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TERAPIA COMPORTAMENTAL DE CASAIS

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TERAPIA COMPORTAMENTAL DE CASAIS: 
especificidades da prática clínica e questões atuais. 
 
 
 
 
Autora: Vera Regina Lignelli Otero 
CPF: 348.964.738.68 
RG: 3.504.130-SSPSP 
End: Rua Angélica, 298 
Jardim Macedo 
Ribeirão Preto – SP 14091 110 
veraotero@netsite.com.br 
Instituição: Clínica ORTEC - Ribeirão Preto - SP 
 
 
Autora: Yara Kuperstein Ingberman 
CPF: 200.993.559-49 
RG: 781.341-4 Pr 
End.: Brigadeiro Franco, 2525 , apt 1 
Curitiba - PR 
E-mail: yingberman@up.edu.br 
Instituições: 
Instituto de Estudos e Psicoterapia Analítico Comportamental (IEPAC). 
Centro de Estudos em Terapia Comportamental e Cognitiva (CETECC) 
Universidade Positivo 
Faculdade Evangélica do Paraná 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
mailto:veraotero@netsite.com.br
mailto:yingberman@uo.edu.br
 
 
TERAPIA COMPORTAMENTAL DE CASAIS: 
 especificidades da prática clínica e questões atuais. 
 
 
 
 O atendimento de casais em psicoterapia tem sido abordado pela 
análise do comportamento enfatizando processos de aceitação e comunicação, 
constituindo um avanço frente às propostas iniciais que priorizavam os 
processos de mudança de comportamento. Neste capítulo serão apresentadas 
ponderações teóricas abrangentes relativas à análise do comportamento 
aplicada ao atendimento de casais; serão ainda abordadas algumas 
especificidades do atendimento de casais tais como os constituídos por 
parceiros homossexuais, os que vivenciam a violência doméstica e os 
romances virtuais além de algumas das peculiaridades de parceiros que se 
encontram em diferentes etapas da vida. 
A prática clínica tem revelado uma diversificação bastante extensa dos 
tipos de casais que buscam ajuda terapêutica nos últimos tempos. No Brasil, 
até em torno de 30 anos atrás, procuravam ajuda, predominantemente, casais 
formados por pessoas “legalmente” casadas e que estavam no máximo na 
“meia idade”. Suas queixas principais e mais freqüentes eram: “ele não me 
ouve”, “ela não me entende”; “ela acha que eu não sei nada”, “ele quer mandar 
em mim”; “ele me traiu”, “ela não me quer mais”, dentre outras similares. 
Atualmente observa-se que uma variedade cada vez maior de parceiros 
tais como namorados, noivos, casais jovens ou mais idosos, heterossexuais ou 
homossexuais buscam ajuda para equacionar dificuldades específicas ou 
mesmo mais gerais, vividas nos seus relacionamentos. As queixas mais 
freqüentemente apresentadas contêm peculiaridades decorrentes dos novos 
contextos sociais, econômicos ou profissionais, permeadas pela diversidade de 
novos costumes e valores de vida e, quase sempre são acrescidas das 
mesmas queixas que eram apresentadas anteriormente. Os parceiros estão 
convivendo com as imposições destas novas realidades. Podem-se denominar 
essas mudanças de “sinais dos tempos”. O “espaço e o tempo” que cada um 
deles dedica para o “relacionamento do casal” mudaram, indicando realidades, 
necessidades, valores e prioridades diferentes. Alguns pontos podem ser 
citados para exemplificar: os novos papéis assumidos pela mulher, incluindo 
sua profissionalização e independência econômica, o desempenho de funções 
semelhantes às exercidas pelos homens; as parcerias “homo afetivas” são 
assumidas e melhor aceitas publicamente, ao lado de uma maior liberação 
sexual; os recasamentos sucessivos de um ou de ambos os parceiros, dentre 
outros. 
As novas exigências e expectativas, pessoais e mútuas, acrescidas das 
alterações dos contextos de vida e da busca de ajuda por parceiros de todas as 
idades não alteraram, entretanto, a essência das intervenções, apenas 
ampliaram os “temas” abordados. A ajuda para os “novos” casais que nos 
procuram permanece centrada nos problemas de comunicação das mais 
diferentes ordens, no compromisso que têm com o relacionamento e na 
dificuldade de aceitarem que ambos são igualmente responsáveis pela 
qualidade de suas interações. Acrescente-se a estas variáveis o fato de que os 
contextos de vida têm sido cada vez mais complexos. As questões primordiais 
da terapia de casais, atualmente, não são mais metodológicas, mas sim 
ideológicas, conforme afirma Papp (2000/2002, p.14): “Se os terapeutas 
desejam continuar a ser importantes na vida dos casais de hoje, devem ajudá-
los a olhar para além de seus mundos particulares, ou seja, para as forças 
sociais externas que estão atualmente determinando a vida deles”. 
 Neste mesmo sentido Mattaini (2001), com base no modelo da análise 
do comportamento, descreve o que denomina de análise eco-comportamental 
na qual propõe um eco-campo transacional conforme apresentado a seguir. 
 
 
 
INSERIR FIGURA 1 
 
 
 
 
Figura 1: Ecocampo Transacional Simples (Mattaini, 2001, p. 5). 
 
 O Ecocampo Comportamental inclui as interações entre os diferentes 
membros da família e o seu entorno social; permite fazer análises das 
interações que podem ser positivas (reforçadoras) ou negativas (de 
estimulação aversiva), levando a um aumento da freqüência de determinados 
comportamentos por reforçamento positivo ou negativo e até mesmo à 
eliminação de algum tipo de interação por falta de reforço ou por ocorrência de 
punição. 
 
Condução do atendimento 
 
 A terapia comportamental de casais pode ser conduzida por um ou dois 
terapeutas e esta decisão dependerá dos critérios e das características 
pessoais do profissional e dos clientes, assim como dependerá também da 
natureza das principais dificuldades apresentadas pelos parceiros. Além disso, 
as sessões poderão ser todas conjuntas, conjuntas e individuais ou 
basicamente individuais, todas realizadas por um ou dois terapeutas. Ao tomar 
as decisões acima o terapeuta ficará atento também às questões relativas ao 
funcionamento do casal e às dificuldades mais acentuadas de cada um dos 
cônjuges para assim poder escolher a estratégia que levará ao melhor 
andamento do processo. E importante, seja qual for o arranjo escolhido, que o 
foco esteja nos processos que interferem na interação dos parceiros. 
 
