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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 1 – mod XIV Sangramentos 3º trimestre + placenta + cesárea Placenta prévia - PP - Consiste na implantação e no desenvolvimento da placenta no segmento inferior do útero, previamente ao feto. - Diagnosticada em 1-6% das USs feitas entre 10-20sem, no 3º trimestre, 90% dos casos se resolvem, persistindo em poucos pctes devido ao crescimento uterino e a formação do segmento uterino inferior pela incorporação do colo uterino ao corpo. ETIOLOGIA - Vascularização deficiente da decídua. Endométrio alterado por processos inflamatórios e atróficos. - Fatores de risco de acordo com o mecanismo patogênico envolvido: Dano endometrial o Cesarianas prévias o História prévia de PP o Multiparidade (maior em multíparas) o Idade > 40 anos o Após aborto, curetagens, biópsias endometriais, miomectomias o Endometrites anteriores Baixa nutrição/oxigenação o Fumantes e usuárias de cocaína o Residentes em altas altitudes o Gestação múltipla o Aloimunização Rh. Outras TTO infertilidade, fetos masculinos e etnia asiática CLASSIFICAÇÃO - Relação da placenta com o colo uterino. Completa: Placenta cobre totalmente o orifício cervical interno. É também conhecida como oclusiva total. Parcial: placenta cobre parcialmente o orifício cervical interno. Marginal: borda da placenta alcança borda do orifício cervical interno. Lateral ou baixa: implantação no segmento inferior. QUADRO CLÍNICO - Principal sintoma é a hemorragia no 2º e 3º trimestres, indolor, reincidente, progressiva, com início e cessamento súbitos. - Perda de sangue não é grande, mas às vezes pode ser encontrada em grande quantidade de sangue vivo e coagulado. Os episódios costumam ser repetidos. - Em cerca de 10% dos casos, há certa dor inicial pela presença de contrações uterinas coincidentes. Porém, em geral, o útero não está contraído e apresenta-se elástico. - Só haverá condição fetal deteriorada se houver complicações como choque hipovolêmico, DPP ou acidente com o cordão umbilical. DIAGNÓSTICO Exame físico mostra apresentação fetal anormal: na maioria das vezes com a situação transversa, apresentação pélvica. - Exame especular: colo congesto, entreaberto e na maioria com sangue dentro do canal. - Evitar toque vaginal por risco de sangramento, devendo ser feito somente na iminência do parto ou numa condição fetal não tranquilizadora. Mostra a sensação de massa esponjosa no segmento inferio. - Diagnóstico se confirma com US. Buscar a localização da implantação da placenta e suas relações com o colo e a apresentação fetal. COMPLICAÇÕES - A principal é a hemorragia grave, com choque e morte materna. - O aumento da possibilidade de acretismo placentário está associado ao aumento no n° de cesarianas prévias. - Há aumento da prematuridade, ruptura prematura das membranas e hemorragia fetal. CONDUTA - TRATAMENTO - Depende da quantidade de sangramento, IG, tipo de placentação, apresentação fetal e da presença ou não de TP. Conduta expectante - Gestantes < 36sem, internar, repor fluido e repouso até estabilizar hemorragia. - A avaliação laboratorial deve incluir hemograma completo, dosagem de fibrinogênio, plaquetas, TP, TTPa e tipagem sanguínea. - US para avaliar saúde fetal, por risco de hipóxia fetal (US Doppler e perfil biofísico fetal). - Embora controverso, pensa-se na ideia de inibir o TP, com nifedipino e beta-adrenérgico, porém não se usam em sangramento que mexe com a hemodinâmica da pcte. Pode-se tentar dar progesterona com o término das contrações, a fim de diminuir reincidência das mesmas. