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Livro Texto - Unidade I

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Prévia do material em texto

Autora: Profa. Juliana Ferreira de Andrade
Colaboradores: Prof. Cristiano Schiavinato Baldan
 Profa. Marília Tavares Coutinho da Costa Patrão
Ética e Deontologia
Professora conteudista: Juliana Ferreira de Andrade
Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário São Camilo (2002), pós-graduada em Fisioterapia 
Cardiorrespiratória pela Universidade Metodista de São Paulo (2005) e mestra em Bioética pelo Centro Universitário São 
Camilo (2013). Desde 2012, atua como docente da Universidade Paulista (UNIP), ministrando as seguintes disciplinas: 
Ética e Deontologia; Fisioterapia Respiratória; Estágio Supervisionado em Fisioterapia Hospitalar.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A554a Andrade, Juliana Ferreira de.
Ética e Deontologia / Juliana Ferreira de Andrade. – São Paulo: 
Editora Sol, 2022.
116 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Declaração. 2. Bioética. 3. Pesquisa. I. Título.
CDU 17.023.33
U515.66 – 22
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Profa. Sandra Miessa
Reitora em Exercício
Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini
Vice-Reitora de Administração
Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia
Vice-Reitor de Extensão
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades do Interior
Unip Interativa
Profa. Elisabete Brihy
Prof. Marcelo Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático
 Comissão editorial: 
 Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
 Profa. Dra. Angélica L. Carlini
 Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista
 Profa. Deise Alcantara Carreiro
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Vitor Andrade 
 Jaci Albuquerque
Sumário
Ética e Deontologia
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 INTRODUÇÃO À ÉTICA ......................................................................................................................................9
1.1 Moral ......................................................................................................................................................... 14
1.2 Direito ....................................................................................................................................................... 17
2 BIOÉTICA ............................................................................................................................................................. 17
2.1 Teoria principialista ............................................................................................................................. 21
2.2 Bioética no Brasil .................................................................................................................................. 23
3 PESQUISA COM SERES HUMANOS .......................................................................................................... 26
3.1 Código de Nuremberg ........................................................................................................................ 29
3.2 Declaração de Helsinque ................................................................................................................... 32
3.3 Documentos importantes para a pesquisa com seres humanos ...................................... 34
3.3.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) .............................................................. 34
3.3.2 Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos (DUBDH) ........................................ 37
3.3.3 Declaração Universal sobre o Genoma Humano e Direitos Humanos .............................. 40
3.3.4 Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos, de 2003........................ 40
4 PESQUISA COM SERES HUMANOS NO BRASIL: RESOLUÇÃO CNS N. 466/2012 ................... 42
4.1 Projeto de pesquisa versus Plataforma Brasil ........................................................................... 50
Unidade II
5 BIOÉTICA NA ÁREA DA SAÚDE .................................................................................................................. 61
5.1 Bioética na fisioterapia ...................................................................................................................... 65
6 VIDA VERSUS MORTE .................................................................................................................................... 66
6.1 Eutanásia ................................................................................................................................................. 72
6.2 Distanásia ................................................................................................................................................ 77
6.3 Ortotanásia ............................................................................................................................................. 79
6.4 Introdução aos cuidados paliativos .............................................................................................. 80
6.5 Mistanásia ............................................................................................................................................... 83
7 DEONTOLOGIA E CÓDIGO DE ÉTICA DA FISIOTERAPIA ..................................................................... 84
8 REFERENCIAL NACIONAL DE PROCEDIMENTOS FISIOTERAPÊUTICOS ......................................100
7
APRESENTAÇÃO
Prezado(a) aluno(a), bem-vindo(a) ao estudo desta disciplina.
Neste livro-texto, abordaremos as diferenças entre ética, moral e direito, além do significado e da 
importância do estudo da bioética para o curso de fisioterapia.
Vamos compreender a relevância do código de ética profissional, que norteará seus atendimentos 
para que eles sejam éticos, bioéticos e baseados no respeito ao outro em todas as suas dimensões.
Os objetivos gerais desta disciplina são: conceituar ética e bioética; discutir diferenças entre 
ética/bioética, moral e direito; discutir os principais códigos e declarações sobre direitos humanos; 
identificar os diferentes modelos explicativos utilizados em bioética; apresentar as normativas da 
profissão e conceituar e diferenciar eutanásia e distanásia.
Nesta disciplina, você poderá entender a importância de se tornar um profissional ético e humano 
por meio do conhecimento da ética, da bioética e do código de ética, sempre respeitando seu paciente 
em todas as suas dimensões bem como seus colegas de profissão.
Por meio da leitura do conteúdo estudado neste livro-texto, esperamos que você não apenas 
compreenda a importância de se tornar um profissional ético e respeitar o código de ética, mas se torne 
um profissional com um olhar humanizado.
INTRODUÇÃO
Cada unidade deste livro-texto apresenta uma particularidade do tema e foi organizada com o 
objetivo de facilitar seu percurso dentro da temática.
Afinal, você sabe o que é ética? Como ela surgiu e qual a diferença entre ética, moral e direito?
Inicialmente, na unidade I, você compreenderá o que é ética e o que é moral. Será acentuado 
que é essencial respeitar as pessoas como seres humanos, afastando qualquer tipo de preconceito e 
preservando suaintegridade moral e ética. Serão abordados conceitos sobre bioética e sua importância 
na área na saúde. Também serão destacados alguns documentos universais para a realização de pesquisa 
com seres humanos respeitando preceitos éticos e bioéticos.
Ainda na unidade I, veremos a importância de utilizar a ética e a bioética para pesquisa com seres 
humanos no Brasil, bem como documentos e normas regulamentadoras que norteiam essas pesquisas 
no país. Você sabia que no Brasil há uma resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) específica 
para guiar as pesquisas com seres humanos? Sabia que para efetuar esse tipo de pesquisa ela deve ser 
encaminhada para a apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa?
Posteriormente, na unidade II, o objetivo é destacar a importância de zelar pela assistência adequada 
ao paciente, respeitando os preceitos do código de ética em todas as circunstâncias, inclusive no que 
8
se refere à utilização da rede mundial de computadores para fins profissionais. Será que o profissional 
pode realizar teleatendimentos? Será que é permitido publicar na rede de computadores uma foto de 
seu atendimento?
Você sabia que se não cumprir com seus deveres poderá perder seus direitos? Será acentuada a 
obrigatoriedade de cumprir as normas dos órgãos competentes. Para tal, é preciso entender a legislação 
específica dos ambientes e as ações de pesquisa, considerando a segurança da pessoa, da família ou 
coletividade e do meio ambiente acima do interesse da ciência. Em relação aos procedimentos realizados 
pelo profissional, você sabia que existe um referencial para orientar o profissional em relação ao valor a 
ser cobrado em seu atendimento?
Por fim, lembre-se de que, além do conteúdo proposto, é vital estudar a bibliografia complementar 
indicada neste livro-texto.
Bons estudos!
9
ÉTICA E DEONTOLOGIA
Unidade I
1 INTRODUÇÃO À ÉTICA
Hoje se fala muito em ética, seja na política, seja na sociedade em geral. Mas você sabe o que é ética?
A palavra ética tem origem no termo grego ethos e significa caráter, hábito, costume, modo de ser; 
o propósito da ética e a distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado; ou seja, a escolha do melhor 
caminho para uma vida “boa” dentro de um contexto social, seja ele individual, seja ele coletivo. Ela é 
histórica e socialmente construída através das relações humanas. A ética é baseada nas virtudes e nos 
comportamentos; ela não nos proporciona conforto, e sim dilemas.
A ética é assunto discutido há mais de 2 mil anos e ainda é um tema atual e necessário para o 
convívio em sociedade. E como reconhecer uma atitude ética? Tenha sempre em mente na hora de agir 
que ética é:
• tudo que for bom para você e para a sociedade;
• tudo o que for justo;
• tudo o que for verdadeiro;
• tudo que for correto.
Nunca pegue nada 
que não for seu! 
Isso é ética
 
Figura 1 
A ética, também denominada filosofia moral, pode ser considerada uma ciência que busca investigar as 
ações humanas e suas condutas morais. Ela tem por objetivo discutir, problematizar, indagar e interpretar 
os valores morais (CHAUÍ, 2012). Podemos dizer que a ética é adquirida através do comportamento 
humano diante de diversas situações cotidianas.
 
10
Unidade I
[...] a ética observa o comportamento humano e aponta seus erros e desvios, 
além de formular os princípios básicos a que deve subordinar-se a conduta 
do homem; e, a par de valores genéricos e estáveis, a ética é ajustável a cada 
época e circunstância (ACQUAVIVA, 2002, p. 27).
O conceito de ética tem sua origem em grandes filósofos gregos como Sócrates, Platão e Aristóteles, 
que desde a Antiguidade tinham uma preocupação com os valores de honestidade e fidelidade de uma 
vida em sociedade.
Sócrates (470-399 a.C.) foi considerado o “pai da ética”, pois a sua filosofia era baseada no 
conhecimento e na construção do homem mediante virtudes para que este atingisse a felicidade. Ele 
tinha o costume de dialogar com as pessoas em locais públicos indagando os cidadãos sobre seus 
valores – os quais ele denominava como virtudes – e sua essência através de questionamentos que 
despertavam nos cidadãos uma reflexão sobre suas ações e suas virtudes. “Por que o bem é uma virtude 
e o mal é considerado como um erro?”. As virtudes são essenciais para que o homem atinja a felicidade. 
