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MATÉRIA ONLINE SEMIÓTICA AVA

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INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO – ICSC 
 
CURSOS: 
LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA E LÍNGUA INGLESA 
LETRAS BACHARELADO EM TRADUÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA E 
LÍNGUA INGLESA 
 
COORDENAÇÃO GERAL: PROF. Dra. ROSELI GIMENES 
 
 
 
 
 
SEMIÓTICA 
 
 
 
 
 
 
2022 
Caro(a) aluno(a), 
 
Seja bem-vindo(a)! 
 
Os estudos semióticos contribuem para a compreensão das linguagens e seus 
processos de construção de sentido. Há uma diversidade de perspectivas 
teóricas que tratam das questões relacionadas ao processo de construção de 
sentido. Nosso objetivo, nesta disciplina consiste em instrumentalizá-lo sobre 
as perspectivas semiótica e o processo de construção de sentido dos textos 
imagéticos, visuais e verbais (multimodais) e proporcionar o contato do aluno 
com a base teórica e metodológica para a análise dos textos multimodais. 
Inicialmente apresentaremos a introdução aos estudos semióticos, o conceito 
de semiótica, signo e semiose. A partir dessa abordagem inicial, 
apresentaremos a perspectiva da semiótica discursiva de linha francesa e o 
percurso gerativo de sentido. Em seguida trataremos do conceito da semiótica 
da cultura e da semiótica de linha Peirceana (Charles Sanders Peirce) e sua 
aplicabilidade em textos diversos. Por fim, trataremos da semiótica social de 
linha inglesa, por meio da multimodalidade e da gramática da sintaxe visual. 
Importante considerar que a proposta da disciplina semiótica é a construção de 
sentido de textos com base nas diversas perspectivas semiótica e para isso 
retornaremos a alguns aspectos teóricos que já formam vistos em outras 
disciplinas do curso e nosso objetivo consiste em que vocês se apropriem 
desse conhecimento para realizar as atividades práticas propostas por seu 
professor. 
A - CONTEÚDOS A SEREM EXIGIDOS NAS AVALIAÇÕES 
 CONTEÚDOS LEITURAS BÁSICAS 
Módulo 1 - Introdução aos estudos 
semióticos. Conceito de Semiótica. O signo e 
a semiose. S33emiótica Peirceana. Semiótica 
Peirceana: A incompletude do signo. 
Semióitca Peirceana e aplicação em textos 
diversos. 
SANTAELLA, L. O que é semiótica. São 
Paulo, Brasiliense, 2003. 
_____________. Semiótica Aplicada. 
São Paulo: Pioneira homson Learning. 
Paulus, 2005. 
_____________. A Teoria Geral dos 
Signos: semiose e autogeração. São 
Paulo: Editora Ática, 2005. 
 
Módulo 2 – Semiótica discursiva de Linha 
Francesa. Conceitos introdutórios. 
BARROS, D.L.P. Teoria Semiótica do 
Texto. São Paulo: Ática, 2000. 
FIORIN, J.L. Elementos de Análise do 
Discurso. São Paulo: Contexto, 2005. 
 
 
Módulo 3 – Semiótica discursiva de Linha 
Francesa - O percurso narrativo do sentido. O 
quadrado semiótico. 
 
LANDOWSK, Eric. A Sociedade 
Refletida. São Paulo: Pontes,1992. 
BARROS, D.L.P. Teoria Semiótica do 
Texto. São Paulo: Ática, 2000. 
 
Módulo 4 – Semiótica da Cultura 
 
FERRARA, L. A. Semiosfera do espaço 
vazio. In: MACHADO, I. 
(Org.). Semiótica da cultura e 
semiosfera. São Paulo: 
Annablume/Fapesp, 2007, p. 10. 
 
 
Módulo 5 - Semiótica Social e Textos 
Multimodais na perspectiva da Análise de 
Discurso Crítica e Globalização e a 
Multimodalidade. 
 
 
VIEIRA, J.A. ET. AL. Discursos nas 
Práticas Sociais: Perspectivas em 
Multimodalidade e em Gramática 
Sistêmico-Funcional. São Paulo: 
Annablume, 2010. 
Módulo 6- Multimodalidade e Gramática do 
Design Visual 
 
VIEIRA, J.A. ET. AL. Discursos nas 
Práticas Sociais: Perspectivas em 
Multimodalidade e em Gramática 
Sistêmico-Funcional. São Paulo: 
Annablume, 2010. 
Módulo 7 – Semiótica Social: 
Multimodalidade e a relevância da 
recontextualização na perspectiva da Análise 
de Discurso Crítica. 
 
 
VIEIRA, J.A. et Al. Reflexões sobre a 
Língua Portuguesa: Uma abordagem 
multimodal. Petrópolis-RJ: Vozes, 2007. 
 
Módulo 8 - Semiótica Social: análise por 
meio das Vozes da Globalização. Artigos 
produzidos na perspectiva da Semiótica 
Social e ADC. 
VIEIRA, J.A. et Al. Olhares em Análise 
de Discurso Crítica. Ebook. 
B - AVALIAÇÕES 
Como é de seu conhecimento, você realizará uma série de avaliações, 
cabendo a você tomar conhecimento do calendário dessas avaliações e da 
marcação das datas das suas provas, dentro dos períodos especificados no 
manual de informações acadêmicas da UNIP e o calendário de provas 
divulgado pela coordenação local – QUANDO FOR O CASO. 
Por outro lado, é importante destacar que a realização dos exercícios de 
autoavaliação, disponibilidados para você neste sistema de disciplinas online, 
consiste em uma das formas de você se preparar para as avaliações. O que 
tem que ficar claro, entretanto, é que os exercícios que são disponibilizados em 
cada avaliação não são a repetição dos exercícos da autoavaliação. 
Para sua orientação, informamos na tabela a seguir, os assuntos que serão 
contemplados em cada uma das avaliações às quais você estará sujeito: 
 
C – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BÁSICA 
FIORIN, J.L. Elementos de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2005. 
SANTAELLA, L.O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2003. 
VIEIRA, J.A.,et al.. Discursos nas Práticas Sociais: Perspectivas em 
Multimodalidade e em Gramática Sistêmico-Funcional. São Paulo: 
Annablume, 2010. 
 
COMPLEMENTAR 
BARROS, D.L.P. Teoria Semiótica do Texto.v.4. São Paulo: Ática. 2002. 
LANDOWSK, Eric. A Sociedade Refletida. São Paulo: Pontes,1992. 
MACHADO, Irene. Escola de Semiótica: A experiência de Tártur-Moscou 
para o Estudo da Cultura. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 
NÖTH, W. A semiótica no século XX. São Paulo: Anablume,2002. 
NÖTH, W. Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. V. 3. São Paulo: 
Annablume, 2008. 
PIETROFORTE,A. V. Semiótica Visual: os percursos do olhar. São Paulo: 
Contexto, 2004. 
SANTAELLA, L. Semiótica Aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning. 
Paulus, 2005. 
____________.Matrizes da Linguagem e Pensamento: sonora, visual, verbal. 
São Paulo: Iluminuras FAPESP, 2005. 
____________. A Teoria Geral dos Signos: semiose e autogeração. São 
Paulo: Editora Ática, 2005. 
ORMUNDO, J.S. Visão Interacionista da Linguagem: Uma proposta 
pedagógica da Escola Candanga no Distrito Federal. Dissertação de 
Mestrado, PUC-SP, 1999. 
TATIT, Luiz. Análise Semiótica através das Letras. São Paulo: Ateliê 
Editorial, 2001. 
VIEIRA, J.A. et Al. Reflexões sobre a Língua Portuguesa: Uma abordagem 
multimodal. Petrópolis-RJ: Vozes, 2007. 
 
 
 
MÓDULO 1 - Introdução aos estudos semióticos. Conceito de Semiótica. 
O signo e a semiose. 
 
 Semiótica como ciência da Linguagem 
 Os estudos semióticos têm como foco a análise das formas de linguagens e 
a construção de sentido. Há perspectivas da semiótica greimasiana de linha 
francesa, também denominada como semiótica discursiva. Há a perspectiva da 
semiótica peirceana – com base nos estudos de Charles Sanders Peirce que 
apresenta como categorias do pensamento a relação triádica da primeiridade, 
secundidade e terceiridade (incompletude dos signos) e as obras de Lúcia 
Santaella discorrem sobre essa última, apresentando suas possibilidades de 
aplicação. 
 Temos a perspectiva da semiótica da cultura que busca entender a 
comunicação como sistema semiótico e a cultura como um conjunto unificado 
de sistemas. Constitui-se na escola da Universidade de Tártu, Estônia, nos 
anos 60, e explora fronteira com vários campos do conhecimento – linguística – 
teoria da informação e da comunicação e outros. Para revisitar os aspectos 
teóricos da Semiótica da Cultura, apresentaremos exemplos e propostas de 
aplicação em textos diversos. 
 Por fim, nosso foco principal, consiste em apresentar a perspectiva da 
semiótica social em função da relação estabelecida com as pesquisas em 
Análise de Discurso Crítica e dos aspectos da Linguagem na Globalização e 
da Multimodalidade. Para atender a essa última perspectiva, retomaremos 
alguns conceitos que foram apresentados na disciplina de Análise de DiscursoCrítica com o objetivo de aplicá-los na análise de textos multimodais no 
desenvolvimento da disciplina Semiótica. 
 
 
 
 
 
Semiótica Peirceana: A incompletude do signo. 
 
