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Baldissera, 2009 - A teoria da complexidade e novas perspectivas para os estudos de comunicação organizacional

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7 
A teoria da complexidade e novas 
perspectivas para os estudos de 
comunicação organizacional 
Rudimar Baldissera 
Com base no “paradigma da complexidade” (Edgar 
Morin), a partir dos princípios dialógico, recursivo e 
hologramático, propõe-se compreender/explicar a 
comunicação organizacional como processo de 
construção e disputa de sentidos no âmbito das 
relações organizacionais. As organizações são 
pensadas como sistemas auto-eco- 
organizados/organizantes e a comunicação como seu 
principal processo/lugar dinamizador/possibilitador. 
Essa perspectiva exige outro(s) olhar(es) sobre as 
articulações desorganização/organização, 
entidade/públicos, comunicação formal/informal e 
identidade/alteridade, de modo que, entre outros 
aspectos, a ambiguidade, os conflitos e as 
contradições sejam percebidos como inerentes à 
complexidade organizacional. Além disso, verifica-se 
que pela comunicação manifestam-se a diversidade, a 
crítica, as resistências, a criatividade, o
comprometimento e a (reJorganização. 
Com base na atual configuração da sociedade 
contemporânea, as organizações assumem cada vez mais 
importância. Presentificam seus padrões, seus valores e suas 
crenças nos diferentes elementos constituintes (econômico, 
filosófico, psíquico, estrutural, ecológico, político, entre 
outros) tensionados na tessitura das redes socioculturais. 
Assim, mais do que simples atravessamento, na qualidade de 
modelares, as organizações procuram fazer com que suas 
concepções, seus procedimentos e suas ações se instalem, 
estrategicamente, na teia social cultura/imaginário. Tecidas 
juntas, pode-se dizer que as organizações são produto e 
produtoras da sociedade, ou seja, ao mesmo tempo, são 
resultado da ação sociocultural e suas construtoras. À medida 
que a sociedade se estrutura, gera organizações que, por sua 
vez, (retro)agem sobre a/na teia sociocultural, 
transformando-a. Na base parece estar a noção de relação, 
isto é, ao entrar em relação os sujeitos transformam o 
entorno que os transforma - constroem a sociedade que os 
constrói - em permanentes processos de 
(des/re)organização. 
Nessa perspectiva, a sensação de constante mudança é 
lugar comum. A sociedade, os grupos, as organizações, as 
instituições experimentam diferentes níveis de 
transformação, porém permanentes. Não há lugar para o
definitivo, por mais que a cultura tenda a exigir que os 
padrões, as regras, os valores e suas materializações 
permaneçam os mesmos por muito tempo. Diante da 
diversidade de ritmos, intensidades e possibilidades, a teia 
sociocultural é (retecida todo o tempo, independentemente 
da vontade dos sujeitos envolvidos e da qualidade dos 
desdobramentos, ou seja, o fato de ocorrerem contínuas 
transformações não significa que sempre sejam positivas, 
adequadas ou ecossistemicamente comprometidas. 
Na mesma direção, pode-se afirmar que são muitos os 
agentes/elementos de influência tensionados na tessitura da 
cultura/do imaginário e da sociedade. Isso exige superar a 
ideia dos simples determinismos, dos absolutos. A sociedade 
não parece ser determinada por algo específico. Caracterizada 
como semovente, em sua permanente tessitura, atualiza 
aspectos/elementos do imaginário, da cultura, do 
ecossistema, da subjetividade (dado que, como se verá na 
sequência, em algum grau, os sujeitos são agentes do/no 
processo), das estruturas e políticas existentes, bem como 
elementos cognoscitivos (científicos e/ou não) e 
paradigmáticos, entre outros. Tem-se, então, a atualização de 
um conjunto de elementos-força que, amalgamados, 
geram/regeneram a sociedade e a própria cultura. 
Nesse sentido, parece evidente que, se, por um lado, as 
organizações se apresentam como resultados provisórios da 
cultura do grupo social em que se inserem, por outro, tendem 
a, paulatinamente, influenciar a (re)elaboração da cultura e
do imaginário desse mesmo grupo. Assim, é provável que, em 
um primeiro momento, os indivíduos que se articulam para 
criar uma organização tendam a fazer com que ela se realize a 
partir da cultura/do imaginário do(s) grupo(s) ao(s) qual(is) 
eles pertencem. Porém, à medida que essa nova organização 
se desenvolve, também passa a influenciar a 
cultura/imaginário do grupo no qual está inserida. 
Além disso, é provável que, quanto mais poder simbólico 
essa organização construir e exercer sobre esse determinado 
grupo/sociedade, mais fortes tenderão a ser suas influências e 
mais frágeis as manifestações de resistência a seus padrões, 
suas ações, seus procedimentos, seus valores e suas crenças, 
entre outras coisas. Ao se instituírem (comunicarem e 
fazerem-se reconhecer pelos seus diferentes públicos/pela 
sociedade), as organizações atualizam uma espécie de aura 
simbólica inclinada a envolver os públicos e a realizar-se 
como poder modelar. 
Isso pode revelar /esclarecer alguns dos motivos que levam 
pessoas, empresas e instituições a realizar acirradas disputas 
por visibilidade (cada vez mais), por reconhecimento e por 
uma qualificada imagem-conceito, aqui 
compreendida/explicada como 
um construto simbólico, complexo e sintetizante, 
de caráter judicativo/caracterizante e provisório, 
realizada pela alteridade (recepção) mediante 
permanentes tensões dialógicas, dialéticas e 
recursivas, intra e entre uma diversidade de
elementos-força, tais como as informações e as 
percepções sobre a entidade (algo/alguém), o 
repertório individual/social, as competências, a 
cultura, o imaginário, o paradigma, a psique, a 
história e o contexto estruturado (BALDISSERA, 
2004, p. 278). 
Visibilidade, reconhecimento e imagem-conceito que, ao 
fim, devem traduzir-se, entre outras coisas, em mais poder, 
vendas, apoios, votos, respeito, credibilidade, reputação e/ou 
mais lucros e acúmulo de capital. Cada entidade (empresa, 
instituição e/ou pessoa/grupo) tenderá a agir para atingir 
alguns desses objetivos, ou mesmo todos. Isso dependerá 
fortemente da sua natureza (se de capital público, privado ou 
misto, grande ou pequeno porte etc.), seus pressupostos 
básicos, sua missão e visão, bem como dos princípios que 
norteiam sua existência. Não se trata, porém, de julgar se é da 
qualidade do bem ou do mal. Procura-se, sim, ressaltar o que 
parecem ser os sempre presentes - em diferentes 
intensidades - objetivos 
organizacionais /institucionais/pessoais, mesmo que em 
alguns casos a entidade não tenha tais objetivos claros, bem 
definidos. 
À luz dessas questões, como pensar as organizações e, 
particularmente, a comunicação organizacional? Em que 
medida uma reflexão que potencialize a tensão existente 
entre significação e comunicação pode complexificar os 
olhares que se lançam sobre os processos de comunicação
nas/das organizações? É possível compreender e explicar a 
comunicação organizacional, em suas diferentes dimensões e 
interdependências, se o estudo a descolar das noções de 
identidade/alteridade, processos identificatórios, cultura e 
imaginário? O “paradigma da complexidade” (perspectiva de 
Edgar Morin), em especial os princípios dialógico, recursivo e 
hologramático, constitui-se em lugar/olhar qualificado para 
uma melhor compreensão e explicação das relações de 
significação e comunicação atualizadas nas/pelas 
organizações em suas diferentes materializações 
significativas e/ou comunicativas? Que desdobramentos e 
perspectivas são possíveis a partir desse paradigma? Entre 
muitas, essas são algumas questões que se apresentam a 
partir do prisma de uma reflexão mais complexa e que, de 
alguma forma, parecem centrais para os estudos de 
comunicação organizacional. 
Nesse sentido, mais do que ser conclusivo, este texto 
propõe-se discorrer sobre comunicação organizacional e 
complexidade - ou a complexidade da comunicação 
organizacional. Apresenta algumas das compreensões e 
explicações que se construíram sobre essa temática, bem 
como sobreoutras noções a ela articuladas, entre elas as 
noções de cultura, de imaginário e de identidade/processos 
identificatórios. Na mesma direção, portanto, com base nessas 
reflexões, procura dar relevo a lugares/aspectos que se 
apresentam férteis pelo “paradigma da complexidade” e, a 
partir disso, assinala alguns desdobramentos/algumas
perspectivas possíveis e prováveis. Propõe-se, também, 
destacar necessidades de revisões/superações do que se 
acredita serem formas simplistas de analisar e explicar a 
comunicação organizacional. 
A partir desse ponto, para que se possa avançar, destacam- 
se algumas das ideias basilares do “paradigma da 
complexidade”, particularmente os três princípios básicos, 
conforme Morin.
O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE 
Da qualidade do dinâmico, o conhecimento é 
(re)construído/transformado o tempo todo. O ser humano é 
falível e, portanto, não tem garantias de que, em algum 
momento, chegue a atingir a verdade absoluta, o 
conhecimento final sobre algo e/ou alguma coisa. Por isso, à 
luz de novas descobertas, tecnologias, teorias e/ou 
paradigmas, precisa estar permanentemente 
revisando/(re)avaliando o conhecimento que construiu. Nesse 
sentido, assume relevo a capacidade de duvidar, de 
questionar o conhecimento construído para ver se ainda se 
apresenta válido. Seriedade, humildade, flexibilidade e 
perseverança também são fundamentais para que, ao mesmo 
tempo em que se duvida do conhecimento construído, no 
sentido de questionar sua validade e atualidade, entre outras 
coisas, se possa abandonar o que se apresentar inadequado, 
retrógrado, superado por novos olhares. Em outras palavras, 
é preciso preservar a capacidade de abandonar as premissas 
sempre que elas não se apresentarem suficientemente boas 
para explicar os fenômenos, as realidades, sejam quais forem 
suas naturezas/materialidades (virtual, mítica, onírica, 
mental, concreta). 
