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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO
DIREITO EMPRESARIAL
Atualizado em 05/12/2020: novos julgados e questões de concurso.
Pontos atualizados: nº 11 (Info 656); nº 14 (Info 657); nº 05 (Info 658); nº 14 (Info 658); nº 11 (Info 659); nº 05 (Info 660); nº 14 (Info 660); nº 11 (Info 661); nº 11 (Info 676 - julgados)
1. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 
1.1. SOCIEDADE ANÔNIMA: A ação social reparatória (ut universi) ajuizada pela sociedade empresária contra ex-administradores (art. 159 da Lei das SA), depende de autorização da assembleia geral, podendo esta autorização ser comprovada após o ajuizamento da ação – (Info 653)
		A ação social reparatória (ut universi) ajuizada pela sociedade empresária contra administradores ou ex-administradores, na forma do art. 159 da Lei 6.404/76, depende de autorização da assembleia geral ordinária ou extraordinária.
A redação do art. 159 da LSA afirma que esta autorização é prévia, ou seja, a autorização deveria ser obtida antes do ajuizamento da ação, sendo juntada com a petição inicial da demanda.
Vale ressaltar, contudo, que a jurisprudência admite que essa autorização assemblear seja obtida mesmo após a propositura da ação social.
Assim, ainda que a ação social tenha sido proposta sem a autorização, é possível que este vício seja sanado e que a assembleia-geral confira a autorização durante a tramitação.
Isso se justifica porque essa autorização está relacionada com a capacidade da companhia de estar em juízo (legitimatio ad processum). Logo, eventual irregularidade pode vir a ser sanada após o ajuizamento da ação, devendo o juiz designar prazo para que a sociedade anônima faça a regularização na forma do art. 76 do CPC/2015 (Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício).
Art. 159. Compete à companhia, mediante prévia deliberação da assembleia-geral, a ação de responsabilidade civil contra o administrador, pelos prejuízos causados ao seu patrimônio.
STJ. 3ª T. REsp 1778629-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 6/8/19 (Info 653).
1.2. SOCIEDADE LIMITADA: A sucessão civil e processual dos sócios de sociedade limitada, extinta por meio do distrato, poderá ser efetivada por meio do procedimento de habilitação, mas não pela via da desconsideração da personalidade jurídica – (Info 646)
		A extinção da pessoa jurídica se equipara à morte da pessoa natural (art. 110 do CPC/2015), atraindo a sucessão material e processual com os temperamentos próprios do tipo societário e da gradação da responsabilidade pessoal dos sócios.
Em sociedades de responsabilidade limitada, após integralizado o capital social, os sócios não respondem com seu patrimônio pessoal pelas dívidas titularizadas pela sociedade, de modo que o deferimento da sucessão dependerá intrinsecamente da demonstração de existência de patrimônio líquido positivo e de sua efetiva distribuição entre seus sócios.
A demonstração da existência de fundamento jurídico para a sucessão da empresa extinta pelos seus sócios poderá ser objeto de controvérsia a ser apurada no procedimento de habilitação, que é previsto no art. 687 do CPC/2015, aplicável por analogia à extinção de empresas no curso de processo judicial.
A desconsideração da personalidade jurídica não é, portanto, via cabível para promover a inclusão dos sócios em demanda judicial, da qual a sociedade era parte legítima, sendo medida excepcional para os casos em que verificada a utilização abusiva da pessoa jurídica.
STJ. 3ª T. REsp 1.784.032-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 2/4/19 (Info 646).
	OBS:
Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º.
Art. 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados houverem de suceder-lhe no processo.
1.3. SOCIEDADE LIMITADA: Ex-sócio de sociedade limitada não é responsável por obrigação contraída após sua saída da empresa – (SEM INFO)
		Na hipótese de cessão de quotas sociais, a responsabilidade do cedente pelo prazo de até 2 anos após a averbação da respectiva modificação contratual restringe-se às obrigações sociais contraídas no período em que ele ainda ostentava a qualidade de sócio, ou seja, antes da sua retirada da sociedade.
Ex: o sócio João retira-se da sociedade e a averbação dessa alteração social é levada à Junta Comercial em 18/2/14. Dessa última data conta-se o prazo de 2 anos para que os credores ou a sociedade o acionem pelas obrigações contraídas até 18/2/14. 
Essa é a interpretação dos arts. 1.003, § único, 1.032 e 1.057, § único, do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1537521/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 5/2/19.
1.4. A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa – (Info 632)
		A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.
Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.
STJ. 3ª Turma. REsp 1677983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 26/6/18 (Info 632).
1.5. Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas), para a ação de complementação de ações – (Info 630)
		Legitimidade passiva da Telebrás (antiga empresa estatal), bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas), para a ação de complementação de ações, na hipótese em que as ações originárias tenham sido emitidas pela Telebrás.
A legitimidade passiva para a demanda por complementação de ações é definida de acordo com as seguintes hipóteses:
1) Contrato de participação financeira celebrado com companhia independente não controlada pela TELEBRÁS (ex.: CRT S/A): legitimidade passiva da companhia independente, ou da sucessora desta (ex.: OI S/A); 
2) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela TELEBRÁS (ex.: TELESC S/A), e emissão originária de ações pela controlada: legitimidade passiva da TELEBRÁS, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas); 
3) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela TELEBRÁS, e emissão de ações pela TELEBRÁS: legitimidade passiva da TELEBRÁS, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas). 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.801-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 23/5/18 (recurso repetitivo) (Info 630).
1.6. SOCIEDADE ANÔNIMA: Prescrição em caso de ação de exigir contas pelo pagamento de dividendos e outros rendimentos – (Info 627)
		A pretensão do titular de ações de exigir contas da sociedade anônima referente ao pagamento de dividendos, juros sobre capital próprio e demais rendimentos inerentes às respectivas ações prescreve em três anos. 
Fundamento: art. 287, II, “a”, da Lei nº 6.404/76.
STJ. 3ª Turma. REsp 1608048-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22/5/18 (Info 627).
	OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João é titular de ações nominativas da sociedade anônima “BGG S/A”. João entende que a BGG não lhe pagou os dividendos, os juros sobre capital próprio e os demais rendimentos corretamente nos últimos 6 anos. Em razão disso, João quer ajuizar ação de exigir contas contra a empresa, nos termos do art. 550 do CPC, exigindo a prestação das contas dos últimos 6 anos. Surgiu, no entanto, a dúvida a respeito do prazo prescricional.
 
