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1Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
LUIZ GONZAGA
1912 – Luiz Gonzaga do Nascimento veio ao mundo numa sexta-feira, dia 13 de de-
zembro, na cidade de Exu, no sertão de Pernambuco, mais perto da divisa com o Cea-
rá (a 20 km) do que de Recife (a 618 km). O nome foi sugestão do padre José Fernan-
des de Medeiros, que batizou o menino na Matriz de Exu, em 5 de janeiro de 1913: 
Luiz, pois era dia de Santa Luzia; Gonzaga, pois o nome completo do santo é São Luiz 
Gonzaga; e do Nascimento, pois dezembro é o mês em que nasceu Jesus. “Ele será do 
mundo. Vai andar tanto, por cima e por baixo, que criará feridas nos pés”, disse uma 
cigana à mãe do menino, quando ele tinha entre 6 e 8 meses de idade.
Luiz é o segundo filho dos nove que tiveram Ja-
nuário José dos Santos e Ana Batista de Jesus – 
bela cabocla de olhos verdes conhecida pelo ape-
lido de Santana. Nasceu na fazenda da Caiçara, 
onde os pais viviam casados desde 1909, no sopé 
da Serra do Araripe, onde nasce o Rio Brígida, 
que por sua vez deságua no São Francisco. Ape-
sar da condição de extrema pobreza, a filharada 
de Januário e Santana – que também tiveram 
Joca, Maria Ifigênia (Geni), Severino, Raimunda 
(que tinha o apelido de Muniz), José Januário (o 
sanfoneiro Zé Gonzaga, falecido em 2002, aos 
81 anos), Francisca (a cantora Chiquinha, falecida 
em 2011, aos 85 anos), Socorro e Aloísio – viveu 
uma infância repleta de brincadeiras. Afinal, eles 
foram criados com outros 24 primos, filhos das 
irmãs de Santana. Cresceram correndo no mato, 
brincando de caçar e nadando horas a fio no Rio 
Brígida. Ou então ouvindo as histórias que eram 
contadas por Santana – rara pessoa naquele meio 
que (inexplicavelmente) sabia ler e escrever.
Único sanfoneiro da região, Januário era muito 
solicitado em cerimônias e forrós dos arredores 
da fazenda Caiçara, sempre animando arrasta-pés 
em lugarejos como Canoa Brava, Viração, Granito, 
Itaboca, Rancharia, Salgueiro, Bodocó e outras 
cidadezinhas próximas de Exu. Trabalho não 
faltava para sanfoneiro naquela região, fosse nas 
Por Pedro Paulo Malta
2Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
datas religiosas, fosse nos sambas – como eram chamadas as festas e forrós. Em casa, 
ele também vivia cheio de trabalho, geralmente na oficina, consertando sanfonas, gai-
tas e harmônicas de outros puxadores de fole. A entrada das crianças era proibida no 
cômodo de trabalho de Januário, mas Luiz sempre dava um jeito de driblar a vigilância 
da mãe para ver os instrumentos de perto e por dentro. Além de educadora rigorosa de 
seus nove filhos, era Santana quem comandava a roça da família.
1917 – A primeira lembrança guardada pela família da relação de Luiz com a músi-
ca data de quando ele tinha 5 anos, quando ainda vivia nu andando pela beira do 
Rio Brígida – era assim no sertão: os meninos só ganhavam as primeiras calças aos 8 
anos; antes disso, andavam pelados por toda parte. Segundo a prima Maria das Dores, 
Luiz pegava a sanfona do pai, nos arredores da casa deles. Mexia, tocava uma coisa 
ou outra e, quando o velho descuidava, empunhava o fole e punha a meninada para 
“pinotear”. Vendo a intimidade do menino com a sanfona, Januário passa a levá-lo a 
tiracolo para os locais em que ia trabalhar. Era bem menino ainda quando começou a 
se revezar com o pai, mantendo a animação dos bailes enquanto o velho descansava. 
Ficou conhecido como o “Luiz de Januário”.
1919 – Luiz tinha 7 anos quando Santana passou a levá-lo com ela (mais o primogê-
nito Joca) para a roça, onde pretendia que o menino – assim como os outros filhos 
– trabalhasse. Era terminantemente contrária à frequência do menino nos sambas, mo-
tivo pelo qual Januário tinha que comprar briga toda vez que saía levando o compa-
nheiro mirim de noitadas. No fim das contas, a matriarca teria que se resignar, afinal, 
cinco dos nove filhos acabariam sanfoneiros como o pai.
1920 – Aos 8 anos de idade, Luiz é convocado para substituir um sanfoneiro numa 
festa na fazenda da Caiçara, a pedido de amigos de Januário. Depois de cantar e tocar 
a noite inteira, recebeu seu primeiro cachê, de 20 mil-réis. Passa a ser solicitado para 
animar os sambas das redondezas, construindo sua própria fama no Araripe, onde 
passaria a ser conhecido também como Lula ou, simplesmente, Luiz Gonzaga, até 
completar 16 anos.
Um dos locais preferidos de sua vida artística precoce era o forró de Seu Miguelzinho, 
onde tocava escondido, pois não tinha o consentimento da mãe, que não queria que o 
filho seguisse a carreira de Januário. Até que, certa noite, o sanfoneiro titular não apa-
receu e Seu Miguelzinho escalou Luiz, que desta vez se apresentou com a anuência de 
Santana. Garantiu o baile e fez sucesso. De tão novinho que era, sentiu sono às tantas 
horas e foi acolhido numa rede. Fez xixi nas calças enquanto dormia.
1924 – Em meados do ano, uma cheia faz com que o Rio Brígida suba de nível e 
transborde, inundando todas as roças e destruindo moradias próximas às margens – 
caso da casinha de Januário, que se muda com a família para o povoado do Araripe, 
na fazenda Várzea Grande.