Para ele, bondade, conhecimento e felicidade caminham juntos, assim, age eticamente aquele que ao 
conhecer o bem não deixa de praticá-lo e sente-se feliz ao fazê-lo. As virtudes são valores que vêm de 
dentro para fora e a felicidade, portanto, só pode ser alcançada quando conhecemos a nós mesmos e 
quando conhecemos nossas virtudes (HOBUSS, 2014).
O homem possui uma alma que está relacionada a consciência e personalidade intelectual e moral, 
razão e conhecimento e, portanto, é considerada como racional. Quando o homem utiliza a virtude 
que vem de sua alma, ele age com a razão e, assim, exerce seu autocontrole e se torna justo ao tomar 
uma decisão, deixando as emoções de lado e, portanto, não sendo inconsequente, ambicioso, dono da 
verdade em sua ação, dizia Platão (HOBUSS, 2014).
Virtude
A virtude da alma (ou seja, 
aquilo que a torna perfeita) é 
a ciência e conhecimento; 
manifesta-se como
Liberdade
Libertação da parte 
racional (= verdadeiro homem) 
em relação à passional; 
corresponde à liberdade 
interior
Não violência
A razão se impõe pela 
convicção e não 
pela força
Autodomínio
Domínio da razão 
sobre as paixões
Alma
A alma é a consciência e a personalidade 
intelectual e moral, sobretudo razão e conhecimento; 
o corpo é instrumento da alma
Vício
O vício é ignorância, por isso:
ninguém peca voluntariamente 
(pecado = erro);
as diversas virtudes são recondutíveis à 
unidade (= ciência do bem e do mal) e, 
também, o vício (ignorância do bem 
e do mal)
Figura 2 – A alma e o homem
Fonte: Reale e Antiseri (2007, p. 108).
11
ÉTICA E DEONTOLOGIA
Já para Platão (428-347 a.C.), a alma podia ser dividida em três partes: a racional, que nos faz ir 
atrás do conhecimento; a irascível, responsável pela produção de emoções; e a apetitiva, que está 
associada à busca de prazer. Assim como Sócrates afirmava que uma atitude ética deve ser baseada 
no uso racional das virtudes, pois, se agirmos com a emoção, poderemos nos precipitar e até sermos 
injustos e, portanto, infelizes.
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, afirmava que para alcançar a felicidade devemos 
encontrar um meio-termo entre razão e emoção, entre excesso e escassez, ou seja: nem tanto razão, nem 
tanto emoção; nem tanto excesso, nem tanto escassez. Para ele, por exemplo, o amor é considerado como 
uma virtude e é o meio-termo entre a paixão considerada como o excesso e a indiferença considerada 
como a escassez. Desse modo, é possível chegar ao meio-termo, ou seja, ao amor, através do uso da 
razão. Sendo assim, ao encontrar o meio-termo, o homem encontra o que é considerado como o 
“bem”, que para Aristóteles é o caminho para a felicidade. O bem para Aristóteles é considerado como 
a finalidade de todas as coisas.
 Saiba mais
Para entender mais sobre valores éticos, a capacidade de tomar decisões 
coerentes ou não de acordo com seus valores pessoais e sobre valores 
humanos, assista ao filme a seguir.
À ESPERA de um milagre. Direção: Frank Darbont. EUA: Warner Bros., 
1999. 189 min.
Por sua vez, a ética essencialista é definida a partir de três aspectos: o agir em conformidade 
com a razão; o agir em conformidade com a natureza e com o caráter natural de cada indivíduo; a 
união permanente entre ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade). Portanto 
a ética para os antigos era uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) com o objetivo de 
propiciar uma harmonia entre o indivíduo e os valores coletivos, sendo ambos (indivíduo e valores 
coletivos) virtuosos.
Com o cristianismo, através do pensamento de São Tomás de Aquino (1225-1274) e de Santo 
Agostinho (354-430), surgiu a ideia de que a virtudeé definida a partir da relação com Deus, e não com 
a pólis (cidade) ou com os outros indivíduos, sendo Deus, nesse momento, o único mediador entre os 
indivíduos. Dessa forma, as duas principais virtudes dessa época foram a fé e a caridade. O livre-arbítrio 
é consolidado nessa época, sendo que o primeiro impulso de liberdade se relaciona com o pecado (mal). 
Com isso, o homem passa a ser considerado fraco, dividido entre o bem e o mal – um pecador, sendo a lei 
divina a melhor conduta a ser tomada. Consequentemente, surgiu o dever; segundo Santo Agostinho, 
“ama e faz o que queres, porque se amas corretamente, tudo quanto faças será bom”.
Com as revoluções religiosas a partir do século XVIII, o mundo passou por diversas transformações. 
Descartes (1596-1650) criou o racionalismo cartesiano, que diz que a razão é o caminho para a verdade, 
12
Unidade I
e, para chegar a ela, é preciso ter um discernimento e um método. Naquela época, em oposição à fé, 
surgiu o poder exclusivo da razão de discernir, distinguir e comparar.
A ética moderna traz o conceito de que os seres humanos devem ser tratados sempre como fim 
da ação, e nunca como meio para que eles alcancem seus objetivos. Immannuel Kant (1724-1804), 
um dos principais filósofos da Modernidade, afirmava que “não existe bondade natural. Por natureza 
somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos saciam 
e pelos quais matamos, mentimos e roubamos”. Para Kant não podemos ser escravos dos desejos; se 
permitirmos sermos dominados por nossos impulsos, desejos e paixões, não teremos autonomia ética, 
já que a natureza acaba nos conduzindo de tal forma que passamos a usar as pessoas e as coisas para o 
que desejamos. Para Kant, e sua ética normativa, ato moral deve estar de acordo com a vontade e com 
as leis universais, já que o homem é o centro da moral e do conhecimento, defendendo o imperativo 
categórico em que a ação pode ser praticada por todos, porém sem prejuízo à humanidade.
É vital salientar que a ética não deve ser considerada apenas como uma ação ou um comportamento. 
Ela é caracterizada por ser uma crítica reflexiva de valores morais, proporcionando aos seres humanos 
uma reflexão sobre seus atos, suas condutas e a repercussão de sua atitude em relação ao outro, 
contribuindo para um convívio em sociedade e relações interpessoais e profissionais harmoniosos. A 
ética é construída no dia a dia, não nascemos éticos, nos tornamos éticos ao longo do tempo.
O homem é visto como sujeito histórico-social, e sua ação não pode ser analisada fora da coletividade, 
portanto a ética passa a ter dimensionamento político: para que uma ação seja considerada eticamente 
boa ela deve ser politicamente boa, contribuindo para a distribuição igualitária do poder entre os homens.
O ser humano é livre para tomar suas decisões, porém deve estar ciente de suas consequências. 
Deve ter a ciência de que uma atitude ética pode trazer consequências benéficas para suas ações e 
relacionamentos interpessoais e profissionais, contribuindo para um melhor convívio em sociedade, 
conforme observamos na citação a seguir:
 
[...] É o homem, o ser humano, isto é, cada indivíduo em determinadas 
circunstâncias, em determinada “situação”, que por sua livre escolha cria 
o valor de seu ato. Todos os valores são relativizados, exceto aquele que a 
liberdade outorga a si mesma, quando se considera fim supremo [...] (SARTRE 
apud LIMA, 2007).
Para que um sujeito seja considerado ético, deve haver liberdade de pensamento e reflexões sobre 
as consequências de suas atitudes, escolhas e de suas decisões. Uma conduta ética deve ser pautada 
na consciência para se distinguir o bem do mal, o certo do errado, proporcionando uma capacidade de 
julgamento do valor e das condutas da sociedade, sendo, portanto, a consciência e a responsabilidade 
elementos fundamentais.
De acordo com Mario Sergio Cortella (s.d.), ética é o conjunto de princípios que usamos para 
responder a três grandes questões na vida:
13
ÉTICA E DEONTOLOGIA
• Quero?
• Devo?
• Posso?
Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu 
quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o 
que você deve.
E você, já pensou sobre isso?
A ética é ação que vem de dentro para fora, surge através de valores intrínsecos dos seres humanos, 
valores estes que são considerados como naturais e que auxiliam o ser humano na decisão sobre o que 
é certo e o que é errado em determinada ação.
A ética é uma ciência, uma disciplina filosófica que estuda os valores e princípios morais de uma 
sociedade e seus grupos; procura refletir sobre eles buscando encontrar um equilíbrio, estando, portanto, 
associada a um sentimento de justiça social, porém não pode ser confundida com lei. Ela é o estudo 
da ação – práxis; o estudo sobre o “conhecimento” – como a ciência, ou a lógica – e o estudo sobre o 
“valor” – seja ele artístico, moral, ou científico, e está presente o tempo todo, em decisões familiares, 
políticas ou no trabalho, por exemplo.
Perante nossos atos devemos constantemente nos questionar, refletir sobre a ação que antecede 
uma decisão, a atitude que será tomada diante de um conflito de valores para termos a devida certeza 
de que nossa atitude é considerada ética.
 
Zeca, acho que vou ultrapassar 
o farol vermelho, estou atrasado 
para chegar ao barbeiro!
Isso é certo?
Você pode prejudicar alguém 
com essa atitude?
Você diria ao seu filho 
para fazer isso?
 
Figura 3 – Certo ou errado?
14
Unidade I
Com a resposta a esses questionamentos feitos pelo “Zeca”, podemos determinar se nossas atitudes 
são éticas ou não perante a sociedade e perante os nossos valores morais. Porém podemos afirmar que 
uma pessoa é ética o tempo todo?