Ampliação das intervenções 
 
A terapia comportamental de casais teve como propostas iniciais 
básicas: 
 alterar os comportamentos públicos dos parceiros; 
 aumentar as interações positivas mútuas; 
 diminuir interações negativas mútuas; 
 ensinar estratégias gerais para solucionar futuros problemas de 
interação. 
 Os trabalhos de Jacobson, & Christensen (1998) e de Cordova, & 
Jacobson (1993/1999) descrevem a ampliação do alcance das primeiras 
propostas de intervenção da terapia comportamental de casais, cuja eficácia 
para resolver problemas era limitada para melhorar as habilidades interativas 
dos parceiros. Estes autores formularam uma proposta de intervenção baseada 
em três conceitos essenciais e indissociáveis: mudança, aceitação e 
compromisso. Entendem que há necessidade de se buscar mudanças nas 
topografias das interações dos parceiros visando promover alterações nos 
comportamentos públicos de um ou de ambos. Outro conjunto de intervenções 
deve visar promover efeitos sobre as experiências privadas, sobre as “emoções 
vividas” por cada um dos parceiros; deve-se também buscar ajudá-los a 
compreender que não temos como escapar de todas as emoções negativas, e, 
portanto elas estarão sempre presentes. Aceitação, desta forma, significa 
experimentar sentimentos negativos ao invés de negá-los; significa corrigir as 
concepções socialmente estabelecidas sobre felicidade ou bem estar, por 
exemplo, levando-os a perceber que ninguém é feliz ou se sente bem durante 
todo o tempo. Por outro lado, desenvolver comportamentos de enfrentamento 
destes sentimentos conduz à construção da aceitação que é uma “atitude” 
altamente desejável entre os parceiros; e, além disso, é necessário que tenham 
compromisso com a relação de ambos; que queiram também melhorá-la. Isto 
significa comprometer-se com a mudança das próprias atitudes, incluindo 
aceitação e enfrentamento dos próprios sentimentos e “aceitação”do outro. 
 
Aceitação emocional através da construção da tolerância 
 
Nos relacionamentos, parte do que torna a aceitação difícil é que 
comportamentos de um parceiro induzem uma grande dor no outro. Uma 
maneira de aumentar a aceitação é aumentar a tolerância de cada parceiro 
para com os comportamentos do outro que lhe geram sofrimento. Isto 
significará tornar a relação menos dolorosa. A tolerância se desenvolve quando 
os parceiros aprendem que devem interromper as próprias tentativas de 
“mudar o outro”; tolerância só pode ocorrer se os parceiros interromperem seus 
esforços para prevenir ou evitar os comportamentos uns dos outros. Se ambos 
“experimentarem” o comportamento do outro sem tentarem mudá-lo e, se for 
também possível criar um contexto de mudanças desejáveis, ocorrerá uma 
diminuição da toxicidade daquele comportamento que então se tornará mais 
aceitável. 
A chave para construir tolerância é capacitar os parceiros a: 
 abandonar a luta para mudar um ao outro; 
 criar oportunidades de viver experiências de interações 
desagradáveis nas sessões terapêuticas para tornar mais fácil o 
“deixar passar” e, 
 aprender a relevar. 
 O treino de tolerância é análogo ao procedimento de exposição usado 
por terapeutas comportamentais para tratar desordens de ansiedade. Quando 
o terapeuta promove a tolerância na sessão de terapia do casal, ele se esforça 
para expor os parceiros ao conflito e aos comportamentos negativos uns do 
outro num ambiente seguro (presença do terapeuta), com a expectativa de que 
os comportamentos negativos possam ser tolerados, e aceitos mais facilmente. 
 Para isso são usadas estratégias e objetivos específicos tais como: 
 aprimorar as habilidades de discriminação e generalização das 
interações; 
 “reformular” a compreensão de cada um dos parceiros sobre um fato; 
 rever as auto-regras ou as regras de ambos; 
 melhorar a comunicação entre os parceiros em termos de recepção e 
expressão (Jacobson, & Christensen, 1998). 
 Comunicação é entendida aqui como a ocorrência de um ou mais 
estímulos produzidos por um organismo e que afetam outro organismo. 
Entende-se que comunicar-se é uma habilidade aprendida e que pode ocorrer 
de diferentes maneiras: verbal (oral): falarouvirfalarouvir e através de 
comportamentos não verbais ou “atos”. 
 A grande maioria dos problemas de relacionamento de um casal ocorre ou 
é agravada pelas dificuldades de comunicação existentes entre eles, 
principalmente às ligadas à escolha das palavras. 
Desta maneira, enfatiza-se para os parceiros que palavras têm “poderes e 
força” e geram emoções e sentimentos. Pondera-se ainda que é a palavra que 
dá significado ou existência a tudo o que ocorre no mundo, inclusive os 
relacionamentos. O que existe, existe porque compreendemos e exprimimos 
com palavras; o que sentimos ou fazemos alguém sentir é percebido e 
categorizado através das palavras que acariciam , machucam, constroem , 
destroem, aproximam ou separam pessoas que interagem. 
Vale a pena reafirmar que cada conversa contém: 
 atributos pessoais: delicadeza, agressividade, reflexão, 
impulsividade, etc.; 
 hábitos e maneiras pessoais: individualismo, inclusão, 
participação, cooperação, exclusão, etc.; 
 valores de vida: certo, errado, bom, mal, adequado, inadequado, 
respeito, desrespeito, etc.; 
 conceitos “errôneos” embutidos nos diálogos: discordar como 
sinônimo de brigar, ser assertivo muitas vezes é compreendido 
como ser agressivo, franqueza é confundida com desrespeito ou 
falta de educação; 
 “adivinhar” a intenção do outro, “transferir” a própria “verdade” 
para adjetivar o comportamento do outro, “crer” que a culpa é 
sempre do outro, etc. Este processo transforma o conversar e a 
interação do casal em uma experiência aversiva que produz 
esquiva e contracontrole. 
 Todos esses elementos que caracterizam e estão contidos em uma 
conversa são tópicos que devem ser considerados e examinados durante o 
processo terapêutico de parceiros. 
 
