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Autora: Profa. Maria Ephigênia de Andrade Cáceres Nogueira Colaboradores: Profa. Silmara Maria Machado Prof. Nonato Assis de Miranda Profa. Renata Viana de Barros Thomé Educação de Jovens e Adultos: Fundamentos e Metodologia Professora conteudista: Maria Ephigênia de Andrade Cáceres Nogueira Maria Ephigênia de Andrade Cáceres Nogueira, brasileira, natural de Ipaussú, Estado de São Paulo, é pedagoga, mestre e doutora em Educação pela Faculdade de Educação da USP, Universidade de São Paulo, e especializada em Gestão Educacional, pela Unicamp, Universidade de Campinas. Dedica‑se à Unip, como professora do curso de Pedagogia, desde 2007, e é líder da disciplina Educação de Jovens e Adultos desde 2009. Sua carreira profissional começou como professora efetiva da Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, onde permaneceu de 1979 a 1990, e em escolas particulares dessa mesma cidade. De 1980 até 1995, foi professora efetiva do Ensino Fundamental (da primeira à quarta série) da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. Trabalhou na Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – Cenp, dessa secretaria, no Serviço de Educação Pré‑Escola. Em 1983, interessada em conhecer os trabalhos da Escola Experimental da Lapa (São Paulo), trabalhou como professora de pré‑escola. Foi nesse período que passou a integrar o grupo da Cenp, sob a coordenação da professora Telma Weiss, que iniciou as discussões, em São Paulo, sobre alfabetização, tendo os trabalhos das professoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky como nova visão sobre a aprendizagem da linguagem escrita. Durante esse período, no mestrado, participou do curso ministrado pela professora Marta Kohl de Oliveira, em que a problemática da Educação de Jovens e Adultos foi amplamente discutida, iniciando assim sua trajetória na discussão da aprendizagem do adulto e os aspectos da alfabetização e letramento. Como diretora de escola da rede estadual de ensino, a partir de 1995, implantou nessa instituição a Educação de Jovens e Adultos, presencial e com presença flexível, cujo atendimento, planejamento, desenvolvimento, coordenação e avaliação colocaram‑na em contato maior com o cotidiano da educação de jovens e adultos. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) N778e Nogueira, Maria Ephigênia de Andrade Cárceres Educação de jovens e adultos: fundamentos e metodologia / Maria Ephigênia de Andrade Cárceres Nogueira. – São Paulo: Editora Sol, 2014. 120p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2‑010/14, ISSN 1517‑9230. 1. Educação de jovens. 2. Educação de adultos. 3. Metodologia. I. ítulo. CDU 374.7 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Luanne Aline Batista da Silva Virgínia Billato Sumário Educação de Jovens e Adultos: Fundamentos e Metodologias APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 PANORAMA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ........................................................................ 11 1.1 Como as pessoas jovens e adultas analfabetas resolvem as suas situações cotidianas? ...................................................................................................................................................... 13 1.2 Quem são os alunos da Educação de Jovens e Adultos? ..................................................... 15 2 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS CONSTITUI‑SE COMO UM CAMPO DE CONHECIMENTO? ......................................................................................................................................... 20 2.1 O que recomenda a LDBEN nº 9.394, de 1996? ....................................................................... 20 2.2 A Educação de Jovens e Adultos na legislação educacional .............................................. 21 2.2.1 Constituição Federal de 1988 ............................................................................................................ 21 2.2.2 LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 ............................. 25 2.2.3 Ensino obrigatório dos 4 aos 17 anos – Emenda Constitucional nº 59, de 2009 ........ 25 3 COMO OS JOVENS E ADULTOS ESTUDAM HOJE? ............................................................................... 30 3.1 A organização dos cursos da EJA ................................................................................................... 34 3.2 Como são organizadas as classes de alfabetização? .............................................................. 34 3.2.1 Funcionamento por meio de cursos e exames ........................................................................... 35 3.2.2 Cursos presenciais................................................................................................................................... 37 3.2.3 Outras formas de organização do ensino destinado a jovens e adultos ......................... 37 3.2.4 Exames ........................................................................................................................................................ 38 3.2.5 Organização curricular ......................................................................................................................... 38 4 O RECONHECIMENTO SOCIAL DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – A EJA NA PAUTA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO ................................................................ 39 4.1 Movimentos de alfabetização de adultos e Paulo Freire ...................................................... 44 Unidade II 5 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ................................................................ 56 5.1 Desenvolvimento e aprendizagem de jovens e adultos ....................................................... 57 5.2 Educar na diversidade ........................................................................................................................ 59 5.3 Os efeitos da escolarização/alfabetização no processo de desenvolvimento cognitivo .......................................................................................................................................................... 59 5.4 Metodologia de ensino na Educação de Jovens e Adultos ................................................. 62 5.4.1 Organização de atividades em projetos: o que são projetos? .............................................. 62 5.4.2 O papel do professor na organização e direção das situações de aprendizagem e na progressão das aprendizagens ............................................................................................................64 5.4.3 Avaliação .................................................................................................................................................... 67 6 LÍNGUA PORTUGUESA – METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO E PÓS‑ALFABETIZAÇÃO ..... 68 7 MATEMÁTICA .................................................................................................................................................... 86 8 ESTUDOS DA SOCIEDADE E DA NATUREZA ........................................................................................101 7 APRESENTAÇÃO Caro aluno, Os objetivos específicos da nossa disciplina Educação de Jovens e Adultos: fundamentos e metodologias estão voltados à análise do percurso histórico dessa modalidade de ensino e seus desdobramentos como conquista de um direito do cidadão brasileiro, tema que se tornou importante para a nação brasileira quando o analfabetismo foi considerado uma doença nacional, aparecendo na pauta das políticas públicas a partir de então. Estudaremos os movimentos sociais que se voltaram ao atendimento dos analfabetos, as campanhas de alfabetização, o trabalho desenvolvido em parceria pela sociedade civil e poderes públicos, que resultou na movimentação com ramificações em todo o território nacional por essa Educação. Outro objetivo específico é apresentar a Educação de Jovens e Adultos nas legislações brasileiras – na Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 9.394, de 1996, destacando, no Plano Nacional de Educação, as diretrizes e propostas para esse ensino em todo o território nacional. As diretrizes curriculares e parâmetros nacionais são os documentos elaborados pelo Conselho Nacional de Educação que tratam deste e de outros temas, dando orientações a especialistas, professores na condução das ações e atividades na Educação em todo o país. Discutiremos ainda o papel dos sistemas de ensino, nos dias atuais, na organização e implantação dos cursos oferecidos à população. Além disso, debateremos sobre a metodologia de trabalho pedagógico a ser