1925 – Aos 12 anos, idade em que todos os meninos do sertão normalmente entram 
de vez para a força de trabalho na lavoura (eram obrigados a trabalhar dois dias por 
semana para os patrões), Luiz tem mais sorte. É acolhido pelo coronel Manoel Aires 
de Alencar, da fazenda Gameleira, prefeito e rábula (espécie de advogado) de Exu, que 
o escolhe como tomador de conta de seus cavalos nas viagens que fazia. Ganhando 
700 réis por dia, acompanha Aires por todo o interior de Pernambuco, montado num 
burrico atrás do patrão, que ia a cavalo. Divertia o patrão contando histórias nas horas 
que passavam nas estradas. Numa viagem à cidadezinha de Ouricuri, Luiz vê uma san-
fona na loja vizinha à casa em que ele e o patrão estavam hospedados e cisma que vai 
ser dono daquele fole, que ainda por cima era igual ao do pai. Era uma sanfona Koch 
de oito baixos (da marca Veado) e custava 120 mil réis. Ao repetir a viagem, no mês 
3Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
seguinte, Luiz tanto amola o patrão que consegue um jeito de financiar a compra da 
primeira sanfona de Luiz Gonzaga: metade do valor seria paga com o salário já acu-
mulado do menino e a outra metade seria adiantada como empréstimo pelo coronel 
Aires. Consumada a aquisição, Luiz avisa ao patrão que não quer mais trabalhar com 
ele, pois queria ser sanfoneiro profissional. O coronel não tem outro jeito senão se 
resignar. A proximidade com Manoel Aires de Alencar valeu ainda outros dois presentes 
a Luiz: com as filhas do patrão aprendeu a usar os talheres e a ler e escrever.
Não fosse a disponibilidade das filhas do coronel Aires, a alfabetização de Luiz teria fi-
cado nos coros cantados que ouvia sempre que passava em frente à escolinha de Exu. 
“Abecedê, ê, fê, guê, jê, lê, mê, nê, ô, pequerê...” Era o canto que saía pela janela da 
escolinha e que Luiz ouvia e ia decorando. Em 1926, foi muito incentivado por Gilber-
to Aires (filho do coronel e fã da sanfona de Gonzaga) a aderir ao grupo de escoteiros 
que tinha sido formado em Exu pelo sargento de polícia Aprígio, recém-chegado do 
Rio de Janeiro. Sabendo que entre as atividades do sargento estava a alfabetização dos 
garotos, Gilberto praticamente intimou Luiz a se tornar escoteiro. Propôs ao amigo 
que tocasse na noite de Exu e, com o dinheiro, pagasse um quarto na hospedagem de 
Dona Vitalina, afinal a cidade distava duas léguas da casinha em que vivia com a fa-
mília. Luiz topou e chegou a frequentar o grupo por 40 dias – período em que apren-
deu a assinar o nome e escrever algumas frases. Resumiu-se a isso a vida escolar de 
nosso personagem, que assim explica o abandono das aulas do sargento Aprígio: “Eu 
queria aprender a ler, mas meus pais precisavam de mim para ajudar na roça, e aquele 
vaivém entre Exu e a Caiçara não acabava mais. E eu não era um aluno interessado em 
queimar as pestanas. Isso me faz falta até hoje”, diria o futuro Rei do Baião à escritora 
Dominique Dreyfus,autora de Vida do Viajante: a Saga de Luiz Gonzaga.
1927 – Chega ao Araripe a notícia de que o bando de Lampião estava a caminho 
daquela região, por onde passaria para chegar a Juazeiro do Norte, onde se encontra-
ria com Padre Cícero. O líder religioso tinha convocado os cangaceiros para proteger 
a área da temida Coluna Prestes, que àquela altura marchava rumo ao Nordeste. Com 
medo de Lampião (cujo bando tinha fama de tomar casas, comer as criações e assassi-
nar quem tentasse impedi-los), Januário, Santana e a filharada deixam a casa às pres-
sas e correm para a beira do rio, para a tristeza do jovem Luiz, então com 15 anos, que 
sonhava ver o ídolo cangaceiro de perto e, quem sabe, se oferecer como sanfoneiro do 
bando. A família passa a noite sob uma quixabeira e, na manhã seguinte, é Luiz quem 
se escala para checar se estava tudo bem na casa. Descobriu que Lampião sequer tinha 
passado perto dali, mas mesmo assim voltou aos berros: “Corre, pessoal, que Lampião 
está vindo aí!”. O pai já tinha apagado a fogueira e as crianças corriam longe, quando 
revelou que se tratava de um trote. Levou uma saraivada de cocos na cabeça.
1930 – Charmoso, bom prosador e ótimo sanfoneiro, Luiz era bem cotado entre as 
meninas de Exu. Chegou a pedir uma certa Ana Doca em noivado, com anel e tudo, 
mas Santana tratou de desmanchar a proposta do filho – que, na época, tinha 15 
anos. Já em 1930, se apaixona pela jovem Nazarena Olindo, a Nazinha, moça branca 
de boa família com quem sonha se casar. Estava todo animado com o enlace quando 
soube que o pai da moça, o severo Raimundo Olindo, tinha feito pouco dele: “san-
foneirozinho de nada, sem futuro”, que “vive por aí puxando fole” e “nem roça tem”. 
Mexido, o rapaz tomou umas cachaças, pegou na peixeira e foi tomar satisfação com 
o candidato a sogro, que respondeu que se tratava de um mal-entendido, mas foi 
em seguida fazer queixa a Santana. A mãe deu uma surra em Luiz, que ainda tentou 
proteção de Januário, mas tudo que ganhou foi um chute no traseiro. Humilhado, 
o rapaz decidiu fugir de Exu. Foi para o Crato (CE) e se viu obrigado a vender sua 
primeira sanfona – por 80 mil réis – para bancar a fuga. Correu para Fortaleza, aonde 
chegou em julho de 1930, fingindo ser mais velho para poder entrar no Exército antes 
4Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
dos 18 anos, que só completaria no fim de 1930. Ingressou no 22º Batalhão de Caça-
dores, virando o Soldado Nascimento, número 122. Continuou a viajar, desta vez para 
o Piauí, para a Paraíba e para onde mais seu batalhão se deslocasse para atuar a favor 
da Revolução de 30 ou contra o cangaço (principais atribuições do 22º BC). 
1931 – Em dezembro, seguindo o desejo de conhecer o “Sul”, consegue transferência 
para o Rio de Janeiro, mas adoece, permanecendo alguns meses internado no Hospi-
tal Central do Exército. É transferido para Belo Horizonte, aonde chega em agosto de 
1932. Em novembro, transfere-se para Juiz de Fora (MG). Agora está lotado no 12º 
Regimento de Infantaria, com o qual viaja em 1933 para Campo Grande (então MT, 
hoje MS) para apoiar a Bolívia contra o Paraguai na Guerra do Chaco.
1933 – Transfere-se para o 11° Batalhão de Caçadores, em São João del Rei (MG), 
onde é aprovado no curso de corneteiro. Estuda noções de harmonia, aprende a tocar 
corneta e é elevado a tambor-corneteiro de primeira classe. Começa a dar um rumo 
musical a sua vida militar, na qual passa a ser conhecido por “Bico de Aço”.