Comportamentos privados na terapia do casal 
 
Quando nos referimos aos eventos privados na situação terapêutica nos 
reportamos a: 1) eventos privados são mais do que aqueles controlados 
verbalmente; 2) respostas do organismo e o que elas podem sinalizar; 3) não 
apenas ao comportamento verbal encoberto ou a comportamentos governados 
por regras. 
Nesse sentido a terapia de casais é um espaço privilegiado para a 
reorganização dos comportamentos privados e torna-se a oportunidade de: 
 explicitar verbalmente os próprios comportamentos encobertos; 
 sensibilizar as reações do parceiro dentro da sessão; 
 dessensibilizar as reações estabelecidas em interações de 
aversividade; 
 ao contrário do que ocorre na terapia individual na qual o 
interlocutor do cliente é o terapeuta, na terapia de casais o 
interlocutor é o parceiro e o terapeuta é um facilitador; 
 lidar com pensamentos, emoções e sentimentos constitui-se em 
uma tarefa central, compartilhada na sessão e mantida fora dela. 
 criar alternativas para a ocorrência e manutenção dos novos 
encobertos fora das sessões; 
 
Tome-se como exemplo a seguinte situação: O marido liga para a 
esposa durante o trabalho e diz: “posso falar agora” (com um determinado tom 
de voz); ela tem uma sensação eliciada de “perigo” mesmo quando o assunto é 
corriqueiro e isto gera nela uma reação de raiva (CV agressivo). Este 
comportamento tem funções na relação do casal: 
 Ela fica sob controle do que ele possa dizer a partir de uma 
sensação privada decorrente da atenção que ela dá à fala dele 
com este tom (provavelmente sentida em ocasiões anteriores nas 
quais este tom de voz foi utilizado para dar notícias graves); 
 esta atenção, provavelmente, não é a mesma quando ele fala de 
modo mais “leve”; 
 de forma “inexplicável” ele reage “mal” (com sensação de 
desconforto) quando ela responde com agressividade; 
 nos próximos dias ele, provavelmente, não falará com ela neste 
tom e não sentirá que recebe a mesma atenção da parte dela nos 
telefonemas (esquiva); 
 ele tenderá a falar daquela forma novamente em algum momento 
(para ser escutado “atentamente”). Portanto, ao chegarem à 
terapia poderão trazer diferentes “interpretações” sobre a mesma 
situação: “ela não me dá importância”, “ele só me assusta”. 
Ambas as afirmações constituem a verdade “de e para cada um 
deles”. 
 Outro componente relevante da comunicação entre parceiros é a 
assertividade. A conversa “de casal” requer assertividade, ou seja, a habilidade 
de identificar, formular e expressar, adequadamente, suas próprias opiniões, 
desejos, vontades, sentimentos, etc., mas sem ferir os direitos do (a) parceiro 
(a). Saber falar e ouvir respeitando a si e ao outro. 
 Como afirmado anteriormente, deve-se considerar também na 
comunicação entre parceiros os aspectos não verbais que estão embutidos nas 
interações relatadas e que podem ser diferentes para cada um deles. Por 
exemplo: um homem que sai do trabalho, cansado e vai tomar “uma cervejinha” 
com amigos mesmo sabendo que sua mulher está doente em casa, só com o 
filho. O marido não entende porque ela ficou triste e brava com seu 
comportamento. Para ele, “ela estava cuidada e ele precisava relaxar”; para a 
mulher, “ele é egoísta e não a considera”. 
De acordo com este “pano de fundo”, quaisquer que sejam as queixas, o 
terapeuta deverá: 1) buscar dados para realizar análises funcionais; 2) 
considerar o contexto mais amplo e as 3) especificidades de cada dupla de 
parceiros; 4) analisar amplamente a qualidade da comunicação existente entre 
eles 
. 
Especificidades do atendimento de alguns parceiros 
 
Descreveremos a seguir especificidades sobre alguns dos temas 
abordados na terapia de casais. Serão apresentados casos clínicos através 
dos quais faremos algumas ponderações teóricas. 
 
