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DOC-20220913-WA0012

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Sistema, grupo e poder. 
Psicologia Social da América Central (II) 
Ignacio Martín-Baró – 1989 
Tradução: Nassim Golshan – Revisão: Julia Scarpioni Rezende, Lucas Cabral Pazetto e 
Nilma Renildes da Silva 
 
Capítulo 3: O grupo humano¹ 
 
1. O significado de grupo 
 
A vida cotidiana apresenta uma grande diversidade de formas de como se relacionam as 
pessoas para às quais aplicamos o mesmo termo grupo. Grupo são a família e o conjunto de 
nossos amigos, grupo são os alunos de uma escola, os banhistas em uma praia, os soldados 
em um batalhão e os membros de uma determinada classe social. Todos esses agrupamentos 
humanos têm em comum um elemento que envolve várias pessoas; mas, fora a quantidade e 
diferenças dos indivíduos é difícil encontrar um elemento comum a todos. Grupo é, portanto, 
um termo muito abstrato que remete a diferentes realidades. Além disso, aplicar o termo 
grupo em situações humanas aparentemente semelhantes, mas com fundos muito distintos, 
nos alerta sobre o perigo de cair em um puro nomear, quer dizer, acreditar que aplicar um 
termo ou nome já converte o nomeado em real. Portanto a necessidade de buscar uma maior 
precisão conceitual ao se pretender que o termo grupo seja mais que um simples nome e 
expresse um caráter próprio dos fenômenos psicossociais. Vejamos alguns exemplos: 
 Pai, mãe e dois filhos adolescentes jantam em silêncio, sem falarem as palavras 
necessárias para solicitar que passe a comida. Certamente, formam um grupo familiar 
no ato de jantarem juntos. Comparemo-los com outras quatro pessoas, totalmente 
iguais entre si, que coincidem de sentar na mesma mesa de uma cafeteria em que se 
servem fastfoods; as quatro pessoas comem sem trocarem palavras além do que 
necessário para pedir que passe o sal, o molho de tomate ou os guardanapos. Trata-se 
de um grupo também neste caso? 
 Os alunos de um curso de bacharelado assistem na sala de aula um filme sobre o qual 
devem fazer um trabalho escolar. A umas quadras de distância, uma centena de 
espectadores assistem o mesmo filme em um cinema público. Pode-se falar de grupo 
em um mesmo sentido para ambos os casos? Os espectadores do cinema público 
formam um verdadeiro grupo? 
 
(1) O texto foi traduzido literalmente. Na revisão buscamos palavras mais adequadas à nossa língua, em alguns casos, 
buscando-se não perder o sentido proposto pelo autor. Esta tradução refere-se apenas ao Capítulo 3 do livro acima citado. 
 
 Numa manhã, um batalhão de soldados passa desfilando e cantando pela rua. Horas 
mais tarde, na mesma rua, circula uma grande quantidade de pedestres. Não parece 
haver muita dúvida do fato dos soldados formarem um grupo. Mas trata-se também de 
um grupo no caso dos pedestres? 
Fala-se de grupos profissionais de uma cidade ou país, como os médicos, os engenheiros, 
apesar de certamente muitos destes não se conhecerem nem se relacionarem. Refere-se 
também ao grupo daqueles que constituem uma determinada classe social, por exemplo, o 
proletariado, apesar de ser possível que nem sequer os próprios integrantes saibam que 
compõem esta classe, isto é, que nem tenham consciência disso. 
Os exemplos poderiam se multiplicar. Mas o fato é que dos grupos menores aos grupos mais 
amplos, a realidade do grupo como tal é menos evidente do que supõe o senso comum. Não 
temos problemas em qualificar a família, os alunos de uma classe e o grupo de soldados como 
grupos reais; contudo, sentimos mais dúvidas no momento de atribuir o mesmo caráter aos 
clientes da cafeteria, aos espectadores do cinema e aos pedestres. A partir disso, a utilização 
indiscriminada do termo grupo para realidades tão distintas pode servir de filtro ideológico 
que assimila unilateral e distorcidamente a diversidade de naturezas e sentidos dos grupos que 
existem em cada circunstância histórica e que têm um significado social real. Algo assim 
ocorre, por exemplo, quando em El Salvador as grandes corporações empresariais incluem 
nas empresas privadas tanto as indústrias e comércios, com mais de trezentos trabalhadores, 
como as oficinas de costura onde trabalham três ou quatro mulheres, como se tratassem de um 
só grupo com mesmas características e interesses sociais. 
O dicionário da Academia Real (1970, pág. 679) define o termo grupo como aquela 
“diversidade de seres ou coisas que formam um conjunto, material ou subjetivamente 
considerado”. Grupo é, portanto, um conjunto de vários seres, a unidade da pluralidade. Ao 
que indica, o termo grupo se origina do correspondente em italiano groppo ou gruppo, que era 
um termo técnico para designar a representação de vários indivíduos num sujeito temático em 
uma obra de pintura ou escultura. O termo foi introduzido no castelhano em 1734 para 
designar a reunião de várias pessoas (ver Corominas, 1967). 
É uma condição inquestionável que o grupo deva ser constituído por uma pluralidade de 
indivíduos, embora haja algumas discrepâncias a respeito dos limites numéricos tanto 
mínimos como máximos. Assim, por exemplo, não se pensa apenas em grupo quando se fala 
de duas pessoas: se falamos de um “grupo familiar”, pensamos em pais e filhos, e talvez de 
outros parentes; por outro lado, tratando-se unicamente dos cônjuges, pode-se falar mais de 
um “matrimônio” ao invés de um “grupo familiar”. A princípio, tal como indica a definição 
do dicionário, pode-se considerar grupo quase qualquer pluralidade de indivíduos desde um 
par ou o grupo da totalidade da humanidade, o “grupo humano”; tudo depende da perspectiva 
adotada, quer dizer, do critério unificador empregado. De acordo com a definição esse 
critério pode ser tanto uma consideração material como subjetiva, algo que esteja na mesma 
realidade, como algo que está unicamente em nossa cabeça. Em outras palavras, tão 
qualificáveis como o grupo seriam aqueles que se encontram unidos no espaço e no tempo 
(vários sujeitos que se encontram em uma mesma habitação, por exemplo), como aqueles que 
simplesmente são unidos por um caráter identitário. (por exemplo, os médicos de El 
Salvador). 
Essa aproximação pode ser válida a partir de um ponto de vista linguístico, mas não de um 
ponto de vista psicossocial. Entre o “grupo familiar”, “o grupo de médicos de El Salvador” e 
o “grupo humano” há diferenças tão notáveis, que reduzi-las ao mesmo denominador grupo só 
poderia induzir à confusão. Robert Merton estabelece uma primeira distinção entre grupo, 
coletividade e categoria social que pode nos ajudar a clarear esse ponto. Para Merton (1980, 
pág. 336), um grupo é constituído somente por “um grupo de pessoas que interagem entre si 
de acordo com esquemas estabelecidos”. Assim, ademais à pluralidade dos indivíduos, 
Merton estabelece duas condições necessárias para que se dê a unidade que determina que 
esses indivíduos formem um grupo: que interagem ente si de acordo com esquemas 
estabelecidos ou normas. Essas duas características permitem diferenciar os grupos das 
coletividades e das categorias sociais. Constituem coletividade aquelas pessoas que 
compartilham valores e atuam de acordo com normas estabelecidas, mas que não interagem 
entre si. Assim, todos os grupos são uma coletividade, mas nem todas as coletividades 
formam grupo. Todos os membros de um exército, por exemplo, podem formar uma 
coletividade, já que se pode supor que compartilham dos mesmos valores e atuam de acordo 
com os esquemas determinados; embora, como nem todos interagem entre si, não podem ser 
considerados como um grupo. Finalmente, as categorias sociais, segundo Merton (1980, pág. 
381) são aquelas agregadas de status sociais, cujos ocupantes não estão em interação; embora 
tenham características sociais semelhantes- por exemplo, a idade, o sexo, o estado civil- não 
estão necessariamente orientados por normas comuns e peculiares (ver quadro 8). 
 
 Normas comuns 
Interação Não Sim 
Não Categoria social Coletividade 
Sim ? Grupo 
 Quadro 8.Fonte: Merton (1980). 
 