Semiótica Peirceana 
Os estudos de Charles Sanders Peirce são a base para introduzirmos o 
conceito da semiótica. Dessa forma, faremos uma introdução a Peirce com 
base nas publicações de Lúcia Santaella por meio das obras A Teoria Geral 
dos Signos: semiose e autogeração, O que é Semiótica e Matrizes da 
Linguagem e Pensamento: sonora, visual e verbal. Resumiremos alguns 
conceitos relevantes tratados pela autora e que poderão instrumentalizá-los 
para aprofundarem o conhecimento e procederem à análise de textos na 
perspectiva da semiótica peirceana. 
Breve histórico sobre Charles Sanders Peirce 
 Peirce era um pensador, físico e matemático. Nasceu em Cambride em 
(1839-1914) constituiu através de seus estudos um pragmatismo, uma 
fenomenologia e a Teoria dos Signos, sendo esta teoria, o fundamento de 
toda a sua semiótica. Conforme Ormundo (1999) ao discorrer sobre a visão 
interacionista da linguagem na perspectiva do campo educacional, se apropriou 
da perspectiva da semiótica periceana e se referiu ao trabalho de Peirce a base 
como sendo constituído no estudo sistemático e sistematizado da semiótica 
enquanto ciência teórica de todas as representações que buscava ser mais 
vasta que estudos semióticos relacionados à linguística, à semântica e à teoria 
da comunicação. 
 Santaella (2003, p. 10-13) considerando que “As linguagens estão no 
mundo e nós estamos na linguagem, a Semiótica é a ciência que tem por 
objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por 
objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno 
como fenômeno de produção de significação e de sentido.” 
 A obra de Peirce tem muito a contribuir com os processos de ensino-
aprendizagem, no entendimento dos efeitos de sentido, representação, 
semiose e ação do signo e na definição triádica do signo como continuum 
conforme aponta Ormundo (1999, p. 40). 
Semiose 
Ormundo (1999) discorre que o modo como o signo age e/ou é interpretado 
constitui a semiose, ou seja, a ação do signo, que é a ação de ser interpretado, 
apresenta com perfeição o movimento autogerativo, pois ser interpretado é 
gerar um outro signo que gerará outro, e assim infinitamente, num movimento 
similar ao das coisas vivas conforme aponta Santaella (2003). 
Vivemos em um mundo repleto de signos e por signo entendemos não apenas 
os verbais. Há signos por toda parte, em crescimento desordenado, 
aguardando interpretação. Portanto, no contexto da sociedade globalizada e 
com mudanças profundas no campo da linguagem devido ao avanço 
tecnológico, os signos se configuram por meio da multimodalidade. 
Fenomenologia 
Serson (1996, apud Ormundo, 1999) aponta que os trabalhos de Peirce 
apresentam o conceito de fenômeno como tudo o que está diante de nossa 
mente em qualquer sentido, ou seja, a ideia do autor fundamenta-se no 
princípio de que o fenômeno é simplesmente o que é em função de sua 
apresentação, tornando-se não o que “verdadeiramente” é, mas o que parece 
aparecer – eis o conceito de representação. Será na categoria fenomenológica 
que implica em crescimento contínuo e que se verá a semiose (ação do 
signo), em que o signo gera e também produz e se desenvolve num outro 
signo, denominado de interpretante do primeiro e assim infinitamente. 
Signo 
Todo pensamento se processa via signo. O signo é definido como “qualquer 
coisa que, de um lado, é assim determinada por um objeto e, de outro, assim 
determina uma ideia na mente de uma pessoa, esta última determinação, (...) o 
interpretante do signo, é, desse modo, mediatamente determinada por aquele 
objeto. Um signo, assim, tem uma relação triádica com seu objeto e com seu 
interpretante, conforme aponta Santaella (1995). 
 O modo de ser de um signo depende do modo como esse signo é 
apreendido, isto é, depende do ponto de referência de quem o apreende. 
Exemplo, educar é uma questão prioritariamente estética a qualidade daquilo 
que é admirável, que embute necessariamente uma ética. A estética não 
decorre da ética, ao contrário, é a ética que se resolve na estética, conforme 
aponta Santaella (1995). 
Ormundo (1999, p. 41) aponta que o entendimento da relação entre 
signo e objeto permite que o professor, ao ol]har o texto do aluno e ao 
estabelecer procedimentos metodológicos para a construção e melhoria do 
desempenho de seu aluno possa fazer uso desta relação contextual, visando 
estabelecer o sentido do texto, o que a linguística textual denomina como 
coerência e coesão. Portanto, o contexto como mediador de alguma coisa 
contribuirá para estabelecer o sentido nos textos escolares, verificando qual é o 
contexto dentro do qual o signo funciona para sua comunidade de 
interpretantes. E o que, dentro desse contexto, faz diferença entre verdadeiro e 
falso, correto e incorreto, aceitável e inaceitável no funcionamento do signo 
(o interpretante do signo). Conforme aponta Santaella (1995, p. 30) 
 
 
 
A relação triádica é o esquema analítico elementar de um 
processo de continuidade que tanto regride quanto se 
prolonga ao infinito. Considera que se a série de 
interpretantes sucessivos vier a ter fim, perdendo seu 
caráter significante perfeito, genuíno, implica o fato de que 
nenhum interpretante de nenhum signo pode ser tido como 
absoluto ou definitivo. Faz parte da própria forma lógica da 
geração do signo que ela seja a forma de um processo 
ininterrupto, sem limites finitos. Ou seja: faz parte da 
natureza do próprio signo que ele tenha o poder de gerar 
um interpretante, e assim por diante. Qualquer 
interpretação no processo degenera o caráter significante 
perfeito do signo que é o de gerar um interpretante que 
gerará outro, e assim indefinidamente. 
 
Como se processa alguns conceitos da semiótica Peirceana. 
Apontaremos a seguir: 
 
Da Fenomenologia à semiótica 
 O interesse de Charles Sanders Peirce consistia na investigação da 
relação entre objetos e o pensamento. Peirce era físico e matemático e se 
apropriou desse conhecimento para formular sua teoria da semiótica – o estudo 
dos signos. 
A fenomenologia consiste em uma quase-ciência que tem como 
propósito investigar os modos como apreendemos qualquer coisa que aparece 
a nossa mente, tais como um cheiro, ruído, imagem publicada em algum meio 
de comunicação, a formação de nuvens no céu e de forma mais abstrata temos 
a lembrança de algo já vivido. 
A fenomenologia como quase-ciência fornecerá a base para as ciências 
normativas (abstratas e gerais ) denominadas estética, ética e lógica, sendo 
que a primeira está relacionada ao estudo das idéias (orientam nossa forma de 
pensar); a segunda está relacionada ao estudo dos valores ( está relacionada a 
nossa conduta); e a terceira está relacionada ao estudo das normas (conduz o 
nosso pensamento). 
Quanto à lógica também denominada como Semiótica, consiste na 
ciência das leis necessárias do pensamento e das condições para que se 
chegue à “verdade”. Para ser atingida, deve-se focar sobre as condições gerais 
dos signos e como ocorre a circulação de significados de uma mente para 
outra e a representação tem um papel fundamental na representação do signo. 
Para Peirce, o signo é uma coisa que representa uma outra coisa e seu objeto 
produzirá um efeito interpretativo. O signo está diretamente relacionado ao 
poder de representação. 
Para o autor os objetos possuíam uma qualidade intrínseca, mas quando 
relacionado com o sujeito por meio da linguagem esses resultavam em uma 
forma de representação da realidade. Em sua perspectiva teórica a unidade 
semiótica consiste no signo e apresentou três modos de o signo ser o mediador 
dos significados (sentidos). Vamos a eles: 
1) ÍCONE: consiste em um parâmetro que tem uma semelhança ao objeto. 
Podemos citar como exemplo uma Foto ou comoícones verbais temos 
as onamatopeias. As limitações referentes ao ícone ocorrem por meio 
de que nem todos os seres têm a capacidade de reconhecerem um 
ícone como ocorre no caso de animais se autoreconhecerem em uma 
pintura. Há a dependência da qualidade da representação (retrato 
cubista). Ele se apresenta com simples qualidade na sua relação com 
seu objeto. Há alguma semelhança com o objeto representado por meio 
de formas e sentimentos, podendo ser substituto de algo que a ele 
apresenta uma relação de semelhança. 
2) ÍNDICE: ocorre quando o signo e o referente apresentam uma relação 
de proximidade, sendo que o signo indica o referente e aponta para ele. 
Há uma relação direta. Para tratarmos do índice temos que pensar em 
uma relação de causalidade sensorial que indicará seu significado. Por 
exemplo, a fumaça que indica a existência de fogo (pode ser 
interpretado por animais). Outro exemplo consiste na estrutura 
linguística, por meio da coesão textual - o uso de pronomes 
demonstrativos e advérbios (os pronomes relativos) podemos dizer que 
há a equivalência verbal do índice. 
3) Símbolo: Trata-se de uma representação arbitrária do objeto por força 
de uma associação de ideias. Há uma espécie de lei convencionada que 
determina que determinado signo represente seu objeto. Trata-se de 
uma aceitação coletiva , ou seja, uma forma de relação convencional. 
Há símbolos verbais e não verbais. Podemos considerar que nas línguas 
as palavras são símbolos pois representam algo tanto por natureza 
nominal (substantivo e adjetivos) ou por uma ação (verbos). Alguns 
exemplos sobre o símbolo verbal podemos encontrá-los nas definições 
de um dicionário – quando um símbolo é explicado ad infinitum por 
outros referentes (sempre remetendo a outras definições). Como 
exemplo de símbolo não verbais, temos a cruz que pode ter várias 
simbolizações (religião, hospital e outras). 
 