Assim, os resultados de pesquisa não podem ser tomados 
como definitivos, absolutos ou leituras completas que 
esgotem o real complexo. Antes, os resultados de uma 
investigação precisam ser pensados como possíveis e 
prováveis versões sobre o fenômeno estudado que, em grande
parte, tendem a ressaltar alguns dos elementos heterogêneos 
que estão implicados em tal tessitura (fenômeno). 
Entretanto, importa dizer que grande parte das pesquisas 
científicas ainda é desenvolvida a partir de um paradigma que 
se inclina a valorizar as simplificações no sentido de ressaltar 
positivamente as descrições e as explicações que, de modo 
geral, parecem apenas dar conta de alguns dos aspectos dos 
fenômenos, mas que, no entanto, têm sido aceitas pela 
sociedade por apresentarem respostas rápidas, objetivas e 
operacionais. Pode-se dizer que os resultados de tais estudos 
se revelam “aparentemente” bons, ou suficientemente 
eficazes, para atenderem às necessidades e exigências 
imediatas da sociedade contemporânea e/ou para o nível de 
desenvolvimento do conhecimento atual. Vale lembrar que, 
muitas vezes, a displicência com o conhecimento o 
transforma em simples e descartável bem de mercado. 
Morin denomina essa vontade de ordenar logicamente o 
universo, que, por sua vez, exige a eliminação do desordenado 
e do dispersivo, de “paradigma da simplicidade”. Segundo o 
autor, esse paradigma procura ordenar o universo e expulsar 
dele toda desordem. 
A ordem reduz-se a uma lei, a um princípio. A 
simplicidade vê/quer o uno, quer o múltiplo, mas 
não pode ver que o uno pode ser ao mesmo tempo 
múltiplo. O princípio da simplicidade quer separar 
o que está ligado (disjunção), quer unificar o que 
está disperso (redução) (MORIN, 2001, p. 86).
Segundo essa arquitetura, o conhecimento tende a ser 
fragmentado, separado e abordado de maneira muito 
especializada, disciplinar; unificado pela redução e 
universalizado como verdade. A orientação é que as partes 
sejam isoladas e estudadas assepticamente para, com isso, 
explicar o todo. 
Por um lado, existe esse forte desejo de explicar os 
fenômenos (o mundo) de maneira simplificada (rápida e 
universal) - e essa condição tem sido potencializada pelas 
exigências do mercado, que, pelas suas características 
(particularmente, o imediatismo do tempo, dos resultados, 
dos lucros, da visibilidade e dos votos), segue 
indiscriminadamente as “pregações dos marqueteiros” e 
cobra respostas sempre mais rápidas, pontuais e 
espetaculares (focadas no consumismo). Por outro, no 
entanto, é cada vez mais evidente que essas leis e fórmulas 
simplificadas/simplificantes, esquemáticas/esquematizantes 
são insuficientes quando confrontadas com a realidade 
complexa. Por realidade complexa entenda-se aquela que se 
atualiza, entre outros aspectos, como emaranhado de 
interações, retroações, inter-relações, tensões, conflitos, 
resistências, cooperações, desorganizações e desordem. 
Com vistas ao avanço do conhecimento - portanto, em 
busca de um paradigma que permitisse conhecer sem 
eliminar da realidade complexa o heterogêneo, o 
desordenado, o imprevisto e o não-lógico, ou seja, para que as 
tensões atualizadas em qualquer fenômeno não fossem (não
sejam) postas em suspenso/neutralizadas para atender os 
desejos de se atingir uma explicação simplista/simplificante 
-, Morin realiza importante diálogo com outros pensadores e 
teorias de modo a apresentar/desenvolver o “paradigma da 
complexidade”. 
À primeira vista, a complexidade é um tecido 
(complexus: o que é tecido em conjunto) de 
constituintes heterogêneos inseparavelmente 
associados: coloca o paradoxo do uno e do 
múltiplo. Na segunda abordagem, a complexidade é 
efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, 
interações, retroações, determinações, acasos, que 
constituem o nosso mundo fenomenal (MORIN, 
2001, p. 20). 
A complexidade, como princípio regulador, consiste no 
tecido fenomenal que constitui o mundo. O todo constitui 
uma realidade complexa em que, de alguma forma e em 
algum nível, tudo se liga e se relaciona de modo a formar um 
único e inseparável tecido: o complexus. Morin (1996a, p. 278) 
observa que o todo apresenta qualidades e propriedades não 
presentes nas partes separadas, pois emergem no nível do 
todo, e que, por sua vez, retroagem sobre as partes. “O todo, 
portanto, é mais que a soma das partes. Mas, ao mesmo 
tempo, é menos que a soma das partes, porque a organização 
de um todo impõe constrições e inibições às partes que o 
formam, que já não têm tal liberdade.” Por exemplo, no caso 
de uma determinada cultura organizacional, essa cultura
consiste no todo, como resultado de relações, interações, 
inter-relações e retroações entre as partes. Nesse sentido, a 
cultura organizacional (todo) assume 
qualidades/propriedades que não existem nas partes, pois 
resultam das relações que os indivíduos-sujeitos realizam na 
organização, a partir de um contexto específico. O todo se 
configura como mais do que as partes, visto que essas 
qualidades específicas não existem nas partes (aqui, 
qualificadas como menos). Por sua vez, os indivíduos-sujeitos 
(partes), antes de serem integrantes 
constitutivos/construtivos da cultura organizacional (todo), 
são portadores (construtores e construções) da cultura de 
seus grupos socioculturais anteriores e atuais (família, 
comunidade e outros grupos). Assim, como partes, 
apresentam/portam determinadas qualidades culturais que 
não são atualizadas pela cultura organizacional (não estão 
presentes nela). Portanto, as partes apresentam-se como mais 
do que a cultura organizacional que é o todo. 
Nessa direção, Morin (1996b, p. 278) afirma a necessidade 
de se substituir a ideia de objeto pela noção de sistema, pois 
“todos os objetos que conhecemos são sistemas, ou seja, estão 
dotados de algum tipo de organização”. Observa que um 
sistema consiste em um todo em que os diferentes elementos 
constituintes são articulados e encaixados pela organização,com vantagens e constrições; como organizações vivas, são 
auto-eco-organizadas. Daí ser possível às sociedades humanas 
tolerarem certos níveis de desordem que, segundo o autor,
em alguns aspectos, é o que se chama de liberdade. A 
desordem é necessária à criação e à invenção, uma vez que, de 
alguma forma, é um desvio diante da ordem estabelecida pelo 
sistema. Na mesma perspectiva, quando Morin (1996b, p. 279) 
afirma que se devem considerar sistemas, e não objetos, 
significa que “o próprio sistema pode ser considerado como 
parte de um polissistema, é como se estivesse rodeado por um 
ecossistema, oferecendo-nos assim a possibilidade de 
reconsiderá-lo em seu ambiente. [...] O que nos circunda está 
em nós”. Dessa forma, o pensamento complexo procura 
religar o que foi/está separado, contextualizar o dissociado, 
interligar o fragmentado, reunir o disperso, historicizar o 
intemporal. 
Nesse prisma, importa destacar que, de acordo com o autor, 
a noção de sistemas abertos traz duas importantes 
consequências: 1) “as leis de organização do sistema vivo não 
são de equilíbrio, mas de desequilíbrio, recuperado ou 
compensado, de dinamismo estabilizado”, e 2) “a 
inteligibilidade do sistema deve ser encontrada não apenas no 
próprio sistema, mas também na sua relação com o meio, e 
esta relação não é uma simples dependência, é constitutiva do 
sistema” (MORIN, 2001, p. 32). Nessa perspectiva, pode-se 
dizer que a compreensão de um sistema exige que se estude, 
também, o meio em que ele se insere, ou seja, considerando- 
se que o meio é, ao mesmo tempo, parte e exterior ao sistema, 
a compreensão complexa precisa investigar as relações que o 
sistema estabelece, as inter-relações e interações que realiza,
os conflitos, os choques e as resistências que materializa com 
o/no entorno. O meio é, concomitantemente, íntimo - 
desempenha um papel coorganizador - e estranho ao sistema 
- visto que este não é autossuficiente, não pode se autobastar 
fechando-se em si. 
Desse ponto de vista, pela complexidade, o sujeito! 
pensante é concebido como produtor e produto de seu 
pensamento e de suas construções. Da mesma forma, pelas 
interações entre indivíduos cria-se 
uma organização que tem qualidades próprias, em 
particular a linguagem e a cultura. E essas mesmas 
qualidades retroatuam sobre os indivíduos desde 
que vêm ao mundo, dando-lhes linguagem, cultura 
etc. Isso significa que os indivíduos produzem a 
sociedade, que produz os indivíduos (MORIN, 
1996a, p. 48). 
Nesse sentido, não mais é possível pensar o sujeito como da 
qualidade do passivo. Essa compreensão (re)afirma o sujeito 
como do lugar da agência, da atividade, exigindo um olhar 
que se afaste dos lugares determinísticos e deslize para os das 
tensões, das possibilidades, das influências, da dialética e da 
recursividade. Se, por um lado, o sujeito é resultado do 
entorno ecossociocultural, por outro, é seu construtor. 
