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UNIVESP - 2022 - Propriedade Intelectual - Revisao

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Texto de apoio- Revisão- Propriedade Intelectual- DAI001 
Professor José Augusto Fontoura 
 
 
1. Sentido e utilidade dos exclusivos intelectuais ................................................. 1 
2. Os tipos de propriedade intelectual no Direito brasileiro .............................. 2 
3. Base normativa da propriedade intelectual ...................................................... 2 
4. Direitos autorais ................................................................................................... 4 
5. Programas de computador ................................................................................. 5 
 
1. Sentido e utilidade dos exclusivos intelectuais 
Pode-se definir economicamente os bens identificando-os com tudo aquilo que tem 
utilidade, ou seja, é capaz de satisfazer alguma necessidade. A intuição e o senso comum 
tendem a identificar como bens as coisas caracterizadas por sua materialidade, como uma 
maçã ou um automóvel. Para essas coisas o Direito estabelece as relações de propriedade, 
conforme as quais o proprietário (titular) tem o direito de excluir todas as demais pessoas de 
seu uso, bem como poderá emprestá-la, vendê-la ou, simplesmente, abandoná-la ou destruí-
la. 
Há, porém, objetos imateriais dotados de utilidade. É o caso, por exemplo, do texto 
de um livro, de um programa de computador, dos traços do desenho de um super-herói, da 
lista de ingredientes de um molho secreto ou de uma marca consagrada. Por razões 
econômicas, especialmente para gerar incentivos à produção desses bens, o Direito estende 
para esses bens imateriais, resultantes do engenho humano, proteção equivalente à da 
propriedade. É a chamada propriedade intelectual, a qual se caracteriza pela atribuição de direitos 
exclusivos para os seus titulares. 
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Assim, o principal fundamento econômico da proteção da propriedade intelectual é 
a geração de incentivos para a criação e inovação, pois os artistas e inventores poderão obter 
benefícios resultantes da cobrança de direitos autorais ou da cessão e licenciamento do uso 
de uma invenção, respectivamente. 
2. Os tipos de propriedade intelectual no Direito brasileiro 
No Direito brasileiro, a propriedade intelectual é dividida em duas grandes categorias: 
os direitos de autor e a propriedade industrial. 
A propriedade intelectual é a categoria mais ampla, capaz de cobrir uma ampla variedade 
de direitos. Por razões históricas e práticas, o surgimento de sua proteção se deu em dois 
campos diferentes. Por um lado, sobretudo tendo em conta o mercado de livros, nasceram 
os direitos autorais, criados e implementados no campo do Direito Civil e voltados a garantir 
benefícios para os criadores das obras. Pelo outro lado, no contexto da industrialização e 
sofisticação das relações comerciais, passou-se a garantir o uso exclusivo de alguns ativos 
intelectuais a partir do desenvolvimento de um campo do Direito Comercial, a propriedade 
industrial. 
Cabe, aqui, um alerta: considerando a semelhança denominações “propriedade 
intelectual” e “propriedade industrial” é muito importante evitar eventuais confusões. A 
primeira, qualificada pelo adjetivo derivado de “intelecto”, refere-se a quaisquer campos da 
vida humana, inclusive a ciência e a arte. A outra, relacionada à “indústria”, coloca-se no 
campo das atividades econômicas e da criatividade voltada às inovações tecnológicas. 
3. Base normativa da propriedade intelectual 
A base normativa da propriedade intelectual no Brasil é composta por normas de 
diversos tipos e hierarquias: constitucionais, originadas por tratados internacionais e 
ordinárias. As normas constitucionais são superiores às demais, mas são menos específicas e 
normalmente funcionam como um meio de direcionamento geral para atender a princípios 
e valores. 
Na Constituição, a temática da propriedade intelectual é abordada no Artigo 5º, o 
qual trata dos direitos fundamentais, mais especificamente incisos XXVII, XXVIII e XXIX. 
É importante ressaltar que a inclusão desse assunto entre os direitos constitucionalmente 
garantidos é fundamental, pois impede qualquer eliminação dos direitos protegidos, além de 
orientar a interpretação e a aplicação das normas infraconstitucionais. 
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A proteção internacional universal da propriedade intelectual aparece nos 
instrumentos da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e da Organização 
Mundial do Comércio (OMC), conforme o Quadro 1, onde se destacam os principais 
acordos e seu campo de aplicação. 