desenvolvida com os alunos do ciclo I do Ensino Fundamental, a alfabetização, a pós‑alfabetização, o ensino da Matemática e das áreas das ciências, da História e da Geografia. Caracteriza‑se como outra atuação do pedagogo ser o educador do ciclo I do Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos. Assim, abordaremos as disposições da proposta curricular para as séries iniciais do Ensino Fundamental para a Educação de Jovens e Adultos que foi elaborada pelo Ministério da Educação em parceria com a associação Ação Educativa, tendo esse documento como norteador das discussões da prática educativa. Aprofundaremos na metodologia de alfabetização e pós‑alfabetização em Língua Portuguesa, em Matemática, Ciências, História e Geografia. Já os estudos ministrados a partir do ciclo II do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, devem ser oferecidos por escolas reconhecidas pelas secretarias de educação estaduais e por professores com licenciatura plena nas diferentes disciplinas do currículo, tendo como suporte as diretrizes curriculares para a Educação de Jovens e Adultos e também para esses ensinos. INTRODUÇÃO O processo do atendimento aos alunos da Educação de Jovens e Adultos foi se construindo no Brasil a partir das suas necessidades sociais, quando do início da industrialização na década de 1930, até se concretizar como direito do cidadão brasileiro na Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 9.394, de 1996. 8 Nesse contexto, o pedagogo, além se dedicar às atividades de coordenação, orientação, direção e supervisão das atividades formativas e educativas em ambientes escolares e não escolares, cumpre também o papel de educador do ciclo I do Ensino Fundamental oferecido a alunos jovens e adultos, incluindo aí a supervisão e direção em unidades escolares que oferecem toda a escolaridade básica dessa modalidade de Educação. Podemos dizer que a área da Educação de Jovens e Adultos caracteriza‑se por natureza heterogênea, com significativo acúmulo de experiências e reflexões sobre a prática educativa, estando, porém, como área acadêmica, em fase inicial de organização e de construção teórica. Caracteriza‑se como campo de estudos constituído por microestudos, carecendo de pesquisas mais abrangentes. Entre as instituições e pesquisadores que produzem artigos, cadernos de formação, estão o Mova – Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos do Município de São Paulo, Vereda – Centro de Estudos em Educação, Seja, Palavra de trabalhador – da Secretaria Municipal de Porto Alegre, Para ler e Escrever – da Secretaria da Educação da Bahia, MEB – Movimento de Educação de Base, Cedi – Centro de Documentação e Informação, entre outros. Todo Estado brasileiro tem o atendimento às pessoas jovens e adultas, que envolve tanto a sociedade civil como os poderes executivos públicos. Entre os autores que discutem sobre a EJA, estão Paulo Freire, Vera Barreto, Sérgio Haddad, Celso Beiseguel, Marta Kohl de Oliveira, Pedro Pontual, Vera M. M. Ribeiro, Maria Clara Di Pierro, Cláudia Vóvio, Angela Kleiman, Magda Soares, Madalena Freire, entre outros. Saiba mais Aqui está uma boa pesquisa a ser realizada por você, aluno do curso de Pedagogia, para saber quais são e como se organizam os cursos de EJA em sua região: Qual é o tipo de atendimento à Educação de Jovens e Adultos em seu Estado? Há instituições da sociedade civil envolvidas no atendimento às pessoas jovens e adultas? Para realizar essa pesquisa, consulte sua secretaria estadual de educação e também as secretarias municipais. O site do Ministério da Educação também trata de projetos realizados pelas políticas públicas e outros em parceria com a sociedade civil. Consulte‑o: <www.mec.gov.br>. 9 Caro aluno, agora que apresentamos a disciplina, retomando os assuntos que abordaremos no curso, reflita como eles se constituem na problemática da Educação de Jovens e Adultos. Pense e analise sobre os seguintes pontos: • Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil • A Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 9394, de 1996, e a modalidade de ensino EJA. O atendimento hoje é realizado pelos sistemas de ensino, que são os responsáveis pela criação das escolas, abertura das classes, atribuição de aulas aos professores. O Encceja – Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos é de responsabilidade do Inep/MEC – Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa do Ministério da Educação. • Fundamentos e metodologia da EJA. • Alfabetização e pós‑alfabetização. • Matemática • Ciências, História e Geografia. • A problemática da Educação de Jovens e Adultos está imersa nos processos e desenvolvimentos realizados em toda a educação escolar nacional. Constitui ponto de honra para a nação brasileira dar direito aos estudos da Educação Básica a todos os brasileiros, independente de sua idade e do seu tipo de vida. 11 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA Unidade I 1 PANORAMA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS A presente disciplina aborda a Educação de Jovens e Adultos, que é definida e caracterizada como uma modalidade de ensino de acordo com a Lei nº 9394, de 1996, que versa sobre as diretrizes e bases da educação nacional. Essa modalidade de ensino é também conhecida como ensino supletivo, nome atribuído pela antiga LDB (Lei de Diretrizes e Bases) nº 5.692/71. Alfabetizar jovens e adultos tem sido um desafio para o sistema educacional brasileiro, pois ainda constatamos a existência de pessoas adultas pouco ou não alfabetizadas. Essa constatação fere um dos principais princípios do direito à cidadania, que é o direito à Educação Básica, em qualquer idade e para toda a vida. Atualmente, quando tratamos da Educação de Jovens e Adultos, referimo‑nos à oferta da Educação Básica, que inclui o Ensino Fundamental e o Ensino Médio para os que não estudaram ou completaramseus estudos na idade própria. Por muito tempo, a preocupação fora a erradicação do analfabetismo e a manutenção de classes de alfabetização. Assim, quando nos referirmos à EJA, nesta disciplina, reportamo‑nos à oferta da Educação Básica. No entanto, a história da EJA será analisada conforme seu percurso histórico e social, revelando, no caminho, as conquistas da sociedade brasileira para a educação escolar como um todo e dentro dessa modalidade de educação. Figura 1 O direito à educação escolar pela EJA foi estabelecido pela Constituição Federal de 1988. O ensino obrigatório e gratuito na escola pública, dos 4 aos 17 anos, é prioridade nacional, inclusive aos que não estudaram na idade própria. Todos os projetos, ações e programas das políticas públicas estão voltados ao que está previsto no Plano Nacional de Educação: o atendimento a 100% das crianças e adolescentes, dos 6 aos 14 anos, faixa etária definida anteriormente à Emenda Constitucional de 2009, que tornou obrigatório o ensino dos 4 aos 17 anos. Contudo, ainda não houve regulamentações e alterações em 12 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 alguns trechos da Constituição Federal de 1988 e da Lei nº 9.394, de 1996. Será, então, que, depois de tanto tempo, todos já concluíram pelo menos o Ensino Fundamental, cuja oferta é obrigatória por lei, e não há mais necessidade do atendimento aos jovens e adultos nas escolas? Segundo Carneiro (2004), a oferta do Ensino Fundamental brasileiro às crianças e adolescentes atingiu, em 2000, 97% da população da faixa etária, o que significa que a meta de atendimento de 100% dessa escolarização está quase sendo atingida. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2000, 13,6% dos brasileiros com 15 anos ou mais são analfabetos e 17,9% estiveram por menos de quatro anos na escola. Voltemos a nos perguntar: isso significa que a necessidade de oferta educacional para jovens e adultos está para ser extinta? Podemos constatar que não é verdadeiro afirmar isso, pois temos um percentual remanescente dessa população a ser atendida. Significa que existe um acúmulo populacional que necessita desse ensino, como constatamos nos citados dados do IBGE. Podemos asseverar, com relação à população brasileira em 2000, que: • 16 milhões de pessoas não sabem ler e escrever; • 39 milhões de jovens e adultos frequentaram menos de quatro anos de escola; • e que, somados, dão quase 1/3 da população brasileira. Você agora entende por que a EJA é ainda um atendimento importante para toda a sociedade brasileira? Esses dados são de pesquisa realizada pelo IBGE em 2000, e será que os dados atuais foram muito alterados? Observe a figura em seguida e visualize a matrícula na Educação de Jovens e Adultos, após os 18 anos, no Ensino Fundamental em 2009, de acordo com a Revista Escola, de março de 2010: 85% 15% 80% 90%90% 81% 82% 20% 10%10% 19% 18% 3,6 milhões Brasil EJA Ensino regular Centro‑Oeste Sudeste Nordeste NorteSul 637 mil Figura 2 – Matrículas de alunos com 18 anos ou mais no Ensino Fundamental 13 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA Isso significa que grande parte da população brasileira não teve acesso à escola, na idade própria, para a aprendizagem de conteúdos, atitudes e procedimentos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, necessários para o desenvolvimento de habilidades e competências que são importantes para a formação da cidadania, para o convívio na vida social e para o mundo no trabalho. A importância do acesso a conhecimentos sistematizados, necessários para a vida em sociedade e para o trabalho, justifica‑se pelo fato de esse conhecimento não se construir só por meio das relações estabelecidas no desenvolvimento das atividades diárias. Outro fator de grande peso são as grandes transformações nas tecnologias de informação e comunicação e no modo capitalista de produção, que exigem cidadãos que saibam interagir nesse mundo altamente complexo, e a Educação Básica é um dos instrumentos que os habilita para essa participação. Hoje, lemos nas revistas e jornais matérias sobre a importância da alfabetização digital e ainda sequer podemos afirmar que todos brasileiros usam a linguagem escrita para lidar com as situações do cotidiano. Dessa maneira, para definir a educação para jovens e adultos, podemos dizer que o significado dela é incluir socialmente quem está excluído devido ao analfabetismo ou alfabetização funcional. Se quisermos ter uma sociedade mais justa e democrática, a educação para pessoas jovens e adultas significa resgatar aquilo que lhes foi negado na idade própria, seja por exclusão da escola, ou pela dificuldade de acesso devido à inexistência de vaga. 1.1 Como as pessoas jovens e adultas analfabetas resolvem as suas situações cotidianas? Veremos a seguir um exercício acerca do relato de aluna da EJA sobre como resolvia seus problemas no trabalho. Exemplo de aplicação Leia o texto em seguida: O lugar dos livros Luzia Alves Sou Luzia, uma paraibana que enfrenta a vida. Por isso estou com os meus colegas aprendendo a ler com facilidade. Quando dizem que a vida de analfabeto é difícil estão dizendo a verdade. Olha o que aconteceu comigo. Um dia consegui uma faxina na casa de um médico. Era uma faxina boa. Só um ônibus para pegar, a patroa era gente fina e o trabalho era deixar a biblioteca do doutor sem pó. 14 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 No primeiro dia, Dona Teresa me ensinou tudo direitinho. A gente precisava tirar os livros e pôr eles na mesa, limpar um por um e depois deixar na estante de novo. No primeiro dia, fiz tudo e fui embora. Na outra semana, Dona Teresa ficou me esperando. Foi dizendo que muitos livros ficaram virados de cabeça para baixo, que isso não podia mais acontecer. Ela achava que eu era distraída. Mas o problema era outro. Eu não sabia se o livro estava ou não de ponta‑cabeça, porque não sabia mexer com as letras. Não queria perder o trabalho. Comecei a abrir os livros. Quando tinha alguma figura estava salva. Mas tinha que achar um jeito para os outros. Depois de olhar daqui e dali, matei a charada. Descobri que quase todas as páginas tinham números na parte de baixo ou no alto e números eram meus conhecidos. Se errei alguma vez, a Dona Teresa não reclamou. Hoje, que alívio, não preciso mais de truques! Fonte: Brasil, (2001b, p. 18). Você já presenciou essa situação alguma vez? Ela é comum no cotidiano de pessoas que não se alfabetizaram. Aponte casos similares que observa na sua cidade, escola ou região e descreva‑os. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Com certeza, em sua região, há turmas de Educação de Jovens e Adultos. Após sua pesquisa, encontrará, em cada uma delas, pessoas e histórias de vida, o motivo de estarem procurando completar sua escolaridade básica. A Dona Luiza demonstra ter muitas informações sobre a escrita: para que serve, como e para que se escreve. Consegue perceber diferenças nas escritas e encontrar indicativos que lhe permitamtomar decisões e resolver as situações do dia a dia. Entretanto, essa senhora ainda não conseguiu compreender o sistema de representação da linguagem escrita, não está alfabetizada. 15 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA O atendimento aos jovens e adultos, anteriormente à atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, era conhecido como Ensino Supletivo. Ainda tratamos essa modalidade de ensino como um atendimento supletivo, porém, considerado um direito de todo cidadão brasileiro, é o ensino oferecido aos jovens e adultos que não concluíram seus estudos ou não estudaram na idade própria. Retomemos a questão que nos fizemos há pouco: o atendimento ao Ensino Fundamental, obrigatório por lei e gratuito na escola pública, ainda é necessário, na escola, para pessoas jovens e adultas? 1.2 Quem são os alunos da Educação de Jovens e Adultos? A aluna Nilda, de 28 anos, ao ingressar numa escola de EJA, ficou surpresa ao saber que teria de assistir aulas de artes. Com o tempo, pela experiência obtida no curso, seu olhar sobre a escola se transformou: “Quando estudei na escola, a educação artística era uma coisa mecânica, não dava prazer em estudar. Mas fui obrigada a mudar de opinião ao ingressar nesse colégio [...]. De tudo que aprendi, sei que educação artística não se limita somente à régua e compasso. Existe muito além dos limites de simples traçados. Digamos que a arte é infinita e maravilhosa. Simples, completa e fascinante” (BRASIL, 2006, p. 9). Ao nos aprofundarmos no estudo dessa população, podemos distinguir três grandes grupos de pessoas que não completaram a Educação Básica: o primeiro grupo representa os indivíduos que são analfabetos e que nunca frequentaram a escola; o segundo grupo é formado por aqueles chamados de analfabetos funcionais, ou seja, que já passaram pela escola e desistiram de estudar, por razões das mais variadas, e que nem se alfabetizaram. O terceiro grupo é constituído por aqueles que frequentaram a escola em diferentes períodos escolares, sem concluir sua escolaridade. Essa população é diferenciada, heterogênea e, do ponto de vista educacional, precisa de uma política de atendimento que esteja de acordo com suas características, necessidades, condições e modos de vida. O reconhecimento da diversidade na Educação de Jovens e Adultos levou a legislação educacional a tomar a decisão de garantir o acesso à escola com a oferta de vagas no Ensino Fundamental e Ensino Médio. Sabemos que somente isso não é suficiente para que o aluno conclua a escolaridade básica. Assim, a permanência dos alunos na escola foi pensada para que eles tenham sucesso na aprendizagem, com um ensino de qualidade, possibilitando‑lhes um atendimento de acordo com as suas condições e modos de vida. Encontramos, na Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 9.934/96, artigos que determinam, esclarecem e orientam ações, programas e projetos que dão suporte ao desenvolvimento dessa modalidade de ensino. 16 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 Figura 3 Saiba mais Existem grupos que trabalham com a EJA e realizam estudos regionais que pesquisam quem são seus alunos. Nos cadernos de formação do Mova, por exemplo, encontramos o seguinte trabalho: SÃO PAULO (Município). Secretaria de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações didáticas: alfabetização e letramento – EJA e Mova. São Paulo, 2008, p.10‑17. Disponível em: <http://arqs.portaleducacao. prefeitura.sp.gov.br/exp/ejaemova.pdf>. Acesso em: 22 out. 2012. Quem são os alunos da Educação de Jovens e Adultos? Pessoas que não tiveram a oportunidade e/ou a possibilidade de concluir sua escolaridade; isso é fato. De qualquer forma, o que mais compõe o universo de nossos alunos jovens, adultos, idosos, donas de casa, trabalhadores de serviços pouco qualificados, homens e mulheres, portadores de necessidades especiais, brancos, negros, pardos? Quais trajetórias, experiências, expectativas, saberes, intenções, dúvidas, conquistas trazem nossos alunos? Cada um deles sentados em sua carteira em salas de aula pensa e sente o que, ao nos observar conduzindo a aula? – Que relações estão estabelecendo, que lembranças estão invocando, quais conhecimentos estão acessando? Enfim, quais transformações estamos possibilitando a essas pessoas, excluídas de tanta coisa e tão repletas de outras? Ao pensarmos nessas questões, a primeira pergunta que devemos fazer é: quem são nossos alunos? Nossos alunos fazem parte de uma estatística preocupante sobre a população do nosso país. A questão do direito à educação e do acesso à escolaridade são imperativos que devemos assumir. O problema 17 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA da não escolarização da população é bastante