Ainda no sentido de melhor compreender o “paradigma da 
complexidade”, importa dizer que o pensamento complexo 
não é completo - não acredita na onisciência - e exige a auto- 
observação e a autocrítica do observador-conceituador, pois
“sabe que é sempre local, situado em um tempo e em um 
momento. [...] Sabe de antemão que sempre há incerteza” 
(MORIN, 1996b, p. 285). Além de apenas apontar para a 
quantidade de unidades (partes) e interações que se atualizam 
em um sistema (todo), o pensamento complexo procura 
compreender/explicar as incertezas, as indeterminações e a 
presença dos fenômenos aleatórios, isto é, trata de dar relevo 
à ideia de acaso: o pensamento complexo atualiza o 
permanente contato com o acaso. Este último deve ser 
reconhecido e integrado como imprevisto e, também, como 
acontecimento. Da perspectiva do pensamento complexo, 
Morin (1999, p. 222) afirma que se apresentam tensionados, 
de modo permanente e complementar, “processos 
virtualmente antagônicos que tenderiam a se excluir. Assim, 
todo o pensamento deve [...] duvidar e crer; deve recusar e 
combater a contradição, mas ao mesmo tempo assumi-la e 
alimentar-se dela”. 
Sem que se reduza à incerteza, a complexidade atenta para 
ela no interior dos sistemas, ricamente organizados, de modo 
a relacionar os “sistemas aleatórios cuja ordem é inseparável 
dos acasos que lhes dizem respeito. A complexidade está, 
portanto, ligada a uma certa mistura de ordem e de 
desordem, mistura íntima” (MORIN, 2001, p. 52). O autor 
ressalta que 
a idéia fundamental da complexidade não é que a 
essência do mundo é complexa e não simples. É que 
esta essência é inconcebível. A complexidade é a
dialógica ordem/desordem/organização. Mas, por 
detrás da complexidade, a ordem e a desordem 
dissolvem-se, as distinções dissipam-se. O mérito 
da complexidade é denunciar a metafísica da 
ordem (MORIN, 2001, p. 151). 
Dito isso, apresenta-se o que Morin define como os três 
princípios básicos do pensamento complexo e que perpassam 
essa reflexão: o dialógico, o recursivo e o hologramático. O 
princípio dialógico funda-se “na associação complexa 
(complementar, concorrente e antagônica) de instâncias 
necessárias junto à existência, ao funcionamento e ao 
desenvolvimento de um fenômeno organizado” (MORIN, 
2000b, p. 201) (grifo nosso). Procura compreender a complexa 
lógica que, para além do lugar da justaposição, associa/une 
termos do tipo ordem/desordem, sapiens/demens, 
organização/ desorganização, como noções ao mesmo tempo 
antagônicas e complementares, atualizadas nos processos 
organizadores do sistema complexo. É a partir disso que 
noções “inimigas”, como ordem e desordem, em certos casos, 
mais do que uma suprimir a outra, produzem organização. 
Assim, “o princípio dialógico permite-nos manter a dualidade 
no seio da unidade” (MORIN, 2001, p. 107). 
Na mesma direção e na perspectiva da comunicação 
organizacional, pode-se pensar na noção de dialogismo como 
basilar para que a diversidade se manifeste, ou seja, na 
medida em que a comunicação se qualifica como dialógica, 
apresenta-se como lugar e meio para que os sujeitos possam
se realizar como diversidade, atualizando suas ideias, seus 
pensamentos, suas concepções e/ou suas diferenças sem que 
uns se sobreponham aos outros. Tem-se, então, que a 
comunicação, no prisma do dialogismo, compreende sujeitos- 
força em relação de tensão, influenciando e sendo 
influenciados, isto é, os sujeitos realizam-se como forças em 
relação - não se trata de sobredeterminação - e, portanto, a 
significação da/na comunicação se atualiza no acontecer, pela 
disputa de sentidos que os sujeitos materializam no ato 
comunicacional. 
Como segundo princípio temos o recursivo ou da recursão 
organizacional. Para ilustrar a ideia de recursividade, Morin 
(2001, p. 108) lembra o processo do redemoinho: cada 
momento é produto e produtor do redemoinho. “Um processo 
recursivo é um processo em que os produtos e os efeitos são 
ao mesmo tempo causas e produtores daquilo que os 
produziu”. Assim, o efeito pode ser pensado como causador 
do que o causa, construtor do que o constrói. Pela 
recursividade, os indivíduos em interação constroem a 
sociedade que, retroativamente, os constrói/reconstrói. Dessa 
forma, rompe-se com a perspectiva da linearidade 
causa/efeito, produto/produtor. Evidencia-se a ideia de que, 
em algum nível e de alguma forma, tudo o que é produzido 
volta-se para o seu produtor, pois “os produtos e efeitos 
gerados por um processo recursivo são, ao mesmo tempo, 
cocausadores desse processo” (MORIN, 2002a, p. 102). 
Nesse sentido, tratando-se de sistemas organizacionais,
pode-se dizer que, em diferentes momentos e intensidades, as 
organizações: a) são resultados provisórios (mudam 
permanentemente) da interação dos diferentes sujeitos-força 
(cada um dos indivíduos que compõem a organização ou que, 
de alguma forma, a ela se articulam), mesmo quando da sua 
concepção/criação;b) ecossistemicamente tensionadas 
sofrem influências diversas, seja do entorno cultural, social, 
ecológico e/ou político, entre outros; c) ao mesmo tempo em 
que são (retecidas, também são agentes na tessitura do 
entorno ecossistêmico, bem como dos sujeitos-força que 
nela/com ela interagem. Vale observar que essa compreensão 
implica reconhecer que as transformações daí decorrentes 
ocorrem de maneira multidirecional, sem uma necessária 
ordenação. A tessitura que resulta desse processo não está 
definida a priori nem se apresenta com o caráter de concluída. 
Por sua vez, pelo princípio hologramático, que ultrapassa 
as ideias do holismo (foco único no todo) e do reducionismo 
(foco único nas partes), Morin (2002, p. 101) pontua a noção 
de que “a parte não somente está no todo; o próprio todo 
está, de certa maneira, presente na parte que se encontra 
nele”. No entanto, quanto à aptidão para regenerar o todo, o 
autor observa que a parte pode ser mais ou menos apta. 
Conforme se ressaltou, o todo pode apresentar qualidades e 
propriedades não presentes nas partes, visto que estas podem 
emergir na tecedura desse todo, e as partes, por sua vez, 
características que não são atualizadas pelo todo, donde a 
afirmação de que as partes são, ao mesmo tempo, mais e
menos do que o todo. 
Do prisma do hologramático, as organizações (todo) 
atualizam características que podem não estar presentes nas 
partes, isto é, algumas características da organização, por 
exemplo, alguns dos significados presentes na cultura 
organizacional - resultantes dos processos dialógicos, 
dialéticos e recursivos que tomam lugar na organização - 
podem não se fazer presentes nas partes. Da mesma forma, 
nem todas as significações da cultura dos sujeitos (partes) se 
realizam na cultura organizacional. Então, entre outros 
aspectos, tem-se que o simbólico organizacional - a cultura - 
apresenta como: a) excedentes as porções de significação 
somente presentes aí; b) similar /idêntico o simbólico que está 
presente tanto nas partes quanto no todo; e c) 
insuficiente /ausente o simbólico que somente está presente 
nas partes, por exemplo, memória/vestígios da cultura de um 
grupo (ou mais grupos) ao qual (aos quais) o sujeito pertenceu 
anteriormente e/ou ainda pertence. 
Evidencia-se, assim, o fato de que a (re)construção da 
organização exige permanentes tensões entre sujeitos. Nessas 
tensões, os sujeitos atualizam diferentes níveis de interações, 
resistências, disputas e colaborações que tendem a resultar 
em uma aparente organização, uma certa sensação de 
estabilidade organizacional. Saliente-se, novamente, que 
nesses aparentes e necessários níveis de organização, em uma 
perspectiva dialógica, a dualidade se realiza 
permanentemente, isto é, a desorganização está em constante
tensão com a organização, a ordem com a desordem, a 
resistência com a colaboração. Dessa dialógica atualizam- 
se/materializam-se os possíveis desdobramentos em novas 
situações de ordem/desordem/organização. Trata-se da 
efervescência que se realiza no sistema que se auto-exo- 
organiza; ao mesmo tempo, a organização é autônoma e 
dependente. Observe-se, ainda, que essas articulações, 
interações, lutas, inter-relações, disputas e associações se 
constituem em terreno fértil para o desenvolvimento, a 
criação, a mudança, a inovação. 
Essa reflexão parece ter evidenciado o fato de que os 
princípios da complexidade são concomitantes e 
complementares, isto é, “a idéia hologramática está ligada à 
idéia recursiva, que, por sua vez, está em parte ligada à idéia 
dialógica”, segundo Morin (2001, p. 109). O autor destaca 
outros princípios para a inteligibilidade complexa, que, no 
entanto, não serão abordados aqui, e ressalta que os 
princípios da complexidade são “necessariamente princípios 
de distinção, de conjunção e de implicação” (MORIN, 2001, p. 
112). Conforme se afirmou, nesse paradigma procura-se 
articular /tensionar/(re)ligar o que está separado, bem como 
revelar/fazer emergir as implicações existentes entre as 
partes, entre as partes e o todo, bem como entre as partes, o 
todo e o entorno ecossistêmico, para, com isso, melhor 
compreender/explicar a realidade complexa em suas 
interdependências, seus enredamentos e suas tensões. 
