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Beleni - eBook - Lazer Turismo

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Prévia do material em texto

ORGANIZADORES 
Rafael Frois
 Khalla Ribeiro Tupinambá
Bruno Costa da Fonseca
Deuzivania Carlos de Oliveira
Lazer, Turismo e 
Desenvolvimento 
Regional na
Amazônia 
Legal: 
DIÁLOGOS 
INTERDISCIPLINARES
Projeto Gráfico: Aron Rodrigo Batista 
Diagramação: Efeito Sete
Bloco de Pesquisadores(as) em Lazer e 
Turismo do Norte do Tocantins – Buriti
Líderes: Prof. Dr. Rafael Frois e Prof. Dra. Kênia Costa
Conselho editorial:
Prof. Dra. Ana Paula Guimarães Santos de Oliveira
Prof. Dr. Cleber Augusto Castro
Prof. Dr. Rafael Frois
Prof. Dr. Rodrigo Cardoso da Silva
Prof. Dra. Sabrina Mesquita do Nascimento
Prof. Dra. Kênia Gonçalves Costa
Prof. Dra. Poliana Cardoso Oliveira
Prof. Dra. Salete Gonçalves
LAZER, TURISMO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL NA 
AMAZÔNIA LEGAL: DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES 
 [livro eletrônico] / organizadores Rafael Frois, Khalla 
 Tupinambá Ribeiro, Bruno Costa da Fonseca, Deuzivania 
 Carlos de Oliveira; -- 1. ed. -- Foz do Iguaçu, PR: Efeito 
 Sete, 2021. PDF
	 Bibliografia
 ISBN 978-65-993617-1-5
 1. Lazer, Turismo e Desenvolvimento Regional 
 2. Amazônia Legal 
 3. Lazer e Turismo do Norte do Tocantins. CDU: 338.48
379.85
Copyleft 2021
2021
As informações e as imagens são de responsabilidade dos autores. A Editora não se responsabiliza por 
eventuais danos causados pelo mau uso das informações contidas neste livro.
EDITORA EFEITO SETE
Rua Francisco Domingos Zardo, 26 
85870597 | Foz do Iguaçu, PR
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
SUMÁRIO
PREFÁCIO
AIRTON SIEBEN
8
LAZER, TURISMO E DESENVOLVIMENTO 
REGIONAL NA AMAZÔNIA LEGAL: NOTAS 
INTRODUTÓRIAS PARA UM DIÁLOGO 
INTERDISCIPLINAR
RAFAEL FROIS
KHALLA RIBEIRO TUPINAMBÁ
BRUNO COSTA DA FONSECA
DEUZIVANIA CARLOS DE OLIVEIRA
12
PATRIMÔNIO CULTURAL, LAZER E 
ETNOTURISMO
19
FESTEJO DA ABOLIÇÃO E PATRIMÔNIO 
IMATERIAL NA COMUNIDADE QUILOMBOLA 
DONA JUSCELINA/MURICILÂNDIA-TO: 
POTENCIALIDADES PARA O TURISMO 
CULTURAL
KHALLA RIBEIRO TUPINAMBÁ
KÊNIA GONÇALVES COSTA
ARYSTÓTELES FRANKLYN CHAVES BORGES
20
PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-
XERENTE: DESCOLONIZAR O LAZER
KHELLEN CRISTINA PIRES CORREIA SOARES
JOSÉ ALFREDO DEBORTOLI
BELENI SALETÉ GRANDO
39
A EXPERIÊNCIA E OS DESAFIOS DO TURISMO 
NA COMUNIDADE INDÍGENA “TRÊS UNIDOS” 
DO POVO OMÁGUA/KAMBEBA
THARYN MACHADO TEIXEIRA
MARIO DOS SANTOS CRUZ
60
DESENVOLVIMENTO REGIONAL E 
POLÍTICAS PÚBLICAS
86
SANEAMENTO BÁSICO E AS TEMPORADAS DE 
PRAIA NA REGIÃO DO BICO DO PAPAGAIO, 
TOCANTINS: OUVINDO AS VOZES DAS 
COMUNIDADES RURAIS E RIBEIRINHAS
RENATA RAUTA PETARLY
WELISON PORTUGAL DE SOUZA
ANA ROSA CARVALHO DE OLIVEIRA
AURÉLIO PESSÔA PICANÇO
87
“DE LONGE TODA SERRA É AZUL!”: AS 
TRANSIÇÕES NO CERRADO E A BUSCA 
PELO DESENVOLVIMENTO REGIONAL 
SUSTENTÁVEL DO JALAPÃO
CLEITON SILVA FERREIRA MILAGRES
WALDECY RODRIGUES
MARIA DO MAR PEREZ-FRA
ANA ISABEL GARCÍA ARIAS
108
AS REGIÕES TURÍSTICAS DO BICO DO 
PAPAGAIO E DO VALE DOS GRANDES RIOS 
(TOCANTINS) À LUZ DO MAPA DO TURISMO 
BRASILEIRO
DIANINE CENSON
136
ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA, 
MEIO AMBIENTE E TURISMO DE BASE 
COMUNITÁRIA
157
ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA E 
RESISTÊNCIA: REPRESENTAÇÕES DO 
ASSENTAMENTO ILHA VERDE A PARTIR DA 
IMPRENSA
BRUNO COSTA DA FONSECA
FERNANDA RODRIGUES DOS SANTOS
DEUZIVANIA CARLOS DE OLIVEIRA
158
PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA 
INTERFACE COM O DESENVOLVIMENTO DE 
COMUNIDADES NO NORTE DO TOCANTINS 
E SUL DO MARANHÃO
ROSENI APARECIDA DE MOURA
CLEITON FERREIRA DA SILVA MILAGRES
POLIANA CARDOSO OLIVEIRA
ROBERTA SILVA
179
O ECOMUSEU DA AMAZÔNIA E A 
IMPLANTAÇÃO DE CIRCUITOS INTERATIVOS 
DE TURISMO COMUNITÁRIO NA REGIÃO 
INSULAR DE BELÉM: O ROTEIRO PATRIMONIAL 
DE VISITAÇÃO NA ILHA DE COTIJUBA
JOÃO GABRIEL PINHEIRO HUFFNER
LETÍCIA LIMA DE FREITAS
199
APA PÉ DO MORRO E A SUSTENTABILIDADE 
DO TURISMO CULTURAL RELIGIOSO
STEPHANNI GABRIELLA SILVA SUDRÉ
219
SOBRE OS ORGANIZADORES E 
AUTORES DA OBRA
238
PREFÁCIO
O Brasil é um país fascinante com diversidade econômica, 
política, cultural, social e ambiental. Porventura, seja a Amazônia 
legal ou região Norte (não sendo sinônimas) a mais diversa, mesmo 
havendo discordâncias. O Brasil e sua diversidade regional têm como 
grande	desafio	ser	compreendido,	decifrado	e	pesquisado.
Atentos	a	estas	questões,	os	autores	dos	capítulos	escreveram	
esta	 obra	 para	 atender	 e	 apresentar	 um	 quadro	 contemporâneo	
da Amazônia Legal. A Amazônia, uma área extensa e “despovoada” 
desperta a atenção não só do Brasil, mas do mundo. A Amazônia é 
vista	como	uma	fronteira	natural	que	ainda	precisa	ser	conquistada	e	
domada pelo homem. 
O grande potencial da Amazônia, porventura seja o seu maior 
problema,	 e	 não	 imagina-se	 somente	 as	 riquezas	 naturais,	 mas	
destacam-se	 as	 riquezas	 humanas,	 representadas	 nas	 populações	
indígenas,	quilombolas	caboclas,	ribeirinhas e inúmeras outras. Para 
muitos “desavisados”, na Amazônia somente existem indígenas e não 
se compreende a diversidade da presença de outras comunidades 
tradicionais, tampouco a diversidade étnica dos próprios autóctones.
Nas inúmeras potencialidades da Amazônia, há recentemente 
uma preocupação voltada para o turismo, o lazer e desenvolvimento 
regional.	Iniciou-se	estímulo	para	o	turismo	de	caráter	ecológico,	que	
pode tornar-se atividade econômica importante, gerando empregos 
e renda. Este processo, o olhar humanizado de preocupação com 
o	 ambiente	 e	 as	 populações	 tradicionais,	 necessita	 de	 intenso	
acompanhamento	e	pesquisa.
Desta	 forma,	 o	 Buriti	 (Bloco	 de	 pesquisadores	 em	 Lazer	
e	 Turismo	 do	 Norte	 do	 Tocantins)	 estimula	 e	 articula	 pesquisa	
8 PREFÁCIO
entre	 pesquisadores(as)	 nos	 campos	 do	 lazer,	 do	 turismo	 e	 do	
desenvolvimento	 local,	 produzindo	 conhecimento	 e	 pesquisas	
de impacto social na Amazônia Legal. O objetivo da obra “Lazer, 
turismo e desenvolvimento regional na Amazônia Legal: Diálogos 
Interdisciplinares” é apresentar e discutir, de forma teórico e prática, 
diferentes	ações	e	realizações	dos	pesquisadores(as)	do	coletivo	Buriti	
e seus convidados.
Os autores convidados para esta obra desvendaram e 
revelaram	 um	 território	 de	 diversos	 e	 inúmeros	 significados.	 As	
pesquisas	e	os	levantamentos	feitos	por	este	grupo	de	observadores	
fornecem	 subsídios	 para	 desenvolver	 ações	 para	 um	 turismo,	
lazer e desenvolvimento regional responsável e comprometido 
com	ações	 sociais	 necessárias a	estas	 populações	 localizadas	 numa	
região	desprovida		de	políticas	públicas,	a	fim	de	enfrentar	o	avanço	
econômico cada vez mais intenso em seu território.
O	livro	em	forma	de	e-book,	permite	que	as	comunidades	locais	
falem	sobre	 si,	muito	embora	os	pesquisadores	possam	vir	de	um	
mundo acadêmico, há esta conexão onde a sensibilidade deste coletivo 
de	investigadores	propicia	uma	visão	da	região	e	suas	populações	a	
seu	respeito,	a	sua	memória	e	a	sua	imaterialidade.	Isto	permite	que	
vozes outrora mal compreendidas, pelos grandes projetos políticos 
econômicos,	 possam	 ser	 “traduzidas”	 a	 fim	 de	 compreender	 esta	
diversidade social, econômica, política, cultural e ambiental inerente 
ao Norte do Tocantins e Amazônia.
Uma	 região	 onde	 a	 dinâmica	 climática	 influencia	 os	 ciclos	
de vida das comunidades e o local resiste a ordem global, não 
homogeneizador,	mas	padronizador.	A	Amazônia	percebe	que	suas	
riquezas	materiais	e	imateriais	foram	e	são	diminuídas.	Assim,	torna-se	
fundamental	a	presença	da	pesquisa,	da	extensão,	de	pesquisadores	
9PREFÁCIO
e de extencionistas engajados para compreender, desenvolver e 
“blindar” este território.
Por comentar em parte norte do estado do Tocantins e 
proximidades, é oportuno destacar o papel da mais nova universidade 
do Brasil, a Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT). 
É	 salutar	 que	 esta	 universidade	 em	 processo	 de	 transição pela 
implantação	conte	com	um	coletivo	de	pesquisadores	com	o	olhar	
voltado para a temática apresentada.
A	necessidade	decontar	com	pensamentos	crítico-reflexivos	e	
ações	operativas,	desconstrói	representações	não	sustentáveis	a	partir	
do conceito distorcido de sustentabilidade. Desta forma, contribuindo 
na	 formação	 e	 difusão	 de	outras	 representações,	 reconhecendo	 e	
valorizando potencialidades nas sociedades e no ambiente locais/
regionais.
