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ESTUDO PARA A PROMOTORIA REGIONAL DA EDUCAÇÃO Tornar a educação universal exige incidir sobre históricas desigualdades sociais. CAOIJEFAM – Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões. Conselho Municipal de Educação (CME): O Conselho Municipal de Educação é um órgão vinculado à Secretaria Municipal de Educação incumbido de assessorar o Executivo Municipal na formulação, implementação e avaliação de políticas públicas municipais no âmbito educacional. O CME é também espaço participativo e mobilizador, ao proporcionar para os diversos atores da sociedade, a defesa do direito à educação e democratização do acesso à educação e, ao promover debates e seminários relativos ao ensino no Sistema Educacional Municipal. Os Conselhos Municipais de Educação têm um papel relevante tanto na busca ativa escolar, quanto na recuperação de aprendizagem. Coordenadoria Regional da Educação (CRE) - A Secretaria da Educação do RS tem uma estrutura que conta com 30 coordenadorias regionais sob coordenação direta do governo do Estado. Cada coordenadoria é responsável pelas políticas relacionadas as suas regiões, tendo como atribuições coordenar, orientar e supervisionar escolas oferecendo suporte administrativo e pedagógico para a viabilização das políticas da secretaria. Além disso, busca a integração entre alunos, famílias e a comunidade, oferecendo oportunidades de diálogo e de interação que promovam o compartilhamento de informações e a construção de conhecimentos, integrando a escola à prática social. A Coordenadoria Regional de Educação representa a secretaria na área de sua jurisdição, tendo como atribuições também o fornecimento de pessoal qualificado para atuar nas escolas e a gestão de seus recursos financeiros e de infraestrutura. FICAI – Ficha de Informação do Aluno Infrequente – ou – Ficha de Comunicação de Aluno Infrequente. RAE-Rede de Apoio à Escola. = Redes intersetoriais -> A Rede de Apoio à Escola (RAE) é um grupo formado por vários segmentos da sociedade que se reúnem para discutir e elaborar alternativas para melhorar a frequência/indisciplina/aprendizagem (entre outras situações) em prol do atendimento aos estudantes. A RAE (Rede de Apoio à Escola) tem o objetivo de discutir alternativas para diminuir a evasão, a infrequência e o abandono escolar, fomentando uma revitalização escolar e familiar para que estes sejam erradicados. A iniciativa é abraçada com expectativa de mudar o cenário e fortalecer a união entre escola e família, a fim de que o ensino seja realmente o papel da escola, e não prover uma estrutura que é de responsabilidade da família. A RAE tem por objetivo o trabalho em rede e a busca de soluções coletivas de alternativas para diminuir a evasão e outros problemas que interferem direta ou indiretamente no processo ensino-aprendizagem e/ou na socialização do educando. Subsidiar professores e diretores de escolas na tarefa diária de combater a evasão, oferecendo parceria e apoio por meio de capacitações aos educadores formais; ações conjuntas de promoção dos direitos à educação; mapeamento de alunos infrequentes e com histórico de violência no ambiente escolar, e atuação junto ao professor na abordagem com os núcleos familiares mapeados. A Rede de Apoio à Escola é o “coração da FICAI (Ficha de Comunicação do Aluno Infrequente)”, uma vez que o sucesso escolar e a educação de qualidade passam, obrigatoriamente, pela articulação da escola com a sociedade, através dos órgãos governamentais e não-governamentais que são chamados para interagirem com a comunidade escolar. A FICAI e a RAE são utilizadas como instrumentos de apoio contra a evasão, infrequência e abandono escolar, fazendo parte do dia-a-dia das escolas do município. A preparação dada para iniciar o projeto da RAE dar-se-á de modo a explicar como funcionará a rede de apoio, principalmente. Através de um termo de cooperação firmado em 2011, entre Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, Secretaria Estadual de Educação, Conselho Estadual de Educação, Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e outros órgãos relacionados à Educação, um processo de controle de abandono da escola foi iniciado. Desde 1997, a FICAI atua no Estado, com representação em mais de 460 