1936 – Ainda em São João del Rei (MG), torna-se amigo do soldado de polícia Domin-
gos Ambrósio, com quem aprende a tocar sanfona de 120 baixos. De quebra, o novo 
amigo lhe ensina as músicas da moda, que faziam sucesso e chegavam aos ouvidos de 
Luiz pela Rádio Tupi, que ele conseguia sintonizar sem maiores problemas no interior 
de Minas. Eram valsas, polcas, boleros, tangos, rancheiras, foxtrotes e outros gêneros 
musicais estrangeiros. Para poder se aprimorar nos estudos, compra uma sanfona de 
48 baixos (“Era ruim demais!”), com a qual passa a se apresentar nas horas de folga.
1937 – É neste ano que se dá a última transferência da vida militar do soldado Nas-
cimento: desta vez, ele se muda para Ouro Fino (MG), mas só quer saber de música. 
A convite do advogado Raul Apocalipse, se apresenta no clube Éden – tocando pela 
primeira vez para uma plateia urbana.
1938 – Encantado com uma sanfona branca que lhe é oferecida por um caixeiro via-
jante de São Paulo (uma Horner, de 80 baixos), paga 500 mil-réis em prestações, mas 
nunca recebe o instrumento. Ao sentir que está sendo ludibriado, viaja para São Paulo 
e descobre que o endereço que tinha recebido do vendedor não existia. Fica desespe-
rado. De volta ao Hotel Toscana, onde estava hospedado, conta o drama ao dono do 
estabelecimento e este convence o filho a vender sua Horner (também branca, de 80 
baixos) ao soldado pernambucano, que consegue dinheiro com a venda da sanfona de 
48 baixos que tinha comprado em São João del Rei.
1939 – Pede baixa no Exército e, em março, vai para o Rio de Janeiro, chegando já 
com bilhetes comprados para retornar (de navio) a Recife e viajar (de trem) até Exu. Na 
espera pelo navio do Lloyd que o levaria de volta ao Nordeste, resolve conhecer a zona 
do meretrício da então Capital Federal, mais conhecida como Mangue. Fica de vez. É 
interessante como, no mesmo ano (e com uma diferença de apenas um mês), chega-
ram ao Rio de Janeiro os dois compositores que, na década seguinte, fariam o Nordes-
te renascer dentro da música brasileira: o sertanejo pernambucano Luiz Gonzaga e o 
praieiro baiano Dorival Caymmi, que desembarcaria na Capital Federal em fins de abril.
Ajudado pelo violonista baiano Xavier Pinheiro, Luiz Gonzaga vai morar no Morro de 
São Carlos. Começa a ganhar a vida com apresentações no próprio Mangue, tocando 
música estrangeira para embalar as noites de marinheiros e outros forasteiros – de um 
marinheiro bêbado compra uma sanfona Scandalli, italiana, de 120 baixos. É com ela 
que vara noites em bibocas como o Bar Espanhol e, depois, o Bar Cidade Nova. Pois 
foi neste segundo que, certa noite, foi abordado por um grupo de estudantes cearen-
ses querendo saber de onde Luiz tinha vindo. Ao dizer que era de Exu, perto da Serra 
do Araripe, os conterrâneos exultaram: “Você é cabeça chata que nem a gente! Pois 
5Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
então deixe de lado essas músicas estrangeiras e toque uns forrós, que é a nossa mú-
sica!”. Luiz atacou de Pé de Serra (mais tarde rebatizada de Xamego) e Vira e Mexe, 
fazendo sucesso imediato e aposentando de vez o repertório gringo.
1940 – É também o baiano Xavier Pinheiro que apresenta Luiz ao famoso acordeo-
nista Antenógenes Silva, com quem começa a estudar. “Em pouco tempo ele já sabia 
mais do que eu”, diria o mestre. “Eu não tinha mais o que ensinar.” Participa com 
destaque dos programas de rádio Papel Carbono (de Renato Murce) e Calouros em 
Desfile (de Ary Barroso). Neste segundo, apresenta Vira e Mexe e Pé de Serra, levando 
a nota máxima e o primeiro prêmio de 150 mil-réis. Seu primeiro emprego no rádio é 
na Transmissora, trabalhando no programa A Hora Sertaneja, de Zé do Norte.
1941 – Em 5 de março, realiza a primeira gravação, acompanhando na sanfona a dupla 
caipira Genésio Arruda e Januário França na cena cômica A Viagem de Genésio, na 
RCA Victor, gravadora com a qual assina contrato e que o acompanharia por toda a 
carreira. Depois de merecer elogios do chefe de vendas da gravadora, Ernesto Augusto 
Matos, grava pela primeira vez como solista, no dia 14 de março, fazendo dois discos: 
um com a mazurca Véspera de São João (de sua autoria com Francisco Reis) e com a 
valsa Numa Seresta, sem parceiro; o outro com a valsa Saudades de São João Del Rei 
(de Simão Jandi) e o chamego Vira e Mexe, de sua própria autoria. Daí por diante, não 
parou mais de gravar. Até conhecer Humberto Teixeira e se assumir como embaixador 
do sertão na Capital Federal, gravou 79 músicas, todas instrumentais, algumas com 
relativo sucesso,como o choro Galo Garnizé (parceria com Antonio Almeida) e o cha-
mego Penerô Xerém (com Miguel Lima). “Chamego” foi como Luiz Gonzaga cunhou o 
gênero musical – um chorinho ligeiro com sotaque nordestino – que adotou como uma 
de suas marcas na primeira metade dos anos 40. Neste ano, é contratado pela Rádio 
Clube do Brasil para substituir Antenógenes Silva no programa Alma do Sertão, de 
Renato Murce. Foi por esta época e nesta emissora que o violonista Dino Sete Cordas, 
vendo o formato do rosto de Luiz Gonzaga, cria para ele o apelido de Lua.
1943 – Após uma passagem pela Rádio Mayrink Veiga, é contratado pela Rá-
dio Tamoio. Passa a se apresentar vestido de vaqueiro nordestino. A inspiração da 
indumentária foi outro sanfoneiro: o catarinense Pedro Raimundo (1906-1973), 
contratado neste ano para integrar o cast da Rádio Nacional, lotando o auditório 
da emissora em suas apresentações com trajes típicos de gaúcho. Assim como os 
turbantes e balangandãs de Carmen Miranda e o terno branco de Moreira da Silva, a 
indumentária sertaneja seria a marca visual de Luiz Gonzaga até o fim de sua vida. 
