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Fonte: FEBRASGO, Rezende Obstetrícia, Medcurso 2020, Dr. Ricardo Cobucci Introdução A placenta prévia é de definida como a presença de tecido placentário total ou parcialmente inserido no segmento inferior do útero, após 28 semanas de gestação. Ela pode ser classificada em: → Placenta prévia: a placenta recobre total ou parcialmente o orifício interno do colo uterino (anteriormente denominada placenta prévia centrototal ou centroparcial). → Placenta de inserção baixa: a borda placentária insere-se no segmento inferior do útero, não chega a atingir o orifício interno e localiza-se em um raio de 2cm de distância desta estrutura anatômica (anteriormente denominada placenta prévia marginal). Ela aumenta o risco de hemorragia no anteparto (RR 9,8), no intraparto (RR 2,5) e também no período pós-parto (RR 1,9). Por isso, mulheres com placenta prévia são mais sujeitas a receber transfusões sanguíneas, assim como passar por procedimentos cirúrgicos. Além disso, há aumento das complicações neonatais, especialmente, aquelas relacionadas à prematuridade, anemia, hipóxia e restrição do crescimento fetal. A incidência de placenta prévia varia na literatura de 0,26% a 1,0%. Essa incidência tem aumentado em consequência do maior número de cesáreas nos últimos anos. Dentre os vários fatores de risco, como gestações múltiplas (as placentas competem por um local no fundo do útero), antecedente de placenta prévia, número de curetagens uterinas, idade materna avançada, multiparidade e tabagismo (micronecroses na vascularização do útero), o principal é o número de cesáreas prévias (torna o endométrio ruim para a placenta encontrar um local ideal para sua inserção). Diagnóstico O diagnóstico clínico de placenta prévia deve ser suspeitado diante de sangramento vaginal indolor de coloração vermelho-viva + imotivado + de início súbito + reincidente + de gravidade progressiva + na segunda metade da gravidez. Progressivo Repetida Espontâneo Vermelho vivo Indolor Ausência de hipertonia Contrações uterinas podem ser encontradas durante ou após o episódio hemorrágico, sendo que o tônus uterino estará normal nos seus intervalos. O exame de toque vaginal é proscrito pelo risco de ocasionar hemorragia abundante. Em menos de 10% dos casos de placenta prévia, as gestantes não apresentarão sintomas e o diagnóstico será realizado por exame ultrassonográfico de rotina. A experiência clínica tem demonstrado superioridade e segurança na realização da ultrassonografia a transvaginal nos casos de placenta prévia, sendo considerada, atualmente, o padrão-ouro para esse diagnóstico. Se a suspeita de placenta prévia ocorrer antes de 28 semanas de gestação em paciente assintomática, uma nova ultrassonografia a deve ser realizada na 32a semana. Isso ocorre porque, para cerca de 90% das placentas prévias diagnosticadas no segundo trimestre, o diagnóstico não será confirmado no termo. O toque vaginal não é indicado, visto que pode piorar a hemorragia. Tratamento Mesmo considerando-se que, em boa parte dos casos, haverá migração placentária, as pacientes devem ser informadas do diagnóstico e dos cuidados a serem seguidos. Migração placentária o O uso sistemático da ultrassonografia na assistência pré-natal mostrou que a placenta muitas vezes “migra” ao longo da gestação. o Isto quer dizer que a placenta altera suas relações anatômicas com o segmento inferior uterino. Este fato parece resultar do crescimento diferencial das porções uterinas na gestação. o A migração placentária geralmente termina em torno da 28ª semana de gravidez. o Nesse momento, o crescimento do útero pode sobrepujar o da placenta, transformando uma placenta prévia em uma placenta normalmente inserida. Isto explica porque somente após as 28 semanas de gestação é que se pode confirmar o diagnóstico de placenta prévia! A conduta desta paciente depende da intensidade do sangramento, da idade gestacional e do grau de obstrução mecânica ao canal do parto (tipo de inserção viciosa da placenta). As gestantes, mesmo que assintomáticas, devem ser orientadas a procurar o hospital diante de qualquer sinal de sangramento, evitar atividade física exagerada, assim como relações sexuais, principalmente após a 28a semana. Se houver migração placentária e normalização da inserção da placenta, a gestante pode retornar ao pré-natal de risco habitual, caso não possua outras morbidades. Na presença de sangramento vaginal ou contrações