Casais homossexuais ou homo afetivos 
 
José,28 anos, engenheiro. Relata: “Eu tenho um relacionamento muito 
bom, mas ao mesmo tempo tenho muitas dificuldades no meu relacionamento. 
Eu amo muito, mas não sei se dará para ficarmos juntos. Na realidade acredito 
que nós nos amamos. Eu vim aqui porque não sei o que fazer da minha vida”. 
Uma queixa inicial com este conteúdo impõe ao terapeuta a necessidade de 
cuidados na elaboração das perguntas para colher mais informações: “O que 
ocorre no seu relacionamento? O que o faz muito bom ou muito ruim”? “Fale 
um pouco sobre você e sobre a pessoa com quem você está se relacionando”. 
Neste exemplo, essa era a história do José e do João. A pergunta genérica 
poupa o cliente e o terapeuta de expressões de preconceitos, 
 Na terapia de casais não se diferencia se são parceiros de um mesmo 
sexo ou heterossexuais uma vez que as questões que os preocupam são do 
mesmo teor: comunicação, afeto, tolerância, aceitação, etc.. O terapeuta deve 
ter cuidado ao coletar dados iniciais, especialmente, não partir de nenhum 
pressuposto, para que possa permitir que o cliente aborde todos os temas que 
o preocupam. 
História de Thiago (43 anos): “Vim lhe procurar porque a minha vida já 
não tem mais sentido. Sou um empresário de sucesso, mas estou sem 
condições de seguir em meu trabalho porque tenho de escolher entre viver a 
minha vida pessoal ou a profissional. Não suporto mais ter só vida profissional, 
e se souberem que sou homossexual não vão me respeitar e vou perder tudo. 
O que mais quero na vida é ter uma relação interpessoal estável. Preciso 
aprender a me relacionar”. 
Considerando esses dois exemplos, devemos atentar que em casos de 
parceiros homossexuais (masculinos ou femininos), existem pontos relevantes 
e específicos para esse tipo de atendimento. A postura do terapeuta frente à 
homossexualidade ou homo afetividade deve considerar que: 1) é um 
relacionamento como outro qualquer embora com suas próprias 
especificidades; 2) é um relacionamento humano que contém uma preferência 
por uma forma de relacionamento afetivo e que também busca uma realização 
pessoal além da satisfação sexual; 3) não é apenas uma questão de identidade 
sexual; 
Outros pontos relevantes a serem observados no atendimento de 
parceiros homossexuais são: 
 o terapeuta deve usar o mesmo vocabulário mostrado pelos parceiros 
(por exemplo, gays e lésbicas) ao invés de apenas “homossexuais”; 
 fazer reflexões efetivas sobre os conceitos sociais e culturais que podem 
estar comprometendo o relacionamento dos parceiros; 
 ajudá-los a “limpar” as queixas e a esclarecer questões tais como: 
diminuição do interesse de um deles ou “descuido” com a parceria. 
Poderá não ser nada disso, mas sim, falta de repertório adequado para 
lidar com “pressões sociais”, às vezes, auto-impostas; 
 assumir-se ou não como homossexuais: perante as famílias, os amigos, 
os filhos, no trabalho, etc.; 
 atentar para limites imprecisos de suas ações, “invisibilidade” da 
parceria, falta de modelos satisfatórios de relacionamento; 
 acesso a direitos civis, benefícios sociais, etc.; 
 “afetação” comportamental de um dos parceiros que poderá desagradar 
o outro; 
 acordos para o estabelecimento e/ou “distribuição” dos papéis na 
execução de tarefas, domésticas ou não; 
 como lidar com a “passagem” do tempo que leva ao envelhecimento e 
demandará o equacionamento de tópicos tais como heranças e 
“testamentos”; 
 acordos de separação; 
 filhos de relacionamentos anteriores ou adotados que requerem 
decisões ligadas à educação em si, dentro e fora de casa, dentre outros. 
 
Vale a pena registrar que o atendimento de parceiros homossexuais, na 
maioria das vezes, inicia-se pelo atendimento de um deles como se fosse uma 
terapia individual. Gradativamente vai surgindo a demanda real que, na 
verdade, trata-se do atendimento do casal. O terapeuta deverá então decidir 
com o cliente como ele gostaria que transcorresse o atendimento. Uma grande 
porcentagem de parceiros homossexuais prefere ser atendida por dois 
terapeutas, em sessões individuais, embora quase sempre abordando os 
mesmos temas, ocorrendo apenas eventuais sessões conjuntas com a 
presença dos quatro participantes. 
 
 
“Romances” ou encontros virtuais 
 
Nas últimas décadas, com o desenvolvimento e expansão do uso da 
tecnologia, a comunicação virtual passou a permitir que pessoas se relacionem 
em tempo real com os mais diferentes objetivos. Muitas delas se encantam 
com a possibilidade de conhecer outras pessoas que se tornam seus parceiros 
em “viagens fantásticas” que parecem realizar sonhos ou desejos não 
possíveis na vida real, pelo menos naquele momento. A internet com suas 
salas de bate papos e demais formas de contato em tempo real, leva as 
pessoas a, equivocadamente, desenvolverem a percepção de que o que ocorre 
naquele contexto não interfere no que vivem de fato, isto é, nos seus 
relacionamentos já estabelecidos ou mesmo em suas vidas estritamente 
pessoais. É como se elas se sentissem protegidas ou “retiradas” da realidade 
por um espaço de tempo. Outras pessoas conseguem estabelecer apenas este 
tipo de relacionamento e acreditam que a possibilidade de “viverem” 
relacionamentos virtuais “salvou-as” da solidão. 
 Relacionamento virtual é então um tema atual, freqüente e de grande 
interferência nos relacionamentos compreendidos como estáveis como o de 
Luiz, 45 anos, investidor e Maria Antônia, 40 anos, lojista, que apresentaram o 
diálogo a seguir: Maria Antônia: “Não me conformo, prá mim o nosso 
casamento está acabando ou já acabou. Não me importa que ele nunca se 
encontrou com ela. Ele namora ela. Ele não me namora.” Luiz: “Nós estamos 
juntos há 15 anos. É natural que o interesse vá diminuindo, mas eu não quero 
te trair. Eu não te traí. Eu já te falei: você só fica pensando na loja. Abriu 
espaço, eu entrei. Eu entrei, mas não tem nada a ver com o nosso casamento. 
Já te falei que eu nunca encontrei com ela. É só no computador, a gente 
conversa e pronto, só isso.”. 
 Como os encontros são “apenas virtuais”, possibilita que o parceiro do 
exemplo desconsidere como reais as trocas pessoais vividas por ele através da 
internet. As experiências virtuais não são consideradas “reais”, como se estas 
interações não fossem verdadeiras, diferentemente da compreensão da esposa 
que as entende como verdadeiras e genuínas. Este caso evidencia que 
terapeutas de casais devem buscar compreender e analisar todas as possíveis 
implicações e/ou funções das experiências virtuais nos relacionamentos dos 
parceiros que o procuram. Estas experiências interferem nos relacionamentos 
reais, “estáveis”; desencadeando “crises” entre os mesmos, uma vez que 
levam a pessoa a fugir da realidade, como no caso de Márcio (38 anos) e 
Beatriz (36 anos): ambos eram advogados, e trabalhavam em cidades 
diferentes e se encontravam apenas nos finais de semana. A queixa de Beatriz 
foi ter encontrado Márcio se masturbando em um encontro virtual. Para ele esta 
era uma situação “normal” porque, ele e a mulher ficavam distantes muito 
tempo; para ela tratava-se de uma traição. 
O terapeuta deverá ajudar a ambos a identificar que todas as 
experiências, virtuais ou não, são reais. O foco principal da intervenção deverá 
estar sempre no que de fato ocorre entre aquelas pessoas que estão buscando 
o atendimento. Como cada uma delas se comporta em relação ao outro? Como 
cada um deles considera o relacionamento? Qual o grau de compromisso de 
cada um deles com o relacionamento? O que cada um pode e quer mudar em 
seu próprio comportamento com o objetivo de tornar o relacionamento mais 
gratificante para ambos? Quais sentimentos são possíveis de serem 
identificados em cada um deles? O que o comportamento de cada um causou 
no outro parceiro? Qual a concepção de cada um deles sobre o que é traição? 
Quais acordos eles tinham anteriormente estabelecido entre eles?Há valores 
morais envolvidos nestas situações? Quais? São os mesmos para ambos? Em 
que, na percepção de cada um deles, a experiência de encontros virtuais 
interferiu no relacionamento do casal? 
 As respostas a estas questões devem ser facilitadoras de uma interação 
mais harmoniosa na qual os sentimentos de cada um possam ser levados em 
conta. 
 
