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Psicologia da Comunicação Aula 1 – Psicologia Social e Processos Interpessoais Psicologia social X Sociologia A psicologia social e seus principais objetos de estudo Sabemos que a Psicologia Social se caracteriza pelo segmento da Psicologia que estuda os processos relacionais, logo, podemos dizer que todos os trabalhos nesta área se fundamentam na relação com o outro. As relações interpessoais estão presentes em nossas vidas desde o nascimento através de processos de dependência e de interdependência, até nossa morte. Estas relações são fatores determinantes de vários processos psíquicos, pois, além de definirem os aspectos relacionais, influenciam consideravelmente em nossa própria estrutura interna de personalidade. Processos Relacionais sob a Ótica do Conhecimento Científico da Psicologia Apesar do vínculo relacional ser tão constante em nossas vidas, apenas com Lewin na década de 30 iniciou-se os estudos dos processos relacionais sob a ótica do conhecimento científico da Psicologia. Antes disso, os processos psíquicos eram entendidos como exclusivamente interiores e pessoais, isto é, sem a influência direta das relações na sua constituição. Esta visão deve-se em grande parte à Psicanálise e sua influência de um modelo médico organicista aplicado aos processos psicológicos. Hoje em dia, a compreensão destes processos é praticamente oposta ao modelo citado. As relações adquiriram uma importância tal na construção dos processos psicológicos que temos abordagens tais como a da escola francesa de psicologia que, por exemplo, considera que a personalidade não é algo que os indivíduos possuem, mas sim, algo que exibem na relação com o outro. Isto é, a personalidade construída como um mecanismo relacional. Para o Behaviorismo de Watson, a personalidade é um conjunto de condicionamentos aprendidos através das relações e assim por diante, temos uma série de modelos que consideram as relações como não só influentes, mas determinantes nos processos mentais. Principais processos psíquicos Dentre os principais processos psíquicos que hoje podemos considerar como determinados pelas relações interpessoais temos os seguintes: - O Outro como Fator de Segurança: Proveniente do comportamento infantil, aonde há total dependência de um adulto. Desta forma nos acostumamos a perceber o outro como um apoio as suas necessidades ou inseguranças. - O Outro como fator de influência na personalidade: Concepção baseada em conceitos pelas quais a personalidade é exclusivamente um produto da interação social, como nas teorias culturalistas. - O Outro como fator de equilíbrio psicológico: O outro é visto como modelo e o sentimento de normalidade se dará em função da equiparação da pessoa com o senso comum. - O Outro como fator motivador de ações e atitudes: A ação é a realização será ao contexto relacional ( códigos culturais) que motivou a intenção. Comportamento social O modo como as relações dos processos psíquicos se estabelecem é, inicialmente, através de certos comportamentos que produzimos em função do outro, ou mesmo em função de nossas próprias expectativas sociais, ou seja, em função do modo como queremos que os outros nos percebam. A estes comportamentos chamamos de comportamento social. Assim, o que difere um comportamento social de um não social, não é propriamente a ação realizada, mas sim, a intenção que motivou a ação. Procurar uma sombra em um dia de sol forte pode não ser um comportamento social se a motivação estiver em uma sensação desagradável do sujeito.Pode ser um comportamento social, se a motivação estiver no fato dele não querer transpirar na roupa, pois se dirige a um encontro importante. ATENÇÃO: São exatamente estes comportamentos sociais que nos conduzem a um processo tão comum e, ao mesmo tempo, talvez um dos mais complexos nas sociedades humanas: A formação de GRUPOS. Grupo: Primeiramente, torna-se necessário uma definição mais precisa do que seja GRUPO. É o nome dado ao espaço psicológico aonde o individuo se relaciona com o social. Ogrupo ou não-grupo, está dentro de nós,em nosso psiquismo. Uma vez instituído o grupo, passam a ocorrer processos que se caracterizam pela bi-direcionalidade, ou seja, são processos relacionais que atuam ao mesmo tempo na direção do sujeito para o grupo e do grupo para o sujeito. São eles: Coesão: É a pressão resultante das forças que agem sobre o sujeito para que este permaneça ligado ao grupo. Foram detectadas por estudos experimentais três destas forças como principais fontes de COESÃO: ATRAÇÃO PESSOAL ENTRE OS COMPONENTES, ATRAÇÃO PELA TAREFA FIM DO GRUPO e ATRAÇÃO PELO PRESTÍGIO DO GRUPO. A primeira caracteriza-se pela afinidade que possa existir entre os membros. A segunda considera que os grupos tem, invariavelmente, uma proposta fim, seja a manutenção de uma família ou a construção de um projeto espacial e, a força de coesão seria o interesse do sujeito pela obtenção do objetivo do grupo ao qual pertence. A última assinala como fonte de permanência em um grupo um interesse de ordem pessoal, de orgulho ou talvez vantagens, que o indivíduo possa usufruir por pertencer a um determinado grupo. Coalizão: É o processo pelo qual diferenças individuais de poder pessoal são anuladas pela integração de seus membros. A coalizão se dá entre alguns membros de um grupo com o objetivo de equilibrar o poder no conjunto grupal. A título de exemplificação, tomemos como grupo, os partidos políticos. É bastante frequente vermos o partido “A” fazer uma coalizão com o partido “B” para equilibrar uma votação aonde, se sabe, que o partido “C” tem opinião contrária e muitos membros votantes. A união de forças tecnicamente não visa derrotar um membro, mas sim equilibrar o grupo (Se “C” > “A” e “A” = “B”, a coalizão “AB” (A + B) será > ou = “C”). Comunicação: A comunicação grupal refere-se ao nível de acesso e influência direta exercida por um membro do grupo em relação aos demais. A comunicação está diretamente relacionada à eficácia do funcionamento do grupo, isto é, quanto maior comunicação, mais eficácia. Existem dois tipos de comunicação entre os membros de um grupo. CENTRALIZADA, quando um membro do grupo detém e centraliza a comunicação com os demais. DESCENTRALIZADA, quando a comunicação é igualitária entre os membros, ou seja, não há necessidade da interferência de um membro para que qualquer outro se comunique com os demais. Normas: São padrões ou expectativas de comportamento partilhadas pelos membros de um grupo. Todo grupo tem necessariamente que produzir normas para a sua manutenção. Mesmo que não conscientemente, as normas são fixadas em função de vários fatores, mas de modo geral, reproduzem e substituem as diretrizes do poder dominante. As normas podem ser EXPLÍCITAS, isto é, diretas como as regras de um jogo, ou IMPLÍCITAS, não diretas, como em uma relação conjugal. Liderança: Durante muito tempo, acreditou-se em teorias que baseavam a liderança em traços de personalidade (inteligência, dominância, autoconfiança, etc...), hoje, são mais aceitas as teorias que consideram a chamada LIDERANÇA EMERGENTE, segundo as quais, a liderança é fruto da interação entre os membros do grupo e surge em função de seus objetivos. Em outras palavras, o líder é definido pelo grupo como aquele que apresenta melhores condições de encaminhar o grupo ao seu objetivo. Mudando-se o objetivo do grupo, este se reorganiza sob nova liderança (que não precisa ser necessariamente uma liderança formal). Status: Prestígio desfrutado por um membro do grupo. O Status refere-se à POSIÇÃO do sujeito no grupo. Pode ser SUBJETIVO, que representa uma visão pessoal do sujeito sobre si mesmo, ou SOCIAL, que é o resultado do consenso do grupo acerca do indivíduo. O Status subjetivo pode ou não corresponder ao Status social. O Status é sempre conferido em função da natureza do grupo. Isto é, dependendo da característicado grupo, certas características pessoais podem ser mais ou menos valorizadas pelos demais, o que determinará o Status do sujeito no grupo. Papel: Diretamente relacionado ao Status, o Papel representa o conjunto subjetivo de atributos organizados e construídos pela FUNÇÃO do sujeito no grupo. Assim como o Status, o Papel também pode ser subjetivamente atribuído pelo sujeito a si próprio, ou coerente às expectativas do grupo. Animais sociais Para entendermos os processos relacionais, torna-se importante, ainda, considerarmos que o homem, como qualquer animal social, possui certas características de vínculos grupais que pertencem à natureza destes animais. Assim, uma rápida noção sobre a abordagem etológica pode nos ser útil no sentido de verificarmos alguns destes procedimentos grupais que independem da cultura do grupo, uma vez que pertencem ao conjunto de condutas instintivas das espécies sociais. Ao final do século passado, os homens de ciência que pesquisavam o comportamento animal tiveram contribuições significativas de teóricos de abordagens reflexológicas, como Pavlov, e behavioristas, como Watson. A limitação, no entanto, estava no fato de que estes cientistas estudavam as reações dos animais em situações artificiais de laboratório. Seus trabalhos visavam mais a comparações reflexas com o ser humano do que propriamente à análise das próprias estruturas comportamentais dos agrupamentos animais. Esta lacuna foi preenchida pela Escola Objetivista de Lorenz, que passou a estudar o comportamento dos animais em seu próprio habitat, através da observação de seus ritos, sua aprendizagem social e as posteriores correlações entre o inato e o adquirido. Destas observações de Lorenz e sua equipe, foi possível determinar a existência de uma série de comportamentos naturais de organização social. Estes comportamentos estão presentes na maioria dos grupos sociais, independentemente