uterinas ‒ diante da suspeita de placenta prévia ‒, recomenda-se internação imediata da gestante para controle materno e de vitalidade fetal. Na internação devemos: → Obter acesso venoso calibroso e manter estabilidade hemodinâmica e debito urinário adequado. → Aferir a pressão arterial e o pulso em intervalos de 15 min a 1 hora (dependendo da intensidade do sangramento). → Avaliar a concentração de Hb e Ht, a função renal e determinar o tipo sanguíneo. → Disponibilizar hemoderivados → Administrar anti-D em gestantes Rh negativas. → Administrar corticoides de forma individualizada nas gestantes entre 25 e 34 semanas, para o amadurecimento pulmonar fetal. Expectante Quando o sangramento materno não for intenso em gestações com fetos pré termo, pode ser adotada a conduta expectante, desde que seja possível um bom controle materno e fetal. Recomenda-se que as gestantes portadoras de placenta prévia permaneçam em repouso e recebam suplementação de ferro elementar (60 mg, por via oral, três ou quatro vezes ao dia). Para casos selecionados de placenta prévia, com sangramento vaginal inicial que cessou espontaneamente por no mínimo 48 horas e a paciente manteve-se clinicamente estável, pode ser proposto o controle domiciliar. Ativa Deve-se indicar imediata resolução da gestação diante de sangramento materno incontrolável (alteração hemodinâmica), vitalidade fetal alterada, maturidade fetal comprovada ou idade gestacional acima de 37 semanas, por cesárea. Para o adequado planejamento cirúrgico, a localização da placenta deve ser conhecida. Sangue e hemoderivados devem estar disponíveis no intraoperatório, se necessário. Apenas a PP centro total possui indicação absoluta de cesárea. Na PP marginal, a indicação é parto normal, visto que a placenta não cobre o colo do útero. Nos casos em que se optar pelo parto vaginal, a amniotomia deverá ser sempre realizada, pois favorece a descida da apresentação (insinuação), a qual comprime mecanicamente a borda placentária (segmento inferior do útero) e diminui o sangramento. Ela não deve ser realizada nos casos de placenta prévia total ou marginal, já que não é possível rompermos com segurança a bolsa amniótica sem traumatizar a placenta. Já na PP centro parcial, a placenta cobre parcialmente o colo do útero, e como não há tanto sangramento, podemos fazer cesariana eletiva com 36-37 semanas. Deve-se evitar incisar a placenta durante a histerotomia. Nas placentas posteriores e nas anteriores sem acretismo, deve ser realizada uma histerotomia transversa. Se a placenta ficar à mostra, esta deve ser descolada manualmente, no sentido da menor área placentária, para que se possa ter acesso à cavidade uterina. A principal complicação da placenta prévia é o acretismo placentário, por isso é importante ficar atento naquelas gestantes com PP. É a aderência anormal da placenta ao miométrio ‒ que apresenta ausência parcial ou total da decídua basal e desenvolvimento anormal da camada brinoide ‒. Pode ocorrer a aderência de todos os cotilédones (acretismo total), de alguns (acretismo parcial) ou de um ou parte de um deles (acretismo focal). Os principais fatores de risco para o acretismoplacentário são a cesárea anterior, curetagem uterina, miomectomia, cirurgia vídeo- histeroscópica, idade materna acima de 35 anos e multiparidade. A média estimada de perda sanguínea no parto com acretismo placentário é de 2,5 L, sendo associada à transfusão maciça de hemocomponentes, histerectomia, lesão de bexiga e/ou ureter, intestino e pós-operatório em Unidade de Terapia Intensiva. Quanto à profundidade da penetração da vilosidade corial, a placentação anormal pode ser classificada em: acreta, increta e percreta. Placenta Acreta: as vilosidades penetram mais profundamente no endométrio, até a camada esponjosa, e ficam mais aderentes. Há plano de clivagem, porém este é irregular e defeituoso, o que dificulta o secundamento. Na placenta acreta, a conduta é a retirada manual da mesma, seguida de curetagem. Em caso de insucesso, a histerectomia deve ser indicada. Cabe aqui lembrar que se não houver desejo reprodutivo, a Histerectomia Total Abdominal (HTA) é, ainda, o tratamento padrão- ouro. Placenta Increta: as vilosidades penetram até o miométrio. Não há plano de clivagem para o descolamento manual, que é impossível. As tentativas de extração manual não são bem- sucedidas, e está indicada a histerectomia. Dependendo da localização da placenta, remove-se todo o útero ou parte dele. Sempre