Violência doméstica 
 
 Terapeutas de casais constantemente se encontram diante de parceiros 
que praticam e/ou sofrem violência doméstica. A despeito de ser um tema 
bastante atual e freqüente na relação a dois observa-se que os profissionais 
têm pouco preparo técnico para trabalhar com estes problemas. A formação 
do psicólogo não contempla este estudo como um tópico especifico. Jacobson 
e Christensen (1998) relatam que a falta deste conhecimento pode vir a trazer 
“conseqüências sérias” aos clientes por ser um problema que põe o (a) 
parceiro (a) em risco se não forem tomados alguns cuidados. 
 “Abuso físico de qualquer tipo, seja ele de parceiro ou de filho, seja 
estupro ou incesto, exige posicionamentos morais e éticos específicos.” (Papp, 
2000/2002, p.28). Sempre será inaceitável, em qualquer condição. 
 A história, exemplificada nos relatos abaixo, de Artur, 46 anos, agricultor, 
e Laís, 36 anos, professora, mostra um dos tipos comuns de violência 
doméstica: Artur: “Ela me tira do sério. Já falei prá ela não me olhar daquele 
jeito. Já falei prá ela que não é prá por os meninos contra mim. Aí eu fico louco 
e parto prá cima dela.” Laís: “Ele não sabe escutar. Ele acha que os meninos 
não percebem como ele é. Ele acha que sou eu quem põe os meninos contra 
eles. Ele bate em mim e nos meninos também.” 
 O que fazer nestes casos? Atendimento do casal? Atendimento 
individual? Não atendimento? Denúncia à polícia? Dois terapeutas? 
A incidência de violência entre casais é de 3 a 4 % da população (Roth, 
1993, in Mattaini 1999). Estimativas indicam que alguma violência física, ocorre 
em metade das relações íntimas entre adultos. Algumas são em baixo nível e 
sua função não é só o controle coercitivo; envolvem ainda as diferentes 
funções do bater (Jacobson, & Christensen, 1998). 
Segundo estes autores, 50% dos casais que procuram terapia se 
engajaram em comportamento violento no ano que antecede a procura. Porém 
a maioria dos casais envolveu-se em comportamentos violentos alguma vez. 
Salientam os autores que a violência contra a mulher é, às vezes, 
acompanhada pela violência recíproca da mulher. Estes dados sugerem que, 
na maioria dos casos, o homem tem menos prejuízos e não tem a experiência 
emocional de terror que a mulher vivencia, pois a violência na mulher, em 
geral, envolve auto defesa (Mattaini, 1999). 
Nestes casos o mecanismo usado é a coerção. Sidman (1989/1995) 
afirma que punimos as pessoas porque acreditamos que as levaremos a agir 
diferentemente. Queremos parar ou prevenir certas ações. Punimos alguém 
quando avaliamos que sua conduta é considerada má para a comunidade, para 
outros indivíduos ou para nós mesmos. O que desejamos com a prática da 
punição é por fim à conduta indesejável. Desta maneira a violência é usada 
como forma de controle por reforçamento negativo tornando funcional a 
aversividade da agressão. 
Esta aversividade, algumas vezes, detém o comportamento indesejável, 
pelo menos temporariamente. No entanto, não ensina nada sobre o que deve 
ser feito além de poder destruir relações. A violência é um comportamento, e 
não é causado por raiva, abuso de substâncias ou doença mental, embora em 
alguns casos estes fatores diminuam a sua inibição. A violência repetitiva 
ocorre porque é reforçada pelo estabelecimento do controle coercitivo e pela 
retirada de estados emocionais negativos (Mattaini, 1999). 
A manutenção da relação com violência se dá porque após o episódio 
de violência pode se estabelecer um período de “lua de mel”, durante o qual, 
vários reforçadores não contingentes são trocados. Porém o padrão de controle 
coercitivo retorna, eventualmente, porque esta é a maneira mais eficiente de 
manter o controle estabelecendo então, um esquema de reforçamento 
intermitente entre agressões e trocas de afeto. 
O caso de Marina, 23 anos, estudante universitária e José, 24 anos, 
estudante de programação visual, ilustra o controle mútuo de comportamento 
exercido pela punição: Marina: “Eu tenho medo quando ele chega em casa. 
Preciso fazer com que o bebê pare de chorar porque ele logo fica nervoso e 
começa a gritar. Tenho medo de ficar sozinha em casa e vou para a casa de 
minha mãe e ele fica furioso e grita: o filho é nosso”. José: “Ela não sabe ser 
mãe. A mãe dela é quem diz como criar meu filho. Não quero que meu filho 
fique com ninguém. Nós é quem somos os pais”. 
Este exemplo mostra como José, na tentativa de ter controle sobre o 
comportamento de Marina, fica “nervoso” e grita. Marina tenta controlar o 
comportamento do filho (bebê de seis meses) para não desencadear o 
comportamento agressivo de José. Quando, em função de seu medo de ficar 
sozinha com o bebê, vai para a casa da mãe, emite o comportamento que gera 
a agressividade de José. A dificuldade é que ao invés de falarem de seus 
próprios medos eles se engajam em comportamentos de fuga e esquiva, não 
compreendidos pelo outro, e desencadeiam interações aversivas: José teme 
que os avós, paternos ou maternos, conduzam a educação e “tomem” o amor 
de seu filho, e, Marina, por sua vez, acredita que tem que fazer tudo certo e 
que não sabe lidar com o bebê e assim recorre à sua mãe. Para evitar o pior, 
na compreensão dele, José agride Marina embora ambos queiram a mesma 
coisa: cuidar melhor de seu bebê e tornarem-se pais amorosos e responsáveis. 
A aversividade recíproca assim iniciada pode chegar à agressão física, 
podendo assumir formas desastrosas de relacionamento. 
A violência doméstica tem sido cada vez mais intensa e freqüentemente 
relatada nos atendimentos de casais. É um problema social que está sendo 
mais enfocado na atualidade. A discussão atual leva a um aumento nas 
denúncias e à necessidade do desenvolvimento de estratégias específicas de 
cunho social, policial e psicológico para lidar com o problema. 
