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TERAPIA COMPORTAMENTAL DE CASAIS: especificidades da prática clínica e questões atuais. Autora: Vera Regina Lignelli Otero CPF: 348.964.738.68 RG: 3.504.130-SSPSP End: Rua Angélica, 298 Jardim Macedo Ribeirão Preto – SP 14091 110 veraotero@netsite.com.br Instituição: Clínica ORTEC - Ribeirão Preto - SP Autora: Yara Kuperstein Ingberman CPF: 200.993.559-49 RG: 781.341-4 Pr End.: Brigadeiro Franco, 2525 , apt 1 Curitiba - PR E-mail: yingberman@up.edu.br Instituições: Instituto de Estudos e Psicoterapia Analítico Comportamental (IEPAC). Centro de Estudos em Terapia Comportamental e Cognitiva (CETECC) Universidade Positivo Faculdade Evangélica do Paraná mailto:veraotero@netsite.com.br mailto:yingberman@uo.edu.br TERAPIA COMPORTAMENTAL DE CASAIS: especificidades da prática clínica e questões atuais. O atendimento de casais em psicoterapia tem sido abordado pela análise do comportamento enfatizando processos de aceitação e comunicação, constituindo um avanço frente às propostas iniciais que priorizavam os processos de mudança de comportamento. Neste capítulo serão apresentadas ponderações teóricas abrangentes relativas à análise do comportamento aplicada ao atendimento de casais; serão ainda abordadas algumas especificidades do atendimento de casais tais como os constituídos por parceiros homossexuais, os que vivenciam a violência doméstica e os romances virtuais além de algumas das peculiaridades de parceiros que se encontram em diferentes etapas da vida. A prática clínica tem revelado uma diversificação bastante extensa dos tipos de casais que buscam ajuda terapêutica nos últimos tempos. No Brasil, até em torno de 30 anos atrás, procuravam ajuda, predominantemente, casais formados por pessoas “legalmente” casadas e que estavam no máximo na “meia idade”. Suas queixas principais e mais freqüentes eram: “ele não me ouve”, “ela não me entende”; “ela acha que eu não sei nada”, “ele quer mandar em mim”; “ele me traiu”, “ela não me quer mais”, dentre outras similares. Atualmente observa-se que uma variedade cada vez maior de parceiros tais como namorados, noivos, casais jovens ou mais idosos, heterossexuais ou homossexuais buscam ajuda para equacionar dificuldades específicas ou mesmo mais gerais, vividas nos seus relacionamentos. As queixas mais freqüentemente apresentadas contêm peculiaridades decorrentes dos novos contextos sociais, econômicos ou profissionais, permeadas pela diversidade de novos costumes e valores de vida e, quase sempre são acrescidas das mesmas queixas que eram apresentadas anteriormente. Os parceiros estão convivendo com as imposições destas novas realidades. Podem-se denominar essas mudanças de “sinais dos tempos”. O “espaço e o tempo” que cada um deles dedica para o “relacionamento do casal” mudaram, indicando realidades, necessidades, valores e prioridades diferentes. Alguns pontos podem ser citados para exemplificar: os novos papéis assumidos pela mulher, incluindo sua profissionalização e independência econômica, o desempenho de funções semelhantes às exercidas pelos homens; as parcerias “homo afetivas” são assumidas e melhor aceitas publicamente, ao lado de uma maior liberação sexual; os recasamentos sucessivos de um ou de ambos os parceiros, dentre outros. As novas exigências e expectativas, pessoais e mútuas, acrescidas das alterações dos contextos de vida e da busca de ajuda por parceiros de todas as idades não alteraram, entretanto, a essência das intervenções, apenas ampliaram os “temas” abordados. A ajuda para os “novos” casais que nos procuram permanece centrada nos problemas de comunicação das mais diferentes ordens, no compromisso que têm com o relacionamento e na dificuldade de aceitarem que ambos são igualmente responsáveis pela qualidade de suas interações. Acrescente-se a estas variáveis o fato de que os contextos de vida têm sido cada vez mais complexos. As questões primordiais da terapia de casais, atualmente, não são mais metodológicas, mas sim ideológicas, conforme afirma Papp (2000/2002, p.14): “Se os terapeutas desejam continuar a ser importantes na vida dos casais de hoje, devem ajudá- los a olhar para além de seus mundos particulares, ou seja, para as forças sociais externas que estão atualmente determinando a vida deles”. Neste mesmo sentido Mattaini (2001), com base no modelo da análise do comportamento, descreve o que denomina de análise eco-comportamental na qual propõe um eco-campo transacional conforme apresentado a seguir. INSERIR FIGURA 1 Figura 1: Ecocampo Transacional Simples (Mattaini, 2001, p. 5). O Ecocampo Comportamental inclui as interações entre os diferentes membros da família e o seu entorno social; permite fazer análises das interações que podem ser positivas (reforçadoras) ou negativas (de estimulação aversiva), levando a um aumento da freqüência de determinados comportamentos por reforçamento positivo ou negativo e até mesmo à eliminação de algum tipo de interação por falta de reforço ou por ocorrência de punição. Condução do atendimento A terapia comportamental de casais pode ser conduzida por um ou dois terapeutas e esta decisão dependerá dos critérios e das características pessoais do profissional e dos clientes, assim como dependerá também da natureza das principais dificuldades apresentadas pelos parceiros. Além disso, as sessões poderão ser todas conjuntas, conjuntas e individuais ou basicamente individuais, todas realizadas por um ou dois terapeutas. Ao tomar as decisões acima o terapeuta ficará atento também às questões relativas ao funcionamento do casal e às dificuldades mais acentuadas de cada um dos cônjuges para assim poder escolher a estratégia