Outro marco importante de sua carreira neste ano são as primeiras apresentações no 
rádio como cantor: incomodado com a interpretação de Manezinho Araújo para seu 
samba Dezessete e Setecentos (cantado como se fosse uma embolada), começa a 
cantar a música e chovem cartas na Rádio Tamoio, pedindo bis.
1945 – Em setembro, foi dispensado pela Rádio Tamoio, sendo imediatamente contra-
tado pela Rádio Nacional, onde o apelido Lua se torna oficial, tamanha a divulgação 
feita pelo ator – e, na época, grande radialista – Paulo Gracindo. Depois de se lançar 
como acordeonista e compositor de valsas, polcas e choros, é neste ano que realiza 
a primeira gravação como cantor: a estreia se dá com Dança, Mariquinha, mazurca 
dele com Miguel Lima. Feita a estreia de sua voz em disco, passa a nutrir a vontade de 
cantar o Nordeste para o Brasil todo, mas precisava encontrar um parceiro que tradu-
zisse em letra o que sentia. Procurou o compositor e pianista cearense Lauro Maia, que 
o encaminhou ao cunhado: o advogado Humberto Teixeira, natural de Iguatu (CE). 
Teixeira vivia desde 1932 no Rio, aonde chegou aos 17 anos incompletos, com o obje-
tivo inicial de estudar Medicina. Desistiu no meio do caminho, mas manteve os planos 
de ser doutor, matriculando-se na Faculdade Nacional de Direito, de onde só sairia em 
1943, já formado. Quando foi procurado por Luiz Gonzaga, também tinha músicas 
6Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
gravadas – por Cyro Monteiro (Agradece a Deus), Odete Amaral (Bem Vi) e Quatro 
Ases e Um Coringa (Natalina e Morena dos Meus Sonhos).
Foi em agosto daquele ano de 1945 que se deu o encontro dos dois parceiros, como 
contou Teixeira ao pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez (11/12/1977): “Um 
dia, estou lá no escritório, na Avenida Calógeras (Centro do Rio), quando me procu-
rou o Luiz Gonzaga, que conhecia de nome, mas era a primeira vez que o via. Ele 
começou contando a conversa com o Lauro e, em seguida, explicou-me a história de 
deflagrar a música do Norte nos grandes centros (na época, usava-se muito o termo 
Norte em lugar de Nordeste). Aí, ficamos conversando de quatro e meia à meia-noite. 
Eu fechei o escritório (de advocacia), como fazia quando tratava de música, e relem-
bramos aqueles ritmos do Ceará, de Pernambuco, e naquele dia mesmo nós chegamos 
à conclusão de que a música a ser utilizada (no projeto) era o baião, pois era a que 
tinha a característica mais fácil, mais uniforme para se lançar”.
O baião já existia desde a virada do século XIX para o XX: era uma dança que deriva-
va do lundu, sendo definida no Dicionário do Folclore Brasileiro (Câmara Cascudo) 
como “uma dança rasgada, lasciva, movimentada, ao som de canto próprio, com letras 
e acompanhamento a viola e pandeiro”. Originalmente chamava-se “baiano”, mas 
popularizou-se já com a corruptela “baião”. 
Em 22 de setembro, nasce no Rio de Janeiro o menino Luiz Gonzaga do Nascimento 
Jr., seu filho da relação com Odaléia Guedes dos Santos, cantora do Dancing Brasil que 
namorava o pai do menino desde 1944. Embora fosse estéril e não fosse casado com 
a Léa, aceita registrar o bebê como seu filho. Na biografia Vida do Viajante: a Saga 
de Luiz Gonzaga, a escritora Dominique Dreyfus afirma que “os testemunhos foram 
unânimes, afirmando que todo mundo sabia que Gonzaguinha não era filho de Luiz 
Gonzaga”. Mais adiante, ela escreve: “A verdade é que, na medida em que Luiz Gonza-
ga, pai e filho, nunca fizeram teste de DNA, o mistério permanece inteiro e inviolável”. 
Órfão de mãe aos 2 anos (Odaléia morreu aos 22, de tuberculose), o menino foi criado 
pelos padrinhos, já que o pai – constantemente viajando por todo o Brasil – não tinha 
como tomar conta. Assim, Luizinho cresceu no Morro de São Carlos (Estácio), sob os 
cuidados de Dina (Leopoldina de Castro Xavier) e Xavier (Henrique Xavier), ele violo-
nista e primeiro professor de música do menino. De Luiz Gonzaga recebeu, além do 
nome, algumas visitas esporádicas e dinheiro para os estudos.
1946 – Ano inicial da Era do Baião. Em outubro, o grupo Quatro Ases e Um Corin-
ga lança, num disco de 78 rotações da gravadora Odeon, a canção-manifesto Baião 
(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), gravada em 22 de maio daquele ano, marcando 
a abertura das porteiras para o sucesso nacional do gênero musical ressuscitado pela 
dupla de compositores. O curioso é que, aparentemente, nem o conjunto, nem a gra-
vadora levavam fé no projeto de Gonzaga e Teixeira, tanto que o lançamento de Baião 
se deu no lado B de um disco cujo lado A trazia um samba: o desde sempre desconhe-
cido De Quem é o Azar (Gil Lima e Nelson Teixeira). Contrariando a tradição da época 
(esperava-se que a música do lado A puxasse as vendas dos discos), o sucesso daquele 
78 rotações se deveu exclusivamente à peça abre-alas nordestina que convidava o 
ouvinte a conhecer aquela novidade: “Eu vou mostrar pra vocês / Como se dança o 
baião / E quem quiser aprender / É favor prestar atenção...”. Entre as inúmeras regra-
vações que teve, uma merece destaque: foi feita em inglês, com o nome de Ca-room’ 
Pa Pa (versão de Ray Gilbert), no último disco de Carmen Miranda, lançado em 1950 
pela gravadora americana Decca. Em dezembro de 1946, o próprio Luiz Gonzaga lança 
o xote No Meu Pé de Serra, também da primeira fornada composta com Humberto 
Teixeira, gravado em 27 de novembro de 1946.