sério e não estamos falando apenas de analfabetismo. Segundo o Inep – Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (2001), 41,35% da população do Estado de São Paulo, entre 25 e 34 anos, não tem o Ensino Fundamental completo. Na capital desse mesmo Estado, em 2003, a população com mais de 25 anos de idade que não tinha oito anos de escolaridade perfazia o total de 50,3% (SÃO PAULO, 2007). É verdade que as taxas de analfabetismo vêm apresentando constante diminuição em termos nacionais, conforme apontam dados do Inep, mas há outra preocupação além da não conclusão do Ensino Fundamental: a questão do analfabetismo funcional. Por causa dessa problemática, foi criado o Inaf – Índice Nacional de Alfabetismo Funcional, que tem por objetivo avaliar a capacidade de domínio de leitura, escrita e cálculo pela população. Os resultados apurados por ele em 2003 indicaram o seguinte: [...] o teste identificou que 8% dos brasileiros entre 15 e 64 anos encontram‑se na condição de analfabetismo absoluto e 30% têm um nível de habilidade muito baixo: só são capazes de localizar informações simples em enunciados com uma só frase, num anúncio ou chamadas de capa de revista, por exemplo (nível 1). Outros 37% conseguem localizar uma informação em textos curtos (uma carta ou notícia, por exemplo), o que se poderia considerar como sendo um nível básico de alfabetização (nível 2). Os 25% que demonstram domínio pleno das habilidades testadas (nível 3) são capazes de ler textos mais longos, localizar mais de uma informação, comparar a informação contida em diferentes textos e estabelecer relações diversas entre elas (INAF, 2003, p. 6). Para alguns países europeus, o alfabetismo funcional ocorre por volta dos oito anos de escolaridade. No Brasil, é considerada alfabetizada funcional a pessoa que tiver mais de quatro anos de escolaridade. A associação Ação Educativa, integrada a essa discussão, apresenta‑nos o entendimento de que: “É considerada alfabetizada funcional a pessoa capaz de utilizar a leitura e escrita para fazer frente às demandas de seu contexto social e usar essas habilidades para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida” (INAF, 2003, p. 4). E completa: Primeiramente, devemos considerar a necessidade de consolidar a alfabetização funcional dos indivíduos, pois estudos atuais indicam que é preciso uma escolaridade mais prolongada para se formar usuários da linguagem escrita capazes de fazer dela múltiplos usos, com o objetivo de expressar a própria subjetividade, buscar informação, planejar e controlar processos e aprender novos corpos de conhecimento (RIBEIRO, 1999). É forçoso considerar os requisitos formativos cada vez mais complexos para o exercício de uma cidadania plena, as exigências crescentes 18 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 por qualificações de um mercado de trabalhoexcludente e seletivo e as demandas culturais peculiares a cada subgrupo etário, de gênero, étnico‑racial, socioeconômico, religioso ou ocupacional (AÇÃO EDUCATIVA apud SÃO PAULO, 2007, p. 12). Isso significa que utilizar a capacidade de leitura e escrita para atender às suas necessidades e para continuar aprendendo é um processo que não se encerra no domínio do código escrito. A capacidade leitora e escritora é mais complexa e, por isso, exige uma apropriação que depende de um processo que se inicia antes do domínio do código escrito em si e não se encerra nele. A apropriação do código faz parte desse processo como instrumento que permite maior autonomia no universo letrado. Conforme o entendimento dos países europeus, a pessoa alfabetizada funcional só se constitui com oito anos de escolaridade. Essa questão é importante, pois não se trata apenas de diminuir os índices absolutos de analfabetismo, e sim compreender a alfabetização como um processo mais amplo, que pressupõe que, de fato, o aluno faça uso das práticas de leitura e escrita. Compreender que escrever uma carta a diferentes destinatários é diferente de escrever um bilhete ou que a leitura de notícias, contos, textos informativos carregam implícitos propósitos e intencionalidades diferentes. Por que essa discussão é importante? Porque nos remete à ação concreta e cotidiana em nossas salas de aula. Trabalhar com Educação de Jovens e Adultos pressupõe, se quisermos um trabalho que contribua para essa população, saber que o acesso ao conhecimento escolar é uma questão de direito e requer uma ação pedagógica adequada, que não seja apenas a reprodução do que é oferecido no ensino regular, como se buscasse apenas condensar, em menos tempo, o conhecimento trabalhado do Ensino Fundamental. Essa ação adequada passa, então, por conhecermos nossos alunos. Se acreditamos na construção do conhecimento, cremos que eles trazem para a vida escolar suas experiências escolares, profissionais, de relações sociais construídas em suas vidas. Devemos admirar, de antemão, a capacidade que têm de lidar com a vida, pois, no universo letrado, tecnológico e competitivo em que vivemos, conseguir se manter, apesar de todo o processo de exclusão vivido, sem ter domínio de leitura e escrita, significa que muitos outros conhecimentos e capacidades foram colocados em jogo para dar respostas à vida. Como educadores, temos de ter ciência de que esses conhecimentos, experiências e fazeres devem compor nossa ação pedagógica, são ou devem ser o corpo do nosso fazer. A partir deles e com eles, devemos estabelecer nossa prática, não os substituindo, mas os ampliando, na perspectiva de que o acesso aos diferentes conhecimentos possa expandir as possibilidades de atuação no mundo, seja em termos profissionais, pessoais ou no conjunto das relações humanas. No nosso cotidiano, muitas vezes não temos paciência com aquela pessoa que demora no caixa eletrônico, criticamos um bilhete mal escrito, nos incomodamos com uma pessoa que se vê perdida numa fila por não ter entendido as placas de orientação, sem nos darmos conta de que essas são situações enfrentadas por boa parte da população, que, geralmente, vem ou retorna à escola, em busca, invariavelmente, de melhoria de sua vida profissional ou pessoal. Às vezes, mais do que os conhecimentos que podem adquirir, é importante a essas pessoas o que as valida como aptas a concorrer no mercado de trabalho: o certificado escolar. 19 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA É importante termos esse olhar, pois, quando estamos na sala de aula, não lidamos com uma minoria da população que foi excluída do processo escolar regular, mas com uma boa parte de pessoas brasileiras que compõe as estatísticas de não conclusão do Ensino Fundamental. Essa pesquisa revela que um dos papéis principais de quem se volta à Educação de Jovens e Adultos é saber observar e compreender as peculiaridades locais, as condições e modos de vida e as necessidades individuais e do grupo, para que a educação escolar seja significativa e responda às necessidades propostas pela vida social e pelo mundo do trabalho. O conhecimento dos dados e o levantamento de informações levam à compreensão do que significam os conceitos de alfabetização, alfabetizado, e alfabetizado funcional. Essa preocupação é tão grande, que foi criado o Índice Nacional de Analfabetismo Funcional, Inaf, que demonstra a fragilidade que o cidadão que não completou a escolaridade básica tem ao passar pela escola e não ser capaz de dominar informações suficientes para desenvolver as habilidades e as competências para a leitura e a escrita. Observação De acordo com o dicionário Aurélio, 1999, p. 93: • alfabetização: é o ato de alfabetizar; • alfabetizado: é aquele que sabe ler; • alfabetismo: é o sistema de escrita pelo alfabeto; é o estado ou qualidade de alfabetizado; • alfabetizar: é ensinar a ler; dar instrução primária; aprender a ler por si mesmo. Exemplo de aplicação Leia e reflita sobre este pensamento de Paulo Freire: “Quando a gente compreende a Educação como possibilidade, a gente descobre que a educação tem limites. É exatamente porque é limitável, ou limitada ideológica, econômica, social, política e culturalmente, que ela tem eficácia. Então, diria aos educadores que estão hoje com dezoito anos e que, portanto, vão entrar no outro século, no começo de sua vida criadora, que, mesmo reconhecendo que a Educação do outro século não vai ser a chave da transformação do concreto para a recriação, a retomada da liberdade, mesmo que saibam que não é isso, estejam convencidos da eficácia da prática educativa como elemento fundamental no processo de resgate da liberdade.” Fonte: Freire, (2006, p. 91). 20 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 Saiba mais Você quer saber mais sobre esse assunto? Apresentamos alguns sites nos quais encontrará informações a respeito, enriquecendo seus conhecimentos: <www.educabrasil.com.br/eb>; <www.scielo.br>; www.acaoeducativa.org.br>; <www.educamidia.unb.br>. 