que levará ao melhor andamento do processo. E importante, seja qual for o arranjo escolhido, que o foco esteja nos processos que interferem na interação dos parceiros. Ampliação das intervenções A terapia comportamental de casais teve como propostas iniciais básicas: alterar os comportamentos públicos dos parceiros; aumentar as interações positivas mútuas; diminuir interações negativas mútuas; ensinar estratégias gerais para solucionar futuros problemas de interação. Os trabalhos de Jacobson, & Christensen (1998) e de Cordova, & Jacobson (1993/1999) descrevem a ampliação do alcance das primeiras propostas de intervenção da terapia comportamental de casais, cuja eficácia para resolver problemas era limitada para melhorar as habilidades interativas dos parceiros. Estes autores formularam uma proposta de intervenção baseada em três conceitos essenciais e indissociáveis: mudança, aceitação e compromisso. Entendem que há necessidade de se buscar mudanças nas topografias das interações dos parceiros visando promover alterações nos comportamentos públicos de um ou de ambos. Outro conjunto de intervenções deve visar promover efeitos sobre as experiências privadas, sobre as “emoções vividas” por cada um dos parceiros; deve-se também buscar ajudá-los a compreender que não temos como escapar de todas as emoções negativas, e, portanto elas estarão sempre presentes. Aceitação, desta forma, significa experimentar sentimentos negativos ao invés de negá-los; significa corrigir as concepções socialmente estabelecidas sobre felicidade ou bem estar, por exemplo, levando-os a perceber que ninguém é feliz ou se sente bem durante todo o tempo. Por outro lado, desenvolver comportamentos de enfrentamento destes sentimentos conduz à construção da aceitação que é uma “atitude” altamente desejável entre os parceiros; e, além disso, é necessário que tenham compromisso com a relação de ambos; que queiram também melhorá-la. Isto significa comprometer-se com a mudança das próprias atitudes, incluindo aceitação e enfrentamento dos próprios sentimentos e “aceitação”do outro. Aceitação emocional através da construção da tolerância Nos relacionamentos, parte do que torna a aceitação difícil é que comportamentos de um parceiro induzem uma grande dor no outro. Uma maneira de aumentar a aceitação é aumentar a tolerância de cada parceiro para com os comportamentos do outro que lhe geram sofrimento. Isto significará tornar a relação menos dolorosa. A tolerância se desenvolve quando os parceiros aprendem que devem interromper as próprias tentativas de “mudar o outro”; tolerância só pode ocorrer se os parceiros interromperem seus esforços para prevenir ou evitar os comportamentos uns dos outros. Se ambos “experimentarem” o comportamento do outro sem tentarem mudá-lo e, se for também possível criar um contexto de mudanças desejáveis, ocorrerá uma diminuição da toxicidade daquele comportamento que então se tornará mais aceitável. A chave para construir tolerância é capacitar os parceiros a: abandonar a luta para mudar um ao outro; criar oportunidades de viver experiências de interações desagradáveis nas sessões terapêuticas para tornar mais fácil o “deixar passar” e, aprender a relevar. O treino de tolerância é análogo ao procedimento de exposição usado por terapeutas comportamentais para tratar desordens de ansiedade. Quando o terapeuta promove a tolerância na sessão de terapia do casal, ele se esforça para expor os parceiros ao conflito e aos comportamentos negativos uns do outro num ambiente seguro (presença do terapeuta), com a expectativa de que os comportamentos negativos possam ser tolerados, e aceitos mais facilmente. Para isso são usadas estratégias e objetivos específicos tais como: aprimorar as habilidades de discriminação e generalização das interações; “reformular” a compreensão de cada um dos parceiros sobre um fato; rever as auto-regras ou as regras de ambos; melhorar a comunicação entre os parceiros em termos de recepção e expressão (Jacobson, & Christensen, 1998). Comunicação é entendida aqui como a ocorrência de um ou mais estímulos produzidos por um organismo e que afetam outro organismo. Entende-se que comunicar-se é uma habilidade aprendida e que pode ocorrer de diferentes maneiras: verbal (oral): falarouvirfalarouvir e através de comportamentos não verbais ou “atos”. A grande maioria dos problemas de relacionamento de um casal ocorre ou é agravada pelas dificuldades de comunicação existentes entre eles, principalmente às ligadas à escolha das palavras. Desta maneira, enfatiza-se para os parceiros que palavras têm “poderes e força” e geram emoções e sentimentos. Pondera-se ainda que é a palavra que dá significado ou existência a tudo o que ocorre no mundo, inclusive os relacionamentos. O que existe, existe porque compreendemos e exprimimos com palavras; o que sentimos ou fazemos alguém sentir é percebido e categorizado através das palavras que acariciam , machucam, constroem , destroem, aproximam ou separam pessoas que interagem. Vale a pena reafirmar que cada conversa contém: atributos pessoais: delicadeza, agressividade, reflexão, impulsividade, etc.; hábitos e maneiras pessoais: individualismo, inclusão, participação, cooperação, exclusão, etc.; valores de vida: certo, errado, bom, mal, adequado, inadequado, respeito, desrespeito, etc.; conceitos “errôneos” embutidos nos diálogos: discordar como sinônimo de brigar, ser assertivo muitas vezes é compreendido como ser agressivo, franqueza é confundida com desrespeito ou falta de educação; “adivinhar” a intenção do outro, “transferir” a própria “verdade” para adjetivar o comportamento do outro, “crer” que a culpa é sempre do outro, etc. Este