O fundamento do signo 
Santaella apresenta que o signo consiste no primeiro relato da relação 
triádica e está relacionado à fenomoenologia, mas trata-se do primeiro com o 
caráter da qualidade e possibilidade correspondente à primeira categoria 
fenomenológica. A questão problemática que se apresenta consiste no fato de 
que a noção de representação (conforme a tríade semiótica) só é introduzida 
na fenomenologia por meio da terceira categoria (terceiridade). Dessa forma, 
entendemos que a noção de signo se constitui triadicamente. 
O signo em si seria o representante que transmitirá a ideia do objeto 
representado ao interpretante. Não se trata da pessoa que transmite, mas sim 
dos pressupostos e percepções de quem o recebe. Dessa forma, essa relação 
de interpretante e formas de representação ocorre por meio das três categorias 
básicas formuladas por Peirce. São elas: a primeiridade, a secundidade e a 
terceiridade. Vamos entender as possibilidade de funcionamento dessas 
categorias na consciência. São elas: 
1) A Primeiridade (monádicos) está relacionada ao novo, a possibilidade, 
a qualidade de um ser que não teria existência por si só, sem referência 
a outro ser, ou seja, trata-se da abstração. Em síntese, temos os 
aspectos fenomenais “puramente qualitativos”, uma abstração pura, pré-
reflexiva, fora do consciente, não elaborada, podendo ser traduzida 
como um sentimento, sensação não consciente. (ÍCONE) 
2) A secundidade temos a categoria da ocorrência, da existência, está 
relacionada a oposição, negação, apropriação de semelhança e 
contraste com o outro, trata-se da concretude no qual a relação assume 
uma materialidade – existência. Podemos definir qualquer coisa como 
um segundo por existir e decorrer da relação com um outro (relação 
diádica). (ÍNDICE) 
3) A terceiridade está relacionada a generalidade. Está relacionada ao 
que pode ser interpretado por meio do que está estabelecido no sistema 
do signo como primeiridade (ícone), secundidade (índice) e a 
terceiridade (símbolo). Esta categoria completa a tríade (relação triádica) 
consiste na capacidade que algo tem de interpretar, por que esse algo 
existe (secundidade) e é primeiridade. A terceiridade aponta para o 
futuro, tratando-se do efeito de sentido que o signo provocará em um 
possível interpretante. Representa a incompletude do signo. 
(SÍMBOLO). 
As categorias apresentadas acima estão relacionadas aos estudos de Peirce 
sobre o papel do interpretante dessa forma a ação dos signos como uma 
semiose constitui em um processo contínuo de criar sentidos aos objetos- 
ressignificando-os sempre e o signo está sempre em movimento, nunca 
podendo ser retomado com o mesmo sentido, traduzindo sempre como 
incompleto (incompletude do signo). 
Apontamos aqui uma síntese da perspectiva teórica da Semióitca Peirceana e 
que poderá ser aprofundada com base nas referencias bibliográficas indicadas 
no plano de ensino da disciplina. 
 
 
 
 
 
MÓDULO 2 – Semiótica discursiva de Linha Francesa. Conceitos 
introdutórios. 
 
Na perspectiva da Semiótica Discursiva de Linha Francesa, temos que 
atentar a algumas definições conforme apontado por Diana Luz pessoa de 
Barros no livro Teoria Semiótica do Texto. 
 
Noção de Texto 
 
 Entendemos que o objeto da semiótica é o texto, ou seja, a descrição e 
explicação sobre o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz. 
Segundo Barros (2000), o texto se define em duas formas que se 
complementam pela organização ou estruturação que o torna um todo de 
sentido. A primeira concepção apontada pela autora apresenta o texto como 
objeto de significação por meio da análise interna ou estrutural do texto em 
função da busca de um “todo de sentido”. A segunda caracterização de texto 
apontada pela autora, entende o texto como objeto de comunicação entre dois 
sujeitos. Para esta concepção de texto, a autora esclarece que: 
O texto encontra seu lugar entre os objetos cultuais, 
inserido numa sociedade (de classes) e determinado por 
formações ideológicas específicas. Nesse caso, o texto 
precisa ser examinado em relação ao contexto sócio-
histórico que o envolve e que, em última instância, lhe 
atribui sentido. Teorias diversas têm também procurado 
externa do texto.(BARROS, 2000, p. 7) 
Conforme apontado acima, podemos correlacionar a definição apontada 
pela autora com aspectos teóricos que já foram discutidos em outras disciplinas 
do nosso curso. Trata-se de uma retomada que teremos no decorrer da nossa 
disciplina, ou seja, retornaremos aspectos teóricos já trabalhados por exemplo 
nas disciplinas de Análise de Discurso Crítica, Teorias do Texto e outras 
abordagens teóricas. 
 
Percurso Gerativo do Sentido (Semiótica Francesa) 
 
Para os estudos da semiótica discursiva de linha francesa, é relevante 
estabelecer a diferença do plano do conteúdo e o plano de expressão. Quanto 
ao plano do conteúdo (abstrato – tematização), entende-se o percurso gerativo 
para o processo de construção de sentido. O conteúdo consiste em um dos 
planos da linguagem segundo Hjelmslev ou o plano do significado segundo 
Saussuere que será veiculado ou materializado pelo plano da expressão. 
Quanto ao plano da expressão (concreto – figuratização) consiste em 
um dos planos da linguagem (Hjelmslev) ou o plano do significante segundo 
Saussure definido por Diana (2000, p. 87) como o “que suporta ou expressa o 
conteúdo, com o qual mantém relação de pressuposição recíproca” 
 
Recorreremos aos conceitos apresentados por Barros (2000) para nos 
instrumentalizar na análise de textos na perspectiva teórica da Semiótica 
Francesa. 
 
Actante: “é uma entidade sintática da narrativa que se define como termo 
resultante da relação transitiva, seja ela uma relação de junção ou de 
transformação. O actante funcional, por sua vez, caracteriza-se pelo conjunto 
variável dos papéis que assumem em um percurso narrativo.” 
 
Ancoragem: “é o procedimento semântico do discurso por meio de que o 
sujeito da enunciação ‘concretiza’ os atores, os espaços, e ostempos do 
discurso, atando-os às pessoas, lugares e datas que seu destinatário 
reconhece como ‘reais’ ou ‘existentes’ e produzindo, assim, o efeito de sentido 
de realidade ou de referente.” 
 
Competência: É um tipo de programa narrativo, em que o destinatário-sujeito 
recebe do destinador a qualificação necessária à ação. 
 
Esquema narrativo: “é a unidade maior na hierarquia sintática da narrativa, 
que se define pelo encadeamento lógico dos percursos narrativos da 
manipulação (ou do destinador-maniulador), da ação (ou do sujeito) e da 
sanção (ou do destinador-julgador”. 
 
Figura: “é um elemento da semântica discursiva que se relaciona com um 
elemento do mundo natural, o que cria, no discurso, o efeito de sentido ou a 
ilusão da realidade” 
 
Figuratização: “é o procedimento semântico pelo qual conteúdos mais 
‘concretos’ (que remetem ao mundo nautral) recobrem os percursos temáticos 
abstratos.” 
 
Isotopia: “é a reiteração de quaisquer unidades semânticas (repetição de 
temas ou recorrência de figuras) no discurso.” 
 
Isotopia figurativa: “caracteriza-se pela redundância de traços figurativos, 
pela associação de figuras aparentadas e correlacionadas a um tema, o que 
atribui ao discurso uma imagem organizada da realidade.” 
 
Isotopia temática: “é a repetição de unidades abstratas em um mesmo 
percurso temático”. 
 
Manipulação: “é aquele em que o destinador atribui ao destinatário-sujeito a 
competência semântica e modal necessárias à ação. Há diferentes modos de 
manipular, e quatro grandes tipos de figuras de manipulação podem ser 
citados: a tentação, a intimidação, a provocação e a sedução”. 
 
Modalidades veridictórias: “determinam a relação do sujeito com o objeto, 
dizendo a verdadeira ou falsa, mentirosa ou secreta.” 
 
Modalização: “é a determinação que modifica a relação do sujeito com os 
valores (modalização do ser) ou que qualifica a relação do sujeito com o seu 
fazer (modalização do fazer). 
 
Narrador: “é o simulacro discursivo do enunciador, explicitamente instalado no 
discurso pelo narrador.” 
 
Narratário: “é o simulacro discursivo do enunciatário, explicitamente instalado 
no discurso pelo narrador”. 
 
Percurso gerativo: “para construir o sentido do texto, a semiótica concebe seu 
plano do conteúdo sob a forma de um percurso de engendramento do ou dos 
sentidos, que vai do mais simples ao mais complexo, do mais abstrato ao mais 
concreto e que se organiza em níveis ou lugares de articulação da significação, 
passíveis, cada qual, da descrição autônoma.” 
 
Percurso narrativo: “é uma sequência de programa narrativos de tipos 
deferentes (de competência e de performance), relacionados por 
pressuposição simples.” 
 
Performance: “é o programa narrativo que representa a ação do sujeito que se 
apropria, por sua própria conta dos objetos-valor que deseja.” 
 
Programa narrativo: “é o sintagma elementar da narrativa, que integra 
estados e transformações, e que se define como um enunciado de fazer que 
rege um enunciado de estado.” 
 
Quadrado semiótico: “é o modelo lógico de representação da estrutura 
elementar, que a torna operatória. No quadrado representa-se a relação de 
contrariedade ou de oposição entre os termos e, a partir, dela, as relações de 
contradição e de complementaridade.” 
 
Sintaxe: “é um dos componentes, com a semântica, da gramática semiótica e 
estuda as relações e regras de combinação dos elementos linguísticos, tendo 
em vista a construção de unidades variáveis (frase, discurso, texto, narrativa 
etc.), conforme o nível de descrição linguística ou semiótica escolhido.” 
 
Sintaxe discursiva: “explica as relações do sujeito da enunciação com o 
discurso- enunciado e também as relações ‘argumentativas’ que se 
estabelecem entre enunciador e enunciatário.” 
 
Sintaxe narrativa: “estuda o ‘espetáculo’ narrativo oferecido pelo fazer do 
sujeito que transforma o ‘mundo’, à procura dos valores investidos nos objetos, 
e pela sucessão de estabelecimentos e de rupturas de contratos entre um 
destinador e um destinatário, de que decorrem a comunicação e os conflitos 
entre sujeitos e a circulação de objetos-valor. 
 
Sujeito: “é o actante sintático da narrativa que se define pela relação transitiva 
de junção ou de transformação que o liga ao objeto e graças a que o sujeito se 
relaciona com os valores. Enquanto actante funcional, o sujeito caracteriza-se 
por um conjunto variável de papéis actanciais, em que ocorrem algumas 
determinações mínimas, tais como os papéis de sujeito competente para ação 
e de sujeito realizador da performance.” 
 
Tema: “é um elemento da semântica narrativa que não remete a elementos do 
mundo natural, e sim às categorias ‘linguísticas’ ou ‘semióticas’ que o 
organizam.” 
 
Tematização: “é o procedimento semântico do discurso que consiste na 
formulação abstrata dos valores narrativos e na sua disseminação em 
percursos, por meio da recorrência de traços semânticos.” 
 