Ainda na direção de melhor apropriação das ideias do
“paradigma da complexidade”, é relevante destacar que 
Morin (2000, p. 339) afirma, também, que a teoria não é nada 
sem o método e que este é a “atividade pensante e 
consciente” do sujeito. Acrescenta que o método é “de 
“pilotagem”, de articulação. A maneira de pensar complexa 
prolonga-se em maneira de agir complexa”. Portanto, o 
método implica/consiste em se trilhar um caminho, de 
maneira coerente com a noção de complexidade (as ideias de 
verdade aí presentes). Pode-se dizer que o método está na 
própria forma de caminhar, de proceder, de pensar e de 
conhecer. Não se trata de um caminho fechado, com passos 
previamente ordenados, mas de um caminho 
multidimensional, plural, transversal e indisciplinar que se 
materializa pela articulação dos princípios tecidos no 
engrema? da complexidade. O método é um memento, ou seja, 
um lembrete, segundo Morin. 
Por fim, é preciso dizer que a opção pelo “paradigma da 
complexidade” deve-se, fundamentalmente, ao fato de esse 
paradigma permitir que se reflita sobre os processos de 
comunicação organizacional em profundidade, mantendo 
presentes as contradições, as incertezas, as tensões, os 
desvios, as resistências, a desordem e a desorganização. Sua 
fertilidade está, também, na possibilidade de se realizarem 
articulações teóricas, bem como no fato de ele não propor a 
busca de respostas finais, universais e/ou verdades absolutas, 
mas a compreensão/explicação do real complexo. Nessa 
ordem de ideias, ele permitirá que se atualize um estudo
multidimensional para que se possam desvelar e 
compreender as teias que materializam relações, 
interconexões e interações nos processos de comunicação 
organizacional e, com base nisso, refletir sobre possíveis e 
prováveis desdobramentos e perspectivas, uma vez que o 
pensamento complexo, ao mesmo tempo, reúne, 
contextualiza, globaliza, mas também reconhece o concreto, o 
individual, o particular, o singular. 
A seguir, para que se possa aprofundar o estudo sobre 
comunicação organizacional, apresenta-se sucintamente a 
compreensão que se tem das noções de cultura, imaginário, 
identidade e processos identificatórios. 
SOBRE CULTURA, IMAGINÁRIO E PROCESSOS 
IDENTIFICATÓRIOS 
Na perspectiva assumida neste estudo, pode-se afirmar que 
as ideias de cultura, imaginário, identidade/alteridade e 
processos identificatórios se realizam em forte tensão. Como 
o objetivo deste trabalho não é o de aprofundar a reflexão 
sobre essas noções, procura-se apenas apresentar a 
compreensão que se tem sobre elas, pois são fundantes para a 
comunicação organizacional. 
Nessa direção, principia-se com a noção de cultura, 
particularmente com a afirmação de Geertz (1989, p. 15) 
quando diz: “acreditando, como Max Weber, que o homem é 
um animal amarrado em teias de significados que ele mesmo
teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua 
análise”. Assim, o estudo da cultura não deve ser 
experimental à procura de leis, mas interpretativo “à procura 
do significado. É justamente uma explicação que eu procuro, 
ao construir expressões sociais enigmáticas na sua 
superfície”. Essa perspectiva de investigação cultural procura 
elucidar os padrões de significação, bem como explicar 
interpretativamente a significação que é incorporada às 
formas simbólicas. Nesse sentido, afirma-se que cada 
sociedade constrói suas representações de mundo, que podem 
ser diferentes e/ou ter significação diversa para os diferentes 
grupos socioculturais. Os sujeitos/grupos humanos, ao 
tecerem as teias de significados (cultura), prendem-se a elas 
e/oupercebem-se presos nelas. Daí a afirmação de Geertz 
(1989, p. 22) de que “a cultura é pública porque o significado o 
é”, pois os significados, como cultura, caracterizam-se por 
serem construídos por sujeitos em interação. 
Importa destacar que a noção de sujeito aqui adotada se 
configura com base no pensamento moriniano. Sucintamente, 
para o autor, o sujeito auto-exo-referencia-se/organiza-se em 
processos dialógico-recursivos. 
Ser sujeito não quer dizer ser consciente; também 
não quer dizer ter a afetividade, sentimentos, 
ainda que evidentemente a subjetividade humana 
se desenvolva com afetividade, com sentimentos. 
Ser sujeito é colocar-se no centro do seu próprio 
mundo, é ocupar o lugar do “eu”. [...] Cada um só 
pode dizer “eu” por si próprio (MORIN, 2001, p. 95).
Na mesma direção, o autor observa que “a noção de sujeito 
só toma sentido num ecossistema (natural, social, familiar 
etc.) e deve ser integrada num metassistema” (MORIN, 2001, 
p. 71). Assim, rompe-se com a ideia do sempre-já-sujeito, 
proposta por Althusser [19--], que configura os sujeitos de 
modo sempre assujeitados e determinados pelo 
entorno/contexto. Como superação dessa perspectiva 
esterilizante, que condena o sujeito à permanente reprodução 
do sistema, tem-se que os sujeitos são, ao mesmo tempo, 
construtores e construções da sociedade e da cultura; se, por 
um lado, os sujeitos são resultados da ação sociocultural, por 
outro, agem sobre a sociedade e a cultura gerando-a e/ou 
regenerando-a. 
Atualiza-se, dessa forma, a ideia de permanente tensão 
dialética/dialógica entre sujeitos e entre os sujeitos e seus 
contextos. Quando dessas relações, já não se trata de 
sobreposição e/ou sobredeterminação de forças, mas, na 
perspectiva de Bakhtin? (1999), de diálogo entre os 
sujeitos/contextos em relação. Portanto, os sujeitos não são 
simplesmente eliminados uns pelos outros e tampouco o são 
pelas culturas. Eles permanecem ativos, com diferentes níveis 
de agência (força, influência, resistência, disputa, colaboração 
etc.) diante de sua alteridade, seja ela uma empresa, uma 
instituição, uma cultura organizacional, um 
processo/sistema, outro sujeito e/ou grupo. Tomando-se 
como exemplo a cultura de um determinado grupo social
(uma empresa qualquer), pode-se dizer que sua 
aparente/visível organização/ordenação cultural (regras, 
normas, mitos, rituais, crenças, padrões, histórias, entre 
outras manifestações) é possível pela 
desorganização/desordem nela tensionada. Em outras 
palavras, a cultura desse grupo, como 
organização/ordenação, pressupõe desorganização/desordem 
em sua permanente efervescência 
(re)constitutiva/transformativa, de modo que, 
concomitantemente, organização e desorganização são 
lugares antagônicos e complementares, amalgamados na teia 
cultural. Novamente, reafirma-se a ideia de que isso exige que 
o olhar sobre a noção de conflito deslize de uma compreensão 
que o caracteriza /estigmatiza como da qualidade do negativo 
para uma que o qualifique como fundante/catalisador da 
possibilidade de transformação, criação, inovação. 
Desses/nesses processos interativos criam- 
se/desenvolvem-se/transformam-se as culturas, as 
sociedades, as estruturas, as organizações ou, nas palavras de 
Morin (1996a, p. 48), cria-se “uma organização que tem 
qualidades próprias, em particular a linguagem e a cultura. E 
essas mesmas qualidades retroatuam sobre os indivíduos 
desde que vêm ao mundo, dando-lhes linguagem cultura 
etc.”. Presentifica-se, então, o princípio da recursividade, com 
o qual se rompe com a ideia linear de causa/efeito. Pode-se 
dizer, também, que é fundamentalmente pelas tensões 
atualizadas nas relações sujeitos/entorno/contextos que os
sujeitos se apropriam de/são maculados por/assumem 
características do entorno e, por sua vez, O 
constroem/transformam. Hologramaticamente, os sujeitos 
são portadores da cultura do seu grupo sociocultural, além de 
presentificarem-se/ realizarem-se nela, isto é, não são apenas 
resultado de tal cultura mas também seus construtores. 
Assim, com Morin (1996a), a noção de sujeito que se assume 
é aquela que compreende/explica o indivíduo como, ao 
mesmo tempo, autônomo e dependente do meio. Autônomo, 
por se auto-organizar; dependente, por necessitar de energia 
externa para realizar essa organização. Dessa forma, não se 
configura simplesmente de modo determinado, mas como 
agente no processo de construção de “si mesmo” e do entorno 
material e simbólico, ou seja, interage com a sociedade 
construindo-a e sendo construído por ela. Deslocado de um 
lugar de passividade, de simples reprodução, o sujeito é 
pensado como força em diálogo e, por isso, também, 
propositor e criador. Em relações e interações 
desorganiza/(re)organiza a si mesmo e o seu entorno 
sociocultural, evitando sua cristalização. Atualizando 
diferentes níveis de consciência, influência, autonomia e 
dependência, constitui-se em agente da/na estruturação da 
sociedade, da cultura, do imaginário e dos paradigmas. Tende 
a urdir uma história de si mesmo (HALL, 2000), suturando as 
descontinuidades, as incoerências, as fraturas, as 
contradições, para realizar-se como identidade coesa, 
coerente e organizada diante da alteridade, que, em princípio,
é o lugar da desorganização - o “outro” interpela, 
desestabiliza e desorganiza. Com base na história linear e 
coerente que construiu sobre/para si mesmo e por algo como 
suspensões/esquecimentos, o sujeito tende a eliminar a 
possível desorganização e a experimentar a confortável 
sensação de autocontrole e/ou de autoconhecer-se, de saber 
quem é. Procura assumir, mesmo que simbolicamente, as 
rédeas de sua vida. 