processo transforma o conversar e a interação do casal em uma experiência aversiva que produz esquiva e contracontrole. Todos esses elementos que caracterizam e estão contidos em uma conversa são tópicos que devem ser considerados e examinados durante o processo terapêutico de parceiros. Comportamentos privados na terapia do casal Quando nos referimos aos eventos privados na situação terapêutica nos reportamos a: 1) eventos privados são mais do que aqueles controlados verbalmente; 2) respostas do organismo e o que elas podem sinalizar; 3) não apenas ao comportamento verbal encoberto ou a comportamentos governados por regras. Nesse sentido a terapia de casais é um espaço privilegiado para a reorganização dos comportamentos privados e torna-se a oportunidade de: explicitar verbalmente os próprios comportamentos encobertos; sensibilizar as reações do parceiro dentro da sessão; dessensibilizar as reações estabelecidas em interações de aversividade; ao contrário do que ocorre na terapia individual na qual o interlocutor do cliente é o terapeuta, na terapia de casais o interlocutor é o parceiro e o terapeuta é um facilitador; lidar com pensamentos, emoções e sentimentos constitui-se em uma tarefa central, compartilhada na sessão e mantida fora dela. criar alternativas para a ocorrência e manutenção dos novos encobertos fora das sessões; Tome-se como exemplo a seguinte situação: O marido liga para a esposa durante o trabalho e diz: “posso falar agora” (com um determinado tom de voz); ela tem uma sensação eliciada de “perigo” mesmo quando o assunto é corriqueiro e isto gera nela uma reação de raiva (CV agressivo). Este comportamento tem funções na relação do casal: Ela fica sob controle do que ele possa dizer a partir de uma sensação privada decorrente da atenção que ela dá à fala dele com este tom (provavelmente sentida em ocasiões anteriores nas quais este tom de voz foi utilizado para dar notícias graves); esta atenção, provavelmente, não é a mesma quando ele fala de modo mais “leve”; de forma “inexplicável” ele reage “mal” (com sensação de desconforto) quando ela responde com agressividade; nos próximos dias ele, provavelmente, não falará com ela neste tom e não sentirá que recebe a mesma atenção da parte dela nos telefonemas (esquiva); ele tenderá a falar daquela forma novamente em algum momento (para ser escutado “atentamente”). Portanto, ao chegarem à terapia poderão trazer diferentes “interpretações” sobre a mesma situação: “ela não me dá importância”, “ele só me assusta”. Ambas as afirmações constituem a verdade “de e para cada um deles”. Outro componente relevante da comunicação entre parceiros é a assertividade. A conversa “de casal” requer assertividade, ou seja, a habilidade de identificar, formular e expressar, adequadamente, suas próprias opiniões, desejos, vontades, sentimentos, etc., mas sem ferir os direitos do (a) parceiro (a). Saber falar e ouvir respeitando a si e ao outro. Como afirmado anteriormente, deve-se considerar também na comunicação entre parceiros os aspectos não verbais que estão embutidos nas interações relatadas e que podem ser diferentes para cada um deles. Por exemplo: um homem que sai do trabalho, cansado e vai tomar “uma cervejinha” com amigos mesmo sabendo que sua mulher está doente em casa, só com o filho. O marido não entende porque ela ficou triste e brava com seu comportamento. Para ele, “ela estava cuidada e ele precisava relaxar”; para a mulher, “ele é egoísta e não a considera”. De acordo com este “pano de fundo”, quaisquer que sejam as queixas, o terapeuta deverá: 1) buscar dados para realizar análises funcionais; 2) considerar o contexto mais amplo e as 3) especificidades de cada dupla de parceiros; 4) analisar amplamente a qualidade da comunicação existente entre eles . Especificidades do atendimento de alguns parceiros Descreveremos a seguir especificidades sobre alguns dos temas abordados na terapia de casais. Serão apresentados casos clínicos através dos quais faremos algumas ponderações teóricas. Casais homossexuais ou homo afetivos José,28 anos, engenheiro. Relata: “Eu tenho um relacionamento muito bom, mas ao mesmo tempo tenho muitas dificuldades no meu relacionamento. Eu amo muito, mas não sei se dará para ficarmos juntos. Na realidade acredito que nós nos amamos. Eu vim aqui porque não sei o que fazer da minha vida”. Uma queixa inicial com este conteúdo impõe ao terapeuta a necessidade de cuidados na elaboração das perguntas para colher mais informações: “O que ocorre no seu relacionamento? O que o faz muito bom ou muito ruim”? “Fale um pouco sobre você e sobre a pessoa com quem você está se relacionando”. Neste exemplo, essa era a história do José e do João. A pergunta genérica poupa o cliente e o terapeuta de expressões de preconceitos, Na terapia de casais não se diferencia se são parceiros de um mesmo sexo ou heterossexuais uma vez que as questões que os preocupam são do mesmo teor: comunicação, afeto, tolerância, aceitação, etc.. O terapeuta deve ter cuidado ao coletar dados iniciais, especialmente, não partir de nenhum pressuposto, para que possa permitir que o cliente aborde todos os temas que o preocupam. História de Thiago (43 anos): “Vim lhe procurar porque a minha vida já não tem mais sentido. Sou um empresário de sucesso, mas estou sem condições de seguir em meu trabalho porque tenho de escolher entre viver a minha vida pessoal ou a profissional. Não suporto mais ter só vida profissional, e se souberem que sou homossexual não vão me respeitar e vou perder tudo. O que mais quero na vida é ter uma relação interpessoal estável. Preciso aprender a me relacionar”. Considerando esses dois exemplos, devemos