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1 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto DIREITO PENAL – PARTE GERAL Professor: Samer Agi Instagram: @sameragi AULA I Parte 1/4 LIÇÕES PRELIMINARES DE DIREITO PENAL 1. CONCEITO DE DIREITO PENAL Primeiramente, se mostra necessário conceituar o ramo do Direito Penal. Pode ser conceituado como um conjunto de leis, normas, que proíbe certas condutas e impõe aos infratores determinadas penas como consequência. Também, pode ser explicado como sendo o conjunto de normas que capitulam determinados fatos como delito e cominam, aos seus autores, sanções (Slide 3). O conceito acima explanado se aproxima da doutrina de Franz von Liszt, quem descreve o direito como sendo “o conjunto das prescrições emanadas do Estado que ligam ao crime, como fato, a pena como consequência” (p. 73). (Slide 3). Outro conceito que vale a pena elucidar é aquele cunhado por Eduardo Correia, professor catedrático da Faculdade de Direito de Coimbra. Vejamos: “Diz-se direito criminal o conjunto de normas jurídicas que fixam os pressupostos de aplicação de determinadas reações legais: as reações criminais, que englobam as penas e, ainda medidas de outro tipo, entre as quais avultam hoje as chamadas medidas de segurança” (p. I) – Slide 4 O professor Eduardo Correia vai além, pois a título de sanção penal não ocorrem somente as penas, mas também as medidas de segurança. Tal pensamento pode ser visto como uma evolução, tendo em vista que, atualmente, restou pacificado o entendimento de que as medidas de segurança são consideradas sanções penais, por isto, não podem ter, por exemplo, caráter perpétuo. Em suma, o Direito Penal é um conjunto de normas que capitulam determinados comportamentos como crimes, infrações e contravenções penais. Em virtude destes comportamentos, fixam-se e cominam-se sanções aos seus infratores e autores, as quais podem ser penas ou medidas de segurança. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 2 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto 2. DIREITO PENAL, CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL Importa distinguir Direito Penal e de Criminologia, bem como, da Política Criminal, embora tais ramos do conhecimento estejam inseridos na Ciência Penal. A Criminologia é a ciência que estuda o crime como um fenômeno. O seu objetivo é o estudo do crime, do seu autor, da sua vítima, das reações do Estado para com aquele que infringiu a norma, do comportamento desviante, quem é o desviado e da reação do organismo estatal e social ao comportamento desviado e ao desviante. A Criminologia é uma ciência essencialmente empírica, que visa buscar somente a verdade. Esta é a diferença entre a Criminologia e a Política Criminal. Nesta visa-se a saída. Naquela busca-se entender o problema, ao passo que pretende encontrar a solução. Nos estudos da Criminologia, não importando se estudada do ponto de vista da escola positiva, dos autores como Lombroso, Enrico Ferri, Garofalo ou avançando à Criminologia crítica, todos os argumentos que são usados explicam o Direito Penal como instrumento de dominação e controle social. Diante disto, imprescindível entender este fenômeno do crime, podendo valer-se de Durkheim, o qual o explicava como um fenômeno presente em toda a sociedade, portanto, funcional. Contudo, o problema está quando o índice de criminalidade desborda o tolerável. Ao estudar este fenômeno, presente em toda a sociedade, busca-se saber qual será a saída. Questiona-se a razão para o sujeito cometer crimes, chegando-se à conclusão de que é em função do agente estar inserido em um ambiente criminógeno. Desta feita, para evitar a criminalidade, é necessário o desmonte deste ambiente criminógeno, investindo-se em educação, lazer, cultura e esporte, no intuito de evitar que a sociedade produza mais criminosos. Neste viés, entende-se a razão pela qual uma pessoa pertencente à classe média não costume praticar crimes, dado que já alcançou um padrão de vida em que a prática de um crime lhe significaria um enorme prejuízo, pelo risco de taxação, de rotulação de criminoso, importando na perda do convívio social, do trabalho e do status. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 3 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Com base no exposto, a Criminologia é a ciência que estuda a infração penal/comportamento desviante, os meios de reação aos desvios perpetrados pelo infrator, o infrator/desviante e a vítima (Slide 5). Na expressão do professor Jorge de Figueiredo Dias, lembrado por Salomão Shecaira, a Criminologia é uma “Ciência das causas do crime e da criminalidade” (apud Shecaira, p. 35) – Slide 5. Em contrapartida, a Política Criminal é um conjunto de princípios, dotado de teleologia, isto é, tem uma finalidade. Pode ser conceituada como sendo “um conjunto dos princípios fundados na investigação científica das causas do crime e dos efeitos da pena, segundo os quais o Estado deve ser levado a cabo a luta contra o crime por meio da pena e das instituições com esta relacionadas” (von Liszt apud Figueiredo Dias apud Shecaira, p. 35). Esse ramo da Ciência Penal orienta como o legislador deve atuar – Slide 5. Sendo assim, a Política Criminal é fundada na Criminologia, pois é necessário compreender como um crime acontece. Contudo, é voltada para fora e tem outra finalidade, qual seja, que o Estado vença a sua luta contra o crime, por meio da pena ou por outras reações estatais. Basicamente, se um sistema busca que crimes não aconteçam, deve procurar adotar providências para desmotivar a conduta delituosa. Por isto, a Política Criminal deve orientar a atuação do legislador. Quais comportamentos não são desejados em uma sociedade? Quais comportamentos mostram-se extremamente/excessivamente lesivos ao corpo social? A solução para estas indagações é a criminalização dos comportamentos indesejados. Após criminalizar as condutas indesejadas, se aferirá as maneiras inibitórias de um determinado comportamento e quais penas mostram-se mais efetivas. Este é o efeito do estudo do crime, do criminoso, da vítima (de que maneira esta contribuiu para a ocorrência do crime), da prevenção vitimária; as circunstâncias do crime e do ambiente em que ocorreu. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 4 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Isto posto, com base na ciência que estuda as causas do crime e a criminalidade — a Criminologia — funda-se a Política Criminal. Esta objetiva a vitória do Estado sobre a criminalidade e, também, tem por escopo orientar a função do legislador, surgindo assim o Direito Penal. Em resumo, tem-se que o Direito Penal se importa com o crime quando ele acontece ou, pelo menos, quando é executado. Se não há infração, nãohá intervenção do Direito Penal, porquanto, em regra, atos preparatórios são impuníveis, ao passo que a Criminologia se ocupa em estudar o crime antes de sua execução. Vale dizer que esta ciência penal quer entender como nasce o crime, sendo essa uma preocupação que foge do escopo do Direito Penal. 3. FUNÇÕES DO DIREITO PENAL Para compreensão das funções do Direito Penal, recomenda-se a leitura da obra do Professor Fábio Roque, no que concerne aos principais pontos das funções do Direito Penal (ARAÚJO, Fábio Roque. Direito Penal Didático – Parte Geral. p 11/15). Com efeito, ao tentar responder qual seria o funcionalismo penal, chega-se a duas conclusões: a primeira se refere ao funcionalismo axiológico e moderado de Roxin e a segunda é o funcionalismo sistêmico e radical de Jakobs. Contudo, importante alertar que há diversas teorias que divagam sobre qual seria o funcionalismo penal, discorrendo-se abaixo àquelas que se destacam. 