O respeito a diversidade ecológica, cultural e das	ações	coletivas 
horizontais,	 imaginando	bloco	de	pesquisadores	de	conhecimentos	
científicos	e	tecnológicos	apropriadas	a	diversidade	e	a	particularidade	
local como se propôs nesta obra. Com a cooperação dos vários 
especialistas e com a comunidade, pode-se demonstrar as vantagens 
econômica,	sociais,	culturais	e	ambientais	que	deve	respeitar	as	técnicas	
dos	lugares	em	vez	de	se	transformar	e	destruir	as	especificidades	dos	
lugares	 com	 técnicas	 que	 visam	 a	maximização	do	 rendimento	 do	
capital global, concentrado e verticalizado.
O	 trabalho	 científico,	 intelectual,	 pedagógico,	 técnico,	 pesquisa,	
ensino, extensão e outras atividades devem contribuir para melhorar a 
vida em sociedade, pelos menos nas escalas regional e local, o foco de 
atuação do livro. Lazer, cultura, patrimônio, meio ambiente, turismo, 
desenvolvimento regional, sustentabilidade, interdisciplinaridade, 
Amazônia e políticas públicas são algumas das palavras chaves neste livro.
10 PREFÁCIO
Convido os leitores a saber ler esta obra e saber compreender o 
norte tocantinense e a Amazônia, por meio do conjunto de capítulos 
presentes nesta importante abordagem voltada para temas tão caros 
e necessários.
Airton Sieben 
Reitor Pró-Tempore da 
Universidade Federal do Norte do Tocantins 
11PREFÁCIO
LAZER, TURISMO E DESENVOLVIMENTO 
REGIONAL NA AMAZÔNIA LEGAL: NOTAS 
INTRODUTÓRIAS PARA UM DIÁLOGO 
INTERDISCIPLINAR
RAFAEL FROIS1 
KHALLA R. TUPINAMBÁ 2
BRUNO C. FONSECA3 
 DEUZIVANIA C. OLIVEIRA4 
 
1Doutor em Estudos do Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais 
(UFMG). Atuou como professor substituto no Curso de Tecnologia em 
Gestão de Turismo na Universidade Federal do Tocantins (UFT). É líder e 
co-fundador do Buriti - Bloco de pesquisadores(as) em Lazer e Turismo do 
Norte do Tocantins.
2Mestre em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz 
-UESC, Docente Assistente Classe B, nível 1, Curso Gestão em Turismo, 
Universidade Federal do Tocantins-UFT, Campus Araguaína, líder da linha de 
pesquisa patrimônio cultural e etnoturismo no Norte do Tocantins.
3Analista de Monitoramento e Desenvolvimento de Cooperativas (SESCOOP/
RJ). Doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade 
pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
4Professora Convidada do curso Tecnólogo em Gestão de Cooperativas na 
Universidade Federal do Tocantins (UFT) e Secretária Executiva do projeto de 
extensão da Universidade da Maturidade. Mestranda em Educação, especialista 
em Educação, graduada em Tecnólogo em Gestão de Cooperativas, ambas 
pela Universidade Federal do Tocantins (UFT).
13FROIS, R; TUPINAMBÁ, K. R; FONSECA, B. C; OLIVEIRA, D. C. 
A iniciativa de construir esta obra partiu do Bloco de 
Pesquisadores(as)	 em	 Lazer	 e	 Turismo	 do	 Norte	 do	 Tocantins	 -	
Buriti,	um	coletivo	de	pesquisadores(as)	dos	colegiados	dos	cursos	
de Gestão de Turismo e Gestão de Cooperativismo da Universidade 
Federal do Tocantins, Campus Araguaína. O objetivo do grupo é ser 
um espaço interdisciplinar de formação, estímulo e articulação entre 
pesquisadores(as),	 capazes	 de	 apoiar	 o	 desenvolvimento	 regional	
sustentável do turismo na Amazônia Legal. O grupo se organizou 
em	2019	e	2020	em	quatro	temáticas/linhas	de	pesquisa:	1)	Lazer,	
meio ambiente, turismo e novas tecnologias; 2) Patrimônio cultural 
e etnoturismo no Norte do Tocantins; 3) Organização comunitária, 
empreendimentos coletivos e turismo de base comunitária; e 4) 
Desenvolvimento regional e políticas públicas de lazer e turismo.
Nesta	 primeira	 obra	 convidamos	 pesquisadores	 do	 Norte	
do	 Brasil	 para	 discutir,	 de	 forma	 teórico-prática,	 diferentes	 ações	
realizadas	 na	 região	 a	 fim	 de	 somar	 esforços	 na	 disseminação	 de	
conhecimento	 científico	 que	 sensibilize	 especialmente	 estudantes,	
ativistas da sociedade e gestores públicos para o desenvolvimento 
de políticas públicas de lazer, cultura, turismo e meio ambiente. 
Vale	mencionar	que	este	último	segue	extremamente	fragilizado	na	
região norte do país, onde a sociedade vem enfrentando grandes 
retrocessos,	sobretudo	no	que	se	refere	a	políticas	de	preservação	
ambiental.
A maioria dos textos apresentados são derivados de trabalhos 
realizados no Tocantins, o mais novo estado brasileiro (Mapa 1), 
fundado em 1989 a partir do desmembramento do norte do estado 
de Goiás. O estado se destaca no cenário econômico brasileiro por 
ter grandes áreas destinadas à prática do agronegócio. 
14 LAZER, TURISMO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL ...
Mapa 1:	Amazônia	Legal	com	destaque	para	o	Tocantins	e	os	
principais territórios citados no livro 
 
Grupo	de	pesquisa	Buriti	(2021)		
Em relação ao lazer e ao turismo, o Jalapão tem sido nos últimos 
anos o destino mais conhecido. Porém, o estado também tem forte 
vocação	turística	para	o	etnoturismo,	com	destaque	para	o	patrimônio	
cultural ancestral brasileiro representado pelos povos indígenas e 
quilombolas.	Em	outra	vertente,	o	 turismo	também	atua	em	áreas	
naturais	com	destaque	para	as	práticas	de	lazer	nos	dois	grandes	rios:	
Tocantins e Araguaia.
5Mapa elaborado e cedido pelo geógrafo Hudson Damásio Alves 
hudsondamasio18.hda@gmail.com 
15FROIS, R; TUPINAMBÁ, K. R; FONSECA, B. C; OLIVEIRA, D. C. 
Os	 capítulos	 do	 livro	 foram	 divididos	 em	 três	 seções:	 1)	
Patrimônio Cultural, Lazer e Etnoturismo; 2) Desenvolvimento 
Regional e Políticas Públicas; e 3) Organização Comunitária, Meio 
Ambiente e Turismo de Base Comunitária.
Na primeira seção dedicada ao “Patrimônio Cultural, Lazer e 
Etnoturismo”	pesquisadores	estabelecem	diálogo	a	partir	dos	campos	
da antropologia, do lazer e turismo. No primeiro capítulo “Festejo 
da abolição e patrimônio imaterial na Comunidade Quilombola 
Dona Juscelina/Muricilândia – TO: Potencialidades para o 
turismo cultural”, Khalla Tupinambá, Kênia Costa e Arystóteles 
Borges,	 apresentam	 as	 representações	 do	 patrimônio	 imaterial	
da comunidade Dona Juscelina por meio do Festejo da Abolição, 
tendo como principais informantes os organizadores e mestres das 
manifestações	culturais	apresentadas	no	Festejo,	os	quais	demarcam	
de	modo	preponderante	a	identidade	quilombola	na	comunidade.	O	
texto,	além	de	ser	uma	oportunidade	para	pesquisadores	interessados	
nas	práticas	de	lazer	e	cultura	da	população	quilombola	do	Tocantins,	
também	tece	reflexões	sobre	as	possibilidades	de	se	pensar	o	turismo	
cultural	em	comunidades	quilombolas.
No segundo capítulo “Práticas culturais do Povo Akwê-
Xerente: descolonizar o lazer”, Khellen Cristina, José Alfredo 
Debortoli	e	Beleni	Saleté	Grando	apresentam	um	capítulo	que	tem	
como proposta descolonizar os conhecimentos historicamente 
determinados pela ciência ocidental moderna, realizando um 
movimento de abertura para os conhecimentos gerados e vividos 
nas práticas sociais cotidianas de lazer/cultura do povo Akwẽ-Xerente 
do estado do Tocantins.
Na	 perspectiva	 etnográfica,	 Tharyn	 Teixeira	 e	 Mario	 Cruz	
apresentam no capítulo “Os desafios do turismo na comunidade 
16 LAZER, TURISMO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL ...
indígena “Três Unidos” do povo Omágua/Kambeba”, como a 
atividade turística foi a principal incentivadora e vitalizadora das 
práticas tradicionais da comunidade (língua materna, danças, músicas, 
grafismo,	 culinária,	 medicina	 tradicional	 e	 as	 memórias	 coletivas).	
O	 texto	 resgata	na	oralidade	dos	anciões	da	aldeia,	os	20	anos	da	
experiência do turismo como principal atividade econômica desta 
comunidade do Estado do Amazonas.
Uma das práticas culturais de lazer mais populares do Estado do 
Tocantinsacontece	quando	o	leito	dos	rios	baixa	e	forma	bolsões	de	
areais	e	 ilhas,	que	 formando	praias,	 fomentam	o	deslocamento	de	
residentes	e	turistas	para	estes	locais.	A	prática	que	é	incentivada	pelo	
poder público para geração de emprego e renda na alta temporada 
de	julho	gera	significativos	impactos	para	as	comunidades	ribeirinhas.	
O	 tema	 é	 objeto	 de	 reflexão	 e	 denúncia	 da	 ausência	 de	 políticas	
públicas intersetoriais de lazer, meio ambiente e turismo, e abre a 
segunda seção: “Desenvolvimento Regional e Políticas Públicas”.
No	quarto	capítulo,	“Saneamento básico e as temporadas de 
praia na região do Bico do Papagaio, Tocantins: ouvindo as vozes 
das comunidades rurais e ribeirinhas” Renata Rauta Petarly, Welison 
Portugal Souza, Ana Rosa Carvalho Oliveira e Aurélio Pessoa Picanço, 
ressaltam a voz das comunidades rurais e ribeirinhas, a partir da 
técnica do Diagnóstico Rural Participativo, onde é denunciada toda 
ausência	de	uma	política	de	saneamento	básico,	que	é	agravada	pela	
presença	 dos	 turistas.	 Também	descreve	 com	 riqueza	 de	 detalhes	
que	 impressiona,	 como	é	a	prática	de	ocupação	e	poluição	destes	
territórios de lazer e turismo na alta temporada tocantinense.
No	quinto	capítulo	intitulado	“De longe toda Serra é azul!”: as 
transições do cerrado e a busca pelo desenvolvimento regional 
sustentável do Jalapão”, Cleiton Silva Ferreira Milagres, Waldecy 
17FROIS, R; TUPINAMBÁ, K. R; FONSECA, B. C; OLIVEIRA, D. C. 
Rodrigues, Maria do Mar Perez-Fra e Ana Isabel García Arías 
apresentam o histórico da criação das unidades de conservação 
que	 deram	 origem	 à	 região	 do	 Jalapão-TO.	 E	 problematizam	 a	
complexidade	 das	 contradições	 que	 envolvem	 as	 comunidades	
tradicionais	quilombolas,	que	 fazem	o	manejo	do	Capim	Dourado	
envolvendo as unidades de conservação, atividades turísticas sem 
fiscalização	e	a	pressão	da	expansão	do	agronegócio,	uma	vez	que	
a região está dentro da fronteira agrícola do MATOPIBA (Maranhão, 
Tocantins, Piauí e Bahia).