atentar que em casos de parceiros homossexuais (masculinos ou femininos), existem pontos relevantes e específicos para esse tipo de atendimento. A postura do terapeuta frente à homossexualidade ou homo afetividade deve considerar que: 1) é um relacionamento como outro qualquer embora com suas próprias especificidades; 2) é um relacionamento humano que contém uma preferência por uma forma de relacionamento afetivo e que também busca uma realização pessoal além da satisfação sexual; 3) não é apenas uma questão de identidade sexual; Outros pontos relevantes a serem observados no atendimento de parceiros homossexuais são: o terapeuta deve usar o mesmo vocabulário mostrado pelos parceiros (por exemplo, gays e lésbicas) ao invés de apenas “homossexuais”; fazer reflexões efetivas sobre os conceitos sociais e culturais que podem estar comprometendo o relacionamento dos parceiros; ajudá-los a “limpar” as queixas e a esclarecer questões tais como: diminuição do interesse de um deles ou “descuido” com a parceria. Poderá não ser nada disso, mas sim, falta de repertório adequado para lidar com “pressões sociais”, às vezes, auto-impostas; assumir-se ou não como homossexuais: perante as famílias, os amigos, os filhos, no trabalho, etc.; atentar para limites imprecisos de suas ações, “invisibilidade” da parceria, falta de modelos satisfatórios de relacionamento; acesso a direitos civis, benefícios sociais, etc.; “afetação” comportamental de um dos parceiros que poderá desagradar o outro; acordos para o estabelecimento e/ou “distribuição” dos papéis na execução de tarefas, domésticas ou não; como lidar com a “passagem” do tempo que leva ao envelhecimento e demandará o equacionamento de tópicos tais como heranças e “testamentos”; acordos de separação; filhos de relacionamentos anteriores ou adotados que requerem decisões ligadas à educação em si, dentro e fora de casa, dentre outros. Vale a pena registrar que o atendimento de parceiros homossexuais, na maioria das vezes, inicia-se pelo atendimento de um deles como se fosse uma terapia individual. Gradativamente vai surgindo a demanda real que, na verdade, trata-se do atendimento do casal. O terapeuta deverá então decidir com o cliente como ele gostaria que transcorresse o atendimento. Uma grande porcentagem de parceiros homossexuais prefere ser atendida por dois terapeutas, em sessões individuais, embora quase sempre abordando os mesmos temas, ocorrendo apenas eventuais sessões conjuntas com a presença dos quatro participantes. “Romances” ou encontros virtuais Nas últimas décadas, com o desenvolvimento e expansão do uso da tecnologia, a comunicação virtual passou a permitir que pessoas se relacionem em tempo real com os mais diferentes objetivos. Muitas delas se encantam com a possibilidade de conhecer outras pessoas que se tornam seus parceiros em “viagens fantásticas” que parecem realizar sonhos ou desejos não possíveis na vida real, pelo menos naquele momento. A internet com suas salas de bate papos e demais formas de contato em tempo real, leva as pessoas a, equivocadamente, desenvolverem a percepção de que o que ocorre naquele contexto não interfere no que vivem de fato, isto é, nos seus relacionamentos já estabelecidos ou mesmo em suas vidas estritamente pessoais. É como se elas se sentissem protegidas ou “retiradas” da realidade por um espaço de tempo. Outras pessoas conseguem estabelecer apenas este tipo de relacionamento e acreditam que a possibilidade de “viverem” relacionamentos virtuais “salvou-as” da solidão. Relacionamento virtual é então um tema atual, freqüente e de grande interferência nos relacionamentos compreendidos como estáveis como o de Luiz, 45 anos, investidor e Maria Antônia, 40 anos, lojista, que apresentaram o diálogo a seguir: Maria Antônia: “Não me conformo, prá mim o nosso casamento está acabando ou já acabou. Não me importa que ele nunca se encontrou com ela. Ele namora ela. Ele não me namora.” Luiz: “Nós estamos juntos há 15 anos. É natural que o interesse vá diminuindo, mas eu não quero te trair. Eu não te traí. Eu já te falei: você só fica pensando na loja. Abriu espaço, eu entrei. Eu entrei, mas não tem nada a ver com o nosso casamento. Já te falei que eu nunca encontrei com ela. É só no computador, a gente conversa e pronto, só isso.”. Como os encontros são “apenas virtuais”, possibilita que o parceiro do exemplo desconsidere como reais as trocas pessoais vividas por ele através da internet. As experiências virtuais não são consideradas “reais”, como se estas interações não fossem verdadeiras, diferentemente da compreensão da esposa que as entende como verdadeiras e genuínas. Este caso evidencia que terapeutas de casais devem buscar compreender e analisar todas as possíveis implicações e/ou funções das experiências virtuais nos relacionamentos dos parceiros que o procuram. Estas experiências interferem nos relacionamentos reais, “estáveis”; desencadeando “crises” entre os mesmos, uma vez que levam a pessoa a fugir da realidade, como no caso de Márcio (38 anos) e Beatriz (36 anos): ambos eram advogados, e trabalhavam em cidades diferentes e se encontravam apenas nos finais de semana. A queixa de Beatriz foi ter encontrado Márcio se masturbando em um encontro virtual. Para ele esta era uma situação “normal” porque, ele e a mulher ficavam distantes muito tempo; para ela tratava-se de uma traição. O terapeuta deverá ajudar a ambos a identificar que todas as experiências, virtuais ou não, são reais. O foco principal da intervenção deverá estar sempre no que de fato ocorre entre aquelas pessoas que estão buscando o atendimento. Como cada uma delas se comporta em relação ao outro? Como cada um deles considera