Com o passar dos anos, o homem vai definindo e fortalecendo valores, delineando o seu caráter, 
pois a consciência dos atos e dos conflitos vivenciados ao se tomar uma decisão, ao agir e assumir 
responsabilidades é responsável pela construção da ética individual. A ética é construída diariamente 
através da tomada de decisões e reflexões sobre as consequências dessas decisões.
Nós não nascemos éticos, porém temos a liberdade de sermos éticos durante nosso processo de 
humanização. Ser ético está relacionado ao modo como vamos nos comportar perante o outro em uma 
sociedade e perante nós mesmos. No relacionamento com o outro, no convívio em sociedade, devemos 
estar atentos às diferenças e aos possíveis conflitos que essas diferenças podem gerar, almejando sempre 
um equilíbrio entre a razão e a emoção como condição sine qua non para uma tomada de decisão ética.
Ao considerar o contexto histórico e o momento atual, nós nos deparamos com um problema 
ético-político em que determinadas “forças” e ideologias estão exercendo um domínio nas esferas 
sociais e econômicas, e essas mesmas “forças” e ideologias estão tentando controlar a mídia, pois 
sabem que através do esclarecimento da sociedade seria possível uma dissolução de tal ideologia. 
Atualmente, a ética fundamenta-se em seguir normas, regras, trata-se de uma obrigação do dever (ética 
da obediência), impedindo o homem de exercer seu livre-arbítrio, pensar e agir; hoje o homem se adapta 
a diversas situações, e a capacidade de reflexão e de decisão pessoal passa a ser inexistente.
 Observação
Diversos pensadores gregos falavam sobre a ética e o ser ético e os 
conceituaram, porém Aristóteles, Sócrates e Platão foram os precursores do 
tema. Na atualidade, temos grandes personalidades que abordam o tema 
– ética – em nossa sociedade, como Leandro Karnal, Mario Sergio Cortella, 
Clóvis de Barros Filho.
1.1 Moral
Você sabe o que significa moral? Provavelmente, já ouviu a frase “Você não tem moral para falar sobre 
isso comigo?”. Vamos entender o seu significado de moral para entendermos o significado dessa frase.
Contudo, antes de entender o significado de moral, devemos entender o devalor. Etimologicamente, 
valor provém do latim valere e está relacionado com o momento cultural de uma sociedade, associado a 
uma noção de preferência – aquilo que vale para um determinado grupo. Já a moral é considerada um 
sistema de valores que resultam em normas consideradas corretas para determinado grupo/sociedade; 
um conjunto de regras que não está relacionado ao íntimo do ser humano e que cada pessoa deve 
seguir para que seja aceita em um grupo/ sociedade.
15
ÉTICA E DEONTOLOGIA
A moral não é considerada como ciência, mais sim como um conjunto de normas e valores 
baseados nos costumes de uma sociedade em determinada época histórica, seguindo os princípios 
estabelecidos por esta sociedade nessa época em questão. Ela não é inata ao ser humano, é adquirida 
social e historicamente de acordo com costumes, regras e relações coletivas de determinada sociedade. 
São normas, não imperativas, que regem o comportamento do ser humano, que regulam a conduta 
humana em sociedade e a conduta humana individual, e o seu cumprimento ou não depende do 
caráter de cada um.
A moral está contida nos códigos, fixando as normas do agir de uma pessoa em sociedade. Ela regula 
o comportamento humano, estabelecendo direitos e deveres e, consequentemente, as normas. Já à ética 
cabe apenas descrever uma norma moral e disciplinar por meio da ciência.
O homem é o único ser vivo dotado de uma consciência e de uma moral, pois é capaz de distinguir 
suas condutas, de decidir sobre o que é certo e o que é errado, tendo a liberdade de escolher o seu 
próprio caminho e de agir de acordo com seus valores, resultando em um comportamento aceitável 
pela sociedade. Quando agimos contra os nossos valores, contra a nossa moral, temos a sensação de 
estar agindo erroneamente, indo contra os nossos princípios e os valores adquiridos.
Nesse instante, é importante acentuar que temos dois tipos de moral:
• moral individual: forma de agir de um ser humano como pessoa perante o mundo, a outras 
pessoas e à sociedade;
• moral coletiva: maneiras de agir ou conjunto de atitudes que é imposto aos membros de 
uma sociedade.
Quadro 1 – Diferenças entre ética e moral
Ética Moral
Estudo das ações humanas e suas consequências – 
reflexão sobre a moral
Constituída por juízos de valor, costumes e crenças 
de um povo
Normas e regras guiadas pela sociedade Normas e regras pessoais guiadas pela consciência
Construída a partir de vários valores morais Construída através do modo de agir ao longo da vida; fundamenta a ética 
A moral faz parte da ética, pois a ética é uma crítica reflexiva sobre esses valores e princípios morais 
para uma boa convivência em sociedade, sobre o comportamento do homem em relação a uma atitude, 
ao outro, a um problema etc. É considerada como uma parte subjetiva da ética.
Um sujeito ético moral, consciente, é aquele que sabe conduzir suas ações rumo ao bem e à felicidade, 
controlando seus desejos e impulsos, agindo com a razão, não se submetendo a desejos incontroláveis 
ou ao dinheiro como resultado de suas ações. Ele é livre para fazer suas escolhas e é responsável pela 
escolha de seus atos (CHAUÍ, 2012).
16
Unidade I
Um sujeito ético moralmente é aquele que possui a consciência daquilo que pode ser feito em 
sociedade, evitando comportamentos e condutas que podem “ferir” uma boa convivência, optando 
sempre pelo caminho do “bem”, do “correto”, do “aceitável” para uma boa convivência em sociedade, 
sem a necessidade do uso de força e/ou coação. Os valores morais encontram-se dentro da consciência 
de cada ser humano e cabe a cada um julgar o que é certo e o que é errado.
 Observação
Ética e moral são conceitos básicos que regem os atos e as decisões ao 
longo da vida, porém a ética não estabelece regras como a moral.
Na tirinha da personagem Mafalda (a seguir), ela é colocada em uma situação em que lhe permite 
obter vantagem de forma desonesta, ficando com o troco. Todavia, de acordo com sua consciência e 
com seus valores, Mafalda não age de forma desonesta e devolve o troco à mãe. Se considerarmos o 
exemplo da frase no início deste tópico – “Você não tem moral para falar sobre isso comigo”! –, podemos 
entender que uma pessoa que age de forma desonesta não pode culpar a outra que também agiu da 
mesma forma, pois as duas foram contra seus valores morais.
Figura 4 – A moral e a ética
Fonte: Quino (2003, p. 217, tira 3).
E agora, você já consegue conceituar ética?
 Lembrete
A moral está associada a valores que carregamos em nossa consciência 
e nossa alma e que foram adquiridos de acordo com nossa cultura e época 
histórica em que vivemos. O uso da moral nos torna sujeitos éticos. A ética 
é coletiva, já que ela regula a vida em coletividade.
17
ÉTICA E DEONTOLOGIA
1.2 Direito
A palavra direito tem origem no latim directum, derivada do verbo dirigere, cujo significado é 
ordenar, estando ligado a justiça e equidade. Do direito surgiram as normas de caráter obrigatório, que 
deverão ser observadas e respeitadas pelo ser humano. O direito foi criado devido à necessidade de 
estabelecer regras para o convívio do homem em sociedade através de elaboração de leis que garantem 
direitos e deveres ao ser humano, bem como proíbem certas atitudes que podem dificultar a convivência 
em sociedade (SILVA, 2016).
O direito está relacionado com uma competência humana externa, ou seja, está relacionado a uma 
ação humana depois que ela foi exteriorizada, realizada. É um ato normativo que tem como objetivo 
obter determinada conduta humana. Ele também se relaciona com o sentido de justiça. Trata-se de 
regras imperativas que o indivíduo é obrigado a cumprir independentemente de seu caráter, pois 
essas regras estão relacionadas com condutas essenciais para o convívio em sociedade, que objetivam o 
bem coletivo e o equilíbrio das relações humanas. No direito as regras não estão sujeitas ao livre-arbítrio 
de cada um e podem até usar força coercitiva para seu cumprimento.
Direito e moral, apesar de possuírem uma grande semelhança por regularem o comportamento 
humano e constituírem regras de comportamento, se distinguem em sua forma de punição quando da 
violação das regras. No direito existe uma punição típica para cada “violação” de regras de comportamento, 
o que não acontece na moral, já que nesta a punição está associada apenas à consciência do ser 
humano. No direito, a punição é imposta pelo Estado através de uma coerção, levando o indivíduo a 
um constrangimento; já na moral, a punição é imposta, porém sem coerção, pela própria consciência, 
podendo levar o indivíduo ao arrependimento.
O direito também possui códigos específicos compostos de leis que regem uma sociedade, 
estabelecendo uma relação direta com o Estado. Por sua vez, a moral não possui códigos específicos 
nem essa relação direta com o Estado.
 Lembrete
A ética é uma ciência, uma crítica reflexiva sobre o que é bom ou 
mau, bem como sobre o comportamento humano. Ela não fixa regras 
como a moral e o direito, ela analisa criticamente as regras impostas pela 
moral e pelo direito.
2 BIOÉTICA
O assunto tratado neste tópico é muito importante para todas as áreas da saúde. Afinal, você sabe 
o que é e para que serve a bioética? Anteriormente, estudamos os conceitos de ética, moral e direito. 
Será que a bioética tem o mesmo significado que a ética?
18
Unidade I
Para entender o conceito de bioética, é preciso voltar um pouco na história e relembrar alguns 
movimentos e descobertas significativas que contribuíram para a necessidade da criação de um novo 
campo de conhecimento, focado na ética, na vida e na humanização.