Texto: “resultado da junção do plano do conteúdo, construído sob a forma de 
um percurso gerativo, com o plano da expressão, o texto é um objeto de 
significação e um objeto cultural de comunicação entre sujeitos.” 
 
Veridicção (ou dizer-verdadeiro): “um discurso ou um texto será verdadeiro 
quando for interpretado como verdadeiro, quando for dito verdadeiro.” 
 
 
Teoria da significação 
 
Para Greimas (cf. PIETROFORTE: 2012), a teoria da significação 
diferencia-se das demais semióticas por não enfatizar somente as relações 
entre os signos e sim no processo de significação capaz de gerá-las. Sendo 
assim, a teoria dá significação a todo o plano da linguagem. 
O linguista Greimas prevê que toda linguagem é constituída de 
expressão e conteúdo. O foco central da teoria é identificar como uma estrutura 
narrativa se manifesta em qualquer tipo de texto; para isso, o discurso é 
estudado neste enfoque pelo autor, seja ele verbal ou não verbal. Ainda nas 
concepções teóricas greimasianas, o signo é denominado “aspecto textual”, a 
teoria da significação e seu objeto não é o signo, mas os sistemas semióticos. 
Greimas nos lega que: “Cada ciência tem sua semiótica particular”. Ele 
criou o percurso gerativo de sentido, que é o resultado de vários estudos em 
busca de uma estruturação do plano do conteúdo. A busca do estudioso é a do 
sentido das coisas, do conteúdo concreto. 
O percurso gerativo de sentido é dividido em três níveis. As estruturas 
profundas recebem o nome de nível fundamental e neste surge a significação 
como uma oposição semântica mínima (dominação x liberdade, amor x ódio). 
As estruturas superficiais se denominam o nível narrativo e neste se organiza a 
narrativa do ponto de vista de um sujeito, implicados sempre a sucessão, o 
encadeamento e a transformação de estados. A estrutura de manifestação 
observa o encadeamento de temas e figuras e os efeitos de sentido e será no 
nível narrativo que os actantes exercem a performance e seus elementos 
competência, manipulação e sanção. 
A teoria da significação surgiu na década de sessenta, sobretudo com 
base nas obras de alguns autores, dos quais, entre este podemos destacar 
Greimas (1973) que efetivamente abordou a semântica estrutural como ciência, 
com os seus próprios postulados e metodologia. Para tanto, emprestou da 
linguística os conceitos de dicotomias, em especial expressão/conteúdo, e o 
modelo fonológico, desenvolvido pelo círculo linguístico de Praga (Trubetzkói, 
Jakobson, entre outros), estipulando um paralelismo entre formas de expressão 
(cujo elemento mínimo e o fema) e formas de conteúdo (tendo no seu sema 
seu traço mínimo) (v.semema). Se, conforme Pietroforte (2012), a linha de 
Pottier se volta mais propriamente para os estudos gramaticais, sem 
ultrapassar os limites da frase, Greimas parte do texto em sua maior 
abrangência e acaba por enveredar numa área de pesquisas bem mais ampla, 
a da semiótica ou semiologia.Ainda inacabada, a semântica estrutural realiza 
esforços no sentido de estipular universais semânticos, passo indispensável 
para seu maior êxito. O objetivo central da semiótica greimasiana é o estudo do 
discurso com base na ideia de que uma estrutura narrativa se manifesta em 
qualquer tipo de texto. 
Nesta linha de estudos semióticos aponta-se para percepção e 
significação. A percepção refere-se à reação discriminativa entre estímulos 
implica, portanto, o relacionamento entre elementos e estímulos comparados. É 
a mediadora entre o mundo dos objetos (matéria) e o mundo das significações 
(forma do conteúdo). Já a significação é o resultado desta comparação 
decodificada. 
Liga-se ao mundo sensorial: do visual (gestos, mímica) do táctil (alfabeto 
braile) do auditivo (música). Tendo essas definições sobre percepção e 
significação é possível através da semântica estrutural compreender de que 
forma acontece o processo de decodificação de textos, sejam eles de tanto de 
ordem visuais quanto os de origem não visuais. Segundo Greimas (2008: 21): 
 
A estrutura elementar da significação se dá pela articulação 
de dois semas contrários, através do eixo semântico. Dois 
polos extremos manifestam oposição unida por um mesmo 
eixo semântico que é o denominador comum dos dois 
termos, a partir do qual se manifesta a articulação da 
significação. 
Importante entender como se processam os elementos do percurso 
narrativo de sentido e cada uma das suas fases. Nível fundamental – planos de 
conteúdo e plano de expressão; o nível narrativo – a ação dos actantes – poder 
fazer, a performance e as relações de competência, manipulação e sanção ; e 
o nível discursivo – as categorias opositivas. 
 
 
 
 
MÓDULO 3 - Semiótica discursiva de Linha Francesa: O percurso 
narrativo do sentido. O quadrado semiótico. 
 
 
1. A dicotomia do signo e o quadrado semiótico 
 
O signo definido por Hjelmslev (PIETROFORTE: 2011) se compõe de 
uma característica dicotômica, na qual reside o plano de conteúdo e o plano de 
expressão. Cada uma dessas duas grandezas se constitui em duas outras 
entidades mais específicas. Para isso, Hjelmslev divide o conteúdo em forma 
do conteúdo e substância do conteúdo e a expressão em substância da 
expressão e forma da expressão. Para Hjelmslev, a essência da língua se 
constitui pela inter-relação desses dois planos. Cada um desses planos em 
determinada língua tem sua própria estrutura. O quadro abaixo conceitua uma 
das entidades dos planos de conteúdo e expressão. 
S 
 I 
G 
N 
O 
Plano da 
expressão 
Forma do conteúdo É a estruturação da língua na 
fala/escrita 
Substância do 
conteúdo 
O pensamento/ideia/significação 
Plano do 
Conteúdo 
Forma da 
expressão 
São os fonemas/cenemas 
Substância da 
expressão 
São articulados pela fala 
Quadro: Plano de conteúdo e plano de expressão 
 
Se, por exemplo, durante um seminário acadêmico, o coordenador de 
pesquisa diz “O tempo esgotou!”, tanto o coordenador quanto o apresentador 
do trabalho fazem o uso das quatro manifestações sígnicas. Portanto, na 
expressão e/ou na recepção da frase “O tempo se esgotou” existe uma relação 
sintática entre o “artigo”, o “sujeito” e o “verbo” que é natural da estrutura da 
língua, e constitui a forma do conteúdo. Há também uma projeção mental 
“ideia”, manifestando aviso/informação/advertência, que constitui a substância 
do conteúdo e uma sequência de relações fonêmicas/cenêmicas, fases de 
significado, que constitui a forma da expressão e por fim existem articulações 
sonoras manifestadas pelos fonemas/cenemas que constitui a substância da 
expressão. 
Segundo Pietroforte (2012, p. 11): 
A semiótica estuda a significação, que é definida no 
conceito de texto. O texto, por sua vez, pode ser definido 
como uma relação entre um plano de expressão e um 
plano de conteúdo. O plano de conteúdo refere-se ao 
significado do texto, ou seja, como se costuma dizer em 
semiótica, ao que o texto diz e como ele faz para dizer o 
que diz. O plano de expressão refere-se à manifestação 
desse conteúdo em um sistema de significação verbal, não 
verbal ou sincrético. 
 
Podemos definir as línguas naturais (idiomas) como sistemas verbais e 
os sistemas não verbais como, por exemplo, música e as artes plásticas. 
Existem também os sistemas sincréticos que são aqueles que requerem várias 
linguagens de manifestação, assim como ocorre entre um sistema verbal e um 
não verbal nas músicas e nas histórias em quadrinhos. Um conteúdo idêntico 
pode ser expresso por meio de planos de ordens distintas, sendo assim, 
podemos manifestar um mesmo conteúdo em um plano de expressão de 
ordem verbal, não verbal ou sincrético. O conteúdo abordado em uma obra 
literária, por exemplo, pode ter uma versão adaptada para o cinema, por meio 
de um plano de expressão sincrético, ou pode até mesmo inspirar um artista a 
fazer uma representação pictórica do conteúdo, o que demandaria a utilização 
de um plano de expressão não verbal. Podemos concluir então que o sentido 
do texto está em seu plano do conteúdo. Ao ser definido neste plano, o sentido 
pode ser estudado em uma teoria semiótica, que objetiva descrever os 
processos de sua formação, ou seja, a significação. A semiótica proposta por 
Greimas (2008) concebe o sentido como um processo gerativo, em um 
percurso que vai do mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto. 
Essa geração é formalizada no modelo teórico do percurso gerativo do sentido. 
Para Hjelmslev há na linguagem uma solidariedade entre conteúdo e 
expressão, de tal modo que uma separação entre os planos seria impossível. 
Segundo Hjelmslev (1968, p. 66/7) “uma expressão não é expressão se não 
porque é expressão de um conteúdo e um conteúdo não é conteúdo senão 
porque é conteúdo de uma expressão”. 
Em semiótica as proposições de Hjelmslev são adotadas como plano de 
conteúdo e plano de expressão. O plano do conteúdo é o significado do texto e 
o plano da expressão é a manifestação do conteúdo. Notamos que o plano do 
conteúdo trata do que o texto diz e o plano da expressão se refere a como ou 
através de qual código, seja: verbal, icônico, gestual, é expresso o conteúdo do 
texto. 
Tomamos como exemplo a ideia que o semáforo nos traz de acordo com 
cada cor apresentada. Por meio das cores sabemos se é permitido seguir 
(verde), ou se é para termos atenção (amarelo) ou ainda se é proibido seguir 
(vermelho). Ou seja, por meio da estrutura de um semáforo sabemos que as 
cores verde, amarelo e vermelho têm um significado simbólico, essas 
mensagens; verde (siga), amarelo (atenção) e vermelho (pare) orienta o 
trânsito, possibilitando desta forma o livre direito de ir e vir das pessoas e ao 
mesmo tempo protegendo a integridade física durante o exercício deste direito 
do indivíduo, sendo assim, o semáforo é um exemplo de linguagem não verbal 
e dicotômica, pois no plano da expressão cada cor possui um significado. 
O quadrado semiótico situa-se no nível fundamental do processo 
gerativo. Nele consiste a trajetória de produção do objeto semiótico, das 
estruturas profundas às estruturas superfície, do mais simples ao mais 
complexo, do mais abstrato ao mais complexo. 
No percurso gerativo do sentido existem três níveis: o profundo, 
superfície das estruturas narrativas e o nível das estruturas discursivas. Os 
distintos níveis são estudados respectivamente pela sintaxe e semântica 
fundamentais, narrativas e discursivas. 
A semântica fundamental unida à sintaxe fundamental estuda as 
estruturas da significação designados pelos conceitos de língua, na linha 
saussuriana, e da competência, segundo a visão chomskiniana. As estruturas 
semânticas podem ser formuladas como categorias e são suscetíveis de ser 
articuladas pelo quadrado semiótico. É por meio do quadrado semiótico que 
nos confere um estatuto lógico-semântico e as torna operatórias. 
A articulação lógica de qualquer categoriasemântica é representada 
visualmente por meio do quadrado semiótico. Partindo da noção saussuriana 
de que o significado é primeiramente obtido por oposição no mínimo entre dois 
termos, constituindo uma estrutura binária. Chega-se ao quadrado semiótico 
por uma combinatória das relações de contradição e asserção. Podemos 
afirmar que esse procedimento é estruturalista na medida em que um termo 
não se define isoladamente, mas sim por meio de relações entre outro 
elemento que contraria o primeiro. Segundo Pietroforte (2012:): 
Tomando S1 como masculino e S2 como feminino, o 
primeiro passo e negar S1, produzido assim a sua 
contradição ~S1, que se caracteriza por não poder coexistir 
simultaneamente com S1 (a uma impossibilidade de os 
dois termos estarem presentes ao mesmo tempo). A seguir 
afirma-se ~S1 e obtenha-se S2. Isto é, se não é masculino 
é feminino. Está é uma relação de implicação. 
O passo assim descrito representa-se graficamente do seguinte modo: 
 