 Jacobson e Christensen (1998) descrevem dez mitos sobre a agressão: 
 Homens e mulheres, ambos batem; 
 Os agressores são parecidos; 
 A violência nunca é causada por drogas; 
 Agressores não podem controlar sua raiva; 
 A agressão acaba por si mesma; 
 A psicoterapia é um tratamento “melhor” do que a prisão; 
 As mulheres provocam os homens para que eles batam nelas; 
 Mulheres que apanham podem mudar a situação mudando o próprio 
comportamento; 
 Existe uma única resposta para a pergunta: “Por que os homens 
batem nas mulheres”. 
Os agressores são em geral os homens, e são classificados, segundo os 
autores, em dois padrões: cobras: são frios e o objetivo deles é controlar a 
parceira pelo medo; e Pit Bulls, cuja agressividade está ligada a intenso tônus 
emocional e à dependência da parceira. (Jacobson e Christensen, 1998). 
 Para os autores, os ataques dos cobras às suas mulheres sugerem 
alguns propósitos nas interações: 1) suprimir reações de raiva; 2) aumentar o 
medo; 3) produzir muita tristeza; 4) intimidar suas mulheres. O objetivo das 
suas ações é a coerção e o controle. Os ataques dos Pit Bulls às suas 
mulheres sugerem alguns propósitos nas interações: 1) solucionar situações de 
conflito; 2) levar a mulher a deixar de fazer algo que o desagrada ou o irrita; 3) 
impedir o abandono; 4) intimidar suas mulheres quando não lhes parecerem 
intimidadas. O objetivo de suas ações é a coerção e, como não têm controle 
emocional e dependem de suas mulheres, respondem a elas com 
agressividade como descarga emocional. 
 A função da agressão é controle. Geralmente, ocorre uma escalada com 
abuso físico e verbal para obterem controle, intimidação e submissão. Porém, 
existemvárias formas de controle e diferentes experiências que geram 
mudanças nele. As formas de controle do comportamento do outro são 
diferentes em casais que entram no ciclo da agressão e nos que não o fazem. 
 Na maioria das vezes os casais têm um ritual de parada que faz com 
que a escalada da agressão seja interrompida antes que ocorra o ato violento. 
Contudo, alguns parceiros não discriminam a linha divisória que desencadeia o 
episódio de agressão. No caso dos cobras estes a ultrapassam quando sentem 
que a companheira deseja controlá-los, e no dos Pit Bulls, eles a ultrapassam 
quando a tensão emocional fica muito alta e perdem o controle sobre seus 
impulsos. 
Os agressores não são capazes de aceitar nenhuma influência da 
mulher, por mais razoável que seja; tornam-se mais agressivos quando a 
esposa afronta sua autoridade; querem dar-lhes uma lição; ficam ultrajados se 
a mulher lhes sugere uma conduta. Assim, ficam mais agressivos quando suas 
mulheres os enfrentam, iniciando, a partir do enfrentamento, uma situação de 
abuso emocional contra a mulher. Aceitar “influências” é normal nos 
casamentos mas não o é quando os parceiros são agressores. 
 As mulheres tentam o máximo que podem inserir uma normalidade em 
suas vidas; solicitam mudanças do parceiro e lutam pela família que desejam; 
neste processo, raramente desistem e seus comportamentos emocionais ou de 
resistência podem ser estímulos contextuais para o processo de escalada que 
leva à agressão. 
 Este ciclo faz com que, equivocadamente, ao se tentar compreender a 
questão da violência, as mulheres sejam colocadas como causadoras da 
agressão. Isto, segundo nossa perspectiva, não procede. O agressor é 
responsável por seu próprio comportamento e isso deve ficar claro para o 
terapeuta e para os parceiros. 
 As respostas da mulher podem parecer provocações, mas elas estão 
reagindo à agressão. Sendo assim, as esposas vivem emoções competitivas 
entre si: medo da agressão física, raiva e ultraje, necessidade de agir e medo, 
por exemplo, ao proteger um filho durante um episódio de agressão. 
As mulheres ficam muito zangadas; mais do que os maridos; são mais 
briguentas e reagem verbalmente, parecendo responder mais do que se espera 
e fazendo muito esforço para conter a raiva, mas não conseguem. Sentindo 
raiva e frustração elas descuidam de sua segurança. A esposa amedrontada e 
raivosa não tem como interromper o episódio de agressão depois de iniciado, 
e, isso faz com que, em uma leitura topográfica da situação ela possa ser 
descrita como provocadora do episódio. 
Freqüentemente ocorre apenas um controle aparente e momentâneo. 
“Ela aprendeu”: quando ele pensa que a mulher já aprendeu a lição. “Ele vai 
mudar”: a mulher, sonhando com uma relação normal, tenta minimizar o mais 
rapidamente possível o incidente e voltar ao momento anterior a ele. Porém, 
reinicia-se o ciclo de agressão. 
Afinal, o que as impede de sair da relação? Dois processos parecem ser 
mais claros: a síndrome da mulher abusada, que se enquadra como transtorno 
de estresse pós-traumático (TEPT) e o desamparo aprendido. 
 Frente à intensa estimulação aversiva a mulher poderá ter: 1) história 
comportamental desfavorável à apresentação de comportamentos 
concorrentes (dificuldades no repertório total); 2) condições atuais 
desfavoráveis que podem impedir a apresentação de comportamentos 
concorrentes (reforçados positivamente). 
 Então, o que as impede de sair da relação pode ser: medo, sonho de 
amor eterno ou de ter uma família unida, dependência econômica, vínculos 
traumáticos, dentre outros possíveis fatores. 
 Para sair deste ciclo é necessário passar do medo e da raiva para a 
aceitação, do pensamento para a ação. O abuso emocional, tal como descrito a 
seguir, ajuda as mulheres a decidirem interromper o relacionamento: destruição 
de coisas de estimação e pessoais, coerção e abuso sexual, tentativas de 
isolamento da mulher, degradação, abuso emocional contínuo (cobras). 
A violência doméstica ainda requer a realização de muitos estudos para 
que possamos melhor compreendê-la e preveni-la. 
 