No sexto capítulo, “As regiões turísticas do Bico do Papagaio 
e do Vale dos Grandes Rios (Tocantins) à luz do Mapa do Turismo 
Brasileiro”,	Dianine	Censon	 tece	 reflexões	 sobre	 a	materialização	
da macropolítica de desenvolvimento do turismo brasileiro nos 
municípios da região Norte do Tocantins. Problematiza a necessidade 
de criação de uma agenda coordenada para construção de políticas 
públicas de turismo para a região.
A terceira seção “Organização Comunitária, Meio Ambiente 
e Turismo de Base Comunitária”, é aberta com o capítulo 
“Organização comunitária e resistência: representações do 
assentamento Ilha Verde a partir da imprensa”, Bruno Costa 
Fonseca, Fernanda Santos e Deuzivania Oliveira discorrem sobre 
o	conflito	 instaurado	entre	as	 famílias	do	Assentamento	 Ilha	Verde,	
no município de Babaçulândia, com a Usina Hidrelétrica Estreito 
que	impactou	comunidades	de	12	(doze)	municípios	às	margens	do	
rio	Tocantins.	A	promessa	de	mitigação	dos	impactos	que	reduziu	a	
atividade turística, ainda não é uma realidade 7 anos depois da instalação 
da hidrelétrica. O histórico de resistência das famílias assentadas é 
escancarado, ressaltando a disputa em torno dos recursos naturais, 
especialmente pela ocupação às margens do lago formado. 
18 LAZER, TURISMO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL ...
No oitavo capítulo, “Projeto de educação ambiental e sua 
interface com o desenvolvimento de comunidades no Norte do 
Tocantins e Sul do Maranhão”, Roseni Aparecida de Moura, Poliana 
Cardoso Oliveira, Roberta Silva e Cleiton Silva Ferreira Milagres 
apresentam os resultados do projeto de extensão multidisciplinar 
formado por professores da Universidade Federal do Tocantins das 
áreas	de	ciências	humanas,	agrárias,	biológicas	e	da	saúde,	com	ações	
que	impactaram	20.247	pessoas,	de	diferentes	categorias	de	atores	
sociais,	 tais	 como:	 turistas,	 barraqueiros,	 famílias	 rurais	 e	 urbanas,	
estudantes, pescadores, poder público local, reassentados e famílias 
lindeiras.
No nono capítulo, “O Ecomuseu da Amazônia e a implantação 
de circuitos interativos de turismo comunitário na Região Insular 
de Belém: O roteiro patrimonial de visitação na Ilha de Cotijuba”, 
João Gabriel Pinheiro Huffner e Letícia Lima de Freitas apresentam 
uma iniciativa museológica junto ao turismo de base comunitária, 
na	Ilha	de	Cotijuba	em	Belém	do	Pará,	que	dinamiza	o	patrimônio	
cultural material e imaterial de duas comunidades locais. No décimo 
capítulo, “APA Pé do Morro e a sustentabilidade do turismo cultural 
religioso”, Stephanie Sudré apresenta o potencial do turismo cultural 
e	 religioso,	 e	os	 aspectos	que	 compõem	a	 atratividade	 turística	da	
área de proteção ambiental Pé do Morro localizado na cidade de 
Aragominas - Tocantins.
De modo geral, agradecemos a disponibilidade e o envolvimento 
das	35	pessoas	de	18	instituições	que	se	dedicaram	para	materializar	
esta	obra.	Esperamos	que	ela	 seja	o	 início	de	uma	conversa	capaz	
de	 criar	 uma	 rede	 de	 cooperação	 entre	 pesquisadores(as)	 que	
pensam o lazer, o turismo e o desenvolvimento regional de forma 
interdisciplinar, no intuito de somar esforços para o desenvolvimento 
sustentável da Amazônia brasileira.
PATRIMÔNIO 
CULTURAL,
LAZER E 
ETNOTURISMO
FESTEJO DA ABOLIÇÃO E PATRIMÔNIO 
IMATERIAL NA COMUNIDADE 
QUILOMBOLA DONA JUSCELINA/
MURICILÂNDIA-TO: POTENCIALIDADES 
PARA O TURISMO CULTURAL
FESTIVAL OF ABOLITION AND IMMATERIAL 
HERITAGE IN THE QUILOMBOLA 
COMMUNITY DONA JUSCELINA / 
MURICILÂNDIA-TO: POTENTIALITIES FOR 
CULTURAL TOURISM
KHALLA RIBEIRO TUPINAMBÁ1
KÊNIA GONÇALVES COSTA2 
 ARYSTÓTELES FRANKLYN CHAVES BORGES3 
 
1Doutoranda em Antropologia pela Universidade Federal da Bahia-UFBA 
.Mestre em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz 
-UESC, Docente Efetiva do curso de Gestão em Turismo UFT- Araguaína. 
E-mail khallatupi@uft.edu.br
2Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Goiás-UFG. Professora 
Adjunta da Universidade Federal do Tocantins-UFT. Coordenadora do 
Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura e Território (PPGCult/
UFT). E-mail: keniacost@uft.edu.br
3Graduado no curso de Gestão de Turismo UFT-Araguaína, e membro da 
Comunidade Quilombola Dona Juscelina. Bolsista/Proex: Jul 2018/ Dez 2019 
E-mail: arystotelesfranklyn69@gmail.com
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RESUMO
Este	artigo	buscou	conhecer	e	apresentar	ao	leitor	as	representações	
do patrimônio imaterial da comunidade Dona Juscelina, por meio 
do Festejo da Abolição, tendo como principais informantes os 
organizadores	e	Mestres	das	manifestações	culturais	apresentadas	no	
Festejo,	 as	 quais	 demarcam	de	modo	 preponderante	 a	 identidade	
quilombola	na	comunidade.	Na	metodologia,	foi	utilizada	uma	pesquisa	
qualitativa	e	de	observação	participante,	 tendo	 como	 instrumentos	
de introspecção o inventário de “Educação patrimonial: Inventários 
participativos” (IPHAN, 2016), e ainda roteiros de entrevistas 
semiestruturadas.	 Como	 principais	 resultados,	 constatou-se	 que	
no	Festejo	da	Abolição	há	um	fluxo	 turístico	 latente	motivado	pela	
identidade	cultural	quilombola,	e	ainda	se	percebeu	a	oportunidade	
de se iniciar uma discussão sobre uma proposta futura de turismo 
cultural sustentável, fora da temporada do Festejo. 
Palavras chaves: Patrimônio Imaterial; Festejo da Abolição; Turismo 
Cultural. 
ABSTRACT
This article sought to understand and present to the reader the 
representations of the intangible heritage of the Dona Juscelina 
community through the Feast of Abolition, having as main informants 
the organizers and Masters of the cultural manifestations presented in 
the Festejo, which demarcate the quilombola identity in a predominant 
way in community. In the methodology, a qualitative research and 
participant observation was used, having as instruments of introspection 
the inventory of “Heritage education: Participatory inventories (IPHAN, 
2016)”, as well as scripts of semi-structured interviews. As main results, 
it was found that inthe Abolição Feast there is a latent tourist flow 
motivated by the quilombola cultural identity, and the opportunity to 
start a discussion about a future proposal for sustainable cultural tourism, 
outside the Festejo season was also perceived.
Key words: Intangible Heritage; Festejo da Abolição; Cultural Tourism. 
22 FESTEJO DA ABOLIÇÃO E PATRIMÔNIO IMATERIAL ...
1. INTRODUÇÃO
A Comunidade Quilombola Dona Juscelina é formada por duzentas 
e trinta e seis famílias, totalizando uma	média	de	novecentos	quilombolas. 
A comunidade embora tenha sido reconhecida como urbana, para os 
quilombolas	 que	 estão	 no	 ambiente	 urbano	 e	 suas	 ligações	 são	 diretas	
com o mundo rural, pois foram expropriados de seu território ancestral. 
Neste	sentido,	a	comunidade	luta	para	reconquistar	seu	território	ancestral,	
no	qual	 “[...]	 seu	 passado	histórico	os	 ancestrais	 dos	 quilombolas	 foram	
obrigados	 a	 saírem	 ou	 expulsos	 das	 terras	 que	 ocupavam”	 (OLIVEIRA,	
2018,	p.	44).	Outro	 fator	perceptível	 desta	 ligação	é	que	a	maioria	dos	
quilombolas	exercem	atividades	agrícolas	em	seus	pequenos	lotes	urbanos4, 
como meio de subsistência. 
Nesse contexto, em 2007, a Portaria Interna da FCP nº 98, de 26 de 
novembro, institui o Cadastro Geral de Remanescentes das Comunidades 
dos	 Quilombos.	 É	 por	 meio	 desse	 cadastro	 que	 a	 Comunidade	 Dona	
Juscelina	é	reconhecida	como	comunidade	remanescente	quilombola	pela	
Fundação Cultural Palmares. Em 14 de outubro de 2009, é expedida a 
certidão	de	autodefinição	de	identidade	étnica.	O	processo	de	demarcação	
e reconhecimento do território foi aberto em 2010 no INCRA, em Palmas, 
com o número 54400.000823/2010-31, está em andamento, embora 
tenha sido concluída a primeira etapa do RTID (Relatório Técnico de 
Identificação	e	Delimitação).
De modo geral, este estudo visa realizar a análise do patrimônio 
imaterial da Comunidade Quilombola Dona Juscelina, por meio do Festejo 
da	 Abolição,	 sendo	 que	 essa	 investigação	 é	 feita	 sob	 a	 percepção	 dos	
organizadores e Mestres (Griô)	 das	 manifestações	 culturais	 do	 Festejo.	
Na	 sequência	 será	 apresentada	 a	 metodologia	 qualitativa	 utilizada	 para	
a elaboração do trabalho, expondo os dados coletados por meio de 
4Informações	 cedidas	 com	 base	 na	 observação	 empírica	 de	 um	 dos	 autores	
enquanto	residente	da	Comunidade	Quilombola	Dona	Juscelina.
23TUPINAMBÁ, K. R; GONÇALVES, K. C; CHAVES, A. B
um inventário participativo e entrevistas semiestruturadas. Assim, os 
dados obtidos por estes instrumentos de introspecção serão analisados 
qualitativamente.
Portanto,	 almeja-se	 por	 meio	 das	 reflexões	 sobre	 o	 acervo	 do	
patrimônio	 imaterial,	 que	 se	 revela	 a	 partir	 do	 Festejo	 da	 Abolição,	
sensibilizar	 a	 comunidade	 sobre	 sua	 riqueza	 sociocultural.	 Além	 de	
fomentar a discussão sobre a possibilidade do turismo cultural sustentável 
em	comunidades	quilombolas.	
2. CONSTRUINDO SABERES A CAMINHO DO PATRIMÔNIO 
IMATERIAL 
A	metodologia	utilizada	foi	norteada	pela	pesquisa	qualitativa,	isto	
é, para Chizzotti (2003, p. 221): 
O	 termo	 qualitativo	 implica	 uma	 partilha	 densa	 com	
pessoas,	 fatos	 e	 locais	 que	 constituem	 objetos	 de	
pesquisa,	 para	 extrair	 desse	 convívio	 os	 significados	
visíveis	e	latentes	que	somente	são	perceptíveis	a	uma	
atenção sensível. 
Nesta	 perspectiva,	 a	 pesquisa	 qualitativa	 tem	 como	 principal	
ferramenta	o	próprio	pesquisador,	ao	ser	ele	quem	analisa	os	dados	
coletados	 buscando	 os	 conceitos,	 os	 princípios,	 as	 relações	 e	 os	
significados	das	coisas.
Nesta acepção,	 método	 qualitativo,	 exige	 a	 compreensão	 de	
determinada coletividade a partir da interpretação e contextualização 
por meio da observação, analise documental e entrevistas,	em	que	
esta última é mobilizada não como método, mas como ferramenta 
oral,	vindo	ao	encontro	dos	objetivos	da	pesquisa	(MINAYO,	2001).	