Na época de Hipócrates, de Cos (século IV a.C.), considerado o “pai da medicina”, as camadas sociais 
eram bem definidas – em formato de pirâmide; na base estava a grande maioria das pessoas (escravos, 
prisioneiros de guerras); no meio, estavam os cidadãos (artesãos, agricultores); no topo, governantes, 
sacerdotes e médicos. Por se encontrarem no topo da pirâmide, os médicos tinham a função de curaras pessoas e, portanto, eram considerados como semideuses. Ao longo do tempo, a sociedade deixou 
de ser piramidal, porém a posição no topo da pirâmide e a denominação de semideuses concediam aos 
médicos o poder de serem superiores, melhores que os outros (JUNQUEIRA, 2007).
 Observação
Paternalismo: médicos assumem o papel de pai perante os pacientes. 
Essa atitude paternalista é identificada em muitos profissionais de 
medicina até hoje. Assim, tem-se a ideia de que os médicos são melhores 
que os pacientes e, portanto, não permitem que o paciente exponha a sua 
vontade (autonomia).
No século XVII, a figura histórica que se destacou foi René Descartes, que conferiu a este 
período histórico a denominação de período cartesiano ou cartesianismo. Naquela época, o saber foi 
fragmentado, contribuindo para o desenvolvimento da ciência e de uma superespecialização do saber. 
Essa fragmentação do saber no campo da saúde levou ao entendimento de que o paciente é uma pessoa 
única e que deve ser considerado em sua totalidade e em todas as suas dimensões, e não em partes, ou 
seja, não se deve estudar apenas a parte que irá ser tratada, mas sim o todo.
No século XIX, com a evolução dos microscópios, vários microrganismos foram descobertos, 
mudando o foco do “paciente” para a “doença”. Assim, os médicos passaram a se preocupar em estudar 
o que causava a doença e suas consequências ao paciente. A partir dessa época, a preocupação com os 
avanços tecnológicos se sobrepuseram aos cuidados com o paciente.
Em meados do século XX, foram observados aspectos importantes, como: alterações climáticas, 
aumento populacional pós-Segunda Guerra Mundial, bem como a exploração de recursos e o 
aparecimento de novas tecnologias biológicas, atômicas e químicas, que colocaram em risco a vida no 
planeta. Desse modo, foi necessário criar um novo campo de conhecimento que proporcionasse ao ser 
humano um questionamento sobre suas ações perante os seres vivos como um todo.
O norte-americano Van Rensselaer Potter foi um pesquisador e professor da área de oncologia 
que, preocupado com os avanços tecnológicos e científicos, ensejou a criação de um novo ramo do 
conhecimento que auxiliasse as pessoas a pensar nas implicações positivas e/ou negativas desses avanços 
sobre a vida dos seres vivos (não necessariamente apenas dos seres humanos). Ele sugeriu, portanto, 
que fosse criada uma ponte entre os conhecimentos científicos e humanísticos. Em seu livro Bridge 
19
ÉTICA E DEONTOLOGIA
to the future (1971), Potter manifestou sua preocupação com a eclosão populacional e os malefícios 
ocasionados ao planeta. Dessa forma, ele buscou estabelecer um diálogo entre as ciências da vida (bios) 
e a sabedoria prática (ethos) – bioética (FISHER et al., 2017).
Criada por Van Rensselaer Potter em 1970, a bioética é definida como um estudo interdisciplinar no 
contexto das ciências da vida e da atenção à saúde, voltado para a análise de decisões, formulação de 
juízos práticos e políticos sobre decisões, e atos voltados aos princípios morais, envolvendo domínios 
acadêmicos, profissionais, técnicos e científicos. Porém, de acordo com Pessini (2013), no sentido 
histórico, o termo bioética é mais antigo. Ele apareceu na literatura em 1927, proposto por Fritz Jahr no 
periódico alemão Kosmos, em um artigo denominado “Bioética: uma revisão do relacionamento ético 
dos humanos em relação aos animais e plantas”.
 Saiba mais
Para entender mais sobre o paternalismo hipocrático, a importância de 
um novo campo de conhecimento e o valor da pessoa humana, assista:
PATCH Adams. Direção: Tom Shadyac. EUA: Universal Pictures, 
1998. 115 min.
A bioética pode ainda ser definida como a “ética da vida”, uma ciência que tem por objetivo 
indicar os limites e a finalidade da intervenção do homem sobre a vida. Para tal, deve haver uma 
interdisciplinaridade envolvida para discutir os impactos da tecnologia sobre o homem, os seres vivos 
e, portanto, sobre a vida. Para entender um pouco sobre o conceito e a aplicação da bioética, devemos 
conhecer alguns aspectos históricos importantes.
De acordo com Lepargneur (1996, p. 16), a bioética pode ser o
 
estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e dos 
cuidados da saúde, na medida em que esta conduta é examinada à luz dos 
valores e princípios morais.
[...] a resposta da ética aos novos casos e situações originadas da ciência no 
campo da saúde. Poder-se-ia definir a bioética como a expressão crítica do 
nosso interesse em usar convenientemente os poderes da medicina para 
conseguir um atendimento eficaz dos problemas da vida, saúde e morte do 
ser humano (LEPARGNEUR, 1996, p. 16).
A bioética está pautada no valor da pessoa humana e é esse fundamento que nos guiará em nossas 
decisões para dilemas e angústias com os quais vamos nos deparar na vida profissional. Contudo, você 
sabe definir o que é “pessoa humana”? Parece fácil responder, afinal somos “pessoas humanas”. Será?
20
Unidade I
Cada pessoa é única, ou seja, o fato de sermos pessoas não significa que somos iguais e, sim, 
diferentes. Até os gêmeos são diferentes, e isso não significa que um é melhor que o outro. Cada 
pessoa tem suas características, seus desejos, seus valores e suas necessidades e tudo isso deve ser 
respeitado. Ao mesmo tempo, somos compostos de diversas dimensões (biológica, psicológica, moral 
ou social e espiritual), as quais também devem ser respeitadas, assim, quando o fazemos, podemos 
ter a certeza de que estamos sendo éticos. Pelo simples fato de sermos pessoas, possuímos valor, e 
esse valor se chama dignidade, e nesse aspecto somos todos iguais; ou seja, mesmo sendo diferentes, 
somos todos providos de dignidade.
 
[...] a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz 
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da 
comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres 
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de 
cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições 
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover 
sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e 
da vida em comunhão com os demais seres humanos (SARLET, 2001, p. 60).
Quando falamos em pessoa humana, sabemos que ela é provida de uma vida, vida esta que é iniciada 
no momento da fecundação, em que há a formação de um novo código genético. A vida humana e seu 
valor também são conceitos importantes para uma reflexão ética e bioética.
A bioética surgiu nos EUA e expandiu-se pelo mundo baseada nos quatro princípios (teoria 
principialista) propostos por Beauchamp e Childress em 1979: autonomia, beneficência, não 
maleficência e justiça. Nos anos 1990, a comunidade acadêmica observou que apenas esses princípios 
eram insuficientes para resolver conflitos éticos em situações clínicas mais complexas, iniciando-se 
assim o desenvolvimento de um pensamento bioético global em busca de referenciais bioéticos 
(LORENZO; BUENO, 2013).
Atualmente, os conceitos de bioética não envolvem apenas as áreas da medicina e da saúde, pois 
foram incorporados também pela antropologia, sociologia, filosofia, direito, educação, engenharia 
genética etc., conforme a descrição de Dallari (2008):
 
No ano de 1993 ao ser implantado o Comitê Internacional de Bioética, por 
iniciativa da Unesco, foi assinado que ele tinha sido criado em decorrência 
das preocupações éticas suscitadas pelos progressos científicos e 
tecnológicos relacionados com a vida, sobretudo no âmbito da genética. 
Entretanto, a consideração da vida humana em si mesma e das relações 
dos seres humanos com outros seres vivos e com a natureza circundante 
tem ampliado rapidamente a extensão e a diversidade da abrangência da 
bioética, à medida que cada reflexão ou discussão revela a necessidade de 
consideração de novos aspectos.
21
ÉTICA E DEONTOLOGIA
 Observação
A bioética nos norteia a tomar decisões importantes,nos mostra como 
nos relacionar com nosso paciente de forma ética e humanizada; nos guia 
em nossas angústias e dilemas durante a prática clínica. Sem os conceitos 
básicos da bioética, dificilmente conseguiremos enfrentar um dilema de 
maneira ética/humanizada.
2.1 Teoria principialista
Vamos abordar acontecimentos relevantes ocorridos no período da Segunda Guerra Mundial que 
mostraram a necessidade de elaboração de documentos éticos que norteariam as pesquisas com seres 
humanos, já que naquela época diversos experimentos foram realizados sem que fosse respeitado o 
valor da pessoa humana. Primeiro, vamos estudar os princípios que norteiam essas pesquisas, bem como 
as decisões éticas perante qualquer dilema, angústia ou conflito ético vivenciado.
A teoria principialista não foi nenhuma inovação; a não maleficência e a beneficência já eram 
claramente enunciadas no Juramento Hipocrático e incorporadas às práticas médicas; a justiça também 
já havia se feito presente em vários diálogos de Platão, na voz de Sócrates, e a autonomia passou a se 
consolidar na sociedade desde as Revoluções dos séculos XVII e XVIII. Pode-se observar que os princípios 
atendem plenamente algumas das situações na área da biomedicina, mas não atendem situações de 
outras áreas abrangidas pela bioética, a exemplo da ética envolvendo animais ou o meio ambiente 
(HOSSNE, 2008).