que possível deve ser realizada HTA. Placenta Percreta: as vilosidades alcançam a serosa chegando a perfurá-la, e causam muitas vezes hemorragias intraperitoneais. Na placenta percreta, as vilosidades coriônicas penetram na serosa uterina e podem invadir órgãos adjacentes. Assim como nas placentas incretas, as tentativas de extração manual não são bem-sucedidas, e está indicada a histerectomia. Dependendo da localização da placenta, remove-se todo o útero ou parte dele. Mas sempre que possível deve ser realizada HTA. A placenta increta é mais grave do que a acreta, e a percreta é mais grave do que a increta. Quadro clínico Na presença de placenta prévia que não sangra, deve-se suspeitar de acretismo. A hemorragia semelhante à placenta prévia pode ocorrer na presença do acretismo em razão da formação do segmento inferior do útero e da dilatação do orifício interno que leva ao rompimento da área da placenta que recobre o orifício interno, com isso, ocasionando o sangramento. Diagnóstico No pré-natal, sempre que se associar placenta prévia e cesárea anterior, o diagnóstico de acretismo deve ser buscado, sendo muito importante para planejamento do parto. O obstetra deve solicitar uma ultrassonografia com equipe experiente para diagnóstico de acretismo placentário. Quando a ultrassonografia não for esclarecedora, nos casos de placenta prévia com predomínio posterior, a ressonância magnética pode ser solicitada. Planejamento do parto O parto deve ser realizado com 36/37 semanas, em centro de referência com experiência em casos de acretismo e uma equipe multidisciplinar. Os cuidados neste parto são: → Reserva de hemocomponentes e UTI Termo de consentimento livre e esclarecido assinado; → Acesso venoso com jelco 16 (dois acessos); → Anestesia: duplo bloqueio; → Sondagem vesical com Foley 18; → Radiologia intervencionista (contestada atualmente, restrita a situações especiais); → Cesárea com histerectomia fúndica (corporal, fúndica); → Tração suave do cordão, não tentar descolamento manual; → Histerectomia com placenta in situ; → Tamponamento pélvico em casos de sangramento difuso com instabilidade hemodinâmica. É importante observar se a placenta é acreta, increta ou percreta, pois caso acreta, é importante tentar primeiro uma curetagem/extração manual e depois algum procedimento mais invasivo. Nos casos de emergência, a cesariana deve ser feita com planejamento semelhante, com histerotomia fúndica, extração fetal, fechamento do útero com a placenta in situ e histerectomia. Conservar o útero deve ser tratamento de exceção. Alguns autores preconizam deixar a placenta in situ para aquelas que manifestam desejo reprodutivo no futuro ou caso o diagnóstico seja feito no intraoperatório. Por estas complicações, devemos pedir que a paciente assine o termo de consentimento livre. O descolamento prematuro de placenta (DPP) é a separação da placenta normalmente inserida, de forma parcial ou completa, antes do nascimento do feto. Os achados clínicos principais são sangramento vaginal e dor abdominal, muitas vezes, acompanhados por contrações uterinas hipertônicas e um padrão de frequência cardíaca fetal não tranquilizador. A taxa de mortalidade perinatal é aproximadamente 20 vezes maior em relação às gestações sem DPP (12% versus 0,6%, respectivamente). A maioria das mortes perinatais (até 77%) ocorre intraútero. É a prematuridade a principal causa de mortalidade pós-natal. O DPP complica aproximadamente 1% das gestações, com dois terços classificados como graves devido à mortalidade materna, fetal e neonatal que gera. É responsável por cerca de 10% dos partos prematuros. Classificação É classificado em três graus, levando-se em conta os achados clínicos e laboratoriais: I Assintomático ou apresenta sangramento genital discreto, sem hipertonia uterina significativa e com vitalidade fetal preservada. Sem repercussões hemodinâmicas e coagulopatias materna. O diagnóstico é realizado após o nascimento por presença de coágulo retroplacentário. A via de parto recomendada é vaginal. II Sangramento genital moderado com hipertonia uterina. Repercussões hemodinâmicas na mãe, com aumento de frequência cardíaca, alterações posturais da pressão arterial e queda do nível de fibrinogênio. Feto vivo, porém com vitalidade fetal prejudicada. A via de parto recomendada é cesariana. III Caracteriza-se por óbito fetal e alterações mais acentuadas de hipotensão arterial materna e hipertonia uterina. IIIA: coagulopatia