Parceiros em diferentes etapas da vida 
 
A procura da terapia de casais se dá em diferentes etapas da vida: 
namorados ou noivos; casais sem filhos; casais com filhos pequenos; casais 
com filhos adolescentes; casais cujos filhos já saíram de casa (ninho vazio); a 
chegada dos netos e a renovação que eles promovem; a aposentadoria de um 
ou de ambos; etc. Cada uma das etapas requer atenção e intervenções 
especiais, dado que impõem a discussão de diferentes temas, analisados por 
diferentes perspectivas. É natural que em cada etapa da vida as pessoas 
tenham preocupações diversificadas e, conseqüentemente diferentes 
indagações. 
 
 Namorados ou noivos 
 
Parceiros que estão nesta etapa da vida buscam ajuda terapêutica 
tentando encontrar alguma “solução mágica” para as dificuldades encontradas 
em seus relacionamentos, no momento, ou mesmo alguma “previsão segura” 
sobre o “acerto” ou não da escolha da parceria que têm no momento. São 
comuns indagações do tipo: 
 O relacionamento “dá conserto”? 
 O relacionamento tem futuro? 
 Como mudar o relacionamento? 
 Como mudar o outro? 
 Ele (a) vai mudar? 
 Como fazer a família aceitar o (a) parceiro (a) que escolheram? 
 
Casal sem filhos 
 
Muitas vezes ter ou não filhos aparece como a questão central do 
relacionamento de casais que procuram ajuda terapêutica. Este tema permeia 
muitos outros tópicos das interações dos parceiros e normalmente trata-se de 
uma questão bastante delicada por poder colocá-los diante de limites pessoais 
biológicos, emocionais e/ou “filosóficos”. O respeito mútuo à individualidade de 
cada um e a necessidade de construir um “acordo” conjunto requer que o 
terapeuta os ajude a responder questões como as que são mencionadas 
abaixo: 
 
 Ter ou não filhos? Qual a vontade de cada um dos parceiros 
sobre isso? 
 Há algum “impedimento”? De quem? 
 Ocorreram tentativas anteriores de ter filhos? 
 Quais métodos buscaram ou gostariam de procurar? 
 Como lidar com as revoluções tecnológicas e biológicas? 
 Qual a “interferência” de cada uma das famílias sobre o casal ter 
ou não filhos? Como lidam com o fato? 
 O que “significa” para cada um deles não poder ter sua vontade 
satisfeita pelo outro? 
 
Casal com filhos pequenos 
 
Ter filhos e decidir como conduzir a educação deles freqüentemente 
também se transforma em motivo de desentendimento entre parceiros. Muitos 
deles têm noções teóricas sobre crianças, mas não avaliam exatamente o que 
e como passará a ser o cotidiano do casal, na prática, após o nascimento de 
um bebê, que embora tenha sido desejado impõe uma grande quantidade de 
renúncias pessoais por um longo período. O terapeuta de casais, nestes casos 
lidará dentre outras, com as seguintes questões: 
 
 Têm modelos de criação de filhos? 
 Têm acordos sobre como lidar com situações de cuidados em 
geral, alimentação, sono, saúde, escolaridade, limites, 
participação de terceiros na educação, etc.? 
 Como os modelos vivenciados por cada um dos pais interferem 
na obtenção de acordos? 
 Têm conhecimentos acerca do comportamento esperado para 
crianças pequenas? 
 Têm soluções práticas para as “exigências”’ que a criação de 
filhos demanda? 
 O que fazer com as alterações do cotidiano do casal a partir do 
nascimento dos filhos? 
 O que muda na vida de cada um deles? 
 O que fazer com o lazer de cada um e do casal? 
 Quais “direitos e deveres” de cada um e de ambos? 
 
Casal com filhos adolescentes 
 
Além das questões apontadas acima se somam outras próprias da 
adolescência e que também geram dúvidas e/ou divergências entre parceiros 
com filhos desta idade e que levam também parceiros a procurar ajuda 
psicoterápica: 
 
 Impor limites? Quais e em quais circunstâncias? 
 Conseguem se adaptar às mudanças do comportamentodo filho? 
 Como e quais valores de vida cada um deles acredita que seja 
importante transmitir, reforçar ou mesmo discutir com os filhos? 
 Como avaliar as amizades vividas e desejadas pelos filhos? É 
possível estimulá-las ou impedi-las? 
 Qual a importância do grupo de amigos? Trazê-los para dentro de 
casa? Freqüentar a casa de amigos? 
 Como conduzir a “liberdade vigiada”? É necessário este 
procedimento? Como orientar os filhos sobre as “experiências” 
tidas como próprias da idade: sexo, “uso” de bebida alcoólica, 
“drogas”? 
 Como ensinar os filhos adolescentes a construir critérios para 
suas próprias vidas? 
 