de suas espécies, desde que, evidentemente, se refiram a animais sociais, incluindo nisso o homem. Comportamentos de organização do grupo social A importância, para nós, da existência dos comportamentos sociais inatos, é a consciência de que são condutas que, por serem naturais, estarão sempre presentes nos grupos sociais e, portanto, é lícito considerarmos a existência destas condutas em nossas análises dos processos sociais. Vale lembrar que são todos comportamentos de organização do grupo social, o que irá variar segundo o aspecto cultural são os modos como estes comportamentos serão efetuados. Vamos a eles: Hierarquia social: Aqui, mais do que talvez em qualquer outro, é importante lembrar que a existência de uma hierarquização é natural e necessária a qualquer grupo. No entanto, os fatores que irão determinar quem ou quais as características que serão necessárias a um melhor lugar na escala hierárquica estes sim, são culturais, e, portanto, variáveis de grupo para grupo. Preservação territorial: Refere-se ao comportamento de demarcação e proteção do território do grupo. Esta conduta propicia o domínio sobre os limites do território e “avisa” a outros grupos que estão impedidos de entrar naquele espaço. O processo de construir muros nas casas é o exemplo humano do mesmo procedimento de preservação territorial que faz o cão urinar em torno de sua área para definir um espaço pessoal. É interessante notar que o conceito de território pode se referir ao Território Grupal, protegido pelo grupo todo, como ao Território Individual, composto pelo espaço pessoal de cada um, como uma espécie de bolha imaginária que nos cerca e delimita o espaço de quem nós autorizamos ou não a aproximação (física ou psicológica). Cooperação social: Diz respeito ao comportamento pelo qual o grupo se une para a produção de uma ação que trará benefício para todos os membros. Preservação da Prole: O comportamento de proteção à infância tem a função de permitir a aprendizagem “teórica” antes dos filhotes necessitarem enfrentar a realidade. Ou seja, é uma conduta preparatória para a vida. Absolutamente necessária e fundamental para a preservação da espécie. Comunicação social: É o comportamento que permite o estabelecimento de uma comunicação entre os membros de um grupo. Sem ele, o grupo não conseguiria desenvolver qualquer ordem em suas relações. Independente do tipo da comunicação (gestual ou vocal), esta conduta permite, por exemplo, a transmissão de informações, a aprendizagem e até mesmo o reconhecimento de membros do grupo. Grande parte da comunicação humana, principalmente no que diz respeito à comunicação gestual, é independente da tipologia cultural. Estudos transculturais revelam uma espetacular coincidência de condutas gestuais semelhantes para a intimidade afetiva, cumprimentos, relações hierárquicas de dominação e submissão, etc... além de uma comunicação vocal também praticamente idêntica para a expressão de sensações físicas como a dor (grito), por exemplo, ou psicológicas como a alegria ou a satisfação (risos). O Processo Civilizatório Categorizados os comportamentos naturais de organização social, inerentes às espécies sociais, vejamos agora o modo como estes indivíduos se relacionam com o seu meio ambiente e assim, compreendermos um pouco do processo civilizatório. Dois aspectos estão presentes na evolução e no desenvolvimento de espécies animais deste gênero: O aspecto biológico, intrínseco à natureza orgânica da espécie e condicionado às transformações internas da estrutura biológica da espécie como um todo. São modificações lentas em uma escala de evolução natural que caracterizam as transformações biológicas decorridas nas espécies com o passar do tempo. O aspecto social, dependente da natureza interna (genética) e/ou externa (fatores ambientais) e decorrente de impulsos naturais (instinto gregário). Estas características produzem as sociedades animais, compreendidas como uma totalidade de indivíduos que se agrupam em coletividade e determinam regras de atuação comum em relação aos membros da coletividade e/ou ao meio em que vivem através, unicamente, de instintos vinculados à sobrevivência. ATENÇÃO: Estes dois fatores, intercalados, ou seja, a estrutura biológica que propicia uma relação ambiental mais sofisticada associada aos comportamentos sociais é que determinam e possibilitam a algumas espécies viverem em sociedades. Aspecto Cultural O homem, como já vimos, encontra-se inserido neste grupo de animais, o que significa que para nós, viver em sociedade não é exatamente uma opção, mas sim um determinante biológico, portanto natural. A espécie humana, entretanto, possui um terceiro aspecto que o distingue das demais espécies sociais, é o aspecto cultural. Decorrente de nossa atividade intelectual, o aspecto cultural pode ser traduzido como o processo de construção consciente das regras de uma sociedade, capaz de diferenciá-la e individualizá-la em relação a outros grupos sociais da mesma espécie. O aspecto cultural, portanto, tem se demonstrado o fator diferencial no desenvolvimento das civilizações, ou seja, o modo de organização das estruturas sociais é que irá definir uma alteração nas características de um grupo social. Animais Sociais Entre os animais sociais, portanto, existe sociedade, mas não cultura, o que significa que a espécie toda atua sobre o ambiente e constrói suas relações sociais de modo constante e uniforme, sem diferenciação geográfica ou temporária e, consequentemente, sem possibilidade de reconstrução de sua ordem social por intermédio de reminiscências de sua “cultura”. O que já não ocorre com a espécie humana que, como no caso do antigo Egito ou em outras sociedades extintas, podemos saber perfeitamente todos os esquemas sociais que regiam aquela sociedade através de seus códigos culturais (idioma, símbolos, emblemas, deuses, adornos, etc...) que sobreviveramà própria sociedade que os criou. Edgar Morrin A identidade social, produzida pelas relações parentais e pela tradição (costumes particulares, códigos culturais) de um grupo, será reforçada pelo confronto com outros grupos sociais que, embora de organização social semelhante, se diferenciam em seus modos de organização. “... a cultura define a identidade individual e a social, não só por sua própria imagem, mas também por oposição à da cultura estrangeira”. Identidade Social Uma vez estabelecida uma civilização (grupo sociocultural), seu desenvolvimento será baseado fundamentalmente em uma tríade de desenvolvimentos que se relacionam entre si. São eles: Desenvolvimento Tecnológico: Refere-se aos progressos técnicos existentes em uma sociedade desde suas formas mais elementares às mais complexas. Dá-se de modo sequencial, irreversível e cumulativo. Desenvolvimento Social: Diz respeito às relações instituídas entre a tecnologia empregada pela sociedade para o progresso social de sua população e as formas como estas relações se estabelecem ao nível interno e, por extensão ao nível externo com outras sociedades. Isto é, diz respeito à parcela da população que se beneficia da tecnologia existente naquela sociedade. Desenvolvimento Cultural ou Ideológico: Determinado pelo conjunto de crenças e valores produzidos ideologicamente pelas relações sociais em razão da interação dos desenvolvimentos citados. Isto é, os valores sociais que surgem pela relação entre o desenvolvimento tecnológico e o desenvolvimento social. Aula 2 – Os Processo de Subjetivação Desenvolvimento Psicológico A linguagem é, sem dúvida, um dos mais importantes processos de mensuração do desenvolvimento psicológico como um todo e do cognitivo em especial. A linguagem possibilita e representa a capacidade da pessoa em relacionar-se e extrair relações de sua realidade. Não devemos considerar esta afirmativa, no entanto, sob uma ótica simplória da linguagem verbal (domínio do discurso falado), ou incorreríamos no absurdo de avaliar o desenvolvimento de uma criança muda como nulo. Devemos sim, compreender a linguagem como a estrutura capaz de dar simbolismos ao real. Isto é, o modo pelo qual nossos referenciais da realidade se introjetam em nossas mentes. Conjunto de códigos Como todo símbolo, a linguagem implica em um conjunto de códigos que necessitam ser interpretados para que cumpram sua função comunicativa de transmissão de mensagens e, ao interpretarmos algo, sempre damos também ao símbolo uma representação subjetiva. Em outras palavras, tudo que implica em decodificação carrega consigo uma forte carga subjetiva, na medida em que podemos estabelecer a relação entre significado e significante de diversas maneiras. Linguagem e Desenvolvimento Cognitivo Ao contrário do que se considerava há algum tempo, relacionar o papel da linguagem ao desenvolvimento cognitivo como um todo é trabalhar em uma via de mão dupla. A linguagem é proporcional ao desenvolvimento biológico, psíquico e cognitivo. Assim como o desenvolvimento biológico, psíquico e cognitivo são proporcionais à linguagem. Ou seja, quanto mais desenvolvimento, mais sofisticada a linguagem e vice-versa. As teorias sobre linguagem e desenvolvimento, ou como preferem os mais tradicionalistas, sobre o desenvolvimento da linguagem, dividem-se basicamente em duas correntes bem diferentes. Uma ligada ao Behaviorismo e outra chamada de Psicolinguística, como veremos a seguir. Behaviorismo de Skinner Pelo lado das teorias behavioristas, destacam-se as provenientes do condicionamento aplicadas à linguagem, proposta por Skinner e seus seguidores. Segundo este modelo, a aquisição da linguagem se dá a partir de necessidades primárias que vão sendo saciadas nas crianças a partir das primeiras vocalizações, como uma espécie de reforço. Corrente Behaviorista A criança se condiciona a repetir um determinado som para receber líquido