 
 S1 S2 
 
 ~S1 
 Gráfico: Contradição ~S1 – S2 
O segundo passo consiste no mesmo procedimento a partir de S2, pelo que se 
obtém o seguinte esquema: 
 S1 ~S2 
 
 
 ~S1 
 Gráfico: Obtenção de ~S2 
Os dois esquemas constituem então o quadrado semiótico. 
 
S1 S2 
 
 
 
 ~S1 ~S2 
 Gráfico: O quadrado semiótico 
 No quadrado (representado, as linhas bidirecionais continuam 
representam uma relação de contradição, as bidirecionais tracejadas uma 
relação de contrariedade e as linhas unidirecionais uma relação de 
complementaridade). Desta representação surgem seis relações: 
 
 S1 S2, que constitui o eixo dos contrários; 
 ~S1 ~S2, que constitui o eixo das subcontrárias; 
 S1 ~S1, que constitui o esquema positivo; 
 S2 ~S2, que constitui o esquema negativo; 
 S1 ~S2, que constitui a dêixis positivas; 
 S2 ~S1, que constitui a dêixis negativa. 
 Figura: contradição/contrariedade/complementaridade 
 Segundo Pietroforte (2012:): 
O quadrado semiótico permite indexar todas as relações 
diferenciais que determinam o nível profundo do processo 
generativo. A combinação das relações de identidade e 
alteridade, figuradas pelo quadrado semiótico, constitui o 
modelo ou esquema a partir do qual se geram as 
significações mais complexas da textualização. O nível 
fundamental sintático–semântico articula e da forma 
categórica ao micro-universo suscetíveis de produzir as 
significações discursivas. Contudo, as categorias 
desenhadas pelo quadrado semiótico constitui valores 
virtuais cuja seleção e concretização pertence a semântica 
narrativa. A tarefa desta consiste essencialmente em fazer 
uma seleção dos valores disponíveis e atualiza-los 
mediante uma junção com os sujeitos da sintaxe narrativa 
de superfície. 
 
As fundamentações estáveis de todo o processo gerativo têm a sua 
representação articulada pelo quadrado semiótico, que tem grande poder 
operatório, quanto fundamental, aplicando a qualquer instância significativa. As 
relações de identidade encontram-se a partir da estabelecidas nas estruturas 
de profundidade. Contrapartida, possui uma dinâmica relacional que induz ao 
processo generativo. 
A aplicação do quadrado semiótico é universal a todos os objetos. A 
análise de Greimas constitui a forma como um texto programático que se ergue 
sobre estruturas elementares simples e esquematizadas pelo quadrado 
semiótico pode ser aplicado a qualquer temática. Greimas constrói um 
programa narrativo que parte das relações base e utiliza como exemplo para 
aplicar está teoria a “receita de sopa”, destacando a relação dicotômica entre 
elementos para o preparo da sopa; cozinheiro/convidados e cru/cozido. 
 
 
2. Semiótica da arte 
 
Estudar a semiologia na arte é essencial para entender o processo de 
produção do autor e de percepção do receptor em relação a essa mensagem, 
ao conteúdo significativo da obra. O tema é de extrema relevância para evitar 
avaliações equivocadas sobre as obras de arte e para entender como uma 
mesma obra pode atingir os receptores de diferentes maneiras. 
Para exemplificação do referido estudo, apresentamos a obra de 
Henrique Alvim Correia (1876-1910), que foi um dos expoentes da pintura 
brasileira na virada do século XIX para século XX. A obra sem título é 
confeccionada em carvão e aquarela sobre papel (21,7 x 29,3 cm). 
 
Figura: Gravura sem título, de Henrique Alvim Correia 
 
Trata-se de uma jovem, praticamente nua, atada a um poste e exibida 
para a multidão de mulheres, bem mais velhas, que por sua vez bradam contra 
ela com gestos impetuosos e expressões agressivas. Para uma sátira de 
costumes, a cena pintada é bem violenta, pois mostra a beleza de uma jovem 
sendo massacrada covardemente pela feiura de uma multidão. Segundo 
Pietroforte (2012), há uma tímia construída em torno dessa beleza que, devido 
a uma sensibilização fórica, ou seja, sensibilização negativa por parte da 
multidão, que coloca em questão a derrota das opressoras e torna a 
personagem castigada, de certo modo vencedora. 
Podemos caracterizar um tema pela recorrência de motivos. Os temas 
são o produto de um conjunto de discursos sobre os mesmos tópicos culturais. 
Os temas variam nos domínios de abrangência e podem também se 
relacionarem entre si. E os tópicos culturais podem ser; ideológicos, políticos, 
sexualidade, justiça etc. 
Na Gravura sem título de Alvim Correia identificamos dois temas 
principais, o mais evidente é o tema do castigo sofrido pela exposição pública 
da condenada o outro tema é o da sexualidade e do tratamento dado à mulher 
dentro de uma concepção determinada de seu papel sexual. 
O fato de expor publicamente a tortura e até mesmo a morte de um 
condenado é comum na história das penalidades. O que se representa nesse 
rito social é o exemplo, de um costume moral que é violado resulta em um rito 
de castigo como consequência. 
Obtém-se, portanto, duas orientações possíveis: 
Opressão → não opressão → liberdade 
Liberdade → não liberdade → opressão 
 
 Na teoria semiótica, essas operações são sistematizadas no quadrado 
semiótico: 
 
 S1= liberdade S2= opressão 
 
 
 
 ~S1= não opressão ~S2= não liberdade 
 
Gráfico: Aplicação do quadrado semiótico na sistematização de 
opressão/liberdade 
 
O que aparece na imagem da pintura é o percurso da negação da 
liberdade, a não liberdade, é a afirmação da opressão, de modo que a 
condenada presa é uma figura que representa a não liberdade, a multidão, a 
confirmação da opressão. Esse percurso no plano do conteúdo divide o plano 
da expressão do quadro, verticalmente, em dois espaços, fazendo com que a 
da esquerda seja o espaço da não liberdade e a direita o espaço da opressão. 
 
PC não liberdade → opressão 
PE esquerda Direita 
 
 Figura: Percurso da negação da liberdade 
 
 
 
P
C 
não liberdade → opressão 
P
E 
não luz → sombra 
 
Figura: Percurso semissibólico não liberdade/não luz – opressão/liberdade 
 
São essas as orientações de sentido que constroem o tema do castigo. 
Há, então,a categoria da semântica fundamental vida x morte no tema da 
sexualidade. No desenho, o que é pintado e a negação da vida e a afirmação 
da morte, respectivamente, representadas na moça amarrada e na plateia que 
a condena de acordo com o quadrado semiótico, o que aparece no desenho, 
no seu plano de conteúdo, é o percurso não vida → morte. 
 
PC não vida → morte 
 
 Figura: Percurso não vida/morte 
 
Ainda segundo Pietroforte (2012, p. 75), orientado o sentido no plano do 
conteúdo, a categoria vida x morte também está relacionada com a categoria 
de expressão luz x sombra. 
 Utilizamos a semiótica para dissipar dúvidas e unir ideias expostas de 
formas diferentes, introduzindo novos conceitos relativamente aos tipos de 
signo que consideramos existir. São os “diagramas”, signos que representam 
relações abstratas, tais como fórmulas lógicas, (figuras) que associamos a um 
conjunto de conceitos para assim concluirmos a teoria da semiótica. 
 Segundo Pietroforte (2012, p.70): 
Embora haja uma relação entre expressão e conteúdo, ela 
não é construída colocando em paralelo a afirmação dos 
termos das categorias envolvidas. A categoria de conteúdo 
liberdade x opressão não está em paralelo com a categoria 
de expressão esquerda x direita o que ocorre é que a etapa 
de negação da liberdade e a consecutiva afirmação da 
opressão é desenhada no caminho do olhar que vai da 
esquerda para a direita, na disposição das imagens na tela. 
Isso delimita a zona de sentido para a colocação das 
personagens que tematizam o castigo, e também 
caracteriza uma relação semissimbólica, já que relaciona 
formas da expressão e formas do conteúdo. A relação 
semissimbólica entre os termos contrários, no caso, dá-se 
com a luz. 
 