3.1. Teoria do funcionalismo axiológico (Roxin): Proteção de bens jurídico-penais Segundo esta primeira teoria, a proteção de bens jurídico-penais (BJP) é a primeira e principal função do Direito Penal, posto que se defende não ser todos os bens jurídicos tutelados pelas normas penais, mas apenas os bens mais importantes para o organismo social, segundo valores consagrados pela Constituição (Slide 6). Nem todo o bem jurídico é protegido pelo Direito Penal. Existem bens jurídicos que também demandam a proteção do Direito, entretanto, serão protegidos por outros ramos jurídicos, pela seara extrapenal, tais como o Direito Civil, Direito Administrativo, Direito Tributário etc. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 5 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Assim, o Direito Penal cuida somente dos bens jurídicos mais importantes ao organismo social. Na expressão de Roxin, “bens jurídicos essenciais para a convivência pacífica em sociedade”. O professor Fábio Roque, na sua obra, cita o “Contrato Social” de Jean-Jaques Rousseau, no qual o indivíduo era livre, no entanto, este renuncia a parcela de sua liberdade para ter segurança e paz social. Partindo disto, nasce o contrato social, cujo qual cria a figura do Estado. Desta forma, o indivíduo renúncia o mínimo possível de sua liberdade, de forma que o Estado somente possa trazer normas que sejam necessárias para que a almejada convivência pacífica se torne possível. Logo, ao falar de bens jurídicos penais, refere-se aos bem essenciais ao organismo social. Daí nasce a ideia do caráter fragmentário do Direito Penal, o qual escolhe apenas os bens mais importantes para o convívio social, para que possa cuidar destes bens. Dito isto, necessário apontar quais seriam os bens mais importantes para o convívio social a serem tutelados pelo Direito Penal. De acordo com o ensinamento de Roxin — adotado na doutrina —, são os bens consagrados na Constituição. A partir daí, nascem duas teorias constitucionais, cujas quais o doutrinador Fabio Roque aborda em sua obra, quais sejam, as Constitucionais Amplas e as Constitucionais Restritas. Segundo as Teorias Constitucionais Amplas, o sistema penal é construído a partir dos valores constitucionais. Contudo, a Constituição é um parâmetro genérico, sendo captados os valores constitucionais. Então consagra-se os bens tutelados à luz do Direito Penal. Em contraponto, as Teorias Constitucionais Restritas aduzem que o Direito Penal, em verdade, cuida de bens consagrados diretamente pela Constituição, de modo que se busca, no texto constitucional, os bens ali apontados como essenciais à sociedade. Roxin: só podem ser BJP os que sejam pressupostos para uma convivência pacífica em sociedade. Máxima liberdade. Slide 6 E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 6 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto 3.2. Teoria do funcionalismo sistêmico e radical (Jakobs): Função de assegurar a vigência do sistema Ao caminhar-se para o funcionalismo sistêmico de Jakobs, compreende-se que a função do Direito Penal não pode ser proteger bens jurídicos, considerando que, quando o Direito Penal entra em voga, o bem jurídico não foi protegido, pois ele já foi violado. Portanto, a função do Direito Penal consiste em assegurar a higidez do sistema, afirmando ao indivíduo que transgrediu a norma penal que ela ainda está em vigor, tanto é que ele será punido devido a sua violação. Por isto, funcionalismo sistêmico. Salienta-se que, nesta teoria, o Direito Penal existe para assegurar e higidez do sistema, de maneira que o cidadão que descumprir uma norma será punido. Neste seguimento, não se faz questionamentos de cunho axiológico acerca dos motivos da norma. Simplesmente, aquele que descumpre uma norma será punido. Por isto, funcionalismo radical. Deste modo, para Jakobs, o indivíduo que descumpre reiteradamente as normas penais, não poderá ser considerado um cidadão, porque ele rasgou o contrato social descrito por Rousseau. Antes, deve ser considerado um inimigo da sociedade e tratado como tal, daí porque a ideia do chamado Direito Penal do inimigo. 3.3. Função de controle social O Direito Penal é um instrumento de controle social. Nos estudos da Criminologia crítica, percebe-se que o Direito Penal, ao contrário de promover mudanças sociais, reforça a dominação de uma classe sobre a outra, em uma visão que se aproxima do marxismo. O Direito Penal presta-se como o instrumento de dominação de uma classe dominante, a qual produz as normas. A despeito de uma visão ideológica do Direito Penal, deve-se entender que este é inegavelmente um instrumento de controle social. Todavia, é preciso entender que o controle exercido pelo Direito Penal afeta o bem jurídico mais importante do indivíduo depois da vida: a liberdade. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 7 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Portanto, este controle somente deverá ser exercido pelo Direito Penal quando outros mecanismos de controle se mostrarem insuficientes, surgindo o princípio da subsidiariedade. Por “outros mecanismos”, compreende-se ser aqueles instrumentos extrajurídicos, instrumentos de mecanismos sociais de controle, por exemplo, a reprovação social na qual o sujeito não adota um determinado comportamento, pois teme ser reprovado socialmente. Do mesmo modo, existem também mecanismos de controle extrapenais, tais como, a indenização, a declaração de idoneidade — no âmbito administrativo, uma sanção tributária, enfim, todos estes são mecanismos de controle extrapenais. Sendo assim, o Direito Penal somente intervirá quando outros ramos do direito se mostrarem insuficientes. 3.4. Função de garantia O Direito Penal garante ao cidadão que o poder punitivo do Estado é limitado. O Estado somente poderá intervir nos limites da lei, não podendo iralém. Trata-se do “princípio da legalidade”. O Direito Penal tem a função de garantir ao cidadão que a sua liberdade não será tolhida, se não houver uma lei que proíba seu comportamento. A frase “tudo que não é proibido, é permitido”, é a tradução do princípio da legalidade no âmbito da autonomia privada. 4. CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO PENAL Neste tópico serão estudadas as classificações do Direito Penal. Para tanto, se utilizará os ensinamentos constantes na obra “Manual de Direito Penal – Parte Geral”, de autoria do professor Rogério Sanches Cunha. a) Direito Penal substantivo e Direito Penal adjetivo O Direito Penal substantivo é o Direito Penal material. Quanto ao adjetivo, este é o Processo Penal, ramo autônomo do Direito. É o direito de punir do Estado (ius puniendi) (Slide 8). E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 8 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto b) Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo. O Direito Penal objetivo é o conjunto de normas positivadas, as quais integram o ordenamento jurídico em vigor. É o conjunto de leis penais em vigor no país (Slide 8). c) Direito Penal de emergência e Direito Penal simbólico A doutrina, por vezes, troca o significado das expressões e as utiliza como sinônimos ou muito próximas. Contudo, se mostra imprescindível saber que o Direito Penal de emergência, como o próprio nome diz, é criado a partir de situações de anormalidades vivenciadas pela sociedade, cujas quais demandam uma resposta do Estado, especialmente por via de produção da atividade legislativa, que atenda os anseios populares e a opinião pública. Assim, o Direito Penal de emergência surge diante de um momento de anormalidade social, o qual demanda uma produção do direito penal que não existiria em tempos de normalidade. O ponto é que muitas vezes o Direito Penal de emergência, ao entrar em atividade, acaba se transformando em Direito Penal simbólico. Significa dizer que devolve-se à sociedade uma noção desajustada ou irreal de segurança ou tranquilidade. A norma penal produzida dá ao organismo social como um todo uma ilusória sensação de segurança. Diante disso, conclui-se que tal noção se distancia da realidade. A título de exemplo cita-se a situação ocorrida no governo de Michel Temer, onde foi sancionada a lei que tornou hediondo o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, em resposta às notícias e imagens de traficantes utilizando fuzis “AR-15” e armas de enorme potencial e de porte restrito em favelas da cidade do Rio de Janeiro/RJ. Como solução, tornou-se a conduta hedionda e devolveu-se, assim, à sociedade, uma falsa sensação de segurança. Ao refletir sobre tal situação, percebe-se que tal norma possui pouca ou nenhuma eficácia, dado que dificilmente alguém deixou de usar um fuzil “AR-15” em razão da vigência da nova lei. Trata-se do Direito Penal de emergência traduzido em um mero simbolismo. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 9 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto d) Direito Penal promocional Tal teoria traz a ideia do Direito Penal como um meio de promoção de políticas públicas. Trata-se de um Direito Penal como meio de alteração da realidade social. Por exemplo, com base na obra do professor Rogério Sanches, até o ano de 2009 a mendicância era considerada uma contravenção penal, como se a tipificação da conduta fosse o suficiente para a eliminação da situação de extrema pobreza e miséria, a qual conduz o indivíduo à mendicância. Desta feita, o Direito Penal como meio de promoção de políticas públicas, de alteração da realidade social, constitui-se uma falácia. Este Direito Penal acaba por fazer demagogia. e) Direito Penal de intervenção O autor que trata do Direito Penal de intervenção é Windfried Hassemer. Consoante o pensamento desse autor, o Direito Penal deve preocupar-se com bens jurídicos individuais, tais como, a liberdade, a honra, a privacidade, a dignidade sexual, a vida e o patrimônio. Quando o foco da preocupação passa a ser bens jurídicos de caráter difuso, coletivo e transindividuais, não é ideal que o Direito Penal seja o responsável, sendo interessante que esse conjunto de bens fique a cargo de outro ramo do direito, qual seja, o Direito de Intervenção. O Direito de Intervenção, do ponto de vista da resposta estatal, estaria acima do Direito Administrativo, mas abaixo do Direito Penal. Não seria necessário, portanto, privar um indivíduo de sua liberdade; no entanto, a resposta do Estado deverá ser forte, condizente e suficiente. Sob o ponto de vista crítico, devem ser tecidas duas considerações. A primeira, é que não se sabe como o Direito Penal de intervenção funcionaria. A segunda aponta que os bens jurídicos transindividuais acabam sendo os mais importantes para o organismo social. Justamente este conjunto de bens não ser protegido pelo legislador implicaria, em última instância, a uma afronta ao princípio da subsidiariedade. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 10 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Parte 2/4 f) Direito penal como proteção de contextos da vida em sociedade Tal classificação é proposta Günter Stratenwerth, cuja ideia é oposta à de Hassemer, onde começa-se a entender que o Direito Penal deveria ocupar-se dos bens transindividuais, que se mostrarem importantes para a sociedade como um todo. Não há problema em o Direito Penal tutelar bens individuais, tais como a vida, o patrimônio e a dignidade sexual. Contudo, este deverá ser o foco secundário do Direito Penal, tendo em vista a necessidade de se fazer uma gestão punitiva dos riscos gerais. A ideia de bem jurídico é substituída pela tutela direta de relações ou contextos de vida em sociedade. Então, o foco é justamente o inverso, pois a ideia é proteger os bens que se tornam mais importantes à sociedade. g) Direito penal garantista Tendo como expoente de tal teoria o autor Luigi Ferrajoli, para aqueles que tem uma visão constitucional do Direito Penal, a expressão “Direito Penal garantista” é redundante, porquanto todo Direito Penal deve ser garantista, caso contrário, não há motivos para se falar em Direito Penal. A ideia de um Direito Penal garantista é consagrada por Ferrajoli, o qual entende que o Direito Penal deve encontrar a sua luz e base na Constituição Federal, uma vez que essa, na condição de Carta Magna, consagra ao indivíduo garantias primárias e secundárias. As garantias primárias são máximas consagradas na Constituição, as quais devem ser observadas, principalmente, pelo Estado. A título de exemplo, tem-se a vedação de pena de caráter perpétuo, infamantes, cruéis e de morte. Contudo, hipoteticamente, caso o legislador não observe isto e atribua ao crime de estupro a pena de castração física do autor, esta pena assumiria ocaráter perpétuo. Portanto, esta lei é inconstitucional, porque nasceu com vício em sua constitucionalidade. Na visão constitucional e de Hans Kelsen, trata-se de uma lei nula. Quando o legislador não observa a garantia primária, nasce para o indivíduo uma garantia secundária. Por exemplo, o controle concentrado de constitucionalidade. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 11 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto A Constituição, em seu bojo, consagra o direito à liberdade. Assim, ninguém será punido ou preso, senão em flagrante delito ou por ordem fundamentada da autoridade judiciária. Se esta garantia não for observada, a Constituição invoca uma segunda garantia, que é o Habeas Corpus. Ferrajoli diz, em sua obra, que existem 10 (dez) axiomas ou implicações deônticas, as quais precisam ser observadas: • Nulla poena sine crimine – Não há pena sem crime; • Nullum crimen sine lege – Não há crime sem lei1; • Nulla lex (poenalis) sine necessitate – Não há lei sem necessidade. • Nulla necessitas sine injuria – Não há necessidade sem ofensa.2 • Nulla injuria sine actione – Não há ofensa sem ação.3 • Nulla actio sine culpa – Não há ação sem culpa.4 • Nulla culpa sine judicio – Não há culpa sem processo.5 • Nulla judicium sine accusatione – Não há processo sem acusação. • Nulla accusatio sine probatione – Não há acusação sem prova. • Nulla probatio sine defensione – Não há prova sem defesa.6 h) Direito Penal secularizado Ferrajoli defende a ideia de um Direito Penal secularizado. Isto é, o Direito não precisa reproduzir todos os valores morais de uma sociedade, tendo em vista que direito e moral não são a mesma coisa. Segundo o professor Miguel Reale, o Direito e a Moral se encontram, se tocam, se sobrepõem em alguns momentos, em um chamado círculo concêntrico. Todavia, há normas que são amorais/imorais e que continuam sendo válidas. Por exemplo, aquele que delata alguém, recebe um prêmio do Estado. Tal norma é imoral, pois quebra o pacto de fidelidade 1 Princípio da legalidade. 2 Princípio da ofensividade. 3 É preciso que exista a exteriorização do comportamento e da alteridade que atinja o bem de outrem. 4 Vedação da responsabilidade penal objetiva. 5 Não se reconhece a culpa de alguém sem o devido processo legal. 6 Por isto que, em regra, os elementos colhidos em fase pré-processual não são provas, mas sim, elementos informativos, embora seja possível a produção antecipada de provas. Entretanto, usualmente, os elementos colhidos na fase de Inquérito Policial não são suficientes e idôneos para condenação de alguém, pois a defesa não participou da produção destas provas. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 12 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto entre o grupo em nome de um bem maior. Sendo assim, a Moral e o Direito não conversam neste ponto. De outra banda, um exemplo de norma amoral é aquela que proíbe o sujeito de trafegar em uma via na contramão. Esta norma não tem nada a ver com a moral, é amoral, contudo, é válida. O Direito não precisa reproduzir os valores morais, tampouco o Direito Penal. Ao contrário, se mostra preciso separar o Direito da Moral, fazer a separação do Direito secularizado da Igreja. É a ruptura entre a cultura eclesiástica e as doutrinas filosóficas, especialmente entre a Moral do clero e a forma de produção da ciência (Slide 17). I) Direito Penal subterrâneo e Direito Penal paralelo Estas expressões são cunhadas por Eugenio Raúl Zaffaroni, para o quem existe um Direito Penal paralelo, ao lado do Direito Penal oficial. Como o Estado não exerce de forma suficiente e satisfatória o seu poder punitivo, surgem outros mecanismos de controle e punição social. Por exemplo, é cediço que não se pode manter um indivíduo em cumprimento de medida de segurança de internação em hospital de custódia de forma ad eternum. Assim sendo, ainda que constatada a persistência da periculosidade do agente, findo o prazo fixado para cumprimento da internação, este não poderá se manter internado. Neste caso, à luz do Direito Penal, o estado colocará o sujeito em liberdade quando o prazo fixado para o cumprimento da medida de internação atingir seu termo final. Como alternativa para mantê-lo segregado, poderá invocar-se o Direito Civil, com fins de internação compulsória. Enfim, ante o fato de a medida de segurança não prosseguir, o Direito Penal não resolve satisfatoriamente a questão, de modo que os médicos começam a emitir novos laudos com novas doenças, com o objetivo de manter o indivíduo internado ad eternum. Desta forma, têm-se médicos “prendendo” doentes mentais. Trata-se de uma espécie de Direito Penal paralelo. Ademais, o Direito Penal paralelo difere do Direito Penal subterrâneo. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 13 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto O Direito Penal subterrâneo é exercido no andar de baixo, no subsolo, onde ninguém vê, dentro da estrutura do Estado, mas em seu subterrâneo. Trata-se de um poder punitivo, exercido ilegalmente por agentes estatais, os quais agem com abuso, na maioria das vezes, atuam em/com abuso de autoridade. A título de exemplo, imagine um cenário em que policiais, cansados de prender um traficante ou um estuprador e, posteriormente, os juízes liberarem, seja em audiência de custódia ou revogação posterior de uma prisão preventiva, decidem fazer justiça por si, dando cabo às condutas de estupro e tráfico perpetrados na comunidade. Para tanto, durante a madrugada, os policiais encapuzados dirigem-se até a residência dos indivíduos e os matam. Ninguém sabe o motivo dos assassinatos e nem a autoria, contudo, é notório o envolvimento dos indivíduos em condutas criminosas. Na verdade, foram os agentes estatais punindo os indivíduos por crimes já perpetrados. A conduta acima descrita, praticada pelos agentes estatais, é um exemplo típico do Direito Penal subterrâneo. j) Direito Penal quântico O Direito Penal quântico é caracterizado pelo distanciamento de um Direito Penal meramente dogmático, em uma ideia de relação de causa e efeito ou um nexo físico, com fins de aproximá-lo da política criminal, ou mesmo daquilo que os indivíduos desejam reprimir e vedar, os comportamentos que a sociedade deseja que não sejam adotados. Daí, então, o Direito Penal passa a aproximar-se de conceitos como nexo normativo, de tipicidade material. Neste viés, o Direito Penal não se contenta mais com a relação de causa e efeito. O indivíduo não atua mais para impedir o resultado, mas poderia e deveria agir. Segundo a ideia do professor Mirabete, a norma cria um nexo normativo, um nexo de evitabilidade. Ao valer-se da teoria da imputação objetiva, seja para responsabilizar alguém, seja para impedir a responsabilização penal de alguém, está se afirmando quenão basta a mera relação de causa e efeito, isto é, o nexo físico para proceder à punição. Por exemplo, supondo que um indivíduo subtraia uma tampa de caneta. Tal conduta se trata formalmente de subtrair coisa alheia móvel para si, a qual é tipificada no E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 14 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto artigo 155, caput, do Código Penal7, cujo preceito secundário traz como pena mínima 01 (um) ano de reclusão e multa. Diante da situação acima narrada, imagine que defende-se ser descabida a condenação do sujeito a pena supracitada, considerando-a desproporcional. Neste caso, emprega-se a ideia do princípio da insignificância, cunhado por Roxin, em 1964. Sendo assim, não bastará a tipicidade formal, a relação de causa e efeito, pois é preciso que ocorra a violação ao bem jurídico perpetrado e, portanto, desenvolve-se o conceito de tipicidade material. Basicamente, essas são as ideias acerca do Direito Penal quântico. 5. PRIVATIZAÇÃO DO DIREITO PENAL Cuida-se de um Direito Penal muito mais preocupado com a vítima. Após a Segunda Guerra Mundial, a vítima começou a viver um novo fenômeno, a chamada redescoberta da vítima. Antes ela era esquecida, porque, no âmbito da escola clássica, estudava-se o crime. Na escola positiva, por sua vez, estuda-se o criminoso. Entretanto, ninguém falava na vítima, cuja qual foi esquecida e tornou-se uma mera abstração. Em um primeiro momento histórico, na chamada vingança privada, era a vítima quem punia o seu agressor. Posteriormente, a vingança tornou-se pública e a vítima foi esquecida. Agora, a vítima foi redescoberta à luz da justiça restaurativa. A justiça restaurativa visa restaurar a situação que a vítima tinha antes da prática da infração penal. Diante disto, a pena passa a ter uma tripla função: a) Repressiva: visa responder ao mal do crime e da pena; b) Preventiva: tem por escopo inibir o comportamento do apenado e dos demais indivíduos, os quais, ao assistirem o cumprimento da pena de outrem, se esquivam de enfrentar a mesma aflição. Assim, a pena também previne outras infrações penais; 7Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 15 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto c) Função restaurativa: a pena tem uma função restaurativa, pois há o anseio de restaurar a situação da vítima antes da infração penal. Por isto, se faz necessário que o juiz, na sentença condenatória, fixe uma indenização mínima à vítima. No mínimo, a vítima deverá receber algo, ante a conduta criminosa que sofreu. Exemplificando, se um sujeito subtrai os pertences da vítima, tal como um telefone celular, a indenização deverá ser, no mínimo, no valor do celular. Isto serve para devolver à vítima a situação anterior à infração penal. Com a reforma de 1984 e mesmo no Código Penal de 1942, é possível perceber a existência de vários institutos preocupados com a situação da vítima. Dentre estes, o arrependimento posterior, o livramento condicional e o sursis especial. Todos estes institutos fomentam ou exigem a reparação do dano. Neste diapasão, a Lei 9.099/95, que trata do Juizado Especial Criminal, na qual diz que se houver composição civil dos danos e o crime for de ação penal pública condicionada à representação ou de ação penal privada, esta composição civil dos danos implica na renúncia do direito de queixa ou de representação. Isto significa um estímulo do legislador para que o autor do crime repare o dano, pois assim não será responsabilizado na seara criminal e, ainda, a vítima será ressarcida, constituindo este o objeto de maior interesse: o ressarcimento da vítima. 6. VELOCIDADES DO DIREITO PENAL O expoente de tal doutrina é o professor Jesús-María Silva Sánchez, que enxerga o Direito Penal passando por três velocidades, conforme se verá adiante. a) Direito penal de 1ª velocidade Trata-se de um Direito Penal clássico. O indivíduo comete uma infração grave, sendo, então, submetido a um processo criminal, no qual seus direitos e garantias fundamentais serão todos observados. Ao final, poderá receber, como punição, uma pena privativa de liberdade. É o que acontece, por exemplo, no crime de homicídio. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 16 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto b) Direito penal de 2ª velocidade Na segunda velocidade, está-se diante de infrações penais menos graves, de menor potencial ofensivo. Neste caso, as garantias penais e processuais poderão ser flexibilizadas. Contudo, ao final do processo, será imposto ao indivíduo uma pena alternativa, tais como, prestação de serviços à comunidade, pagamento de multa ou limitação de fim se semana. Um exemplo, é o JECRIM. c) Direito penal de 3ª velocidade No tocante à terceira velocidade, faz-se necessária uma resposta rápida ante a conduta do indivíduo, o qual cometeu uma infração penal grave. Diante da situação de prática de maior potencial lesivo, garantias penais e processuais poderão ser flexibilizadas, sem prejuízo de, ao final, ser aplicada uma pena privativa de liberdade. Um exemplo são os crimes hediondos. d) Direito penal de 4ª velocidade A respeito da quarta velocidade, esta não foi cunhada pelo professor Silva Sánchez, tendo surgido após, por construção doutrinária. Aqui, o Direito Penal destina-se a chefes e ex-chefes de Estado que violaram tratados internacionais de Direitos Humanos e serão punidos pelo Tribunal Penal Internacional – TPI. Para a responsabilização direta destes agentes, faz-se necessário que o país seja signatário do Tratado de Roma. 7. ESPIRITUALIZAÇÃO, DINAMIZAÇÃO OU DESMATERIALIZAÇÃO DO BEM JURÍDICO A chamada espiritualização do bem jurídico, cunhada pela doutrina, tem por objetivo criticar o avanço do Direito Penal sobre bens jurídicos transindividuais, a partir dos quais tudo começou a ser tutelado penalmente. No entanto, a razão de ser de tal teoria parece ser razoável. Explica-se: ausente tutela aos bens transindividuais, por meio da vedação às condutas danosas ou potencialmente danosas à sociedade como um todo, estas condutas, quando praticadas, atingirão um número considerável de pessoas. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 17 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Por exemplo, reflita-se acerca dos casos de criminalizaçãode condutas que violam o meio ambiente (crimes ambientais, tipificados na Lei 9.605/98). Conjecture-se a criminalização da conduta de um sujeito por pescar, em um período de piracema, no qual a pesca é proibida, o total de 30 (trinta) peixes. Há quem defenda que a punição deste simples pescador pela conduta acima elencada se mostra desarrazoada. Contudo, a importância de criminalizar tal conduta e punir o agente reside no fato de que se o indivíduo pescar 30 (trinta) peixes e outras mil pessoas resolverem fazer a mesma coisa, teremos a pesca de 30.000 (trinta mil) peixes. Tal postura ocasionará danos ao meio ambiente e, posteriormente, a uma grande gama de pessoas. No fim, o impacto ambiental não será nocivo somente ao meio ambiente, mas sim a uma grande quantidade de pessoas. Isto é o que justifica a tutela do Direito Penal em relação ao meio ambiente. 8. GARANTISMO HIPERBÓLICO MONOCULAR Cunhada tal expressão pelo professor Douglas Fischer, o garantismo hiperbólico monocular contrapõe-se ao garantismo penal integral de Ferrajoli. A ideia é que o garantismo integral se embasa na Constituição e, portanto, deverá ser observado por todos os atores do processo penal, pela vítima e pelo réu. Até aqui, o Direito Penal serve para tutelar ambos – autor e vítima. Quando o Direito Penal passa a tutelar apenas o réu, tem-se o Direito Penal monocular. E quando há o desarrazoado das garantias, o que conduz à impunidade, o Direito Penal torna-se hiperbólico. Por isto, garantismo hiperbólico monocular. Para muitos, o garantismo serviria apenas para beneficiar o réu, como forma de proteção de seus direitos fundamentais e individuais. Portanto, por vezes aplica-se de forma desproporcional e somente em favor do réu. O professor Luís Greco critica a expressão “garantismo penal hiperbólico” ou “garantismo hiperbólico monocular”. Para ele, garantismo é garantismo e deverá ser E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 18 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto empregada ao Direito Penal uma visão constitucional. Portanto, não caberia falar em Direito Penal hiperbólico. 9. ECOCÍDIO O Tribunal Penal Internacional decidiu, em 2016, reconhecer o ecocídio como crime contra a humanidade. O ecocídio é a destruição, em larga, escala do meio ambiente. Portanto, os autores destes crimes podem ser responsabilizados perante o Tribunal Penal Internacional. Inclusive, o particular afetado poderá recorrer internacionalmente para que o TPI obrigue o chefe de Estado, autoridade ou empresa a indenizá-lo a títulos de danos materiais perpetrados e pelos danos morais experimentados. Neste caso, o TPI aduz que é preciso que esta sentença seja prolatada pela composição de, ao menos, um terço de seus membros. Vale lembrar que o Brasil é signatário do Tratado de Roma, ou seja, aceita a jurisdição do TPI. A respeito dos autores do crime de ecocídio, é possível a responsabilização direta destes, inclusive, se houver previsão, será possível a prisão destes. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL 1. PERÍODO DA VINGANÇA A vingança nasce divina, depois privada e, por fim, pública. 1.1. Fase da vingança divina O raciocínio da vingança divina é que se não punir o indivíduo infrator, a divindade puniria aqueles que possuíam o dever para tanto. O membro da tribo que infringisse uma E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 19 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto regra era punido para evitar que a divindade punisse toda a tribo por conta daquela infração. 1.2. Fase da vingança privada Visão consoante ao pensamento de Thomas Hobbes, que diz “homo homini lúpus”, o homem é o lobo do próprio homem, de maneira que a própria vítima se vinga de seu infrator. Cada um se defende do outro. Repisa-se: o homem é o lobo do homem. 1.3. Fase da vingança pública Nesta fase, compreende-se que para existir uma convivência pacífica é necessário que todos renunciem, em certa medida, de suas liberdades, em prol de um Estado, o qual regerá e obrigará comportamentos. Assim, a vingança passa a ser do Estado, logo, constitui uma vingança pública. 2. PERÍODO ILUMINISTA A vingança pública deverá ser proporcional, isto é, o Estado não poderá impor penas infamantes, cruéis ou de morte. Estes são ideais Iluministas, os quais abalaram a França e, que no final do século XVIII, implicaram em uma Revolução. O período Iluminista ocorria desde o século XVII e traduziu-se numa ideia de uma racionalidade, de uma proporcionalidade, de uma limitação ao poder de punir do Estado. Neste contexto, Cesare Beccaria, o Marquês de Becarria, escreve a obra “Dos delitos e das penas”. Beccaria dizia que não é a gravidade da pena que inibe um comportamento criminoso, mas a certeza da punição. Conforme Beccaria: “Para que cada pena não seja uma violência, de um ou de muitos, contra um cidadão, esta pena deve ser essencialmente pública, rápida, necessária e a mínima possível nas circunstâncias dadas, observada a proporcionalidade aos delitos, e ditadas tais penas pelas leis.” E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 20 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Portanto, a pena deve ser imposta pelo Estado e de forma célere. Relembre-se a ideia de Rui Barbosa, quando este afirma que se a justiça tarda, ela já falhou. A pena também deverá ser a mínima necessária para que haja uma convivência pacífica e a pena cumpra o seu papel de prevenir também novas infrações penais. Entretanto, a pena deverá ser proporcional. Dito de outro modo, não adianta punir um homicídio com seis meses de detenção, por exemplo. Do mesmo modo, não é cabível punir um furto com 10 (dez) anos de reclusão. Ainda, a pena deverá estar prevista e determinada na lei, em observância ao princípio da legalidade. 3. PERÍODO DAS ESCOLAS PENAIS Após o período iluminista, surgem as escolas penais, dentre as quais destacam-se a clássica e a positiva. 