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 - Corticoterapia para acelerar a maturidade pulmonar fetal se IG for < 34 sem. Conduta ativa - A partir de 36 ou 37sem, indica-se interrupção da gravidez. Se houver dúvida quanto à idade gestacional, poderão ser realizados exames de maturidade pulmonar antes. - Cesariana é a via de escolha. Se houver suspeita de acretismo, deve-se diminuir risco de sangramento. Anestesia peri ou subdural e em caso de instabilidade, anestesia geral. - Parto vaginal poderá ser escolhido nas placentações laterais e/ou marginais. Membranas deverão ser rompidas precocemente para reduzir sangramento e aumentar atividade uterina. Não se usa misoprostol. Placenta acreta - Caracterizado por adesão patológica da placenta em relação à parede uterina. Pode ser classificada como: Acreta: aderência patológica da placenta ao miométrio, sem invadi-lo. Increta: invasão do miométrio, sem ultrapassá-lo. Percreta: placenta ultrapassa o endométrio e atinge tecidos subjacentes: bexiga, intestino, ligamentos uterinos, etc. - Incidência: 1 a cada 2.500 partos. - Fatores de risco: o mais importante é a ocorrência de PP, multiparidade, curetagens de repetição, endometrite prévia e cicatrizes uterinas, cesáreas prévias, > 35 anos, DHG, FIV. - Pode ser encontrado em associação à PP. - Mulheres que tem 2 ou mais cesarianas com PP anterior ou centro-total, tem 40% de risco de desenvolver placenta acreta. DIAGNÓSTICO - Doppler colorido. USG apresenta resultados sutis e de difícil visualização. Final do pdf: fluxograma da abordagem diagnóstica. US 1º trimestre Saco gestacional no segmento uterino inferior, sua implantação dentro da cicatriz prévia e espaços irregulares na placenta. US 2º trimestre Múltiplas lacunas vasculares na placenta US 3º trimestre Perda da zona hipoecoica, presença de lacunas vasculares, irregularidades na bexiga, falha no fluxo sanguíneo Miometrial, vascularização aumentada. RM Abaulamento uterino Sinal placentário heterogêneo Bandas intraplacentárias hipointensas Falhas focais no miométrio Retração da bexiga Avaliação global Labs Creatinoquinase Alfafetoproteína Beta-HCG - Placentas incretas e percretas podem evoluir para ruptura uterina. - Quando o dx for fortemente suspeito, a paciente deve ser atendida em centro terciário. Em casos de ruptura uterina, recomenda-se remoção cirúrgica do útero e dos tecidos envolvidos Descolamento prematuro de placenta - DPP é a separação da placenta normalmente inserida, parcial ou completa, antes do nascimento do feto. CLASSIFICAÇÃO - De acordo com os achados clínicos e labs: Grau I: assintomático ou apresenta sangramento genital discreto, sem hipertonia e com vitalidade fetal preservada. - Sem repercussões hemodinâmicas e coagulopatias maternas. - Diagnóstico realizado após nascimento por presença de coágulo retroplacentário. Grau II: sangramento moderado com hipertonia uterina. Repercussões hemodinâmicas na mãe, aumento da frequência cardíaca, alterações posturais da PA e queda de fibrinogênio. - Feto vivo com alteração da vitalidade fetal. Grau III: óbito fetal e alterações mais acentuadas de hipotensão arterial materna e hipertonia uterina. Pode ter ou não coagulopatia instalada. INCIDÊNCIA - Complica ~1% das gestações, sendo 2/3 graves pelas mortalidades materna, fetal e neonatal que gera. - Responsável por 10% dos partos prematuros. - 40-60% dos DPP ocorreram antes das 37 semanas de gestação e 14% antes das 32 semanas. - A taxa de mortalidade perinatal é mais ou menos 20 vezes maior em relação às gestações sem DPP. A maior parte das mortes perinatais ocorre intraútero. FISIOPATOLOGIA EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 - Ruptura dos vasos maternos na decídua basal. O sangue acumulado atinge a zona de clivagem decíduo-placentária e inicia a separação. - Sangramento pode ser pequeno e autolimitado ou pode continuar a dissecar através da interface placenta- decidual, levando a separação completa ou quase completa da placenta. - A porção deslocada da placenta é incapaz de permitir a troca de gases e nutrientes,comprometendo o feto. - Uma porção dos descolamentos está relacionada a eventos mecânicos súbitos, como traumatismo abdominal ou descompressão uterina rápida, que causam tração da placenta inelástica pelo alongamento ou contração súbita da parede uterina subjacente. - Em acidente automobilístico, a aceleração- desaceleração