No lado esquerdo do desenho a moça é desenhada de tal modo que ela 
é um ponto de luz englobado por sombras que, no lado direito, vão se 
transformar na multidão. Se a luz pode ser descrita por meio da categoria de 
expressão luz x sombra, a figura da moça realiza o termo luz e a figura da 
multidão, o termo sombra. A figura que realiza a liberdade é a moça desnuda, 
relacioná-la à não liberdade deve-se ao fato dela estar amarrada em um tronco 
para ser castigada. Já a multidão é a figura que realiza a opressão, pois a 
confirma em seu julgamento sobre a condenada. Portanto, a figura da moça 
realiza no plano do conteúdo a liberdade e no plano da expressão, a luz; 
contrariamente, a figura da multidão realiza no plano do conteúdo a opressão, 
e, no plano da expressão a sombra. 
 
 PC liberdade x opressão 
 PE luz x sombra 
Figura: Relação entre os elementos liberdade/opressão no PC e luz/sombra PE 
 
A gravura pode ser lida em um percurso a partir da esquerda no plano 
do conteúdo como a liberdade que está sendo negada, quando a moça é 
amarrada e exposta nua, já no plano da expressão, a luz é negada pela 
sombra quando a luz englobada é envolvida pelas sombras englobantes; no 
espaço direito há no plano do conteúdo a opressão afirmada pela multidão 
julgadora e no plano da expressão a afirmação da sombra. Também é possível 
articulas as categorias de expressão em um quadrado semiótico de modo que 
o semissimbolismo determinado vai seguir o percurso da não liberdade/não luz 
para a opressão/sombra. 
 Você deve aprofundar nas aulas e nas bibliografias indicadas todos os 
níveis do percurso gerativo de sentido, como já mencionamos neste texto, 
Nível fundamental – planos de conteúdo e plano de expressão; o nível narrativo 
– a ação dos actantes – poder fazer, a performance e as relações de 
competência, manipulação e sanção ; e o nível discursivo – as categorias 
opositivas. 
 
GREIMAS, Alguirdas Julien. COURTES, Joseph. Dicionário de semiótica. São 
Paulo: Contexto, 2008. 
HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma teria da linguagem. 2ª ed.Tradução 
J.Teixeira Coelho Netto} – São Paulo: Perspectiva, 1968. 
PIETROFORTE, Antonio Vicente. Semiótica Visual: o percurso do olhar. 3ª ed. 
São Paulo, Contexto, 2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO 4- Semiótica da Cultura. Semiótica Russa. 
 
Para tratar do conceito de semiótica da cultura, sugerimos atentar aos pontos 
elencados abaixo e fazerem exercícios práticos. 
 
SEMIOSFERA 
 
As várias formas de linguagem não estão separadas, mas 
interconectadas, uma vez que a linguagem é como um grande ecossistema, 
cheio de pequenos nichos distintos, sendo cada nicho possuidor de 
características próprias, garantindo autonomia em relação aos demais e ao 
mesmo tempo compartilhando características comuns. 
Assim, o teatro, a literatura, os quadrinhos e tantas outras formas de 
linguagem compõem ambientes próprios e autônomos e compartilham 
elementos de outras linguagens, cada uma a sua maneira. 
Essas linguagens ou signos formam o que Lótman (MACHADO: 2007) 
chama de semiosfera. Assim como a biosfera designa a esfera da vida no 
planeta, a semiosfera designa o espaço cultural habitado por esses signos. Na 
verdade, fora desse espaço, os processos de comunicação e o 
desenvolvimento de linguagens em diferentes domínios da cultura seriam 
impossíveis. 
A relação entre as linguagens e o espaço em que estão inseridas é de 
necessidade, pois sem o espaço, as linguagens não teriam existência nem 
funcionariam. Trata-se de um mundo fechado, que evoca imagens de territórios 
fechados, separados por limites, dentro de outros espaços tais como 
matriochcas, as bonecas russas inseridas uma dentro da outra, ou espaços 
refletindo outros espaços dentro deles próprios. 
 
Figura – Bonecas russas 
 
about:blank
É importante ressaltar que o caráter espacial da semiosfera não é um 
termo tomado em sentido figurado, uma alegoria, pois, segundo Lótman, 
 
en modo alguno significa que el concepto de espacio se 
emplee aquí en un sentido metafórico. Estamos tratando con 
una determinada esfera que pose los rasgos distintivos que se 
atribuyen a un espacio cerrado en sí mesmo. Sólo dentro de tal 
espacio resultan posibles la realización de los procesos 
comunicativos y la produccipon de nueva información (apud 
MACHADO: 2007, p. 34). 
 
A semiosfera pode ser considerada como um ambiente, no qual diversas 
formações semióticas se encontram imersas em diálogo constante, um espaço-
tempo, cuja existência antecede tais formações e viabiliza o seu 
funcionamento, enquanto torna possível o seu próprio ciclo vital. As linguagens 
transformam o espaço, ainda que, ao mesmo tempo, são transformados por 
ele. 
Em contrapartida, Lótman caracteriza o espaço semiótico como 
contínuo, no qual a heterogeneidade de sistemas se encontra em interação, 
exprimindo a condição potencial da semiosfera em gerar informação nova. 
Somente com o desalinhamento total do sistema é que se pode vislumbrar a 
emergência da imprevisibilidade. Nesse sentido, as imagens evocadas são de 
espaços abertos, de dimensões galácticas. 
 
 
 
Figura - Dimensão galáctica 
 
about:blank
Diante dessa proposta, conforme Machado (2007, p. 16), semiosfera é o 
conceito que se constitui para nomear e definir a dinâmica dos encontros entre 
diferentes culturas e, assim, construir uma teoria crítica da cultura. 
Os estudos da semiosfera valorizam as conexões capazes de aproximar 
sistemas tão diferentes nos encontros culturais movidos pelas mais diferentes 
causas, sejam choques, expansão ou emergenciais. Também nos ajudam a 
pensar mecanismos básicos da constituição do espaço semiótico tais como a 
irregularidade, heterogeneidade, a fronteira e transformação da informação em 
texto e, sobretudo, do hibridismo, características fundamentais da cultura 
contemporânea. 
É próprio da cultura promover aproximações até mesmo entre 
diversidades. Por isso, ela está povoada de mitos, religiões, artes, arquitetura, 
filmes, entretenimento, poesia, dança, jogos, línguas, linguagensartificiais, 
ciência, tecnologias e por tudo o que ainda não conseguimos sistematizar. 
Nesse contexto, o texto possui um mecanismo dinâmico na cultura. 
Texto é um espaço semiótico em que há interação, em que as linguagens 
interferem-se e auto-organizam-se em processos de modelização. 
O texto tem três funções: comunicativa, geradora de sentidos e 
mnemônica. 
A função comunicativa envolve o processo de realização da língua 
natural. Nesse enfoque, o texto é homo-estrutural e homogêneo, apresentando-
se como a manifestação de uma única linguagem. 
Na função de geração de sentidos o texto é, nesse caso, heterogêneo 
e hétero-estrutural, constituído como a manifestação de várias linguagens. 
A terceira função está ligada à memória da cultura, sendo o texto 
capaz de conservar e reproduzir a lembrança de estruturas anteriores e, ao 
mesmo tempo, produzir algo novo. 
Em síntese, interessa à semiótica da cultura o exame dos complexos 
sistemas de signos que estão modelizados sob forma de texto. O papel da 
semiótica da cultura é a descrição da semiosfera. 
 
1. Espaço vazio: comercial e filme 
 
Pesquisadora brasileira Lucrecia D’Aléssio Ferrara (In: MACHADO: 
2007) propôs-se delinear o espaço como uma semiosfera para a qual 
convergem diferentes bases de processos comunicativos contemporâneos – 
arte, design, publicidade, cinema, fotografia, por exemplo – e enxergar as 
intersecções que colocam em evidência os ruídos que podem ou não ser 
posteriormente absorvidos pelos sistemas modelizantes, ou seja, pelo próprio 
espaço. 
Assim em estudo intitulado Semiosfera do espaço vazio, ela analisa 
duas linguagens distintas: anúncio publicitário e um filme. 
A peça do colírio Lerin, feita em página dupla, é composta por duas 
pimentas vermelhas alocadas uma em cada página, sendo a disposição de 
ambas similar à posição ocupada pelos olhos no rosto de um indivíduo. No 
canto inferior direito da segunda página há a frase “Ardeu? Use”, aliada à 
representação imagética do produto anunciado. Na peça, a pimenta, que 
provoca ardor quando degustada, é correlacionada à ardência dos olhos, 
sendo este aspecto acentuado pela cor vermelha vibrante do bago, por meio da 
qual, busca-se enfatizar o principal problema que o colírio promete resolver e, 
em consequência, sua eficácia. Nessa correlação, percebe-se que o efeito de 
sentido provocado pela percepção gustativa é transposto para a percepção 
tátil, sendo esta relação materializada na peça por meio da representação 
imagética. A relação entre as duas páginas é do tipo causa e consequência, ou 
seja, se ardeu então use, ou a percepção gustativa é causa da percepção tátil 
que é sua consequência. A espacialidade em duas páginas condiciona esta 
linearidade entre antes e depois. 
 