2 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS CONSTITUI‑SE COMO UM CAMPO DE CONHECIMENTO? Figura 4 Apesar de constatarmos a existência de pessoas adultas não alfabetizadas em todos os países e em todo o mundo, a Educação de Jovens e Adultos não se constitui ainda como um campo de conhecimento já estabelecido. Ainda há estudos realizados de forma individual, experiências localizadas e dispersas. Essa situação nos remete a dificuldades em estabelecermos estudos com abrangência, que possuam caráter científico na área e que se apoiem em diretrizes já analisadas e aceitas. 2.1 O que recomenda a LDBEN nº 9.394, de 1996? A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece que o trabalho pedagógico deverá ser diferenciado, com conteúdo, metodologias, tipologias de organização e processos de avaliação diferenciados daqueles utilizados para os alunos que estão em período de escolarização na faixa etária própria. A concepção que está presente na lei é de que o processo educacional da Educação de Jovens e Adultos respeite o perfil cultural do aluno, aproveitando as experiências adquiridas no trabalho e na 21 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA vida social, para a construção de sua trajetória educacional, com ações integradas e complementares, visando ao seu acesso à escola, bem como à sua permanência nela. 2.2 A Educação de Jovens e Adultos na legislação educacional Caro aluno, vamos explorar, com mais profundidade, a legislação educacional referente à Educação de Jovens e Adultos? Lembrete A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino oferecidaaos jovens e adultos que não tiveram acesso na idade própria ou interromperam os estudos do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio, sem completar toda a escolaridade básica. Observação O que significa modalidade de ensino? É a oferta de educação escolar que não se superpõe aos níveis de ensino, que se organiza por faixa etária. A modalidade de ensino oferecida a jovens e adultos é supletiva e tem o objetivo de possibilitar a frequência e a conclusão da Educação Básica. 2.2.1 Constituição Federal de 1988 A Constituição Federal de 1988 trata da educação e da educação escolar, dos artigos 205 a 214, como parte do capítulo III do Título VIII, referente à Ordem Social no Brasil. Explicita ideais que a sociedade brasileira propõe a todo cidadão brasileiro, como a formação para a cidadania, para o convívio social e para o mundo do trabalho. É em seu art. 208 que trata do dever do Estado para com a educação; no inciso I, determina como obrigatória a oferta da Educação Básica gratuita na escola pública àqueles de 4 a 17 anos, estendo‑se, inclusive, aos que não tiveram acesso a ela na idade própria. Lembrete Devemos lembrar que as constituições estaduais e as leis orgânicas dos municípios devem apontar as formas de organização e desenvolvimento dos cursos oferecidos aos jovens e adultos. Verifique a do seu Estado e de seu município. Vamos ler os trechos principais da Constituição Federal de 1988. Chamaremos a atenção para os aspectos que dizem respeito aos jovens e adultos. Faremos essa leitura por artigo, seus incisos e parágrafos, tendo certeza de que será muito proveitosa, inclusive para o entendimento de toda a 22 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 estrutura e organização da educação escolar brasileira, uma vez que a Educação de Jovens e Adultos é uma parte de todo esse funcionamento. Salientamos que a Constituição Federal de 1988 e a LDBEN nº 9.394/96 são leis que não se aplicam diretamente após sua leitura. Compete aos sistemas de ensino regulamentar a implementação de todos os preceitos legais de que dispõe essa legislação. Constituição Federal de 1988, artigo 208: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009) VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da Educação Básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) § 1º – O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º – O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente (BRASIL, 1988). Podemos entender que, no documento legal de mais importância do país, a Educação de Jovens e Adultos aparece como uma modalidade de ensino que deve ser oferecida à população que não completou a escolaridade básica. Nele, também se informam as responsabilidades dos poderes executivos quando não cumprirem a oferta do ensino obrigatório. Primeiro, trata do dever do Estado para com a educação e detalha qual é esse dever: • Inicialmente, no inciso I do art. 208, trata da Educação Básica obrigatória, da oferta gratuita do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, inclusive aos que não estudaram na idade própria. • No inciso VI, destaca como importante a oferta de ensino regular noturno, adequado às condições do educando. Aqui, retrata o cuidado quanto ao ensino noturno, que não deve ser aligeirado, realizado de qualquer forma, só para constar e para atender às determinações constitucionais. 23 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA • Determina que o ensino obrigatório seja oferecido com as condições necessárias ao desenvolvimento do processo educativo: material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. • Introduz o conceito de direito público subjetivo referente ao ensino obrigatório e gratuito, um direito do cidadão brasileiro, que não pode ser discutido, pois constitui uma parte de sua cidadania. Vejamos o artigo 211: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no Ensino Fundamental e na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no Ensino Fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) § 5º A Educação Básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) (BRASIL, 1988). O que esse artigo informa, de maneira explícita e importante, para a Educação de Jovens e Adultos? As responsabilidades dos diferentes poderes executivos: federal, estaduais e municipais frente à educação escolar brasileira. Deixa bem claro quais as atribuições de cada um deles, sugerindo o desenvolvimento das atribuições e competências de forma colaborativa, tendo como objetivo principal a oferta da educação escolar. Define as funções como supletivas e redistributivas, o papel da União e a garantia de que, em todo o território nacional, existam oportunidades educacionais, com recursos adequados para o padrão de qualidade mínimo do ensino. 24 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 Lembrete Lembre‑se das funções dos sistemas de ensino: • federal – atuação de forma supletiva e redistributiva; • estadual – oferta do Ensino Médio e do Ensino Fundamental em colaboração com os municípios; • municipal – oferta da Educação Infantil e, com prioridade, do Ensino Fundamental, em colaboração com os Estados. Esse artigo apresenta um impasse. Quem deve oferecer a Educação de Jovens e Adultos? Pelo que podemos entender, compete aos sistemas de ensino municipais a oferta do Ensino Fundamental e aos sistemas de ensino estaduais, oferecer o Ensino Médio. A lei trata da oferta dessa modalidade de educação, de forma colaborativa entre os sistemas de ensino estadual e sistemas de ensino municipais. Quando os sistemas de ensino municipais não podem ainda atender à Educação de Jovens e Adultos no Ensino Fundamental, o sistema de ensino estadual deve oferecer e compreender que é seu papel atuar de forma cooperativa. Observação Como ocorre o atendimento à Educação de Jovens e Adultos em seu Estado? Para saber mais acerca disso, consulte o site de sua secretaria da educação estadual e municipal. No artigo em questão é, portanto, introduzido o conceito de sistemas de ensino, dos responsáveis por construir e organizar as escolas, por elaborar o plano de carreira para os profissionais da educação, por realizarconcursos para contratá‑los, por atribuir as aulas ao professor e abrir as matrículas, formar as classes, horários, montar o calendário escolar e as matrizes curriculares dos níveis e modalidades de ensino, entre outras, isto é, possibilitar a atividade‑fim da educação, que é o atendimento aos alunos. Analisemos o artigo 214 agora: A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações 25 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) I – erradicação do analfabetismo; (BRASIL, 1988). Nesse artigo, que define as atribuições e competências do plano nacional de educação, fica estabelecido que o enfrentamento do analfabetismo deve ter preferência entre as medidas a serem adotadas pelas políticas públicas. Lembrete É importante lembrar que as legislações devem ser consultadas diretamente no site do MEC, toda vez que você as for utilizar, seja para estudar ou elaborar documentos escolares. 