	 É	 importante	 enfatizar	 que	 a	 metodologia	 qualitativa	 neste	
trabalho foi abordada em parceria com a observação participante, em 
que	vários	anos	consecutivos	de	participação	no	Festejo	da	Abolição,	
24 FESTEJO DA ABOLIÇÃO E PATRIMÔNIO IMATERIAL ...
por um dos autores residentes da comunidade, são analisados 
comparativamente. Assim, conforme Marujo (2012, p. 5-6) “[...] a 
observação	participante	é	um	mecanismo	possível	na	vida	daqueles	
que	estão	a	ser	estudados	para	compartilhar	suas	experiências,	pois	
o	 pesquisador	 participa	 enquanto,	 ao	 mesmo	 tempo,	 observa	 e	
desenvolve	relações	com	os	informantes”.	
É	 relevante	 frisar,	 que	 o	 trabalho	 utiliza	 como	 instrumentos	
de	 pesquisa	 o	 “Inventário	 de	 Educação	 Patrimonial:	 Inventários 
Participativos”	(IPHAN,	2016),	o	qual	foi	selecionado	devido	ser	uma	
ferramenta	de	pesquisa	participativa	com	objetivo	de	fazer	o	inventário	
em conjunto com o olhar da população local sobre si mesma. No 
entanto, esse material foi utilizado parcialmente, ou seja, somente 
os	 seus	 questionários	 voltados	 para	 “Celebrações”	 e	 “Expressões	
Corporais”,	 que	 são	 as	 referências	 culturais	 presentes	 no	 Festejo	
da Abolição. Desta feita, segundo o IPHAN (2016), o inventário 
imaterial participativo, é antes de tudo uma ferramenta de educação 
patrimonial,	 que	 considera	 a	 comunidade	 como	 protagonista	 no	
processo,	 visto	 que	 a	 mesma	 descreve	 e	 define	 quais	 referências	
culturais possuem valor. 
Essa limitação em relação a abordagem do inventário do IPHAN 
(2016) ocorreu primeiramente devido à escassez de tempo, além 
da ausência da disponibilidade de voluntários para compor uma 
equipe,	que	pudesse	fazer	o	inventário	do	todas	referências	culturais	
da comunidade. Por conseguinte, tendo em vista essas nuances do 
trabalho,	 que	 o	 escopo	 da	metodologia	 teve	 como	 foco	 principal	
somente os Festejo da Abolição.
Outro	 instrumento	 de	 pesquisa	 utilizado	 foi	 a	 aplicação	 de	
entrevistas	semiestruturadas,	uma	técnica	em	que
[...] o informante tem a possibilidade de discorrer sobre 
suas experiências, a partir do foco principal proposto 
pelo	 pesquisador;	 ao	 mesmo	 tempo	 que	 permite	
respostas livres e espontâneas do informante [...] (SILVA 
LIMA; ALMEIDA; LIMA 1999, p.133). 
25TUPINAMBÁ, K. R; GONÇALVES, K. C; CHAVES, A. B
Neste trabalho, foram utilizados dois roteiros de entrevistas, o 
primeiro voltado aos organizadores do Festejo da Abolição, e outro 
voltado aos Mestres (Griô)	das	representações	culturais	apresentadas	
no Festejo.
É	interessante	ponderar	o	desafio	que	representou	o	trabalho	de	
campo,	a	medida	em	que	o	autor	observador	do	Festejo	é	membro	
da	comunidade	quilombola.	Todavia,	houve	a	busca	da	imparcialidade	
exigida, tendo o foco em posicionar-se como um auxiliador do 
processo para não interferir nos resultados da observação. Portanto, 
para Velho (1987, p.127) “o	 pesquisador	 membro	 da	 sociedade,	
deve	colocar	em	questão	o	lugar	de	suas	possibilidades	e	relativizá-
las	ou	transcendê-las,	a	fim	da	coleta	de	 informações	ser	 imparcial,	
seguindo	os	critérios	de	uma	boa	pesquisa”.
Neste	contexto	essa	pesquisa	vem	propiciar	novas	possibilidades	
de	 leituras	 e	 articulações	 para	 a	 comunidade	 e	 os	 participantes	
do Festejo, ao olhar sobre a ótica do patrimônio permite novos 
horizontes.
3.PATRIMÔNIO IMATERIAL & COMUNIDADES QUILOMBOLAS 
As	 representações	 culturais	 de	 uma	 comunidade	 ou	 nação	
são traduzidas pelos seus hábitos e costumes. Neste sentido, 
compreende-se	que	a	cultura	 imaterial	 faz	parte	da	 identidade	dos	
grupos	sociais	sendo	transmitida	entre	gerações,	logo	para	valorizar	o	
patrimônio intangível se faz premente conhecer a história dos povos, 
suas	relações	com	a	natureza	e	 formas	de	produzir	a	vida.	 (ELITA,	
2013) 
Neste paradigma, a partir da Constituição Federal de 1988 
(BRASIL, 1988), torna-se reconhecida a relevância de se resguardar 
os	bens	de	natureza	material	e	imaterial,	ficando	ambos	reconhecidos	
como “patrimônio cultural” pelo artigo 216:
26 FESTEJO DA ABOLIÇÃOE PATRIMÔNIO IMATERIAL ...
art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro 
os bens de natureza material e imaterial, tomados 
individualmente ou em conjunto, portadores de 
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes 
grupos formadores da sociedade brasileira (BRASIL, 
1988, p. 126).
Desse modo, a partir da criação do decreto regularizador do 
artigo 216 (BRASIL, 1988) se tornou possível o processo de registro 
e	 proteção	 do	 patrimônio	 imaterial	 brasileiro,	 visto	 que	 apesar	 da	
Constituição Federal reconhecer a relevância de preservar os bens de 
natureza material e imaterial, o processo é lento e moroso e para as 
comunidades	acessarem	estes	direitos	precisa	de	várias	intervenções	
externas.
Porém,	 o	 aparato	 mais	 específico	 de	 proteção	 e	 registro	 do	
patrimônio imaterial, veio somente com o decreto nº 3.551/00 
(BRASIL,	 2000,	 p.1),	 o	 qual	 “Institui	 o	 Registro	 de	 Bens	 Culturais	
de	Natureza	Imaterial	que	constituem	patrimônio	cultural	brasileiro,	
cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) e dá 
outras providências.” Essa contextualização, fez-se premente para 
corroborar	na	 reflexão	do	patrimônio	 imaterial	 em	 remanescentes	
de	quilombos,	norteada	pela	seguinte	inquietação.	“Mas	o	que	vem	a	
ser	o	patrimônio	imaterial	quilombola”?
Para responder essa pergunta alguns autores conceituam o 
patrimônio imaterial como sendo as práticas e conhecimentos, suas 
crenças,	e	 tradições	os	quais	despertam	um	valor	simbólico	para	a	
comunidade	a	qual	esse	patrimônio	pertence	(FUNARI	E	PEREGRINI	
2006; ELITA, 2013; FONSECA 2017). Assim, o patrimônio cultural 
imaterial	quilombola	se	localiza	nas	heranças	culturais	que	remetem	
aos	conhecimentos,	o	modo	de	produzir,	suas	manifestações	através	
da	dança,	das	histórias	contadas	e	que	são	transmitidas	oralmente.		
Para Silva Pereira (2012) o reconhecimento e proteção do 
patrimônio	 imaterial,	 está	 relacionada	 a	 garantia	 do	 sistema	 que	
assegure	 que	 os	 portadores	 do	 patrimônio	 possam	 continuar	 sua	
27TUPINAMBÁ, K. R; GONÇALVES, K. C; CHAVES, A. B
produção e transmissão. Neste sentido, em 2002, é registrado o 
primeiro bem imaterial, isto é, a fabricação das panelas de barro 
produzidas artesanalmente pelas paneleiras do bairro das Goiabeiras 
no Espírito Santo, e se estendeu a demais minorias étnicas abrangendo 
inclusive	populações	do	Tocantins,	ao	registrar	a	boneca	Ritxòko de 
origem Karajá em 2012. 
Nesse sentido, para discutir o potencial do turismo cultural em 
comunidades	 remanescentes	 quilombolas,	 e	 levantarmos	o	 acervo	
cultural dos descendentes dos negros escravizados no período do 
Brasil	colonial.	Neste	contexto,	há	relatos	de	que	o	início	da	atividade	
turística de caráter étnico-afro se iniciou nos Estados Unidos, visitando 
as	 comunidades	 de	 origem	 negras,	 com	 roteiros	 que	 retratavam	
experiências étnico-culturais (VANTIN 2008, apud RIBEIRO e 
SANTOS, 2018). 
No Brasil, segundo Ribeiro e Santos (2018, p. 80) “[...] os roteiros 
quilombolas	 são	 formados	 como	elementos	do	 cotidiano	 ligados	 à	
história, cultura, religiosidade e modo de vida”. Observa-se, portanto, 
que	os	remanescentes	de	quilombo	tem	muito	a	nos	mostrar,	pois	
seus hábitos como seu modo de cultivar a terra, suas histórias 
contadas pelos Griôs5,	 sua	 culinária,	 religiosidade	 e	 manifestações	
que	 demarcam	 a	 identidade	 cultural	 afro,	 e,	 concomitantemente	
representam	 atrativos	 para	 o	 turista	 que	 procura	 vivenciar	 uma	
experiência real de encontro com o “outro”. 
4. O FESTEJO DA ABOLIÇÃO: PATRIMÔNIO E TURISMO 
CULTURAL
Para compreender o Festejo da Abolição, é necessário 
5O	termo	Griô	é	um	termo	utilizado	para	se	referir	aos	anciões	da	cultura	Afro-	
brasileira na comunidade, são os conhecedores da cultura negra ancestral.
6“Juscelina” na verdade é um apelido por se assemelhar a pronuncia entre Lucelina, 
seu verdadeiro nome, e o presidente Juscelino Kubitschek. Este apelido demonstra 
a	força	dela	enquanto	personalidade	cultural	para	comunidade.	
28 FESTEJO DA ABOLIÇÃO E PATRIMÔNIO IMATERIAL ...
rememorar a própria história de Dona Juscelina6	 como	 ficou	
conhecida na comunidade, pois sua chegada em Muricilândia e 
sua atuação na organização do Festejo da Abolição, foram fatores 
basilares	para	o	auto	 reconhecimento	da	 identidade	quilombola	na	
comunidade	através	da	revalorização	de	manifestações	culturais	afro-
brasileiras e do catolicismo popular no Festejo. Dona Juscelina relata 
sua	trajetória,	relembrando	que	em	sua	cidade	natal,	Nova	York,	no	
estado	do	Maranhão,	era	envolvida	com	o	Festejo	da	Abolição	que	
tinha tradição lá. Logo no ano de 1962, seis anos após a sua chegada 
em Muricilândia, ela iniciou a organização do Festejo da Abolição ou 
Festa do Treze de Maio, como o cumprimento de uma promessa, 
pois como neta de escravos trouxe consigo essa herança deixada por 
seu tio. 
Fotografia	1 - A Matriarca Dona Juscelina e Manoel Filho junto ao seu altar.
Fonte:	COSTA,	2019	(Acervo	da	pesquisadora).
29TUPINAMBÁ, K. R; GONÇALVES, K. C; CHAVES, A. B
Neste contexto, com o passar do tempo, o Festejo acaba 
perdendo força e acaba deixando de ser realizada em meados dos 
anos 1980. Porém, em 2001 o festejo é retomado, pois Dona 
Juscelina	com	mais	idade	e	debilitada	ganha	o	auxílio	do	quilombola	
Manoel	 Filho	 (Fotografia	 1),	 que	 ajuda	 a	 organizar	 e	 mobilizar	 a	
comunidade novamente e nos anos posteriores o Festejo se torna 
mais rico culturalmente, pois são inseridos novos elementos culturais, 
além de um seminário para discussão política e cultural da identidade 
e	luta	quilombola.