Municípios, porém, a união do projeto com a RAE tem por objetivo reforçar a integração social. O aluno está infrequente? A direção da escola, ou os professores, vão atrás do aluno para descobrir o que aconteceu e conversar com os pais para que a criança volte. Nesse meio tempo, a escola poderá situar-se do que está acontecendo com o aluno, e repassar na reunião da rede de apoio. A partir disso, serão discutidas soluções para o problema e a criança poderá ser direcionada para atendimento específico, caso seja necessário. Se o aluno não voltar para a escola, a mesma termina de preencher a FICAI, encaminha para o Conselho Tutelar e será responsabilidade do Conselho fazer com que o aluno retorne. Se isso não acontecer, irá para o Ministério Público. A Promotoria Regional da Educação de Santa Maria, junto ao Ministério Público do RS, abrange 44 municípios e está vinculado à 08 Coordenadorias Regionais da Educação. Antes da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, os então chamados genericamente de “menores” eram considerados meros objetos da intervenção do Estado, sem qualquer direito explicitamente reconhecido e sem serem portando cidadãos. Com o ECA, crianças e adolescente passaram ao status de Sujeitos de Direitos, em igualdade de condições com todos os demais cidadãos. PNE – Plano Nacional de Educação: Em 26 de junho de 2014, o Plano Nacional de Educação (PNE) foi sancionado após quatro anos de tramitação no Congresso Nacional. Este Plano visa melhorar a educação no país com base em 20 metas, que devem ser atingidas em 10 anos. Como já explicamos brevemente acima, o Plano Nacional de Educação, estabelecido pela Lei Nº 13.005 e mais conhecido como PNE, é um documento que determina as diretrizes, metas e estratégias para a política educacional entre o período de 2014 e 2024. Dessa forma, todos os estados e municípios devem estruturar seus planos específicos – mais conhecidos como Planos Subnacionais de Educação – mostrando como vão alcançar e atingir as metas previstas pelo PNE, considerando, é claro, o contexto e as necessidades locais. O PNE, sancionado em 2014, estabelece 10 diretrizes para melhorar a educação até o ano de 2024. A seguir listamos os objetivos deste Plano: Erradicação do analfabetismo; Universalização do atendimento escolar; Superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da justiça social, da equidade e da não discriminação; Melhoria da qualidade da educação; Formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; Promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; Promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do país; Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; Valorização dos profissionais da educação; Promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. Mas o PNE que está em vigor não foi o primeiro de nossa história. Em 1996, por exemplo, o primeiro Plano Nacional de Educação foi criado, mas, no entanto, vários objetivos não foram alcançados. Dessa forma, um novo plano – o sancionado em 2014 – foi criado de maneira mais objetiva e com muitos dados estatísticos, o que facilita não só o cumprimento, mas também a sua fiscalização. LDB (Lei 9394 de 96): LDB é a sigla para Lei de Diretrizes e Bases da Educação, considerada a mais importante lei que versasobre a educação no Brasil. Conhecida popularmente como Lei Darcy Ribeiro, em homenagem a um dos mais proeminentes educadores brasileiros, a LDB deve ser estudada por todo estudante e profissional da educação. Aprovada em 1996, a LDB define e organiza todo o sistema educacional brasileiro, do ensino infantil até o superior, assegurando, dessa forma, o direito social à educação para estudantes brasileiros. A sigla LDB representa a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9394/96). Ela é composta por 92 artigos que estabelecem – como o próprio nome diz – as diretrizes e bases da educação nacional. Essa legislação disciplina os diferentes níveis de ensino, os profissionais que atuam nessa área, os recursos financeiros que devem ser destinados, entre outros assuntos. Em outras palavras, a LDB define e organiza todo o sistema educacional brasileiro, do ensino infantil até o superior, assegurando, dessa forma, o direito social à educação a todos os estudantes brasileiros. • PANDEMIA E EDUCAÇÃO: Com o advento da pandemia do COVID-19, o isolamento social foi imposto e como consequência disso, as salas de aulas e o ensino presencial abriram espaço para plataformas virtuais e aulas à distância. Esse cenário de distanciamento física e emocional entre os alunos e a instituição ecolar com seus significados (direções, coordenações, professores e demais profissionais) por certo, incidiu na desmotivação e distanciamento afetivo dos estudantes para com a escola. Neste contexto, o segmento mais afetado pela pandemia foi o das crianças e dos adolescentes, isto porque inúmeros problemas de aprendizagem começaram a surgir, como por exemplo a dificuldade de entender um conteúdo sem ter um professor presencialmente para explicar a matéria, de ter disciplina, de se concentrar e até mesmo dificuldades envolvendo o acesso à internet de qualidade para consumir os conteúdos ministrados. Ficou evidente que existem realidades nas quais as condições de acesso ao meio virtual ainda são limitadas nos dias atuais. Diante disso, o Ministério Público, por meio de seus promotores e promotoras, passaram a articular e desenvolver ações que promover a recuperação desta aprendizagem, que foi gravemente afetada pelo contexto pandêmico. Estas ações são colocadas em prática nos dias de hoje a partir de um Termo de Cooperação Interinstitucional, no qual há um trabalho conjunto entre os poderes do Estado e a própria sociedade civil. É imprescindível mencionar que, para que estas ações sejam efetivas e para se ter uma dimensão dos desafios, deve ser analisado antes de tudo a realidade social destas crianças e adolescente. O conhecimento da realidade sobre as crianças e adolescentes fora da escola permite o diagnóstico do problema, sua amplitude e dimensões, a partir de indicadores qualitativos e quantitativos, bem como das forças e fragilidades das políticas públicas locais. Por isso, foi feito um levantamento em março/abril de 2022, onde colheu-se informações sobre a busca ativa escolar e sobre a recuperação de aprendizagem, por meio de formulários digitais enviados para a rede estadual. Houve uma excelente adesão por parte da Coordenadorias Regionais da Educação e os gestores municipais da educação (cerca de 95% dos municípios e 96% das Coordenadorias Regionais de Educação). Houve um aumento das matrículas nas redes municipais entre o ano de 2021 e 2022 (aumento de 3,41% ). Quando comparada com a rede de educação estadual em 2022, verifica-se que a rede municipal apresenta percentuais mais elevados no que tange os anos iniciais e finais do ensino fundamental. No entanto, quando se trata de ensino médio e EJA, a rede estadual apresenta números superiores. A rede de educação estadual apresentou um elevado crescimento de 20,48% no número de matrículas no ensino médio, quando comparado ao ano de 2021. A evasão escolar e a infrequência escolar são assuntos delicados e preocupantes, uma vez que, nos anos de 2021 e 2022, o percentual de abandono/infrequência escolar foi de 56% dos municípios e 94% das Coordenadorias Regionais de Educação. O que chamou a atenção em levantamento realizado foi que diversos municípios do estado do RS não souberam estimar o número de crianças fora da escola durante a pré-escola na rede municipal de ensino. As Promotorias Regionais de Educação têm buscado fomentar a busca ativa escolar e o trabalho intersetorial, mesmo preteritamente à pandemia. A Busca Ativa Escolar permite que as pessoas enviem informações sobre crianças e adolescentes fora da escola pela internet, por meio de aplicativo ou por SMS. Uma equipe intersetorial local toma as medidas necessárias para a matrícula, permanência e aprendizagem. Trata-se, em outras palavras, de um trabalho direcionado a universalizar e a integralizar a educação, de modo a torná-la acessível aos estudantes das mais diversas etapas de ensino. Trata- se da aproximação do serviço às necessidades da população a partir da sua realidade concreta, que neste caso é a educação. A Busca ativa escolar é um instrumento que conduz o Estado ao indivíduo que não usufrui de determinados serviços públicos e/ou vive fora de qualquer rede de proteção e promoção social. Visa-se a inclusão no indivíduo dentro de seus direitos. A busca ativa requer o envolvimento intersetorial de políticas públicas sociais