o relacionamento? Qual o grau de compromisso de cada um deles com o relacionamento? O que cada um pode e quer mudar em seu próprio comportamento com o objetivo de tornar o relacionamento mais gratificante para ambos? Quais sentimentos são possíveis de serem identificados em cada um deles? O que o comportamento de cada um causou no outro parceiro? Qual a concepção de cada um deles sobre o que é traição? Quais acordos eles tinham anteriormente estabelecido entre eles?Há valores morais envolvidos nestas situações? Quais? São os mesmos para ambos? Em que, na percepção de cada um deles, a experiência de encontros virtuais interferiu no relacionamento do casal? As respostas a estas questões devem ser facilitadoras de uma interação mais harmoniosa na qual os sentimentos de cada um possam ser levados em conta. Violência doméstica Terapeutas de casais constantemente se encontram diante de parceiros que praticam e/ou sofrem violência doméstica. A despeito de ser um tema bastante atual e freqüente na relação a dois observa-se que os profissionais têm pouco preparo técnico para trabalhar com estes problemas. A formação do psicólogo não contempla este estudo como um tópico especifico. Jacobson e Christensen (1998) relatam que a falta deste conhecimento pode vir a trazer “conseqüências sérias” aos clientes por ser um problema que põe o (a) parceiro (a) em risco se não forem tomados alguns cuidados. “Abuso físico de qualquer tipo, seja ele de parceiro ou de filho, seja estupro ou incesto, exige posicionamentos morais e éticos específicos.” (Papp, 2000/2002, p.28). Sempre será inaceitável, em qualquer condição. A história, exemplificada nos relatos abaixo, de Artur, 46 anos, agricultor, e Laís, 36 anos, professora, mostra um dos tipos comuns de violência doméstica: Artur: “Ela me tira do sério. Já falei prá ela não me olhar daquele jeito. Já falei prá ela que não é prá por os meninos contra mim. Aí eu fico louco e parto prá cima dela.” Laís: “Ele não sabe escutar. Ele acha que os meninos não percebem como ele é. Ele acha que sou eu quem põe os meninos contra eles. Ele bate em mim e nos meninos também.” O que fazer nestes casos? Atendimento do casal? Atendimento individual? Não atendimento? Denúncia à polícia? Dois terapeutas? A incidência de violência entre casais é de 3 a 4 % da população (Roth, 1993, in Mattaini 1999). Estimativas indicam que alguma violência física, ocorre em metade das relações íntimas entre adultos. Algumas são em baixo nível e sua função não é só o controle coercitivo; envolvem ainda as diferentes funções do bater (Jacobson, & Christensen, 1998). Segundo estes autores, 50% dos casais que procuram terapia se engajaram em comportamento violento no ano que antecede a procura. Porém a maioria dos casais envolveu-se em comportamentos violentos alguma vez. Salientam os autores que a violência contra a mulher é, às vezes, acompanhada pela violência recíproca da mulher. Estes dados sugerem que, na maioria dos casos, o homem tem menos prejuízos e não tem a experiência emocional de terror que a mulher vivencia, pois a violência na mulher, em geral, envolve auto defesa (Mattaini, 1999). Nestes casos o mecanismo usado é a coerção. Sidman (1989/1995) afirma que punimos as pessoas porque acreditamos que as levaremos a agir diferentemente. Queremos parar ou prevenir certas ações. Punimos alguém quando avaliamos que sua conduta é considerada má para a comunidade, para outros indivíduos ou para nós mesmos. O que desejamos com a prática da punição é por fim à conduta indesejável. Desta maneira a violência é usada como forma de controle por reforçamento negativo tornando funcional a aversividade da agressão. Esta aversividade, algumas vezes, detém o comportamento indesejável, pelo menos temporariamente. No entanto, não ensina nada sobre o que deve ser feito além de poder destruir relações. A violência é um comportamento, e não é causado por raiva, abuso de substâncias ou doença mental, embora em alguns casos estes fatores diminuam a sua inibição. A violência repetitiva ocorre porque é reforçada pelo estabelecimento do controle coercitivo e pela retirada de estados emocionais negativos (Mattaini, 1999). A manutenção da relação com violência se dá porque após o episódio de violência pode se estabelecer um período de “lua de mel”, durante o qual, vários reforçadores não contingentes são trocados. Porém o padrão de controle coercitivo retorna, eventualmente, porque esta é a maneira mais eficiente de manter o controle estabelecendo então, um esquema de reforçamento intermitente entre agressões e trocas de afeto. O caso de Marina, 23 anos, estudante universitária e José, 24 anos, estudante de programação visual, ilustra o controle mútuo de comportamento exercido pela punição: Marina: “Eu tenho medo quando ele chega em casa. Preciso fazer com que o bebê pare de chorar porque ele logo fica nervoso e começa a gritar. Tenho medo de ficar sozinha em casa e vou para a casa de minha mãe e ele fica furioso e grita: o filho é nosso”. José: “Ela não sabe ser mãe. A mãe dela é quem diz como criar meu filho. Não quero que meu filho fique com ninguém. Nós é quem somos os pais”. Este exemplo mostra como José, na tentativa de ter controle sobre o comportamento de Marina, fica “nervoso” e grita. Marina tenta controlar o comportamento do filho (bebê de seis meses) para não desencadear o comportamento agressivo de José. Quando, em função de seu medo de ficar sozinha com o bebê, vai para a casa da mãe, emite o comportamento que gera a agressividade de José. A dificuldade é que ao invés de falarem de seus próprios medos eles se engajam em comportamentos de fuga e esquiva, não compreendidos pelo outro, e