No livro A Canção do Tempo – Volume 1, os pesquisadores Jairo Severiano e Zuza 
7Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
Homem de Mello dão ares heroicos ao baião, definindo o gênero nordestino como 
“a música que melhor enfrentou a invasão do bolero ao final dos anos 40”. Quanto 
ao primeiro exemplar do gênero-projeto concebido por Luiz Gonzaga e Humberto 
Teixeira, os escritores destacam a importância da dupla ao estilizar o velho baião, 
tornando-o mais assimilável ao gosto urbano, sem, contudo, retirar suas caracterís-
ticas básicas, como o ritmo, com ênfase na síncope do segundo tempo. “Tudo isso 
sobre uma melodia cheia de sétimas menores, semelhante às cantigas de cantadores 
do Nordeste”, definem Jairo e Zuza.
O ano de 1946 marcou também a primeira visita de Luiz Gonzaga a Exu desde 1930, 
de onde saíra corrido, depois de se desentender com o pai de uma namorada e levar 
uma surra de Santana. Voltou famoso, em meados do ano, acompanhando a mãe, que 
tinha ido ao Rio visitar o filho famoso. Chegou ao Araripe com grande recepção e foi 
logo procurar Januário, seu pai e professor de música. Logo vieram os shows e, com 
eles, gente de todo lado, para ouvir “Luiz de Januário”, agora famoso, tocando sanfo-
na de 120 baixos cheia de recursos, devidamente exibidos por Luiz. O povo continuou 
preferindo o pai, com comentários que serviram de mote para Respeita Januário, que 
Humberto Teixeira letraria a partir do relato de Luiz: “Quando eu voltei lá no sertão 
/ Eu quis mangar de Januário / Com meu fole prateado / Só de baixo centoe vinte / 
Botão preto, bem juntinho / Como nego empareado...”. O causo do reencontro com 
Januário seria contado pelo próprio Luiz Gonzaga em suas apresentações a partir dos 
anos 70, como uma introdução proseada, acompanhada de sua sanfona.
Nesta viagem, antes de retornar ao Rio, passou uns dias em Recife, onde partici-
pou de festas e programas de rádio e conheceu grandes músicos locais, que logo se 
tornariam nomes nacionais, como Sivuca, Nelson Ferreira e Capiba. Também conhe-
ceu o médico obstetra José de Souza Dantas Filho, vulgo Zé Dantas, que viria a ser 
o parceiro mais constante de sua obra. Nascido em 1921 na cidade pernambucana 
de Carnaíba de Flores (Sertão do Alto Pajeú), vivia desde a infância em Recife, onde 
fora estudar, como acontecia normalmente aos filhos da burguesia rural – caso da 
família de Zé Dantas. Já cursava Medicina na Universidade Federal de Pernambuco 
quando descobriu a boemia e começou a compor, criando fama no meio universitá-
rio. Quando soube que o famoso Luiz Gonzaga estava hospedado no Grande Hotel, 
em Recife, foi logo procurá-lo, entregando-lhe algumas composições e fazendo 
amizade. Formado médico, Dantas veio para o Rio em 1949, para fazer residência 
em Obstetrícia. Na chegada, foi Luiz Gonzaga quem foi recebê-lo (com Humberto 
Teixeira) na plataforma da estação de trem da Leopoldina.
1947 – Ano do maior sucesso de Luiz Gonzaga: a toada Asa Branca, composta em 
parceria com Humberto Teixeira, é lançada pelo próprio Gonzaga, em disco de 78 
rotações da RCA Victor. Curiosamente, assim como Baião, Asa Branca também se 
popularizou a despeito de ser uma música de lado B – neste caso, de um disco cujo 
lado A trazia a marchinha Vou pra Roça, também interpretada por Luiz Gonzaga, 
um dos autores da música, em parceria com Zé Ferreira. Segundo Jairo Severiano e 
Zuza Homem de Mello (A Canção no Tempo – Volume 1), a origem de Asa Branca 
é um tema folclórico muito antigo, sobre uma espécie de pomba branca, que foge 
do sertão ao pressentir a seca. “Luiz Gonzaga o conhecia desde a infância, através 
da sanfona do pai, mas achava-o simples demais para transformá-la numa canção”, 
contam os autores. “Assim, foi só para atender ao pedido de uma comadre que se 
dispôs a gravá-lo, levando-o antes para Humberto Teixeira dar-lhe uma ajeitada na 
letra. Então, Teixeira ajeitou-lhe também a melodia, acrescentou-lhe versos inspira-
dos (‘Quando o verde dos teus óios se espaiá na prantação’) e tornou Asa Branca 
uma obra-prima.” Antes do sucesso estrondoso e de incontáveis regravações no Brasil 
e no exterior, o regionalismo e a tristeza de Asa Branca chegaram a ser motivo de 
8Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
chacota no próprio estúdio da RCA Victor, onde os músicos do Regional de Canhoto 
faziam troça, imitavam ceguinhos que pediam esmola enquanto ouvia-se a gravação 
na sala da técnica. “Isso é música de cego”, zombavam. Foi também em 1947 que Luiz 
Gonzaga incluiu o chapéu de couro na indumentária sertaneja com que já se apre-
sentava desde 1943. Na Rádio Nacional, contudo, ele só poderia se apresentar com o 
assessório – homenagem ao antigo ídolo Lampião – a partir de 1949.
1948 – Em 16 de junho, casa-se com Helena das Neves Cavalcanti, pernambucana 
radicada no Rio desde 1944. Os dois se conheceram em 1946 na Rádio Nacional, onde 
ela trabalhava como contadora de histórias. Imediatamente, Gonzaga contratou-a 
como sua secretária particular e os dois começaram a namorar. Quando se casaram, 
foram morar com Dona Marieta, mãe dela, no bairro do Cachambi. Os dois irmãos 
mais novos de Luiz, Socorro e Aloísio, passam a morar com o casal no Rio, para serem 
escolarizados.
De passagem por Garanhuns (interior de Pernambuco), naquele ano de 1948, Luiz fica 
vidrado no grupo mirim Os Três Pinguins, especialmente no pandeirista Nenê, de 7 
anos. Vendo o talento do pequeno artista, se lembrou dos tempos da fazenda Caiçara 
e pressentiu que poderia ter ali um seguidor. Deu ao menino-prodígio seu endereço 
e pediu que o procurasse se fosse ao Rio de Janeiro, pois seria o primeiro a incentivar 
sua carreira.