Casais com filhos adultos: 
 
Mudanças sociais fazem com que filhos fiquem na casa dos pais 
por períodos cada vez mais prolongados. A ampliação do período de 
estudos, incluído atualmente os cursos de pós-graduação, acentua a 
dificuldade em obter e manterem-se em outra residência. As regras 
criadas para os filhos adolescentes não são mais válidas. Agora, trata-se 
de uma convivência entre adultos. Pais e filhos devem aprender a ter 
relacionamentos cada vez mais horizontais. Quando aparecem 
problemas, os processos coercitivos de parte a parte podem se 
estabelecer: 1) dos pais para com os filhos: “você vive aqui e as coisas 
devem ser como determino”; 2) de filhos para com os pais: “sou adulto e 
faço o que quero ou acho correto”. São extremos que causam 
dificuldades de convivências com os filhos adultos. 
Os filhos se tornam financeiramente independentes, mas não 
inteiramente porque necessitam morar na casa dos pais até poderem 
adquirir a própria casa, tendo então uma autonomia apenas parcial, 
embora em geral, queiram uma autonomia integral. 
Os filhos, que deveriam constituir suas próprias famílias 
continuam a ser parte da vida do casal e as discordâncias podem 
interferir nas relações do casal. 
 
 Onde estão os limites? 
 Como determinar novas regras de convivência? 
 
Em outras famílias, ter filhos adultos significa que eles já têm a 
própria vida, saíram da casa dos pais e, freqüentemente, constituíram 
suas próprias famílias. Nestes contextos terapeutas de casais são 
também procurados por parceiros que se encontram novamente 
sozinhos, como eram no início do casamento. A diferença entre esses 
dois “momentos” da vida é que durante longos anos conviveram com a 
presença dos filhos, o que geralmente leva os parceiros a se relacionar 
de outras maneiras, muitas vezes “esquecendo-se” da vida de casal. 
Após a saída dos filhos passam a viver o que é amplamente conhecido 
como a “síndrome do ninho vazio”; precisam reaprender a relacionar-se 
sem a intermediação dos filhos ou das tarefas para com os mesmos. 
 
 
 “Aposentadoria’” 
 
Esta etapa da vida pode configurar-se de diversas maneiras para os 
casais, exigindo atenção apropriada do terapeuta, como na apresentada no 
caso a seguir: Daniel, 65 anos, contador aposentado e Carmem, 60 anos, dona 
de casa, que tinham expectativas de vida diferentes como as referidas no 
seguinte diálogo: Carmem: “Eu esperei a vida inteira para ficar em casa 
sossegada com ele. Ele aposentou e não pára. Agora arrumou para trabalhar lá 
numa ONG. Eu continuo sem ter ele”. Daniel: “Eu não consigo ficar parado. Eu 
quero que ela vá comigo e ela não quer. Só quer ficar em casa. Já ficou a vida 
inteira e não quer mudar”. Estas falas nos mostram as expectativas de cada um 
que não se realizaram. O parceiro que se aposentou não tem habilidades ou 
interesses em permanecer em casa e isto é interpretado pela parceira como 
desinteresse do marido por ela. 
Outra situação bastante comum nesta fase da vida é a do parceiro que 
trabalhava fora e que após aposentar-se quer participar das atividades que 
anteriormente delegava inteiramente à mulher causando rivalidade ao invés de 
cooperação. Poderá ser interpretado como uma intromissão. Ela era a “dona do 
lar” e agora ele quer tomar parte na administração da casa. 
A aposentadoria implica em mudanças que podem ser trabalhadas de 
modo a: 1) Diminuir a dificuldade em aceitar diferenças: mulher quer marido 
perto e este quer nova atividade fora de casa ou vice versa; 2) Ajustar as 
expectativas de cada um; 3) Contribuir para a formulação de projetos de vida 
individuais; 4) Analisar os diferentes graus de envolvimento com a vida: os 
menos envolvidos se ressentem da atitude de envolvimento do parceiro, 
sentido-se abandonados; 5) Enfrentar o processo de envelhecimento 
utilizando os recursos que a ciência oferece quando as capacidades vão 
diminuindo; 6) Aprender a lidar com as doenças próprias da nova etapa; 7) 
Lidar com a possibilidade da própria morte ou do(a) companheiro(a). 
 
Considerações finais 
 
 
 O terapeuta de casais exerce papéis e/ou funções variados como: 
mediador, orientador, instigador, pacificador, “informador”, no entanto será 
sempre um analista do comportamento. 
 O terapeuta precisa saber ouvir com todos os filtros presentes: gênero, 
idade, pessoas de diferentes culturas e origens, profissionais, valores de vida, 
sociais, morais e éticos. Precisa considerar os sinais dos tempos, o que 
significa viver em cada época; as transições de costumes, práticas e realidades 
sociais de cada momento. Precisa saber falar (comunicar-se) considerando 
todos os aspectos anteriormente mencionados. 
Os objetivos e as estratégias apresentadas por diferentes propostas 
teóricas para atender parceiros devem ser modificados, ampliados, 
encampados e revistos constantemente. Isso porque cada casal é único, tem 
sua própria história de relacionamento e, portanto sua terapia requer o 
estabelecimento de objetivos e estratégias próprias. 
 A terapia de casal para ser eficaz deve prever processos de mudança, 
tolerância e aceitação. Deve considerar que diferentes conjuntos de variáveis 
controlam diferentes interações entre eles. Uma terapia de casais deve “cuidar” 
de comportamentos públicos e de encobertos presentes na relação. Embora o 
objetivo primeiro da terapia de casais seja lidar com a relação do casal é 
fundamental para cada um deles como pessoa: 1) identificar a influência de 
seus comportamentos na interação deles; 2) identificar suas características 
pessoais; 3) identificar seus sentimentos; 4) identificar seus valores de vida; 5) 
identificar seus “limites” pessoais; 6) identificar seus objetivos de vida; 7) 
perceber que ambos os parceiros “ganham” ao descobrir que são igualmente 
responsáveis pela qualidade do relacionamento. (Otero e Ingberman, 2004). 
 Consideramos importante reafirmar que a terapia do casal é a terapia de 
cada um e de ambos com suas capacidades de interação com o outro. E, 
ainda, o terapeuta tem como tarefa direcionar este processo respeitando a 
individualidade de cada um e as necessidades dos parceiros para que ambos 
tenham como resultado a própria realização e bem estar pessoais. 
 
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