Na teoria de princípios, há referências a partir das quais as reflexões bioéticas acontecem, não 
sendo necessário definir se é princípio pertencente ao universo dos deveres ou ao universo dos direitos, 
sentimentos, conceitos, fundamentos, condições etc., como pode ser observado na citação a seguir, 
extraída da obra de Silva, Segre e Selli (2007, p. 62-63):
 
[...] é óbvio que ela (bioética) não pode ser apenas um sistema de princípios 
ou um conjunto de regras. A ausência de valores dotados de universalidade 
real e a impossibilidade de objetivar o sujeito na sua integridade exigem uma 
moralidade aberta à constante invenção, sem o apoio de qualquer lógica 
e de qualquer axilogia. Aí está uma característica marcante da bioética: a 
relação humana vivida no regime da singularidade é o eixo em torno do qual 
gira a conduta. Nas situações de fato, os princípios se mostram abstratos 
e as regras, imprecisas. Isso porque dignidade, humanidade, subjetividade, 
liberdade não são princípios nem regras, são modos indefinidamente 
abertos de viver a relação humana, são temas sujeitos a infinitas variações 
nas nossas relações concretas com os outros.
22
Unidade I
Após a compreensão sobre o valor da pessoa humana e sobre a importância do respeito pela dignidade 
da pessoa humana, em 1978 foi elaborado o Relatório Belmont, que teve como objetivo a criação 
de quatro princípios éticos que norteariam as pesquisas com seres humanos e que, posteriormente, 
em 1979, após a publicação da obra Principles of biomedical ethics, de Beauchamp e Childress, esses 
princípios foram utilizados na prática médica como ferramentas para auxiliar o profissional a enfrentar 
dilemas/conflitos éticos:
• Beneficência. Fazer o bem. Envolve a realização de atos de bondade e misericórdia, estando 
relacionados à benevolência – agir beneficamente a favor do outro (sedare dolorem divinum est). 
Este princípio já estava implícito no Juramento de Hipócrates (aquele feito pelos profissionais 
da medicina no momento de sua formatura). Toda vez que um tratamento for proposto a um 
paciente, devemos reconhecer a sua dignidade e respeitá-lo em todas as dimensões, desejando o 
melhor para o paciente para promover saúde, restabelecer saúde ou para prevenir um mal maior.
• Não maleficência. Não acarretar mal ou dano ao paciente em seu tratamento. Antes de tudo, 
não prejudicar (primum non nocere). Obrigação de não causar dano de forma intencional.
• Autonomia. Envolve a capacidade de autodeterminação de uma pessoa, bem como a capacidade 
de decisão livre de influências externas, as quais possam controlar ou limitar sua realização. 
A pessoa deve ser livre para decidir e estar livre de pressões externas, que podem ocasionar 
um prejuízo em sua capacidade de decisão. Contudo, a autonomia não pode ser exercida por 
pessoas que não tenham suas faculdades mentais adequadas, e crianças também não podem 
expressar sua vontade.
• Justiça. O que é devido a uma pessoa. Igualdade de tratamento levando em consideração a 
equidade, ou seja, a cada pessoa deve ser dado aquilo que lhe é devido de acordo com suas 
necessidades. É preciso respeitar o direito de cada um com imparcialidade, ou seja, a decisão não 
deverá prejudicar nem o profissional nem o paciente (EUA, 1978).
Além desses princípios, há seis virtudes essenciais para a prática na área médica ou na área da saúde:
• Cuidado. A virtude mais importante para quem trabalha na área da saúde e fundamental na 
relação profissional/paciente. Norteia as ações que devem ser tomadas, como e quando elas 
devem ser tomadas. Está relacionada à forma de agir em prol das pessoas e ao seu compromisso 
emocional com seus pacientes, familiares.
• Compaixão. Consideração pelo bem-estar de uma pessoa combinando simpatia, ternura, 
misericórdia e desconforto com o sofrimento do outro. Vontade de ajudar o próximo a superar 
problemas, dando suporte emocional com o desejo de aliviar o sofrimento de outra pessoa.
• Discernimento. Capacidade de tomar decisões sem se deixar levar por apegos pessoais, medos 
etc. Ser imparcial aos sentimentos, sabendo respeitar o momento do paciente e familiares após, 
por exemplo, uma comunicação de uma má notícia.
23
ÉTICA E DEONTOLOGIA
• Confiabilidade. Fé no caráter moral e na competência de outra pessoa. A conduta será decidida 
por motivos certos e sentimentos certos de acordo com as normas morais adequadas. Essa virtude 
é essencial no ambiente de saúde, pois os pacientes estão em situação de vulnerabilidade e a 
confiança no profissional fará a diferença em seu tratamento e em suas decisões.
• Integridade. Ser objetivo, imparcial e fiel às normas morais. Possui um caráter moral e uma 
fidelidade às regras morais e as defende quando necessário. Pressupõe que um profissional da 
saúde íntegro seja confiável.
• Consciência. Uma pessoa consciente faz o certo “porque é o certo” em favor de seus pacientes e 
da ciência, e não apenas por não possuir nenhuma psicopatia que o tornaria uma pessoa confusa 
e não consciente.
Diante de um processo de decisão em relação a um dilema ou conflito, primeiro devemos lembrar 
qual é o fundamento: a pessoa humana, sua dignidade e seu valor; em seguida, devemos pensar em uma 
conduta que fará o bem à pessoa e não lhe ocasionará nenhum prejuízo, respeitando as suas decisões e 
vontades; por fim, sermos justos, oferecendo um tratamento de acordo com suas necessidades. Podemos 
dizer que a bioética exerce uma tripla função:
• análise de conflitos morais;
• normativa (direitos e deveres);
• proteção (assegura o cumprimento das normas).
 Lembrete
A ética subsidia uma discussão teórica justa sobre um determinado 
tema. Já a bioética é ética aplicada.
2.2 Bioética no Brasil
Como visto anteriormente, a bioética é uma ciência facilitadora para o enfrentamento de questões 
éticas/bioéticas encontradas em conflitos no dia a dia da vida profissional. Em razão de a bioética ser 
interdisciplinar e multidisciplinar, ela se difundiu pelo mundo, inclusive pelo Brasil, e hoje auxilia os 
profissionais a resolver dilemas vivenciados no dia a dia.
Sabe-se que na Segunda Guerra, na ditadura militar no Brasil, e mesmo após a elaboração do Código 
de Nuremberg e da Declaração de Helsinque, algumas atrocidades foram vivenciadas, atrocidades estas 
que tinham os médicos como testemunhas. Tais ações eram realizadas por militares e os médicos os 
acobertavam, emitindo falsos atestados de óbito; os médicos declaravam que a morte era decorrente 
de um suicídio, por exemplo, mas na verdade era decorrente de um homicídio realizado pelos militares.
24
Unidade I
No período da ditatura militar (1968a 1984), o Brasil vivenciou notícias de tortura e exílio de 
pessoas. O regime político em questão restringia manifestações cívicas de democracia. Esse contexto do 
Brasil não apenas privava a manifestação política da sociedade, mas também os debates acadêmicos 
sobre questões humanísticas para desenvolvimento e reflexão, levando à restrição de termos que fossem 
de forte sentido político ou moral (FICO, 2001).
Dessa forma, a bioética, por sua natureza crítica e reflexiva, não encontrava espaço ou alguma 
possibilidade de divulgação de suas ideias e princípios nessa fase de censura pela qual passou o Brasil 
na época da ditadura militar.
Entre 1970 e 1980, a bioética idealizada por Potter passou a ser difundida internacionalmente com 
o objetivo de estabelecer uma ponte entre a ciência e a humanidade para a preservação do futuro da 
humanidade e do planeta devido aos avanços tecnológicos e científicos observados ao longo de nossa 
evolução. Na década de 1980, com o movimento das “Diretas Já” no Brasil, iniciou-se a redemocratização 
da sociedade e a sua convocação para a elaboração da nova Constituição. Tal movimento permitiu que 
a sociedade pudesse se manifestar e debater, livre de censuras, assuntos que antes eram proibidos. 
Com a criação da nova Constituição Federal, o pensamento bioético começou a ganhar espaço, com a 
8ª Conferência Nacional da Saúde, quando foram criados: a Lei Orgânica da Saúde, a implementação do 
Sistema Único de Saúde (SUS) e os diversos códigos de ética dos diversos profissionais da saúde. Portanto, 
a bioética no Brasil teve um início tardio, surgindo apenas após a retomada do regime democrático e a 
promulgação da Constituição de 1988 (HOSSNE, 2007).
Essa nova forma de política no Brasil repercutiu no meio acadêmico, que passou a discutir os 
experimentos científicos com seres humanos, já que, sem a censura da ditadura militar, os experimentos 
terríveis ocorridos na época das Guerras Mundiais passaram a ser conhecidos e questionados. Esses 
questionamentos deram origem à viabilização da discussão ética em pesquisa por meio da obra 
Experimentação com seres humanos (1987), de Willian Saad Hossne e Sonia Vieira, que analisaram 
os abusos ocorridos na pesquisa e propuseram a criação de normas sobre ética em pesquisa com 
seres humanos.
No início de 1995, instituiu-se a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), presidida e fundada por 
Willian Saad Hossne, que tinha como preocupação inicial agregar pessoas das mais diversas áreas do 
conhecimento que tivessem interesse na bioética. O intuito era afirmar que o conhecimento da bioética 
não estava restrito apenas a uma categoria exclusiva de pesquisadores e profissionais, mas sim a toda 
a sociedade, ciência e religião. Foram apresentadas algumas vertentes da bioética no livro Bioética no 
Brasil, tendência e perspectivas, editado pela SBB.