 Acordo Âmbito material 
OMC Acordo sobre os aspectos da 
propriedade intelectual relacionados ao 
comércio (TRIPs) 
Direitos autorais e 
propriedade industrial 
OMPI Convenção de Berna para a Proteção de 
Obras Literárias e Artísticas 
Direitos autorais 
Convenção de Paris para a Proteção da 
propriedade industrial 
Direitos de propriedade 
industrial, inclusive patentes 
e marcas 
 
O Acordo TRIPs foi estabelecido em 1994, por ocasião da formação da OMC, e é 
obrigatório para todos os seus membros, inclusive o Brasil. As convenções da OMPI 
remontam o final do século XIX, quando foram adotadas. Posteriormente foram alteradas 
várias vezes para ampliar o escopo de proteção dos direitos autorais e da propriedade 
intelectual. 
Na legislação brasileira, os direitos autorais são estabelecidos e regulados pela Lei 
9.610 de 19 de fevereiro de 1998, conhecida como Lei dos Direitos Autorais. Na mesma 
data, houve a promulgação da Lei 9.606, conhecida como Lei do Software, especificamente 
voltada à temática dos programas de computador, também no campo dos direitos autorais. 
Já a propriedade industrial é reguada na Lei 9.279, de 14 de maio de 1996. 
Não obstante, deve-se destacar que esses temas não podem ser estudados ou 
utilizados sem o conhecimento de outros corpos normativos, com destaque para o Código 
Civil e o Código Penal. Desse modo, embora o conhecimento pontual do regime jurídico da 
propriedade intelectual seja importante para a informação e o conhecimento de profissionais 
de diversas áreas, é de boa cautela consultar especialistas em Direito para evitar surpresas 
pouco agradáveis. 
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4. Direitos autorais 
Os direitos autorais visam proteger “as criações do espírito humano” (Lei 9.610/98, 
Artigo 7º), ou seja, o trabalho criativo humano expresso por qualquer meio ou fixado em 
algum suporte, tangível ou intangível, para garantir benefícios a seus autores ou outros 
participantes na produção de obras artísticas, estéticas ou científicas. Não se pode confundir 
a obra com seu suporte, até porque esta pode ser reproduzida sobre diversos suportes. Por 
exemplo, este texto de revisão será o mesmo, independentemente se armazenado na memória 
do computador, reproduzido em seu monitor ou impresso em papel. O que se protege por 
meio dos direitos autorais é o trabalho intelectual, não o suporte. 
No Direito brasileiro a proteção autoral segue a tradição dualista, ou seja, protege os 
titulares da obra por meio de direitos patrimoniais ou econômicos, relacionados ao pagamento de 
compensação pelo uso ou reprodução da obra, e de direitos morais, os quais derivam da ideia 
de que a obra seja uma projeção da identidade de seus criadores e, portanto, devem ser 
protegidas em seu caráter personalíssimo. Há, por exemplo, o direito à paternidade da obra, 
conforme o qual se deve reconhecer a autoria do criador da obra (Lei 9.610, Artigo 24, I), o 
à integridade da obra, conforme o qual o autor pode se opor a modificações da obra (Lei 
9.610, Artigo 24, IV) e o de arrependimento, que autoriza o autor a retirar a obra de circulação 
ou utilização já autorizadas (Lei 9.610, Artigo 24, VI). 
Os direitos morais não podem ser transferidos, mas os patrimoniais podem – e 
frequentemente o são. Os direitos são transferidos por meio de licença, concessão ou cessão 
e, portanto, não são objeto de venda. 
Dadas preocupações com a eventual vulnerabilidadeeconômica e social dos criadores 
em face ao poder econômico das empresas de alguns setores – como musical e audiovisual, 
por exemplo – a estrutura da transferência dos direitos de autor é bastante restrita e protetiva. 
Pelas mesmas razões, ao contrário do que normalmente ocorre no campo da propriedade 
industrial, os direitos autorais não dependem de registro para sua proteção (Lei 9.610, Artigo 
18). Autoriza-se o registro em algumas entidades públicas (Biblioteca Nacional, Escola de 
Belas Artes da UFRJ etc.), o qual não tem natureza constitutiva (ou seja, necessária para a 
atribuição do direito a seu titular), mas apenas probatória. Os demais países contratantes da 
Convenção de Berna adotam a mesma falta de formalismo para o reconhecimento dos 
direitos autorais. 
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5. Programas de computador 
Para o Direito brasileiro o programa de computador é “a expressão de um conjunto 
organizado de instruções em linguagem natural ou codificada” sem a qual “máquinas 
automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos 
periféricos” não podem funcionar (Lei 9.609/98, Artigo 1º). 