A distinção de Merton, que retoma outros psicólogos sociais como Hollander (1971), 
estabelece que nem qualquer unidade de uma pluralidade deve ser considerada como um 
grupo, mas somente aquele tipo de unidade que se dá quando os indivíduos interagem entre si 
e compartilham esquemas ou normas sociais de interação. O que vale dessa aproximação está 
precisamente em sua formalidade, ou seja, em buscar uma especificidade para a unidade 
grupal e, portanto, em definir, que nem qualquer tipo de junção de várias pessoas pode ser 
considerado como um grupo humano a partir da perspectiva psicossocial. Todavia, os critérios 
concretos mencionados por Merton podem parecer num primeiro momento talvez menos 
claros do parecem num primeiro momento. Que significa interação? A interação supõe um 
contato físico ou pode-se falar de interação sempre que se produz uma relação ou influência 
direta entre as ações de vários indivíduos, estando ou não em contato físico? Há interação, por 
exemplo, entre o diretor de uma empresa e aqueles trabalhadores com os quais não expede 
diretamente, mas cujas atividades determinam seus planos e ordens? Não se trata de debater 
aqui se a interação é ou não uma condição necessária para a existência psicossocial de um 
grupo: o que se afirma é que a interação propriamente dita deve ser definida se pretende 
precisar quais tipos de relações entre as pessoas geram a realidade de um grupo humano. 
Todavia, mais questionável é outro critério mencionado por Merton: a comunidade de 
esquemas de comportamento. Afirmar que só existe um grupo quando há um conjunto de 
normas pressupõe que a realidade comportamental do grupo é unimodal e funcionalmente 
consistente, algo talvez aceitável em grupos pequenos, mas muito discutível para grupos mais 
amplos e grupos mais complexos. Ao todo, uma delimitação conceitual do que é e não é um 
grupo nos parece mais ou menos adequada, não elimina a necessidade de especificar alguma 
delimitação de tal modo que se definirem quais aspectos unificadores dão origem à realidade 
grupal e quais não. 
O problema fundamental sobre a natureza dos grupos reside, pois, nos critérios de unidade, 
quer dizer, em definir a característica integradora de uma pluralidade de indivíduos que os 
analistas tradicionais denominavam mente grupal. São muitos os critérios propostos para se 
estabelecer a natureza do grupo humano. A fim de elucidar qual desses critérios, deve-se 
ponderar não somente sua capacidade para dar conta da multiplicidade de grupos que 
historicamente aparecem em cada sociedade, mas seu valor para distingui-los e para discernir 
aqueles que são mais importantes e significativos. 
Posto que todos os indivíduos envolvidos em uma diversidade de grupos em que radicam e 
desembocam seus interesses, a análise sobre a natureza dos grupos humanos necessita de uma 
particular transparência ideológica, que não esteja tão restrita em nos abstrair de nosso lugar 
histórico, quanto em assumir conscientemente e dar razão a ela. Segundo Didier Anzieu 
(1978), a imagem do grupo desperta nas pessoas tanto a esperança de satisfazer seus desejos 
como a angústia que surge no confronto com os outros. Por isso, como pontua Armando 
Bauleo (1983, pág, 17), “o grupo é a construção ideológica por excelência, através da qual se 
pode manifestar os diferentes mecanismos em jogo numa ideologia”. Em um país como El 
Salvador, onde o confronto social acentuou a vivência do grupo como objeto ao mesmo tempo 
de expectativas e de angústia, o termo “organizar-se” em grupo chegou a significar a 
incorporação das pessoas às organizações populares ou revolucionárias: “estar organizado” 
ser “um organizado”, refere-se a ser parte de algum grupo insurgente. 
 
2. Enfoques psicossociais sobre o grupo 
 
2.1. Seis critérios para definir um grupo 
As principais características dos grupos em psicologia social podem se sintetizar, segundo 
Marvin E. Shaw (1980) em seis enfoques. Cada um dos modelos enfatiza um critério para a 
existência de um grupo, apesar de frequentemente se adicionar outras condições necessárias. 
Os seis critérios contemplados por esses modelos são: (a) percepção dos membros; (b) 
motivação compatível; (c) metas comuns; (d) organização; (e) interdependência; e (f) 
interação. 
a) Para alguns psicólogos, a realidade de um grupo requer que os indivíduos tenham 
alguma consciência dos vínculos que os unem. Somente quando os indivíduos 
percebem a si mesmos como relacionados com outros podem atuar em função dessa 
relação, quer dizer, como membros de um grupo e não como simples indivíduos. 
Quando as pessoas estão conscientes da relação (e consequentemente atuam nela) o 
grupo começa a ter realidade psicossocial. 
M. Smith e Robert R. Bales seriam representantes característicos deste enfoque. 
Segundo Smith, um grupo social é “uma unidade consistente em certo número de 
organismos separados (agentes) que têm uma percepção coletiva de sua unidade e que 
possuem capacidade para atuar e\ou atuam efetivamente de um modo unitário, frente a 
seu meio ambiente” (Shaw, 1980, pág. 21). Como se pode ver, Smith postula duas 
condições necessárias para a existência de um grupo: a percepção de unidade e a ação 
unitária. Contudo, a percepção seria a condição primordial para o surgimento de um 
grupo, já que estaria na base da ação enquanto unitária e daria origem ao grupo, 
mesmo que só tivesse a capacidade para a ação desse tipo. 
 
b) Um grupo humano existe, afirmam outros cientistas sociais, na medida em que 
responde às necessidades dos indivíduos que o formam. A condição essencial para a 
existência de um grupo radica nas necessidades e motivações das pessoas que são 
levadas a buscar as suas satisfações através da relação com outras pessoas. Bemard M. 
Bass (1960, pág. 39), por exemplo, afirma que um grupo é aquele “conjunto de 
indivíduos cuja existência enquanto conjunto é gratificante aos indivíduos”. Disso o 
porquê de o grupo familiar tender a se desintegrar mais rapidamente quando não 
responde às necessidades de seus membros: os pais se divorciarão, os filhos seguirão 
seu próprio caminho. Assim, pois, esse enfoque enfatiza as motivações dos indivíduos; 
são essas motivações que levariam a buscar relações com outros e em caso de 
necessidades não satisfeitas, impulsionarão o rompimento das relações em conjunto. 
 
c) Para certos analistas, o elemento que unifica a pluralidade de indivíduos em um grupo 
é haver um objetivo em comum. A diferença do modelo anterior é pequena, porém 
importante: em um caso, não se trata de trata de todos os indivíduos se unirem pelas 
mesmas motivações, sem que as próprias motivações de cada indivíduo sejam 
satisfeitas pelo grupo, ainda que distintas. Pai, mãe e filhos podem ter distintas 
motivações para manter o grupo familiar, mas os três permanecerão como grupo 
contanto que essas motivações sejam satisfeitas. Em contrapartida, o presente enfoque 
assume que a realidade grupal surge da busca de um objetivo comum, de uma mesma 
meta, por parte de vários indivíduos. T.M. Mills (1967, pág.2), por exemplo, define os 
grupos pequenos como “unidades compostas por duas ou mais pessoas que entram em 
contato para atingir um objetivo e que consideram que tal contato é significativo”. 
Vários trabalhadores se unem a fim de confrontar os proprietários da empresa em que 
trabalham e assim atingir uma série de reivindicações laborais. O que os une em um 
sindicato é o objetivo comum de conseguir um aumento salarial ou melhores 
condições de trabalho, meta que requer precisamente a força da unidade grupal. 
 
d) Um bom número de psicólogos e sociólogos afirma que o elemento unificador que 
gera a realidade do grupo não deve ser buscado nas características dos indivíduos 
(percepção, motivações, objetivos) nem na estruturação organizada de suas relações 
mutuas. O elemento de unidade não estaria desse modo, em umacaracterística comum 
a todos os indivíduos, mas em um ordenamento peculiar e mais ou menos estável de 
vínculos entre estes. Sherif e Sherif (1975, pag. 118), por exemplo, definem o grupo 
como “uma unidade social que conta com certa quantidade de indivíduos que têm, uns 
com os outros, relações de papel e status, que se estabilizaram em certo grau até o 
momento, e que possuem um conjunto próprio de valores ou normas que regulam seu 
comportamento, ao menos em assuntos que têm consequências ao grupo”. A natureza 
do grupo não estaria nas partes (nos indivíduos) e sim no todo (o grupo como tal). O 
grupo familiar existirá na medida em que seja um pai, uma mãe, um filho, ou qualquer 
outra combinação que denote a existência de papeis definidos e mutuamente referidos 
e normas que regulem as relações entre os membros da família. 
 
e) Segundo muitos, a realidade do grupo surge pela interdependência de vários 
indivíduos. Contudo, esse enfoque destaca mais o fato de que não se requer uma 
característica comum entre todos os membros para que o grupo exista; a comunidade 
estaria na vinculação dos membros ente si que os faz dependentes uns dos outros. Os 
membros de uma equipe podem ter motivações distintas para jogar e inclusive 
perseguir objetivos distintos; mas é claro que dependem uns dos outros, já que a falta 
de alguém na equipe a torna incompleta e o que cada um faz afeta todos os demais. 
Dorwin Cartwright e Alvin Zander (1971, pág. 60), que desenvolvem a abordagem 
seminal de Lewin definem grupo como “um conjunto de indivíduos cujas relações 
mútuas são interdependentes em algum grau significativo”. O caráter definidor dos 
grupos seria a interdependência de seus membros, o qual permitiria distinguir tipos de 
grupos segundo a natureza e a extensão dessa dependência mútua. 
 
f) Finalmente, muitos autores consideram que o caráter essencial para a constituição de 
um grupo é a interação de vários indivíduos: tem-se um grupo quando as ações das 
pessoas são mutuamente referidas, de modo que a ação de um esteja essencialmente 
vinculada à ação de outros e vice-versa. H. Bonner (1959, pág.4) define grupo como 
“um conjunto de pessoas em interação recíproca”: “é o processo de interação que 
distingue um grupo de um agregado”. Como se pode ver, Bonner segue a abordagem 
de Merton, que propunha que a interação e as normas constituem os elementos 
necessários para que exista um grupo. A interação é uma forma de interdependência e, 
desse modo, assumi-la como critério para a existência de um grupo supõe uma visão 
mais restringida do que se pode considerar como grupo. 
 
Segundo Shaw (1980, pág. 24-25), todos os enfoques são válidos na medida em que 
assinalam algum aspecto da realidade grupal. Assim, por exemplo, as motivações dos 
indivíduos podem explicar porque surge um grupo, enquanto a percepção dos 
membros pode dar razão a alguns dos comportamentos grupais. As motivações de um 
grupo de trabalhadores confrontados numa situação de crise econômica pode explicar 
a formação de um sindicato, inclusive frente às graves pressões ambiente. De maneira 
semelhante, a percepção que os membros de uma determinada seita religiosa têm de si 
mesmos pode tornar compreensíveis alguns de seus comportamentos. “Mas nenhum 
desses aspectos é necessário nem, tampouco, suficiente para definir o que é um grupo” 
(Shaw, 1980, pág. 25). Para Shaw, o essencial de um grupo é a interação e influências 
mútuas; um grupo é constituído por “duas ou mais pessoas que interagem mutuamente 
de tal modo que cada pessoa influi em todas as demais e é influenciada por elas”. 
 