quando tem sede ou outro diferente quando tiver fome. A própria vocalização dos pais também estimula a criança, através de um comportamento imitativo, a repetir sons específicos. De modo geral, as manifestações de alegria e carinho que a criança percebe dos adultos, quando imita um som, também funcionam como reforço afetivo. Com o passar do tempo, os adultos vão se tornando mais exigentes na perfeição do fonema para proporcionar à criança a mesma recompensa. Assim, se a princípio o som áua era o suficiente para receber o líquido, alguns meses mais tarde a criança será estimulada a sofisticar sua pronúncia para ága, e posteriormente, para “água” a fim de obter a mesma recompensa. ATENÇÃO: Para os Behavioristas, este processo vai se sofisticando e formando relações. Palavras isoladas vão se compondo em pequenas frases, que significam uma sequência de eventos. Por exemplo: a criança aprende a palavra “homem” e a palavra “corre”. Ao ver um homem correndo, ela organizará as palavras em uma sentença lógica: “o homem corre”. Ao mesmo tempo, a criança vai aprendendo, também por condicionamento, o sentido das palavras. A palavra "não" fica associada com punição. Um experimento associou a palavra “grande” a um estímulo aversivo em crianças, após o condicionamento, qualquer objeto “grande” era temido por aquelas crianças. Com isto, procuraram demonstrar que o significado das palavras é obtido através do condicionamento de suas representações. Corrente Psicolinguística Pelo lado da Psicolinguística, as principais teorias são provenientes de Chomsky e sua “gramática transformacional gerativa”. Para eles, haveria uma espécie de “pré-programação” do cérebro humano para a linguagem.Isto é, todas as pessoas já nasceriam com uma predisposição à utilização da linguagem. Esta predisposição seria apenas moldada aos símbolos específicos da cultura nativa da criança.O principal argumento utilizado é que mesmo crianças que ainda não tiveram qualquer tipo de aprendizagem acerca de regras gramaticais são capazes de inferir regras para a construção de suas frases. Até os 18 meses, o desenvolvimento da linguagem é muito lento, e o vocabulário de uma criança média pode variar entre 3 e 50 palavras. Com a “explosão”, a criança pula para um vocabulário de cerca de 1.000 palavras que são de seu uso cotidiano, mais umas duas ou três mil que compreende, mas não utiliza. Para Lenneberg, esta “explosão” não pode ser tida como fruto de aprendizagem ou condicionamento de imitação, mas é antes uma evidência de que a linguagem se desenvolve a partir de um cronograma biológico que lhe propiciaria a estrutura do discurso falado. ATENÇÃO: Seja qual for o modelo teórico, o desenvolvimento psicológico é sempre acompanhado por uma paridade linguística e, a linguagem é tida como o domínio do simbólico e como principal fonte de comunicação entre os indivíduos. Aspectos subjetivos O que podemos observar, nos modelos que procuram explicar a linguagem, é que existem aspectos presentes na representação dos símbolos que são profundamente variantes, sejam no modo como os interpretamos ou os codificamos, seja no modo como os construímos. Muitos destes aspectos subjetivos, presentes tanto na transmissão quanto na recepção de um símbolo são inconscientes, ou seja, fogem do domínio de nossa análise consciente e racional. Breve entendimento Vale a pena, neste ponto, um breve entendimento deste conceito da Psicanálise, para entendermos o porquê de alguns fatores da linguagem e de nossas vidas como um todo estarem fora do controle de nossa razão. Nos sistemas teóricos que a Psicologia formulou antes da Psicanálise, a consciência estava vinculada a um aspecto orgânico (ligada aos órgãos dos sentidos). A Psicanálise se caracteriza por abandonar esta abordagem e, influenciada pela Medicina, passa a interessar-se pelos aspectos patológicos (relativos às doenças) do psiquismo. Inconsciente: Sigmund Freud (1856-1939)era originalmente um neurologista que, interessado em doenças mentais, foi em 1885 a Paris estudar com Charcot, um renomado médico, que desenvolvia na ocasião um trabalho de tratamento da histeria através da hipnose. Posteriormente, Freud abandona a hipnose e, juntamente com seu colega e também neurologista Breuer, desenvolve o método de ASSOCIAÇÕES LIVRES, onde o paciente é estimulado a falar a primeira coisa que lhe vier à mente ao ouvir determinados termos. A partir de seu interesse pelo inconsciente, Freud passa a estudar a interpretação dos simbolismos dos sonhos e descobre que estes funcionam como formas de realização de desejos não conscientes das pessoas. No decorrer deste modelo de análise, Freud percebe que a consciência esbarra frequentemente em censuras. A existência destas censuras fez com que ele esboçasse as primeiras noções do INCONSCIENTE como sendo um processo de censura do consciente para ocultar a natureza sexual das neuroses. 1ª Tópica Freudiana: A chamada 1ª Tópica Freudiana se divide em: CONSCIENTE: Aquilo que está presente na consciência. Tudo o que a pessoa sabe sobre si, seus motivos e suas condutas. PRÉ-CONSCIENTE: Mais próximo do consciente e sem sofrer a pressão do recalque, pode tornar-se consciente pelo processo da ASSOCIAÇÃO sem produzir muitos conflitos profundos e, portanto, não apresenta grave resistência do consciente. INCONSCIENTE: Constituído por material recalcado, reúne sentimentos e desejos que, apesar de constituírem as verdadeiras causas das atitudes e condutas, necessitam permanecer fora da consciência para que não produzam conflitos no indivíduo. 2ª Tópica Freudiana A 1ª Tópica é transformada por Freud de modo a incorporar-se especificamente ao recém-descoberto conceito de LIBIDO (energia vital). Seu esquema se substitui pela chamada 2ª TÓPICA, na qual Freud estabelece as estruturas que irão compor a personalidade para a Psicanálise. Essas estruturas são: ID: Instinto do prazer, fonte de desejos básicos e egocêntricos; puramente inconsciente. EGO: EU, estrutura central e mais consciente da personalidade. Visa satisfazer os desejos do ID sem produzir conflitos com o SUPEREGO. SUPEREGO: Instinto da realidade. Constitui-se das regras, normas e valores sociais. Funciona como o aspecto da repressão dos desejos. A Percepção No início do século XX, surge um sistema teórico na Psicologia chamado de Gestalt. Os trabalhos sobre a percepção constituíram desde o início as bases deste sistema. Em 1910, Max Wertheimer descobre a tendência visual ao que chamou de “fechamento das formas”. Por este fenômeno, Wertheimer faz referência ao processo neurológico pelo qual, diante de uma forma geométrica inacabada, nosso cérebro tende a “finalizar” o desenho. Koffka e Kohler descobrem que toda percepção corresponde a uma relação de uma figura sobre um fundo. É bem conhecida a figura na qual podemos visualizar uma taça ou dois rostos frente a frente, dependendo de focarmos nosso olhar em uma parte ou outra do desenho. Tanto o fechamento das formas quanto a relação figura-fundo são processos cerebrais (neurológicos), mas os gestaltistas descobriram também que os fenômenos psíquicos possuem funcionamento semelhante aos processos cerebrais por serem deles oriundos, e chamaram este conceito de Isomorfismo. Em outras palavras, o modo como percebemos uma situação de vida também sofre as mesmas influências da percepção de formas. Dependendo de onde focarmos nossa perspectiva, podemos ter um entendimento ou outro da mesma situação. Percepção e subjetividades Além da conceituação funcional do processo, a Gestalt também nos levou às principais características deste processo. Isto é, como ele ocorre em termos de sua estrutura interna. Seguem algumas destas características, para que possamos frisar o quanto nossa percepção é sujeita às subjetividades: Esta característica refere-se ao principal conceito da Gestalt, segundo o qual “o todo é mais do que a soma de suas partes”. Para uma melhor compreensão deste conceito, devemos considerar que um objeto é composto por partes. No entanto, não basta agrupar desordenadamente estas partes para termos o objeto. É preciso que as partes estejam organizadas dentro de certas especificações e, ao agrupá-las assim, temos mais do que partes. Temos um objeto novo, que não tínhamos antes de aquelas partes se unirem daquela forma. Assim também funciona a percepção: ao visualizar um objeto ou ouvir uma música, não percebemos de modo isolado as partes do objeto ou as notas musicais, mas sim o objeto ou a música como uma coisa única e inteira. A figura sobrepõe-se ao fundo: O que será figura e o que será fundo depende de uma série de fatores pessoais do percebedor. Entretanto, o que esta característica estabelece é que, em qualquer universo perceptivo, o indivíduo ressaltará um fragmento como principal (figura), e este será percebido como relevante. Outros fragmentos deste mesmo universo perceptivo serão considerados como um cenário no qual o principal acontece (fundo), e não serão percebidos ao nível da consciência. A percepção tende às formas fortes e/ou geométricas: Torna-se muito mais fácil uma percepção nítida de um dado objeto quando sua forma não contém contornos excessivos e de difícil compreensão. Formas simples, geométricas e fortes, em termos de impacto sensorial, são percebidas instantaneamente e facilmente memorizadas (como por exemplo, os logotipos criados pelos publicitários para os produtos). A passagem das formas se dá de modo brusco: A percepção de um objeto novo só se impõe na consciência quando os elementos que o compõem já formaram um conjunto definido. Isto é, só temos uma percepção mais exata de um objeto quando este já está constituído em sua forma final. Objetos que demoram a se constituir em uma forma final definida tendem a não serem percebidos pelas pessoas como uma unidade. Alteração ou tendência das