Entre as vertentes que foram publicadas, podemos destacar as seguintes:
• bioética de reflexão autônoma: todo instrumento normativo apenas terá valor após análise e 
acolhimento individual;
25
ÉTICA E DEONTOLOGIA
• bioética da proteção: a bioética é entendida como uma ética aplicada tendo como função: 
descrição e compreensão de conflitos de valores envolvidos no ato humano (descritiva) e 
prescrição de comportamentos eticamente adequados nos conflitos morais (normativos);
• bioética da intervenção: caracterizada por seu campo de atuação, os indivíduos a que se refere;
• bioética das virtudes: destaca as atitudes que desencadeiam eticamente a ação tendo o ethos 
social com a proposta de uma boa formação do caráter e da personalidade ética, especialmente 
dos médicos.
O médico e cirurgião Willian Saad Hossne (1927-2016) defendia a bioética como um campo 
transdisciplinar que reunia a biologia, as ciências da saúde, a filosofia e o direito, por isso foi considerado 
o “pai da bioética” no Brasil. Ele defendia que não se faz bioética sem liberdade. Para ele, a bioética 
vai além da liberdade e possui características (valores como humildade, prudência, beneficência, não 
maleficência, justiça, autonomia, altruísmo etc.) que permitem a resolução de conflitos/dilemas que 
estão presentes devido ao avanço técnico-científico:
 
Mas afinal o que é bioética? Como se pode defini-la? [...] Não importa 
definir. O que importa, isso sim, é caracterizar e salientar algumas das 
consequências trazidas pela bioética e a ela inerentes, e o seu profundo 
significado. É preciso considerar, principalmente, que tudo que se tenta 
encaixar em rótulos fica limitado e pequeno perto do horizonte que pode e 
deve atingir (HOSSNE, 2000).
No Brasil há grandes estudiosos da bioética, como: Márcio Fabri dos Anjos, Dalmo Dallari, Padre Léo 
Pessini, Claudio Cohen, Reinaldo Ayer de Oliveira, Volnei Garrafa, entre outros. Dois nomes de destaque 
nessa área são:
• Marco Vittorio Segre: médico formado pela Faculdade de Medicina da USP, nasceu em Turim 
em 1934, e deixou um grande legado para a comunidade científica nacional e internacional. Para 
Segre, defender o princípio da autonomia no contexto médico, especialmente, era fundamental. 
Para ele, a bioética é uma área de reflexão e discussão em que para situações semelhantes, várias 
soluções podem ser aceitas, dependendo de fatores culturais e até pessoais.
• Willian Saad Hossne: médico formado pela USP, é considerado como o guardião da bioética, 
tendo publicado vários livros sobre o tema. Criou a primeira norma ética para participação de 
seres humanos em pesquisas, dando origem à Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) e 
à SBB. Faleceu em 13 de maio de 2016. “Não aceito a ideia de humanizar a medicina porque para 
mim, ou ela é humanizada ou não é medicina. Não posso reconhecer que exista uma medicina 
não humanizada e outra humanizada” (HOSSNE, 1996).
26
Unidade I
Bioética
Beneficência
Autonomia
HumildadePrudência
Vulnerabilidade Altruísmo
Não maleficênciaJustiça
Figura 5 – Bioética: seus princípios e valores
 Saiba mais
Para se aprofundar na bioética, leia o artigo a seguir:
BOCCATTO, M. A importância da bioética. Genética na Escola, São Carlos, 
2010. Disponível em: https://cutt.ly/aHWrABd Acesso em: 3 maio 2022.
3 PESQUISA COM SERES HUMANOS
Já estudamos os conceitos de ética, moral, direito, bioética, bem como a sua importância no dia a 
dia profissional. Agora vamos abordar um assunto que veio à tona há muitos anos. Infelizmente, muitas 
atrocidades foram realizadas com o ser humano com cunho “científico”, porém sem nenhum critério 
ético/bioético. Para isso, mais uma vez teremos que retomar alguns períodos históricos.
27
ÉTICA E DEONTOLOGIA
Durante muito tempo, os médicos foram considerados como semideuses e mantinham uma atitude 
paternalista, não permitindo que o paciente exercesse sua autonomia. Essa posição paternalista fere um 
dos princípios da teoria principialista: a autonomia.
Hoje entendemos que para um plano de tratamento ser elaborado, a autonomia do paciente deve 
estar em lugar de destaque, devendo-se focar sempre a beneficência e o tratamento justo e com 
equidade. A relação médico-paciente hoje em dia deixou de ser paternalista e se tornou acolhedora, 
porém ainda encontramos atitudes paternalistas associadas a abusos de autonomia médica.
Ao longo da história, devido aos avanços da ciência e da tecnologia, várias pesquisas com seres 
humanos foram necessárias, e foi por meio dessas pesquisas que a sociedade se transformou. Contudo, 
essas pesquisas eram realizadas sem nenhum critério ético/bioético e na maioria das vezes sem levar 
em consideração a autonomia, a beneficência e a justiça, sendo necessária a elaboração de normas 
internacionais e nacionais com o objetivo de proteger tanto o pesquisador quanto o participante e a 
comunidade em geral.
A Segunda Guerra Mundial ocorreu na época em que mais foram observados experimentos 
científicos cruéis, massacres, torturas, perseguição, destruição e mutilação em massa. Os prisioneiros 
de guerra e os menos favorecidos eram usados como “cobaias”nesses experimentos, que promoveram 
algumas descobertas, porém em detrimento do sofrimento de outrem. Naquela época, os experimentos 
eram realizados sem o consentimento do participante, sem privacidade ou alguma garantia. Com fins 
de pesquisa, segundo os autores dos experimentos, as pessoas eram submetidas a contaminação, 
situações insalubres, procedimentos degradantes etc.
Naquele período, nos deparamos com um movimento, idealizado por Francis Galton (1822-1911), 
primo de Charles Darwin (1809-1822), autor da teoria da evolução das espécies por meio de uma 
seleção natural. Após a leitura do livro de seu primo, A origem das espécies, obra que retrata a seleção 
natural das espécies, Galton foi incentivado a desenvolver uma teoria de estudo do ser humano e de 
suas capacidades físicas e intelectuais como forma de aperfeiçoar a espécie humana. De acordo com 
a sua teoria, as características fisiológicas, o comportamento, as habilidades intelectuais e culturais são 
transmitidos de pais para filhos. Baseando-se nesses preceitos, Galton criou a teoria chamada eugenia, 
palavra derivada do grego eu (bom) e gene (linhagem, parentesco, raça). Foi assim que foi iniciada a 
busca de uma “raça pura”.
Para Galton, a pobreza, os vícios e a tendência ao desenvolvimento de alguma doença estava ligada 
aos genes tanto quanto a cor dos olhos ou do cabelo e, conforme sua teoria, os filhos de pessoas pobres, 
com algum tipo de vício ou algum tipo de doença, como uma deficiência intelectual, não deveriam 
sobreviver: “O que a natureza faz às cegas […] o homem pode fazer com previdência, rapidez e bondade” 
(VAIANO, 2019).
Com esse tipo de pensamento, o cruzamento entre linhagens da mesma espécie produziria pessoas 
altamente inteligentes, porém resultaram em pessoas defeituosas ou com doenças mentais. O movimento 
desencadeou o nascimento de crianças com disfunções mentais e/ou deficiências. Essas crianças eram 
28
Unidade I
exterminadas logo após o seu nascimento na presença de suas genitoras, que eram enclausuradas em 
instituições ou esterilizadas para que não dessem origem a outros descendentes “defeituosos”.
O movimento eugênico se espalhou pelo mundo e foi seguido também por Adolf Hitler, entre 1939 e 
1945, com a busca incansável por uma raça pura, ferindo a dignidade de muitas pessoas e gerando uma 
repulsa do ser humano para com seu semelhante.
Na Alemanha, os prisioneiros de guerra eram submetidos a experimentos desastrosos sem serem 
informados sobre o que seria feito nem quais seriam os possíveis resultados. Essas pessoas também não 
eram consultadas sobre sua vontade de participar ou não do experimento, ferindo, portanto, princípios 
como autonomia, beneficência e justiça; também não se considerava o valor da pessoa humana. As 
câmaras de gás, por exemplo, exterminaram milhares de prisioneiros e pessoas no período de guerra: 
os prisioneiros eram “convidados” a entrar nus em uma sala, com a alegação de que iriam tomar um 
simples banho. Contudo, ao entrarem na sala, a porta se fechava e, em vez de água, gases tóxicos eram 
liberados, culminando com a morte destas pessoas. Esses experimentos causaram a morte de muitas 
pessoas e a mutilação de várias outras.
Entre as atrocidades cometidas em favor do movimento eugênico, podemos citar as experiências 
lideradas, sobretudo, por Josef Mengele, o “anjo da morte”, que, propositalmente, contaminava judeus 
com o bacilo do tifo no intuito de criar soros (antídotos). Os médicos nazistas utilizavam injeções de 
tinta de cor azul nos olhos de crianças que possuíam olhos escuros. Para avaliar a resistência do corpo 
humano, utilizavam câmaras de alta e baixa temperatura em dezenas de prisioneiros para verificar os 
resultados de uma hipotermia severa seguida de um aquecimento abrupto, vitimando centenas de 
pessoas. Isso ocorria sempre com o pensamento de que o extermínio das raças impuras seria apenas 
uma forma de “seleção natural” que traria benefícios à sociedade.
Na busca da eugenia nos EUA, podemos destacar a esterilização em massa em instituições psiquiátricas 
com a explicação de que as pessoas eram portadoras de doenças mentais que poderiam ser transferidas 
a seus descendentes, comprometendo a ideologia de uma raça pura.