Com base nessa reflexão, afirma-se que o 
indivíduo-sujeito é construtor e construção, tece e 
é tecido nos processos histórico-socioculturais, 
objetiva-se pela consciência de si mesmo, cria, mas 
também sofre sujeição, experimenta a incerteza, é 
egocêntrico e tem autonomia-dependência, sofre 
constrições e contingências e auto-eco/exo- 
organiza-se. Trata-se, portanto, de um sujeito 
agente, com diferentes graus de autonomia, 
influência e consciência frente à diversidade de 
situações eco-histórico-sócio-estruturais 
(BALDISSERA, 2004, p. 86-87). 
Preso às teias de significação, o sujeito recebe prescrições e 
proscrições sobre o que deve pensar e como deve agir no 
grupo e diante dos demais grupos socioculturais para ser 
positivamente sancionado. Em outras palavras, a cultura, o 
imaginário e os paradigmas procuram orientar/determinar o 
lugar que o sujeito pode/deve assumir na estrutura 
sociocultural. No entanto, o sujeito tende a dialogar, disputar,
usurpar, apropriar-se de e (recriar esses lugares. Não se 
trata, aqui, de apenas resistir à ordem posta, ou de simples 
forma de enfrentamento, mas também da possibilidade de o 
sujeito atualizar (consciente e/ou inconscientemente) o seu 
saber-fazer, o exercício de criação. O sujeito pode apropriar- 
se da ordem posta e inventar novas formas de consumi-la 
e/ou de subvertê-la. 
Segundo esse prisma, o sujeito apresenta-se como elemento 
perturbador da cultura e do imaginário, socialmente 
organizados. É a necessária desorganização à organização dos 
sistemas abertos, isto é, o sujeito, na medida em que se exerce 
como força em diálogo, provoca desordem, pois, entre outros 
aspectos, conscientemente ou não, procura converter a 
cultura e o imaginário em domínios próprios, assimilando-os. 
Nessa perspectiva, quer parecer que, ao tentar apreendê-los, 
acaba por desorganizá-los, pois, provavelmente, não os 
apreende por completo; internaliza/apropria-se de partes, 
(rejorganizando-as em um todo que, a partir do seu 
repertório e de competências eco-psico-fisio-socioculturais, 
consegue construir; interage como autônomo-dependente. 
Nesse sentido, mesmo que rapidamente, é preciso 
recuperar a noção de imaginário! , que, de acordocom 
Maffesoli (1995, p. 75), consiste no “cimento social”; “uma 
força social de ordem espiritual, uma construção mental, que 
se mantém ambígua, perceptível, mas não quantificável”. 
Superando a ideia simplista de que o real se opõe ao 
imaginário, Silva (2003, p. 7) afirma que “todo imaginário é
real. Todo real é imaginário. O homem só existe na realidade 
imaginal, Não há vida simbólica fora do imaginário. [...] O 
concreto é empurrado, impulsionado e catalisado por forças 
imaginais”. Tem-se, então, que o ser humano constrói o 
entorno, sua alteridade, imaginando-o. De acordo com Ruiz 
(2003), a imaginação é anterior à racionalidade consciente. 
Esse imaginar foi/é articulado pela sociedade como forma de 
conhecer; constitui-se no conjunto de 
imagens/representações que ele tem do mundo sensível. 
Pela/na interação de sujeitos (que imaginam), o imaginário é 
atualizado. Assim, se, por um lado, o imaginário é da 
qualidade do social, consistindo, portanto, em uma força que 
mantém os grupos sociais coesos e com uma certa 
estabilidade, pois orienta suas percepções e apreciações, por 
outro, tem o sujeito como agente imaginal que 
continuamente se apropria do imaginário social, desorganiza- 
o, emprega-o e, também, age sobre ele. 
O indivíduo-sujeito estabelece diálogo com o imaginário e, 
recursivamente, imprime marcas nele e o transforma. Nessa 
direção, pode-se dizer que o imaginário atualiza, pelo menos, 
dois movimentos aparentemente contraditórios, mas que são 
complementares e fundamentais para a manutenção e o 
revigoramento do sistema. Um deles, a partir do imaginário 
como matriz, repertório, memória e patrimônio social, 
convoca o sujeito a seguir suas prescrições e proscrições; o 
outro, catalisado no “sem-fundo”? humano (RUIZ, 2003), 
portanto, pelo sujeito-indivíduo, manifesta-se como
efervescência criativa que extravasa pelas fissuras do 
imaginário social, causando desordem, corrosões, 
transformações e novas organizações. 
Presentifica-se, assim, a tensão cultura/imaginário, uma 
vez que a fertilidade/ação criativa trazida à luz pelo/no 
imaginário, além de revitalizar o próprio sistema, tende a 
desaguar na cultura, regenerando-a. Essa afirmação exige que 
se pense a relação cultura/imaginário como uma articulação 
que conecta e, em parte, sobrepõe e mistura os sistemas. 
Imaginário e cultura realizam uma tensão em que cada 
sistema é mais e menos do que o outro. 
Nesse contexto, tende-se a afirmar que a cultura, como 
rede simbólica, articula dois lugares: o simbólico abstrato e as 
manifestações simbólicas. No nível do simbólico abstrato, 
quer parecer que a cultura está dialógica e recursivamente 
amalgamada com o imaginário: misturam-se, revigoram-se, 
catalisam-se, desorganizam-se e (re)organizam-se. Desse 
lugar, a cultura sai em direção ao nível das manifestações 
para, além de apenas reproduzir a organização, mate-rializar- 
se como ato criativo, desorganizando/(re)organizando a 
ordem posta. Por sua vez, o imaginário, que, recursivamente, 
se enredou nos padrões e nas regras socioculturais, lança-se 
em um novo mergulho ao “sem-fundo” humano, procura 
libertar-se das amarras e irrompe em novas possibilidades e 
fertilidade de criação e inovação. A cultura parece precisar do 
imaginário para não se cristalizar em ato circular, isto é, 
tornar-se pura reprodução. Por seu turno, o imaginário
precisa da cultura para não se converter em pura criação 
dispersiva, para não se dissipar em possibilidades. Trata-se da 
necessária interdependência dialética, dialógica, recursiva e 
hologramática, que, em algum nível e forma, evita o excesso 
de organização que tenderia a cristalizar a cultura e a tornar 
o imaginário pura dispersão. Cultura, imaginário, sujeito e 
sociedade, na qualidade de sistemas, não apenas se 
autorregulam, mas se apresentam como reguladores de suas 
alteridades ou auto-eco-exo-regulados/reguladores. 
Da mesma forma, pode-se refletir sobre a relação 
identidade-alteridade. O sujeito tende a perceber-se como 
sujeito identitário construído em relação à sua alteridade, 
especialmente sobre as diferenças. A consciência de “si” exige 
que perceba o mundo como distante. Nesse sentido, 
concomitantemente, o sujeito constitui a “si” como 
identidade e o “outro” como alteridade. Porém, com base nas 
teorizações de Landowski (2002), é possível pensar que o 
“outro” está presente no “eu” e vice-versa. Essa questão 
suspende a ideia de a identidade ser pura, asséptica, una, 
coesa, reta e, principalmente, “sempre” diferente da 
alteridade. Em vez disso, propõe-se que a identidade e a 
alteridade - dialógica, recursiva e hologramaticamente - se 
fazem presentes uma na outra, e não apenas uma para a 
outra. Tem-se, então, que o “outro” não é somente diferença 
mas também semelhança. 
Essa compreensão é fértil para pensar os processos 
identificatórios. Conforme Maffesoli (1996) e Hall (2000),
entre outros, mediante deslizamentos, a noção de identidade 
deu lugar à de identificações. Assim, e com base na 
compreensão de sujeito que se destacou, o sujeito identitário 
constitui-se como possibilidade identificatória, que, em 
diferentes relações com a alteridade, pode atualizar processos 
de identificação diversos. Quer parecer, então, que a 
identidade se apresenta como uma força que reúne e “gere” 
as possibilidades de identificação, ou seja, como complexus de 
identificações, a identidade é a tessitura e, ao mesmo tempo, a 
força que mantém juntas (justapostas, tensas e/ou 
amalgamadas) as várias identificações possíveis de um 
indivíduo-sujeito e, portanto, também de uma organização, 
cultura e/ou sociedade. Entre outros aspectos, essa força age 
para que, quando dos processos identificatórios, os sujeitos 
realizem as identificações possíveis ou, caso contrário, para 
que percebam a impossibilidade de identificação, a existência 
da antipatia, da repulsa. É também essa força que tende a 
fazer com que o sujeito, mesmo fragmentado, se perceba 
como coeso, único, coerente, visto que se realiza como 
tessitura. 
Nesse sentido, a elaboração das consistênciasé 
identificatórias tenderá a definir as “possibilidades”, as 
“temporalidades” e as “intensidades” de identificação”. 
Assim, uma vez que as identificações sejam possíveis, no 
prisma da temporalidade, estas podem materializar-se, 
tendendo ao “momentâneo”, ao “temporal” e ao 
“permanente”. Quanto às intensidades da identificação, é
provável que se realizem com uma diversidade de graus, 
porém, operacionalmente, parece produtivo restringi-las a 
três categorias: de “alta”, “média” e “baixa” intensidade de 
aderência. Cabe observar que, quando dos processos 
identificatórios, é possível que se atualizem diferentes 
combinações dessas tendências, pois são interdependentes 
das entidades inter-relacionadas e das suas especificidades 
contextuais. Assim, evidencia-se, novamente, a ideia de 
relação como basilar para a cultura, para o imaginário e para 
a construção da identidade/alteridade. 