desencadeiam interações aversivas: José teme que os avós, paternos ou maternos, conduzam a educação e “tomem” o amor de seu filho, e, Marina, por sua vez, acredita que tem que fazer tudo certo e que não sabe lidar com o bebê e assim recorre à sua mãe. Para evitar o pior, na compreensão dele, José agride Marina embora ambos queiram a mesma coisa: cuidar melhor de seu bebê e tornarem-se pais amorosos e responsáveis. A aversividade recíproca assim iniciada pode chegar à agressão física, podendo assumir formas desastrosas de relacionamento. A violência doméstica tem sido cada vez mais intensa e freqüentemente relatada nos atendimentos de casais. É um problema social que está sendo mais enfocado na atualidade. A discussão atual leva a um aumento nas denúncias e à necessidade do desenvolvimento de estratégias específicas de cunho social, policial e psicológico para lidar com o problema. Jacobson e Christensen (1998) descrevem dez mitos sobre a agressão: Homens e mulheres, ambos batem; Os agressores são parecidos; A violência nunca é causada por drogas; Agressores não podem controlar sua raiva; A agressão acaba por si mesma; A psicoterapia é um tratamento “melhor” do que a prisão; As mulheres provocam os homens para que eles batam nelas; Mulheres que apanham podem mudar a situação mudando o próprio comportamento; Existe uma única resposta para a pergunta: “Por que os homens batem nas mulheres”. Os agressores são em geral os homens, e são classificados, segundo os autores, em dois padrões: cobras: são frios e o objetivo deles é controlar a parceira pelo medo; e Pit Bulls, cuja agressividade está ligada a intenso tônus emocional e à dependência da parceira. (Jacobson e Christensen, 1998). Para os autores, os ataques dos cobras às suas mulheres sugerem alguns propósitos nas interações: 1) suprimir reações de raiva; 2) aumentar o medo; 3) produzir muita tristeza; 4) intimidar suas mulheres. O objetivo das suas ações é a coerção e o controle. Os ataques dos Pit Bulls às suas mulheres sugerem alguns propósitos nas interações: 1) solucionar situações de conflito; 2) levar a mulher a deixar de fazer algo que o desagrada ou o irrita; 3) impedir o abandono; 4) intimidar suas mulheres quando não lhes parecerem intimidadas. O objetivo de suas ações é a coerção e, como não têm controle emocional e dependem de suas mulheres, respondem a elas com agressividade como descarga emocional. A função da agressão é controle. Geralmente, ocorre uma escalada com abuso físico e verbal para obterem controle, intimidação e submissão. Porém, existemvárias formas de controle e diferentes experiências que geram mudanças nele. As formas de controle do comportamento do outro são diferentes em casais que entram no ciclo da agressão e nos que não o fazem. Na maioria das vezes os casais têm um ritual de parada que faz com que a escalada da agressão seja interrompida antes que ocorra o ato violento. Contudo, alguns parceiros não discriminam a linha divisória que desencadeia o episódio de agressão. No caso dos cobras estes a ultrapassam quando sentem que a companheira deseja controlá-los, e no dos Pit Bulls, eles a ultrapassam quando a tensão emocional fica muito alta e perdem o controle sobre seus impulsos. Os agressores não são capazes de aceitar nenhuma influência da mulher, por mais razoável que seja; tornam-se mais agressivos quando a esposa afronta sua autoridade; querem dar-lhes uma lição; ficam ultrajados se a mulher lhes sugere uma conduta. Assim, ficam mais agressivos quando suas mulheres os enfrentam, iniciando, a partir do enfrentamento, uma situação de abuso emocional contra a mulher. Aceitar “influências” é normal nos casamentos mas não o é quando os parceiros são agressores. As mulheres tentam o máximo que podem inserir uma normalidade em suas vidas; solicitam mudanças do parceiro e lutam pela família que desejam; neste processo, raramente desistem e seus comportamentos emocionais ou de resistência podem ser estímulos contextuais para o processo de escalada que leva à agressão. Este ciclo faz com que, equivocadamente, ao se tentar compreender a questão da violência, as mulheres sejam colocadas como causadoras da agressão. Isto, segundo nossa perspectiva, não procede. O agressor é responsável por seu próprio comportamento e isso deve ficar claro para o terapeuta e para os parceiros. As respostas da mulher podem parecer provocações, mas elas estão reagindo à agressão. Sendo assim, as esposas vivem emoções competitivas entre si: medo da agressão física, raiva e ultraje, necessidade de agir e medo, por exemplo, ao proteger um filho durante um episódio de agressão. As mulheres ficam muito zangadas; mais do que os maridos; são mais briguentas e reagem verbalmente, parecendo responder mais do que se espera e fazendo muito esforço para conter a raiva, mas não conseguem. Sentindo raiva e frustração elas descuidam de sua segurança. A esposa amedrontada e raivosa não tem como interromper o episódio de agressão depois de iniciado, e, isso faz com que, em uma leitura topográfica da situação ela possa ser descrita como provocadora do episódio. Freqüentemente ocorre apenas um controle aparente e momentâneo. “Ela aprendeu”: quando ele pensa que a mulher já aprendeu a lição. “Ele vai mudar”: a mulher, sonhando com uma relação normal, tenta minimizar o mais rapidamente possível o incidente e voltar ao momento anterior a ele. Porém, reinicia-se o ciclo de agressão. Afinal, o que as impede de sair da relação? Dois processos parecem ser mais claros: a síndrome da mulher abusada, que se enquadra como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e o desamparo aprendido. Frente à intensa estimulação aversiva a