A busca pelo conhecimento da história natural da sífilis e suas consequências também desencadeou 
uma das maiores atrocidades americanas cometidas com a população negra: trata-se do caso Tuskegee. 
Entre 400 e 600 homens negros foram recrutados com a promessa de tratamento médico, alimentação e 
moradia, porém não eram informados que tinham sífilis, apenas que tinham um “sangue ruim”, 
e passaram a receber remédios para tratamento sem efeito (placebo), mesmo após a descoberta da 
penicilina, que era indicada para o tratamento da sífilis. Esse experimento médico aconteceu nos EUA 
por um período muito longo. Consegue imaginar hoje alguém não receber o tratamento já efetivamente 
conhecido para determinada doença apenas para ver a evolução do quadro clínico e como essa doença 
irá se comportar no decorrer dos anos?
No Brasil, o movimento também ganhou força: médicos, engenheiros e outros profissionais, 
considerados a elite intelectual, viram na eugenia uma forma de acelerar o desenvolvimento do país. 
Para isso acreditavam que negros, imigrantes asiáticos e pessoas com deficiência de qualquer origem 
deveriam ser banidos, mantendo apenas os brancos com descendência europeia para povoar o país. 
29
ÉTICA E DEONTOLOGIA
A elite relacionava as epidemias brasileiras como culpa do “negro recém-liberto” – com a abolição da 
escravidão –, portanto a eugenia seria a solução para acabar com essas epidemias, o que seria uma 
espécie de higiene social (FERREIRA, 2017).
 
[...] uma doutrina hostil à reprodução dos “pobres e indolentes”, pensada 
como um obstáculo ao aumento numérico dos “homens superiores” [...] 
propunha uma seleção artificial das novas gerações, demonstrando o 
caráter hereditário das qualidades intelectuais, fazendo total abstração dos 
fatores educativos e culturais na formação dos indivíduos. Assim, surgem a 
ideia e a recomendação de medidas institucionais de intervenção corretora 
e compensadora tendo como finalidade restaurar a qualidade biológica do 
grupo pela introdução de uma seleção artificial aplicada a seus membros 
(GALTON, 1883 apud MENEGAT, 2008, p. 67).
Hoje, por exemplo, no procedimento conhecido como fertilização in vitro, poderia ser considerada 
uma prática de eugenia escolher apenas embriões “saudáveis” e descartar aqueles que podem ser 
portadores de alguma alteração em seus genes?
É desafiador definir diretrizes éticas que possam ser aplicáveis nas várias comunidades científicas, 
seja em termos de princípios, seja em termos de procedimentos.
Após tantas outras atrocidades cometidas ao longo do tempo em busca de uma “raça pura”, foi 
necessário elaborar documentos para nortear essas pesquisas com o intuito de proteger e respeitar 
a dignidade das denominadas “cobaias humanas”. Esses documentos foram considerados como guias 
éticos para proteção a essas pessoas bem como para guiar o pesquisador. Para tal, surgiram o Código de 
Nuremberg e a Declaração de Helsinque.
 Saiba mais
Para entender mais sobre a eugenia e suas consequências, assista ao filme:
COBAIAS. Direção: Joseph Sargent. EUA: Warner, 1997. 118 min.
3.1 Código de Nuremberg
Os experimentos realizados ou assistidos por médicos no período de guerra foram considerados 
como atrocidades: além de obrigarem as pessoas a participar, tinham um cunho de pesquisa que 
exterminava, mutilava e incapacitava muitas pessoas sem que elas soubessem ao menos que 
participavam de experimentos e sem poderem expressar a sua autonomia. Com isso, criaram um alerta: 
alguma providência deveria ser tomada para que os participantes pudessem ser eticamente protegidos, 
bem como os pesquisadores pudessem ser eticamente orientados.
30
Unidade I
Antes da criação do Código de Nuremberg, não havia nenhum código de conduta que regesse e 
guiassepesquisadores e, consequentemente, protegesse os sujeitos de pesquisa.
A sociedade sentiu a necessidade de um documento que regulamentasse esses experimentos/pesquisas 
para que a dignidade dos sujeitos não fosse mais desrespeitada. Ademais, houve a formação de um 
tribunal militar internacional para julgamento dos médicos e pessoas importantes do alto escalão 
nazista que foram julgados por crime contra a humanidade. Esse julgamento iniciou em dezembro 
de 1946 e se estendeu até julho de 1947, culminando com a elaboração do Código de Nuremberg. 
Dos 24 réus, 2 cometeram suicídio antes do término do julgamento, 3 foram absolvidos e 19 foram 
condenados a penas que variavam de dez anos de prisão ao enforcamento.
Após o julgamento, esse código foi elaborado por juízes conhecidos como “os juízes de 
Nuremberg”, que tinham conhecimento da importância do Juramento Hipocrático, o qual preceitua 
a obrigatoriedade da não maleficência (isto é, a obrigação do médico de, em primeiro lugar, não 
fazer mal ao seu paciente). Os juízes também reconheceram que apenas isso não seria suficiente para 
proteger os participantes de uma pesquisa.
O Código de Nuremberg define algumas normas de experimentação em seres humanos, 
destacando-se a importância do consentimento livre e esclarecido do participante, a necessidade 
da experimentação animal ser realizada antes da realizada com seres humanos, a necessidade da 
ausência de risco na aplicação das técnicas em seres humanos e que o experimento pudesse ser 
interrompido a qualquer momento.
Esse código é uma recomendação internacional sobre aspectos éticos envolvidos em pesquisas com 
seres humanos. Ele possui dez princípios éticos básicos que regem as pesquisas com seres humanos, 
princípios estes centrados no participante da pesquisa. O Código de Nuremberg passou a estabelecer um 
paciente “falante”, que tem autonomia para decidir o que é melhor para si e agir em consequência de 
sua decisão – diferentemente do encontrado na tradição de Hipócrates, em que o paciente é silencioso e 
obedece ao médico (paternalismo). De acordo com o Código de Nuremberg, o pesquisador deve proteger 
os interesses do participante, mas também afirma que os participantes podem proteger-se ativamente 
por meio de sua autonomia. Ele determina as normas do consentimento informado e da ilegalidade 
da coerção; regulamenta a experimentação científica e defende a beneficência como um dos fatores 
justificáveis sobre os participantes dos experimentos.
Ele é composto por 10 princípios éticos básicos que regem as pesquisas com seres humanos. 
Vamos a eles:
Código de Nuremberg
1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso significa 
que a pessoa envolvida deve ser legalmente capacitada para dar o seu consentimento; 
tal pessoa deve exercer o seu direito livre de escolha, sem intervenção de qualquer desses 
elementos: força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição ou coerção 
posterior; e deve ter conhecimento e compreensão suficientes do assunto em questão para 
31
ÉTICA E DEONTOLOGIA
tomar sua decisão. Esse último aspecto requer que sejam explicadas à pessoa a natureza, a 
duração e o propósito do experimento; os métodos que o conduzirão; as inconveniências 
e os riscos esperados; os eventuais efeitos que o experimento possa ter sobre a saúde 
do participante. O dever e a responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento 
recaem sobre o pesquisador que inicia, dirige ou gerencia o experimento. São deveres e 
responsabilidades que não podem ser delegados a outrem impunemente.
2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade, os 
quais não possam ser buscados por outros métodos de estudo, e não devem ser feitos de 
forma casuística nem desnecessariamente.
3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação animal e no 
conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo, e os resultados, que 
devem ser conhecidos previamente, devem justificar a experimentação.
4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo o sofrimento e danos 
desnecessários, físicos ou mentais.
5. Nenhum experimento deve ser conduzido quando existirem razões para acreditar 
numa possível morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, no caso de o próprio médico 
pesquisador se submeter ao experimento.
6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância humanitária do problema 
que o pesquisador se propõe a resolver.
7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do experimento 
de qualquer possibilidade, mesmo remota, de dano, invalidez ou morte.
8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas. 
Deve ser exigido o maior grau possível de cuidado e habilidade, em todos os estágios, 
daqueles que conduzem e gerenciam o experimento.
9. Durante o curso do experimento, o participante deve ter plena liberdade de se 
retirar, em qualquer momento, caso sinta que há possibilidade de qualquer dano com sua 
continuidade.
10. Durante o curso do experimento, o pesquisador deve estar preparado para suspender 
os procedimentos em qualquer estágio se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a 
continuação do experimento causará provável dano, invalidez ou morte para o participante.
Fonte: CÓDIGO de Nuremberg (2002).
32
Unidade I
Figura 6 – O Julgamento de Nuremberg
Disponível em: https://bit.ly/3vO7qfW. Acesso em: 3 maio 2022.
 Lembrete
Movimento eugênico: busca pela raça pura (“bem-nascido”), criado 
por Francis Galton, em 1833, depois difundido pelo mundo por Hitler e 
Josef Mengele (seus principais seguidores). Foi um movimento devastador 
que exterminou milhares de pessoas consideradas de “raça impura”; tais 
atrocidades e extermínios alertaram para a necessidade de documentos 
que protegessem o participante de pesquisa.
3.2 Declaração de Helsinque
O objetivo principal da maior parte das pesquisas com seres humanos é compreender as causas, a 
evolução e as consequências de determinada doença e, assim, aprimorar as intervenções para prevenção, 
reabilitação e cura. As intervenções deverão sempre ser estudadas para avaliação contínua sobre sua 
segurança, eficácia, acessibilidade e confiabilidade.