1949 – Este ano é marcado por uma fornada e tanto da dupla Luiz Gonzaga e Hum-
berto Teixeira, que trazia o xote Mangaratiba (lançado pelo Quatro Ases e Um Co-
ringa, num disco de 78 rotações da Odeon) e outros sucessos gravados pelo próprio 
Luiz Gonzaga: a valsa Légua Tirana, o belíssimo baião Juazeiro e a polca Lorota Boa, 
do famoso refrão que todo mundo conhece, mas não sabe de quem é: “Que mentira, 
que lorota boa!”. Outro grande sucesso da dupla lançado neste ano foi o baião Qui 
Nem Jiló, interpretado por Marlene com os Cariocas e acompanhamento da Orquestra 
Tabajara. No ano seguinte, o próprio Luiz Gonzaga regrava a música, desta vez com a 
melodia correta – sem as alterações feitas por Marlene e os Cariocas.
No mês de novembro, grava as primeiras músicas em parceria com Zé Dantas: os 
baiões No Forró de Mané Vito e Vem, Morena. Alguns livros se referem a estas duas 
composições como sendo somente de Zé Dantas (Gonzaga teria se tornado parceiro 
para gravá-las), mas há quem afirme que o Rei do Baião participou da composição 
delas. Assim, como estão assinadas pela dupla, é prudente considerá-las criações de 
Luiz Gonzaga e Zé Dantas. Radicado no Rio, Zé Dantas se divide entre as atividades 
de médico (atendendo em seu consultório ou no Hospital do Ipase, onde chegaria a 
vice-diretor da Maternidade) e artista – como diretor do programa O Rei do Baião 
(Rádio Nacional) e do Departamento de Folclore da Mayrink Veiga.
No fim do ano, Luiz Gonzaga aluga um caminhão e traz a família do Araripe para mo-
rar no Rio de Janeiro, pertinho dele, no mesmo bairro do Cachambi: Januário, Santana 
e os cinco filhos que ainda moravam com eles. Mais adiante, compra no mesmo bairro 
uma casa grande – que Gonzaga chamava de “palacete” – e vão todos morar juntos. 
Januário voltaria para o Araripe nos primeiros anos da década de 50 e o resto da famí-
lia se mudaria para Santa Cruz, na Zona Oeste.
1950 – Neste ano, Luiz Gonzaga emplacou grandes sucessos com seus dois principais 
parceiros. Com Humberto Teixeira lançou o clássico baião Paraíba, com duas grava-
ções no mesmo ano: a primeira com Emilinha Borba e a segunda com o Quatro Ases e 
Um Coringa. Já o próprio Luiz Gonzaga gravou o baião Respeita Januário (em 13 de 
abril) e a toada Assum Preto (26 de maio), ambos feitos com Teixeira. Já da parceria 
com Zé Dantas, Luiz Gonzaga lança o baião A Volta da Asa Branca e o xote Cintura 
9Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
Fina. Outra parceria de Gonzaga e Dantas, lançada neste ano, é A Dança da Moda, 
que já repercutia o sucesso do baião: “No Rio está tudo mudado / Nas noites de São 
João / Em vez de polca e rancheira / O povo só dança, só pede o baião”.
No fim do ano, a Rádio Nacional lança a série No Mundo do Baião, como parte do 
programa Cancioneiro Royal, que tinha patrocínio dos produtos Royal. Tendo como 
produtores os dois grandes parceiros de Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira e Zé Dan-
tas – e como apresentador o carismático Paulo Roberto, o programa seria fundamental 
para a divulgação do baião pelo Brasil, com a participação de contadores de causos 
e inúmeras apresentações musicais de artistas do cast da emissora (Emilinha Borba, 
Ivon Curi, Quatro Ases e Um Coringa e os próprios Luiz Gonzaga e Zé Dantas), com 
acompanhamento de orquestra regida pelo maestro Ercole Varetto. Foi neste progra-
ma da Rádio Nacional que Luiz Gonzaga – já conhecido como Rei do Baião (apelido 
conferido neste ano pela imprensa de São Paulo, após um show realizado na cidade) 
– coroou, em 1951, a cantora Carmélia Alves como a Rainha do Baião. Completando 
a realeza, o programa também conferiu títulos de nobreza a Luiz Vieira (príncipe) e 
Claudette Soares (princesinha).
1951 – Depois de ver o baião virar febre nacional e de emplacar sucesso atrás de suces-
so, outra invenção de Luiz Gonzaga viria para ficar a partir deste comecinho da década 
de 50: o trio de forró. O Rei do Baião, queno início da carreira se acompanhava sozinho 
e depois passou a ser acompanhado por regional de choro (flauta, cavaquinho, violão, 
bandolim e pandeiro), queria agora encontrar uma sonoridade que fosse própria do 
baião e desse conta dos tantos bailes que já vinha fazendo. Inspirado nas bandas de pife 
que via nas novenas das igrejas do Araripe, Gonzaga adota primeiro o acompanhamento 
da zabumba, marcando o rimo com som grave. Já o triângulo veio da lembrança de uma 
feira no Recife, onde vira um menino vendendo biscoitos e cantando seu pregão acom-
panhado do instrumento. Pronto: o casamento do som grave e reverberado da zabumba 
com o tilintar saltitante do triângulo era a base perfeita para a sua sanfona. Chegou a 
considerar a entrada dos pífanos na formação, mas desistiu logo, pois o som agudinho 
das flautinhas típicas do sertão seria engolido pela sonzeira que saía do fole. A partir 
dali, Luiz Gonzaga se apresentaria acompanhado de zabumba e triângulo, criando uma 
formação que até hoje vigora em qualquer forró. Seus primeiros companheiros de trio 
foram Zequinha (triângulo) e Catamilho (zabumba).
Em termos fonográficos, 1951 também deu bons frutos. No comecinho do ano, saiu 
a toada Estrada do Canindé, com Humberto Teixeira, gravada por Gonzaga em 20 de 
dezembro do ano anterior. Em junho, foi a vez de estourar a marchinha junina Olha 
pro Céu, de Luiz Gonzaga e José Fernandes, gravada pelo próprio Gonzaga em 5 de 
abril. Clássico do repertório junino, Olha pro Céu seria regravado muitas vezes, por ar-
tistas como Maria Bethânia, Gilberto Gil, Dominguinhos, Altamiro Carrilho e até Xuxa.
1952 – Helena e Luiz Gonzaga adotam uma menina: Rosa Maria, que seria chamada de 
Rosinha. Já no campo artístico, o ano é marcado por uma separação: termina a parceria 
com Humberto Teixeira. Segundo Jairo Severiano, os dois já não se entendiam muito 
bem quando se associaram a diferentes sociedades arrecadadoras de direitos autorais. 