3.1. Escola clássica Tendo por expoente Francesco Carrara, para esta escola o crime é um ente jurídico. Sendo assim, será crime o que for taxado pela lei como crime, sendo irrelevante o fundamento moral ou axiológico. Aquele que viola a norma, age assim porque quer. Diante disto, terá a responsabilidade moral, pois agiu com livre arbítrio e os motivos para prática do crime pouco importam. A pena, aqui, é uma necessidade ética e serve para prevenir futuras infrações. A escola clássica, cujo expoente é Carrara, bebe da fonte dos ensinamentos de Beccaria. Contudo, Ferri faz uma crítica: a escola clássica não conseguiu resolver o problema da criminalidade, porquanto não buscando saber a causa do crime ou as causas do desvio, não era capaz de propor soluções. Disto, nasceu a escola positivista, que se desenvolve com Ferri, Lombroso e Garofalo, se mostrando,da mesma forma, ineficaz neste aspecto. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 21 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Parte 3/4 Na escola clássica, cujo expoente é Francesco Carrrara, resumindo o que foi anteriormente abordado, a ideia é de crime como um ente jurídico, o sujeito pratica um crime, que é uma conduta prevista em lei, porque quer e é responsabilizado em razão da sua responsabilidade moral. A motivação para o cometimento da prática delituosa poderá ser qualquer uma, o agente faz porque quer, age com livre arbítrio. Portanto, a pena é uma necessidade ética e certamente previne a prática de outras infrações penais. Por fim, impende relembrar que a escola clássica utiliza conceitos e pensamentos de Beccaria. 3.2. Escola positiva A escola clássica, no entanto, não resolve o problema da criminalidade. Ferri, em sua obra, diz que os clássicos, ao não buscar saber a causa da doença, não foram capazes de trazer os remédios adequados. Daí surge a ideia da Criminologia Positiva, cujo nascimento se dá em 1876, com a obra “O homem delinquente” de Lombroso: a ideia é um criminoso nato. O sujeito pratica o crime em razão de causas determinantes, aliás, a escola positiva tem este caráter determinista. Os crimes decorrem de fatores sociais e naturais. Aquele que comete um crime, o comete por fatores endógenos, na ideia de Lombroso, como um criminoso nato; ou, ainda, por fatores exógenos, ambientais, na ideia de Ferri, na qual o ambiente forja o criminoso. De qualquer forma, a escola positiva é determinista. Para a escola positiva, o sujeito não é normal, sendo um criminoso nato. Nas palavras de Lombroso, ele tem um maxilar procedente, uma precocidade sexual, uma insensibilidade moral, os braços com diferentes tamanhos, de certa forma disforme e sobrancelhas fartas. Se estas são suas características, ante o fato de ser um criminoso nato, E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 22 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto o sujeito tem uma doença, a qual precisa ser tratada. Esta ideia é apoiada na Criminologia Clínica. Diante disto, a pena assume um prazo indeterminado. Em verdade, o sujeito deverá ficar apenado até curar-se ou ser curado. Portanto, a pena vai prevenir infrações penais, mas deverá ser indeterminada, pois trata-se de um criminoso nato, o qual deverá ser tratado. Esta constitui a ideia de Lombroso, na qual o sujeito é um criminoso nato. Depois, avança-se à Sociologia Criminal de Ferri, na qual o meio faz o criminoso. Sendo assim, os fatores ambientais são muito mais importantes que os endógenos para forjar-se um criminoso, seguido da teoria formulada por Garofalo. De qualquer sorte, a ideia da escola positivista é no sentido de que o sujeito pratica o crime por razões maiores que ele. Trata-se de um caráter determinista, onde o sujeito só é responsável porque e enquanto vive em sociedade. Trata-se de uma responsabilidade social ou legal. 4. DIREITO PENAL BRASILEIRO Em 1500, o Brasil foi descoberto e tornou-se colônia de Portugal e naquele momento histórico, eram as Ordenações Afonsinas que regiam a situação penal brasileira. Todavia, em 1514, as Ordenações Afonsinas foram revogadas, dando lugar às Ordenações Manuelinas. Logo isto, foram substituídas pelo Código Sebastiânico, uma compilação elaborada por Nunes Leão. O Código Sebastiânico vigorou até a sua revogação, quando então foi substituído pelas Ordenações Filipinas. De qualquer forma, até este momento o Direito confundia-se com a Moral e, principalmente, com a religião. Aqui, o Direito Penal não era secularizado. Em 1822, o Brasil torna-se independente. Em 1824, Dom Pedro I outorga a Constituição, a qual dissolveu a assembleia nacional constituinte, outorgou a Constituição e instituiu o Poder Moderador. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 23 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Em 1830, surge o Código Criminal do Império, que era considerado como um código humanitário para época. Lembre-se que até 1888 era permitida a escravidão no Brasil. Diante disso, o referido Código limitava a pena de morte aos crimes cometidos por escravos e previa a chamada individualização da pena. No ano de 1889, o Brasil torna-se uma República, tendo como primeiro presidente o Marechal Deodoro da Fonseca. No ano seguinte, 11 de outubro de 1890, sancionou-se o Código Criminal da República. Em 1891, promulga-se uma nova Constituição, cuja qual espelhou-se no ideal americano, prevendo, por exemplo, a vedação à pena de morte e às penas de caráter perpétuo. Contudo, ao visitar-se o Código Criminal de 1890, havia, entre outras, as penas de prisão, banimento e suspensão de direitos. O banimento — a qual seria a expulsão de um nacional — seria de natureza temporária, já que era vedado o caráter perpétuo da pena. Deste modo, não haveria uma violação constitucional. Em 1932 vem a Consolidação das Leis Penais, realizada pelo Desembargador Vicente Piragibe, recebendo o nome de Consolidação de Piragibe. Por fim, em 1942, entra em vigor o atual Código Penal Brasileiro, que em 1984 passou por uma reforma, em virtude da Lei 7.209/84, sofrendo significativas alterações em sua Parte Geral. FONTES DO DIREITO PENAL Segundo entendimento doutrinário, as fontes do Direito Penal podem ser divididas em materiais e formais. Esta divisão varia conforme a doutrina clássica e moderna. 1. Doutrina clássica E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 24 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Para a doutrina clássica, a fonte material do direito penal é o órgão criador da lei penal, ou seja, a União Federal, única que detém competência para legislar sobre Direito Penal. Contudo, os Estados podem legislar sobre temas específicos de Direito Penal, desde que exista previsão constitucional expressa de delegação por meio de Lei Complementar, pois a competência legislativa para tratar de Direito Penal é privativa da União. Quanto à fonte formal, são instrumentos por meios dos quais o Direito Penal se exterioriza. A fonte formal imediata é a lei, ao passo que a fonte formal mediata são os princípios gerais do Direito e os costumes. 2. Doutrina moderna Concernente a fonte material, o entendimento não destoa da doutrina clássica quando aduz que é a União, em razão desta possuir competência para editar a norma penal. Em contrapartida, referente às fontes formais imediatas, não é possíveldizer que é somente a Lei, constituindo a Constituição Federal, também, uma fonte formal imediata. Neste sentido, a jurisprudência também o é, a propósito, cita-se como exemplo quando o STF editou uma súmula vinculante, dizendo que não há crime contra a ordem tributária material antes do lançamento definitivo do crédito tributário. Logo, não há subsunção do fato à norma. Trata-se de tipicidade, constituindo fonte formal imediata. De igual modo, os princípios também criam normas, devendo ser vistos como fonte formal imediata. A propósito, eles podem compreender o próprio complemento da norma penal em branco. Vale mencionar, a título de exemplo, a portaria da Anvisa que delimita o que é considerado como droga. Outras fontes formais imediatas são os Tratados Internacionais de Direitos Humanos, os quais foram incorporados por força de emenda à Constituição ou em caráter supralegal. As fontes formais mediatas são os doutrinadores, isto é, apenas a doutrina. Por exemplo, a doutrina conceitua o que está enquadrado como erro de tipo quando o Código E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 25 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Penal apenas traz a figura do erro de tipo (art. 20, CP), todavia, sem explicar o que seria um tipo. A doutrina é quem esclarece tal ponto. Já no tocante à fonte informal, tem-se os costumes. Denota-se que os costumes mudam com o decorrer do tempo, porquanto o costume é a prática de um comportamento reiterado, mas possuem uma convicção de obrigatoriedade, limita o que pode ou não ser feito. Por exemplo, o que é ou não é um ato obsceno. Esta noção foi sendo modificada com o passar do tempo e a orientação da norma busca referência nos costumes em voga em um organismo social. 