Uma análise dos seis modelos sobre a realidade do grupo nos permite estabelecer uma 
diferenciação básica entre eles: por um lado estão aqueles modelos que postulam 
como elemento unificador um caráter comum a todos os indivíduos que fazem parte de 
um grupo. Por outro lado aqueles modelos que salientam como elemento unificador 
algum tipo de vínculo entre as partes de membros do grupo. Reencontramos, assim, as 
duas formas de solidariedade social pontuadas por Durkheim (1893/1967): a 
mecânica, fundamentada na comunidade de elementos (as pessoas pensam, sentem ou 
atuam da mesma maneira); e a orgânica, baseada na dependência funcional entre os 
membros de uma sociedade. Os três primeiros modelos correspondem a um tipo de 
solidariedade mecânica: o grupo formaria a unidade de percepção, de satisfação 
motivacional ou de objetivos. Os três últimos modelos correspondem majoritariamente 
a formas de solidariedade orgânica: o grupo dependeria de uma organização funcional, 
da interdependência ou da interação de seus membros (ver quadro 9). 
 
Quadro 9 
Seis modelos sobre a natureza da unidade grupal 
Modelos de “solidariedade mecânica”: 
1. Perceberem-se como membros 
2. Satisfação de motivações 
3. Objetivo em comum 
Modelos de “solidariedade orgânica”: 
1. Organização funcional 
2. Interdependência dos membros 
3. Interação 
 
Examinaremos duas teorias grupais representativas de cada um desses tipos de enfoque: a 
Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud como modelo de “solidariedade mecânica”, e a Teoria 
do Campo de Kurt Lewin como exemplo de “solidariedade orgânica”. 
 
2.2. A Teoria grupal de Freud: solidariedade mecânica 
A teoria de Freud sobre o grupo, relativamente pouco usada pelos psicólogos sociais, é 
apresentada em duas obras: Totem e Tabu (1913/1967) e “Psicologia das Massas” 
(1921/1972). Desde o marco conceitual da psicanálise, o grupo deve ser analisado com 
categorias psicológicas, já que, como disse o próprio Freud a respeito do marxismo, 
“tampouco a sociologia, que trata da conduta do homem na sociedade, pode ser outra coisa 
senão psicologia aplicada” (Freud, 1932/1968, pág. 964). Assim, ainda em sua análise mais 
detalhada sobre o grupo, Freud parte das ideias de Le Bon (1895/1972) acerca da conduta das 
massas; termina refletindo sobre a configuração do eu individual (do ego); daí o título 
completo de sua obra “Psicologia das massas e análise do ego”. Em última instância, Freud 
considera que a realidade do grupo deve remeter ao que para ele constitui o eixo articulador 
da configuração humana, o conflito edípico. 
Segundo Freud, a existência dos grupos tem que ser examinada à luz de duas perguntas: (a) o 
que é que vincula os diversos membros com o chefe ou líder do grupo? (b) o que é que 
vincula os membros de um grupo entre si? A resposta de Freud é a mesma para ambas as 
perguntas: trata-se dos vínculos amorosos, vínculos verdadeiramente libidinais, ainda que 
aqueles que ligam os indivíduos com o chefe são primários enquanto que aqueles que ligam 
os membros entre si são derivados ou secundários. Por isso, a principal distinção feita por 
Freud é entre grupos com chefes e grupos sem eles; esses últimos constituiriam certo 
contrassenso. 
O chefe é aos membros do grupo o que o pai é aos filhos de uma família. O desejo infantil de 
obter para si a mãe tropeça na lei do pai, que impõe seu direito exclusivo sobre a mãe e 
impede assim a satisfação direta das pulsões libidinais do filho. Confrontado com esse 
conflito edípico, o menino se identifica com o pai e introjeta sua imagem como parte de seu 
próprio ego; o pai se converte no modelo interno, o “ideal de ego” que o menino imita para 
conquistar o objeto desejado. Essa identificação com o pai estabelece um forte vinculo afetivo 
entre ambos, vinculo não isento de ambivalência, quer dizer, de uma mescla de amor e ódio. 
O que ocorre entre os membros de um grupo e o chefe constitui uma repetição psicossocial do 
conflito edípico. Todo chefe representa uma figura paterna, com a qual todos os membros de 
um grupo se identificam, criando assim entre eles um vínculo libidinal. Isso ocorre, por 
exemplo, na igreja católica e no exército, dois grupos “artificiais” que Freud toma como 
exemplos, onde se produz a mesma ilusão coletiva: “a ilusão da presença visível ou invisívelde um chefe (Cristo, na igreja católica e o general como chefe, no exército), que ama 
igualmente todos os membros da coletividade” (Freud 1921/1972, pág. 32; ver texto 18). 
Portanto, o elemento principal para a existência de um grupo é a identificação de seus 
membros com o chefe ou líder, o qual introjetam como ideal de seu ego aceitando desse modo 
suas exigências como se surgissem de si mesmos. 
A identificação primária com o chefe do grupo serve de base para a identificação dos 
membros do grupo entre si. A comunidade de laços com o chefe gera uma comunidade 
afetiva. Deste modo, a rivalidade e os zelos que deveriam existir ente os membros de um 
grupo, com todos aspirando ao mesmo objeto, se transforma, mediante uma característica 
formação reativa, em amor e vínculos fraternos. Daí brotaria, segundo Freud, a exigência de 
justiça e igualdade: “já que nenhum pode ser preferido, pelo menos ninguém o seja” (Freud 
1921/1972, pág. 57). Mas assim, como a identificação com o chefe é de ordem primária, a 
identificação com os outros membros é de ordem secundária, em função da existência de um 
“ideal de ego” comum. Um grupo é desse modo, ‘uma reunião de indivíduos que substituíram 
seu ideal de “ego” por um mesmo objeto, tendo como consequência o estabelecimento entre 
eles de uma identificação geral e recíproca do “ego” ‘(Freud, 1921/1972, pág. 53). 
Cabe perguntar por que as pessoas, uma vez resolvido seu Édipo familiar, necessitam buscar 
outras imagens paternas com as quais se identificarem, isto é, qual é a pulsão que os leva a 
buscar novos objetos de identificação libidinal. A razão se encontra no mesmo processo de 
identificação pelo qual se resolve o Édipo; esse processo nunca é totalmente satisfatório, já 
que a mescla conflitiva de amor e ódio, em relação ao pai, que o individuo experimenta não 
desaparece com a introjeção, mas se volta interna e permanente. Disto provém a busca 
insaciável de figuras paternas. Daí também a identificação com o chefe grupal ser sempre uma 
derivação psicológica do conflito edípico. 
 
Em suma, a teoria psicanalítica entende que um grupo surge da identificação de uns 
indivíduos com outros individuo, o chefe, introjetado como ideal de seu ego. Com base nessa 
identificação primária, comum, os membros de um grupo podem se identificar entre si: frente 
a uma mesma imagem paterna, todos eles são iguais, irmãos. 
 
 
Texto 18 
Igreja e Exército 
 
Na igreja- e há de ser muito vantajoso tomar como exemplo a igreja católica- e no exército 
reina quaisquer que sejam suas diferenças em outros aspectos, uma mesma ilusão: a ilusão da 
presença visível ou invisível de um chefe (Cristo, na igreja católica, e o general como chefe, 
no exército), que ama com igual amor todos os membros da coletividade. Dessa ilusão 
depende de tudo, e seu desvanecimento traria consigo a desagregação da igreja ou do 
exército, na medida em que a coerção exterior o permitir. O igual amor de Cristo por todos 
seus fiéis é expresso claramente nas palavras: “Em verdade vos digo, o que fizerdes a um de 
meus irmãos, fazeis a mim”. Para cada um dos indivíduos que compõem a multidão crente, 
Cristo é um irmão bondoso maior, a substituição de um pai. Deste amor de Cristo se derivam 
todas as exigências que servem como objeto ao individuo crente e o alento democrático que 
anima a igreja depende da igualdade de todos os fiéis ante Cristo e sua participação idêntica 
no amor divino. Não sem uma profunda razão, compara-se a comunidade cristã com uma 
família e se consideram os fiéis como irmãos de Cristo; isto é, como irmãos pelo amor que 
Cristo lhes professa. No laço que une cada individuo com Cristo temos de ver 
indiscutivelmente a causa do que une os indivíduos entre si. Analogamente sucede com o 
exército. O chefe é o pai que ama igualmente todos os soldados, razão pelo qual estes são 
camaradas uns dos outros. A partir ponto de vista da estrutura, o exército se distingue da 
igreja pelo fato de ser composto por uma hierarquia de massas desta ordem: cada capitão é 
general enquanto chefe e o pai de sua companhia; e cada suboficial, o de sua sessão. Assim 
mesmo, a igreja apresenta uma hierarquia, mas que já não desempenha em si mesma o 
mesmo papel econômico, pois há de se supor que Cristo já desempenha nela papel 
econômico, posto que Cristo conheça melhor seus fiéis que o general aos seus soldados e se 
ocupe mais de seus fiéis. 
 
Freud, 1921/1972, págs. 32-33 
 
 
 
O modelo de grupo da teoria freudiana reflete o esquema simplificado da família patriarcal: 
com base e centro há um paterfamílias ao redor do qual giram os filhos ou membros do 
grupo, configurando uma estrutura radical fortemente hierárquica. Há grupo porque há 
identidade de todos os membros com o objeto introjetado, o chefe. Os vínculos grupais são de 
ordem afetiva, libidinosa, ainda que ambivalentes. Assim, junto ao amor ao chefe está o ódio, 
mas ou menos reprimido, e que eventualmente aparecerá na rebeldia, na insurgência ou na 
revolução social (Mischerlich, 1971): junto à solidariedade fraterna com os companheiros de 
grupo, está a inveja e a rivalidade, sempre prestes a emergir e que, em geral, se desloca aos 
grupos com os quais não há identidade de modo a nos sentirmos como estranhos dentro 
desses. 
 