Apesar da importância da obra que resultou da parceria, deixaram apenas 27 compo-
sições juntos. Nos festejos juninos, o grande sucesso é o show Os Sete Gonzaga, que, 
reunindo o patriarca Januário e mais Luiz, Severino, Zé, Chiquinha, Socorro e Aloísio, foi 
atração de muito sucesso na Rádio Tupi, com a temporada (antes prevista para junho) 
prorrogada até 28 de julho. Fariam mais um show em 11 de agosto.
Entre os lançamentos de Luiz Gonzaga no ano, o destaque é Pau de Arara, baião em 
parceria com o maestro Guio de Moraes: “Quando eu vim do sertão, seu moço, do 
meu Bodocó / A malota era um saco e o cadeado era um nó / Só trazia a coragem e 
10Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
a cara / Viajando num pau-de-arara / Eu penei... / Mas aqui cheguei”. Histórias como 
a de Pau de Arara caíam feito uma luva para os nordestinos que, com uma mão na 
frente e outra atrás, desembarcavam aos milhares no Rio e em São Paulo, sonhando 
com um futuro melhor. Como uma certa família Silva que, dali a dois anos, desem-
barcaria em Santos (SP) com uma penca de filhos, entre eles o futuro presidente da 
República Luiz Inácio Lula da Silva, oriundo de Caetés, no sertão pernambucano.
1953 – Luiz Gonzaga lança a toada A Vida do Viajante, feita em parceria com o 
maestro mineiro Hervê Cordovil. Parceiro de Noel Rosa (no samba Triste Cuíca e na 
marchinha Não Resta a Menor Dúvida), Cordovil foi mais um artista já consagrado 
da era do rádio que, enfeitiçado pela sanfona de Luiz Gonzaga, se enveredou pelo 
baião. Os dois foram apresentados pela cantora Emilinha Borba. Regravações emble-
máticas de A Vida do Viajante foram feitas em duo nas décadas de 80 e 90: primeiro 
por Luiz Gonzaga e Gonzaguinha (1981), depois por Chico Buarque e Dominguinhos 
(1997). Outro grande sucesso de Luiz Gonzaga e Zé Dantas lançado em 1953 foi O 
Xote das Meninas, resgatado por algumas regravações marcantes, como uma de Ivon 
Curi (1954), outra de Gerson King Combo (1971), uma de Marisa Monte (1989) e uma 
quarta da cantora Marina Elali (2007), neta de Zé Dantas, com uma estranha letra em 
inglês (All She Wants). Também da dupla Gonzaga e Zé Dantas saíram, neste ano, o 
baião ABC do Sertão e a toada Vozes da Seca, ambas gravadas por Luiz Gonzaga.
1954 – Procurado no Rio pelo garoto Nenê (agora com 14 anos, morando com a 
família em Nilópolis), Luiz Gonzaga cumpre a promessa de apadrinhá-lo e lhe dá uma 
sanfona de presente. Início promissor para o jovem músico, que dali a alguns anos 
adotaria o nome artístico de Dominguinhos (ele se chamava José Domingos de Morais) 
e seria proclamado por Luiz Gonzaga seu seguidor. No mesmo ano, outro seguidor 
chega ao Rio de Janeiro vindo do Nordeste: o paraibano Jackson do Pandeiro (acom-
panhado da esposa, Almira Castilho), que vem tentar a sorte no Sudeste a convite 
de Luiz Gonzaga. O ano de 1954 marca também o fim de seu contrato com a Rádio 
Nacional.
Já o ex-parceiro Humberto Teixeira, depois de atuar como diretor e vice-presidente 
da União Brasileira dos Compositores (UBC), resolve concorrer a deputado federal pelo 
Ceará na legenda do Partido Social Progressista (PSP). Consegue uma suplência, exer-
cendo o mandato por quatro vezes entre 1955 e 1959. De sua atuação na Câmara dos 
Deputados destaca-se a Lei 1544/56 (também conhecida como Lei Humberto Teixeira), 
que permitiu a realização de caravanas para a divulgação da música popular brasileira 
no exterior e limitava a quantidade de músicas estrangeiras executadas no Brasil. Ten-
tou se eleger novamente em 1958, mas não foi bem-sucedido.
1959 – Sai o LP Luiz Gonzaga Canta Seus Sucessos com Zé Dantas, marco final da 
parceria entre os dois.
1960 – Em 11 de junho, morre Santana, aos 67 anos, vítima de mal de Chagas. É 
enterrada no Rio de Janeiro e, mais tarde, seus restos mortais são trasladados para o 
Araripe. Desnorteado no princípio, Januário já estaria casado de novo em novembro, 
com Maria Raimunda de Jesus. Ele tinha 71; ela, 32.
1961 – Morando com Helena desde o ano anterior num apartamento em Cocotá, na 
Ilha do Governador, Luiz Gonzaga acolhe em sua casa o filho Luizinho, que tinha 15 
anos e, sonhando estudar Economia, preferiu viver perto do pai. Mas se desentendeu 
com Helena e acabou indo parar no colégio interno, onde concluiu o curso clássico. 
Em seguida, ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas Cândido Mendes. Duran-
te a vida acadêmica, se aproximaria da música por meio do Movimento Artístico Uni-
versitário (o MAU), no qual despontaram também Aldir Blanc, Ivan Lins, Paulo Emílio e 
11Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
outros compositores. Era conhecido como Luiz Gonzaga Jr.
1962 – No mesmo ano de falecimento de Zé Dantas (em 11 de março, aos 41 anos), 
Luiz Gonzaga conhece o compositor João Silva, que seria seu parceiro mais assíduo 
nas décadas seguintes, com músicas como Pagode Russo (gravada em 1965), Santo 
Antônio Nunca Casou (1970) e Danado de Bom (1984), entre muitas outras. Os dois 
se conheceram na Rádio Mayrink Veiga.
1963 – Luiz tem sua sanfona Universal roubada. É socorrido pelo amigo e mestre 
Antenógenes Silva, que lhe empresta uma sanfona branca. A partir daí, todas as suas 
sanfonas seriam brancas, sempre trazendo a inscrição “É do povo”.