dos órgãos do Sistema de Justiça, bem como da sociedade civil como um todo. É um trabalho em rede. A busca ativa escolar está prevista no Plano Nacional de Educação em todas as etapas de educação básica, bem como para a educação de jovens e adultos. No que tange à evasão escolar e o não acesso à escola, a busca ativa e o trabalho em rede são complementares e inter-relacionados. Quando realizado levantamento em de 2021 para 2022, verificou-se que, a partir de medidas implementadas pela busca ativa escolar, houve um retorno de 44% de alunos às escolas, em relação ao indicado fora da escola. De 356 municípios analisados, em 75% deste foram realizadas buscas ativa escolares incluindo visitação (alguns por professores e outros por conselheiros tutelares. Em 1997, em POA, foi criado o FICAI (Ficha de Informação do Aluno Infrequente ou também chamado de Ficha de Comunicação de Aluno Infrequente), instrumento utilizado para contribuir no processo de enfrentamento à evasão e a à infrequência das escolas. Em 2011, o FICAI estimulou o trabalho em intersetoriais, ao ponto de criar as RAE’s (Redes de Apoio à Escolas). Em 2015, foi adotado o modo online e atualmente as redes de apoio à escola funcionam no formato digital. au A partir do cenário pandêmico e das novas demandas que a aprendizagem passou a exigir diante das novas tecnologias, a Ficha de Comunicação de Aluno Infrequente deu início a uma atualização e revitalização, visando tornar mais cooperativo o trabalho em rede e intersetorial. Além disso, recentes estudos constataram a necessidade existente para o aprimoramento da FICAI, adequando-se em termos tecnológicos e à metodologia da busca ativa escolar. O Estado do Rio Grande do Sul possui 497 municípios, com portes e realidades sociais bastante diversas. E diante dos casos concretos, há problemas complexos que requerem estratégias coletiva e abrangentes. Neste sentido, há algumas ideias de planejamento locais para o enfrentamento à exclusão escolar: Como desenvolvimento da busca ativa escolar, é imprescindível a mobilização da comunidade por meio de campanhas em defesa da educação. Nessa esteira, também se vê necessário a articulação das redes intersetoriais (redes de apoio à escola) através da realização de estudos, diagnósticos, reuniões, capacitação dos profissionais da educação, normatização pelos conselhos municipais de educação, de avaliação e monitoramento, de estratégias e do uso derecursos informatizados. A busca ativa é um desafio intersetorial e compartilhado com o conjunto da sociedade civil e famílias, sobretudo porque parcela significativa dos alunos não desenvolveram o necessário ou o projetado para seu ciclo ou ano. A escola tem o papel de favorecer e constituir as condições para os processos de ensino-aprendizagem. A esse respeito, a Lei 9.394 de 1996 estabelece a obrigação legal de o estabelecimento de ensino e o educador zelarem pelo aperfeiçoamento da prática de ensino e aprendizagem, com trabalho de diferenciado aos alunos mais vulneráveis, trazendo entre os dispositivos do artigo 12 – V “prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento” e do artigo 13, incisos III e IV, “zelar pela aprendizagem dos alunos (...) estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento”. A escola vem se deparando com a exclusão de alunos desde que se propôs à universalização do acesso. Com isso, foram implementadas experiências em diversas redes conhecidas como estratégias de “aceleração”. Os programas de aceleração têm o propósito de desenvolver ações que permitam a integração ou reintegração de alunos excluídos da escola no processo de escolarização regular. As estratégias mais usadas são o apoio pedagógico e oficinas de matemática e língua portuguesa. A aceleração de aprendizagem ou os programas de correção de fluxo têm baixo indicador. Com a pandemia da Covid-19, as circunstâncias e a dimensão do problema se ampliaram, o que impõe tratar a recuperação de aprendizagens como estratégia planejada incorporada ao cotidiano da escola. Há a necessidade de estabelecer estratégias específicas para recomposição ou recuperação de aprendizagens, considerando a singularidade de cada realidade social. O próprio CNE (Conselho Nacional da Educação), por meio do parecer n°6 de 2021 indicou a priorização da busca