2.2.2 LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de cuja recomendação primordial tratamos anteriormente, no seu Título III, Dos Direitos à Educação e do Dever de Educar, artigos 4º e 5º e no capítulo II, seção V, da Educação de Jovens e Adultos, nos artigos 37 e 38 e seus parágrafos, versa sobre o atendimento aos que não tiveram acesso ou continuidade de estudos e, para além do Ensino Fundamental, inclui o Ensino Médio. 2.2.3 Ensino obrigatório dos 4 aos 17 anos – Emenda Constitucional nº 59, de 2009 Podemos entender que os dispositivos legais da Lei nº 9.934/96 estenderam a Educação de Jovens e Adultos como um direito a toda a escolaridade da Educação Básica. Apesar de a Constituição Federal de 1988 se referir somente ao Ensino Fundamental, a Emenda Constitucional nº 59, de novembro de 2009, que ainda não foi regulamentada, dispõe sobre a obrigatoriedade da oferta da Educação Básica na faixa etária dos 4 aos 17 anos, o que abrange a pré‑escola, na Educação Infantil, todo o Ensino Fundamental até a conclusão do Ensino Médio, incluindo como beneficiários aqueles que não estudaram na idade própria. Do Direito à Educação e do Dever de Educar Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I – Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; (BRASIL, 1996). 26 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 Lembrete Veja que a Constituição Federal de 1988 já aponta que o ensino dos 4 aos 17 anos é gratuito e obrigatório, inclusive aos que não estudaram na idade própria. [...] VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo‑se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; VIII – atendimento ao educando, no Ensino Fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; (BRASIL, 1996). Nesse artigo, a Lei nº 9.934/96 estabelece o direito à educação que os cidadãos brasileiros devem ter acesso, assim como o dever do Estado em relação ao Ensino Fundamental, cuja oferta é considerada obrigatória e gratuita na escola pública, inclusive aos que não tiveram acesso a ele na idade própria. Inclui o atendimento de acordo com as necessidades do educando e suas disponibilidades; uma delas é o ensino noturno, assegurando as matrículas e a qualidade de ensino que garanta a sua permanência até a conclusão dos estudos na escola, o que é atendido mediante os programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. Lei nº 9.934/96 – artigo 5º: O acesso ao Ensino Fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi‑lo. § 1º Compete aos Estados e aos Municípios, em regime de colaboração e com a assistência da União: I – recensear a população em idade escolar para o Ensino Fundamental e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso; II – fazer‑lhes a chamada pública; 27 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA § 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior (BRASIL, 1996). Nesse artigo, introduz‑se o conceito de direito público subjetivo, ideia nova que revela direitos individuais, assegurando ao cidadão garantias legais individuais e que não podem ser questionadas. Lei nº 9.934/96 – artigo 8º: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino. § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei (BRASIL, 1996). Compreendemos, nesse artigo, as funções dos poderes executivos instituindo os sistemas de ensino como os responsáveis pela oferta da Educação de Jovens e Adultos, por organizarem‑na de forma de atender e desenvolver a Educação Básica. Para compreender a distribuição de competências e atribuições quanto ao atendimento à Educação de Jovens e Adultos, na Lei nº 9.934, de 1996, encontramos os artigos que se seguem: Art. 10. Os Estados incumbir‑se‑ão de: I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; II – definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do Ensino Fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; V – baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; Art. 11. Os Municípios incumbir‑se‑ão de: I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando‑os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; 28 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 III – baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; [...] (BRASIL, 1996). Nesses artigos, são definidas as atribuições e competências dos sistemas de ensino, dentre elas a organização do tipo de atendimento escolar de sua região, regulamentando toda a legislação educacional. Nos artigos que veremos agora, que versam sobre os níveis e as modalidades de educação e ensino, há a estruturação de toda a Educação Básica, suas finalidades e forma de organização. São informações para as quais nos devemos atentar para compreender como a Educação de Jovens e Adultos deve e pode ser organizada, de modo a atender aos educandos garantindo seu acesso e permanência até a conclusão daescolaridade básica. A legislação deixa bem explicita a ideia de que a educação escolar deve estar vinculada ao meio social e ao mundo do trabalho, ou seja, a escola deve olhar para além dos seus muros. Art. 22. A Educação Básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar‑lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer‑lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Art. 23. A Educação Básica poderá organizar‑se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar (BRASIL, 1996). Lei nº 9.934/96, artigo 37: A Educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. § 3o A Educação de Jovens e Adultos deverá articular‑se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma do regulamento (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) (BRASIL, 1996). No artigo que acabamos de ver, encontramos todos os esclarecimentos dos direitos assegurados às pessoas jovens e adultas. Ele esclarece para quem se destina: aos que não puderam, por diferentes razões, ser matriculados na escola, aos que não puderam continuar seus estudos, seja por exclusão, abandono ou outros motivos, tanto o Ensino Fundamental como o Médio. 29 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA Se fôssemos pensar sobre a Educação Básica, teríamos um quadro como o que veremos em seguida, quando organizado por faixa etária. Pelo que está destacado em vermelho nele, vemos que trata tanto da Educação Básica como da Superior, num continuum de estudos. A Educação de Jovens e Adultos está na faixa etária a partir dos 15 anos para o Ensino Fundamental e, 18 para o Ensino Médio, caracterizando‑se como outra forma de atendimento. O ideal seria que todos fossem atendidos na faixa etária e dentro dos níveis de ensino. Coexistem, dentro da educação escolar, as várias formas de atendimento, de acordo com as necessidades sociais. Quadro 1 Educação Básica – art. 21, I Educação Superior art. 43 De 0 a 05 anos De 06 a 14 anos De 15 a 17 anos Educação Infantil Art. 29, 30, 31 Ensino Fundamental Art. 32 a 34 Ensino Médio Art. 35 e 36 – Graduação ‑ Pós‑graduação ‑ Extensão ‑ Especialização Creche Pré‑escola Ciclos/séries OBS.: ‑ As Leis n° 11.114 de 16/05/2005 e Lei n° 11.274 de 06/02/2006 alteraram a Lei n° 9394/96. Educação de Jovens e Adultos Art. 37 Ensino Fundamental Art. 38, I + 15 anos Ensino Médio Art. 38, I + 18 anos Educação Especial Arts. 58 e 59 Fonte: Revista Apase, (ano VI, n. 6, abr. 2007, p.13). Lei nº 9.934/96, artigo 38: Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar‑se‑ão: I – no nível de conclusão do Ensino Fundamental, para os maiores de quinze anos; II – no nível de conclusão do Ensino Médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames (BRASIL, 1996). 30 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 Esse artigo normatiza as formas de oferta da EJA, bem como esclarece que esta deve basear‑se na base nacional comum, isto é, no currículo considerado mínimo para o cidadão que conclui a Educação Básica. Partindo do princípio de que a educação ocorre durante toda a vida e em qualquer espaço, prescreve o reconhecimento dos conhecimentos e experiências de vida dos educandos da EJA. Examinemos, por último, o artigo 87: É instituída a Década da Educação, a iniciar‑se um ano a partir da publicação desta Lei. § 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, supletivamente, a União, devem: (Redação dada pela Lei nº 11.330, de 2006) II – prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e adultos insuficientemente escolarizados; (BRASIL, 1996). Mais uma vez, a Lei nº 9.934/96 versa sobre a importância de encontrar formas de prover a EJA. 3 COMO OS JOVENS E ADULTOS ESTUDAM HOJE? A Educação de Jovens e Adultos atende às exigências sociais do educando, o respeito à diversidade e às disparidades regionais e locais e é a que mais cresce no Brasil, segundo dados do MEC/Inep, 2003. Dos quatro milhões de alunos matriculados nessa modalidade de ensino, 50% desse total correspondem ao Ensino Fundamental. Lembrete Lembremos que os sistemas de ensino oferecem cursos