Neste sentido, Manoel Filho descreve a trajetória do Festejo ao 
longo do tempo:
A	 festa	 era	 feita	 mais	 ou	 menos	 assim:	 às	 quatro	 da	
manhã era feita a alvorada7, depois da alvorada às três 
horas da tarde era feita a celebração religiosa8 e depois 
vai para o Teatro da Abolição9	às	quatro	da	tarde,	depois	
da apresentação do Teatro começava o cortejo afro com 
os negros cantando e tocando tambores nas principais 
avenidas da cidade. Esse formato da Festa aconteceu em 
1968	com	um	grupinho	pequeno,	com	algumas	dezenas	
de pessoas, dona Lucelina fez a festa mais vezes, mas no 
7O		A	alvorada	é	o	momento	em	que	os	negros	da	comunidade	saem	cantando,	
tocando	 tambor	e	dançando	pelas	 ruas	da	 cidade,	ela	 retrata	o	 tempo	que	os	
negros	tinham	para	se	divertir	quando	ainda	eram	escravos.
8Na comunidade existe a religião de matriz africana, a religião protestante e suas 
ramificações	e	a	religião	católica,	logo	essa	celebração	religiosa	é	ecumênica.
9O teatro é uma representação simbólica onde representa a assinatura da Lei 
Áurea pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888.
10Manoel	 Filho	 Borges	 e	 Lucelina	 Gomes	 dos	 Santos,	 atual	 que	 auxilia	 Dona	
Juscelina	 na	 organização	 do	 Festejo	 da	 Abolição	 desde	 1980,	 quando	 ela	 por	
motivos	de	saúde	ficou	como	principal	mantenedora	da	 tradição	e	seu	Manoel	
com	a	direção	logística.	Entrevistas	cedidas	a	equipe	do	Inventário	Patrimonial,	em	
novembro, 2020.
30 FESTEJO DA ABOLIÇÃO E PATRIMÔNIO IMATERIAL ...
início da década de 80 ela parou de celebrar a Festa, 
por	que	ela	afirmava	que	ninguém	ajudava	a	organizar,	
aí	 eu	e	ela	 conversamos	e	 fizemos	um	acordo	de	ela	
trazer a festa de volta e eu ajudar. Então em 2001, ela 
vem ainda no mesmo formato de antes, mas nos anos 
posteriores	 são	 inseridas	 novas	 aquisições	 como	 os	
grupos de dança, os seminários, o Conselho de Griôs, as 
oficinas	de	artesanato	de	palha,	o	ritual	feito	pelos	jovens	
quilombolas	em	petição	de	bênçãos	aos	Griôs e aos seus 
antepassados	 e	 os	 espaços	 de	 discussões	 (informação	
verbal).10
Fotografia	2	-	Família	real	no	Teatro	da	Abolição	no	quilombo
Fonte:	CHAVES,	2018	(Acervo	do	pesquisador).
31TUPINAMBÁ, K. R; GONÇALVES, K. C; CHAVES, A. B
Fotografia	3	-	Apresentação	do	lindô	no	Festejo	da	Abolição
]Fonte:	CHAVES,	2018	(Acervo	do	pesquisador).
Conforme	 a	 descrição	 do	 Festejo,	 é	 importantefrisar	 que	 o	
Teatro	da	Abolição	(Fotografia	2),		representa	um	momento	ápice	da	
celebração,	em	que	há	uma	encenação	dos	maus	tratos	que	os	negros	
sofriam	e	 após	 um	pequeno	 enredo	 a	 princesa	 Izabel	 assina	 a	 Lei	
Áurea,	e	os	escravos	ficam	eufóricos	e	inicia	o	cortejo	afro	com várias 
manifestações	culturais	que	representam	a	identidade	quilombola.
11Simon	(2000,	p.16)	afirma	que	em	comunidades	 tradicionais	assim	como	em	
locais isolados da África, América do Sul, entre outros; ainda encontram-se as 
“sociedades	da	memória”	nas	quais	o	quantitativo	de	 informação	é	muito	mais	
restrito,	 a	 memória	 é	 organizada	 pelo	 conjunto	 de	 seus	 membros,	 os	 quais	
também	 a	 transmitem	 às	 novas	 gerações,	 sendo	destinado	 aos	mais	 velhos,	 o	
relevante	papel	de	guardiões	da	memória.
12Maria	 Zilma	 Cruz	 Moura	 de	 Sousa,	 entrevista	 cedida	 ao	 autor	 da	 pesquisa	
Arystóteles Franklyn Chaves Borges na data de 01 de novembro de 2018.
32 FESTEJO DA ABOLIÇÃO E PATRIMÔNIO IMATERIAL ...
Fotografia	4	-	Grupo	Negras	Mariamas	apresentando	no	
Festejo da Abolição 
Fonte:	CHAVES,	2018	(Acervo	do	pesquisador).
O cortejo afro é aberto com a dança “o rebolado”, uma manifestação 
cultural espontânea com movimentos “descoreografados”, onde 
todos	podem	participar	e	que	ocorre	logo	após	o	Teatro	da	Abolição	
para simbolizar a comemoração dos negros. Em seguida, ocorre o 
“lindô”,	que	segundo	os	mais	velhos	originou-se	dos	escravos,	onde	
após a abolição saíram dançando em comemoração, em uma dança 
de	roda	com	canções	em	forma	de	versos,	em	que	todos	dançam	de	
branco e durante os passos na dança de roda ocorre a troca de pares, 
que	envolve	canções	em	forma	de	versos	(que	narram	a	história	da	
comunidade) e trocas de pares, conforme pode ser observado na 
(Fotografia	3).
33TUPINAMBÁ, K. R; GONÇALVES, K. C; CHAVES, A. B
Observou-se	que	o	grupo	afro	“Negras	Mariamas”,	(Fotografia	
4) abaixo, ao se apresentarem exercem um papel de protagonismo, 
pois as pessoas mais velhas na comunidade são respeitadas como 
guardiãs da memória11,	além	disso	as	senhoras	que	compõem	o	grupo	
participam ativamente no auxílio da organização do Festejo, sentindo 
orgulho	 em	 participar	 e	 ser	 membro	 da	 comunidade	 quilombola.	
Esses	aspectos	observados,	foram	confirmados	no	relato	da	Mestre	
Griô, responsável em manter a tradição deste grupo dona Nena “[...] 
são	os	quatro	dias	de	festas,	onde	tem	várias	apresentações,	tem	o	
seminário,	mas	quando	apresentamos	a	nossa,	aí	que	nós	se	sente	
mais	ainda	forte	né,	sendo	quilombola	[...]”	(informação	verbal).12
A gastronomia no Festejo estava interligada ao modo de viver na 
comunidade,	em	cultivar	a	mandioca	e	outras	iguarias	em	seus	quintais,	
os	quais	originam	os	pratos	típicos:	cuscuz	de	arroz	e	o	de	milho,	o	
mané pelado, o beiju, a feijoada, o bolo cacete, o munguzá, o baião 
de	dois	e	o	mangulão,	os	quais	 são	consumidos	diariamente	pelos	
locais. Entretanto, a pedido de Dona Juscelina a oferta de comidas 
típicas no Festejo foi cancelada, segundo Manoel Filho Borges relata 
que:
Nos anos anteriores, nós fazíamos a barraca da culinária 
afro-brasileira	quilombola,	e	vendíamos	a	comida	típica,	
como por exemplo, o baião de dois, o munguzá, a 
feijoada, e o pessoal se alimentavam dessas comidas, 
então tinha essas barracas e a intenção era com elas 
a comunidade angariar recursos através da venda dos 
pratos típicos. Mas com o passar do tempo, essa comida 
deixou de ser ofertada até mesmo por um pedido da 
13Matriarca dona Lucelina (conhecida popularmente por Juscelina), precursora do 
festejo na comunidade.
14Manoel	Filho	Borges,	entrevista	cedida	ao	autor	da	pesquisa	Arystóteles	Franklyn	
Chaves Borges na data de 27 de outubro de 2018.
15Maria	 Zilma	 Cruz	 Moura	 de	 Sousa,	 entrevista	 cedida	 ao	 autor	 da	 pesquisa	
Arystóteles Franklyn Chaves Borges na data de 01 de novembro de 2018.
34 FESTEJO DA ABOLIÇÃO E PATRIMÔNIO IMATERIAL ...
matriarca13 [...] então passou a ser oferecido um jantar 
gratuitamente	 para	 todos	 que	 estavam	 ai	 assistindo	 o	
festejo (informação verbal).14
É ressaltado,	 que	 de	 acordo	 com	 a	 observação	 empírica,	
detectou-se o crescimento da dimensão da Festa com o passar dos 
anos. Observação consubstanciada pela matriarca da comunidade 
que	relata	que	nas	primeiras	celebrações	se	reuniam	em	média	100	
pessoas,	ou	seja,	os	primeiros	visitantes	caracterizavam	em	um	fluxo	
turístico tímido. 
Nos dias de hoje, embora não se tenha dados estatísticos 
precisos, de acordo com a observação empírica de organizadores 
e	colaboradores,	pode-se	estimar	que	o	Festejo	reúne	por	volta	de	
“quatro	a	cinco	mil”	pessoas	para	assistir	as	apresentações	culturais.	
Assim,	 dona	Nena	 confirma	 essa	 realidade,	 “[...]	 nóis	 comecemos	
com cem pessoa, depois foi pra mil, pra dois mil, pra três mil, pra 
quatro	mil	e	as	vezes	até	cinco	mil	[...]”	(informação	verbal)15.
Ao	 ter	em	vista	esse	 aumento	do	fluxo	 turístico	no	Festejo,	e	
os	relatos	que	demonstram	que	esses	visitantes	teriam	como	maior	
motivação	 assistir	 as	 manifestações	 culturais.	 Portanto,	 conclui-se,	
que	há	um	potencial	para	o	turismo	cultural	na	comunidade	que	não	
necessariamente deve estar atrelado ao Festejo da Abolição, ainda 
que	ele	 seja	 fundamental	 para	 aguçar	o	olhar	 dos	 visitantes	 para	 a	
riqueza	do	acervo	cultural	local.
Portanto, tendo em vista essa demanda de turistas considerável 
motivada em visitar a comunidade para presenciar principalmente 
as	manifestações	 culturais	 que	demarcam	a	 identidade	quilombola,	
percebe-se uma situação favorável para futuramente se estruturar 
uma proposta de um roteiro turístico cultural. A estruturação dessa 
proposta se daria dentro das premissas da sustentabilidade, ou seja, 
se iniciaria com a aplicação de um inventário patrimonial e consecutiva 
análise para um planejamento turístico, com base na interpretação 
35TUPINAMBÁ, K. R; GONÇALVES, K. C; CHAVES, A. B
da	comunidade	do	seu	próprio	acervo	cultural,	atentando	para	que,	
“[...] é tempo de consolidar entre nós a prática da interpretação do 
patrimônio para propiciar o desenvolvimento cultural das comunidades 
e fortalecer o turismo sustentável [...]” (MURTA; ALBANO, 2002, 
p. 11).
Neste contexto o Festejo da Abolição constitui-se de muitos 
elementos	que	são	fundamentais	para	uma	proposta	a	ser	dialogada	
com a comunidade para se estabelecer o levantamento, o registro e 
a salvaguarda deste patrimônio imaterial da Comunidade Quilombola 
Dona Juscelina em Muricilândia (TO).
5. APRESENTANDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Com	base	nas	 informações	 coletadas	 em	pesquisa	 de	 campo,	
conclui-se	 que	 em	 torno	 do	 Festejo	 da	 Abolição	 se	 desenvolveu	
um	fluxo	turístico	crescente	motivado	principalmente	em	presenciar	
as	manifestações	 culturais	 que	demarcam	a	 identidade	desse	 povo	
quilombola.	 Em	 decorrência	 desta	 característica	 do	 Festejo	 da	
Abolição,	 que	 se	 evidenciou	 o	 potencial	 da	 comunidade	 para	 o	
desenvolvimento do turismo cultural desatrelado a sazonalidade do 
Festejo, e concomitantemente se cogitou a possibilidade de se iniciar 
uma discussão em torno de um turismo sustentável e participativo in 
loco. 