ativa escolar, a avaliação diagnóstica para orientar a recuperação das aprendizagens e o replanejamento curricular. Um estudo realizado sobre a distorção idade-ano, por Chiapinoto e Lunardi (2022), com base nas experiências da rede municipal de Santa Maria, reproduziu estratégias no que tange a recuperação a recuperação da aprendizagem e abriu espaço para o debate sobre este assunto. O estudo partiu da alta defasagem gerada pela retenção e reprovação nas escolas e levou em consideração tanto os aspectos internos dos estabelecimentos de ensino, bem como as dimensões que envolvem família, comunidade e a realidade social. A criança e adolescente precisam de escola estruturada, amparo familiar, condições para estudar, conjunto de políticas intersetoriais, alimentação adequada, sala de aula com mobiliário adequado, espaço para educação física e arte. Além disso, é imprescindível que haja uma identificação do professor com o aluno, recursos tecnológicos, transformação da realidade, motivação intrínseca do indivíduo, proposta pedagógica adequada, ambiente escolar significativo para a criança, família caminhando junto com a escola e, é claro, uma esquipe docente bem preparada para tratar com cautela a singularidade de cada realidade social, levando em consideração aqueles alunos que são vulneráveis. As autoras que realizaram este estudo, concluíram que para que haja um planejamento efetivo e preventivo (ao invés de meramente reparador), deve-se levar em conta algumas ações de articulação no que tange a busca ativa escolar, como por exemplo: a criação do bloco pedagógico de alfabetização, garantia de vagas em escolas públicas para crianças a partir de 4 anos, controle de frequência dos estudantes, avaliação diagnóstica, ampliação da carga horária diária escolar (educação em tempo integral), transformação da escola em um espaço atrativo, agradável e estimulante, criação de parcerias intersetoriais como Secretaria de Esporte e Lazer, Secretaria de Cultura, Secretaria de Transporte, Programas institucionais de Correção de Fluxo Escolar adequado para cada realidade, investimento em material didático e material pedagógico como jogos e diferentes recursos educacionais. Ademais, é importante mencionar que a planificação do trabalho é necessário para a previsão e a alocação dos recursos necessários. A planificação do que será feito na busca ativa escolar pode ser pautada a partir do diagnóstico individual dos alunos que retornaram à escola e, consequentemente, a partir dos indicadores do diagnóstico, estabelecer estratégias de recuperação da aprendizagem. Além disso, a partir dos supramencionados indicadores, é interessante alocar os recursos humanos necessários (como contratação, concurso e remanejo), destinar os recursos materiais necessários à recuperação da aprendizagem, capacitar professores quanto aos processos pedagógicos, destinar assessor e supervisão às escolas para as experiências de recuperação de aprendizagem, monitoramento e avaliação, normatização pelos Conselhos Municipais de Educação e compartilhamento com os profissionais da educação de todos os fluxos da busca ativa escolar. Os dados coletados a partir do diagnóstico feito servem como uma bússola, um norte, que orienta os processos de planejamento e para identificar coletivamente as lacunas e as defasagens a serem enfrentadas. No último diagnóstico realizado, detectou-se que nas duas redes (municipal e estadual) os recursos tecnológicos são escassos; que menos de 60% (tanto da rede municipal quanto a rede estadual) assinalaram positivamente para a alocação de recursos humanos, pedagógicos e tecnológicos; e que a supervisão às escolas para as experiências de recuperação de aprendizagem é atualmente ofertada por ambas as redes, apresentando um indicador superior à 85%. Um dos requisitos para o desenvolvimento dos processos de recuperação de aprendizagem é a capacitação dos professores. Insta mencionar que a rede de ensino estadual apresentou indicadores potentes sobre isso. Quando falamos em supervisão, é importante mencionar que ela favorece o alinhamento, a criação de espaços de troca e compartilhamento de conhecimentos, ampliando a construção de alternativas com os próprios profissionais da rede local. O Ministério Público do RS tem a atuação junto à Política de