percepções É importante frisar que todas estas características aplicam-se em função do Isomorfismo. Tanto as percepções oriundas diretamente de órgãos sensoriais (visão, audição gustação, tato e olfato) quanto as percepções de situações psicológicas e emocionais. Alguns fatores influenciam no processo perceptivo. Ou seja, não chegam a ser características por não pertencerem diretamente ao processo, mas podem alterar ou tendenciar a percepção. São eles: A posição do observador em relação ao objeto: Esta posição pode referir-se ao aspecto físico como também ao aspecto cultural. O conhecimento intelectual do observador em relação ao objeto: É interessante frisar que uma informação acerca do objeto sempre influencia na percepção deste, mesmo quando esta informação está errada. Ou seja, aqui, a veracidade ou não das informações não importa. Havendo informações, a percepção será necessariamente influenciada por elas. Experiências afetivas do observador em relação ao objeto: Independentemente de terem sido positivas ou negativas, sempre que o observador tiver vivenciado alguma experiência afetiva em relação ao objeto, esta experiência ira influenciar em sua percepção. Evidentemente, se a experiência foi positiva , ele tenderá a perceber o objeto como mais agradável do que se a experiência tiver sido negativa. A Percepção é o mais importante dos processos cognitivos por ser, digamos assim, a porta de entrada da realidade. Tudo o que compreendemos está necessariamente acompanhado do “modo como nós percebemos”. A Percepção irá atuar diretamente não só na compreensão das coisas, como também em todos os demais processos que são oriundos de nossos entendimentos, como o modo pelo qual construímos nossas condutas e até mesmo as características de nossa personalidade. Aula 3 – A Linguagem como Instrumento de Racionalidade e do Saber Linguagem: Vinculada à memória, a linguagem vai codificar as informações estocadas e armazenadas e acioná-las de modo imediatoatravés de conceitos compreensíveis dentro de uma função comunicativa. De modo amplo, consideramos como linguagem toda e qualquer modalidade de comunicação entre os seres. Como se divide o Sistema Nervoso Autonômico? Temos, portanto, uma linguagem gestual, por exemplo, que apesar de não utilizar-se de palavras as substitui por gestos que tem a mesma finalidade. A linguagem verbal, ou oral como preferem alguns, não é diferente de nenhuma outra modalidade de linguagem. Resume-se a um conjunto de códigos aprendidos e compartilhados por um dado grupo social que visa o estabelecimento de comunicação conceitual entre seus membros. Termo e objeto A linguagem vai funcionar de modo a transformar um conceito em um código comunicável mais facilmente do que se houvesse a necessidade de expor o sujeito ao contato direto com o conceito ou objeto que se deseja comunicar. Tecnicamente temos, portanto, duas esferas que se interligam. O termo, é a palavra que representa o objeto (ou conceito); e o objeto (ou conceito) que é aquilo que a palavra está representando . Signo linguístico Saussure, irá ainda aprofundar esta construção da linguagem considerando o signo linguístico (a representação do objeto) como composto por significado, que seria o conceito que o termo representa e por significante que seria o termo em si, composto por sua cadeia de sons. A linguagem, portanto, vai utilizar-se de signos (sons que representam conteúdos) para representar objetos ou aspectos não materiais da realidade. Por exemplo, a palavra “elefante” aciona no indivíduo todo o quadro mnemônico (relativo à memória) referente aquele animal. Sem que haja necessidade do comunicador da mensagem colocar o ouvinte diante do animal para que possa se fazer entender em relação ao objeto que pretende se referir. ATENÇÃO: Apenas a título de fixação, vale ressaltar que o signo não necessariamente é uma palavra, mas qualquer código que represente o objeto. É através da linguagem que o chamado pensamento operatório executa as operações mentais mais complexas. Vejamos como isso ocorre nas telas seguintes. Estruturas do pensamento As estruturas que caracterizam o pensamento teriam suas raízes na ação e em mecanismos sensório motores mais profundos que a linguagem. Por outro lado, quanto maior o refinamento destas estruturas do pensamento, maior também a necessidade da linguagem para sua elaboração. A intervenção da linguagem é necessária porque sem ela, não haveria um sistema de expressão simbólico e as operações ficariam estagnadas ao estado de ações simultâneas e permaneceriam individuais, ignorando as funções de interação e troca interpessoal entre indivíduo e ambiente. ATENÇÃO: Uma forma fácil de compreendermos esta relação é a comparação com aspectos biológicos. Deste modo a respiração, a circulação sanguínea, o batimento cardíaco, etc. pertencem a um sistema integrado de sustentação vital. Apesar de serem todos necessários ao conjunto, não são suficientes de modo isolado à manutenção da vida. Vemos, portanto, que a linguagem, para Piaget é posterior ao pensamento e assim, não é a fonte causal do processo operacional, entretanto, exerce uma função indispensável a este processo: a simbolização da ação concreta. Novas estruturas na organização psíquica Com o advento da linguagem, surgem duas novas estruturas na organização psíquica: a Representação e a Esquematização, que corresponde à inserção dos pbjetos e fatos num âmbito conceitual, isto é, os conceitos. Sabemos que o fato de conceituar é que permite à criança a produção de classificações e categorizações, assim, os esquemas mentais e as operações necessitam desta função para o desenvolvimento de suas estruturas lógicas. Um segundo argumento, refere-se à relação de dependência entre operações intelectuais e ações. Piaget considera neste argumento as operações concretas, que surgem por volta dos 7-8 anos e é o estágio que se caracteriza pelo surgimento das classificações, seriações e correspondências. Segundo ele, estas operações como, por exemplo, as de reunir e dissociar são, antes de se tornarem operações do pensamento (simbólicas), ações propriamente ditas. A criança as executaria ao nível perceptivo e através da manipulação experimental antes de formulá-las no plano verbal. A linguagem, portanto, não poderia ser a causa de sua formação. Um último argumento refere-se às operações formais, estas, surgidas por volta dos 11-12 anos, baseiam- se em raciocínios lógicos e independentes dos objetos concretos, estariam, portanto, em uma relação mais direta com a linguagem. Estruturas de Conjunto Piaget, entretanto, nega também que seja a linguagem a responsável pelo surgimento desta categoria operacional pelo fato de que para ele, o que caracterizaria as operações lógicas do ponto de vista psicológico, seria sua reunião em sistemas ou estruturas de conjunto e não seriam constituídas por elementos isolados. Estas estruturas de conjunto, apesar de mais simples, já estariam presentes nas operações concretas e a passagem para o estágio mais sofisticado das operações formais só dependeria da introdução de uma estrutura combinatória. Esta estrutura combinatória, também apareceria tanto no plano verbal quanto no não verbal e, portanto, não se poderia afirmar que dependa da linguagem, alias, pelo contrario segundo Piaget, é o acabamento das operações combinatórias que permitiria ao sujeito completar as suas classificações verbais. Desenvolvimento do pensamento operatório O processo operacional, desde as suas estruturas mais simples como a seriação, até as mais sofisticadas, como as estruturas ideológicas, utilizam-se da linguagem após sua elaboração e não para a sua elaboração. É a capacidade combinatória do pensamento, mais ligada ao desenvolvimento das condições cognitivas como um todo e vinculada à inteligência como característica adaptativa de solução de problemas, mais do que a linguagem, as responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento operatório. As posições teóricas de Piaget não são aceitas unanimemente por todos os teóricos do desenvolvimento. Entretanto, sua originalidade e principal contribuição, independente de estar ou não certo acerca destes processos, reside no fato de ter estabelecido uma especificidade do conhecimento que se reporta mais às estruturas do processo do que com perspectivas que partam unicamente da observação de condutas e comportamentos objetivos do tipo Behaviorista. Tipos de linguagem Lev Vygotsky inicia sua teoria reportando-se aos conceitos Piagetianos e contradiz o materialismo afirmando que linguagem e pensamento são processos distintos e independentes. Uma de suas contribuições mais importantes foi a distinção entre dois tipos específicos de linguagem, uma das quais levou, mais tarde, Piaget a desenvolver o conceito de linguagem egocêntrica. Estes dois tipos de linguagem estavam vinculados às funções que Vygotsky descrevia acerca da linguagem. Primeira função: Uma destas funções era a comunicação e, portanto, necessitaria de uma linguagem socializada e capaz de sustentar uma troca verbal entre o sujeito e um interlocutor. Segunda função: A outra função, no entanto, não apresentava um caráter exterior por não exercer um funcionamento de contato entre o sujeito e o mundo externo, mas sim, uma característica de organização pessoal e interior do pensamento. Este tipo de função organizadora do mundo interior é que veio a ser denominada de linguagem egocêntrica. Vygotsky X Piaget Para Vygotsky enquanto na linguagem socializada, a criança faz trocas com o outro: pergunta, pede, ameaça, dá e solicita informações, na linguagem egocêntrica, a criança fala para si própria, não tem interesse pelo interlocutor, não espera nenhuma resposta externa e normalmente, nem se preocupa se está sendo ouvida ou não. Outra discordância de Vygotsky emrelação a