Por fim, com base no que se disse, importa destacar que, 
como afirma Ruiz (2003, p. 59), conhecer o “mundo implica 
uma construção de sentido”. Desse ponto de vista, a 
apropriação que o ser humano faz do mundo consiste em uma 
construção simbólica, um sentido de mundo. Além disso, esse 
mundo que o sujeito constrói como sentido tende a ser 
mediado, filtrado e influenciado pela cultura e pelo 
imaginário, isto é, em algum nível, a cultura e o imaginário 
prescrevem as lentes que o sujeito “deve/deveria” empregar 
para perceber o mundo sensível e organizá-lo como 
conhecimento; para a identidade construir a alteridade e a si 
mesma. Dessa maneira, o sujeito não conhece o mundo em si 
(imediato); precisa interpretá-lo, precisa da hermeneusis. Essa 
mediação é constituída pelo sentido que a pessoa cria para 
tudo o que a rodeia” (RUIZ, 2003, p. 59). Na medida em que o 
sujeito atribui sentidoao mundo, tece o imaginário e a 
cultura, prende-se a eles e é, recursivamente, tecido.
Dessa forma, a ideia de tecer a rede de significados atualiza 
a de que a cultura está imbricada na história, na estrutura e 
nas relações de poder, ou seja, a significação não acontece 
descolada do seu processo histórico e pressupõe relações de 
poder, uma vez que os sentidos exigem sujeitos em relação e 
essas relações, em algum nível, são de força. Disso pode-se 
inferir que a tessitura da rede simbólica, que ocorre em uma 
estrutura específica (o que não significa dizer que a estrutura 
seja fixa; pelo contrário, pensa-se em uma estrutura flexível e 
eco-exo-auto-organizante), pressupõe tensões. 
Importa ressaltar, ainda, que a importância dessa reflexão 
sobre as questões de cultura, imaginário, 
identidade/alteridade e processos identificatórios está em 
permitir que se mergulhe em profundidade para melhor 
compreender e explicar a comunicação organizacional. A 
seguir, apresenta-se a compreensão que se tem a respeito de 
comunicação. 
SOBRE COMUNICAÇÃO 
Nesse ponto, após discorrer sobre algumas das noções que 
se acredita serem fundantes para pensar a ideia de 
comunicação, é possível dizer que, se a cultura, conforme 
Geertz (1989), é a teia de significados tecida pelos sujeitos, a 
comunicação é, então, o processo como possibilidade de 
existência desse tecer, dessa tessitura. 
Assim, compreende-se por comunicação o “processo de
construção e disputa de sentidos” (BALDISSERA, 2004, p. 
128)8. A noção de construção, nesse caso, atualiza a ideia de 
que os signos” e, portanto, a significação estão em 
permanente construção/transformação, pois não são 
entidades acabadas. A cada novo emprego, novas porções de 
significação podem ser associadas ao mesmo signo. Da mesma 
forma, significação semelhante pode ser associada a vários 
signos. Isso compreende a noção de que, ao (reltecer o 
complexus sociedade-cultura, os sujeitos, em sua 
cotidianidade, (re)jconstroem/transformam de modo 
permanente a significação do mundo, independentemente da 
qualidade dessa construção. 
Nesse contexto, novas situações tendem a resultar em 
novas significações, pois estas não podem ser separadas das 
situações concretas dos lugares em que se realizam. Dessa 
maneira, se o signo não consegue apreender o mundo 
(independentemente da configuração de sua realidade: 
material, abstrata, sonho, imaginário e/ou de qualquer outra 
forma de existência), e a significação experimenta o 
permanente “vir a ser”, então a interpretação é da condição 
do possível. Nesse sentido, mediada pelas linguagens, a 
compreensão de mundo, dos fenômenos, da existência, 
também tenderá a ser apenas parcial, uma aproximação. 
Tomando-se por base os processos comunicacionais, portanto 
articulações de signos - sentidos/significação e semiose -, é 
possível afirmar que, por mais que se empreguem códigos 
estreitos na construção das mensagens, a interpretação
tenderá a ser um exercício de aproximação (negociação e 
disputa) entre os sentidos que são propostos (postos em 
circulação) pelos sujeitos em comunicação e a significação 
que é por eles individualizada, internalizada. 
Na mesma direção, importa esclarecer que a ideia de 
disputa não se refere às disputas físicas, hierárquicas e/ou 
econômicas, mas, sim, àquelas que dão conta das tensões que 
se estabelecem entre os sujeitos (forças) em relação 
comunicacional (dialógica, dialética e recursivamente) para 
que os sentidos/significados em circulação na cadeia de 
comunicação sejam internalizados pelos diferentes sujeitos. 
Isso significa admitir que a comunicação se caracteriza por 
exigir/ser relação. 
A partir da compreensão de que a possibilidade de a 
comunicação se realizar está na possibilidade de as relações 
se estabelecerem, a noção de relação apresenta-se como 
fundante das materializações comunicacionais, ou seja, 
comunicação pressupõe relação (requer 
ligações/encontros/tensões, mesmo que possam ser em níveis 
mínimos, entre, pelo menos, dois: relação “eu”-”outro”). Se a 
ideia de relação é fundante da noção de comunicação e, de 
acordo com Foucault (1996b, p. 75), as relações são de força, 
pode-se dizer que comunicação é disputa. 
A disputa que se quer destacar é a de sentidos, isto é, 
aquela que se estabelece entre os sujeitos, quando das 
relações comunicacionais, tensionando oferta-circulação- 
internalização de sentidos/significados pelos sujeitos em
relação dialógico-recursiva. Não se trata, também, de descolar 
a comunicação do contex to e pensá-la como ocorrência em 
uma espécie de limbo, em condições perfeitamente lógicas de 
realização. Antes - e principalmente -, é por se considerarem 
os múltiplos fatores de influência inter-relacionados no 
processo que se pensa em relações dialógicas e disputas, uma 
vez que para a atualização comunicacional concorrem 
influências diversas e multidirecionais. Daí que os contextos 
orientam a significação dos enunciados. 
A comunicação é, então, lugar de sujeitos (forças) em 
relações dialógico-recursivas e hologramáticas. Participantes 
do processo comunicacional, propõem, disputam e 
internalizam sentidos. Pela/na comunicação, os sujeitos, 
como forças ativas, reativas, organizadoras, 
desorganizadoras, complementares e antagônicas, são 
tensionados e, em diferentes graus e formas, exercem-se para 
direcionar, de algum modo, os sentidos que desejam 
(consciente e/ou inconscientemente) ver internalizados e 
digeridos pelo outro em relação. 
Nessa perspectiva, as disputas de sentido nos processos 
comunicacionais não são de sobredeterminação de uma força 
à outra força em relação, mas de diálogo que torna presentes 
os sujeitos (identidade/alteridade) e, em diferentes graus, os 
tensiona. Assim, ao construir a comunicação, eles são por ela 
construídos. Talvez esse seja um motivo fundante para a 
necessidade de o ser humano comunicar, para experimentar, 
entre outras coisas, o prazer de sentir-se transformador e
transformado, o gozo do dominar e ser dominado, a sensação 
de, pela relação/pelo encontro, ser igual e diferente - o 
“mesmo” e o “outro”, ou seja, estar no “outro” e 
perceber/reconhecer o “outro” em “si mesmo”, porém, não 
em estado de equivalência. 
Desse ponto de vista, a comunicação assenta-se como 
ambiente e fluxo privilegiados para as inter-relações e 
interações culturais/identitárias. “Nos” e “pelos” processos 
comunicacionais, as diferentes culturas/identidades, entre 
outros aspectos, flertam, desestabilizam-se, sorvem-se, 
constroem-se, violentam-se, resistem umas às outras, 
movimentam-se e, dessa “orgia” de sentidos, geram a 
fertilidade para a regeneração mútua. Nesses processos, 
(re)liga-se toda a sorte de influências e memórias (cultural e 
biológica), isto é, a comunicação atualiza-se articulando 
sistemas, subsistemas e processos de várias naturezas e vários 
níveis: socioculturais (especialmente os simbólicos), 
psíquicos, cognitivos, fisiológicos, estratégicos, perceptivos, 
ecossistêmicos, históricos, estruturais, entre outros. Assim, 
parece evidenciar-se a centralidade que a significação assume 
para a comunicação, que, como construção e disputa de 
sentidos, dá ares de estar condenada a habitar o território das 
versões. 
Posto isso, importa destacar que o fato de a comunicação 
ser definida como disputa dialógico-recursiva de sentidos, 
diferentemente do que possa parecer, não significa que 
seja/deva ser entendida como desordem pura, libertinagem
em que tudo é permitido. Trata-se, sim, de pontuar a 
fertilidade e a ebulição do/no processo que aproxima e 
tensiona forças para o diálogo. Assim, pela comunicação, o 
desorganizado/desordenado, de algum modo, é apreendido e 
organizado/ordenado. Até porque, conforme se disse, o fato 
de a comunicação exigir o encontro e, em algum grau, o 
entendimento, implica a existência de regras restritivas e 
prescritivas,socioculturalmente 'convencionadas, que 
possibilitam materializar estratégias que intentam direcionar 
a significação que se quer ver internalizada pela outra força 
em relação. 
Com base nessa orientação, no nível pragmático, 
especialmente quando se trata de processos de comunicação 
organizacional, têm-se organizações/instituições elaborando 
cuidadosos planos de comunicação estratégica. Nesses casos, 
está-se diante da permanente tensão entre o “eu” que busca 
instituir-se como referência e o “outro” que é 
concomitantemente egoísta (voltado para si mesmo) e 
sociocêntrico (voltado para o social e, portanto, em busca de 
identificações). Como pensar de modo complexo esses 
processos? Particularmente, como pensar a comunicação 
organizacional em uma perspectiva de complexidade?