Educação como estratégica, compreendendo que o acesso ao conhecimento socialmente acumulado pela humanidade e o desenvolvimento pleno de habilidades e competências de crianças e adolescentes é um bem social de valor inestimável, para um presente e um futuro digno para todos. Nessa esteira, foram criadas as Promotorias Regionais da Educação, visando especializar a atuação institucional na exigibilidade desse direito social. Essa caminhada institucional que já tem uma história no Rio Grande do Sul, nas 10 regionais da Educação, vem sendo partilhada com um conjunto de atores e segmentos que têm propósitos comuns. Em fevereiro de 2022, pactuou-se com 17 instituições representativas do Estado e da sociedade civil, e se estabeleceu o Termo de Cooperação Interinstitucional que desenha um conjunto de compromissos comuns entre os firmatórios para que, coletivamente, façamos frente aos desafios postos à Educação. O Comitê Gestor Estadual responsável por dar vida ao pacto firmado vem desdobrando os conteúdos pactuados em um plano de trabalho para o qual todas as instituições partícipes têm contribuído. Trabalha-se com indicadores e informações confiáveis que auxiliem no planejamento dos trabalhos. Os dados colhidos indicam que as redes municipais e estaduais estão em movimento. O tema da busca ativa escolar e da recuperação de aprendizagem está na pauta coletiva. Há reorganização das redes intersetoriais (RAE’S), investimentos em tecnologia da informação, em recursos humanos e pedagógicos. Porém, atualmente, ainda existem vazios de informação, o que é preciso desfazer para identificar com nitidez o tamanho dos desafios para trazercada estudante gaúcho para a escola. Ao adentrar à escola, a tarefa não está concluída, é preciso receber a cada estudante na sua singularidade. É preciso, ressalta-se novamente, da colaboração de toda a sociedade, de recursos humanos, pedagógicos e capacitação continuada dos docentes. A Emenda Constitucional 59/2006 e Plano Nacional de Educação (Lei 13.005/2014) estabeleceram que o ingresso da criança na pré-escola deve ser efetivado a partir dos 4 anos de idade, e que é direito da criança frequentar a cheche, dos 0 aos 3 anos de idade. Acolhendo manifestação do Ministério Público do Rio Grande do Sul em ações civis públicas ajuizadas pela Promotoria de Justiça Regional da Educação de Santa Maria, a Justiça determinou que o Estado do Rio Grande do Sul disponibilize transporte escolar, de forma regular e ininterrupta, a todos os alunos da rede pública estadual residentes na zona rural e aos alunos com deficiência, inclusive na zona urbana, dos municípios de Santa Maria, São Gabriel, Jaguari e Santiago, sob pena de multa diária em caso de descumprimento da ordem judicial. Nas ações, a promotora de Justiça Regional da Educação de Santa Maria, Rosangela Corrêa da Rosa, registra que “a recusa do Estado do Rio Grande do Sul – através da omissão inicial em realizar a licitação do transporte escolar em Santa Maria e, agora, através da morosidade no processo de licitação, especialmente na tramitação interna de análise de dados e pareceres – frustra a oferta de transporte escolar para que as crianças e adolescentes de rede estadual de Santa Maria e prejudica a frequência à escola, com regularidade, desses alunos. Tal situação, depois de dois anos de afastamento da presencialidade na pandemia, caracteriza violação do direito à educação, fazendo com que o Ministério Público tenha que ajuizar a presente ação civil pública, com pedido de tutela de urgência”. Além da tutela de urgência, foi pedida pelo MPRS a condenação do Estado pela prática de dano moral coletivo, ante a gravidade da conduta e a prática reiterada de atos semelhantes, a extensão do dano (grande número de alunos atingidos, por aproximadamente dois meses de aulas presenciais), a gravidade, a intencionalidade e a reprovabilidade extremas da conduta, com a condenação do ente federativo. No despacho, a magistrada Gabriela Dantas Bobsin destacou que “a audiência de conciliação restou inconclusiva quanto à data de início da disponibilização efetiva do transporte aos alunos das escolas relacionadas, embora já tenha-se iniciado há mais de 60 dias o ano letivo, somando 479 alunos sem perspectiva de atendimento pelo serviço. Embora noticiadas duas ordens de início