Piaget refere-se ao fato de que para ele, esta linguagem não desapareceria com a consolidação da linguagem socializada, apenas se internalizaria. Para Piaget, esta linguagem não preenche uma função adaptativa (útil) e, portanto, se atrofia quando a criança chega à idade escolar e consolida sua linguagem socializada. Vygotsky defende, contrariamente a Piaget, que esta linguagem representa um importante papel na atividade cognitiva infantil porque além de funcionar como uma forma de explicitar e aliviar a tensão, ainda atua como organizadora do pensamento. Linguagem interior Vygotsky aceita que a função primária da linguagem é a comunicação e por isso, a primeira forma de linguagem é sempre essencialmente social. A linguagem egocêntrica introduz-se posteriormente e, ao não se exteriorizar mais, continua como linguagem interior a representar um importante papel na organização do pensamento. Segundo Vygotsky, até os oito anos de idade, aproximadamente, não há qualquer distinção entre a linguagem social e a linguagem interior, isto é, a criança raciocina exatamente como se estivesse “conversando” com um interlocutor imaginário. Por exemplo: Para Vygotsky, isto demonstra que esta linguagem interior é nada mais do que a introjeção da linguagem egocêntrica aonde a criança repete em voz alta estas mesmas frases para si própria diante de uma tarefa. Linguagem como um facilitador Luria ampliou a função organizadora da linguagem demonstrando como ela se estenderia ao comportamento em qualquer padrão. Vários experimentos demonstraram que nos animais, apesar da ausência de linguagem, existe uma inteligência prática que os possibilita realizar determinados problemas. Também nas crianças em idade pré-verbal, a inteligência funcionaria na operacionalização de questões em função de seu caráter adaptativo. O que Luria defende, é que a linguagem funcionaria como um facilitador deste processo, na medida em que permitiria uma apreensão da realidade de modo muito mais complexo e profundo do que se esta se desse apenas pela experimentação empírica do problema. Ou seja, o fato da criança denominar os componentes de uma questão, não só lhe facilitaria a resolução do problema como também diminuiria a necessidade de experimentar por várias vezes a situação antes de conseguir dominá-la. Fica fácil notarmos, que para Luria, a linguagem opera como um reforço poderoso no processo de condicionamento de bases Behavioristas. Função cultural da linguagem Num plano geral, Luria salienta a função cultural da linguagem, visto que compreende o desenvolvimento a partir da incorporação das experiências sociais e históricas do grupo ao qual o indivíduo pertence. Assim, é através da linguagem, que a criança inicia seu processo de aculturação. Quando a mãe nomeia os objetos e ensina palavras de ordem como “vá”, “não”, “tire”, etc... ela está moldando o comportamento da criança e ao mesmo tempo, organizando um padrão social. Ao aprender a executar as ordens da mãe, a criança guarda as instruções verbais por um longo tempo e aprende a formular seus próprios desejos e intenções. Ou seja, passa a nomear ela própria os objetos e assim organizar suas atividades de percepção e ação voluntária. A própria criança diz para si: “Não tire o livro” ou “Vá pegar água”, antes de executar a tarefa ou inibir a intenção. Classificação de Objetos em Classes Para Luria, a linguagem é também a responsável pela instalação de categorias e, consequentemente, pela classificação de objetos em classes. Isto é, a criança só seria capaz de identificar a relação entre “cavalo”, “cão” e “elefante”, a partir do momento da aquisição do termo “animal”. Antes disso, é impossível a ela categorizar estes objetos em uma escala lógica de padrão. O importante em Luria é a pertinência que a linguagem tem na execução de tarefas. Para ele, é a linguagem que orienta a ação voluntária, não instintiva, e possibilita ao indivíduo uma atuação social mais ampla e definida. Não fica difícil identificarmos como as ações, as representações que fazemos da realidade, nossos sentimentos, afetos e valores, utilizam a linguagem como forma de organização e administração pela consciência de nossos atos. Justamente em função desta interdependência entre linguagem, sentimentos e ações é que a partir da comunicação podemos transformar condutas e sentimentos. Como toda ação voluntária, corresponde à materialização de uma intenção, vamos ver como se constituem as atitudes e como podemos, através de uma comunicação profissional, intervir em seus direcionamentos. Conceito de Atitude O conceito de Atitude tem sido, em função de sua utilização leiga, confundido com a ação ou o comportamento que surge como consequência da existência de uma intenção em relação a algo. Atitudes, na verdade, são sentimentos pró ou contra um objeto social, produzidos por um sistema de crenças e cognições e que predispõem o indivíduo a ações coerentes em relação a este objeto social. Ou seja, atitudes não são comportamentos, atitudes produzem comportamentos através dos componentes afetivos e das experiências pessoais do indivíduo. Podemos prever o comportamento de alguém se soubermos qual a atitude do sujeito frente a um determinado objeto. Por exemplo, se eu tenho uma atitude positiva em relação a esportes, provavelmente terei comportamentos do tipo de ler revistas especializadas, assistir a eventos esportivos, incentivar meus filhos a frequentar um clube esportivo e etc. Para que tenhamos uma atitude formada frente a um objeto, três componentes precisam estar intercalados: Componente Cognitivo: É o conjunto de informações, crenças, conhecimentos, aprendizagens e demais experiências cognitivas que possibilitam à pessoa a construção de algum esquema representacional do objeto. Base de nossas representações sociais, estas informações são diretamente provenientes da comunicação dos outros conosco e de nossas próprias experiências pessoais. Se a pessoa não tiver nenhuma informação sobre um objeto, jamais poderá desenvolver uma atitude acerca dele. No entanto, é importante ressaltar, que estas informações não tem qualquer obrigatoriedade de serem corretas. A veracidade ou não dos dados, não implica em um maior ou menor desenvolvimento nas atitudes, visto que o afeto deslocado para o objeto não está calcado na veracidade, mas na intensidade da aprendizagem. Se por outro lado, estas informações forem vagas ou superficiais, ai então, teremos uma atitude frágil ou mesmo inexistente frente ao objeto. Componente Afetivo: É o componente mais característico das atitudes e alguns autores chegam a considerá-lo como o único componente necessário para a instalação das atitudes por ser este, o componente que diferencia uma atitude de uma opinião, aonde há o componente cognitivo, mas não o afetivo. O componente afetivo será o sentimento, pró ou contra, vinculado ao objeto e está estritamente correlacionado ao tipo de cognição que o sujeito possui em relação ao objeto. Assim, se tenho informações positivas a seu respeito, gostarei de você, se tiver informações negativas, não gostarei. Componente Comportamental: É a predisposição às ações coerentes com os meus sentimentos em relação ao objeto. Esta predisposição não é efetivamente a ação e nem precisa, necessariamente ser explicitada o tempo todo, mas, se tiver informações positivas em relação a um objeto, gostarei dele e, portanto, estarei quando necessário, disposto a executar ações de ajuda ou defesa a este objeto. Equilíbrio do sistema afetivo Para que a atitude se transforme em ação, torna-se necessária a existência de uma situação específica que mobilize o indivíduo a explicitar seu sentimento (atitude) em forma de comportamento (ação). Os três componentes das atitudes influenciam-se mutuamente e funcionam dentrode um sistema integrado de coerência. Esta harmonia entre os componentes é o que caracteriza o equilíbrio do sistema afetivo dos indivíduos. O próprio sistema psicológico dos indivíduos sustenta e necessita deste equilíbrio, qualquer mudança, portanto, em um dos componentes produz automaticamente uma reorganização dos demais de modo a se restaurar a harmonia entre os componentes. Mudanças nos componentes As mudanças no componente cognitivo compõem-se de um novo conjunto de informações, verdadeiras ou falsas, que destoando das informações originais forçarão mudanças nos demais componentes. Estas alterações podem ocorrer a partir de experiências concretas, como vivenciar uma situação nova ou a partir de ressignificações. Por exemplo: “Sou muito fechado e isto me faz mal”. Ser fechado não é necessariamente ruim se for entendido como não exibicionista além de ser útil em muitas situações nas quais não queremos nos expor. As mudanças no componente afetivo caracterizam-se pela instalação de um afeto diferente (incoerente) daquele produzido pelo componente cognitivo. Se passar a gostar de alguém, passarei também a ver nele qualidades e valores que não via antes.As mudanças no componente comportamental são sempre decorrentes de pressões ou necessidades de agirmos de forma incoerente com nossos afetos. Isto é, se por necessidade precisar ter comportamentos hostis em relação a alguém por um período mais prolongado, acabarei não gostando dele para preservar meu equilíbrio interno. Regras de comunicação persuasiva Veremos a seguir algumas regras de comunicação persuasiva que aumentam consideravelmente o poder de argumentação do profissional de modo a facilitar sua influência na alteração destes componentes. - COMPETÊNCIA E CREDIBILIDADE. Quanto mais credibilidade o ouvinte der ao comunicador, mais bem sucedida será sua influência. Assim, é fundamental na formação do vínculo, que o comunicador demonstre confiança, segurança e competência de modo a formar uma imagem de credibilidade. - APARENTE DESINTERESSE DO COMUNICADOR