2.3. Teoria grupal de Lewin: solidariedade orgânica 
A teoria de Kurt Lewin sobre o grupo é também, como a de Freud, uma extensão de sua 
concepção acerca da conduta individual e, de fato, tem sido mais bem desenvolvida por seus 
seguidores (Lewin, 1951, 1969, Cartwright e Zander, 1971). Kurt Lewin procedia do mesmo 
laboratório de Psicologia da Universidade de Berlin que na década de 1920 viu nascer a 
Psicologia da Gestalt. Lewin foi considerado parte desse movimento, desde o principio suas 
ideias se caracterizaram por certa “heterodoxia”. Contudo, seu enfoque também concede 
prioridade à totalidade frente à parte, ao sistema frente aos elementos. 
A fim de obter uma representação adequada dos processos psíquicos, Lewin utilizou o aparato 
conceitual da topologia, uma espécie de matemática não quantitativa das relações espaciais, 
que ele adotou a seu modo. O conceito mais fundamental da sua topologia foi o de “espaço 
vital”, para se referir a todos aqueles fatores psicológicos ou circunstanciais que, em cada 
situação concreta, podem determinar a conduta do indivíduo. O espaço vital constitui o campo 
de forças no qual se move a cada momento um determinado individuo. O comportamento de 
uma pessoa será, em cada caso, função da situação particular das forças em seu campo ou 
espaço vital. 
Em qualquer momento, o espaço vital de um indivíduo é composto por dois tipos de fatores: a 
pessoa e seu ambiente psicológico. A este conjunto de fatores Lewin denominou “regiões” do 
espaço vital, e cada região exerce uma atração ou repulsão sobre a pessoa, o que se representa 
mediante “valências” positivas ou negativas. O comportamento de uma pessoa sempre será 
uma função da interação entre a pessoa e seu meio, como indica a conhecida fórmula 
Lewiniana c = f (p a), onde c é a conduta; p, a pessoa; a, o ambiente. Tanto a pessoa como o 
meio, enquanto regiões estão divididas por sua vez em sub-regiões, ou regiões menores, quer 
dizer, na diversidade de fatores psicológicos presentes no espaço vital de um indivíduo e em 
um momento e situação concretos. 
O espaço vital se encontra em um processo de mudança constante devido à relação entre a 
pessoa e seu ambiente. Lewin representa essa mudança constante como um campo de forças. 
A pessoa tende a mudar sua localização no espaço vital (locomoção), ou seja, a se mover de 
uma região à outra como consequência do equilíbrio ou desequilíbrio no sistema de forças. 
São os sistemas de tensão que geram a conduta dirigida a um fim e os mantêm até que se 
obtenha o objetivo buscado e desaparece a tensão. Para Lewin, tensão não significa stress 
emocional, mas disposiçãopara atuar. Enquanto existe um estado de tensão, o individuo 
tenderá a se mover para uma região com valência positiva, isto é, a atuar para atingir um 
objetivo desejado. 
Dessa concepção se segue uma hipótese interessante, que foi estudada experimentalmente por 
uma das primeiras alunas de Lewin, Bluma Zeigarnik: posto que a conduta finalista seja 
gerada de um estado de tensão e essa permanece enquanto não se atinge a meta pretendida, as 
pessoas tenderão a recordar mais e melhor das tarefas incompletas do que das já completas. 
Esse fenômeno recebeu o nome de efeito Zeigarnik, e seu conhecimento e medição (o 
“quociente Zeigarnik”, que é a relação entre as tarefas não completas recordadas com as 
tarefas completas recordadas) permitiu estudar a força das motivações pessoais. 
O sistema conceitual desenvolvido por Lewin para analisar a conduta individual era útil para 
analisar também a conduta do grupo. Por um lado, os grupos podiam ser concebidos como 
regiões do espaço vital dos indivíduos. Por outro, os mesmos grupos poderiam ser concebidos 
como campos de força, espaços vitais, com os quais se representa sua estrutura e sua dinâmica 
internas. A conduta do grupo seria, então, a resultante do sistema particular de tensão entre os 
membros do grupo e um momento determinado. Mas assim como a conduta individual 
constitui sempre função do estado de forças em um espaço vital, a conduta grupal seria a 
resultante não da ação de um ou outro individuo que compõe o grupo, mas do sistema de 
relações entre os membros do grupo. Assim, a compreensão do que o grupo é e como atua 
deveria ser buscada mais no sistema de relações, quer dizer, na interdependência dos 
membros do grupo que nas características de cada um de seus membros em particular. 
Um grupo não é, portanto, uma simples pluralidade de indivíduos, mas um todo dinâmico, um 
conjunto de relações que envolvem os indivíduos. A natureza do grupo está na 
interdependência de seus constitutivos e como no caso dos indivíduos, o sistema grupal 
também se encontra em um continuo processo de mudança. Daí a importância que Lewin 
concede à planificação da mudança social, que é sistematizada em três fases ou estágios: um 
primeiro estágio de descongelamento dos hábitos estabelecidos; um segundo estágio de 
indução dos novos comportamentos desejados; e um estágio final de “recongelação” dos 
comportamentos recém-induzidos até estabelecê-los como hábitos. 
 
2.4. Reflexão crítica sobre as teorias grupais 
É evidente que todo um abismo conceitual empírico separa a teoria grupal psicanalítica da 
teoria do campo. Para Freud, é a identificação com um mesmo chefe que vincula os membros 
do grupo entre si, enquanto que para Lewin o que as liga são os vínculos de mútua 
dependência. Em um caso, a união se baseia em um caráter comum, que Freud considera de 
natureza libidinal, afetiva; no outro, a união surge da confluência de necessidades, motivações 
ou aspirações dos membros de um grupo. Mas ambos os enfoques propõe, com razão, que um 
grupo é mais que uma superposição de indivíduos, e o que tem que examinar é aquilo que 
transforma uma diversidade de pessoas em um grupo humano. 
Outro aspecto positivo de ambas as teorias é o caráter dinâmico que atribuem aos grupos 
humanos. Para a psicanálise, essa dinâmica deve ser buscada nas mesmas raízes que levam os 
indivíduos a se identificarem com o chefe do grupo, estabelecendo assim uma relação de 
ambivalência, de amor e ódio, cujo caráter raras vezes é consciente. Para a teoria Lewiniana 
do campo o dinamismo grupal surge da evolução e mudança dos sistemas de forças no interior 
do grupo, mudanças estas não atentadas por Lewin, mas amplamente estudadas por seus 
sucessores. 
Junto a esses aspectos positivos, tanto a teoria psicanalítica como a teoria do campo, sobre o 
grupo, padecem de graves defeitos. Os mais importantes, que afetam também a maioria dos 
modelos grupais utilizados em psicologia social são: (a) parcialidade dos paradigmas 
predominantes; (b) perspectiva individualista; e (c) a-historicismo. 
(a) Parcialidade paradigmática: como já foi indicado, o modelo paradigmático que 
aparece por trás das análises de Freud é o grupo familiar, principalmente a família 
enquanto constituinte do sistema que materializa o conflito edípico. No caso da teoria 
do campo, o modelo de referência fundamental era composto pelo pequeno grupo de 
colaboradores e alunos que Lewin sempre tinha ao seu redor, sendo conduzido pelo 
seu estilo informal de trabalho, que anteriormente derivou as características 
“dinâmicas de grupo” (ver Schellenberg, 1978). Em ambos os casos, tratam-se de 
grupos pequenos, caracterizados pela interação direta, “cara a cara”, entre seus 
membros. A psicologia social tem se voltado a conceber todo grupo humano a partir 
da perspectiva dos microgrupos, até o ponto em que falar em grupo quase passou a 
expressar automaticamente grupos pequenos. Essa perspectiva se alastrou 
negativamente às análises psicossociais, perdendo-se de vista importantes processos e 
características que só aparecem em grupos grandes; alinhou-se ou se caiu no perigo 
reducionista de assumir que os macro grupos não são mais que a reprodução em maior 
escala dos grupos pequenos. 
 
b) individualismo: o fato de que tanto a psicanálise com a teoria do campo Lewiniana 
foram primeiro e primordialmente concebidas para dar a razão de ser dos 
comportamentos dos indivíduos condiciona e limita suas possibilidades de analise 
sobre os grupos. O centro de interesse segue sendo o indivíduo, sobretudo no caso da 
psicanálise. De fato a teoria do campo conceitua o grupo como uma totalidade e que 
sua analise se fixa nos membros do grupo enquanto tais, isto é, enquanto relacionados 
e dependentes entre si, não enquanto indivíduos. Contudo, as relações e dependências 
examinadas seguem sendo na maioria das vezes interindividuais ou interpessoais com 
uma ênfase particular nos elementos subjetivos das relações, algo quase inevitável 
quando o que está sendo analisado são grupos em geral muito pequenos. 
 