mulher poderá ter: 1) história comportamental desfavorável à apresentação de comportamentos concorrentes (dificuldades no repertório total); 2) condições atuais desfavoráveis que podem impedir a apresentação de comportamentos concorrentes (reforçados positivamente). Então, o que as impede de sair da relação pode ser: medo, sonho de amor eterno ou de ter uma família unida, dependência econômica, vínculos traumáticos, dentre outros possíveis fatores. Para sair deste ciclo é necessário passar do medo e da raiva para a aceitação, do pensamento para a ação. O abuso emocional, tal como descrito a seguir, ajuda as mulheres a decidirem interromper o relacionamento: destruição de coisas de estimação e pessoais, coerção e abuso sexual, tentativas de isolamento da mulher, degradação, abuso emocional contínuo (cobras). A violência doméstica ainda requer a realização de muitos estudos para que possamos melhor compreendê-la e preveni-la. Parceiros em diferentes etapas da vida A procura da terapia de casais se dá em diferentes etapas da vida: namorados ou noivos; casais sem filhos; casais com filhos pequenos; casais com filhos adolescentes; casais cujos filhos já saíram de casa (ninho vazio); a chegada dos netos e a renovação que eles promovem; a aposentadoria de um ou de ambos; etc. Cada uma das etapas requer atenção e intervenções especiais, dado que impõem a discussão de diferentes temas, analisados por diferentes perspectivas. É natural que em cada etapa da vida as pessoas tenham preocupações diversificadas e, conseqüentemente diferentes indagações. Namorados ou noivos Parceiros que estão nesta etapa da vida buscam ajuda terapêutica tentando encontrar alguma “solução mágica” para as dificuldades encontradas em seus relacionamentos, no momento, ou mesmo alguma “previsão segura” sobre o “acerto” ou não da escolha da parceria que têm no momento. São comuns indagações do tipo: O relacionamento “dá conserto”? O relacionamento tem futuro? Como mudar o relacionamento? Como mudar o outro? Ele (a) vai mudar? Como fazer a família aceitar o (a) parceiro (a) que escolheram? Casal sem filhos Muitas vezes ter ou não filhos aparece como a questão central do relacionamento de casais que procuram ajuda terapêutica. Este tema permeia muitos outros tópicos das interações dos parceiros e normalmente trata-se de uma questão bastante delicada por poder colocá-los diante de limites pessoais biológicos, emocionais e/ou “filosóficos”. O respeito mútuo à individualidade de cada um e a necessidade de construir um “acordo” conjunto requer que o terapeuta os ajude a responder questões como as que são mencionadas abaixo: Ter ou não filhos? Qual a vontade de cada um dos parceiros sobre isso? Há algum “impedimento”? De quem? Ocorreram tentativas anteriores de ter filhos? Quais métodos buscaram ou gostariam de procurar? Como lidar com as revoluções tecnológicas e biológicas? Qual a “interferência” de cada uma das famílias sobre o casal ter ou não filhos? Como lidam com o fato? O que “significa” para cada um deles não poder ter sua vontade satisfeita pelo outro? Casal com filhos pequenos Ter filhos e decidir como conduzir a educação deles freqüentemente também se transforma em motivo de desentendimento entre parceiros. Muitos deles têm noções teóricas sobre crianças, mas não avaliam exatamente o que e como passará a ser o cotidiano do casal, na prática, após o nascimento de um bebê, que embora tenha sido desejado impõe uma grande quantidade de renúncias pessoais por um longo período. O terapeuta de casais, nestes casos lidará dentre outras, com as seguintes questões: Têm modelos de criação de filhos? Têm acordos sobre como lidar com situações de cuidados em geral, alimentação, sono, saúde, escolaridade, limites, participação de terceiros na educação, etc.? Como os modelos vivenciados por cada um dos pais interferem na obtenção de acordos? Têm conhecimentos acerca do comportamento esperado para crianças pequenas? Têm soluções práticas para as “exigências”’ que a criação de filhos demanda? O que fazer com as alterações do cotidiano do casal a partir do nascimento dos filhos? O que muda na vida de cada um deles? O que fazer com o lazer de cada um e do casal? Quais “direitos e deveres” de cada um e de ambos? Casal com filhos adolescentes Além das questões apontadas acima se somam outras próprias da adolescência e que também geram dúvidas e/ou divergências entre parceiros com filhos desta idade e que levam também parceiros a procurar ajuda psicoterápica: Impor limites? Quais e em quais circunstâncias? Conseguem se adaptar às mudanças do comportamentodo filho? Como e quais valores de vida cada um deles acredita que seja importante transmitir, reforçar ou mesmo discutir com os filhos? Como avaliar as amizades vividas e desejadas pelos filhos? É possível estimulá-las ou impedi-las? Qual a importância do grupo de amigos? Trazê-los para dentro de casa? Freqüentar a casa de amigos? Como conduzir a “liberdade vigiada”? É necessário este procedimento? Como orientar os filhos sobre as “experiências” tidas como próprias da idade: sexo, “uso” de bebida alcoólica, “drogas”? Como ensinar os filhos adolescentes a construir critérios para suas próprias vidas? Casais com filhos adultos: Mudanças sociais fazem com que filhos fiquem na casa dos pais por períodos cada vez mais prolongados. A ampliação do período de estudos, incluído atualmente os cursos de pós-graduação, acentua a dificuldade em obter e manterem-se em outra residência. As regras criadas para os filhos adolescentes não são mais válidas. Agora, trata-se de uma convivência entre adultos. Pais e filhos devem aprender a ter relacionamentos cada vez mais horizontais. Quando