transportadores venderem passagens até minutos antes do horário de embarque, 
especialmente se tratar de transporte terrestre, o que permite ao passageiro rescindir 
‘em cima da hora’. Em transportes aéreos e marítimos, por haver recomendações 
expressas quanto ao horário antecipado para checagem de bilhetes e bagagens, 
restringe-se mais esse prazo para o passageiro. 
 
A bem da verdade, ainda que já iniciada a viagem, é facultado ao passageiro desistir do 
transporte; no entanto, ser-lhe-á devida a restituição correspondente apenas ao trecho não 
utilizado, desde que provado que fora substituído por outra pessoa a ser transportada em seu lugar 
(§1º do art. 740). 
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No entanto, evidentemente não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário 
que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em 
que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado (§2º, art. 740). 
Em todo caso, o transportador terá direito de reter até 5% (cinco por cento) da 
importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa compensatória (§3º, art. 740). 
Se a viagem se interromper por qualquer motivo alheio à vontade do transportador, ainda 
que em razão de evento imprevisível, fica ele obrigado a concluir o transporte contratado em outro 
veículo da mesma categoria, ou, com concordância do passageiro, por modalidade diferente, à sua 
custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e alimentação do usuário, durante a 
espera do novo transporte (art. 741). 
A responsabilidade do transportador existe não só em caso de interrupção, mas também no 
caso de atraso ou descumprimento dos roteiros e itinerários em qualquer situação (art. 737), 
salvo em caso de força maior. Neste tocante, incide aí a discussão sobre a assunção ou não do risco 
da atividade do transportador, sobretudo se o atraso for decorrente de ato/omissão do Poder 
Público, como em caso de suspensão de atividades de controladores de vôo, no transporte aéreo ou 
de circunstâncias alheias à vontade da empresa etc. 
Especificamente, quanto: 
✓ defeito em equipamento => o STJ já decidiu que defeito em turbina de avião, em razão de 
sucção de aves, é fato corriqueiro no Brasil, não se atribuindo, portanto, a imprevisibilidade 
marcante do caso fortuito (REsp 401.397/SP – Rel. Mina. Nancy Andrighi). 
✓ atrasos em vôo2 => se for em decorrência de greves ou paralisações de funcionários 
considerados essenciais ao serviço, como controladores de vôo, também o entendimento 
dominante na jurisprudência pátria no sentido de sempre se configurar a responsabilidade 
do transportador. 
 
Por fim, nos termos do art. 742, cabe ao transportador o direito de reter as bagagens ou 
outros objetos pessoais do passageiro para garantir o pagamento do valor da passagem que não 
tiver sido feito no início ou durante o percurso. 
 
 
 
2 Valor da indenização no extravio de bagagem e no atraso de vôo em transporte aéreo internacional: em que pese a 
adesão pelo Brasil, às Convenções de Varsóvia e Montreal (que limitavam os valores indenizatórios), a questão tem si do 
resolvida, pelo STJ, à luz do CDC, conferindo-se ao passageiro indenização pelo valor real de seus prejuízos, além do 
dano moral correspondente, quando se tratar de relação de consumo posterior à vigência do CDC, por força do 
princípio da especialidade. 
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6.2.2 Transporte de Coisas 
 
a) Requisito especial 
 
De acordo com o art. 743, a coisa, entregue ao transportador, deve estar caracterizada pela 
sua natureza, valor, peso e quantidade, e o mais que for necessário para que não se confunda com 
outras, devendo o destinatário ser indicado ao menos pelo nome e endereço. 
O instrumento para a descrição desses dados é o conhecimento de transporte, regulado 
por lei especial. Se o ‘conhecimento de transporte’ contiver os requisitos estabelecidos em lei valerá 
como verdadeiro título de crédito, podendo ser executadas as obrigações nele contidas. 
 
b) Responsabilidade civil do transportador 
 
A responsabilidade do transportador fica limitada ao valor constante nesse documento e 
começa quando ele, ou os seus prepostos, recebem a coisa; e termina quando esta é entregue ao 
destinatário, ou depositada em juízo, se este não for encontrado (art. 750). 
Todavia, pode ser que os termos da contratação seja o inverso: que o transportador se 
obrigue a buscar a coisa do remetente no domicílio deste. Isso vem a reafirmar a ideia de que o 
contrato de transporte é consensual, e não real, já que a sua validade e eficácia não dependem de 
entrega (tradição) da coisa para a outra parte para a geração de obrigações, como ocorre no 
deposito e no comodato, por exemplo. 
À exemplo do transporte de pessoas, se o contrato for remunerado, a responsabilidade civil 
do transportador é objetiva, dependendo da demonstração de culpa ou dolo apenas nos casos de 
graciosidade ou cortesia. Aplica-se também a já mencionada Súmula 162 do STF quanto à proibição 
da cláusula de não indenizar. 
 
c) Prazo para exercício de direitos 
 
Em caso de informação inexata ou falsa descrição no ‘conhecimento de transporte’, o 
transportador poderá ingressar com uma ação para ser indenizado pelo prejuízo que sofrer, num 
prazo de 120 dias, a contar do ato de recebimento (art. 745). Em que pese o referido artigo diga que 
tal prazo seja de decadência, na verdade trata-se de prazo de prescrição, vez que a pretensão 
indenizatória é de cunho condenatório. 
Registra-se que: 
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- em caso de transporte rodoviário por conta de terceiros e mediante remuneração, o prazo 
é de 1 ano, contado a partir do conhecimentodo dano pela parte interessada (art. 18, Lei n. 
11.442/2007); 
- se o dano for decorrente de outras circunstâncias que não a descrita no art. 745, o prazo 
prescricional será o genericamente de 3 anos, consoante o que dispõe o art. 206, §3º, V, CC. 
 