c) A-historicismo: se a crítica sobre o individualismo se aplica mais à psicanálise que 
à teoria do campo, o contrário ocorre com a crítica sobre o a-historicismo. À principio, 
Lewin reduz o espaço vital (dos indivíduos e dos grupos) àqueles elementos que aqui e 
agora influenciam em um determinado comportamento. Essa redução abstrai os 
indivíduos ou grupos de sua história, quer dizer, de todos aqueles fatores e processos 
necessários para dar a razão de ser suficiente sobre os elementos presentes no espaço 
vital. Um presente sem passado, um aqui sem um ali, termina por se converter em uma 
naturalização positivista de todo dado que impede as possibilidades de compreender o 
caráter ideológico da realidade grupal. Fora as dificuldades teóricas e empíricas que 
embasam a delimitação do presente, quer dizer, definir onde terminam as ramificações 
significativas dos elementos presentes na realidade de um grupo (qual é a fronteira 
entre um espaço vital de um grupo e seu meio externo), ao reduzir os fatores grupais a 
seu aqui e agora,, priva-se a análise psicossocial de sua referência básica que não está 
na materialidade das ações em si, mas na sua inclinação, processos e interesses sociais 
mais amplos. Ao privar conceitualmente os processos grupais de seu caráter histórico, 
obstrui-se de antemão a possibilidade de uma análise psicossocial, ou seja, um exame 
do ideológico nas ações do grupo. Esse mesmo material ideologizado é tarefa da 
psicossociologia, tornando-a instrumento a serviço dos interesses sociais dominantes 
(ver Braunstein, 1979). 
Ainda que cada uma dessas três objeções seja mais aplicável a alguns modelos do que outros, 
em conjunto as três críticas formuladas podem ser aplicadas como linhas predominantes na 
psicologia social para o estudo dos grupos humanos. Este fato tem sido mais lamentado no 
desenvolvimentodas chamadas “dinâmicas de grupo”, que tem sido dinâmicas abstratas, 
grupos pequenos enfrentando circunstâncias e objetivos sem maior importância social. Colin 
Fraser e Donald Foster (1984) compararam os estudos com grupos de laboratório com os 
estudos sobre aprendizagem verbal e memória com sílabas sem sentido iniciados por 
Ebbinghaus no século passado. Propôs que esse tipo de grupo deva ser qualificado como 
grupo sem sentido ou absurdo (nonsense groups), já que constituem “um conjunto temporal 
de jovens desconhecidos, os quais em sua primeira união são colocados para resolver um 
enigma em condições estranhas durante um tempo enquanto observa-os através de um espelho 
unidirecional” (pág. 474, citando J.D Berker). Os grupos sem sentido de laboratório, próprios 
da dinâmica de grupo, tinham que fazer oposição aos grupos sociais, àqueles que, como a 
família e o sindicato, a turma de amigos ou o partido politico, ocorrem na vida real, têm uma 
história e afetam significativamente às pessoas. 
 
3. Uma teoria dialética sobre o grupo humano 
A partir das análises e reflexões anteriores surgem três condições que devem reunir uma 
teoria psicossocial sobre os grupos humanos que seja mais adequada que os modelos de uso. 
(a) Deve dar conta da realidade social do grupo enquanto tal. Realidade não redutível às 
características pessoais dos indivíduos que constituem o grupo. Embora, enquanto 
teoria psicossocial deve ser capaz também de integrar os aspectos pessoais, quer dizer, 
as particularidades de cada grupo que surgem das características e peculiaridades 
próprias de seus membros. Só assim, o grupo aparecerá em seu caráter dialético, como 
lugar privilegiado onde o pessoal conflui com o social e o social se individualiza. 
 
(b) Deve ser suficientemente compreensiva para incluir tanto os grupos pequenos como os 
grupos grandes. Isso requer definir aqueles parâmetros essenciais sobre a realidade do 
grupo que permita estabelecer tipologias que diferenciem bem entre uns e outros, mas 
que não deixem de lado nenhum dos grupos mais significativos da vida humana. 
 
(c) Deve incluir como um de seus aspectos básicos o caráter histórico dos grupos 
humanos. Isso exige remeter cada grupo a sua circunstância concreta e ao processo 
social que o configurou, sem assumir, pata tanto, que grupos formalmente semelhantes 
tenham o mesmo sentido ou constituam uma realidade idêntica nem descartar que 
grupos diferentes podem representar fenômenos equivalentes em contextos e situações 
históricas distintas. 
 
À luz destas exigências, definimos um grupo humano como aquela estrutura de vínculos e 
relações entre pessoas que canaliza em cada circunstância suas necessidades individuais e / ou 
os interesses coletivos. Expliquemos esta definição. 
Um grupo é, em primeiro lugar, uma estrutura social. O grupo é uma realidade total, um 
conjunto que não pode ser reduzido à soma dos seus constitutivos. Uma família é mais que 
um homem, uma mulher e um menino; um batalhão é mais que uma centena de homens 
armados; esse mais é dado em ambos os casos pelos conjuntos que formam as totalidades que 
os constituem. Essa totalidade do grupo supõe alguns vínculos entre os indivíduos, uma 
relação de interdependência que é a que estabelece o caráter de estrutura e faz das pessoas 
membros. Fala-se de uma estrutura social, primeiro porque, como já foi indicada, condição 
essencial para a existência do grupo é a participação de vários indivíduos; mas o caráter social 
da estrutura grupal radica precisamente no que surge como produto de uma referência mútua e 
necessitar de seus membros e/ou de suas ações. Há grupo familiar na medida em que a 
realidade do pai surge pela necessidade de relação com a mãe e com o filho; há batalhão na 
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medida em que um soldado está ligado necessariamente aos companheiros e oficiais, às regras 
e à disciplina. 
Em segundo lugar, afirma-se que a estrutura social que um grupo representa constitui um 
canal de necessidades e interesses em uma situação e circunstância específicas. Com isso, 
afirma-se o caráter concreto, histórico de cada grupo. O grupo familiar da Roma imperial não 
era o mesmo que o das cidades e burgos medievais ou de um grupo familiar do Estado 
contemporâneo do Japão. Mas afirma-se também que o grupo é o condutor através do qual se 
canalizam necessidades e interesses humanos seja em Roma, nas cidades medievais ou no 
Japão de hoje. Em outros termos, o grupo é uma estrutura que responde às necessidades e 
exigências dos seres humanos; há grupos porque, independentemente de suas formas 
concretas, o agrupar-se é condição essencial para satisfazer as necessidades do homem. 
Assim, cada grupo constitui a realização, isto é, a configuração histórica de algum aspecto das 
exigências ou potencialidades humanas. Daí a imensa variedade de grupos, desde aqueles 
diretamente orientados à satisfação de necessidades biológicas mais fundamentais, até aqueles 
que resultam como produto das opções mais peculiares e exóticas ou de coincidências 
circunstanciais. 
Finalmente, a definição proposta assinala que um grupo canaliza tanto as necessidades 
pessoais como os interesses coletivos. Este ponto é crucial a partir da perspectiva psicossocial. 
Alguns grupos são primordialmente resultado das necessidades peculiares dos indivíduos que 
os compõem; mas há também grupos que são a expressão e a materialização dos interesses 
coletivos, quer sejam os interesses conflitivos de uns povos contra outros ou de umas classes 
sociais frente a outras. Agora, mesmo aqueles grupos formados como resposta às 
necessidades dos indivíduos constituem em seu fundo a materialização diversificada de 
interesses sociais, assim como os grupos que respondem a interesses coletivos também 
materializam e canalizam interesses pessoais. Desse modo, o grupo tem sempre uma 
dimensão de realidade referida a seus membros e uma dimensão mais estrutural, referida à 
sociedade em que se produz. Ambas as dimensões, a pessoal e a estrutural, estão 
intrinsecamente ligadas ente si. A formação de uma nova família pode ser decisão particular 
dos indivíduos; mas sua realização canaliza uns interesses, umas formas e umas opções 
sociais que impregnam o grupo familiar e o transcendem. De maneira semelhante, a 
constituição de um sindicato obreiro tente a articular os interesses pessoais de alguns de seus 
dirigentes e ainda servir como instrumento assimilador ou de cooptação aos interesses 
patronais. A própria formação de uma classe social não depende à principio da vontade 
subjetiva de seus membros, mas alimenta e configura essa vontade. 
O fato de que todo grupo canaliza umas necessidades ou interesses não quer dizer que cada 
grupo responda às necessidades ou interesses daquelas pessoas que o compõem. Como já se 
aponta ao mencionar o caso dos sindicatos, um dos elementos críticos para compreender a 
complexidade dos processos grupais se constitui a possibilidade da alienação, quer dizer, que 
o grupo responda a interesses alheios aos de seus membros (por exemplo, os interesses do 
patrão, contrários aos dos trabalhadores) inclusive interesses que desumanizam os seus 
membros. (Ver texto 19). 
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Essa concepção de grupo nos leva a examinar os fenômenos grupais na sua historicidade de 
uma forma dialética. Daí que os principais parâmetros para a análise de um grupo são três: 1- 
a identidade do grupo, quer dizer, a definição do que é e o que o caracteriza como tal frente a 
outros grupos; 2- o poder de que dispõe o grupo em suas relações com os demais grupos; 3- 
mais a significação social desenvolvida e produzida na atividade grupal. 
3.1. A identidade grupal 
O primeiro parâmetro para definir um grupo é sua identidade. O que é grupo? Quais as 
características específicas que definem sua identidade comotal, quer dizer, qual é a 
característica de sua totalidade? Um grupo será uma família, uma turma de amigos, um clube 
esportivo, um sindicato, um regimento militar, os membros de uma seita religiosa, os 
integrantes de um colégio profissional. A identidade de um grupo não significa que todos os 
membros possuem necessariamente um mesmo traço; se assim fosse, estaríamos de novo 
incorrendo naquela visão que postula um elemento comum a todos os indivíduos para que 
formem um grupo. O que a identidade grupal requer é que exista uma totalidade, uma unidade 
de conjunto e que essa totalidade tenha uma peculiaridade que permita diferenciá-la de outras 
totalidades. Em outras palavras, a identidade de um grupo como tal requer sua alteridade em 
relação a outros grupos. 
Basicamente três aspectos conformam a identidade de um grupo: (1) sua formação 
organizativa; (2) suas relações com outros grupos; e (3) a consciência de seus membros 
(Martín-Baró, 1988a). Esses três aspectos podem ser empiricamente operados como 
indicadores da identidade de um determinado grupo. 
 