1968 – Com o surgimento do Tropicalismo, Luiz Gonzaga é um dos nomes ressus-
citados pelos artistas do movimento, no baú de referências nacionais que andavam 
esquecidas, como os cantores Vicente Celestino e Carmen Miranda. Os dois principais 
nomes tropicalistas, Caetano Veloso e Gilberto Gil, dão sucessivas entrevistas apontan-
do a obra de Luiz Gonzaga como uma de suas principais influências. Também neste 
ano, começa a circular pelo Rio a notícia de que os Beatles estavam para gravar Asa 
Branca, e Luiz Gonzaga chega a dar entrevistas comentando “o interesse dos cabelu-
dos pela nossa música”. A notícia, no entanto, não passava de um trote inventado por 
Carlos Imperial.
1972 – Em março, apresenta no Teatro Tereza Rachel o espetáculo Volta pra Curtir, 
com direção de Jorge Salomão e do poeta tropicalista José Carlos Capinan.O gran-
de sucesso de público encerra de uma vez o período de ostracismo que vivia desde o 
início da bossa nova, quando seu vozeirão, seus trajes típicos e sua sanfona ficaram, 
de repente, totalmente fora de moda. “Começou assim a fase derradeira de sua carrei-
ra, que se estendeu até o final dos anos 80. Nesse período, em que lançou em média 
mais de um LP por ano, renovou seu repertório”, como escreveu Jairo Severiano em 
Uma História da Música Popular Brasileira, no qual aponta João Silva como parceiro 
mais assíduo do Rei do Baião nesta fase final. É também por esta época que o Rei do 
Baião assume de vez o papel de contador de causos, recheando suas apresentações e 
discos com histórias contadas cheias de sabor matuto, fazendo o acompanhamento na 
sanfona, que quase sempre dialoga com o texto que é dito.
1973 – Sai pela Odeon o primeiro LP de seu filho: Luiz Gonzaga Jr. (o nome artístico 
Gonzaguinha só seria assumido de vez em 1977, ano de lançamento do disco Moleque 
Gonzaguinha). À medida que o sucesso de Luiz Gonzaga renascia entre os jovens, o 
filho politizado não topava a proximidade dos militares com o pai e se irritava mais 
ainda ao vê-lo tocar em festas de integrantes do governo que não davam valor a sua 
música. A relação azeda de vez quando a ausência do pai na infância é somada às 
divergências político-ideológicas. “De tempos em tempos, ele vinha me visitar, ia me 
levar pra comprar uma roupa. Geralmente aparecia e eu não estava em casa”, contou 
Gonzaguinha, numa entrevista em 1979. “Ele não acreditava em mim pela minha for-
mação, não tinha domínio sobre mim, temia que eu não virasse boa coisa.”
1977 – Ao lado da cantora Carmélia Alves, Luiz Gonzaga lota o Teatro João Caetano 
(Centro do Rio) com espetáculos da série Seis e Meia.
1978 – Em 11 de junho, no dia em que se completava o 18º aniversário do falecimen-
to de Santana, morre Januário, aos 89 anos.
1979 – Em 3 de outubro, morre Humberto Teixeira, aos 64 anos.
1980 – Em Fortaleza, no Estádio Castelão, o Rei do Baião se apresenta para o Papa 
João Paulo II, que agradece em português: “Obrigado, cantador”!
12Pequenos Notáveis - Luiz Gonzaga
1981 – Reaproxima-se de Gonzaguinha, com quem grava o disco Descanso em Casa, 
Moro no Mundo. Os dois fazem turnê juntos, com shows memoráveis em todo o 
Brasil. São desta turnê os discos A Viagem de Gonzagão e Gonzaguinha e Gonzagão 
e Gonzaguinha ao Vivo. O filho reconsidera a visão crítica sobre o pai e assume a con-
dição de fã. O pai, por sua vez, muda de nome artístico: a partir do reencontro com 
Gonzaguinha, passaria a assinar como Gonzagão, inclusive nos discos.
1982 – É sondado para ser candidato a deputado federal pelo PDS, mas declina. Neste 
mesmo ano, se apresenta pela primeira vez no exterior, com um show em Paris a con-
vite da cantora amazonense Nazaré Pereira. Na plateia do Teatro Bobino, gente impor-
tante do Brasil, como o ministro Celso Furtado e a cantora Maria Bethânia. Voltaria à 
capital francesa em 1986, como atração do festival Couleurs Brésil, apresentando-se 
para um público de 15 mil pessoas.
1984 – É homenageado pelo Prêmio Shell de Música, com espetáculo realizado no 
Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
1988 – Pede o desquite e se separa de Helena, depois de 40 anos casados. Assume o 
relacionamento com Zuíta – apelido de Edelzuíta Rabelo, com quem se relacionava 
desde 1968, quando se conheceram numa festa junina de Caruaru (PE).
1989 – Faz o último show em 6 de junho, no Teatro Guararapes (Recife), ao lado de 
amigos e discípulos como Alceu Valença, Marinês, Pinto do Acordeon, Gonzaguinha, 
Dominguinhos, Joquinha Gonzaga, Waldonys e Nando Cordel, entre outros amigos. Já 
bastante debilitado por um câncer de próstata, sua entrada no palco se deu de cadeira 
de rodas. Depois de 42 dias de internação, Luiz Gonzaga morre no dia 2 de agosto, 
aos 76 anos, no Hospital Santa Joana, no Recife. Velado na Assembleia Legislativa do 
Estado de Pernambuco, foi enterrado em Exu, onde hoje se encontra o Mausoléu do 
Gonzagão. “O Quixote do chapéu de couro”, definia o obituário do dia seguinte no 
Jornal do Brasil, assinado pelo jornalista João Máximo.
2000 – Gilberto Gil lança o CD As Canções de Eu, Tu, Eles, com a trilha sonora do filme 
dirigido por Guel Arraes. O repertório é uma grande homenagem a Luiz Gonzaga, tanto 
com composições de sua autoria, quanto com músicas lançadas por ele (Óia Eu Aqui de 
Novo e Baião da Penha) e novos baiões, como o novo clássico Esperando na Janela. O 
sucesso do CD dá novo gás ao baião e, em especial, à figura de Luiz Gonzaga.
2012 – No ano do centenário de seu nascimento, é homenageado pela escola de 
samba Unidos da Tijuca, que conquista o terceiro título de sua história com o enredo 
O Dia em Que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida para Coroar o Rei Luiz do 
Sertão, desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros.
* Pedro Paulo Malta é músico, jornalista e pesquisador de música popular brasileira. Foi consultor da 
série Pequenos Notáveis, produzida pela MultiRio, que mostra a vida e a obra de grandes compositores 
brasileiros a fim de inspirar crianças de 9 a 14 anos a descobrir suas aptidões.

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