d) Direitos e deveres do remetente 
 
Até a entrega da coisa, pode o remetente desistir do transporte e pedi-la de volta, ou 
ordenar seja entregue a outro destinatário, pagando, em ambos os casos, os acréscimos de despesa 
decorrentes da contraordem, mais as perdas e danos que houver (art. 748). 
Se a coisa for depositada ou guardada nos armazéns do transportador, reger-se-á a 
hipótese, no que couber, pelas disposições relativas ao depósito (art. 751). 
 
e) Direitos e deveres do transportador 
 
Entre os direitos e deveres do transportador destacam-se: 
- recusar a coisa quando a embalagem seja inadequada, bem como se puder pôr em risco a saúde das 
pessoas, ou danificar o veículo e outros bens (art. 746); 
- recusar, obrigatoriamente, a coisa cujo transporte ou comercialização não sejam permitidos, ou 
que venha desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou regulamento (art. 747); 
- conduzir a coisa ao seu destino, tomando todas as cautelas necessárias para mantê-la em bom 
estado e entregá-la no prazo ajustado ou previsto (art. 749), respondendo objetivamente se a coisa 
vier a se perder ou deteriorar durante o trajeto; 
- se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, solicitar, incontinenti, instruções 
ao remetente e zelar pela coisa, por cujo perecimento ou deterioração responderá, salvo força maior 
(parágrafos do art. 753). 
 
f) A figura do destinatário 
 
No contrato de transporte, fala-se muito do remetente e do transportador, que são as 
partes as quais se vinculam em obrigações. No entanto, a par deles, há a importante figura do 
destinatário, que não assume obrigação alguma, sendo apenas o beneficiário da prestação assumida 
pelo transportador. 
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Ocorre que, não raro, o destinatário se obriga ao pagamento da prestação devida ao 
transportador, aparecendo aí o que chamamos de frete. 
Assim, de acordo com o art. 752, desembarcadas as mercadorias, o transportador não é 
obrigado a dar aviso ao destinatário, se assim não foi convencionado, dependendo também de ajuste a 
entrega em domicílio, e devem constar do “conhecimento de embarque” as cláusulas de aviso ou de entrega 
em domicílio. 
Portanto, se emite ao destinatário o chamado “conhecimento de embarque”, que nada mais é o 
título de crédito com a descrição da mercadoria embarcada e a ser transportada e entregue ao 
destinatário ou ao portador do documento, devidamente endossado. 
Assim, as mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem apresentar o 
conhecimento endossado. 
Deve o destinatário conferir os objetos e apresentar as reclamações que tiver, sob pena de 
decadência instantânea dos direitos (art. 754). O parágrafo único deste artigo atenua tal rigor ao 
estabelecer um prazo de 10 dias para tal reclamação se se tratar de perda parcial ou de avaria não 
perceptível à primeira vista (parágrafo único, art. 754). 
Este prazo se refere à reclamação pelos defeitos ou avarias pessoalmente diante do 
transportador, sendo a ação reparatória prescritível em 3 anos (art. 206, §3º, V, CC). 
Conclui-se que, independentemente da condição do destinatário de pagante ou não do 
frete, terá ele ação contra o transportador se ficar caracterizada a frustração da expectativa de 
recebimento idôneo da coisa, ou seja, sem danos ou avarias. E, se a relação for de consumo, tal ação 
poderá ser contra também o remetente (responsabilidade solidária - arts. 7º, parágrafo único, 12, 14, 
18, 20, 25, §1º e 34 do CDC). 
De acordo com o art. 755, havendo dúvida acerca de quem seja o destinatário, o 
transportador deve depositar a mercadoria em juízo, se não lhe for possível obter instruções do 
remetente; se a demora puder ocasionar a deterioração da coisa, o transportador deverá vende-la, 
depositando o saldo em juízo. 
 
6.2.2 Transporte Cumulativo 
 
É aquele em que parte do percurso é realizado por um transportador e parte por outro. 
Pode ser de pessoas ou coisas. 
Nos contratos de transporte cumulativo de pessoas, cada transportador se obriga a 
cumprir o contrato relativamente ao respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causados a 
pessoas e coisas (art. 733). De acordo com o §1º deste artigo, o dano, resultante do atraso ou da 
interrupção da viagem, será determinado em razão da totalidade do percurso. 
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Já nos contratos de transporte cumulativo de coisas, a situação é diferente: a 
responsabilidade dos diversos transportadores é solidária perante o remetente, restando a eles 
apenas a apuração de responsabilidades da quota de cada um entre si, de modo que o ressarcimento 
recaia, por inteiro, ou proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso houver ocorrido o 
dano. Tal regra está descrita no art. 756. 
Boa parte da doutrina entende que tal solidariedade estende aos transportadores 
cumulativos de pessoas, quando o transporte for remunerado, por se tratar de relação de consumo, 
aplicando-se, por consequência, o art. 7º, parágrafo único e art. 25, §1º do CDC, em mitigação do 
disposto no art. 733, CC

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