Não existe, conforme informa a própria OMPI, suficiente uniformidade na proteção 
dos programas de computador, havendo países que optam por emitir patentes, enquanto 
outros, como o Brasil e os Estados Unidos, preferem uma forma equivalente à autoral. Nesse 
sentido, a Lei 9.609, Artigo 2º, estabelece referência ao regime das “obras literárias pela 
legislação de direitos autorais e conexos vigentes no país”, ou seja, a Lei 9.610/98. A opção 
do legislador por uma referência aberta à “legislação (...) vigente no país” possibilita a 
alteração automática do seu conteúdo sempre que houver qualquer alteração ou substituição 
da Lei de Direito Autoral. 
Sem prejuízo da possibilidade de registrar programas de computador no INPI, este 
tem efeitos meramente probatórios, pois há independência de registro formal para a validade 
dos direitos sobre programas de computador (Lei 9.609/98, Artigo 2º, § 3º). Com referência 
aos programas de computador de titularidade de estrangeiros domiciliados no exterior haverá 
proteção no Brasil, sempre que os brasileiros e os estrangeiros domiciliados no Brasil gozem 
de direitos equivalentes no país de origem do programa (Lei 9.609/98, Artigo 2º, § 4º). 
Observe-se que, no Direito brasileiro, existe um impedimento expresso para o 
patenteamento de programas de computador que não se encontra na Lei do Software ou na 
Lei dos Direitos Autorais, mas no Artigo 10, V da Lei de Propriedade Industrial, in verbis: 
“Não se considera invenção nem modelo de utilidade (...) programas de computador em si”. 
Considerando ser frequente o desenvolvimento de software por empresas que 
contratam diversos programadores e para evitar excessiva complexidade na regulação dos 
direitos sobre programas de computador, a solução legal é de atribuir ao empregador, com 
exclusividade, “os direitos relativos ao programa de computador desenvolvido ou elaborado 
durante a vigência do contrato” (Lei 9.609/98, Artigo 4º). É possível, porém, estabelecer 
contratualmente outros ajustes a respeito da titularidade dos direitos sobre os programas 
desenvolvidos, bem como é possível dispor contrariamente à regra conforme a qual o 
trabalhador será exclusivamente remunerado por meio de seu salário. 
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Por fim, dadas as peculiaridades do regime jurídico da proteção intelectual dos 
programas de computador, é importante mencionar a listagem legal de situações que não 
implicam ofensa a direitos do titular do programa (Lei 9.609/98, Artigo 6º): 
I. Reprodução do programa em exemplar único, de modo a proteger-se contra 
eventual perda ou deterioração do programa efetivamente instalado; 
II. Citação parcial do programa para fins didáticos; 
III. Semelhança com outro programa por força de características funcionais da 
aplicação e 
IV. Integração do programa a sistema aplicativo ou operacional “tecnicamente 
indispensável às necessidades do usuário”. 
6. Patentes 
As patentes são um tipo de propriedade industrial, sendo reguladas pela Lei 9.279 de 
14 de maio de 1996 (Lei da Propriedade Industrial). Como tais, seguem um regime 
substancialmente diverso daquele próprio dos direitos autorais e dos sobre programas de 
computador. Destaca-se, nesse sentido, a necessidade formal de pedido e registro da patente, 
bem como a ausência de direitos morais como parte do regime de proteção. 
As patentes visam proteger as a capacidade inventiva humana para a criação de produtos e 
modos de produzir que tenham utilidade comercial. Isso é feito por meio da atribuição de direitos 
de exploração exclusiva por um período e condicionado à publicidade do objeto da patente. 
A capacidade inventiva humana pode se manifestar de vários modos, mas os que são 
relevantes para a concessão das patentes são os inventos e os modelos de utilidade. Dadas as 
diferenças entre eles, sendo mais elevados os padrões para a obtenção das patentes de 
invenção, os modelos de utilidade têm proteção por 15 anos e os inventos por 20, sempre 
contados da data do pedido. Além disso, existe na Lei de Propriedade Industrial a indicação 
de nove tipos de objetos intelectuais que não podem ser patenteados (Lei 9.279/96, Artigo 
10). 
A invenção patenteável deve atender “aos requisitos de novidade, atividade inventiva 
e aplicação industrial. ” Nova é a invenção que não se encontra compreendida no estado da 
técnica, o qual compreende tudo o que se tornou acessível ao público antes do pedido de 
patente. Em outros termos, não se pode inventar o que já tenha sido inventado, mesmo que 
o pretenso inventor não o saiba. A atividade inventiva se refere à falta de obviedade da invenção, 
ou seja, identifica-se uma contribuição digna de proteção apenas quando o inventor propõe 
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um passo impossível de ser facilmente deduzido por especialistas no setor. Por fim, a aplicação 
industrial se refere à utilidade econômica, seja na formulação de novos produtos, seja na forma 
de sistemas e processos produtivos. 