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL, COMPLEXIDADE E 
PERSPECTIVAS 
Muitos são os olhares lançados sobre a noção de 
comunicação organizacional; várias as concepções e 
explicações!º. algumas, mais férteis, procuram compreender 
e explicar a comunicação organizacional como processo que 
se realiza no acontecer - que foge ao controle da organização, 
apesar de, mediante ações estratégicas, ser possível atualizar 
certos níveis de previsibilidade. Outras, já senis, procuram 
explicar a comunicação organizacional como algo linear, 
absolutamente lógico e previsível. Essas concepções tendem a 
superestimar o poder da comunicação (informação, 
persuasão, sedução etc.), valorando excessivamente o lugar 
da emissão ao mesmo tempo em que, entre outras coisas, 
subestimam as estratégias cognitivas do lugar da recepção. 
Como pensar essas configurações a partir do “paradigma da 
complexidade”? Vale observar, antes de tudo, que não se 
acredita na existência de “uma” única forma de explicar a 
comunicação organizacional, visto que se trataria de “uma 
fórmula”, e, em comunicação, as fórmulas são 
demasiadamente frágeis. 
A partir do que se disse sobre cultura, imaginário, 
identidade/alteridade e comunicação, já não se pode pensar 
em absolutos. Olhares procedentes das diferentes áreas de 
conhecimento tendem a atualizar distintas compreensões 
sobre o que é comunicação organizacional, enfatizando
alguns de seus aspectos, que pode ser o psicológico 
(persuasivo), o informativo, o de relação/integração, o 
educativo e/ou o de permanência/transformação da cultura 
organizacional, entre outros. E, muitas vezes, mesmo sendo 
simplistas/simplificadoras, essas percepções apresentam-se 
aparentemente boas o suficiente para atender demandas 
específicas, necessidades localizadas. Procuram atender a 
uma sociedade que exige respostas rápidas, mesmo que 
superficiais e frágeis em médio e longo prazos. 
Simplifica-se a compreensão/explicação de comunicação 
para dar conta das necessidades de mercado, ou seja, o 
mercado, contrariamente ao que se pensa em uma 
perspectiva de complexidade, passa a ser o único elemento de 
definição dos processos comunicacionais. Em outros termos, o 
mercado procura instituir-se como determinante de toda 
comunicação organizacional. Nesse sentido, não são poucas as 
“receitas” de comunicação apresentadas por profissionais de 
comunicação e de marketing. Como desdobramento disso, 
potencializam-se os casos em que a comunicação é 
considerada um dos principais problemas das organizações, 
pois, nas relações de mercado, para responder às demandas 
imediatas, inclinam-se a simplificar os processos 
comunicacionais, superficializando-os - qualificando-os como 
do tipo causa/efeito, o famoso “toma-lá-dá-cá”. Nessa 
arquitetura, os resultados tendem a aparecer rapidamente, 
porém, de modo geral, não são sustentáveis e, portanto, em 
pouco tempo exigem novas ações, novas estratégias e, até,
novos engodos. O que se apresenta como um investimento 
“bom e barato” logo se transforma em gasto elevado, 
exigindo, por exemplo, mais (re)trabalho (novos esforços e 
investimentos) e/ou a eliminação da ação de comunicação 
que foi implementada. 
É possível romper com essa lógica? Pode-se afirmar que 
sim. Não se trata de pensar em fórmulas mágicas (isso 
implicaria recuperar as explicações de comunicação que se 
julgam superadas, inconsistentes, simplistas e autoritárias), 
mas de principiar pela reflexão sobre a postura que se tem 
diante da noção de comunicação. Em outras palavras, a 
comunicação organizacional, antes de tudo, é comunicação e, 
nesse sentido, é a compreensão que se tem desta que, 
fundamentalmente, tenderá a definir a percepção do que 
sejam a comunicação organizacional, seus processos, suas 
relações de força, seus lugares etc. Assim, caso a compreensão 
seja do tipo causa/efeito, é provável que esse comunicador 
tenda a perceber o “outro” (sua alteridade) não como sujeito- 
força, mas como alguém pouco ativo ou, até, passivo no 
processo comunicacional. Consequentemente, inclina-se a 
acreditar que basta a organização propor algo para sempre 
ser entendida e para que este seja aceito e realizado pelos 
outros sujeitos envolvidos. No entanto, se a “alteridade” for 
pensada como força em relação, provavelmente a postura do 
profissional de comunicação será diferente. Entre outros 
aspectos, tenderá a perceber a relação como de tensão 
dialógico-recursiva, e não de sobredeterminação autoritária.
É provável que esse comunicador assuma uma postura de 
humildade e reconheça o “outro” como agente no processo de 
comunicação. 
Nesse ponto, importa (re)afirmar que a compreensão de 
comunicação que se assume pela perspectiva da 
complexidade é a de que é o processo de construção e disputa 
de sentidos no âmbito das relações organizacionais. Ressalta- 
se, assim, a centralidade da noção de relação, seja para a 
comunicação, seja para a organização. Da mesma forma, essa 
compreensão dá conta da ideia de que a comunicação 
organizacional não respeita espaços físicos delimitados 
(planejados), bem como não se reduz à fala autorizada pela 
organização. Como fluxos relacionais e multidirecionais de 
sentidos, a comunicação organizacional, nos diferentes 
contextos e nas diferentes condições, assume qualidades 
diversas, não se prendendo a planos, formalismos, 
hierarquias, campanhas (publicitárias, institucionais) e/ou a 
desejos de visibilidade e imagem-conceito!!, 
Isso exige reconhecer que a comunicação não é da 
qualidade do pressuposto, visto que, à medida que se atualiza, 
por um lado, possibilita que os sujeitos-força envolvidos, se 
necessário, revejam e ajustem suas estratégias; por outro, 
tende a permitir que conheçam - particularmente a partir das 
marcas de linguagem - as estratégias cognitivas do outro 
sujeito (força em relação), suas artimanhas, suas 
inconsistências, seus desejos de cooperação - ou não - seus 
valores, suas crenças e seu imaginário etc. Da mesma forma,
tratando-se de disputas de sentidos, o poder não está 
localizado; atualiza-se e exerce-se no acontecer. Isso pode 
significar que, em diferentes momentos, diferentes sujeitos 
materializam mais poder. 
Na mesma direção, a cultura e o imaginário organizacional 
não são da qualidade do cristalizado ou simplesmente 
preestabelecidos pelas lideranças organizacionais, posto que 
são permanentemente (re)tecidos pelos sujeitos em tensões 
interativas, isto é, em relações de comunicação. Por mais que 
o poder hierárquico, econômico e ideológico se exerça com 
muita violência sobre os sujeitos, não se pode pensar que eles 
possam ser apenas resultantes do processo organizacional. Se 
é possível dizer que os sujeitos são fortemente influenciados 
pela cultura e pelo imaginário da organização, também se 
pode afirmar que, conscientemente ou não, eles realizam 
algum tipo de influência sobre a cultura e o imaginário. Em 
relação comunicacional, eles constroem as teias de 
significação da organização ao mesmo tempo em que se 
prendem a elas/nelas. 
Assumir o sujeito como agente 
desorganizador/(re)organizador dacomunicação 
organizacional pressupõe respeitá-lo em sua complexidade, 
como indivíduo que, ao mesmo tempo, é igual e diverso e, 
portanto, único. Assim, é preciso superar a ideia de que 
“pensar semelhantemente é o melhor para a organização” 
(“vestir a camisa” da empresa significa ser igual, pensar da 
mesma forma, ser idêntico), dando relevo ao fato de que o
respeito e a realização da diversidade se constitui em lugar 
natural para a materialização da qualidade, da criatividade e 
da inovação. Pensar igual pode ser traduzido como tendência 
ao idêntico, ao único e, portanto, à cristalização dos 
sistemas/processos. É na tensão entre diferentes percepções 
que se realiza a crítica consistente. 
Criar /fomentar espaços para que a crítica seja manifestada 
abertamente revela não apenas a qualidade de uma gestão 
democrática mas também níveis elevados de maturidade e 
responsabilidade em gestão. Nesse sentido, afirma-se a 
necessidade de políticas de comunicação organizacional que 
se proponham dar fluxo aos processos comunicacionais, 
inclusive qualificando a comunicação informal mediante 
comunicação formal ampla e verdadeira. Até porque, no 
princípio dialógico, o formal e o informal podem ser pensados 
como a dualidade no seio da unidade, ou seja, a tensão entre o 
formal (organizado) e o informal (o desorganizado), 
gerando/regenerando o sistema comunicacional, a rede de 
significação e a própria organização. 
Isso significa dizer, também, que a organização precisa dar 
espaço para gestões mais flexíveis, abertas e participativas. É 
necessário pensar em gestão auto-eco-organizada, em que os 
sujeitos, em seus diferentes lugares, a partir de ações 
descentralizadas, se percebam participantes (e de fato sejam) 
do tecer a organização. Trata-se do sujeito como parte, 
construindo o todo e sofrendo suas influências; o indivíduo 
construindo o coletivo, colaborando com suas
particularidades e sendo construído por ele. Nesse sentido, o 
complexus organização compreende o esforço conjunto, o 
respeito às diferenças e o reconhecimento de que existem 
variados níveis de habilidades/competências individuais, bem 
como anseios pessoais. Essa questão já tem encontrado algum 
respaldo na linha administrativa, como se pode comprovar 
em matéria da revista Exame, quando Vassalo (2000) afirma 
que o desenvolvimento das organizações passa pela 
pluralidade, pelo reconhecimento da diversidade de 
interesses e características individuais e/ou grupais. Na 
mesma matéria, ela afirma que as organizações ampliam o 
nível de acerto na medida em que diferentes pontos de 
vista/ideias são tensionados - pode-se falar em processos 
dialógicos, dialéticos e recursivos - para qualificar a análise 
de cenários, estratégias, produtos/serviços, entre outros 
processos. Essa direção apresenta-se como tendência 
particularmente naquelas organizações que têm a questão da 
responsabilidade social como pressuposto básico, isto é, como 
valor central e inquestionável para todo fazer organizacional. 