EM ALTERAR UMA POSTURA. Se o ouvinte notar no comunicador uma tentativa explícita de produzir um determinado efeito, isto acionará seus mecanismos de defesa que por sua vez, produzirão resistências que dificultarão a mudança desejada. - RAPPORT. É o vínculo necessário a qualquer boa comunicação. Antes de iniciar qualquer emissão de mensagem é preciso certificar-se que estabeleceu um rapport positivo através da identificação dos sistemas representacionais. O que isto significa é que o comunicador e o ouvinte, são pessoas diferentes e, portanto, funcionam sob dois sistemas representacionais distintos. Uma mensagem que para o comunicador tem certo objetivo ou significação, pode ser captada pelo ouvinte de modo absolutamente diverso. Não cabe ao comunicador alterar o sistema do ouvinte, mas atingi-lo. Portanto, se a mensagem não foi interpretada segundo seu objetivo mude sua forma de comunicação de modo a atingir o modelo do outro. "O resultado de sua comunicação será sempre a resposta que você obter." Toda comunicação é hipnótica na medida em que as palavras induzem a uma situação psicológica no outro. Portanto, é fundamental se ter em mente, exatamente o objetivo que se deseja atingir, para que o discurso não se esvazie ou fique perdendo seu impacto na busca de um objetivo. Algumas estruturas de linguagem são frequentemente utilizadas pelas pessoas em seus discursos e se forem devidamente trabalhadas podem não só esclarecer o conteúdo do discurso como influir de modo decisivo neste mesmo discurso. Vejamos alguns destes padrões. - ELIMINAÇÃO. Estabelecem-se formas incompletas de discurso que eliminam aspectos muitas vezes essenciais à comunicação. Cabe ao comunicador profissional esclarecer estes aspectos (e é claro, evitá-los em seu próprio discurso) e não permitir ao ouvinte pressupostos do tipo "todo mundo sabe do que eu estou falando". 2 Vejamos alguns exemplos: "Lá em casa tem uns problemas que não me permitem concentrar nos estudos". "Quais são estes problemas?" "Comunicar é difícil para mim." "Comunicar o que? Comunicar a quem?”. - NOMINALIZAÇÕES. Correspondem a conceitos abstratos inclusos nos discursos e passíveis de serem interpretados de diversas maneiras. Ex: "Tenho uma frustração em relação a isso." "O que é frustração para você? Como você se sente ao ficar frustrado?”. - GENERALIZAÇÕES. Transformam-se situações específicas em genéricas. Ex: "Ninguém presta atenção quando eu falo.” "Quem não presta atenção quando você fala?”. - PRESSUPOSIÇÕES. Insere-se no discurso algo que não foi dito explicitamente e que funciona como uma concordância. Ex: "Se João tivesse estudado não estaria passando por isso agora." Pressupõe que: João não estudou. - LEITURA DE MENTE. A pessoa alega conhecer o conteúdo das mentes alheias. Ex: "Você sabe como me sinto." "Não, não sei. Como você se sente?" "Estou certa de que ele ficou feliz." "Como sabe disso? Ele lhe disse?”. Além destas estruturas de linguagem, outras técnicas podem ser igualmente eficientes na comunicação. Vejamos mais algumas. - A comunicação verbal precisa ser congruente com a comunicação perceptual. Gestos, tom de voz, expressão facial, etc. - Espelhamento de futuro. Colocar a pessoa em uma situação futura onde já estará efetuando o que o comunicador objetiva. - Interação entre o objetivo do comunicador e a necessidade ou desejo do ouvinte. - Ordem dos argumentos. Quando o ouvinte estiver pouco motivado para um objetivo utiliza-se primeiro o ganho principal, quando houver sintonia é mais eficiente ordenar a argumentação em direção a um clímax. - A apresentação da conclusão é eficiente apenas para ouvintes pouco sofisticados. Audiências mais sofisticadas intelectualmente formulam suas conclusões por si próprias e não sentem o comunicador como as tendo induzido àquilo. - A exposição de argumentos contrários aos objetivos do comunicador por ele próprio, funciona como uma "vacina" para o ouvinte contra futuras influências opostas. Ex: "Alguns conhecidos podem dizer que isto não é importante, mas...”. 3 - O tamanho do objetivo do comunicador deve ser proporcional à atitude do ouvinte. Isto é, pessoas que rejeitem um objetivo não aceitarão grandes mudanças de uma vez, já pessoas favoráveis àquele objetivo não só aceitarão como desejarão grandes mudanças. - A comunicação não deve produzir medo ou ameaças e deve ser mais ou menos racional ou emocional em função das características psicológicas do ouvinte. Aula 4 – A Mídia como Representação Social Decorrente de nossa atividade intelectual, o aspecto cultural é traduzido como o processo de construção consciente das regras de uma sociedade, capaz de diferenciá-la e individualizá-la em relação a outros grupos sociais da mesma espécie. Processo de construção consciente das regras de uma sociedade Ou seja, por ser consciente é opcional em seu modelo, é ideológico e não mais natural. Sendo assim, difere de grupo social para grupo social, não é inato (portanto também não é biológico) e não está vinculado a nenhum processo de preservação da espécie. ATENÇÃO: associa-o ao conceito de tradição, isto é, está ligado à história e às experiências particulares de cada comunidade. Homem, um ser Social Sendo o homem um ser social, possui sua organização psíquica repleta de valores que são os reflexos da sociedade na qual foi criado. Para compreendermos melhor as implicações de nossa natureza como parte integrante de um gênero social da natureza, torna-se importante considerarmos que o homem, como qualquer outro animal social, possui certas características de vínculos grupais que pertencem à natureza dos agrupamentos sociais destes animais (sociais). Homem, um ser biológico Antes de um ser ideológico o homem é um ser biológico e, portanto, está inserido em seu código genético uma estrutura de sistemas comportamentais que independem de aspectosculturais. Quando a natureza gera um ser humano, não pode se dar ao luxo de criar subcategorias adequadas às variações temporais, históricas ou culturais de nossas civilizações, a adequação do ser ao meio cultural é evidentemente função da socialização. Assim o homem nasce pronto para pertencer à espécie humana, mas inacabado para adequar-se a um dado grupo social. Aspectos do Processo Civilizatório Ao considerarmos o desenvolvimento da espécie humana, seja ao nível intelectual, biológico ou social, precisamos lembrar que, destes aspectos, apenas o cultural, é realmente determinante de uma evolução no processo civilizatório. Aspecto biológico: Isto porque, pelo aspecto biológico, que se caracteriza por alterações evolutivas da espécie temos aproximadamente “apenas” meio milhão de anos do domínio do fogo pelo homem até os nossos dias, o que representa tempo insuficiente para qualquer alteração biológica significativa a ponto de justificar o progresso neste período pela genética, como o crescimento de cérebro,por exemplo. Aspecto Social: O aspecto social é igualmente dependente da natureza interna ( genética ) e/ou externa ( fatores ambientais) e decorrente de impulsos naturais (instinto gregário). Estas características produzem as sociedades animais, compreendidas como uma totalidade de indivíduos que se agrupam em coletividade e determinam regras de atuação comum em relação aos membros da coletividade e/ou ao meio em que vivem através, unicamente, de instintos vinculados à sobrevivência. Assim, apesar dos inegáveis progressos sociais e das sofisticações sofridas pelas dinâmicas relacionais, as bases do comportamento social no homem, permanecem bastante semelhantes á origem social (respeitadas as diferenças culturais). Ou seja, as atitudes vinculadas à alimentação, medo, agressão, sexo, cuidados familiares, etc. Modificaram-se em sua metodologia mas mantiveram-se estáveis enquanto motivações sociais, como alias é característico do fator social. Aspecto cultural: O aspecto cultural, entretanto, tem se demonstrado o fator diferencial no desenvolvimento das civilizações, ou seja, o modo de organização das estruturas sociais é que irá definir uma alteração nas características de um grupo social. Identidade Social A identidade social, produzida pelas relações parentais e pela tradição (costumes particulares, códigos culturais) de um grupo, será reforçada pelo confronto com outros grupos sociais que, embora de organização social semelhante, se diferenciam em seus modos de organização. Segundo Edgar Morin, “... a cultura define a identidade individual e a social, não só por sua própria imagem, mas também por oposição à da cultura estrangeira.” Noção de cultura Desta forma, nossos valores, nossa ética, nossas crenças e também nossos recalques e fantasias determinarão não apenas nosso modelo de convivência social como também nosso próprio senso de realidade. Dentro de uma visão leiga, da pessoa comum da rua, não técnica, Cultura está vinculada ao conceito de erudição. Assim, sob este aspecto, uma pessoa “culta” é aquela que possui erudição, conhece autores clássicos, fala alguns idiomas, etc. Enquanto que quem não possui conhecimentos eruditos é dito uma pessoa “sem cultura”. Se considerarmos a história de colonização europeia e, se entendermos que muitos dos chamados clássicos são na verdade, aspectos culturais europeus, entenderemos como a origem desta “equivocada” noção de cultura e os movimentos catequistas (antigos e recentes) possuem a mesma gênese. Ideologias As ideologias mais do que simplesmente espelhar uma época, um momento da história humana, são as próprias estruturas que fundamentam o sistema de análise e compreensão da realidade. Estão presentes no modo como as pessoas educam seus filhos; no conceito que tem de realização pessoal; na noção de morte e em todas as esferas de atuação pessoal e coletiva nas quais existem pessoas que se relacionam com um mundo externo de realidade complexa. Uma