Para que qualquer pesquisa seja realizada, o participante deve ter asseguradas sua segurança, dignidade 
e autonomia. Apesar da elaboração do Código de Nuremberg, algumas pesquisas ainda estavam sendo 
realizadas sem que os participantes tivessem sua autonomia e dignidade respeitadas pelos médicos 
pesquisadores. Diante dessa situação, surgiu a necessidade da elaboração de outro documento que 
estabelecesse condutas éticas para os médicos pesquisadores ao realizarem suas pesquisas.
33
ÉTICA E DEONTOLOGIA
A Declaração de Helsinque foi um documento redigido pela Associação Médica Mundial (AMM) na 
18ª Assembleia Geral da Associação Médica Mundial, na cidade de Helsinque, Finlândia, em 1964. Seu 
objetivo era nortear as pesquisas com seres humanos. Ao contrário do Código de Nuremberg, a Declaração de 
Helsinque foi projetada como um guia de princípios éticos para fornecer orientações aos médicos e incentivar 
outros participantes em pesquisas clínicas envolvendo seres humanos a seguir os mesmos princípios éticos.
Essa declaração enfatiza a necessidade de cumprimento dos princípios éticos, salientando 
a necessidade de se oferecer ao participante as informações sobre os riscos e benefícios referentes 
ao estudo que será realizado, assegurando-lhes acompanhamento após o término da pesquisa e 
condenando o uso do placebo quando já existe tratamento eficaz estabelecido (vide o caso Tuskegee). 
Portanto ela agregou ao Código de Nuremberg novos elementos na análise ética de pesquisas, pois:
• estabeleceu a distinção entre experimento envolvendo pacientes e pesquisa com sujeitos saudáveis;
• propôs uma avaliação ética prévia realizada através de um comitê independente;
• previu a possibilidade de estudos médicos nãoserem realizados sem consentimento informado, 
sem o emprego, em nenhum de seus dispositivos, da linguagem dos direitos humanos ou a 
expressão da dignidade humana.
Quanto aos participantes de pesquisa, a declaração definiu que a proteção dos direitos dos 
participantes da pesquisa estaria relacionada ao seu direito de não participar ou de se retirar do 
experimento a qualquer momento; e aos médicos pesquisadores, o dever de respeitar o direito à 
autonomia dos participantes.
Mesmo quatro anos após a adoção da Declaração de Helsinque, Henry Beecher, pesquisador da 
Escola Médica de Harvard, publicou em artigo no New England Journal of Medicine (Jornal de Medicina 
da Nova Inglaterra) a ocorrência de 22 experimentos que colocaram em risco a saúde dos sujeitos 
participantes. Em um deles, conduzido na Willowbrook State School of New York (Escola Estadual 
de Willowbrook, em Nova York), crianças com deficiência intelectual foram infectadas com cepas de 
hepatite sob a alegação de estarem sendo imunizadas, sendo que um grupo recebia o tratamento e o 
outro não. Em 1972, estourou o escândalo do caso Tuskegee (ALBUQUERQUE, 2013).
Após o acontecimento de 1972, a Associação Médica Mundial observou a necessidade de uma 
revisão da declaração e, em 1975, esta passou por uma revisão, e então correções foram efetuadas. 
Devido ao grande avanço em pesquisas e em tecnologia médica, a Declaração de Helsinque passou por 
diversas revisões em seus princípios. Todas foram realizadas em assembleias gerais da Associação Médica 
Mundial para que as orientações estivessem em conformidade com os avanços científicos.
A Declaração de Helsinque passou por algumas revisões de seus princípios nos anos de 1975, 1983, 
1989, 1996, 2000, 2008 e 2013. Essas revisões são necessárias para aumentar a proteção das pessoas que 
participam de pesquisas médicas. Em sua última revisão, houve a inclusão da garantia de tratamento 
ao participante de pesquisa que for prejudicado, destacando-se que devem ser garantidos tratamento e 
compensação apropriados aos indivíduos prejudicados em razão de sua participação em pesquisa.
34
Unidade I
Todo médico pesquisador deve estar ciente das normas éticas envolvidas em pesquisas com seres 
humanos em cada país, bem como das exigências éticas internacionais, sendo que nenhuma dessas 
exigências deverá diminuir os direitos dos participantes de pesquisa ou eliminar qualquer tipo de 
proteção a eles.
 Saiba mais
Para ampliar seu conhecimento, assista ao filme indicado a seguir:
O JULGAMENTO de Nuremberg. Direção: Yves Simoneau. EUA: Warner, 
2000. 180 min.
Com o crescimento considerável de denúncias sobre pesquisas realizadas de forma abusiva, em 
1978 o governo dos EUA criou uma comissão para verificar tal questão nas pesquisas envolvendo 
os seres humanos. Assim, foi criado o Relatório Belmont, que trouxe os princípios bioéticos para as 
pesquisas: respeito às pessoas, beneficência e justiça, além de estabelecer critérios para a aplicação 
desses princípios por meio do consentimento informado, análise de riscos e benefícios das pesquisas e 
a seleção dos participantes.
3.3 Documentos importantes para a pesquisa com seres humanos
Além do Código de Nuremberg e da Declaração de Helsinque, outros documentos importantes 
surgiram ao longo dos anos com a finalidade principal de garantir proteção aos participantes, por meio 
da garantia de seus direitos, da preservação de sua autonomia e dignidade, da garantia dos deveres 
dos pesquisadores em relação à pesquisa e aos participantes. Os documentos mais relevantes foram: 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH); Declaração Universal dos Direitos Humanos e 
Bioética; Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos, de 2003; Declaração Universal 
sobre o Genoma Humano.
As normas sobre ética em pesquisa envolvendo seres humanos, que compõem todos os documentos 
éticos, englobam o que uma sociedade considera correto e justo para guiar o comportamento dos 
pesquisadores. Podemos dizer que a discussão sobre ética em pesquisa e sua regulamentação é, portanto, 
política e passível de revisão.
3.3.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH)
Provavelmente você já ouviu algo a respeito dessa declaração. Vamos estudá-la a seguir.
Mais uma vez, elaborou-se um documento pelas ocorrências da Segunda Guerra Mundial. A DUDH 
foi criada na mesma época em que ocorria o julgamento dos médicos nazistas em Nuremberg, e o mundo 
passou a conhecer todas as atrocidades cometidas naquele período. A proposta desse documento era 
garantir uma vida digna a todos os seres humanos e a paz entre os povos.
35
ÉTICA E DEONTOLOGIA
Essa declaração foi elaborada por uma comissão de representantes da Organização das Nações 
Unidas (ONU) entre 1946 e 1948, ano em que entrou em vigor após a realização da Assembleia Geral 
da ONU em Paris, em 10 de dezembro. A DUDH possui trinta artigos que determinam os direitos básicos 
de todo ser humano, independentemente de sua condição social, raça, religião etc. Alguns dos países 
participantes são: EUA, Canadá, França e Reino Unido.
A ONU, assim que a DUDH foi adotada, começou a traduzir os seus princípios em tratados 
internacionais que protegessem direitos específicos. Dessa forma, foram redigidos dois pactos que 
codificassem as duas séries de direitos contidos na declaração: os direitos civis e políticos e os direitos 
econômicos, sociais e culturais. Depois, em 16 de dezembro de 1966, foi adotado o Pacto Internacional 
dos Direitos Civis e Políticos, aprovado na Assembleia Geral da ONU. Na mesma data, a Assembleia 
também aprovou o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
A DUDH reafirma a dignidade da pessoa humana e sua liberdade sobre si mesma, de sua essência, 
de seu corpo, consagrando o princípio da autonomia individual. A dignidade humana está fundada 
no conjunto de direitos inerentes à personalidade da pessoa (liberdade e igualdade) e no conjunto de 
direitos estabelecidos para a coletividade (sociais, econômicos e culturais). Por isso mesmo, a dignidade 
da pessoa não admite discriminação, seja de nascimento, sexo, idade, opiniões ou crenças, classe social 
etc. A ideia de dignidade humana encontra respaldo nas ideias do filósofo alemão Immanuel Kant, já 
que sua filosofia parte do princípio de que o homem, por ser capaz de determinar suas ações, detém 
autonomia sobre sua própria vontade – o que é uma característica essencial de um ser racional, torna-se 
“um fim absoluto em si mesmo”.
A origem do conceito de direitos humanos está na filosofia de direitos naturais que seriam atribuídos 
por Deus. Para Aristóteles, o homem deveria se orientar de acordo com a sua natureza, que existe no 
cosmos metafísico, para assim atingir a perfeição. Para ele, a finalidade do homem, por ser o único 
dotado de razão, é a perseguição pela felicidade.
Em seu primeiro artigo, a DUDH diz: “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e 
em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de 
fraternidade”. Porém, para que não houvesse nenhuma exclusão a este artigo, foi substituído “homens” 
por “seres humanos” e, portanto: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e 
em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de 
fraternidade” (ONU, 1948).
 Observação
A DUDH já foi traduzida para mais de 500 idiomas.
Esse documento busca garantir direitos iguais entre os povos mencionando questões como liberdade, 
igualdade, direitos culturais, sociais, civis, econômicos e políticos, respeitando a legislação interna de 
cada país. Também aborda questões relativas ao trabalho, ressaltando o direito que todo ser humano 
tem a férias, lazer e cultura.
36
Unidade I
Direitos humanos
Direito à vida
Liberdade de 
pensamento
Direito à liberdadeNão à escravidão
Não à tortura Todos são iguais perante a lei
Figura 7 – Direitos humanos
No Brasil, entre 5 e 12 de novembro de 2018,

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