3. Costume O costume é um comportamento constante e uniforme, o qual também pode ser chamado de hábito. Contudo, o costume não é apenas um hábito. É um comportamento qualificado pela sua convicção de obrigatoriedade. O elemento objetivo é o comportamento reiterado. O elemento subjetivo é a convicção de obrigatoriedade. Todavia, os costumes não criam infrações legais, pois o Direito Penal orienta-se pelos princípios da legalidade e da reserva legal. Além disto, os costumes não revogam lei. Por exemplo, aquele que, em razão de sua residência ser a primeira da quadra, trafega todo dia na contramão da rua de sua residência, em vez de dar a volta no quarteirão, ainda que o faça por mais de 100 (cem) dias consecutivos, se 101º dia o agente de trânsito aplica-lhe a devida multa, àquele que foi multado não poderá invocar o seu costume para justificar a sua conduta. Logo, um costume não revoga uma lei. A respeito de um costume não revogar uma lei, além de ser entendimento pacificado, esta foi uma opção do legislador na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB, conforme se extrai da redação do art. 3º “Não se destinando a vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 26 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Contudo, impende alertar que acerca do tema em debate há divergência doutrinária. Uma corrente, por exemplo, diz que se um costume muda, este revoga uma lei penal material e formalmente. Outra corrente aduz que, formalmente, um costume não revoga uma lei penal, contudo, se um costume muda e a sociedade passa a admitir um determinado comportamento, apesar de não haver uma revogação formal da norma, haverá uma revogação material. Logo, o juiz deixaria de aplicar a norma. No entanto, nenhuma destas duas correntes é adotada no direito brasileiro. Por exemplo, o jogo do bicho continua sendo uma contravenção penal, mesmo sendo explícito e aceito por boa parte da sociedade. 4. CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL a) Exclusividade – Somente a lei define crime e comina sanções. A lei prevê, em seu preceito primário, a conduta proibida e, em seu preceito secundário, prevê a pena àquele que não observar a proibição. b) Imperatividade – A lei penal é imposta a todos. c) Generalidade – A lei penal é de acatamento geral, tendo em vista que se dirige a todos, ainda que sejam inimputáveis os seus destinatários. d) Impessoalidade – A lei penal se dirige a todos abstratamente. A lei penal trata de fatos, não de pessoas. Aqui, não deve existir a chamada lei penal por encomenda, com a finalidade de atingir a um determinado indivíduo, porquanto a lei penal trata de fatos. Sendo assim, aquele que pratica um fato tipificado, será punido. 5. CLASSIFICAÇÃO DA LEI PENAL Quanto a classificação penal, esta subdivide-se em duas classificações. 5.1. Lei penal incriminadora Esta prevê condutas proibitivas e normas mandamentais. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 27 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Na leitura do Código Penal, a partir de seu artigo 121, encontram-se textos normativos. Nestes textos há normas que, em regra, são proibitivas. O artigo 121 do Código Penal8, por exemplo, diz: “Matar alguém”. Este é o texto. A norma é a seguinte: “É proibido matar”. A norma extraída do texto é proibitiva. Às vezes, a norma que se extrai do texto incriminador é uma norma mandamental. Por exemplo, quando o artigo 135 do Código Penal9 criminaliza a omissão de socorro, a norma que ele está emitindo, qual seja, “socorra”, é uma norma mandamental. Assim sendo, aquele que não socorrer, incide em crime. Portanto, tem-se a previsão de condutas penais e suas penas — normas incriminadoras. 5.2. Lei penal não incriminadora Esta divide-se em: a) Permissiva — justificante e exculpante Abarca o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal, o exercício regular de um direito, dentre outros casos, tais como a coação moral irresistível, a obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico etc. b) Explicativa — interpretativa Por exemplo, o peculato. A lei diz que é condição elementar do peculato que seu autor seja um funcionário público. Porém, para saber quem é funcionário público, faz-se necessário conhecer o artigo 327 do Código Penal10 8Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 9Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 10Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 28 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Outra hipótese é a Lei de Abuso de Autoridade, onde, para saber quem poderá praticar a conduta de abuso de autoridade, deve-se consultar o artigo 2º da Lei 13.689/1911, o qual define quem poderá ser o autor do aludido crime. c) Complementar Quando complementar, delimitará o âmbito de aplicação da norma penal incriminadora. Por exemplo, o artigo 5º do Código Penal, o qual define o âmbito de aplicação da lei penal brasileira com base na definição do que é território nacional. d) De extensão – integrativa São as chamadas normas de adequação típica mediata. Por exemplo, aquele que ganha uma faca para matar João e assim o faz, aquele que deu a faca para o agente não matou João. Portanto, à luz do artigo 121, do Código Penal, só quem matou responderá, quem deu a faca (instrumento do crime) por nada será responsabilizado, se considerar-se apenas a conduta criminosa descrita no artigo 121 do CP (“Matar alguém”). Contudo, se há uma combinação entre os artigos 121 e 29, ambos do Código Penal, percebe-se que quem deu a faca também responderá. Assim sendo, o artigo 29 do CP12 é uma norma de adequação típica mediata, uma lei penal não incriminadora de extensão ou integrativa. previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. 11Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se limitando a: I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; II - membros do Poder Legislativo; III - membros do Poder Executivo; IV - membros do Poder Judiciário; V - membros do Ministério Público; VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. 12Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 29 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Do mesmo modo, aquele que dá a facada em João e este não vem a morrer, não poderá dizer-se que o agente incidiu no artigo 121, do Código Penal, tendo em vista que o referido dispositivo, diz “matar alguém” e a vítima sobreviveu ao ataque. Assim, o agente responderá pelo crime de homicídio na forma tentada, em virtude de combinação dos artigos 121 e 14, inciso II, ambos do Código Penal, o qual preceitua que pune-se o crime tentado com a pena do crime consumado, reduzida de 1/3 a 2/3. Logo, a norma do artigo 14, II, do CP13 é de adequação típica mediata. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL A interpretação é a busca do sentido daquele tipo penal, é encontrar a norma que se extrai dele. 1. Quanto à origem (ou ao sujeito que interpreta) A doutrina divide da seguinte maneira: a) Autêntica: feita pelo legislador, quem dirá o que a norma significa. Por exemplo, quem é funcionário público, o legislador interpreta no artigo 327 do CP. b) Doutrinária: feita pelos estudiosos e doutrinadores do Direito. c) Jurisprudencial: realizada pelos Tribunais, inclusive, tal interpretação tem se mostrado cada vez mais vinculante. 