música; Uma escultura; um sistema arquitetônico, Todas as manifestações artísticas , culturais ou de organização da vida coletiva, nos propiciam o material necessário para analise de ética, dos valores e dos costumes de uma sociedade. Origem Social A moderna biologia tem nos mostrado como a partir de qualquer célula de um organismo, podemos reconstruir toda sua estrutura biológica em função dos dados contidos ao nível genético. Deste modo, cada parte do ser contém um resumo de sua integridade e a noção de que as partes estão contidas no todo necessita ser, portanto, expandida ao conceito de que também o todo, está contido nas partes. Assim, qualquer fragmento cultural de uma sociedade conterá embutido em si como um “gene” a sua origem social. Para qualquer análise de situação grupal é fundamental a consciência de que o que ocorre em um grupo qualquer tem relação direta com a estrutura social e as instituições da sociedade pela qual o grupo se apoia. Todo grupo é na verdade uma micro sociedade, um reflexo d grande grupo social ao qual aquelas pessoas pertencem. E como toda sociedade, como vimos acima, é a representação social do individuo. Ou seja, sujeito e sociedade como faces da mesma moeda. Assim, é necessária uma forte identidade entre sujeito e grupo social. Identidade esta constituída basicamente pelo conjunto de crenças, cognições, valores e outros aspectos ideológicos e comportamentais que permitem a uma pessoa se identificar como membro de um grupo social. Ao mesmo tempo, permitem ao grupo identificar a pessoa como pertencente a ele. A este conjunto de saberes, valores e perspectivas é dado o nome de Representações Sociais. Sanidade mental e os valores e ideologias de um grupo social As representações sociais, portanto, constituem-se nas simbologias compartilhadas por um grupo, e são elas, que basicamente irão definir a identidade tanto social quanto particular das pessoas. A antipsiquiatria de Laing e Cooper, já há muito ressalta a direta vinculação entre a sanidade mental e os valores e ideologias de um grupo social. A sanidade e a loucura são para estes autores parâmetros de equivalência entre o ser e o social, assim, se meus conceitos, minhas verdades, meus valores e atitudes são coerentes aos dos demais membros de minha sociedade sou são, caso contrário, sou doente. Podemos exemplificar esta relação de modo extremamente fácil se pensarmos no conceito de “normal” que possui uma conotação de sanidade quando aplicado de modo adjetivo e que, de fato, reporta-se ao conceito estatístico de “norma” que corresponde à aquilo que ocorre com mais frequência em um dado conjunto. Assim sou “normal” na medida em que apresento posturas frequentes em meu grupo. Note-se que exclui-se qualquer outro juízo de valor ético ou conceitual, técnico ou moral desta avaliação. A “normalidade” decorre das atitudes sociais do grupo e por esta lógica valida e corrobora a ação individual. Mídia como fator determinante Na base de toda esta construção ideológica, fundamentação de nossa Representação Social, encontram-se os meios de comunicação de atuam de forma a difundir modelos, padrões, conceitos e estilos de vida. A mídia, nas sociedades contemporâneas, é sem dúvida alguma o mais determinante fator de construção de nossa realidade. Nos anos 30, influenciados pelo clima do período entre as duas grandes guerras mundiais, teóricos americanos da comunicação sustentavam através da chamada “teoria hipodérmica” que a comunicação profissional, através de seus veículos de massa, seria capaz de direcionar conceitos, valores e ideologias da população como bem lhe conviesse sem qualquer forma de análise ou resistência crítica à mensagem. Em outras palavras, a mídia criaria realidades convenientes aos seus interesses e a população absorveria estas realidades da forma como lhe fosse transmitida. Hoje sabemos que não é assimque se dá o processo relacional que se estabelece entre uma sociedade e seus veículos de comunicação de massa. O modelo hipodérmico (referência à agulha que injeta uma substância no corpo) desconsiderava não apenas o contexto comunicacional, como também subestimava profundamente a capacidade crítica e informativa de uma pessoa medianamente inserida em seu grupo social. Este modelo vai evoluindo, se transformando e a perspectiva de que haveria uma assimilação acrítica vai se transmutando para modelos mais contemporâneos, como o proposto por McLuhan, onde se entende que haja uma verdadeira relação entre público e veículo e a comunicação é concebida como uma troca que se funde em um valor comum. Esta relação se concretiza através do que Hernandez chama de “contratos” entre as partes. Este “contrato” implica em uma co-participação ativa do público na construção ideológica das mensagens. O público não é um agente passivo, mas ao contrário, determina os direcionamentos ideológicos do veículo através não só de seu sustento por meios indiretos como pela audiência, como também pelo sustento direto através da compra de revistas e jornais. Em troca, a mídia apresenta à população uma análise dos fatos que interferem nos destinos de sua sociedade através de especialistas nas mais diversas áreas e possibilita às pessoas conhecerem outras culturas, outras formas de vida e outros valores que igualmente auxiliam na perspectiva crítica de sua própria realidade. Noção da Verdade Ao fazer as análises, a mídia transmite interpretações da realidade e não “a verdade absoluta dos fatos”. Um aspecto é importante frisar neste ponto. A mídia não transmite a “verdade absoluta” simplesmente porque esta é um construto teórico. Ou seja, não existe. A noção de “verdade” se origina de uma ideologia monoteísta de que existe o fato real, tal como o foi concebido e existe a interpretação errônea deste fato. Ou seja, ao admitirmos o “verdadeiro” e o “falso”, estamos também admitindo que o ser que interpreta o real não está de fato refletindo este real como ele o é em seu noumeno. Pelas colocações já discutidas, podemos concluir que todo saber é sempre um reflexo do ser e não do real. Assim, ou estamos todos errados acerca de tudo ou temos que repensar o conceito de “erro-engano” – a antítese do conceito de “verdade-certeza” - e traduzi-lo como outra “leitura”, não necessariamente nefasta, porém diferente da nossa (ou da vigente). Perspectiva do real Uma parada cardíaca é um erro do funcionamento do coração, isso significa que o coração “desconhece” sua programação biológica ? A natureza erra ? Nascem pessoas com defeitos congênitos. O que isso significa ? Erro ? Sim, se considerarmos o erro como fruto das complexidades de um sistema, como consequência dos ruídos mínimos que provocam grandes alterações. Não, se considerarmos o erro como a ignorância do sistema ou como algo decorrente de uma interpretação enganosa do padrão. Uma pessoa pode induzir outra ao erro através, por exemplo, da mentira, mas ainda assim, o que errou não interpretou enganosamente a ação do primeiro, apenas não considerou outros interesses não manifestos que determinaram aquela ação. Aquilo que chamamos de verdade é um recorte, uma perspectiva do real, que pode ser profundamente variável em função do ângulo (físico ou psicológico) pelo qual nos posicionamos frente aos fatos. Poder da mídia Um veículo de comunicação é tão idôneo quanto a honestidade das análises que realiza dos fatos, não ao quanto estas análises são isentas de valor ideológico. Todos os produtos midiáticos embutem em si perspectivas ideológicas, valores, conceitos e ideias que são pertinentes aos seus posicionamentos, à cultura da sociedade a qual representam e aos interesses de seu público e de seus proprietários. E não poderia ser diferente. São exatamente estas análises ideológicas e políticas que irão costurar as identidades individuais em coletivas, fortalecer as representações sociais e manter, transformar ou eliminar valores, ideias e comportamentos. O senso comum, invariavelmente, considera que o poder manipulativo da mídia esteja em ações antiéticas como a tendenciosidade das informações dadas, a distorção dos fatos, a não difusão de aspectos da notícia ou pura e simplesmente no tipo de abordagem que faz sobre os fatos. Certamente que como em qualquer atividade, existem os maus profissionais e mesmo veículos menos éticos que se utilizam destes artifícios, mas não podemos utilizar estes como exemplos. A manipulação da mídia se dá através da comunicação persuasiva que, sem incorrer em nenhum tipo de postura antiética, induz e direciona a lógica pela qual os fatos são interpretados por seu público. Para compreendermos melhor este aspecto, precisamos partir de algumas premissas básicas. A primeira delas, é que esta manipulação necessariamente implica em uma uniformidade de conceitos e valores. Em outras palavras, é preciso que haja uma identificação entre as representações sociais do público alvo e aquelas que o veículo transmite. É preciso falar a linguagem (conceitual) do público. Vimos em nossa Aula 03, quando estudamos algumas das técnicas de comunicação persuasiva, que para obtermos um rapport é importante termos em mente que “não cabe ao comunicador alterar o sistema do ouvinte, mas atingi-lo”. O que isso significa, é que se não houver uma sintonia entre conceitos básicos e visão de mundo, a identidade não se consolidará e a manipulação não ocorrerá. A segunda premissa básica para a comunicação persuasiva é que o público não pode duvidar que o veículo esteja falando a verdade. Ou seja, vimos acima que a verdade absoluta é uma construção hipotética, portanto, quando nos referimos à verdade, nos referimos aos fatos desprovidos de análise. A manipulação não ocorre no fato, mas na análise que é feita. Assim, sendo o fato comprovado e indiscutível, a credibilidade não é afetada. Uma terceira e última premissa da comunicação