instalada IIIB: sem coagulopatia instalada. A via de parto recomendada é vaginal. Fisiopatologia A causa imediata do DPP é a ruptura dos vasos maternos na decídua basal. O sangue acumulado atinge a zona de clivagem decíduo-placentária e inicia a separação. O sangramento pode ser pequeno e autolimitado, ou pode continuar a dissecar através da interface placenta-decidual, levando à separação completa ou quase completa da placenta. Não importa a etiologia do DPP, o sangue chega à zona de clivagem deciduoplacentária e inicia a separação; vasos maternos se abrem e o espaço retroplacentário é invadido. O útero, que reage com hipertonia, aumenta a tensão no local da coleção sanguínea, provocando o descolamento de novas áreas. Parte do sangue coagula, fica aprisionada atrás da placenta e será eliminada somente após o parto, constituindo o hematoma retroplacentário (A). Mesmo na formação de coágulos retroplacentários, esse sangue pode irritar a cavidade uterina e favorecer o início do trabalho de parto. Outra parte descola as membranas e flui para o exterior, configurando a hemorragia externa (B), que ocorre em 80% dos casos, nos 20% restantes, o sangue fica totalmente retido, determinando a hemorragia oculta. Em 10 a 20% dos casos de DPP, a hemorragia oculta é intensa; as hemácias e o soro, provenientes do coágulo retroplacentário, são impulsionados pelo miométrio, em que dissociam o sistema de miofibrilas. Trata-se do quadro da apoplexia uteroplacentária ou útero de Couvelair, que pode gerar uma hemorragia incontrolável. Ocasionalmente, o sangue pode alcançar a cavidade amniótica, por soluções de continuidade das membranas, e causar o hemoâmnio. Quando as membranas permanecem íntegras e se encontram totalmente descoladas pelo sangue, o pesodo hematoma retroplacentário e o da própria placenta podem determinar a rotação intrauterina do ovo, constituindo a eventualidade rara do prolapso da placenta. A porção descolada da placenta é incapaz de permutar gases e nutrientes; quando a unidade fetoplacentária restante é incapaz de compensar essa perda de função, o feto é comprometido. Uma pequena proporção dos descolamentos está relacionada a eventos mecânicos súbitos, como traumatismo abdominal ou descompressão uterina rápida, que causam a tração da placenta inelástica devido ao alongamento ou à contração súbita da parede uterina subjacente. As anormalidades uterinas, o uso de cocaína e o tabagismo são causas menos comuns de DPP. As anomalias uterinas (por exemplo, o útero bicorno), sinéquias uterinas e leiomioma são locais impróprios mecânica e biologicamente para implantação placentária. A maioria dos descolamentos parece estar relacionada a um processo patológico placentário crônico. Nesses casos, anormalidades no desenvolvimento precoce das artérias espiraladas provocariam necrose decidual, inflamação placentária e, possivelmente, infarto e, finalmente, disrupção vascular e sangramento. A hemorragia arterial de alta pressão na área central da placenta leva ao desenvolvimento rápido de manifestações clínicas potencialmente fatais de descolamento (por exemplo, sangramento grave, coagulação intravascular disseminada materna e anormalidades da frequência cardíaca fetal). A hemorragia venosa de baixa pressão, tipicamente na periferia da placenta (descolamento marginal), é mais provável que resulte em manifestações clínicas que ocorrem ao longo do tempo (por exemplo, hemorragia intermitente leve, oligo-hidrâmnia e restrição de crescimento fetal associada à redistribuição do fluxo sanguíneo cerebral). Fatores de risco O DPP prévio é o fator de risco mais importante para o descolamento. As síndromes hipertensivas representam a condição clínica mais frequentemente associada ao DPP. O tabagismo é um dos poucos fatores de risco modificáveis e está associado a um risco aumentado de 2,5 vezes de descolamento suficientemente grave para resultar em morte fetal, sendo que o risco aumenta em 40% para cada maço de cigarro fumado por dia. Complicações Alterações renais: o DPP é a causa mais comum de necrose cortical aguda na gravidez. Síndrome de Sheehan ou necrose hipofisária pós- parto: complicação importante, principalmente nos casos com grande sangramento, choque e coagulação intravascular disseminada (CIVD). Além dos fatores de risco para a necrose hipofisária, a adeno-hipófise sofre hipertrofia na gravidez, devido ao aumento das células lactóforas, produtoras de prolactina (PRL), pelo estímulo estrogênico, o