Texto 19 
O processo grupal 
Devemos partir da ideia de que o homem do qual estamos tratando é fundamentalmente o 
homem alienado; essa alienação pode ainda assumir diferentes formas e graus. Neste sentido, 
suas representações e a consciência que tem de si mesmo e do outro estão sempre, num 
primeiro momento, fundamentalmente desviadas dos determinismos concretos que as 
produzem. Sempre há dois níveis que operam: o da vivência subjetiva, marcado pela 
ideologia, em que cada qual se representa como um individuo livre, capaz de se 
autodeterminar, “consciente”(*) de sua própria ação e representação; e o nível da realidade 
objetiva, no qual as ações e interações estão sempre reduzidas e mescladas por papeis sociais 
que restringem essas interações ao nível do permitido e do desejado ( em função da 
manutenção do status quo). O nível da vivência subjetiva reproduz a ideologia do 
capitalismo (o individualismo, o self-made-man), enquanto que o nível da realidade objetiva 
reproduz o esquema do sistema, ou seja, a relação dominador/dominado, 
explorador\explorado... O surgimento da consciência histórica de uma ação social como 
práxis transformadora significaria que o nível dos determinismos concretos rompe as 
representações ideológicas e a consciência se faz, momento no qual desapareceria a 
dualidade. Em segundo lugar, todo grupo ou agrupamento existe sempre dentro de 
instituições que vão desde a família, a fábrica ou a universidade até o próprio estado. Nesse 
sentido, é fundamental analisar o tipo de inserção do grupo no interior da instituição; se é um 
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grupo formado pela instituição, quais funções e efeitos se deram; se surgiu espontaneamente, 
quais condições se deram para o seu surgimento, deu-se para manter ou para se opor a essa 
mesma estrutura institucional, etc. Por outro lado, sabendo-se do estado geral de alienação, 
para toda a tarefa proposta, o grupo deve apresentar ao menos em um princípio, um estado 
maior ou menor de alienação; por isso deve-se observar como opera essa tarefa nos dois 
níveis de análise, o da vivência subjetiva e o das determinações concretas do processo grupal. 
Lane, 1985, págs. 84-85 – (9ª. Edição 1991 acréscimo nosso).(*) aspas do original 
 
3.1.1. A formação organizativa 
Todo grupo tem algum grau de estruturação interna, quer dizer, de institucionalização ou 
regularização tipificada das ações de seus membros enquanto tais. A formação organizativa de 
um grupo se concretiza, antes de tudo, na determinação das condições para pertencer a ele. As 
normas de pertencimento podem ser formais ou informais, rígidas, ou flexíveis, estáveis ou 
passageiras, mas sempre haverá critérios que determinarão em cada momento quem é e pode 
ser parte do grupo e quem não. Em geral, conhecemos bem as condições para que alguém seja 
considerado como membros de uma família. Contudo, o assunto não é simples, já que as 
normas de pertencimento à família podem variar de cultura para cultura e ainda de situação 
para situação. Qual a linha de parentesco, qual o grau de proximidade sanguínea, que forma 
de relação é requerida para que alguém seja tomado como membro de uma família? Seria o 
padrinho de batismo um membro da família? Seria o tio paterno, o primo materno ou o filho 
do primo materno? Pertencem ao grupo familiar somente aqueles que constituem o núcleo 
induzido, ou pertencem também todos aqueles que, de um lado ou de outro, têm vínculos de 
parentesco? Não se trata aqui de dar respostas a essas perguntas, que certamente constituem 
material de grande interesse para o estudo antropológico das diferentes formações culturais. O 
ponto está em assinalar a importância de determinar em cada caso a identidade de um grupo, 
que se traduz em normas de pertencimento e de exclusão no interior de cada sociedade. 
Em segundo lugar, a formalização organizativa de um grupo requer uma definição de suas 
partes, e uma regulação das relações entre elas; em que medida um grupo tem divididas as 
funções, sistematizadas as tarefas distribuídas as cargas e atribuições. A formalização 
organizativa pode se dar implicitamente, isto é, sem a necessidade de derrubar estatutos e 
regulamentos. E, certamente, a formalização teórica que aparece nas regulações escritas não é 
com frequência a que melhor reflete a organização real do grupo. 
A identidade do grupo condiciona e transcende a identidade de cada um de seus membros. O 
nome que se outorga a um grupo não é algo socialmente insignificante; é antes o selo que 
atesta a realidade grupal, o “cartão de visita” que credita o grupo como tal diante da 
consciência coletiva. Mas é evidente que de nada serve um nome sonoro ou atrativo se não 
expressa uma realidade social, uma entidade que a diferencie e se contraponha a outras 
entidades grupais. Essa realidade grupal se dá na medida em que estabelece uma estrutura de 
vínculos e ações interpessoais que no interior de um determinado setor social concretiza 
exigências e interesses objetivos. Todo o grupo, desde a família ou o núcleo de amigos mais 
íntimos até o partido político ou o grêmio canalizam interesses sociais específicos que 
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respaldam mediação concreta em uma determinada situação e circunstância histórica. Esses 
interesses sociais podem ser de caráter mais pessoal ou individualizado ou de natureza mais 
coletiva, ainda que em geral uns e outros não se oponham, mas se encontrem articulados; daí 
a identidade de um determinado grupo ser mais clara e seu enraizamento histórico mais 
profundo quanto mais vinculado o grupo estiver aos interesses de uma classe social. Cabe 
perguntar, por exemplo, em que medida as mudanças e crises que um grupo familiar 
experimenta em nossa sociedade se devem ao que sua identidade “tradicional” (*) já não 
canaliza tão eficazmente os interesses da classe dominante, como em outros tempos. (*) aspas 
do original. 
Um dos fenômenos mais característicos da sociedade salvadorenha nos anos imediatamente 
anteriores ao estopim da guerra civil em 1981 foi a proliferação de grupos, tanto mais 
chamativa quanto umas das características típicas do estado de opressão e marginalização 
histórica em que a maioria do povo havia permanecido, era sua falta de organização e 
participação em grupos sociais. Essa proliferação de grupos era a prova de que a crescente 
tomada de consciência de diversos setores sociais sobre seus interesses de classe buscava sua 
canalização organizativa em unidades grupais dinâmicas, cuja identidade era muito maleável: 
a pressão da consciência social de classe sobre os grupos emergentes os impulsionava para 
unidades cada vez mais amplas, menos individualizadas e mais classistas. Assim, em uma 
organização de massa como o Bloco Popular Revolucionário (BPR) foram se integrando 
grupos tão diversos como sindicatos campesinos,um grande grêmio de professores, um grupo 
de vendedores dos mercados e moradores de favelas. Às vésperas da guerra, o BPR se 
integraria a outras organizações populares paralelas, formando entre elas uma gigantesca 
Coordenadoria Revolucionária de Massas que, em uma única manhã, contra todo tipo de 
ameaça e obstáculo, pode colocar nas ruas de San Salvador uma manifestação de cento e 
cinquenta mil pessoas. 
 
3.1.2. As relações com outros grupos 
São as relações com outros grupos os processos históricos concretos através dos quais se 
configura primeiro e se mantém depois a identidade de cada grupo humano. Como afirma o 
velho ditado castelhano, aplicando-se às pessoas: “Diga-me com quem andas que direi quem 
és”. Algo semelhante caberia nos grupos: sua realidade se define frente a outros grupos com 
os quais se relaciona, tanto se os vínculos que estabelece são positivos como se são negativos, 
tanto se colabora como se compete com eles, tanto se as relações são formais como se são 
informais, tanto se pretende dominar como se resiste ou aceita se submeter. O grupo surge na 
dialética intergrupal que se produz historicamente em cada sociedade. Assim, uma família irá 
adquirir identidade frente às famílias já definidas de onde provêm (pais, parentes e amigos), 
assim como frente aos grupos comunais, laborais e religiosos em cujo âmbito se move. Um 
sindicato, por sua vez, irá configurar sua identidade frente ao empregador concreto, o qual 
tenha que enfrentar assim como na interação com outros sindicatos e grupos sociopolíticos. 
Em última instância, o aspecto mais definidor de um grupo provém de sua conexão, explicita 
ou implícita, com as exigências, necessidades e interesses de uma classe social. Todo o grupo, 
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desde a família ou o núcleo de amigos mais íntimos até o partido político, o sindicato e o 
grêmio, canaliza interesses sociais específicos aos de uma mediação concreta em uma 
determinada situação e circunstância histórica. Esses interesses sociais podem ser de caráter 
mais pessoal ou individualizado ou de natureza mais coletiva, ainda que em geral uns e outros 
não se oponham, mas que se encontram articulados; daí a identidade de um grupo ser mais 
clara e seu enraizamento histórico mais profundo quanto mais vinculado o grupo estiver aos 
interesses de uma classe social. 
Posto que a identidade objetiva dos grupos advenha da sua conexão com outros interesses 
sociais (pessoais e/ou coletivos), é possível que existam grupos com identidade contraditória, 
quer dizer, grupos formados por membros de uma classe social que canaliza contra si própria 
os interesses das classes opostas. O caso mais característico da história atual dos países 
centro-americanos constitui aqueles grupos paramilitares promovidos pela doutrina de 
segurança nacional, que serve de pontapé aos movimentos contrarrevolucionários. Esses 
grupos se integram com pessoas provenientes de setores campesinos ou marginais urbanos e 
se encarregam de abortar ou combater qualquer tipo de reivindicação, reclamação ou 
movimento opositor dos próprios campesinos ou marginais. Produz-se assim, o paradoxo de 
grupos campesinos que, em defesa dos interesses da classe dominante, destroem todo o 
levante de organização de seus próprios interesses de classe campesina. Por isso, Michael 
Billig (1976, págs. 263 y ss.) distingue entre os grupos-em-si e os grupos-para-si (*). Essa 
distinção é uma simples aplicação da mesma diferença que se faz sobre as classes sociais (ver 
Martín-Baró, 1983, pág. 81). Os grupos-em-si têm uma existência objetiva, mas carecem 
daquela consciência que lhes permita adequar sua identidade ativa e suas tarefas aos interesses 
da classe social à qual correspondem historicamente; somente quando um grupo adquire essa 
consciência e trata de adequar sua identidade e suas metas a seus vínculos objetivos, quer 
dizer, quando se orienta à canalização dos interesses da classe de que faz parte, pode-se falar 
em grupo-para-si. Mas esse ponto já nos introduz o terceiro aspecto constitutivo da 
identidade de grupo: a consciência de seus membros. (*) itálico em original. 
 
