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Disc.: OFICINA LITERÁRIA 2022.3 EAD (G) / EX Prezado (a) Aluno(a), Você fará agora seu TESTE DE CONHECIMENTO! Lembre-se que este exercício é opcional, mas não valerá ponto para sua avaliação. O mesmo será composto de questões de múltipla escolha. Após responde cada questão, você terá acesso ao gabarito comentado e/ou à explicação da mesma. Aproveite para se familiarizar com este modelo de questões que será usado na sua AV e AVS. 1. (Adaptado - UNIFESP) (...) Um poeta dizia que o menino é pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino. Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de «menino diabo»; e verdadeiramente não era outra cousa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce «por pirraça»; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava- lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, -- algumas vezes gemendo,-- mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um -- «ai, nhonhô!» -- ao que eu retorquia: -- «Cala a boca, besta!» -- Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos. Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras. (Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas) É correto afirmar que: o texto revela um juízo crítico do contexto escravista da época. a identidade do narrador é desnudada por ele próprio ao revelar alguns comportamentos e características presentes desde a sua infância. se trata basicamente de um texto naturalista, fundado no Determinismo. o narrador se apresenta bastante sisudo e amargo, bem ao gosto machadiano. o texto apresenta papéis sociais ambíguos das personagens em foco. Explicação: Neste trecho, o próprio narrador se desnuda ao revelar a criança que fora. Confessa também que a essência não mudou na vida adulta: abandonou as travessuras do menino diabo da infância, mas permaneceu opiniático, egoísta e contemptor [desprezador] dos homens. https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp 2. Sobre o narrador e a narração em "Memórias póstumas de Brás Cubas", todas as alternativas estão corretas, EXCETO: [...] o eu que narra se identifica com o eu da personagem principal que vive os fatos. Trata-se de um ator que acumula o papel de sujeito da enunciação e de sujeito do enunciado. Ele nos conta uma história por ele vivida, a história de uma parcela da sua existência. (D'ONOFRIO, S. Teoria do texto 1 - Prolegômenos e teoria da narrativa. 2a. ed. São Paulo: Ática, 1999, p. 62) [...] a história parece contar-se por si própria, prescindindo da figura do narrador. [...] A narração de acontecimentos e a descrição procedem de um modo neutro, impessoal, sem que o narrador tome partido ou defenda algum ponto de vista. (D'ONOFRIO, S. Teoria do texto 1 - Prolegômenos e teoria da narrativa. 2a. ed. São Paulo: Ática, 1999, p. 60) É através dos seus olhos e de seus sentimentos que são apresentados os elementos constitutivos da narrativa: os fatos, as outras personagens, os temas e os motivos, as categorias de tempo e espaço. [...] a personagem central faz uma sondagem na profundidade de sua consciência, misturando sensações presentes com lembranças do passado. (D'ONOFRIO, S. Teoria do texto 1 - Prolegômenos e teoria da narrativa. 2a. ed. São Paulo: Ática, 1999, p. 62) Uma das técnicas mais conhecidas, utilizadas nas narrativas a serviço do tempo psicológico, é o flashback, que consiste em voltar no tempo. Neste romance de Machado de Assis, por exemplo, o presente para o narrador é sua condição de morto, a partir da qual ele volta ao passado próximo (como morreu) e ao passado mais remoto, sua infância e juventude, usando portanto o flashback. (GANCHO, C. V. Como analisar narrativas. 7a. ed. São Paulo: Ática, p. 22) Rememorando por ondas e por associacionismo múltiplo e dinâmico, o narrador se afasta insensivelmente do fio das coisas que pretende relatar e deriva para acontecimentos colaterais, ligados ou não às reminiscências centrais. (MOISÉS, M. A criação literária - prosa. 13a. ed. São Paulo: Cultrix, 1997, p. 127) 3. O narrador exerce um papel crucial em todos os romances de Machado de Assis. A condição de defunto autor de Brás Cubas torna possível ao narrador: dizer livremente o que pensa do mundo dos vivos, sem se preocupar com a opinião pública. adotar uma perspectiva religiosa na consideração dos problemas humanos. assumir um tom mais cerimonioso e cauteloso ao falar do mundo dos vivos. olhar com absoluta indiferença as preocupações em que a humanidade consome a existência. considerar criticamente as injustiças sociais. Explicação: A resposta correta é: dizer livremente o que pensa do mundo dos vivos, sem se preocupar com a opinião pública. https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp 4. Em "Memórias póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis se vale de procedimentos metaficcionais, como as muitas referências ao ato de escrever, à figura do escritor e de interpelações ao leitor. É um romance que chama a atenção para o seu próprio processo de construção. Em qual dos trechos é possível encontramos um procedimento metaficcional? Não podia acabar de crer nos meus olhos. Esfreguei-os uma e duas vezes, e reli a declaração inoportuna, insólita e enigmática. (Capítulo CXLVIII/ O problema insolúvel) Quem escapa a um perigo ama