que demanda maior afluxo sanguíneo. No pós-parto, a mulher tem agalactia, amenorreia e, com o tempo, insuficiência da suprarrenal e hipotireoidismo. A ressonância magnética mostra imagem característica de “sela vazia”. Alterações da hemocoagulação: a cascata da coagulação é ativada pela liberação de tromboplastina (fator tecidual) na circulação materna, proveniente do hematoma, com o consumo dos fatores da coagulação determinando a CID. A CID está presente em 10% dos casos de DPP, especialmente nos graves, suficientes para determinar o óbito fetal. Diagnóstico Sangramento escuro + início súbito + hipertonia + sofrimento fetal + diagnóstico clínico. O diagnóstico é eminentemente clínico, mas os achados de estudos de imagem, laboratório e pós- parto podem ser utilizados para apoiar o diagnóstico clínico. Mulheres com DPP agudo, classicamente, apresentam-se com sangramento vaginal leve a moderado e dor abdominal e/ ou dor nas costas, acompanhadas de contrações uterinas. Em pacientes com sintomas clássicos, anormalidades da frequência cardíaca fetal ou ausência de batimentos e/ou coagulação intravascular disseminada apoiam fortemente o diagnóstico clínico e indicam DPP extenso. A USG é importante para identificar um hematoma retroplacentário e para excluir outros distúrbios associados a sangramento vaginal e dor abdominal. Um hematoma retroplacentário é o achado clássico e apoia fortemente o diagnóstico clínico, mas está ausente em muitos pacientes. USG o O coágulo é identificado apenas à ultrassonografia em 25 a 50% dos casos. A imagem sonográfica no DPP depende da extensão e da localização do coágulo, assim como da duração do acidente. o A localização mais frequente do hematoma é a subcoriônica. Na fase aguda, o hematoma costuma ser hiper/isoecoico comparado com a placenta; nesses casos, a ultrassonografia pode mostrar apenas placenta heterogênea e espessada (> 5 cm). o Posteriormente, dentro de 1 semana, o hematoma torna-se hipoecoico e, após 2 semanas, sonolucente. No pós-parto, a ausência de achados placentários característicos não exclui o diagnóstico. Nos achados laboratoriais, o grau de hemorragia materna correlaciona-se com o grau de anormalidade hematológica; os níveis de fibrinogênio apresentam a melhor correlação com a gravidade do sangramento, a coagulação intravascular disseminada e a necessidade de transfusão de múltiplos produtos sanguíneos. Os valores iniciais de fibrinogênio de ≤200 mg/dL têm um valor preditivo positivo de 100% para hemorragia pós-parto grave, enquanto que níveis de ≥400 mg/dL têm um valor preditivo negativo de 79%. O DPP leve pode não estar associado a quaisquer anormalidades dos testes de hemostasia comumente usados. O DPP grave pode levar à coagulação intravascular disseminada (CIVD) e, em 10% a 20% desses leva ao óbito fetal. O diagnóstico de CIVD aguda é confirmado pela demonstração de aumento da geração de trombina (por exemplo, diminuição do fibrinogênio) e aumento da fibrinólise (por exemplo, produtos elevados de degradação de fibrina [PDF] e D-dímero). Diagnósticos diferenciais Em mulheres grávidas com suspeita de descolamento, o diagnóstico diferencial de sangramento vaginal, acompanhado de dor e contrações, inclui: → Trabalho de parto; → Placenta prévia; → Ruptura uterina; → Hematoma subcoriônico. Trabalho de parto → Os sinais e sintomas do trabalho têm um início mais gradual do que os de descolamento. → Além disso, ele é caracterizado por contrações uterinas leves em intervalos infrequentes e/ou irregulares; as contrações tornam-se mais regulares e dolorosas ao longo do tempo e são acompanhadas por dilatação cervical e/ou apagamento. Placenta prévia → A apresentação clínica característica da placenta prévia é sangramento vaginal indolor após 20 semanas de gestação, no entanto 10% a 20% das mulheres apresentam contrações uterinas associadas ao sangramento. → Com isso, o DPP e a placenta prévia podem ser difíceis de distinguir clinicamente, uma vez que o descolamento pode não estar associado à dor significativa; e, por sua vez, a placenta prévia pode não ser indolor. → Em mulheres grávidas com hemorragia vaginal, uma ultrassonografia deve ser realizada para determinar se a placenta prévia é a fonte do sangramento. Ruptura uterina → A ruptura uterina é mais comum em mulheres com histerotomia prévia. → Os sinais de ruptura uterina podem incluir anormalidades do ritmo cardíaco fetal, sangramento vaginal, dor abdominal constante, cessação das contrações