 
 
 
Figura – Anúncio publicitário Lerin 
 
A relação da pimenta àquilo que arde, não apenas no plano físico, mas 
também no afetivo, compõe um paralelo há muito já trabalhado na 
comunicação cotidiana. Essa forma associativa não é meramente arbitrária, 
uma vez que a pimenta realmente possui um sabor picante. Sua utilização na 
construção de determinados paralelismos nos permite reconhecer um traço 
simbólico, que perpassa a correlação estabelecida, pois a recorrência 
associativa evidencia um hábito já estabelecido e uma convenção quando se 
busca estabelecer uma associação a algo que é quente, forte, picante, ardido 
ou sensual. 
O efeito de sentido − resultante da associação da pimenta com os olhos 
− é acentuado se considerarmos um provérbio muito utilizado na comunicação 
oral espontânea quando se busca enfatizar que a dificuldade alheia é branda 
para quem a observa à distância. Trata-se da expressão “Pimenta nos olhos 
dos outros é refresco”. Apesar do anúncio não fazer uma remissão direta a esta 
frase, pode-se atentar para a recorrência do provérbio e sua acentuada difusão 
nos diálogos informais, de cuja decodificação depende a apreensão metafórica 
materializada visualmente na espacialidade do anúncio, facilitando assim sua 
inteligibilidade. 
Nesse caso, a possível associação do provérbio à composição presente 
no anúncio, e, anteriormente, a transposição de diferentes efeitos de sentido, 
implicam recriações da associação presentificada na metáfora, até culminar 
numa composição codificada pelos recursos gráfico-visuais característicos do 
sistema impresso. Esse “criar de novo” àquilo que é dado numa outra estrutura 
sígnica configura não apenas um movimento distintivo da cultura, resultante do 
diálogo existente entre diferentes sistemas sígnicos, mas também evidencia a 
possibilidade de ressignificar determinadas metáforas, que passam a ser 
percebidas de modo não-usual, em virtude do modo como são materializadas 
por um sistema ou suporte específico. 
A introdução de novos suportes midiáticos e a consequente produção de 
novas formas de significado propiciam uma espécie de “reatualização” de 
certas relações associativas, acarretando a desautomatização do modo como 
são percebidas. Esta atualização, por sua vez, não exclui a superposição de 
sentidos que formam a composição. No anúncio do colírio Lerin, torna-se 
possível reconhecer distintas camadas de sentido superpostas, decorrente de 
diferentes formas perceptivas - gustativa, tátil, visual, oral- que coexistem na 
materialidade sígnica da página. 
Um traço recorrente nas metáforas construídas pela publicidade visando 
incitar a rápida percepção dos anúncios refere-se à utilização de elementos 
prosaicos, característicos da comunicação interpessoal cotidiana mais 
ordinária. Nestes casos, torna-se possível apreender o diálogo existente entre 
sistemas e gêneros discursivos distintos. 
De acordo com Mikhail Bakhtin (apud MACHADO: 2007), a peculiaridade 
de um gênero deve-se, dentre outros fatores, à diferença existente entre o 
gênero primário e o gênero secundário. O primeiro refere-se às formas 
discursivas mais elementares, frutos da comunicação interpessoal verbal 
espontânea, sem artificialismos. Os gêneros secundários, por sua vez, referem-
se a construções textuais vinculadas a relações comunicativas mais 
complexas, e, por isso, requerem uma feitura discursiva mais “elaborada”. Eles 
são uma expansão do primeiro e acrescentam aos dois uma incorporação do 
segundo significado no primeiro. 
A inter-relação entre os gêneros primário e secundário pode ser visto no 
anúncio produzido em 1993 para o inseticida em spray Baygon. A peça, feita 
em página dupla possui, do lado esquerdo, a representação imagética do 
produto e, sobre o frasco, há a expressão verbal “Pá.”. A página ao lado é 
composta por uma espiral e, no final dela, há um inseto morto. Na parte 
superior da espiral há a expressão “Pum.”. A assinatura do anúncio possui a 
logomarca do anunciante e o slogan da marca. 
 
 
 
Figura – Anúncio publicitário Baygon 
 
A estrutura da peça estabelece um paralelo entre a eficácia do produto e 
uma expressão oral muito utilizada no dia a dia para se referir a algo cuja ação 
é excessivamente rápida. Um dos principais traços característicos da 
comunicação oral deve-se à proximidade existente entre os enunciados e a 
vida cotidiana, ao contrário do que ocorre com a comunicação escrita e 
tipográfica, cujas formas de verbalização impressa propiciam o distanciamento 
entre os textos e seu contexto de produção. Por isso, em geral, as formas 
discursivas orais tendem a ser mais situacionais, uma vez que a relação 
comunicativa expande a oralidade até a configuração do anúncio. 
A proximidade entre experiência e texto é facilmente reconhecível na 
expressão “Pá. Pum.”, pois a concisão da frase estabelece, de antemão, um 
paralelo com a agilidade. Ou seja, a própria materialidade do enunciado já 
incorpora traços daquilo que pretende significar. No entanto, ao ser incorporada 
pelo anúncio, a expressão reveste-se de uma forma sonoro-visual. 
A palavra impressa tanto é percebida pormeio do som, pois a 
apreensão do anúncio dificilmente ocorre sem um mínimo de sensibilidade à 
sonoridade da expressão inscrita, como por meio da visualidade espacial e 
gráfica das unidades verbais, relacionadas aos elementos figurativos presentes 
na peça: é a relação de causa e consequência metaforizada na página dupla. 
O verbal-oral inscrito na mensagem contrapõe-se à forma linear característica 
do verbal escrito, pois dificilmente uma sentença verbal caracterizada pela 
contiguidade poderia, por meio da sua materialidade sígnica, estabelecer uma 
relação de similaridade com a velocidade, especialmente se considerarmos o 
tempo que demanda a leitura de uma sequência linear. 
Na peça, há ainda uma outra correlação estabelecida, dessa vez, entre 
formas geométricas, cuja presença reforça a associação estabelecida no plano 
figurativo. Toda espiral é composta por uma linha curva, que tem início num 
ponto e afasta-se dele gradualmente, afunilando aos poucos a figura. Se 
contornarmos a espiral presente no anúncio com linhas retas, temos a 
formação de um triângulo, cuja base se encontra voltada para a parte superior 
da página. Essa figura estabelece um paralelo esquemático com o triângulo 
vermelho presente na embalagem do produto, cuja base também está voltada 
para a parte superior do frasco. A similitude de ambas as formas é acentuada 
pela presença de insetos na ponta dos dois triângulos, por meio do qual, se 
busca enfatizar tanto o problema que o produto resolve quanto a sua 
infalibilidade. 
A repetição de um mesmo elemento, tal como acontece com os 
triângulos presentes no anúncio do inseticida Baygon, é um dos meios 
utilizados pelo discurso publicitário. O intuito é ratificar positivamente o valor do 
objeto anunciado, evitando opiniões contrárias ou, ainda, uma possível dúvida 
sobre aquilo que se afirma sobre o produto e, em consequência, sobre a 
validade da sua compra. 
Nas mensagens, é muito comum que a repetição seja efetivada pelo 
código verbal, em virtude da precisão do modo como este código representa 
algo, evitando assim qualquer interpretação que não seja aquela prevista pela 
crença no consumo. Vista como um recurso persuasivo, a enunciação das 
mesmas ideias anteriormente apresentadas num texto pode ser entendida 
como um outro traço característico das regras ordenadores do sistema 
publicitário e, por isso, sua “ação” torna-se recorrente nos anúncios, ainda que 
esta repetição não seja realizada apenas por meio do código verbal. 
No anúncio, esta correlação sígnica possui ainda uma especificidade, 
pois a composição em página dupla orientada pela expressão oral “Pá. Pum.” 
indica a presença de dois tempos distintos: o primeiro designa o “antes”, isto é, 
o uso do produto, e o segundo apresenta o “depois”, em que é enfatizado o 
bom resultado decorrente da ação do inseticida. 
A sucessão presente na peça não apenas interage com a expressão 
oral, que também abriga uma sequência temporal; mas a reiteração imagética 
presente nas duas páginas estabelece um vínculo visual entre ambos os 
tempos, acentuando, de modo incisivo, o diferencial do inseticida. A correlação 
dos dois triângulos acarreta a espacialização da sequência temporal, do qual 
também resulta a espacialização do modo como a peça é percebida. Ao 
minimizar a lógica da sucessão, este anúncio evidencia um traço distintivo 
central do atual ambiente midiático, ou seja: impressão simultânea de 
diferentes signos, acarretando formas de apreensão imediatas e instantâneas, 
características de uma comunicação cada vez mais intensa e veloz, em 
detrimento da temporalidade característica da hierarquização de uma 
construção linear discursiva. 
Dando continuidade ao “preenchimento da semiosfera do espaço vazio” 
por meio das construções das espacialidades, perguntamo-nos como são 
construídas as imagens e como elas se modelizam e são modelizadas pelas 
espacialidades em outro sistema midiático: o cinema. Para isso, como recurso 
metodológico de análise, foram selecionadas duas cenas pertencentes ao 
longa-metragem Central do Brasil, filmado por Walter Lima Jr, e lançado no ano 
de 1998. 
Suas categorias epistemológicas de análise devem ser ressaltadas ao 
se tentar compreender a complexidade da construção da imagem: a primeira é 
denominada como visualidade, cuja concretude imagética “frouxamente se 
insinua”, pois a relação entre a percepção e a imagem é modelizada pelas 
qualidades do signo visual. A segunda categoria, denominada como 
visibilidade, não está diretamente relacionada à imagem, mas se constrói a 
partir dela, isto porque, por meio da leiturabilidade da iconicidade do signo 
visual são construídas relações prováveis através de diagramas que permitem 
o surgimento de signos mais elaborados. Dessa maneira, o diagrama constrói e 
é construído por uma espacialidade entre à elaboração perceptiva e reflexiva 
das marcas visuais que ultrapassam o recorte icônico para serem flagradas em 
sutis indícios, e as transduções das relações diagramáticas que permitem a 
construção de sínteses interpretativas. 
Ao ressaltar o diagrama como elemento mediador entre a imagem e sua 
leitura, é possível perceber uma operação lógica da visibilidade que funciona 
como uma fronteira existente entre a materialidade do signo visual e a síntese 
construída por uma mente interpretadora, por meio de índices que 
desempenham o papel de mecanismos tradutores. Os índices filtram 
determinados aspectos da imagem em detrimento de outros, ao estabelecer 
relações de dominância na sua superfície, fazendo com que ela passe por dois 
procedimentos semióticos dialógicos: o processo de hierarquização e o de 
fragmentação do todo. 
Ambos possibilitam criar o descontínuo no continuo, ao traduzirem as 
qualidades estruturais e não adjetivas do signo em quantidade informacional 
por meio de signos relacionais da estrutura, isto porque a estrutura atinge os 
padrões estruturais de um organismo e não as suas propriedades. Assim, a 
totalidade da imagem passa a ser transduzida e, portanto, vista de uma outra 
maneira, pela alteridade das relações existentes entre os nexos informacionais 
que compõem o diagrama, o que implica em dizer também que é no plano da 
visibilidade que se constrói a temporalidade da imagem, isso porque, é nela 
que se estabelecem as probabilidades combinatórias entre as relações 
temporais. 
Do filme Central do Brasil, foram selecionadas duas sequências, que 
ocorrem aproximadamente aos 13:00 e 59:25 da projeção do filme. Na primeira 
sequência, o menino Josué, senta em um banco localizado na estação Central 
do Brasil, após perder sua mãe em um acidente com um ônibus circular. 
Na segunda, Dora, personagem interpretada por Fernanda Montenegro, 
vê o caminhoneiro César, Othon Bastos, partindo em seu caminhão. Ela o vê 
através do vitrô de um banheiro de um bar de beira de estrada, quando ela foi 
se arrumar lá, justamente na intenção conquistar o caminhoneiro. 
 