e vagas; as secretarias municipais, o Ensino Fundamental; e as secretarias estaduais, o Ensino Médio. Deve, contudo, haver a colaboração entre elas para garantir o acesso do educando à escola. O quadro em seguida revela o número de alunos matriculados nessa modalidade de educação, em 2003, nos cursos presenciais e semipresenciais. Vamos estudar os dados da Educação de Jovens e Adultos no contexto brasileiro? Tabela 1 – Matrículas na Educação de Jovens e Adultos Região 1997 2001 2002 2003 Norte 325.890 521.708 589.992 588.291 Nordeste 732.180 1.119.142 1.375.001 1.633.712 31 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA Centro‑Oeste 209.631 262.221 236.706 276.584 Sudeste 1.183.377 1.320.721 1.148.227 1.262.803 Sul 430.692 554.197 442.812 443.727 Brasil 2.881.770 3.777.989 3.792.738 4.239.475 Fonte: MEC/Inep (2003). Podemos constatar que o número de matrículas cresceu em todas as regiões, apresentando, nas regiões Centro‑Oeste, Sudeste e Sul, um aumento significativo de 1997 para o ano de 2001. Em 2002, diminuiu, porém continuou apresentando um crescimento desse ano para o seguinte, 2003. Isso significa a busca da escolaridade, com o reconhecimento da importância da certificação do Ensino Fundamental e Médio para o prosseguimento de estudos no Ensino Superior e para o trabalho. A pesquisa do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep, realizada em 2009, permitiu o levantamento de dados de 2004 a 2008, que abrangem o número total de matrículas presenciais e semipresenciais na Educação Básica de Jovens e Adultos, conforme tabela em seguida: Tabela 2 Ano Total de matrículas Brasil 2004 5.718.061 2005 5.615.409 2006 5.616.291 2007 4.940.165 2008 4.127.882 Fonte: MEC/Inep (2009). A tabela apresenta uma queda acentuada nas matrículas na Educação de Jovens e Adultos. Segundo as informações do Inep, embora os números de matrículas nessa modalidade de ensino tenham diminuído, ainda são representativas em relação ao total de matrículas na Educação Básica em 2009, e a modificação na metodologia do censo escolar é um dos fatores responsáveis por essa diminuição. Esta tem reduzido a dupla contagem de alunos na Educação Básica, situação que tem perdurado nas estatísticas brasileiras e que geralmente decorre da mobilidade regional dos habitantes brasileiros. As análises mostram que, desse total, 58,3% estão matriculados nas escolas dos sistemas estaduais de ensino e 38,8% na rede municipal. Do total dos alunos matriculados, estão noEnsino Fundamental 65% e os outros 35%, no Ensino Médio. A tabela em seguida analisa vários indicadores relacionados ao período de 2001 a 2008: a taxa de analfabetismo no Brasil, o número de analfabetos, o número de alunos inscritos nos programas de alfabetização e a média de anos de escolarização. Observe como os dados mostram uma diminuição no analfabetismo. 32 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 Tabela 3 – Brasil: analfabetismo e escolaridade da população com 15 anos ou mais (2001‑2008) Indicador/ano 2001 2005 2006 2007 2008 Taxa de analfabetismo 12,4% 11,1% 10,4% 10,1% 10,0% Número de analfabetos 15.072.313 14.979.160 14.391.064 14.135.122 14.247.495 Inscritos em programas de alfabetização 930 mil 1,8 milhão 1,6 milhão 1,3 milhão 1,4 milhão Média de anos de estudos 6,4 7 7,2 7,3 7,4 Fonte: Di Pierro, (2010). Ainda que haja projetos e ações que atendem aos jovens e adultos analfabetos, há divergências com relação ao número e inscrições de analfabetos nos programas de alfabetização. Se pensarmos que a alfabetização corresponde ao ciclo I do Ensino Fundamental, cursado em 4 anos, com a proposta de 5, a partir de 2009, há um aumento do número de anos de escolaridade para concluir essa etapa de estudos. Será que isso significa que a prática educativa está aquém do necessário? Ou será que os alunos têm dificuldade de frequentar a escola continuamente? Exemplo de aplicação Conforme jornal da coleção Viver e Aprender, criada para a Educação de Jovens e Adultos, pela associação Ação Educativa: Censo escolar revela nova queda nas matrículas da EJA em 2010. MS e SP registram os maiores descensos. A divulgação do Censo Escolar 2010 pelo INEP‑MEC mostra uma nova queda nas matrículas da EJA nos cursos presenciais. Em relação a 2009, a queda no país ficou em 10,3%. Somente em quatro estados da Federação houve crescimento: Paraná, Goiás, Mato Grosso e Roraima, sendo que a elevação mais expressiva ocorreu nesse último estado: 13,8%. Na outra ponta, Mato Grosso do Sul obteve o pior resultado, com queda de 39,2% em relação a 2009. São Paulo obteve o segundo pior resultado, com queda de 23,4%. A terceira pior derrocada foi no estado do Rio Grande do Sul, com 10,3%. Estes números vão na contramão de tudo que tem sido pautado internacionalmente na Educação de Jovens e Adultos nos últimos anos. No Marco de Ação de Belém, documento síntese da Confintea VI, assinado por 144 representantes de governo, incluindo o Brasil, os presentes pactuaram que “A educação de adultos é reconhecida como um componente essencial do direito à educação, e precisamos traçar um novo curso de ação urgente para que todos os jovens e adultos possam exercer esse direito. A educação de adultos é reconhecida como um componente essencial do direito à educação, e precisamos traçar um novo curso de ação urgente para que todos os jovens e adultos possam exercer esse direito“. 33 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA No entanto, apesar dos esforços do governo federal para a inclusão da EJA no Fundeb, da criação do programa Brasil‑Alfabetizado, do PNLD‑EJA, das linhas de financiamento para formação de professores, enfim, da política pública delineada, temos números que nos colocam cada vez mais distantes da possibilidade de garantir a Educação Básica para todos e todas. Vale lembrar que são mais de 60 milhões de brasileiros que não concluíram o Ensino Básico. É necessário voltar a atenção para cada um dos Estados da federação e examinar as razões do avanço ou retrocesso. Além disso, é preciso renovar a EJA. É preciso perguntar em que medida estão sendo investidos recursos para a ampliação da EJA. Estariam de fato sendo aplicados os recursos destinados ao Fundeb para a melhoria e ampliação da EJA? É essencial que se faça uma escola para jovens e adultos cada vez mais desvinculada do ensino regular, com horários e formatos bastante flexíveis. Também não haverá crescimento da EJA enquanto não se constituir uma política intersetorial efetiva, pois grande parte do público da EJA se compõe de pessoas de baixa renda que precisam ter outras condições garantidas para poder voltar para a escola: creche para os filhos, atendimento de saúde, transporte, enfim, é preciso que as condições sociais desse sujeito sejam satisfatórias para que ele possa encontrar espaço para frequentar uma escola. Também sabemos que é necessário existirem professores com formação e carreira específica. No caso de São Paulo, o governador eleito, em entrevista à Rádio CBN, em 6 de janeiro de 2011, convidou a população que não concluiu o Ensino Fundamental a procurar um curso de EJA. A entrevista pode ser conferida no link: <http://cbn.globoradio.globo.com/cbn‑sp/2011/01/06/ GOVERNADOR‑PROMETE‑AUMENTO‑ACIMA‑DA‑INFLACAO‑PARA‑PROFESSORES.htm>. No entanto, é fundamental que o governo estadual abra de fato as portas e crie as condições adequadas para a população retornar à escola, pois em 2009, assim como nos anos anteriores, houve um grande fechamento de salas de aula na rede estadual, como comprovam os dados do censo escolar. Para tanto, o governo estadual pode realizar uma efetiva chamada pública divulgando a existência das salas de EJA nos meios de comunicação. Além disso, poderia realizar também um censo específico para saber qual é efetivamente a demanda. Com isso, saberíamos também quais são os locais que precisam de maior investimento em termos de abertura de novas salas de aula. Só não podemos acreditar que as pessoas não retornem à escola porque não desejam estudar. Cabe àqueles que estão à frente do governo criar os meios para que se possa avançar nos estudos e ampliar os horizontes pessoais e profissionais de cada um dos cidadãos. Fazer isso é cumprir com o que está posto na legislação brasileira. Fonte: Viver e Aprender, 2012. Sintetize as informações que essa reportagem apresenta: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 34 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 3.1 A organização dos cursos da EJA A Lei nº 9.934/96 responsabiliza os sistemas de ensino pela oferta gratuita de cursos destinados aos jovens e adultos. Os cursos presenciais e de presença flexível podem ser oferecidos por instituições escolares que mantêm cursos autorizados de Ensino Fundamental e Médio e que solicitem autorização conforme dispositivos legais e normativos