aparecem problemas, os processos coercitivos de parte a parte podem se estabelecer: 1) dos pais para com os filhos: “você vive aqui e as coisas devem ser como determino”; 2) de filhos para com os pais: “sou adulto e faço o que quero ou acho correto”. São extremos que causam dificuldades de convivências com os filhos adultos. Os filhos se tornam financeiramente independentes, mas não inteiramente porque necessitam morar na casa dos pais até poderem adquirir a própria casa, tendo então uma autonomia apenas parcial, embora em geral, queiram uma autonomia integral. Os filhos, que deveriam constituir suas próprias famílias continuam a ser parte da vida do casal e as discordâncias podem interferir nas relações do casal. Onde estão os limites? Como determinar novas regras de convivência? Em outras famílias, ter filhos adultos significa que eles já têm a própria vida, saíram da casa dos pais e, freqüentemente, constituíram suas próprias famílias. Nestes contextos terapeutas de casais são também procurados por parceiros que se encontram novamente sozinhos, como eram no início do casamento. A diferença entre esses dois “momentos” da vida é que durante longos anos conviveram com a presença dos filhos, o que geralmente leva os parceiros a se relacionar de outras maneiras, muitas vezes “esquecendo-se” da vida de casal. Após a saída dos filhos passam a viver o que é amplamente conhecido como a “síndrome do ninho vazio”; precisam reaprender a relacionar-se sem a intermediação dos filhos ou das tarefas para com os mesmos. “Aposentadoria’” Esta etapa da vida pode configurar-se de diversas maneiras para os casais, exigindo atenção apropriada do terapeuta, como na apresentada no caso a seguir: Daniel, 65 anos, contador aposentado e Carmem, 60 anos, dona de casa, que tinham expectativas de vida diferentes como as referidas no seguinte diálogo: Carmem: “Eu esperei a vida inteira para ficar em casa sossegada com ele. Ele aposentou e não pára. Agora arrumou para trabalhar lá numa ONG. Eu continuo sem ter ele”. Daniel: “Eu não consigo ficar parado. Eu quero que ela vá comigo e ela não quer. Só quer ficar em casa. Já ficou a vida inteira e não quer mudar”. Estas falas nos mostram as expectativas de cada um que não se realizaram. O parceiro que se aposentou não tem habilidades ou interesses em permanecer em casa e isto é interpretado pela parceira como desinteresse do marido por ela. Outra situação bastante comum nesta fase da vida é a do parceiro que trabalhava fora e que após aposentar-se quer participar das atividades que anteriormente delegava inteiramente à mulher causando rivalidade ao invés de cooperação. Poderá ser interpretado como uma intromissão. Ela era a “dona do lar” e agora ele quer tomar parte na administração da casa. A aposentadoria implica em mudanças que podem ser trabalhadas de modo a: 1) Diminuir a dificuldade em aceitar diferenças: mulher quer marido perto e este quer nova atividade fora de casa ou vice versa; 2) Ajustar as expectativas de cada um; 3) Contribuir para a formulação de projetos de vida individuais; 4) Analisar os diferentes graus de envolvimento com a vida: os menos envolvidos se ressentem da atitude de envolvimento do parceiro, sentido-se abandonados; 5) Enfrentar o processo de envelhecimento utilizando os recursos que a ciência oferece quando as capacidades vão diminuindo; 6) Aprender a lidar com as doenças próprias da nova etapa; 7) Lidar com a possibilidade da própria morte ou do(a) companheiro(a). Considerações finais O terapeuta de casais exerce papéis e/ou funções variados como: mediador, orientador, instigador, pacificador, “informador”, no entanto será sempre um analista do comportamento. O terapeuta precisa saber ouvir com todos os filtros presentes: gênero, idade, pessoas de diferentes culturas e origens, profissionais, valores de vida, sociais, morais e éticos. Precisa considerar os sinais dos tempos, o que significa viver em cada época; as transições de costumes, práticas e realidades sociais de cada momento. Precisa saber falar (comunicar-se) considerando todos os aspectos anteriormente mencionados. Os objetivos e as estratégias apresentadas por diferentes propostas teóricas para atender parceiros devem ser modificados, ampliados, encampados e revistos constantemente. Isso porque cada casal é único, tem sua própria história de relacionamento e, portanto sua terapia requer o estabelecimento de objetivos e estratégias próprias. A terapia de casal para ser eficaz deve prever processos de mudança, tolerância e aceitação. Deve considerar que diferentes conjuntos de variáveis controlam diferentes interações entre eles. Uma terapia de casais deve “cuidar” de comportamentos públicos e de encobertos presentes na relação. Embora o objetivo primeiro da terapia de casais seja lidar com a relação do casal é fundamental para cada um deles como pessoa: 1) identificar a influência de seus comportamentos na interação deles; 2) identificar suas características pessoais; 3) identificar seus sentimentos; 4) identificar seus valores de vida; 5) identificar seus “limites” pessoais; 6) identificar seus objetivos de vida; 7) perceber que ambos os parceiros “ganham” ao descobrir que são igualmente responsáveis pela qualidade do relacionamento. (Otero e Ingberman, 2004). Consideramos importante reafirmar que a terapia do casal é a terapia de cada um e de ambos com suas capacidades de interação com o outro. E, ainda, o terapeuta tem como tarefa direcionar este processo respeitando a individualidade de cada um e as necessidades dos parceiros para que ambos tenham como resultado a própria realização e bem estar pessoais. 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