alonga o útero, mas não a placenta. - Trauma menor está associado a risco maior de parto prematuro, embora seja o 6º risco de descolamento. - A maioria dos descolamentos parece ter relação com um processo patológico placentário crônico. - Anormalidades no desenvolvimento das art. Espiraladas fazem necrose decidual, inflamação placentária e infarto e sangramento. - A hemorragia arterial de alta pressão na área central leva a manifestações potencialmente fatais (sangramento grave, CIVD, ...) - Hemorragia venosa de baixa pressão, na periferia da placenta pode levar a RCIU. - Produção de trombina pode levar à hipertonia uterina, produção de fatores inflamatórios que podem fazer rotura prematura das membranas, distúrbios da coagulação, deficiência da ação da progesterona. FATORES DE RISCO - DPP prévio é o fator de risco mais importante, com recorrência 10-15x maior. - Tabagismo é um dos poucos fatores que pode mudar, associado a 2,5x mais chance de DPP que pode levar a morte fetal. - Tabagismo e hipertensão tem um efeito sinérgico sobre o risco. - Mulheres com asma também tem risco, além de irmãs de mulheres que já tiveram DPP. » Sociodemográficos e comportamentais Idade materna ≥ 35 anos e < 20 anos Paridade ≥ 3 Etnia negra Mães solteiras Tabagismo, uso de álcool e drogas Infertilidade de causa indeterminada » Fatores maternos na gestação atual Síndromes hipertensivas – responsáveis por até 50% dos casos de DPP não traumáticos o Tem 5x mais risco de apresentar DPP grave se comparado com normotensas e a terapia anti-hipertensiva não reduz risco de descolamento em pctes com hipertensão crônica. Hiper-homocisteinemia Trombofilia Diabetes pré-gestacional Hipotireoidismo Anemia Malformação uterina Rotura anteparto de membranas ovulares Corioamnionite Oligoâmnio/polidrâmnio Placenta prévia Gestações múltiplas Traumas (automobilístico, brevidade do cordão, versão externa, torção do útero gravídico, retração uterina intensa) Amniocentese/cordocentese » Fatores maternos em gestações anteriores Cesárea anterior Abortamentos Pré-eclâmpsia Natimorto DPP aumenta o risco em 3% a 15% DIAGNÓSTICO - No geral, o diagnóstico é reservado a gestações com 20 ou mais semanas. - Os achados clínicos principais são sangramento vaginal leve a moderado e dor abdominal e/ou nas costas. Muitas vezes são acompanhados por contrações uterinas hipertônicas. - Pctes com sintomas clássicos, anormalidades de FC fetal ou ausência de batimentos e/ou CIVD corroboram fortemente o diagnóstico clínico e indicam DPP extenso. - Um exame de USG pode identificar hematoma retroplacentário e excluir outros distúrbios associados a sangramento vaginal e dor abdominal. - Sensibilidade varia de 25-60% pois nem sempre é possível visualizar esse hematoma, mas o valor preditivo positivo é alto (88%). ACHADOS LABORATORIAIS - Grau de hemorragia se relaciona com o grau de anormalidade hematológica. - Valor de fibrinogênio menor ou igual a 200mg/dl tem valor preditivo positivo para hemorragia pós-parto grave, enquanto valores maiores ou iguais a 400 tem valor preditivo negativo. - DPP grave pode levar a CIVD ou a óbito fetal. CIVD confirmado por aumento de trombina (diminui fibrinogênio) ou fibrinólise (aumenta degradação de fibrina e D-dímero). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - Em mulheres com suspeita de descolamento, DD de sangramento + dor e contrações pode ser trabalho de parto, placenta prévia, ruptura uterina e hematoma subcoriônico. CONDUTA EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 - Depende da extensão e classificação do DPP, dos comprometimentos materno e fetal e da idade gestacional. - Avaliação laboratorial da mãe: tipagem sanguínea, hemograma completo e coagulograma. - Feto vivo com cardiotoco III e parto vaginal iminente, pode-se optar por parto vaginal espontâneo ou instrumental. Se não iminente, faz-se cesárea. - Feto vivo com cardiotoco II, a via de parto vai depender da idade gestacional, da dilatação cervical e de ter ou não