às contratadas, não contemplam sequer 10% do número trazido na inicial. Nessas circunstâncias, há ensejo ao deferimento dos pedidos de tutela antecipada formulados pelo Ministério Público, legitimado à defesa do coletivo das crianças e adolescentes para garantia de direitos básicos, neste caso indubitavelmente violados por omissão do Estado”. Em Santa Maria e Santiago, foi fixada multa diária, enquanto as decisões de Jaguari e São Gabriel foram pena de bloqueio de valores para custeio do transporte. Após as ações e em cumprimento das decisões judiciais, foi regularizado o transporte escolar em São Gabriel, enquanto Jaguari e Santa Maria tiveram algumas linhas regularizadas, ainda em curso o prazo judicial. Ainda, a pedido do MPRS, a Justiça determinou que as 8ª, 19ª e 35ª Coordenadorias Regionais da Educação apresentem, no prazo de 10 dias, um plano emergencial de recuperação dos dias letivos, para análise e posterior homologação judicial. O Estado recorreu da decisão da ação civil pública de Santa Maria, sendo mantida a multa pela Justiça, mas ampliado o prazo para 30 dias. “Quanto à astreinte e o valor fixado na decisão recorrida igualmente descabe seu afastamento ou redução, visto que tal imposição tem por finalidade compelir ao cumprimento da ordem judicial atingindo-se assim o objetivo pretendido que é a efetivação das medidas determinadas, não sendo esperado oportunizar seu descumprimento. O valor elevado fustiga para surtir o efeito pretendido que é o cumprimento da decisão judicial, afastando a possibilidade da parte achar conveniente optar por arcar com a multa, pelo seu valor acessível, no lugar de atender ao comando judicial”, destaca o desembargador relator Eduardo Kothe Werlang, mantendo a decisão, alterando apenas o prazo estipulado para que o Estado disponibilize transporte escolar, de 10 para 30 dias. Incumbe ao Poder Público tornar real o direito à educação, mediante concreta efetivação da promessa constitucional que garante de acesso irrestrito de todos aos bancos escolares. Uma Ação Civil Pública pode ser ajuizada na defesa do direito à educação. O foco da Ação Civil Pública como mecanismo processual propicia a defesa fundamental e essencial na proteção das normas de direitos indispensáveis e sua aplicabilidade. O direito à educação é classificado como um direito social, fazendo parte do grupo dos direitos fundamentais de segunda geração. Diante tanta batalha foi na Constituição de 1988 que o instituto recebeu status constitucional com a inserção do Artigo 129 que diz: “São funções institucionais do Ministério Público: (…) III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos” (BRASIL, 1988). As garantias constitucionais tanto podem ser garantias da própria Constituição (acepção lata) como garantias dos direitos sociais subjetivos expressos ou outorgados na carta Magna, portanto, remédios jurisdicionais eficazes para a salvaguarda desses direitos (acepção estrita). Vale acrescentar que qualquer pessoa ou grupo de pessoas acima mencionadas pode acionar o Poder Judiciário e ser for comprovada a negligência do Poder Público na oferta do ensino obrigatório, a autoridade competente poderá ser imputada de crime de responsabilidade. Em razão do exposto, fica claro que a implementação de políticas públicas para a educação é um dever do Estado. Possibilitando a busca ao Poder Judiciário pela concretização do direito social à educação. Tendo como instrumento processual para tal objetivo a Ação Civil Pública.Anos mais tarde foi agregado nessa defesa o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, que regulamentam e complementam o Direito à Educação, onde nenhuma criança, jovem ou adulto brasileiro pode deixar de estudar por falta de vaga. Prevê o artigo 209 do Estatuto da Criança e do Adolescente que as ações que tenham por objeto interesses individuais, difusos ou coletivos das crianças e adolescentes serão propostas no local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou a omissão. O art. 148, IV, do mesmo estatuto legal, preconiza que a Justiça da Infância e Juventude é competente para conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209. O ensino infantil foi elevado à categoria de direito público subjetivo, restando determinado que é dever do Estado fornecer o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, de acordo com o artigo 208, incisos IV e V e §1º, da Constituição Federal, e artigo 54, inciso I, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente essencial a função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (...) Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) II - zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; O cabimento deação civil pública para a defesa de interesses individuais indisponíveis pertinentes a infância e juventude, vem especialmente consagrado no Estatuto da Criança e Adolescente, que prevê: Art. 201 - Compete ao Ministério Público: (...) V – promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no artigo 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal; (...) VIII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; (...). De forma específica, em se tratando de garantir o direito público subjetivo à educação, versa o art. 5º, caput, e §3°, da Lei Federal n. 9.394/1996 (LDB), que: Art. 5º. O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo. (...) § 3º. Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do § 2º do Art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.” Ademais, a responsabilidade em matéria de educação básica – e, portanto, a legitimidade para estar no polo passivo desta demanda – decorre do previsto nos arts. 23, inciso V, 205 e 211, § 3º, todos da Constituição da República, no art. 54 da Lei n. 8.069/90, nos arts. 2º e 5º da Lei n°9.394/1996, dentre outros diplomas legais. A Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988, em seu artigo 6o , consagrou a educação e a proteção à infância como direitos fundamentais sociais. Trata-se de direitos fundamentais de segunda geração, que impõe ao Estado obrigações prestacionais, isto é, comportamento ativo para sua concretização prática. Mais adiante, no artigo 227, caput, o texto constitucional brasileiro estabeleceu expressamente, como dever do Estado, assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, dentre outros, o direito à educação. Ditos preceitos constitucionais foram repetidos e regulamentados, em nível infraconstitucional, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em vários de seus dispositivos. Ainda em sede infraconstitucional, convém aludir à Lei Federal nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), no que concerne aos princípios e critérios que orientam a organização da educação básica. É direito público subjetivo, gratuito e obrigatório o ensino para crianças e adolescentes de 4 à 17 ano. O PNE (Plano Nacional de Educação), previu mediante a Lei Federal nº 13.005 de 2014 que os Planos Municipais e Estaduais de educação são instrumentos de planejamento que devem levar em consideração a realidade local, o universo de pessoas que serão beneficiadas e os curtos envolvidos Para que a educação seja ofertada de maneira efetiva, é necessário, que o poder público planeje as ações na área, por meio de inserção da matéria no contexto dos planos plurianuais, das leis de diretrizes orçamentárias e das leis orçamentarias anuais. Os municípios devem divulgar, estimular à participação social, acompanhar e monitorar a execução Há uma co-responsabilidade estabelecida entre diversos órgãos e autoridades. Lei seca *art.6º da CF *art 227 da CF *art 205 da CF * art 208(Caput + V + §1º) da CF *art 3º do ECA *art 4º do ECA *art 53 (caput + V) do ECA *art 54 (caput + I,+§1º+§2º) *art 2º da lei 9394 de 96 *art 3º (caput+I+II) da lei 9394 de 96 *art 4º (caput+I) da lei 9394 de 96 *art 5º (caput+§2º+§3º+§4º+§5º) da lei 9394 de 96 *art 22 da lei 9394 de 96 *art 32 da lei 9394 de 96 *art *art.208 (I+II+§1º+§2º) da CF *art 98 do ECA *art.127 e 129 da CF *art 129 da CF *Emenda nº59 de 2009 * art. 129, inciso III, da CF *art 205 da CF * artigo 25, inciso IV, “a”, da Lei n.º 8.625/93 * artigo 201, incisos V e VIII, da Lei n.º 8.069/90 *art 208 da CF *art 209 do ECA *art 148, IV, ECA * artigo 208, incisos IV e V e §1º, da CF *artigo 54, inciso I, do ECA *art 201, V, VIII do ECA * art. 5º, caput, e §3°, da Lei Federal n. 9.394/1996 (LDB) * arts. 23, inciso V, 205 e 211, § 3º, todos da Constituição da República, no art. 54 da Lei n. 8.069/90, nos arts. 2º e 5º da Lei n°9.394/1996,
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