Todavia, o maior obstáculo para o desenvolvimento desta 
premissa de ampliação turística, está em disseminar a consciência de 
cooperação em torno de construção coletiva na comunidade, pois 
embora os Mestres (Griôs) e organizadores do Festejo da Abolição, 
afirmem	que	a	maior	parte	da	comunidade	se	sente	quilombola,	na	
observação	empírica	detectou-se	que	existe	uma	parte	da	comunidade	
que	se	auto	intitula	quilombola	apenas	para	obter	benefícios.	Desta	
feita,	para	que	o	turismo	cultural	tivesse	chance	de	ser	ampliado	além	
36 FESTEJO DA ABOLIÇÃO E PATRIMÔNIO IMATERIAL ...
do Festejo, de modo sustentável e participativo, seria necessário 
que	 a	 comunidade	 sofresse	um	processo	de	 sensibilização	 voltado	
para valores como: economia solidária, educação patrimonial, 
cooperativismo, sustentabilidade,entre outros. 
Outro	fator	que	consolidaria	esse	turismo	de	base	sustentável	é	a	
comunidade ter acesso e direito novamente ao território ancestral da 
comunidade,	assim	elementos	culturais	e	sociais	que	se	estabelecem	
no rural e se consiste na matriz deste grupo seria impulsionada. 
Reacendendo os conhecimentos e fazeres coletivos oriundos das 
comunidades tradicionais e étnicas.
Portanto, esse trabalho buscou contribuir para aprofundar os 
estudos	 sobre	 patrimônio	 imaterial	 em	 comunidades	 quilombolas	
em torno do turismo cultural. E demonstrar a Comunidade 
Quilombola Dona Juscelina a dimensão do seu patrimônio cultural 
por meio do Festejo da Abolição, além de discutir a possibilidade 
do desenvolvimento de um roteiro turístico cultural veiculado ao 
planejamento cultural sustentável.
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PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-
XERENTE: DESCOLONIZAR O LAZER
CULTURAL PRACTICES OF THE AKWẼ-
XERENTE PEOPLE: DOCOLONIZING 
LEISURE
KHELLEN CRISTINA PIRES CORREIA SOARES1
JOSÉ ALFREDO DEBORTOLI2
BELENI SALETÉ GRANDO3
 
1Doutora em Estudos do Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais 
(UFMG). Professora efetiva do Instituto Federal de Educação, Ciência e 
Tecnologia do Tocantins (IFTO).
 
2Professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos do Lazer EEFFTO/
UFMG; Doutor em Educação pela PUC-RJ. Cursou Pós-Doutorado no 
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UnB.
3Professora no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade 
Federal de Mato Grosso (2011). Doutora em Educação (2004) e Pós-Doutora 
em Antropologia Social (2011) pela Universidade Federal de Santa Catarina
40
RESUMO
Ao apresentar este texto, assumimos o compromisso e o sentido, 
tão	 político	 quanto	 acadêmico,	 de	 compartilhar	 processos	 de	
descolonizar histórias e conhecimentos. Buscamos, também, 
descolonizar	 nossos	 olhares	 e	 percepções,	 abrindo-nos	 a	 outros	
modos/mundos possíveis de ser(mos) e viver(mos). Movemo-nos 
em	diálogo	com	outras	pessoas,	contextos	e	grupos	sociais,	ainda	que	
constituídos	 em	 uma	 mentalidade	 moderna-ocidental,	 desafiando-
nos o objetivo de aprender com os modos de vida do povo Akwẽ-
Xerente.	Por	meio	de	pesquisa	bibliográfica	e	de	campo,	com	uma	
inspiração	etnográfica,	indagamos	a	maneira	de	habitar	o	mundo	do	
povo Akwẽ-Xerente,	suas	relações	com	o	místico,	com	a	natureza,	
com	a	família	e	a	comunidade;	compreendendo	o	“bem	viver”	que	
emerge	de	suas	práticas,	e	que	se	revela	como	jogo,	como	brincar.	
Desta forma encontramos na caça às tanajuras, no banho no rio, 
nas	 rodas	do	 artesanato,	na	 corrida	de	 tora,	 no	 arco	e	 flecha,	nas	
corridas de resistência, no cabo de força e no futebol, transitam entre 
a	 liberdade	 e	 a	 obrigação,	 compartilham	 saberes	 que	 sustentam	
sua	 resistência	 e	 lutas	 cotidianas.	Concluímos	 que,	 na	 centralidade	
das práticas culturais do povo Akwẽ-Xerente, podemos aprender 
com seus processos de organização e percepção do social e, com 
isso,	interpelar	outras	possibilidades	e	sentidos	possíveis	para	o	que	
nomeamos e experimentamos como Lazer.. 
Palavras chaves: Povo Akwẽ-Xerente, Descolonização, Educação, 
Lazer.
41
ABSTRACT
In presenting this text, we assume the commitment and the sense, both 
political and academic, of sharing processes to decolonize stories and 
knowledge. We also seek to decolonize our looks and perceptions, opening 
ourselves to other possible ways / worlds of being and living. We move 
in dialogue with other people, contexts and social groups, even though 
constituted in a modern-western mentality, challenging us to learn from 
the Akwẽ-Xerente people’s ways of life. We inquire about their ways of 
inhabiting the world, their relations with the mystic, with nature, with the 
family and the community; understanding the “good life” that emerges 
from their practices, and that reveals itself as a game, as playing. In 
hunting for tanajuras, bathing in the river, on the wheels of handicrafts, 
in the log race, in the bow and arrow, in resistance races, in the power 
line and in football, they move between freedom and obligation, share 
knowledge that sustains their resistance and daily struggles. Thus, we 
hope, in the centrality of the cultural practices of the Akwẽ-Xerente 
people, to learn from their processes of organization and perception 
of the social and, with this, to question other possibilities and possible 
meanings for what we name and experienc as Leisure.
Key words: Akwẽ-Xerente People, Decolonization, Education, Leisure.
42 PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-XERENTE ...
PARA INÍCIO DE CONVERSA:
Se as pessoas não tiveremvínculos profundos com sua 
memória ancestral, com as referências que dão sustentação 
a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco 
que compartilhamos. [..]) Tem uma montanha rochosa 
na região onde o rio Doce foi atingido pela lama da 
mineração. A aldeia Krenak fica na margem esquerda do 
rio, na direita tem uma serra. Aprendi que aquela serra 
tem nome, Takukrak, e personalidade. De manhã cedo, de 
lá do terreiro da aldeia, as pessoas olham para ela e sabem 
se o dia vai ser bom ou se é melhor ficar quieto. Quando 
ela está com uma cara do tipo “não estou para conversa 
hoje”, as pessoas já ficam atentas. Quando ela amanhece 
esplêndida, bonita, com nuvens claras sobrevoando a sua 
cabeça, toda enfeitada, o pessoal fala: “Pode fazer festa, 
dançar, pescar, pode fazer o que quiser”. Assim como 
aquela senhora hopi que conversava com a pedra, sua 
irmã, tem um monte de gente que fala com montanhas. 
(KRENAK, 2019, p. 9)
A passagem acima nos remete a unidade entre humanidade e 
natureza,	para	além	das	relações	extrativistas	construídas	a	partir	das	
relações	 impostas	 pelo	 colonialismo	 e	 pelo	 capitalismo.	 Pensando	
em outra construção epistemológica, é necessário reconhecer 
que	desde	tempos	remotos,	os	povos	originários	têm	uma	relação	
sagrada com a natureza. Nas palavras de Gomes e KOPENAWA 
(2015, p.146):
é uma terra, o branco chama de “mundo”, outros falam 
a palavra “universo” [...].	Para	nós,	povo	indígena	aqui	do	
Brasil, outros povos indígenas, cada um chama diferente: 
alguns chamam Hutukara, outros chamam Tupã [...]. E 
nós	 estamos	 aqui	 sentados	 na	 barriga	 da	 nossa	 terra	
mãe.	A	Hutukara	fica	 junto	com	a	pedra,	com	a	areia,	
43SOARES, K. C. P. C; DEBORTOLI, J. A; GRANDO, B. S. 
com o rio, o mar, o sol, a chuva e o vento. Hutukara é 
um	corpo,	um	corpo	que	é	unido,	ela	não	pode	ficar	
separada (GOMES; KOPENAWA, 2015, p. 146).
Na	civilização	grega,	os	pré-socráticos	questionaram	a	relação	
com a natureza e no renascimento estes pensamentos gregos são 
retomados	com	a	ideia	da	natureza	como	máquina,	com	tentativas	
de entendê-la para dominá-la, criando uma noção de superioridade 
antropocêntrica homem-natureza e uma relação de exploração 
desenfreada e sem consciência. Este processo acarretou uma perda 
da	noção	de	que	fazemos	parte	da	natureza.	Mas,	se	somos	parte	
desta	equação,	é	necessário,	ou	inevitável,	estabelecermos	diálogos 
com	outros	modos	de	vidas,	que	configuram	lutas	sociais	e	políticas,	
ainda	 que,	 sistematicamente,	 invisibilizados	 por	 uma	 experiência	
social estruturada em uma perspectiva colonialista.
Talvez	seja	o	caso	de	acolhermos	o	desafio	de	Stengers	(2018,	
p. 444), ao trazer o personagem conceitual, o idiota de Deleuze, 
tomado de empréstimo de Dostoïevski, constrangendo-nos a 
desacelerar e resistir: “à maneira como a situação é apresentada, 
cujas urgências mobilizam o pensamento ou a ação. [...]	Não	porque	
a	apresentação	seja	falsa,	não	porque	as	urgências	sejam	mentirosas”, 
mas	porque	há	algo	de	mais	importante.
Conhecer as práticas culturais do povo Akwẽ-Xerente,	e	afirmá-
la como patrimônio cultural, pode ter grande relevância e trazer 
contribuições	para	diferentes	áreas	de	estudo,	provocando,	mais	do	
que	um	olhar	 interdisciplinar	acerca	do	conhecimento,	uma	crítica	
a posturas extrativistas dos nossos estudos e metodologias. Damos 
centralidade à noção de Patrimônio Cultural, na perspectiva apontada 
por	Machado	e	Dias	(2009,	p.	2),	que	concebem	esta	noção	como:
[...] resultado de uma dialética entre o homem e seu 
meio, entre a comunidade e seu território. Ele não é 
apenas	constituído	pelos	objetos	do	passado	oficialmente	
44 PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-XERENTE ...
reconhecidos,	mas	também	por	tudo	que	liga	o	homem	
ao	 seu	 passado,	 ou	 seja,	 tudo	 que	os	 seres	 humanos	
atribuem ao legado material e imaterial de sua nação. 
O fortalecimento da identidade cultural permeia a 
construção de uma nação, e o patrimônio cultural se 
reconhece como a memória e o modo de vida da 
sociedade, compreendendo tanto elementos materiais 
como imateriais. Constitui-se como patrimônio cultural, 
o	conjunto	dos	elementos	para	os	quais	se	reconhecem	
valores	 que	 identificam	 e	 perpetuam	 a	 memória	 e	
referências do modo de vida e identidade social. 
(MACHADO; DIAS, 2009, p.2).
Com	este	sentido,	Grando	e	Passos	(2010)	trazem	significativas	
contribuições	 para	 o	 campo	 de	 estudos	 das	 culturas	 indígenas	 ao	
analisar	 a	 história	 e	 cultura	 dos	 povos	 indígenas.	 Afirmam	que	 um	
compromisso com relação à construção do eu e do outro se faz por 
meio da compreensão da cultura e do território como espaço de 
troca.	Ao	refletirem	sobre	a	cultura	enquanto	coisa	nômade,	em	que	
um pouco permanece e todo o resto é cambiante, Passos (2010, p. 