instabilidade fetal ou materna. DESCOLAMENTO CRÔNICO - Gestantes aqui apresentam hemorragia leve, crônica, intermitente e manifestações de doença placentária com isquemia (RCIU, oligodrâmnio e pré-eclâmpsia. Além disso, correm o risco de ruptura prematura das membranas. - No 2º trimestre, junto com oligodrâmnio, pode haver um prognóstico sombrio, com altas taxas de morte fetal, parto prematuro e morbidade neonatal grave ou morte. - Histologia da placenta pode mostrar lesões crônicas, como infarto placentário, trombose intervilositária e deposição de hemossiderina. Ruptura uterina - Separação completa de todas as camadas uterinas com saída de parte ou de todo o feto da cavidade uterina. - A ruptura pode ocorrer antes ou durante um trabalho de parto. Apresenta uma frequência de 0,5%. - Grandes partes das rupturas ocorrem em cicatrizes uterinas prévias, mas podem ocorrer espontaneamente em qualquer local. - Em casos de incisão clássica prévia (longitudinal- corporal), há 10x mais risco de ruptura. Contudo, mais da metade das rupturas uterinas não apresenta cicatriz prévia. FATORES DE RISCO Uso imprudente de misoprostol ou ocitocina hipercontratilidade Multiparidade e intervalo pequeno entre gestações (< 2 anos) Hiperdistensão uterina Insistência de parto por via baixa em casos de desproporção feto-pélvica não diagnosticada Manobras intrauterinas intraparto Uso inadequado de fórcipe Trabalho de parto após cesariana Ruptura uterina prévia (completa ou incompleta) Acretismo placentário Idade materna avançada > 35 anos Desproporção feto-pélvica - Sinais de iminência de ruptura uterina são importantes e facilitam a prevenção da ruptura: Contrações excessivamente dolorosas, taqui e hiperssistolia. Palidez, sudorese e agitação Distensão segmentar: útero em ampulheta (Sinal de Bandl) e Sinal de Frommel (ligamentos redondos retesados e hipercontraídos). DIAGNÓSTICO - Para diagnóstico, é preciso haver uma suspeita, pois sinais e sintomas podem ser obscuros. - Após a ruptura, pode ocorrer taquicardia reflexa ao sangramento e hipotensão. - Na ruptura completa, ocorre parada do trabalho de parto e palpação das partes fetais livres no abdome. Sangramento varia de quase inexistente até perda volumosa com morte fetal. - Uma cardiotocografia alterada ou bradicardia persistente na ausculta podem ser o único sinal de ruptura. Pode-se perceber também uma crepitação no abdome pela passagem do ar que entrou por via vaginal (sinal de Clarke). - Se houver síncope pós-parto, deve-se suspeitar de ruptura uterina, especialmente quando hemorragia é atribuída à atonia uterina que não responde aos medicamentos para a contração. TRATAMENTO - Laparotomia imediata com cesariana diante de suspeita diagnóstica. - Uma nova cesariana deve ser considerada em pctes com cicatriz uterina prévia e falha na progressão do TP. - Demora na retirada do feto está associada a um aumento da mortalidade perinatal. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 Vasa prévia - Uma condição na qual os vasos de inserção velamentosa transitam no segmento inferior, adianta da apresentação fetal, principalmente associada à placenta baixa. - É rara (1-3.000) podendo ser observada em 15% das gestações gemelares monocoriônicas. Embora rara, tem alta taxa de mortalidade fetal pois o sangramento é fetal e nãomaterno. - Acidente agudo ocorre durante a ruptura das membranas ou na amniotomia em pctes sem suspeita do local do vaso velamentoso, com choque fetal rápido pela falta da geleia de Wharton, que circunda os vasos do cordão umbilical. - Diagnóstico realizado pelo toque digital dos vasos junto à bolsa amniótica e pela visualização à amnioscopia. Pode passar despercebido na maioria das vezes. - O US com Doppler poderá ser feito se forem visualizados vasos aberrantes sobre o cérvice a partir do 2º trimestre. - US Doppler transabdominal pode identificar inserção velamentosa. DD entre vasa prévia e vasos do cordão procidente é feito seguindo trajeto até a inserção da placenta, pois esse