3.1.3. A consciência de pertencimento a um grupo 
É importante não confundir o pertencimento de alguém num grupo com a consciência da 
pessoa de pertencer a esse grupo. Em um caso se trata de um fato objetivo, verificável a partir 
de uma série de critérios, enquanto que no outro caso se trata de um saber subjetivo. Essa 
distinção é crucial na questão do pertencimento de alguém a uma classe social, sendo que esse 
fato objetivo não necessariamente conduz à consciência desse pertencimento (ver Martín-
Baró, 1983, págs. 78 y ss.). Pertencer a um país, a uma raça, a uma família, a uma classe 
social não é algo que, a princípio, seja arbítrio da consciência, do conhecimento e da volição 
de cada indivíduo; é algo determinado objetivamente, ainda que não se tenha nem se queira 
ter conhecimento disso. 
O pertencimento subjetivo de uma pessoa a um grupo supõe que o indivíduo tome esse grupo 
como uma referência para sua própria identidade ou vida. Certamente, essa referência pode 
ser de muitos tipos e de significações diversas. Em uns casos, os indivíduos se valem da 
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forma instrumental do grupo para obter a identidade socialmente conveniente ou para atingir 
determinados fins. Pode ser socialmente prestigiado, por exemplo, pertencer a um 
determinado clube de tênis ou hipismo, ou recorrer às festas promovidas por proprietários da 
empresa em que trabalha, ainda que não goste de tênis, de montar a cavalo ou das festas 
convencionais. Em outros casos, o individuo recebe do grupo as orientações, valores e normas 
mediante as quais trata de regular seu comportamento, ao menos nos aspectos de existência e 
vida social que considere pertinente ao grupo (ver Hyman, 1942; Merton, 1980). Assim, o 
individuo que passa a fazer parte de uma comunidade cristã tem em vista configurar sua vida 
de acordo com as opções e valores acordados e promovidos comunitariamente. Em outros 
casos, por fim, o individuo se entende como parte do grupo que o determina e o condiciona 
tanto se o aceita voluntariamente como se não o aceita. O jovem salvadorenho de origem 
árabe (turco) com frequência tem que lutar para se tornar independente das exigências do clã 
familiar assim como das expectativas estereotipadas do meio ambiente. Em todos esses casos, 
o individuo tem um conhecimento da identidade do grupo de que se sente parte qual faz parte; 
mas enquanto o individuo que utiliza o grupo para seu próprio benefício mantém uma 
distância subjetiva e/ou objetiva frente à identidade grupal, o individuo que se integra 
normalmente a um grupo faz do próprio caráter desse a sua identidade; finalmente, a pessoa 
que sabe pertencente a um grupo que por ele se sente determinada, mas do qual deseja se 
tornar independente e não mais compô-lo, se esforça para obter uma identidade que a desgarre 
de seu grupo. 
John Turner (1982, 1984), seguindo a linha de Henri Tajfel, afirma que o pertencimento 
subjetivo que determina a existência do que se chama grupo psicológico é entendido como 
“um conjunto de indivíduos que se sentem e atuam como grupo” e aceitam de alguma 
maneira essa situação (1984, pág. 518). Para Turner, a identidade e a conduta enquanto 
grupais surgem como efeito da categorização grupal sobre a definição e percepção de cada 
pessoa. Disto um grupo psicológico poder ser redefinido como “um conjunto de pessoas que 
compartem a mesma identificação social ou que definem a si próprios como mesma categoria 
social de membros” (Turner, 1984, pág. 530). 
Que a referência grupal tenha para as pessoas um caráter normativo ou um caráter 
instrumental, que represente uma referência positiva, ou melhor, uma carga da que se queira 
libertar, depende de sua identificação com o grupo,quer dizer, de sua aceitação do que o 
grupo é e de seus objetivos como algo próprio. Consciência e identificação não são as mesmas 
coisas, ainda que intrinsecamente relacionadas. Um alto grau de consciência e de 
identificação geralmente leva ao que se chama de compromisso profundo das pessoas com o 
grupo, enquanto que uma consciência débil ou uma falta de identificação levam os membros a 
não se sentirem comprometidos com o grupo. Consciência e identificação constituem, 
portanto, um fator complexo, mas de suma importância para a mesma identidade grupal. Não 
é raro, por exemplo, que a distinta consciência e identificação com a qual é ou deve ser um 
sindicato, que tenha direção e base, pode ocasionar problemas na hora de atuar frente ao 
patronal ou ante outros grupos sociais. 
Entendida a identidade de um grupo desde sua formalidade, sua relação com outros grupos e a 
consciência de seus membros, qualquer que seja o tamanho do grupo, ou seja, o número de 
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indivíduos que o compõe, não pode ser parâmetro fundamental para estabelecer uma tipologia 
grupal, já que não é um dado que determina a essência do grupo, ainda que represente uma 
condição necessária para sua existência. Algo similar pode ser pontuado a respeito da 
interação dos membros do grupo, tão enfatizada pela visão individualista da psicologia social. 
A interação dos membros de um grupo segue os caminhos determinados pelos interesses que 
canaliza, sobretudo se considera que a interação fundamental de um grupo pode não ser entre 
os mesmos membros, mas com os membros de outros grupos, de modo que o que conta não 
são os membros como indivíduos nem as formas concretas de interação, mas os produtos que 
resultem do contato entre os membros e entre os grupos. 
A identidade grupal é uma realidade com faces interna e externa: a de fora é dada pela relação 
do grupo com outros, enquanto que a de dentro é definida pela consciência que os membros 
têm do grupo e do que o grupo representa para eles. Ambos os aspectos estão intrinsecamente 
relacionados, já que o que o grupo é frente a outros é dado em boa medida pela consciência e 
identificação que os membros tenham com ele; mas também é claro que a própria consciência 
dos indivíduos depende essencialmente do que o grupo é frente aos outros e para com outros 
grupo. Porque também aqui a base objetiva sobre a que se constitui identidade grupal 
(identidade assumida) é a identidade que os outros grupos lhe outorgam e permitem 
(identidade assinada). Parafraseando Mead, pode-se dizer que o “ego” pessoal se constitui 
sobre o “eu” social, provenientes das “outras significações”, o “nós” grupal se elabora a partir 
do “nós” relacional que outorgam os “outros grupos envolvidos”. A partir disso, a interação 
essencial é a intergrupal, não a intragrupal. O que um grupo historicamente constitui não se 
segue da matriz de custos e benefícios individuais (Homans, 1950/1971), mas dos custos e 
benefícios dos indivíduos que se entendem à luz da natureza e identidade social do grupo. 
 
3.2. O poder grupal 
O segundo parâmetro fundamental para a compreensão psicossocial de um grupo é o seu 
poder. Como já se indicou o poder não se concebe como um objeto, uma coisa que se possui 
em determinada quantidade; o poder, melhor dizendo, é um caráter das relações sociais que 
emerge das diferenças dos diversos recursos que os atores dispõem, sendo indivíduos, grupos 
ou populações inteiras. Por isso, o poder não é um dado abstrato, mas o que aparece em cada 
relação concreta. Isso significa que o poder de um grupo deve ser examinado à luz de uma 
situação particular em uma determinada sociedade; quais diferenças de recursos são obtidas 
em suas relações com outros grupos frente aos aspectos mais significativos da existência ou o 
aspecto dos objetos que como o grupo busca. Assim, um grupo será poderoso sempre que 
consiga tais diferenças vantajosas nas relações com outros grupos que permitam seus 
objetivos e impor a sua vontade a outros grupos sociais. 
Posto que a superioridade nas relações sociais se baseie nos recursos disponíveis, a 
diversidade e importância dos recursos que cada grupo tem irão emparelhadas com seu poder 
real. Um grupo pode ser poderoso pela capacidade técnica, científica ou profissional de seus 
membros; outro grupo pode sê-lo pela notável quantidade de recursos materiais a sua 
disposição; outro pode sê-lo pela riqueza moral e humana de seus membros; e outro pode sê-
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lo, finalmente, pela mesma natureza dos recursos que dispõe. Certamente os grupos poderosos 
serão aqueles que disponham de todo tipo de recursos: materiais, culturais e pessoais. Mas é 
evidente que, na dialética social, o tipo de recursos pode estabelecer diferenças a favor de 
grupos minoritários. A reduzida oligarquia que controla El Salvador pode carecer de 
capacidade intelectual ou de base social; entretanto, pode comprar saberes mercenários ou, no 
pior dos casos, impedir que a razão ou a inteligência desempenhem um papel social contrário 
aos interesses oligárquicos. Os exércitos são compostos por pessoas que carecem de recursos 
econômicos próprios; contudo, seu controle sobre as armas permite se venderem às melhores 
posições por meio da força, aquilo que não podem obter com a cabeça. Por isso não se pode 
dizer que existe uma equidade de recursos, mas que uns recursos mais do que outros 
possibilitam de forma universal o poder daqueles grupos que os controlam. 
O poder de um grupo não é um traço que depende de sua identidade já constituída, mas é um 
dos elementos constitutivos dessa identidade. Sendo um grupo, seu caráter e natureza 
dependem em boa medida da estrutura que dispõem em suas relações com outros grupos 
sociais. A organização ou estrutura de um grupo tem em vista aproveitar o poder que 
possibilite seus recursos com intuito de atingir objetivos, e isso tanto faz menção a um grupo 
familiar como a um exército. Um grupo que careça de recursos, como para impor seus 
objetivos em âmbito social, tenderá a se fechar em si mesmo e a se concentrar em uma 
dinâmica quase puramente intergrupal. Mas essa mesma concentração no interior é 
consequência das diferenças negativas de recursos, de sua carência de poder social frente a 
outros grupos. Por isso, os tipos de poder à disposição dos diversos grupos assim como as 
fontes desse poder determinam em boa parte o que são e o que podem fazer. A mudança, 
aumento ou diminuição dos recursos em que se baseia a diferença social que constitui o poder 
pode alterar em grande parte a natureza de um determinado grupo. 
Um aspecto importante constitui a autonomia ou dependência de um grupo em relação aos 
recursos que dispõe para obter poder na vida social. É claro que quanto menos autônomo for o 
poder de um grupo, mais limitado será seu valor e o que com este pode obter. Há, por 
exemplo, pequenos grupos sindicais em El Salvador cuja atividade e existência estão em boa 
medida condicionadas à benevolência patronal, já que, na prática a legislação salvadorenha 
permite a destruição dos sindicatos de empresas ao arbítrio dos interesses dos proprietários. 
Somente quando um sindicato é capaz de mobilizar recursos que afetem seriamente os 
interesses da empresa e que não dependem dela (por exemplo, fundos financeiros para a 
manutenção de uma greve, a disponibilidade de advogados, a mobilização da opinião pública, 
etc), esse sindicato pode enfrentar com êxito as demissões em massa, fura-greves, 
encerramentos temporários e outras táticas patronais que nem sequer os detêm ante a 
eliminação física dos líderes sindicais. 
 