25)	destaca	que:	
Cultura não é, jamais, uma coisa exterior a nós, mas 
aquilo	que	queremos	para	nós,	e	que	negociamos	com	
o	grupo	humano	com	o	qual	convivemos	e	que	nos	deu	
origem. É o nosso lugar e jeito de ser no mundo com os 
outros	e	outras.	É	morada,	é	abrigo.	É	o	que	nos	expõe,	
tira nossa intimidade para fora de nós, para um território 
público. A cultura é como um espelho, projeta para nós 
mesmos nossa imagem do exterior de nós para nós, e 
para os outros. Nela, estamos envolvidos nas formas de 
tempo	e	espaço	que	nos	 faz	acessíveis	ao	mundo	[...]	
Da mesma forma, é a expressão no ser humano, dado 
que	toda	nossa	imagem	é	sempre	negociada	do	modo	
como ela poderá nos fazer presentes ao mundo, lugar 
45SOARES, K. C. P. C; DEBORTOLI, J. A; GRANDO, B. S. 
da objetividade e subjetividade, do signo e do sentido 
(PASSOS, 2010, p.25).
Os estudos étnicos têm se ampliado de forma crescente na 
sociedade brasileira, auxiliando a compreensão de cultura. Estes 
estudos abrangem desde as práticas culturais da vida cotidiana aos 
embates	 e	 ações	 políticas	 das	 relações	 interétnicas,	 revelando	 as	
relações	de	poder	que	fazem	parte	do	processo	de	desenvolvimento	
alteritário dos povos indígenas. Desta maneira buscamos investigar o 
modo de habitar do indígena Akwẽ-Xerente, na tentativa de contribuir 
com	a	garantia	da	preservação	dos	saberes	e	práticas	culturais	que	
compõem	 a	 vida	 cotidiana	 indígena,	 por	 meio	 de	 processos	 de	
envolvimento, territorialização e alteridade.
Estamos assim, exercitando a busca por pensamentos alternativos, 
para	questionar	a	construção	epistemológica	do	pensamento	crítico	
eurocêntrico,	sem	deixar	de	reconhecer	suas	contribuições,	porém	
abrindo espaço para o re-conhecimento de outros saberes elaborados 
em	contextos	de	resistência,	por	povos	e	comunidades	que	foram,	
ao longo de séculos, silenciados e marginalizados. A percepção do 
processo de alteridade, no estudo do povo Akwẽ-Xerente, revelou 
aproximações	com	os	estudos	do	lazer,	por	meio	das	atividades	que	
este povo realiza, legitimadas socialmente como práticas e patrimônio 
culturais.	Podemos	observar	a	fala	do	cacique	da	aldeia	Salto
Assim formou, surgiu a origem do nosso povo, mas 
antes disso os próprios homens já tinham umas práticas 
culturais, como a caça e o jeito de ser akwẽ, já tinha o jeito, 
então	quando	foi	formada	a	mulher	só	complementou,	
e aí o casal foi adaptando e aperfeiçoando, já falavam a 
língua deles próprios, eu estou falando deles, mas eu 
também faço parte, desse povo. Tenho orgulho de dizer 
que	é	um	povo	guerreiro,	muito	resistente,	até	chegar	
nesse século XXI, já tem mais de 250 anos de contato, 
46 PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-XERENTE ...
mantendo a linguagem e algumas coisas da cultura, isso 
me deixa muito orgulhoso. E assim é a origem do nosso 
povo akwẽ, uso muito akwẽ, a gente se autodenomina 
assim, povo akwẽ.	 Xerente	 é	 um	 nome	 que	 os	
antropólogos e estudiosos deram para diferenciar um 
povo	 de	 outro,	 que	 nem	 xavante,	 xacriabá	 enfim.	 –	
Fala	do	Cacique	Valci	Siña	sobre	a	origem	do	povo	e	as	
práticas culturais (SOARES, 2017, p.45). 
Aprofundar a compreensão das práticas culturais indígenas nos 
impõe,por	isso,	descolonizar	o	lazer,	interpelando	relações	históricas	
e culturais, atentos aos processos de organização social. Apresenta-
se,	assim,	como	um	desafio	para	enfrentarmos	a	urgência	das	relações	
interétnicas,	sobretudo,	quando	isto	envolve	e	tensiona	o	território	e	
o cotidiano dos povos indígenas.
O território indígena e sua temporalidade se diferenciam dos 
demais	 territórios	 e	 temporalidades	 dos	 sujeitos	 que	 compõem	 a	
sociedade envolvente, cada realidade vem sendo construída a partir 
das	experiências,	vivências,	sentidos	e	significados	elaborados	na	vida	
cotidiana individual e coletiva. Neste universo brasileiro de povos 
indígenas,	situo	o	Estado	do	Tocantins,	que	possui	uma	população	em	
número aproximado de 14.118 índios, conforme dados do censo 
de 2010; divididos segundo a língua em três povos: Akwẽ (Xerente), 
Timbira (Apinajé, Krahô e Krahô-Kanela) e Yny (Karajá, Javaé e 
Xambioá), sendo estes distribuídos em sete etnias.
Assim, esta escrita é realizada a três mãos, buscando nos achados 
bibliográficos	 epistemes	 que	 possam	 amparar	 nossa	 intenção	 de	
provocar um olhar descolonizador para o campo de estudos do lazer. 
Trazemos para compor este trabalho um recorte da tese de Soares 
(2017), um estudo com inspiração etnográfica,	que	traz	o	cotidiano	
da aldeia Salto, do povo Akwẽ-Xerente e seus processos de ecologias 
de saberes e práticas. 
47SOARES, K. C. P. C; DEBORTOLI, J. A; GRANDO, B. S. 
O MODO SER E VIVER AKWẼ-XERENTE
Pensar	 epistemologias	 alternativas	 que	 permitam	 ser	 possível	
lançar	indagações	acerca	do	entendimento	de	que	o	lazer	se	manifesta	
em	 diferentes	 contextos,	 de	 acordo	 com	 sentidos	 e	 significados	
produzidos/reproduzidos	 pelas	 pessoas	 nas	 suas	 relações	 com	 o	
mundo.	E	sobre	essas	relações,	Ingold	(1988)	pondera	que	os	seres	
humanos	 são	 tão	 únicos	 quanto	 outra	 espécie,	 também	 única	 em	
sua	maneira	particular	de	ser	e,	assim,	sugere	que	natureza	e	cultura	
sejam uma coisa só e não haja dicotomias. Para dizer das práticas 
culturais e /ou lazer é necessário situá-los, por meio de organismos 
em ambientes, formando uma totalidade indivisível. 
As	indagações	e	reflexões	teóricas	realizadas	por	Tim	Ingold	(2000)	
auxiliam-nos a pensar o habitar indígena através da compreensão das 
relações	entre	 ambiente,	 cultura	e	percepção,	 como	um	processo	
social. Este antropólogo britânico traz a ideia da aprendizagem 
como	 um	 processo	 essencialmente	 social	 –	 não	 somente	 por	
uma perspectiva cerebral, mas pela relação entre diversos agentes 
(humanos e não humanos)4. Busca, de forma ousada, estabelecer 
o rompimento do dualismo natureza/cultura, criando a antropologia 
ecológica.	 Ingold	 (2000)	 propõe	 um	 estudo	 das	 diferentes	 formas	
de	 viver	 no	 mundo	 em	 que	 habitamos,	 fazendo	 uma	 análise	 da	
importância	das	condições	materiais	da	existência,	verificando	como	
4Tim	Ingold	critica	essas	visões	e	interpretações	que	supervalorizam	o	pensamento	
nos seres humanos em oposição às outras características de todos os outros 
seres vivos, colocando esses últimos em posição inferior se comparados com os 
primeiros.	Ele	afirma	que	os	 seres	humanos	 são	 tão	únicos	quanto	é	qualquer	
outra espécie, também única em sua maneira particular de ser. “Assuredly, if you 
are a human being, there is a certain adaptive advantage in being able to think, 
just as there is in being about to construct dams or webs if you are a beaver or a 
spider” (INGOLD, 1988, p. 97).
48 PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-XERENTE ...
os	modos	de	produção	e	relações	com	o	meio	podem	se	relacionar	
com	as	noções	sobre	natureza,	cultura,	cognição	e	percepção.
Este olhar e aproximação das práticas culturais Akwẽ-Xerente nos 
permite	dizer	das	relações	que	este	povo	estabelece	entre	natureza,	
cultura,	cognição	e	percepção.	Esta	forma	de	habitar	o	mundo,	que	
é	revelada	pela	cultura,	traz	aproximações	com	o	campo	de	estudos	
interdisciplinares, em especial o campo de estudos do lazer e da 
educação intercultural.
A vida cotidiana indígena Akwẽ-Xerente, ou ainda, o modo de 
habitar no mundo do povo Akwẽ-Xerente possibilita-nos observar 
as	diferentes	 relações	estabelecidas	 entre	o	 indivíduo	e	o	 cosmos,	
ou a valorização da natureza no processo de constituição do ser 
índio, ou seja, da capacidade desta para gerar valor a modos de 
habitar no mundo do povo Akwẽ-Xerente. O território deste povo 
se	constitui	na	medida	em	que	desenvolvem	suas	vidas	neste	lugar,	
neste ambiente. 
Pensar a vida social do povo Akwẽ-Xerente e seus atravessamentos 
com a natureza, o ambiente e as práticas culturais projeta-nos para o 
reconhecimento de toda a história de luta pela terra e permanência 
nela.	 Esse	 território,	 que	 representa	 mais	 que	 um	 lugar	 em	 que	
se	é	possível	 viver,	é	o	ambiente	que	poderá	 fornecer	 indicadores	
relevantes	para	identificar	as	práticas	culturais	de	resistência,	ou	não,	
deste povo.
Por isso, o processo de aproximação e envolvimento, com base 
nas	 reflexões	 de	 Ingold,	 (2012),	 amplificou	 nossa	 aproximação	 da	
vida cotidiana Akwẽ-Xerente,	tendo	como	referência	que	a	produção	
do conhecimento e sua transmissão são indissociáveis dos sujeitos no 
mundo e da sua ação criativa no presente; é imprescindível observar 
a	vida	e	seus	fluxos	e	 linhas,	que	ganham	 forma	nos	materiais	que	
nos	constituem	a	todos	que	fazemos	parte	do	ambiente-mundo.	Esta	
perspectiva	 possibilita-nos	 verificar	 que	 há	 uma	 visão	 cosmológica	
49SOARES, K. C. P. C; DEBORTOLI, J. A; GRANDO, B. S. 
que	 envolve	 o	 habitar	 Akwẽ-Xerente, sua relação com o místico, 
com a natureza, com a família e a comunidade. 
Santos (1978) contribui para a compreensão da relação entre 
territorialidade	e	alteridade,	quando	reflete	acerca	do	espaço	como	
produção do homem, da relação da natureza com a totalidade 
e a mediação da técnica. O espaço social do povo Akwẽ-Xerente 
corresponde ao espaço humano, lugar de vida, de morada, de 
trabalho, sobrevivência, ritos e tantas outras experiências. O espaço 
geográfico	–	Território	Indígena	Xerente	–	vem	sendo	historicamente	
organizado	pelo	seu	povo,	que	o	produz	como	 lugar	de	 luta	e	de	
sua própria reprodução. Os territórios dos povos tradicionais se 
fundamentam em décadas, em alguns casos, séculos de ocupação 
efetiva. (LITLLE, 2002).