cordão procidente muda de posição e o calibre dos vasos é maior. Distócias DISTOCIA FUNCIONAL - Distúrbio “motor”, a falha na progressão do trabalho de parto, que acontece principalmente em primíparas. DISTOCIA FUNCIONAL POR HIPOATIVIDADE - Parada na progressão do TP por falta de contrações, seja por falta de tônus ou de frequência. - Sua correção pode ser feita usando ocitocina IV ou amniotomia, dependendo da altura fetal. Deve-se escolher uma ou outra, para não ter uma hipercorreção. DISTOCIA FUNCIONAL POR HIPERATIVIDADE - Atividade uterina exagerada, com aumento na frequência e intensidade das contrações. - Geralmente, é derivada de algum processo obstrutivo à progressão do TP (tumor prévio ou desproporção). - Frequente em multíparas, deve ser vista com cautela. - Se for derivada de algum processo obstrutivo, não é reversível e indica-se cesárea. Se atrasar a conduta, pode levar a rotura uterina, hemorragia e complicação perinatal. DISTOCIA FUNCIONAL POR HIPERTONIA - Hipertonia é promovida pelo aumento na frequência das contrações uterinas levando ao aumento do tônus uterino basal. - Aumento do tônus, diminuição do intervalo entre contrações e alta frequência delas pode levar a diminuição do fluxo sanguíneo placentário e hipóxia fetal. - É frequente em pctes que usam ocitocina. Por ser medicamento de vida curta, resolve-se o problema suspendendo sua administração. DISTOCIA DE DILATAÇÃO ou INCOORDENAÇÃO - Definida pela não progressão na dilatação do colo uterino em pcte em fase ativa de TP, com contrações adequadas para o momento e sem causas obstrutivas aparentes. - A contração ocorre sem um sentido direcional, logo, o parto não progride. - Trata-se esses casos realizando analgesia do parto. Se não tiver resposta, amniotomia e ocitocina podem ser utilizadas. DISTOCIA DE TRAJETO - Decorre de anormalidades ósseas ou de partes moles, que levam a um estreitamento do canal de parto, dificultando ou impedindo a evolução fisiológica do TP e a passagem normal do feto. DISTOCIA ÓSSEA - Anormalidade na forma, dimensões ou na inclinação da pelve, que dificultam a progressão ou ultimação do parto. Podem ocorrer isolada ou simultaneamente e são chamadas de vícios pélvicos. DIAGNÓSTICO EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 - Geralmente se dará durante o trabalho de parto. - Avaliam-se os diâmetros dos estreitos superior, médio e inferior. Estreito superior: Se o promontório é inacessível à ponta do dedo do examinador, o diâmetro anteroposterior tem dimensões adequadas ao parto vaginal. - Sinal de Pinard: baixar o polo cefálico em direção à escavação. Se o pube for mais saliente que o parietal anterior, a proporção será mínima, se ficar no mesmo nível há desproporção, se for maior, há desproporção. - Sinal de Muller: parietal está mais alto do que a borda superior da sínfise púbica. Força-se a entrada da apresentação na bacia e através do toque vaginal, com a outra mão, avalia-se o grau de penetração. Quanto mais alto o polo cefálico, maior desproporção. Estreito médio: polo cefálico insinuado mas encravado no estreito médio. Tem diagnóstico difícil. - Suspeita-se quando há antecedentes de partos difíceis, espinhas ciáticas proeminentes e curvatura do sacro reduzida. - Estaciona no plano 0 de De Lee. Estreito inferior: geralmente ocorre junto com o médio. Deve ser considerada quando o bituberoso se encontra inferior a 8cm. Vício pélvico A definição deve ser feita através da pelvimetria, que avalia biometricamente a bacia obstétrica e os seus principais parâmetros limites para a distocia são: conjugata vera obstétrica menor que 10 cm (estreito superior), bi-isquiático menor que 9,5 cm (estreito médio) e bituberoso menor que 8 cm (estreito inferior). Definido qualquer desses parâmetros, a cesariana é mandatória. DISTOCIA DE PARTES MOLES E TUMORES PRÉVIOS Colo - Edema (geralmente lábio anterior), hipertrofia e estenose cervical (pode ser anatômica e patológica por sequela de infecção, cicatriz, cauterização, cerclagem) Vagina - Presença de septos, dificultando o parto, podendo levar a hemorragia. - O diagnóstico antes da gestação permite sua secção de forma eletiva e tranquila, reforçando a necessidade de avaliar pctes que quer ou tem risco de gestar. Vulva e períneo - Varizes, edema, bartholinites agudas, condiloma acuminado, Hipoplasia e rigidez. Geralmente não leva a distocia grave, impedindo parto vaginal. Tumores prévios - Tumores que se colocam à frente da apresentação dificultando ou impedindo a progressão fetal. - Ex: miomas, carcinomas de colo, tumores de ovário e mais raramente, os tumores de parede vaginal, reto, rins pélvicos e fecalomas. - Conduta na maioria das vezes é cesariana. DISTOCIA BIACROMIAL - Se dá quando a apresentação é cefálica, polo cefálico já se desprendeu, mas os ombros não se soltam. - Fatores de risco: obesidade materna, pós-datismo e diabetes gestacional. - Medidas preventivas: controlar ganho de peso materno no pré-natal, efetuar rastreamento de DMG e se tiver controlar glicemia materna, identificar fetos macrossômicos pelo USG, avaliar tamanho da pelve materna. - Assistência à distócia biacromial: Não tracionar a cabeça fetal: pode levar À lesões do plexo braquial ou bulbo. Manobra de McRoberts Manobra de Rubin Manobra de Woods Manobra de Matthes Manobra de Zavanelli Indicações de cesárea - Realizada quando o médico-assistente e/ou pcte acreditam que a via abdominal vai proporcionar um melhor resultado materno e/ou fetal. - A maioria das indicações é relativa. As mais frequentes são a falha na progressão do trabalho de parto, sinais de alteração na vitalidade fetal, cesarianas prévias e as posições fetais anômalas. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 INDICAÇÕES ABSOLUTAS Cicatriz uterina prévia corporal ou cesariana prévia o Geralmente entre 36sem - 38sem+6d Ruptura uterina o Distensão segmentar prevê uma ruptura. Situação fetal transversa Herpes genital ativo o Lesões genitais ativas, sintomas prodromais (queimação) ou uma primeira infecção durante o último trimestre. Prolapso de cordão umbilical o Cordão prolapsado é vulnerável à compressão, oclusão da veia umbilical e vasoespasmo da artéria umbilical, podendo comprometer a oxigenação fetal. o Deve ocorrer pela via mais rápida e segura. Morte materna com feto vivo Falha imediata da ressuscitação na parada cardiorrespiratória materna Desproporção cefalopélvica: geralmente diagnosticada na fase ativa do TP, com 6 ou mais cm de dilatação. o Sinais clínicos: útero maior ou igual 4/10min, bolsa rota, edema de colo e parada de progressão. Vasa prévia o Se o diagnóstico acontece durante o pré-natal, deve-se considerar cesárea entre 34-35sem. Se acontecer a rotura do vaso, o nascimento deve ser pela via rápida. Apresentação pélvica (eletiva) Gemelar com o primeiro não cefálico Gemelar monoamniótico Nas gestações duplas diamnióticas, quando o primeiro está cefálico, o PN pode ser tentando, independenteda corionicidade. Acretismo placentário e Placenta prévia o Se placenta prévia é diagnosticada, possibilidade de acretismo é considerada, e esse risco aumenta de acordo com o n° de cesáreas prévias. INDICAÇÕES RELATIVAS Macrossomia fetal: se houver distocia de ombro, feto > 5000g em mulheres sem DM ou feto > 4500g em mulheres com DM. Descolamento prematuro de placenta: realiza-se na maioria dos casos, com exceção de quando a via baixa é mais rápida. Gemelar com três ou mais fetos Cardiotocografia categoria III Diástole zero ou reversa na artéria umbilical Alteração no ducto venoso Apresentação cefálica defletida Vaginismo Duas ou mais cesarianas prévias Situação fetal não tranquilizadora com falha nas medidas corretivas HIV+ com CV desconhecida ou acima de 1000 c/ml o 38ª semana para diminuir risco de TV História de primo infecção herpética no terceiro trimestre Aloimunização Psicopatias Fatores obstrutivos do canal do parto Coarctação da aorta e síndrome de Marfan Iminência de rotura uterina Acidentes grave de punção em amniocentese ou cordocentese