persuasiva se refere à objetividade do texto e da argumentação utilizada. Falaremos na próxima aula, de modo mais detalhado, sobre a questão do discurso isento, mas é importante frisar que uma comunicação persuasiva realmente efetiva, não pode fugir das normas éticas de objetividade. Um discurso ou texto profissional objetivo não é aquele que simplesmente não utiliza a primeira pessoa em sua formulação frasal, mas sim aquele que é elaborado de modo a que o receptor não se sinta “carregado” ideologicamente para uma direção definida. A comunicação profissional efetiva não diz para seu público o que ele deve achar, mas é tecnicamente elaborada de modo a dar ao público a argumentação (e a contra argumentação) necessária para que ele construa suas conclusões. A comunicação persuasiva não engana, direciona. O leitor de uma revista semanal ou de um jornal, por exemplo, identifica-se com os posicionamentos deste e espera ver uma postura coerente a estes posicionamentos nos argumentos e textos apresentados. Textos muito pessoalizados, repletos de posicionamentos pessoais ou com uma argumentação parcial e tendenciosa, tendem a dar ao leitor a desagradável sensação de que está sendo obrigado a concluir algo e, certamente, isso acionará nele resistências e má vontade àquela conclusão. Um texto objetivo e o mais impessoal possível apenas ressalta a identidade entre leitor e veículo, mas não aciona mecanismos de defesa ou a sensação de estar sendo desqualificado em sua capacidade crítica ou analítica. Aula 5 – Jornalismo como Papel Mediador na Sociedade Processo de explicação Para começarmos nossa aula precisamos deixar bem definido o conceito de explicação. A explicação é definida como o processo pelo qual torna-se claro ou detalhado um fato ou situação anteriormente confusa ou obscura. Ou seja, é o procedimento de análise e compreensãode um dado qualquer. Para que sejamos capazes de executar esse processo, utilizamo-nos de relações causais, isto é, estabelecemos relações entre causa e efeito. Por exemplo: “se algo ocorre comigo ou no mundo, algo ou alguém deve ter provocado isso”. Através destas relações causais, a explicação ordena e dá coerência às experiências e constrói um sentido, um nexo para os acontecimentos de nossas realidades. O modo como estabelecemos estas relações entre causa e efeito será, portanto, o responsável pela forma como compreendemos as coisas. Associar causas a efeitos A informação de um fato, quando se propõe a não apenas descrever a ocorrência, mas também a auxiliar na compreensão deste fato, necessita, portanto, atingir este objetivo: associar causas a efeitos. Dizer, no entanto, que “A” provocou “B” implica na responsabilidade da análise dessa ocorrência. Frequentemente, diversos fatores conjugados produzem um resultado, e vincular um destes fatores como necessário e obrigatório traz consequências éticas e muitas vezes legais.Toda análise causal é ideológica. Não pode haver isenção ao apontarmos a causa de um fator, pois ao agirmos assim, nos comprometemos com uma visão, uma perspectiva, uma verdade, dentre tantas possíveis.A função social do Jornalismo vive nesta linha limítrofe entre o explicar os fatos à sociedade e, ao mesmo tempo, colocar-se como imparcial nessa condição.Esta aparente impossibilidade ética só se desfaz quando percebemos o limite destes conceitos: os limites entre o ideal e o humano e entre a frieza de um comunicado impessoal e a necessidade de humanização do contato interativo entre o profissional e seu público. Objetividade Transformada pelo olhar do Sujeito – O Processo Explicativo O pensamento explicativo é a organização típica do pensamento para o processo de dar uma ordem lógica e causal aos fatos. Através do estabelecimento destas relações de causa e efeito é que conseguimos explicar as coisas, ou, em outras palavras, dar sentido àquilo que nos cerca.Este tipo específico de raciocínio lógico possui um funcionamento autônomo e independente. Isto significa que nós é que encontramos nossas próprias explicações. Assim, quando dizemos que um professor está “ explicando”, ele está, de fato apresentando um fator, que será analisado e interpretado de modo diferenciado pelas mentes presentes, o que acarreta, entre outras coisas, em diferentes compreensões da aula. Quando um aluno não entende, isso pode ser provocado pela sua incapacidade em organizar o pensamento para a analise daquele fator, ou pela exposição fragmentada e deficitária do fator (pelo professor), que dificulta ou mesmo impossibilita uma analise precisa. Desta forma, o professor apresenta os dados de modo lógico e de forma a facilitar a organização do raciocínio do aluno. Porém, é o aluno que estrutura esta ordenação de modo interno e pessoal e dá aos dados uma formatação definida – que será seu entendimento da questão. Coerência e veracidade Um interessante aspecto a ser ressaltado refere-se ao fato de que a coerência das explicações é mais importante do que a sua veracidade no que diz respeito à ordenação mental. Assim, o modo como explicamos a criação do mundo, por exemplo – se por vontade divina ou se por explosões cósmicas – não faz a menor diferença. O que realmente importa é que a explicação traga à pessoa uma coerência e um sentido à realidade. A ausência desta coerência, ou seja, de explicação sobre um dado da realidade impossibilita que a pessoa ordene coerentemente os fatos e acarreta em desordem mental e discursiva da realidade. Características do Processo de Explicação Em função desta coerência das explicações, podemos considerar a explicação como um processo indispensável ao equilíbrio psicológico. O processo de explicação possui algumas características básicas: A explicação não é focal: A todo momento, precisamos explicar fatos, sensações e percepções às quais estamos expostos de modo concomitante. Ao mesmo tempo em que a um aluno em sala de aula se explica o conteúdo da matéria, explica-se também os ruídos externos, suas funções motoras e orgânicas, sua razão de estar ali etc. A explicação tem um nexo situacional próprio: Isto significa que a explicação não pode ficar restrita a uma lógica simples ou comum. Isto é, o sentido da situação é analisado dentro de um contexto especifico. Deste modo, situações que, em uma lógica geral, não fariam sentido adquirem um senso próprio dentro de certo contexto. Por exemplo: “Vou pôr você de castigo porque quero o melhor para você.” Significa “vou fazê-lo sofrer porque o amo.” Através de uma analise lógica simples, esta situação não faz sentido; no entanto, dentro de uma relação familiar entre mãe e filho, ambos entendem o nexo da situação. Respostas Coerentes Explicar se propõe a dar respostas coerentes entre si aos fatos que nos cercam e, assim, obter nossa própria coerência interna. Para explicar a si próprio, o indivíduo precisa explicar o mundo ao qual está inserido, e estas explicações se dão de modo paralelo, através da construção da realidade. Na criança, a explicação possui modos e características bastante diferenciadas. A pergunta infantil, por exemplo, não possui um alcance intelectual. Para ela, toda pergunta tem um forte componente afetivo. Isto é, a criança só pergunta como forma de sentir-se protegida e atendida pelo adulto. Isso é o que provoca aquelas perguntas infantis que temos certeza que a criança já sabe a resposta. Fases para chegar à explicação objetiva Segundo Piaget, a criança passa por três fases antes de ser capaz de chegar à explicação objetiva: I) Artificialismo mítico. Nesta fase, a explicação é centrada no paralelo da compreensão do universo pessoal da criança. O agente produtor do efeito é primordial ao modo de produção deste efeito. Assim, não importa para a criança como a coisa ocorre, mas sim quem a fez ocorrer. Para compreender, precisará construir um paralelo com sua própria realidade. Ex.: “Deus faz a chuva para regar as plantas; (assim como) mamãe faz a comida para eu comer”. II) Artificialismo técnico. A criança ainda necessita, nesta fase, do paralelo com sua realidade pessoal. No entanto, a ênfase da explicação passa a ser no modo de produção do efeito. É a fase na qual a criança começa a querer saber como as coisas acontecem ou funcionam. A famosa fase dos “porquês”. Ex.: “Por que a chuva „rega‟ as plantas?”; “Como o vulcão „cospe‟ fogo?”. III) Explicação causal natural. Aqui a criança começa a abandonar o egocentrismo primitivo que caracteriza as fases anteriores e começa a buscar objetividade nas explicações. Já não deve necessitar tanto do paralelismo com suas experiências pessoais. Ela busca o estabelecimento de nexos causais mais diretos entre os fatores. Ex.: “É a nuvem que causa a chuva”. Deve-se ressaltar que, mesmo quando adultas, muitas vezes as pessoas utilizam-se de uma lógica explicativa calcada em suas experiências pessoais para a compreensão de um fator. No entanto, dentro da estrutura teórica de Piaget, isto implica que tal indivíduo não se utiliza plenamente do estágio das operações formais. Ex.: o conceito de força na Física, compreendido como capacidade de tração motora. A função social do Jornalismo O Jornalismo é, por definição, uma ação de mediação entre o sujeito e sua realidade social. Assim, podemos comparar a atuação do jornalista com a atuação do professor dada no exemplo que vimos sobre o processo explicativo. Não podemos considerar que é o jornalista quem determinará como seu público interpretará ou compreenderá os fatos. No entanto, sem dúvida, dependendo da forma como o público for exposto a um tema, ele terá mais ou menos facilidade de organização de seu pensamento explicativo sobre o fato relatado, ou ainda tenderá a compreender este fato sob uma ou outra lógica causal. Naturalmente que, como em qualquer outra situação de comunicação,
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