 
Figura – Cenas do filme Central do Brasil 
Na cena do menino Josué, o desamparo e sofrimento dele compõem um 
plano médio fixo, frontal e centralizado da personagem que está chorando a 
morte de sua mãe. A imagem da personagem e a imagem do encosto do banco 
unem-se devido à baixa iluminação da cena e da curta distância focal, 
construindo a imagem diagramática na forma de cruz por meio da verticalidade 
do corpo de Josué adicionada à horizontalidade do banco. 
A presença acentuada dos transeuntes que atravessam os planos 
durante toda a sequência destaca a horizontalidade, tornando a cruz mais 
visível. Com a reiteração da verticalidade por meio de dois planos fixos de 
pessoas em pé, paradas no local, aparecem, alternadamente, sempre após o 
plano de Josué, como se fossem contra-planos do plano principal. A 
construção da imagem diagrama da cruz traz ao texto toda simbologia que 
envolve o signo cruz, pois, a história de Josué parece-secom a história de 
Cristo; ambos, crucificados, percorrem o mundo à espera do encontro com o 
pai. 
Não podemos esquecer que, no enredo do filme, o nome do pai do 
menino é Jesus, levando a construção de uma história dentro da outra: o filho 
em busca do filho do filho do Pai. 
Apesar dessa procura pelo seu pai, o encontro de Josué acaba sendo 
com Dora, que se solidariza com a causa do menino e passa a acompanhá-lo 
em sua busca. Assim, a cruz que o menino carrega se transforma na 
encruzilhada de Dora, ao ter o seu percurso dividido entre o antes e o depois 
do encontro com o garoto. Dora passa, então, de vilã a provedora, 
contaminada com a esfera de ação do herói, e a cruz que ela carrega se deixa 
ver. 
A imagem diagrama da cruz acontece novamente na narrativa; agora, 
com enquadramento em Dora. Esta, por meio de um plano centralizado, é 
enquadrada na altura do cotovelo para cima. O corpo de Dora, pendurada no 
vitrô do banheiro do bar de estrada, em pé, forma a verticalidade, a qual é 
reforçada por um movimento da câmera que realiza uma breve panorâmica 
vertical de cima para baixo, ao acompanhar um leve abaixar-se de Dora. A 
horizontalidade, por sua vez, é composta por meio das folhas basculantes do 
vitrô e das várias ondulações existentes no vidro canelado disposto 
horizontalmente. 
Ao ser refeita em outra personagem, a cruz acaba por promover uma 
espacialidade diagramática entre Dora e Josué, cuja visibilidade é modelizada 
pela analogia. Esta é exatamente a faculdade de variar as imagens, de 
combiná-las, de fazer que a parte de uma coexista com a parte da outra e de 
perceber, voluntariamente ou não, a ligação de suas estruturas. 
A semelhança estrutural por meio do signo cruz aproxima sequências 
distintas, permitindo com que a carga simbólica do texto mítico também 
dialogue com o percurso da segunda personagem. Segundo Walter Salles Jr: 
 
As opções formais de Central foram claramente 
definidas antes do filme. 
Havia também um desejo de que os planos dialogassem 
entre si. Os planos, tanto do ponto de vista da imagem quanto 
do som, desejavam ser ‘grávidos’ dos planos antecedentes, o 
que também possibilitava ‘engravidar’ os planos seguintes. O 
filme é construído em torno de rimas visuais e sonoras, que 
foram idealizadas antes da filmagem. (apud MACHADO: 2007, 
p.14). 
 
Apesar da relação de semelhança feita por meio da imagem diagrama 
da cruz estabelecida entre as duas sequências funcionar como uma rima 
visual, conforme ressalta Salles, é preciso o retorno ao plano da visualidade 
para perceber também as relações distintivas. 
Primeiramente o movimento da personagem Dora que, ao abaixar-se, 
tem o seu rosto cortado pelas várias texturas do vidro canelado. Cada relevo 
formado por uma elevação no vidro, ao ser percorrido pelo rosto de Dora, 
forma níveis distintos em relação à verticalidade do corpo, construindo uma 
cruz atrás da outra e sobrepondo uma à outra com base no eixo da 
similaridade. 
Dessa maneira, enquanto Josué carrega a sua primeira grande cruz em 
razão da sua pouca idade, é possível perceber que a trajetória de vida de Dora 
já está marcada por outras tantas. No caso da sequência em questão, a 
desilusão afetiva provocada pela fuga do caminhoneiro César, não foi e 
tampouco aponta ser a última a ser carregada por ela. Por fim, outra 
característica visual distintiva entre as imagens analisadas refere-se à 
disposição dos atores em relação à horizontalidade. 
No caso de Josué, o signo da cruz é composto pela junção entre a 
verticalidade do seu corpo sobreposta à horizontalidade do encosto do banco. 
Dora, por sua vez, tem sua imagem construída por trás da imagem do vitrô 
basculante. Assim, além de compor o signo cruz, também constrói, por meio da 
horizontalidade das linhas do vitrô, uma espécie de cerca que aprisiona a 
personagem, porque, apesar de os caminhos das personagens se 
entrecruzarem, a busca de cada uma é motivada por razões distintas: Josué 
tenta encontrar o pai e Dora, no processo de sua metamorfose, busca se 
libertar do peso das cruzes que carregou antes do seu encontro com Josué. 
Na conclusão da estudiosa, a questão fundamental para as pesquisas 
segundo uma semiosfera do espaço não é necessariamente ressaltar um ou 
outro tipo de modelização como se ele fosse símbolo único da cultura 
mundializada, mas sim compreender a intricada e contínua relação entre as 
espacialidades que constroem uma semiosfera. 
 
2. Linguagens interconectadas: vídeo-texto 
 
O microconto Tragédia, do escritor chileno Vicente Huidoro, foi unido a 
outras artes – música e pintura – e, unidos, foram transformados em outra arte: 
filme. Tragédia é uma obra de vídeo-arte realizado pelo artista argentino Victor 
Arancibia. 
O texto, criado pelo Arancibia, surgiu da interação de várias linguagens 
entre que apresentam uma interpretação conflitiva da realidade por meio da 
qual atuam e se comunicam. 
O conto de Huidoro está transcrito a seguir, acompanhado de uma 
tradução: 
 
Tragédia 
María Olga es una mujer encantadora. Especialmente la parte que se 
llama Olga. 
Se casó con un mocetón grande y fornido, un poco torpe, lleno de ideas 
honoríficas, reglamentadas como árboles de paseo. 
Pero la parte que ella casó era su parte que se llamaba María. Su parte 
Olga permanecía soltera y luego tomó un amante que vivía en adoración ante 
sus ojos. 
Ella no podía comprender que su marido se enfureciera y le reprochara 
infidelidad. María era fiel, perfectamente fiel. ¿Qué tenía él que meterse con 
Olga? Ella no comprendía que él no comprendiera. María cumplía con su 
deber, la parte Olga adoraba a su amante. 
¿Era ella culpable de tener un nombre doble y de las consecuencias que 
esto puede traer consigo? 
Así, cuando el marido cogió el revolver, ella abrió los ojos enormes, no 
asustados sino llenos de asombro, por no poder entender un gesto tan 
absurdo. 
Pero sucedió que el marido se equivocó y mató a María, a la parte suya, en vez 
de matar a la otra. Olga continuó viviendo en brazos de su amante, y creo que 
aún sigue feliz, muy feliz, sintiendo sólo que es un poco zurda. 
 
HUIDORO, Vicente. Tragédia. In: MACHADO, I. (Org.). Semiótica da cultura e 
semiosfera. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2007, p. 243. 
 
 
 Tragédia (tradução) 
 
Maria Olga é uma mulher encantadora. Especialmente a parte que se 
chama Olga. 
Casou-se com um rapaz grande e fornido, um pouco desajeitado, cheio 
de ideias honoríficas, ordenadas como árvores de passeio. 
Mas a parte que ela casou era sua parte chamada Maria. Sua parte Olga 
permanecia solteira e logo arrumou um amante que vivia em adoração diante 
de seus olhos. 
Ela não podia compreender por que seu marido se enfurecera e 
reprovara-lhe a infidelidade. Maria era fiel, perfeitamente fiel. O que tinha ele 
que ver com Olga? Ela não compreendia que ele não compreendesse. Maria 
cumpria com seu dever, a parte Olga adorava seu amante. 
Era culpada de ter um nome composto e das consequências que isto 
pode trazer? 
Assim, quando o marido sacou o revólver, ela abriu os olhos 
enormes, não assustados e sim cheios de assombro, por não poder entender 
um gesto tão absurdo. 
Mas aconteceu que o marido se equivocou e matou Maria, a parte dele, 
em lugar de matar a outra. Olga continuou vivendo nos braços de seu amante, 
e creio que ainda hoje é feliz, muito feliz, sentindo-se apenas um pouco 
canhota. 
HUIDORO, Vicente. Tragédia. In: MACHADO, I. (Org.). Semiótica da cultura e 
semiosfera. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2007, p. 243. 
 
 
O próprio microconto tem um caráter híbrido ou transgenérico, capaz de 
se pôr entre os limites da poesia e da prosa. O microconto consiste em 
narração breve e expressa uma linguagem precisa, que exclui a retórica. Tanto 
a palvra expressa quanto os silêncios adquirem um significado sustancial. Os 
microcontos primam uma espécie de lei de economia

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