Os modelos de utilidade são melhorias funcionais de uso e fabricação que decorram de 
ato inventivo e tenham aplicação industrial. Não exige, portanto, novidade, pois o produto ou 
processo pode estar descrito no estado da técnica, mas ser suscetível de aperfeiçoamentos 
capazes de melhorar o exercício das funções às quais se destinam. 
Por outro lado, por mais que uma ideia seja criativa e com potencial de gerar milhões, 
ela não poderá ser patenteada, pois ao lhe faltarem os meios para ser efetivamente 
consubstanciada em um produto ou processo de produção lhe faltarão a novidade e a 
atividade inventiva, pois uma simples ideia nada altera no estado da técnica nem resulta de 
atividade inventiva. Tampouco terá aplicação industrial, pois não existe como invento ou 
modelo de utilidade. 
A lógica econômica das patentes é a de garantir a exploração exclusiva pelos 
responsáveis pela inovação, gerando a possibilidade de se beneficiar da formação 
monopolística de preços, por um prazo determinado e mediante a publicidade das 
informações a respeito da invenção ou do modelo de utilidade. Assim os benefícios privados, 
sustentados pelo Direito, se convertem em públicos à medida que (1) incentiva-se a inovação 
e (2) garante-se o uso público a partir do final do prazo da proteção, o qual será de livre 
acesso em razão da publicidade dada no processo de concessão da patente. 
7. Marcas 
As marcas, também reguladas pela Lei da Propriedade Industrial, são “sinais 
distintivos visualmente perceptíveis” (Lei 9.279/96, Artigo 122) e podem ser empregadas 
para distinguir produtos e serviços de origem diversa (marca de produto ou serviço – Lei 
9.279/96, Artigo 123, I), certificar a conformidade de um produto ou serviço com normas 
ou especificações técnicas (marca de certificação - Lei 9.279/96, Artigo 123, II) ou para 
identificar produtos ou serviços de umadeterminada entidade (marca coletiva - Lei 9.279/96, 
Artigo 123, III). 
As marcas têm uma lógica econômica diversa da das patentes. No caso dessas últimas, 
como se viu, há limitação dos efeitos a 20 e 15, o que é essencial para gerar benefícios 
econômicos que derivem da concorrência entre vários produtores uma vez que se encerre o 
prazo da exclusividade. As marcas, por seu turno, geram benefícios tanto para seus titulares, 
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que se beneficiam da reputação que tenham obtido e das ações de propaganda e marketing 
nas quais invistam, como também se criam vantagens para os consumidores, que reduzem 
os riscos e os custos de cada transação ao poderem se fiar na qualidade de um produto de 
boa marca. 
Como é próprio do campo da propriedade industrial, a garantia jurídica do uso 
exclusivo por seu titular, direto ou por meio de licença, depende do devido registro. Sua 
validade é de 10 anos, podendo ser renovada por infinitas vezes, até porque sua absorção no 
domínio público não interessa a ninguém, senão a alguns eventuais espertalhões que 
busquem se beneficiar das marcas alheias. 
Há, porém, uma modalidade de marca que, para ser protegida no Brasil, independe 
de prévio depósito ou registro: é o caso das marcas notoriamente conhecidas. Sua proteção deriva 
da própria Convenção de Paris, Artigo 6º bis (I), reconhecido expressamente pela lei brasileira 
(Lei 9.279/96, Artigo 126). 
Uma figura similar é a marca de alto renome, a qual, uma vez devidamente registrada no 
Brasil, terá a proteção estendida a todos os ramos de atividades (Lei 9.279/96, Artigo 125). 
Para dar um exemplo, a condição de marca notoriamente conhecida permitiria a uma marca 
alemã de artigos esportivos, digamos a Adidas, a não ter seu nome e sua representação visual 
copiadas por um outro produtor qualquer. Por outro lado, desde que registrada, o titular de 
uma marca de alto renome poderá impedir seu uso indevido por empresas de outros setores, 
como, por exemplo, o sorvete ou o hambúrguer da Adidas. 
8. Considerações finais 
Tendo em vista o resumo apresentado, o estudo da propriedade intelectual enquanto 
objeto de proteção jurídica se apresenta bastante amplo e menos uniforme do que possa 
parecer à primeira vista. Ainda assim a sua boa gestão é fundamental para o funcionamento 
das economias de mercado. De um ponto de vista mais específico – o dos titulares, 
licenciados e usuários de patentes – a proteção da propriedade intelectual pode gerar 
importantes carteiras de ativos a serem explorados nas mais diversas atividades econômicas. 
As diversas formas estudadas (direitos autorais, direitos sobre software, patentes e 
marcas) apresentam formas diversas e adequadas a cada forma de organizar e buscar 
maximizar a criatividade e a inovação.

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