uterinas, hipotensão materna e taquicardia. → Muitos desses sintomas são comuns ao descolamento porque a ruptura uterina geralmente leva à DPP. Conduta A conduta deve ser individualizada e depende da extensão e classificação do DPP, do comprometimento materno e fetal e da idade gestacional. As gestantes com suspeita de DPP devem ser monitoradas avaliando-se o estado hemodinâmico materno (PA, pulso e diurese) e a vitalidade fetal. A qualquer sinal de hipotensão ou instabilidade hemodinâmica, deve-se instituir dois acessos venosos calibrosos com infusão de 1000 ml de solução cristaloide, com velocidade de infusão de 500 ml nos primeiros 10 minutos e manutenção com 250 ml/h mantendo-se débito urinário > 30mL/h. A monitorização cardíaca fetal contínua desde que o feto esteja em risco de hipoxemia ou desenvolver acidose. Feto viável, quando o parto vaginal não for iminente: a via de parto preferida deve ser a abdominal por cesárea de emergência. Feto vivo com cardiotocografia (CTG) categoria III e o parto vaginal for iminente (próximos 20 minutos): pode-se optar pelo parto vaginal espontâneo ou instrumental. Se parto vaginal não for iminente, deve-se indicar a cesárea. Feto vivo com CTG categoria II: a via de parto dependerá da idade gestacional, dilatação cervical e se existe instabilidade fetal ou materna. Fetos vivos com CTG categoria I: a via de parto dependerá da estabilidade hemodinâmica materna e da idade gestacional. Feto morto e mãe hemodinamicamente estável: deve-se optar pelo parto vaginal. Amniotomia o A redução do volume do líquido amniótico após a amniotomia em uma paciente com DPP diminui o volume uterino e facilita a compressão das artérias espiraladas, localizadas no miométrio. o Com isso, existe uma redução do sangramento no local do descolamento e, consequentemente, uma redução na progressão do DPP. o Outro benefício da amniotomia no DPP é a redução da entrada de tromboplastina na circulação materna, pelo mesmo motivo explicado anteriormente. Conduta conservadora se mulher e feto estão estáveis e não há evidencia de hemorragia maior ou coagulopatia: → Corticoide → Tocólise se trabalho de parto pré termo (?) → Avaliação do bem estar fetal (USG e/ou CTG) → Programar parto com 37/38 semanas. Óbito fetal o Mais de 50% de área descolada. o 20% evoluem com CID. o Necessidade frequente de hemotransfusão. o Melhor via é a de menor risco materno o Mulher instável: cesariana, se parto vaginal não iminente, adotando medidas de ressuscitação concomitantes. Descolamento crônico As gestantes com este quadro apresentam hemorragia leve, crônica, intermitente e manifestações clínicas de doença placentária isquêmica que se desenvolvem ao longo do tempo, como oligo-hidrâmnia, restrição de crescimento fetal e pré-eclâmpsia. Constitui-se em evento raro, mas associa-se com elevados índices de morbimortalidade maternofetal. Seu principal fator de risco é a presença de cicatriz na musculatura uterina, usualmente secundária a cesariana anterior. As rupturas uterinas são classificadas, em geral, de acordo com a etiologia e podem ser separadas em espontâneas ou traumáticas. → Rupturas traumáticas decorrem de trauma obstétrico (versão podálica interna, pressão no fundo uterino exercida pelo obstetra) ou não obstétrico (violência, acidentes automobilísticos). → Rupturas espontâneas podem ser encontradas em pacientes com história pregressa de cirurgia uterina e raramente naquelas com útero sem cicatrizes. Além disso, elas devem ser distinguidas em completas e incompletas. → As rupturas completas (A e B) caracterizam-se pela solução de continuidade total da parede uterina, resultando em comunicação direta entre as cavidades uterina e peritoneal. Apresentam-se frequentemente como emergência dramática que ameaça a vida maternofetal. → As rupturas incompletas (C) caracterizam-se pelo defeito não extensivo a toda parede uterina, com o peritônio visceral sobrejacente íntegro; frequentemente são oligossintomáticas, podendo ser descobertas incidentalmente. Etiologia O fator de risco mais importante na determinação da ruptura uterina é a presença ou não de uma cicatriz uterina prévia. Essa cicatriz pode ser devido a: miomectomia, perfuração, ferimentos por penetrações abdominais, histeroscopia ou injúrias laparoscópicas. Entretanto, na maioria das vezes, decorre de cirurgia cesariana anterior. O grupo de mais alto risco é representado pelas pacientes submetidas à fertilização in vitro, pela grande frequência, de