Na perspectiva da complexidade, a ideia de conflito, antes 
considerada sempre negativa, é pensada como produtiva, 
como fundante da possibilidade de criação e inovação. Como 
desdobramento disso, o modelo de gestão, na direção do que 
se afirmou anteriormente, precisa caracterizar-se pela 
dialógica-dialética da negociação; o valor não mais está na 
dominação, na simples persuasão, mas na negociação. Com 
isso, procura-se afirmar que a comunicação possibilita a
qualificação dos processos organizacionais toda vez que se 
realiza como espaço democrático para a manifestação livre 
dos pensares, das ideias, dos desejos e dos temores. Com a 
manifestação também se ampliam as possibilidades de se 
desfazerem os mal-entendidos, as confusões e as resistências, 
bem como de tomar decisões sustentáveis, em suas diferentes 
dimensões (ambiental, social, cultural, econômica, política). 
Nessa direção, a tomada de decisão apresenta-se legítima 
por se fundamentar no diálogo!2, Recursivamente, esse 
processo transforma os envolvidos, tornando-os participantes 
do processo decisório, de modo a, também, comprometê-los 
com a decisão e a atualizar o sentimento da pertença. Com 
isso, pode-se dizer que se está fortalecendo a organização 
como identidade ao mesmo tempo em que se materializam as 
manifestações da heterogeneidade cultural. É pertinente 
ressaltar que, de acordo com Lipovetsky (2004, p. 27), “nossa 
cultura cotidiana, desde os anos 1950 e 1960, não é mais 
dominada pelos grandes imperativos do dever sacrificial e 
difícil, mas pela felicidade, pelo sucesso pessoal, pelos direitos 
do indivíduo, não mais pelos seus deveres”. 
Ainda, pensar a comunicação organizacional pelo prisma da 
complexidade exige superar a ideia de linearidade e unidade, 
isto é, faz-se necessário que a organização seja percebida 
como lugar de fluxos multidirecionais e dispersivos em 
tensão, que podem ser colaborativos ou não. Tem-se, então, 
que a comunicação organizacional se configura como o lugar 
e o meio para que a dispersão e a desordem simbólica se
realizem como força que gera/regenera a organização. Trata- 
se da arena para a manifestação das resistências, dos embates, 
dos confrontos que, no momento seguinte, em transações, 
negociações e disputas, se misturam, se associam para se 
constituírem em nova força, que, agora, pode ser 
(reJorganiza-dora. A dispersão de efeitos de sentidos é 
dialógica e recursivamente organizada em nova comunicação. 
Tem-se, assim, a ideia das partes agindo sobre o todo, o qual, 
por sua vez, age sobre as partes; o dual na unidade. 
Essa postura implica o abandono da zona de 
conforto instaurada por teorias como a científica 
(Taylor e Fayol) [...] ou a dos sistemas fechados e 
[de] todas aquelas que trabalhavam com 
componentes estáveis/fixos. Ao se perceber a 
organização como lugar que tensiona indivíduos 
com interesses, desejos, condições e competências 
diversos, bem como ecossistemicamente 
articulados/articulantes, desvela-se o complexus, 
constantemente tecido (construído/transformado), 
o que exige aceitar que a própria cultura, um dos 
motores da gestão, se modifica permanentemente. 
[...] A cultura organizacional não existe na forma 
cristalina como foi/é normalmente apregoada, 
mais fértil seria pensá-la como hibridização 
simbólica (BALDISSERA; SÓLIO, 2004, p. 5). 
Nesse contexto, é necessário ressaltar o quanto é 
equivocado conceber os públicos como passivos, mesmo que, 
em alguns casos, pareçam. Importa não esquecer que, na
qualidade de sujeitos-força, os públicos (re)tecem/são tecidos 
na teia simbólica que é a cultura organizacional. Constroem o 
imaginário e a organização que os constrói. Em algum grau, 
ao entrarem em relações de comunicação, esses sujeitos 
perturbam os (e são perturbados pelos) sistemas organização, 
13 cultura e sociedade, que, como sistemas vivos”, ao mesmo 
tempo, são auto-organizados e dependentes do entorno. 
Então, a comunicação organizacional não se qualifica como 
simples estratégia de controle e/ou sistema de transferência 
de informações. Por mais que a ordem posta invista em 
complexos processos/sistemas de controle, tentando sufocar 
e/ou expurgar os processos de comunicação informais, não 
conseguirá eliminá-los. Fluxo de sentidos, a comunicação 
organizacional, em sua informalidade, encontra/(re)recria 
seus próprios lugares, infiltrando-se, resistindo, desafiando, 
subvertendo os possíveis mecanismos de controle. A cada 
acontecer renovam-se as estratégias, de modo que o pensar a 
comunicação organizacional exige compreender a presença 
da incerteza. 
Nessa mesma direção, vale atentar para o fato de que, 
independentemente da vontade de uma organização 
comunicar, quando em relação, basta que sua alteridade 
atribua sentido a “algo” para que isso seja entendido como 
comunicação. Essa perspectiva é apontada por Eco (1997) e,também, por Watzlawick et al. (1993) quando afirmam que em 
situações relacionais “é impossível não comunicar”. Tem-se, 
pois, que a comunicação organizacional, em sentido
complexo, compreende os mais diversos fluxos de sentidos 
que se atualizam quando das relações organizacionais, 
ultrapassando os lugares do planejado, do oficial, do 
formalizado. Em outras palavras, se é verdade que as ações de 
relações públicas, as campanhas promocionais, a 
comunicação administrativa, a jornalística, o conteúdo do site 
oficial e a comunicação de marketing etc. são considerados 
formas/processos de comunicação organizacional, também é 
verdade que a fala oficial representa apenas uma parcela do 
fluxo de sentidos no âmbito das relações organizacionais, que, 
entre outras formas, também se atualizam em conversas nos 
corredores, nos bares, nos clubes sociais, nos encontros para 
jogos, na web (blogs, páginas não-oficiais e comunidades 
virtuais, entre outros ambientes) e, ainda, como especulação, 
boato, fofoca e/ou como manifestação em favor de ou contra 
a organização. 
Assim, qualquer fluxo de sentidos que, de alguma forma, 
disser respeito/se referir à organização pode ser considerado 
parte da comunicação organizacional (todo), uma vez que 
nesses fluxos circula capital simbólico da organização. Isso 
não significa afirmar que, no âmbito das práticas, o 
profissional de comunicação deva tentar organizar essa 
complexidade de fluxos de sentidos. Antes, trata-se de 
conferir visibilidade a tal complexidade, (re)introduzir a ideia 
da incerteza e ressaltar o lugar de atividade da alteridade 
(públicos, organizações, cultura, sociedade). Da mesma forma, 
consiste em atentar para o fato de que o profissional de
comunicação, gestor da comunicação organizacional, se 
qualifica na medida em que for estratégico, desenvolvendo 
competências para a investigação (particularmente, 
observação e ausculta), a interpretação de sentidos e 
cenários, a definição, seleção e circulação de sentidos entre a 
organização e seus públicos, bem como para o 
acompanhamento dos processos, sempre atentando para o 
comprometimento ecossistêmico da organização e visando ao 
algo sempre melhor. 
Por fim, ressalte-se que, 
da qualidade do dialógico, a comunicação 
organizacional ultrapassa a lineari-dade dos 
sistemas de informação, apresentando-se como 
motor dos processos organizacionais, sejam eles 
administrativos, produtivos, políticos ou 
ideológicos. Organizações que assim percebem a 
comunicação tendem a afastar-se dos lugares de 
rigidez administrativa e produtiva (regras fixas, 
hierarquia e uma única voz) para serem inoculadas 
pelas idéias das relações participativas 
(negociação/representação/força política). [...] O 
dialogismo busca a discussão/confronto de 
idéias/negociação (BALDISSERA; SÓLIO, 2004, p. 7). 
Isso vem evidenciar a necessidade de a organização, pelo 
prisma da complexidade, qualificar os processos de 
comunicação para: escutar a alteridade, reconhecendo-a 
como valor; criar e/ou potencializar os espaços de 
fala/interação, manifestação livre; dar fluxo amplo e
verdadeiro à comunicação; refletir sobre a própria identidade 
e realizar a autocrítica; possibilitar e estimular a participação 
da diversidade e dialogar, particularmente, com as 
manifestações de crítica; compreender os comportamentos 
como informações que precisam ser interpretadas 
simbolicamente; e interpretar as demais informações para 
retroalimentar o sistema organizacional, entre outros 
aspectos. 
Importa dizer, ainda, que este texto se propôs realizar uma 
reflexão sobre a questão da complexidade na/da comunicação 
organizacional e, no seu tecido, apontar alguns pontos que 
podem ser pensados como lugares de pesquisa, de reflexão 
e/ou tendências. Assim, evidenciou-se a comunicação como 
lugar para a/da possibilidade de qualificação organizacional. 
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