História de distocia de ombro grave em parto anterior Rotura perineal de quarto grau em parto anterior Falha da indução de parto bem-conduzida Malformação fetal (meningomielocele, hidrocefalia com macrocrania, defeito de parede anterior com fígado extracorpóreo, teratomas sacrococcígeos, hidropisia) Distocia funcional ou falha na progressão do trabalho de parto: falha das contrações uterinas, variações de posição fetal ou desproporção cefalopélvica. Má posição fetal: cefálico na posição occipital posterior, transversa ou defletida levam a maiores taxas de complicações perinatais e cesarianas. Pcte com TP e apresentação córmica, faz cesárea. Situação fetal não tranquilizadora: Cesariana a pedido: conveniência do nascimento programado, medo da dor ou complicações do parto vaginal, experiências pessoais negativas com o parto, medo de necessitar de parto instrumental. Deve-se falar para a pcte sobre os riscos. Parto vaginal operatório: fórceps e vácuo - Fórceps é um instrumento destinado a apreender a cabeça fetal e extraí-la através do canal do parto Fórceps de Simpson: formado por dois ramos cruzados. - O ramo esquerdo entra em contato com o lado esquerdo da pelve, possui uma reentrância na articulação e é chamado de ramo fêmea. - O ramo direito, que entra em contato com o lado direito da pelve, é o ramo macho e se articula por encaixe com o ramo esquerdo. - Cada ramo tem um “cabo” e a “colher”, que quando junto, temos o pedículo ou haste. - Colher tem curvatura pélvica (convexa) para se adaptar a curvatura e a curvatura cefálica (côncava), que se adapta à cabeça fetal. Fórceps de Kielland: é de dois ramos cruzados. - Ramo esquerdo com chanfradura e ramo direito liso. - Na parte distal de cada ramo tem a colher, que não tem curvatura pélvica, tornando o instrumento praticamente reto. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 INDICAÇÕES DO FÓRCEPS - Quando ele está indicado, são desfavoráveis as condições para cesariana, pois há risco de extração difícil podendo haver rotura do útero e de vasos. Período expulsivo prolongado - Parada de progressão no final do segundo estágio do parto. - Pode ser por inércia uterina, mal posição do feto, falta de prensa abdominal ou configuração anormal do canal do parto. - Se for por parada de rotação ou apresentação anômala, que quando corrigidas eliminam a desproporção, a indicação é indiscutível, mas se a capacidade pélvica é limítrofe, o parto evolui com dificuldade e a cabeça está grandemente moldada, a melhor opção é a cesariana. - A parada de progressão em posterior ou transversa pode se prolongar por estar a cabeça defletida, cuja correção tem que ser feita com fórceps antes da rotação. Fatores maternos - Evitar o esforço secundário em portadores de certas doenças cardíacas, pulmonares ou neuromusculares. Isso são indicações profiláticas. Suspeita de comprometimento fetal - Indicação é soberana em casos de hipóxia fetal. - Numa situação limite, muitos optam pelo fórceps de prova, que só deve ter tentado após judiciosa avaliação semiótica, analgesia e anestesia adequadas e mesmo os mais experientes, recomenda-se ouvir uma outra opinião. AÇÕES DO FÓRCEPS - Rotação e tração podem ser exercidas simultaneamente ou tempos sucessivos, dependendo de cada situação. Preensão - Ocorre por compressão, como uma alavanca. - Distribui a compressão sobre a cabeça fetal uniformemente por toda a superfície das colheres. Apoia- se as colheres nos parietais e malares, terminando na arcada zigomática do mento. - Avaliação da pega ideal: Sutura sagital tem que estar perpendicular e equidistante dos pedículos A pequena fontanela deve ficar a um dedo de largura do plano dos pedículos Nas colheres fenestradas deve caber apenas a polpa digital entre cabeça fetal e cauda das colheres Rotação - Dispensa o movimento de circundação. - O giro dos cabos é feito como uma “chave na fechadura”, sendo chamado de fórceps rotatório. - Dependendo da altura do canal de parto onde está o polo cefálico, é