manipulação uterina. As candidatas à fertilização in vitro devem ser observadas atentamente com ultrassonografia para identificar o local da placentação e desenvolvimento do saco gestacional. A ruptura do útero sem cicatriz é menos frequente e geralmente de origem traumática ou iatrogênica. Apresentação clínica A ruptura uterina ocorre, principalmente, no terceiro trimestre, podendo apresentar-se no pré, intra ou pós-parto. Suas manifestações clínicas observadas em 45% das vezes são: desenvolvimento agudo de dor abdominal intensa e sinais e hemorragia intra- abdominal em uma mulher com história de cirurgia uterina prévia ou trauma recente1 , com ausência de sons cardíacos fetais, cessação das contrações uterinas em associação com sangramento vaginal e choque. O abdômen é, em geral, doloroso e flácido, especialmente se o conteúdo uterino tiver sido liberado na cavidade abdominal, com palpação de partes do corpo fetal, cessação das contrações e sinais de sangramento intraperitoneal. A apresentação mais comum e precoce da ruptura uterina no intraparto é o início abrupto de sofrimento fetal, representado por anormalidades inespecíficas na frequência cardíaca fetal, dor abdominal e cessação abrupta das contrações uterinas. O uso generalizado de analgesia epidural em pacientes com cicatriz uterina prévia pode mascarar a dor da ruptura e retardar o diagnóstico. Apresenta-se no pós-parto, frequentemente com dor e flacidez abdominais, e/ou hemorragia, inclusive persistente, apesar do uso de ocitócico. As manifestações clínicas da ruptura uterina podem ser diferentes se a paciente possuir cicatriz uterina prévia ou não. Porém, alguns sinais são inespecíficos e geralmente não variarão: rigidez abdominal, choque, sangramento uterino, dor abdominal intensa e fácil palpação de partes fetais. O maior risco maternofetal está associado com à demora do diagnóstico e do tratamento de suporte. Síndrome de distensão segmentária ou de Bandl- Frommel Na iminência de ruptura, a paciente fica agitada e ansiosa; as contrações são enérgicas e excessivamente dolorosas, subintrantes, exteriorizando-se em sofrimento contínuo de localização preferentemente hipogástrica. Tal fato desperta, na parturiente, o movimento inconsciente de colocar as mãos no segmento inferior do útero cada vez que o órgão se contrai. Nessa emergência, pela parede abdominal, distante da borda superior da sínfise, próximo ou já à altura da cicatriz umbilical, é possível notar o relevo do anel que separa o corpo uterino do segmento inferior (sinal de Bandl). → É mais comum de ser encontrado do que o próximo. Palpam-se, retesados, os ligamentos redondos, geralmente desviados para a face ventral do útero (sinal de Frommel), imprimindo ambos ao quadro clínico as características da síndrome de distensão segmentária. Ruptura uterina consumada É caracterizada por sinais e sintomas característicos como dor, paralisia do trabalho de parto e hemorragia. Dor: na sequência de contrações uterinas cada vez mais fortes, a ocorrência de dor súbita, de violência maior que as anteriores, lancinante, localizada na região hipogástrica, denuncia o acidente. Paralisação do trabalho de parto: o útero roto não se contrai. Trata-se de um sintoma precoce na ordem cronológica e segue-se à dor penetrante provocada pela ruptura. Nas lesões completas, com extrusão do feto para a cavidade abdominal, o útero se retrai como no pós-parto. De certa maneira, o parto terminou, sendo feto e placenta evadidos para o abdome.Nas rupturas incompletas, o quadro não aparece de maneira tão clara e o útero pode continuar a esboçar contrações quase imperceptíveis. Hemorragia: discreta ou profusa, relata-se por perda vaginal ou permanece oculta, mascarada nos hematomas dissecantes dos ligamentos largos ou nas coleções intracavitárias que enchem os fundos de saco e se espalham acima da pelve, de permeio com as vísceras abdominais. Na inspeção, é importante avaliar que nas pacientes com pequeno panículo adiposo, notam-se duas saliências – uma representada pelo útero vazio e outra constituída de feto em situação indiferente. Já na palpação, é a técnica que confirma e minucia a última informação e, em alguns casos, possibilita que se perceba a crepitação produzida pela passagem de ar para o peritônio, em contiguidade com o tecido subcutâneo da parede abdominal (sinal de Clark – enfisema subcutâneo), por meio da vagina e da solução de continuidade uterina. O toque possibilita a revisão da