2. Quanto ao modo a) Gramatical: busca o sentido literal das palavras. b) Teleológica: busca a finalidade da lei, o que buscou o legislador ao prever determinada conduta. 13Art. 14 - Diz-se o crime: [...] Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 30 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto c) Sistemática: busca analisar e entender a conduta dentro do sistema em que a norma está inserida. Por exemplo, se é um direito fundamental, deverá dar-se a máxima efetividade. d) Histórica: busca o fundamento do legislador na criação da norma, o contexto e o que era perseguido na época. e) Progressiva: busca o significado legal de acordo com a ciência que está progredindo e conforme a própria sociedade. f) Lógica: busca utilizar métodos indutivos, dedutivos, a partir da dialética, tentando encontrar-se o sentido da lei a partir da racionalidade. 3. Quanto ao resultado Após o emprego das técnicas de hermenêuticas viáveis, chega-se ao resultado. a) Declarativa: o resultado que se alcança é o que está escrito no texto. O legislador não precisou criar alcances à norma. b) Extensiva: é necessário ampliar o alcance das palavras, pois o legislador disse menos do que queria. c) Restritiva: é preciso reduzir o alcance das palavras da lei, o legislador disse mais do que queria. Na interpretação extensiva, o legislador disse menos do que queria, logo, o alcance da norma será ampliado. Indaga-se: a interpretação extensiva pode dar-se em desfavor do réu? Conforme o Estatuto de Roma, não. Caso a norma comporte diferentes significados polissêmicos e/ou dúvidas interpretativas, deverá sempre ser adotada a interpretação mais benéfica ao réu ou a pessoa acusada e investigada. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 31 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto 4. Formas de interpretar a lei penal O professor Nelson Hungria defendia que os diversos tipos de interpretações (extensiva, restritiva etc.) estavam equivocados. A norma penal deveria ser interpretada de modo correto, vedando-se à analogia. Em suma, a interpretação da norma deve ser sempre a adequada. Porém, existem precedentes do Superior Tribunal de Justiça que afirmam não caber interpretação extensiva em desfavor do réu. Contudo, STJ adota postura contrária quandoentende não ser aplicável a Lei 9.099/95 (Lei do Juizado Especial Cível e Criminal) às contravenções penais praticadas no contexto de violência doméstica contra a mulher. O artigo 41 da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), diz que não se aplica a Lei dos Juizados Especiais aos crimes cometidos no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. O STJ e o STF têm o entendimento de que quando o legislador usou a expressão “crimes”, deve ser lido como “infrações penais”. Sendo assim, caberiam os crimes em sentido estrito e as contravenções penais. Isto é, na melhor das hipóteses, uma interpretação extensiva. Tendo em vista que o legislador disse menos do que queria, a jurisprudência amplia o alcance da norma. O STF, em processo de relatoria do ministro Luiz Fux, é expresso ao dizer que em matéria de Lei Maria da Penha, é plenamente possível a adoção de interpretação extensiva em desfavor do réu. Tanto é assim que o STF não permite que a pena privativa de liberdade seja substituída por restritiva de direitos nos casos de contravenções penais praticada com violência, isto é, quando se chega às vias de fato. Nesta linha, o artigo 44 do Código Penal veda a substituição da pena para crimes cometidos com violência ou grave ameaça. Contudo, não fala em contravenções penais. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 32 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Diante disto, o STF adotou uma interpretação extensiva em desfavor do réu, expressamente. Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II – o réu não for reincidente em crime doloso; III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. § 1o (VETADO) § 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. § 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. § 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. § 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. Para Zaffaroni, em regra, não cabe interpretação extensiva em desfavor do réu. Porém, se a interpretação declarativa ou restritiva produzir um escândalo interpretativo, é possível a utilização da interpretação extensiva em prejuízo do réu. 4.1. Rogério Sanches – Interpretação sui generis: a) Interpretação sui generis exofórica: A interpretação da norma demanda o conhecimento de um conceito, o qual está fora do ordenamento jurídico. O exemplo é o conceito de erro de tipo penal empregado pelo artigo 20 do Código Penal, o qual é compreendido e explicado à luz da doutrina. b) Interpretação sui generis endofórica: A norma traz uma palavra, qual tem um significado encontrado em outra norma. Por exemplo, a Lei de Drogas, onde “vender drogas” é crime. Logo, precisa-se de uma E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 33 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto interpretação sui generis, dada dentro do ordenamento jurídico, por meio de uma portaria da Anvisa, a respeito do que significa drogas. 4.2. Interpretação conforme a Constituição A interpretação conforme a Constituição dá-se diante de normas polissêmicas, as quais têm diferentes e possíveis significados, encontrando-se um significado de acordo com a Constituição, o que será adotado. Em relação aos outros significados, estes serão desconsiderados. 4.3. Interpretação analógica Na interpretação analógica, o legislador traz diversas situações, cujas quais deseja regulamentar. Ao final, o legislador faz o encerramento genérico, dizendo que situações semelhantes àquelas serão regulamentadas de igual maneira. Sendo assim, o legislador autoriza uma interpretação analógica. A título de exemplo, tem-se o homicídio qualificado, onde será assim designado quando praticado mediante paga ou promessa de recompensa ou, ainda, por qualquer outro motivo torpe. Neste sentido, mediante paga, o sujeito recebeu antes. Mediante promessa, o sujeito recebeu depois. Por motivo torpe, matou para receber uma herança. Todas estas hipóteses são contempladas. Parte 4/4 5. Analogia A analogia não é forma de interpretação de lei penal, mas uma forma de integração. Para que o ordenamento fique íntegro, isto é, inteiro, para que não haja lacuna, vale-se da analogia. Significa dizer, se não há uma lei para um determinado caso, aplica-se uma norma que regule um caso semelhante. Porém, deve-se observar a seguinte máxima: onde há a mesma razão, deve haver o mesmo direito. Por conta da reserva legal, a analogia não pode dar-se em malam partem, ou seja, em desfavor do réu. E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r E D N A L U Z S IL V A X A V IE R D E F R E IT A S - C P F : 9 38 .2 61 .0 95 -2 0 - ed na lu zf re ita s@ ya ho o· co m ·b r 34 Material elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Seifert Corrigido por Daniela Duarte Minatto Nos moldes da expressão cunhada por von Liszt, os códigos penais modernos são a carta magna libertária do delinquente. O que não está previsto, conforme Nelson Hungria, é que por maior que seja o sentimento de revolta social, não pode ser considerado crime. Para que a analogia seja aplicada, deverá haver uma lacuna na lei, não o silêncio eloquente e intencional do legislador. A analogia poderá ser: a) Analogia legis – Há uma norma regulando um caso semelhante. Logo, aplica-se esta norma. b) Analogia iuris – Inexiste norma que trate de um caso semelhante. Logo, o intérprete deverá valer-se dos princípios gerais do Direito, com o escopo de regular a situação, conforme o ordenamento jurídico. TEORIA GERAL DA NORMA PENAL PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL. 1. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos A norma penal deve nascer para proteger
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