dos sistemas de ensino, atendendo a todas as exigências por eles solicitadas. Para cumprir essa atribuição, os sistemas de ensino devem garantir que todos os estabelecimentos de ensino que oferecem os cursos de Educação de Jovens e Adultos ofereçam oportunidades educacionais apropriadas, respeitando as características dos educandos. Para tanto, ao desenvolver cursos de Ensino Fundamental e Médio para a Educação de Jovens e Adultos, o respeito à diversidade e às disparidades regionais e locais é tema apontado pela legislação, como forma de atender aos interesses, às necessidades e às condições de vida e de trabalho dos alunos da EJA (artigos 1º e 3º, incisos X e XI da LBD). Lembrete Devem ser garantidas aos educandos jovens e adultos oportunidades educacionais apropriadas, o ensino noturno, o respeito às suas características com o atendimento aos seus interesses, necessidades, condições de vida e de trabalho. Além disso, a LDB cita os cuidados para com os trabalhadores que não concluíram a Educação Básica. Compete ao poder público viabilizar e estimular o acesso e a permanência do trabalhador na escola, apontando, como formas de atuação junto à clientela, ações integradas, complementaresentre si. Para explicitar o uso de formas diferenciadas de atendimento a essa clientela, os sistemas de ensino são responsáveis por oferecer cursos e exames que assegurem o direito ao prosseguimento de estudos, isto é, no caso do Ensino Fundamental, a garantia de cursar o Ensino Médio, e quanto ao Ensino Médio o direito a cursar o Ensino Superior, com o mesmo valor legal dos cursos regulares (art. 26 da LDB e CNE/ CEB nº 1/00, art. 9º, inciso IV e art. 12, inciso I). Lembrete Para garantir o acesso e permanência dos alunos na escola são‑lhes oferecidos os cursos presenciais, os de presença flexível ou exames. 3.2 Como são organizadas as classes de alfabetização? O curso do ciclo I do Ensino Fundamental, do primeiro ao quinto ano, pode ser oferecido por instituições e empresas da sociedade civil e organizações sociais que se proponham a oferecê‑lo, ministrando cursos de alfabetização e pós‑alfabetização, Matemática e Estudos da Natureza e da Sociedade. 35 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA Observação A Educação de Jovens e Adultos deve atender às exigências culturais e sociais dos alunos. 3.2.1 Funcionamento por meio de cursos e exames Os cursos de Educação de Jovens e Adultos deverão ser organizados de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecidas pela Resolução CNE/CEB nº 1/00, complementada pelas Resoluções Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, estabelecidas respectivamente pelas Resoluções CNE/CEB nº 2/98 e 3/98. Há proposta curricular elaborada pelo MEC, Ministério da Educação, e pela Ação Educativa, sob a coordenação de Vera Maria Masagão Ribeiro, em 2001, para as séries iniciais do Ensino Fundamental, ciclo I, do primeiro ao quinto ano, destinadas aos jovens e adultos. Saiba mais Consulte a referida proposta: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Educação para jovens e adultos: ensino fundamental: proposta curricular – 1º segmento. RIBEIRO, V. M. M. (Org.). São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001a. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/ eja/propostacurricular/primeirosegmento/propostacurricular.pdf>. Acesso em: 18 out. 2012. Como estabelece a legislação, os cursos da Educação de Jovens e Adultos serão oferecidos em dois níveis de ensino, correspondentes ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio. Para regulamentar a frequência, há o limite de 16 anos como idade mínima para se matricular e cursar o Ensino Fundamental e 18 anos para cursar o Ensino Médio. A legislação aponta como possibilidades desse atendimento escolar, a elaboração de propostas pedagógicas que estejam de acordo com as características e necessidades dos alunos para a conclusão do Ensino Fundamental e Médio por meio da realização de cursos presenciais ou com presença flexível e de exames. Ela reconhece que a educação acontece em todos os setores da vida social, de diferentes formas. Assim, conhecimentos e habilidades que podem ser adquiridos por meios informais poderão ser reconhecidos e avaliados por meio de certificados e exames para progressão de estudos. 36 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 Os cursos oferecidos para a Educação de Jovens e Adultos seguem a mesma estrutura dos cursos regulares. Os sistemas de ensino devem, contudo, estabelecer normas complementares que regularizem a oferta desse ensino, principalmente no que diz respeito à instituição, autorização e funcionamento do atendimento individualizado e presença flexível. O quadro em seguida permite a visualização da Educação de Jovens e Adultos como modalidade cujo atendimento acontece ao lado dos níveis de ensino que são ofertados dentro da faixa etária. Permite perceber, com clareza, que a EJA inicia no Ensino Fundamental e seu término ao final do Ensino Médio, diferentemente de outras modalidades de educação. Quadro 2 Estrutura do sistema educacional Educação Básica 0 A 3 anos Creches Educação Infantil Educação Especial 4 A 5 anos Pré‑escola 6 anos 1º ano Ensino Fundamental Educação de Jovens e Adultos Educação Profissional tecnológica 7 anos 2º ano 8 anos 3º ano 9 anos 4º ano 10 anos 5º ano 11 anos 6º ano 12 anos 7º ano 13 anos 8º ano 14 anos 9º ano 15 anos 1º ano Ensino Médio 16 anos 2º ano 17 anos 3º ano 18 anos 4º ano etc. Processos seletivos – vestibulares Educação superior (Cursos sequenciais) Cursos de graduação Cursos de pós‑graduação: aperfeiçoamento/especialização/etc. Mestrado e doutorado (Cursos de extensão) Fonte: Revista Apase, (n. 6, ano VI, abr. 2007, p. 15). 37 Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA Lembrete Limite de idade para entrada/conclusão da EJA: Ensino Fundamental: 16 anos e Ensino Médio: 18 anos, o que passa pela decisão e regulamentação dos sistemas de ensino. 3.2.2 Cursos presenciais De primeira a quinta (quarta) série do Ensino Fundamental Os cursos correspondentes às quatro primeiras séries do Ensino Fundamental terão organização, duração, estrutura e certificação definidas pelas instituições ou organizações que os ministram. Geralmente, são chamados de cursos de alfabetização de adultos, sendo oferecidos por diferentes instituições públicas e particulares. De sexta (quinta) a nona (oitava) série do Ensino Fundamental Os cursos presenciais correspondentes aos quatro últimos anos do Ensino Fundamental devem ter a duração mínima de 1.600 horas de efetivo trabalho escolar, sendo 16 anos completos a idade mínima para a matrícula inicial. No caso de alunos que, durante a sua escolaridade, solicitarem a classificação ou reclassificação ou aceleração de sua aprendizagem, a idade mínima para o término do curso é de 17 anos completos. Nesse sentido, cada série do curso será oferecida em um semestre de cem dias letivos, com 400 horas mínimas de efetivo trabalho escolar, sendo chamada de termo. O curso tem a duração de dois anos. De primeiro ao terceiro ano do Ensino Médio Os cursos presenciais correspondentes ao Ensino Médio devem ter a duração mínima de 1.200 horas de efetivo trabalho escolar, sendo 18 anos a idade mínima para a matrícula inicial. No caso de alunos que solicitarem a classificação ou reclassificação ou a aceleração de sua aprendizagem a idade mínima para a conclusão é de 19 anos completos. Da mesma forma, cada série do curso será oferecida em um semestre, com 400 horas mínimas de efetivo trabalho escolar, e chamada de termo. O curso tem a duração de um ano e seis meses. 3.2.3 Outras formas de organização do ensino destinado a jovens e adultos Cursos de presença flexível A importância da aprendizagem não formal é reconhecida pela LDBEN (art. 3º, inciso X), que, além de prevê‑la, apresenta a possibilidade de certificá‑la e valoriza o uso de metodologias diversificadas, 38 Unidade I Re vi sã o: L ua nn e / V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 28 /1 1/ 20 12 como a educação a distância por meio da TV, DVD, vídeo, material impresso, rádio etc. A regulamentação dos exames presenciais é feita pelos sistemas de ensino. São oferecidos cursos da sexta (quinta) à nona (oitava) série do Ensino Fundamental e do primeiro ao terceiro ano do Ensino Médio. Telessala – Telecurso 2000 Os cursos de frequência flexível e atendimento individualizado são desenvolvidos por meio do Telecurso 2000. A regulamentação para a instalação, matrícula, constituição das turmas, quadro curricular, frequência e avaliação dos alunos, aproveitamento e registro de estudos, o papel do orientador de aprendizagem e sua formação para o atendimento de alunos por meio da telessala são atribuições dos sistemas estaduais de
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