cavidade uterina quando ela está vazia e evidencia a sede e a extensão da lesão, confirmando o diagnóstico. A ascensão do polo apresentado é sinal patognomônico (Sinal de reasons). Na ausculta, logo após o acidente, identificam-se os batimentos cardíacos do feto, sendo este um fato mais frequente nos casos de simples deiscência e naqueles em que o óvulo se conserva na cavidade uterina. Nas rupturas de grande extensão, com extrusão do feto para o abdome ou lesões importantes comprometendo as artérias uterinas, a ausculta é negativa. Conduta A abordagem da ruptura uterina deve ser feita o mais rápido possível. A cirurgia deve ser imediata. A laparotomia confirma o diagnóstico, permite avaliar a extensão e a localização da ruptura. Deve ser assegurada a ventilação adequada da paciente, a reposição volêmica quando necessária, incluindo a transfusão sanguínea. As prioridades no tratamento são a retirada do feto que pode estar na cavidade peritoneal agravando o prognóstico e a correção da hemorragia, quando já foram retirados o feto e a placenta. A seguir, deve ser decidido se o reparo será suficiente ou se é necessária a histerectomia. A escolha pelo procedimento a ser realizado deverá considerar as características da ruptura uterina, que caracterizam sua urgência, a habilidade e a experiência do cirurgião e o desejo de manter a fertilidade. A antibioticoterapia profilática é indicada. Os vasos prévios correspondem a uma anomalia de inserção do funículo umbilical na placenta, na qual os vasos umbilicais, que correm livres sobre as membranas (sem aposição de tecido placentário), cruzam o segmento inferior uterino, e se colocam à frente da apresentação. Em outras palavras, os vasos prévios descrevem os vasos fetais das membranas que atravessam a região do orifício interno do canal cervical, e ocupam uma posição à frente da apresentação. Está associada às inserções marginais do cordão, placentas bilobadas, placentas sucenturiadas (lobo acessório separado da massa placentária) e, mais frequentemente, à inserção velamentosa do funículo umbilical (50% dos casos). Quadro clínico Tipicamente, a rotura de vasa prévia caracteriza-se pela presença de hemorragia no final da gravidez ou durante o trabalho de parto, no momento do rompimento da bolsa das águas, pois a inserção do cordão umbilical se dá nas membranas, fora da região placentária. A quantidade de sangue fetal que pode ser perdida sem matar o feto é pequena. Uma conduta rápida, facilmente disponível para detectar sangue fetal, é fazer um esfregaço do sangue em lâminas de vidro, corar os esfregaços pelo método de Wright, e examinar para a pesquisa de hemácias nucleadas, que normalmente estão presentes no sangue do cordão, mas não no sangue materno. Conduta O prognóstico é pior quando a veia umbilical é acometida. Neste caso, a morte do feto é quase imediata. O prognóstico é melhor quando a artéria umbilical é envolvida, já que a circulação pode se manter pela outra artéria umbilical. Quando o diagnóstico é feito no pré natal pela USG ou doppler colorido, a cesariana é eletiva com 36 semanas. Quando o diagnóstico foi na emergência, com vasa prévia + trabalho de parto e ruptura das membranas, a cesariana é imediata e deve haver preparo para transfusão sanguíneo neonatal. Por definição, o seio marginal consiste na extrema periferia do espaço interviloso. Suas paredes são formadas pela placa basal e pelas membranas, no ponto onde ambos se refletem sobre a decídua vera. Quadro clínico Por vezes no periparto, ocorrem pequenas roturas no seio marginal, que se manifestam por episódios de sangramento vaginal indolores, contínuos, de pequena monta, vermelho-vivos, acompanhados de tônus uterino normal, de batimentos cardíacos fetais normais, e de placenta normoposicionada à ultrassonografia. É importante destacar que o sangramento é de origem materna e, em geral, de pequena intensidade. Por esta razão, o prognóstico fetal é bom, ou seja, não há sofrimento fetal. Diagnóstico Não há como firmar o diagnóstico antes do parto. No entanto, parece ser uma das principais causas de sangramento da gravidez avançada. A confirmação diagnóstica só pode ser firmada após a saída da placenta mediante estudo histopatológico. Conduta Como o diagnóstico só pode ser definido após o parto, a conduta consiste basicamente em monitorização materno fetal e repouso, o qual geralmente é suficiente para o controle do sangramento.
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