preciso colocá-lo para cima ou para baixo, buscando um maior diâmetro para fazer a rotação. - Fórceps de Kielland corrige o assinclitismo, pois permite pega assimétrica e pelo deslizamento da articulação avalia o grau do assinclitismo e o corrige pela tração de um dos ramos, fazendo uma prega satisfatória. Tração - A principal ação do fórceps. - A força exercida é gerada nos braços. Tração deve ser feita na linha central da bacia obedecendo curvatura pélvica. - Tração axial com força exercida para baixo com uma mão e tração com a outra. A compressão exercida sobre a cabeça fetal é aumentada em relação à preensão. Condições fetais - Cabeça bem encaixada e em plano positivo. - USG intraparto pode auxiliar na confirmação da variedade de posição. - Diagnóstico de variedade da posição, altura da apresentação e de presença de assinclitismo. Condições maternas - Anestesia neuroaxial é preferível - Bexiga vazia, colo dilatado, membranas rotas - Pelve adequada em relação ao tamanho fetal estimado. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA APLICAÇÃO DO FÓRCEPS 1. Segura o instrumento articulado em frente ao introito vaginal numa posição que ocupará a posição da pelve depois da preensão; 2. Escolher ramo a ser introduzido e reserva do segundo ramo ao alcance da mão correspondente; 3. Aplicação do primeiro ramo no diâmetro parietomalomentoniano; 4. Aplicação do segundo ramo no lado oposto. Abaixamento, translação e torção. 5. Articulação dos ramos, que ocorrerá sem forçar se a pega estiver correta. Tração de prova avalia a correção da pega. 6. Rotação 7. Tração: executada durante as contrações. 8. Desarticulação e retirada do primeiro ramo, o ramo que está mais livre, depois o segundo ramo. 9. Revisão de partes moles EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 9 POSIÇÕES DIRETAS Occipitopúbicas - Primeiro ramo aplicado é o esquerdo. A colher interposta entre face ventral da mão e cabeça fetal. - O segundo ramo, direito, é aplicado. - Se a suboccipital alcança o subpube, interrompendo a tração. Occipitoossacras - Não há necessidade de rotação. - Por estar a cabeça defletida é preciso a correção com um movimento para cima dos cabos. POSIÇÕES OBLÍQUOAS Occitoanterior esquerda - Fórceps para cima e para a esquerda. - Primeiro ramo com movimento retilíneo em diagonal, deslizando até o mento. - Segundo ramo na posição oposta num movimento de abaixamento, translação e torção. Occíptoanterior direita - Descruzamento dos ramos antes da articulação. Oblíquas posteriores - Pode-se tentar a rotação manual e se necessário, realizar a colocação dofórceps. Posições transversas - Na falha da rotação digital, o fórceps de Kielland permite rotação e corrigir o assinclismo. - Se cabeça estiver baixa, sínclitica e pouco moldada, usar o fórceps de Simpson. VÁCUO EXTRATOR Indicações e contraindicações - As indicações são as mesmas do parto assistido a fórceps, as contraindicações são as mesmas. - Poderíamos acrescentar: gestação < 34sem por risco de hemorragia intraventricular fetal, distúrbios de hemocoagulação fetal, doenças fetais desmineralizantes, doenças do tecido conjuntivo. Técnica Revisar aplicabilidade; esvaziar a bexiga Determinar variedade de posição e localizar o ponto de flexão, introduzir a cúpula e coloca-la sobre o ponto de flexão. Criar pressão negativa de 200 e depois aumentar para 450-600mmHg, realizar a tração, em sentido para baixo e depois para cima. Morbidades - No feto, podem ocorrer manchas ou cefalohematomas. - Complicação mais grave: hemorragia intracraniana. - Na parturiente, podem ocorrer lesões no assoalho pélvico ou no esfíncter anal. - Após o parto, é obrigatório o exame do couro cabeludo fetal e revisão dos tecidos maternos. - ATB profilática dose única para roturas perineais de 3º e 4º grau. DISPOSITIVO DE ÓDON - Dispositivo de polietileno e que infla como uma bolsa, envolvendo a cabeça fetal. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 10
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