a vida com outra intensidade. Entrei a amar Virgília com muito mais ardor, depois que estive a pique de a perder, e a mesma coisa lhe aconteceu a ela. (Capítulo LXXXV/ O cimo da montanha) Virgília afastou-se e foi sentar-se no sofá. Eu fiquei algum tempo a olhar para os meus próprios pés. Devia sair ou ficar? (Capítulo XLI/ A alucinação) Há aí, entre as cinco ou dez pessoas que me leem, há aí uma alma sensível, que está decerto um tanto agastada com o capítulo anterior, começa a tremer pela sorte de Eugênia, e talvez... sim, talvez lá no fundo de si mesma, me chame cínico. Eu cínico, alma sensível? (Capítulo XXXIV/ A uma alma sensível) Não era esta certamente a Marcela de 1822; mas a beleza de outro tempo valia uma terça parte dos meus sacrifícios? Era o que eu buscava saber, interrogando o rosto de Marcela. (Capítulo XXXVIII/ A quarta edição) Gabarito Comentado 5. Distanciado dos fatos e situações narrados, o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas reconstrói o passado com a ajuda da memória. O problema com essa reconstrução do passado pela memória é que: a veracidade dos fatos é colocada sob suspeita porque a memória reelabora o passado pela via da emoção, não pela via da razão. a veracidade dosfatos é colocada sob suspeita porque, fundamentada na imaginação, a memória confunde-se com o trabalho da ficção, além do mais tratando-se de um texto literário. a veracidade dos fatos é colocada sob suspeita porque a memória reinventa o passado como uma fábula muito mais do que o reconstrói fielmente. a veracidade dos fatos é colocada sob suspeita porque, sendo seletiva, a memória não registra tudo, havendo ainda o desgaste temporal dos fatos, acrescido do fato de se tratarem de memórias póstumas. a veracidade dos fatos é colocada sob suspeita porque, ao resgatar o passado, a memória não faz distinção entre fato verídico e fato imaginado. Explicação: https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp A resposta correta é: a veracidade dos fatos é colocada sob suspeita porque, sendo seletiva, a memória não registra tudo, havendo ainda o desgaste temporal dos fatos, acrescido do fato de se tratarem de memórias póstumas. 6. O narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas não é um narrador confiável porque, para cada afirmação que faz há uma negação correspondente, em um processo de construção e desconstrução, que torna questionável a veracidade do narrado. Essa estratégia faz o leitor: pensar que o autor não percebeu as contradições em seu texto. desconfiar da aparência e se questionar sobre a essência dos personagens. acreditar na veracidade do narrado, apesar de tudo. considerar a obra mal escrita. pensar que o autor não teve tempo de rever e corrigir seu texto antes de publicá-lo. Explicação: A resposta correta é: desconfiar da aparência e se questionar sobre a essência dos personagens. 7. (UFF) Óbito do autor Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. (Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas) O Pentateuco é composto pelos cinco primeiros livros da Bíblia. A comparação do Pentateuco com o livro de que o narrador do texto se declara autor é: https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp realista, porque menciona o texto de um morto que em vida nada publicou. modernista, porque menciona a Bíblia, texto importantíssimo no Ocidente. simbolista, porque compara um texto relevante com um irrelevante. humorística, porque os dois termos da comparação são muitos desproporcionais. trágica, porque o autor do romance já está definitivamente morto e enterrado. Explicação: Humorística porque o narrador, para esclarecer não ser o único morto a narrar a própria morte, apoia-se no Pentateuco, conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia, de autoria atribuída a Moisés, cuja morte e sepultamento são narrados no final do último livro. O humor é ainda acentuado quando o narrador aponta que a diferença radical entre a sua narrativa e a bíblica reside na opção de começar as suas memórias pelo fim, revelando de pronto que está morto, quando, na verdade, não há semelhança alguma entre uma narrativa e outra. 8. No romance, o resgate de fragmentos do passado, através da memória, permite-se viver de novo os fatos, mas de forma organizada. A narrativa organiza tudo aquilo que, na vida, é bagunçado. Quando o narrador tenta fazer essa arrumação dos fatos da vida, dá maior nitidez aos acontecimentos, dá sentido àquilo que, na vida real, acontece de forma tão desordenada. São fatos selecionados pela memória e organizados pelo discurso, como exemplo, temos o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Sobre esse romance, é incorreto afirmar: O fato do narrador afirmar e negar o tempo todo, atribui veracidade ao que está sendo contado. O discurso do narrador-personagem relativiza conceitos e questões éticas. Assegurando a relação entre o texto literário e a sociedade que o produziu, o romance faz alusões, por meio do narrador-personagem, à aristocracia, que, sem projeto, vive no vazio. Brás Cubas é um narrador nada confiável. Para cada afirmação que faz, apresenta uma negação. Há, em toda a narrativa, um processo de construção e desconstrução. https://simulado.estacio.br/bdq_simulados_exercicio.asp
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