Ao escolher viver neste território, valorizando todos os seres 
que	nele	existem	e	são	fundamentais	para	a	existência	da	vida,	esse	
povo	 reconhece	 as	 circunstâncias	 naturais	 que	 formam	a	 estrutura	
material	da	existência	do	grupo.	Os	fluxos	do	modo	de	vida	Akwẽ-
Xerente materializam a relação entre territorialidade e alteridade, ou 
seja, o habitar deste povo é um esforço coletivo para ocupar, usar, 
controlar	e	se	identificar	com	uma	parcela	específica	de	seu	ambiente	
biofísico, do seu “território”, com suas particularidades socioculturais.
Para mim é muito importante, por causa da aldeia, nossa 
terra demarcada. É só uma área Xerente no Tocantins, 
você	 vê	muito	 verde,	 é	bem	preservada,	o	que	 você	
precisa	está	ali,	pra	fazer	artesanato,	arco	e	flecha,	cortar	
tora de buriti. E você tem água pra beber no brejo, hoje 
as	 águas	 tão	 secando	porque	ao	 redor	da	 reserva	 tão	
desmatando tudinho. Atinge até nossa área indígena e 
fica	complicado	pra	gente,	porque	nosso	território	é	a	
5Grupo	de	pessoas	não	indígenas	que,	de	alguma	forma,	estabelecem	um	processo	
de aproximação ou convivência com os povos indígenas.
50 PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-XERENTE ...
terra	mãe	que	a	gente	fala.	Por	isso	a	gente	tem	o	nosso	
bem maior, tem assim maior probabilidade do povo 
Xerente viver (SOARES, 2017, p. 106).
Neste modo de viver há uma carga histórica de relação e 
comprometimento	com	o	meio	em	que	vivem,	o	lugar	onde	residem	
e de onde tentam retirar recursos naturais de forma inteligente para 
a	manutenção	das	futuras	gerações.	Conclui-se	que	a	territorialidade	
se constitui na forma como este povo se comunica com as formas de 
vida	quelhe	rodeiam	e	estas	relações	consolidam	a	consciência	de	
pertencimento a este lugar, ao Território Indígena Xerente. 
AS PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-XERENTE
O povo Akwẽ-Xerente está há aproximadamente trezentos anos 
em contato com a sociedade envolvente5, em um processo contínuo 
de	 estímulos	 e	 resistências,	 prova	 disso	 é	 que,	 de	 acordo	 com	 o	
IBGE (2012), é a maior população indígena do Estado do Tocantins. 
De acordo com Artiaga (1947), os Xerente são conhecidos por - 
akuem,	que	significa	o	mais	notável,	o	que	está	acima,	ou	ainda,	gente	
importante.	Este	povo	firmou	suas	raízes	na	sua	terra,	mesmo	com	
escravidão,	conflitos	e	lutas	para	defendê-la,	pois	é	de	onde	retiram	
o alimento e a vida.
O povo Akwẽ-Xerente é citado por viajantes como o povo 
mais habituado ao convívio com os brancos (RIBEIRO, 1993). A 
etnia Akwẽ-Xerente iniciou o processo de educação formal há 
mais	de	quarenta	anos,	com	as	Missões	Batista,	que	começaram	o	
6A autodenominação Xerente aparece na literatura de viajantes e etnólogos 
com	diferentes	grafias	(Acuen	e	Akwen	por	exemplo).		Atualmente	os	próprios	
Xerente, grafam suas autodenominação como Akwê.elecem um processo de 
aproximação ou convivência com os povos indígenas.
51SOARES, K. C. P. C; DEBORTOLI, J. A; GRANDO, B. S. 
trabalho de conhecer e tornar escrita a língua Akwẽ. Os missionários 
perceberam a importância de se compreender a língua para o 
processo de evangelização. Traduziram a bíblia, criaram um dicionário 
e confeccionaram cartilhas. 
A vida do povo Xerente, autodenominados Akwẽ6, é contada 
a	partir	dos	estudiosos	que	se	embrenharam	no	universo	 indígena,	
trazendo	informações	e	dados	do	modo	de	vida,	língua,	organização	
política e territorial deste povo. A pintura corporal, com traços e 
círculos, marca a divisão dos clãs, e somente é realizada em momentos 
festivos	ou	ocasiões	especiais	e	de	rituais,	quando,	por	exemplo,	a	
aldeia recebe um grupo de visitantes. A pintura corporal marca a 
divisão dos grupos para a corrida de tora e o futebol, distingue os 
pertencentes	 aos	 clãs,	 sendo	 que	 os	 círculos	 pequenos,	médios	 e	
grandes designam, respectivamente, os membros da metade doi e 
os traços representam a metade wahirê. 
A organização clânica, a pintura corporal e a língua Akwẽ são 
práticas	culturais	que	se	revelam	no	habitar	deste	povo.	Por	meio	das	
memórias da professora feminista e indigenista, a baiana Daltro (1920), 
que	passou	5	anos,	entre	os	anos	de	1896	a	1901,	em	uma	excursão	
às	aldeias	indígenas	das	margens	do	Araguaia	e	Tocantins,	sertões	de	
Goiás	e	Mato	Grosso,	e	trouxe	histórias	vividas	de	pesquisa,	estudo	e	
doutrinação, nas tribos dos índios Xerente, Xavante, Krahô, Kaiapó, 
Timbira,	 Xambioá,	 Karajá,	 Puris,	 Gaviões	 e	 Tapirapés,	 encontro	
referências acerca da forma de habitar do povo Akwẽ-Xerente.
O Akwẽ-Xerente da atualidade vive entre o moderno e o 
tradicional, tentando decifrar as armadilhas do mundo ocidental, 
onde	 as	 relações	 de	 poder	marcam	 e	 tencionam	 a	 vida	 cotidiana	
indígena. De acordo com os dados do IBGE (2010), a população 
Akwẽ-Xerente	tem	aumentado	de	forma	significativa	nos	últimos	dez	
7Oliveira-Reis (2001) esteve na aldeia Salto entre junho de 1998 e julho de 1999, 
o	que	o	permitiu	relatar	aspectos	importantes	desta	aldeia,	em	específico.
52 PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-XERENTE ...
anos, tendo, inclusive, conseguido garantir a vaga de duas lideranças 
Akwẽ-Xerente na Câmara Municipal do município de Tocantínia.
O	que	se	pode	observar	é	que	população	Akwẽ-Xerente 
tem	 aumentado	 de	 forma	 significativa	 nos	 últimos	
dez	 anos.	 A	 despeito	 dos	 conflitos	 com	 fazendeiros	
e dos problemas socioambientais vivenciados pelos 
Akwẽ-Xerente, esse povo tem resistido bravamente 
e conseguido manter seu território. Considera-se 
que	 as	 políticas	 de	 assistência	 social,	 desenvolvidas	 no	
âmbito dos últimos governos no Brasil, possam ter 
sido	 elementos	 que	 contribuíram	 para	 o	 aumento	 da	
população Akwẽ-Xerente. (LIMA, 2016, p.115).
A	 aldeia	 Salto,	 território	 específico	 deste	 estudo,	 revela	 as	
realidades apresentadas até o momento. Trata-se de uma aldeia 
singular, pois mantém a disposição das casas de alvenaria seguindo 
o	 modelo	 antigo	 de	 aldeia	 arqueada7. Os mais de 350 indígenas 
que	 vivem	neste	 lugar	 falam	 a	 língua	Akwẽ-Xerente, organizam-se 
socialmente e politicamente por meio dos clãs e representam essa 
divisão por meio da pintura corporal.
Neste	contexto	de	aldeia	que	tem	uma	escola	(que	emprega	
diretor,	professores	e	assistentes)	e	um	posto	de	saúde	(que	emprega	
um agente de saúde), os indígenas encontram na confecção de 
artesanato de palha de buriti e capim dourado sua atividade cotidiana, 
fazem cestarias, esteiras e adereços; trabalham na roça com a plantação 
de mandioca, abóbora, batata doce e fazem farinha. Gostam muito 
de futebol e mantém suas práticas culturais tradicionais preservadas 
por meio do Dasipê, a festa cultural indígena Akwẽ,	que	geralmente	
ocorre no verão, entre os meses de abril e julho.
A cosmologia indígena estabelece olhares diversos para o tempo 
e o espaço, assim como o valor e a forma como se relacionam 
com	a	natureza,	com	a	terra,	sendo	que	estes	se	configuram	como	
53SOARES, K. C. P. C; DEBORTOLI, J. A; GRANDO, B. S. 
elemento de identidade de cada povo. Cada etnia traz consigo os 
significados	do	seu	território	e	as	configurações	próprias	das	práticas	
culturais	lúdicas	que	compõem	sua	identidade.
Entre	as	práticas	da	cultura	que	compõem	espaços-tempos	de	
educação	do	 corpo	e	produção	de	 identidades	 coletivas	 (aqui	 traz	
as	 referências	 que	 depois	 poderá	 discutir).	Com	 isso,	 nos	 tempos	
e	 espaços	 da	 vida	 se	 descrevem	 as	 relações	 com	 a	 natureza	 e	 os	
conhecimentos	 tradicionais	que	dialogam	com	os	estudos	do	 lazer,	
com devido cuidado para compreensão complexa das diferentes 
concepções	 entre	 o	 uso	 do	 tempo	 na	 aldeia	 e	 o	 uso	 deste	 na	
sociedade ocidental moderna.
Assumimos	 o	 compromisso	 e	 o	 sentido,	 tão	 político	 quanto	
acadêmico, de compartilhar processos de descolonizar histórias e 
conhecimentos. Buscamos, também, descolonizar nossos olhares 
e	 percepções,	 abrindo-nos	 a	 outros	 modos/mundos	 possíveis	
de ser(mos) e viver(mos). Movemo-nos em diálogo com outras 
pessoas,	contextos	e	grupos	sociais,	ainda	que	constituídos	em	uma	
mentalidade	 moderna-ocidental,	 desafiando-nos	 aprender	 com	 os	
modos de vida do povo Akwẽ-Xerente. Indagamos suas maneiras 
de	habitar	o	mundo,	suas	relações	com	o	místico,	com	a	natureza,	
com	a	família	e	a	comunidade;	compreendendo	o	“bem	viver”	que	
emerge	de	suas	práticas,	e	que	se	revela	como	jogo,	como	brincar.	
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A sociedade não indígena, por conta das demandas estabelecidas 
por sua forma de viver, de produzir e consumir estabelece um modo 
de	habitar	diferente	dos	povos	indígenas,	enquanto	para	a	primeira	há	
uma necessidade humana de dominação da natureza e dos recursos 
naturais; para a segunda, é necessária uma possibilidade de comunhão 
8BRASIL. Constituição. Constituição federal. Brasília: Senado Federal, 1988.
54 PRÁTICAS CULTURAIS DO POVO AKWẼ-XERENTE ...
e unidade entre homem, natureza e recursos naturais.
Numa	 sociedade	 em	 que	 o	 pensamento	 científico	 muitas	
vezes	 se	 sobrepõe	aos	 saberes	 tradicionais	e	 alguns	 fenômenos	e/
ou conceitos são determinados a partir de uma única realidade é, 
no	mínimo,	interessante	trazer	experiências	de	habitar	o	mundo	que	
não	necessariamente	necessitam	de	todo	um	aparato	científico	para	
respirar e sobreviver. 
Alguns	 poderiam	 questionar,	mas	 como	 trazer	 os	 Estudos	 do	
Lazer	 para	 o	 território	 indígena?	Como	pensar	 o	 fenômeno	Lazer	
para	além	dos	muros	delimitados	da	sociedade	urbana	e	 industrial?	
Indígenas	têm	Lazer?	Ou	ainda,	outros	interpelariam:	sendo	o	lazer	
um direito garantido na Constituição de 19888,	por	que	não	pensar	
nos	 indígenas?	 Os	 modos	 de	 habitar	 o	 mundo

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