3.3. A atividade grupal 
O terceiro parâmetro básico para a compreensão de um grupo é sua atividade. O que faz um 
grupo? Que atividade desenvolve? Quais são suas metas? Qual é o produto de suas ações? A 
existência e asobrevivência de um grupo humano dependem essencialmente de sua 
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capacidade de realizar ações significativas em uma determinada circunstância e situação 
históricas. Agora, a importância de uma ação ou atividade grupal tem dimensão dupla: 
externa, em face à sociedade e a outros grupos, e interna, em face aos membros do mesmo 
grupo. Diante da sociedade e de outros grupos, cada grupo deve ser capaz de produzir um 
efeito real na vida social para afirmar sua identidade, quer dizer, para canalizar a satisfação 
dos interesses que representa. Diante dos membros do grupo, a ação grupal é importante se 
obtém a realização daqueles objetivos que correspondem às suas aspirações individuais ou a 
uma aspiração comum. 
A consciência que os membros de um grupo podem ter sobre seus interesses e objetivos 
comuns não constitui a raiz última do grupo, em particular quando se trata de grupos aos quais 
se pertence por afiliação (por exemplo, a família, a raça, a classe social) e não por mérito 
pessoal ou decisão voluntária (por exemplo, um grêmio profissional, um clube, um partido 
politico, uma ordem religiosa). A mesma consciência que os membros do grupo tem acerca de 
sua natureza e sentido pessoal depende das condições objetivas do grupo e está condicionada 
pelas exigências de sobrevivência do grupo tal como seus limites se encontram no que se 
chama de “o máximo de consciência possível”. Agora, se a consciência sobre os interesses ou 
objetivos comuns não é a raiz última dos grupos, com frequência catalisa sua aparição ou 
dinâmica, orientando a disposição das pessoas para realizar metas comuns ou para buscar 
níveis novos e superiores de organização e estruturação grupais. Assim se explica a aparição 
de grupo baseada em uma falsa consciência sobre os objetivos comuns: esse é o caso do 
campesinato que se incorpora a um grupo paramilitar para combater os membros de sua 
própria classe social, obnubilado por essa miragem de um nacionalismo anticomunista e 
intransigente. 
A importância da atividade para a compreensão de um grupo é clara quando se analisa a 
natureza e funcionamento de alguns grupos que, como certas correntezas, de águas aparecem 
e desaparecem, segundo as conjunturas históricas e a viabilidade prática de seu aporte em 
cada situação social. Em um país como El Salvador, um bom número de partidos políticos 
não tem mais atividades senão aquelas exigidas no período eleitoral para servir de comparsa 
em cerimônias “democráticas” que indefectivelmente consagram a quem representam aos 
interesses dominantes. Assim mesmo, certos grupos paramilitares ou “esquadrões da morte” 
sobrevivem enquanto sua ação é necessária para avançar os interesses da classe dominante em 
situações de confronto social que põem em questão o status quo, mas desaparecem tão logo o 
acionar arrasta mais custos do que benefícios- por exemplo, a perda de apoio internacional, ou 
a queda de um determinado governo. 
A ação grupal tem um efeito na realidade do grupo que a realiza, seja consolidando-o, bem 
seja debilitando-o e ainda o levando a sua desintegração. Na medida em que a ação 
desenvolvida seja consistente com o caráter e objetivos do grupo, este se fortalece e assegura 
sua estrutura. Da mesma maneira, através de um acionar constante e efetivo, um grupo pode 
incrementar seus recursos e seu consequente poder e inclusive se voltar funcionalmente 
autônomo em relação às instâncias ou interesses que deram sua origem. Não é raro que certas 
associações ou alguns grupos paramilitares que surjam como canalização circunstancial de 
interesses muito concretos obtenham autonomia tal que permita sobreviver socialmente com 
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independência e ainda contra aquelas pessoas ou setores que os originaram: a associação 
adquire uma institucionalidade que suplanta a vontade e objetivos dos seus fundadores, ou o 
grupo paramilitar se converte em um pequeno bando ou máfia que utiliza seu poder violento 
já não com fins políticos, mas para o lucro particular de seus membros. 
Em resumo, identidade, poder e atividade são três parâmetros essenciais para definir a 
natureza de qualquer grupo. A princípio, um grupo surge quando os interesses de várias 
pessoas confluem e demandam sua canalização em uma circunstancia histórica concreta. A 
consciência dessa exigência precipita a cristalização grupal, tanto se essa consciência 
corresponde a interesses reais dos próprios indivíduos como se trata de uma falsa consciência 
induzida por um estado de alienação social. Nesse sentido, cabe afirmar que o grupo é a 
materialização de uma consciência coletiva que reflete, fidedigna ou distorcidamente, a 
demanda de interesses pessoais e/ou coletivos. Mas, se o surgimento dos grupos depende de 
alguma forma de consciência social, sua sobrevivência depende do poder obtido, poder que 
deve se plasmar em uma estrutura organizativa que haja possível a satisfação sistemática de 
seus interesses através de uma ação eficaz no interior da sociedade. A partir disso, a 
desintegração ou desaparecimento de um grupo está vinculada a sua perda de significação 
social, já que sua identidade está desconectada de suas raízes (já não responde aos interesses 
que canalizava), uma vez que os recursos em que fundava seu poder ficam inúteis ou 
arrebatados, tendo em vista que se mostra incapaz de realizar ações eficazes frente a outros 
grupos ou a respeito das aspirações e necessidades de seus próprios membros. 
Um aspecto muito importante para compreender a natureza dos grupos é o fato de sua 
múltipla imbricação; em cada situação os grupos se superpõem e entrelaçam tanto diretamente 
como através de seus membros. Isso gera identidades grupais parcialmente comuns com 
fronteiras difusas, poderes compartilhados por vários grupos (o que em ocasiões permite 
somar recursos, mas às vezes ocasiona desagregação) e ações cujo efeito pode repercutir em 
mais de um grupo ainda que vários deles não tenham participado como tais na atividade em 
questão. Há empresas que se assentam sobre grupos familiares, associações que se identificam 
com partidos políticos, comunidades ou grupos de trabalho que estendem sua existência a 
práticas em igrejas ou organizações sociais mais amplas. Desde os grupos menores, quer 
dizer, aquelas unidades caracterizadas como primárias pela imediaticidade dos vínculos que 
as configuram, até aqueles macro grupos cujas relações estruturas fundem suas raízes nos 
mesmos fundamentos da organização social, cada sociedade apresenta uma verdadeira 
pirâmide de grupos que se sobrepõem e mesclam como partes de um tornado em permanente 
atividade. 
 
4. Tipologias grupais 
Existem numerosas tentativas de estabelecer tipologias grupais, quer dizer, diferenciar nessa 
pirâmide os tipos mais característicos de grupos de cada sociedade. Obviamente a 
diferenciação segue as linhas das características que se consideram essenciais. De fato, a 
diferença de grupos mais conhecida é aquela que distingue entre grupos primários e 
secundários, distinção baseada, sobretudo, no número de membros, mas também no caráter 
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das relações entre eles. O grupo primário é, em geral, um grupo pequeno, cujos membros 
mantêm relações pessoais baseadas em um conhecimento mútuo, próximo e com uma forte 
dose de afetividade. O grupo secundário, em contrapartida, é um grupo grande e as relações 
dos membros seguem padrões impessoais, mais ou menos institucionalizados, como papéis. 
Que seja um grupo grande ou pequeno, é algo que não tem coincidência, já que resulta 
dificilmente se não de modo impossível na fixação abstrata de quando um grupo deixa de ser 
pequeno para ser grande. A contagem de pacientes em uma sala de espera de um dentista 
constituiria uma verdadeira multidão, em um campo de futebol seria praticamente “ninguém”; 
a centena de jovens que em uma manifestação política

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