João poderá pedir a prestação de contas dos últimos 6 anos? NÃO. Somente dos últimos 3 anos.
Existe a previsão expressa de um prazo para a ação de exigir contas? Não. Não há um prazo prescricional específico para o ajuizamento da ação de exigir contas, o que atrai, de modogeral, a aplicação do prazo residual de 10 anos, constante do art. 205 do CC/02:
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
 
Desse modo, em princípio, o indivíduo que confiou a administração de seus bens a um terceiro goza do prazo de 10 anos para exigir que o gestor de seus bens preste as respectivas contas. Depois que o réu apresentar as contas, se ficar constatado que havia saldo em favor do autor, será possível pedir o pagamento desta quantia no bojo da mesma ação. Veja-se que as pretensões de exigir contas e a de obter o ressarcimento, na eventualidade de se apurar a existência de crédito a favor do demandante, embora não se confundam, são umbilicalmente ligadas e instrumentalizadas no bojo da mesma ação. Em razão disso, o prazo para se exigir contas deve ser o mesmo prazo para se pedir o pagamento dos valores residuais que eventualmente existam. Logo, não havendo na lei um prazo específico para a satisfação (“cobrança”) desse crédito, oriundo da administração/gestão de bens alheios, o exercício dessa pretensão observa, naturalmente, o mesmo prazo prescricional da ação de exigir as contas em que veiculada, que é de 10 anos.
 
Prazo para cobrança de dividendos é de 3 anos e, portanto, interfere no prazo para exigir contas: O titular ações de uma sociedade anônima possui o prazo prescricional de 3 anos para exigir o pagamento dos dividendos. Isso está previsto no art. 287, II, da Lei 6.404/76 (Lei das SA):
Art. 287. Prescreve: (...)
II - em 3 (três) anos:
a) a ação para haver dividendos, contado o prazo da data em que tenham sido postos à disposição do acionista;
 
Esse dispositivo legal dispõe sobre a ação de cobrança de dividendos. Não trata expressamente a respeito da pretensão de exigir contas. Porém, como visto, não se pode deixar de reconhecer que a pretensão do acionista de exigir contas da companhia não se exaure na sua simples prestação, pois se destina, em última análise, à apuração do saldo de dividendos e, caso existente, também à sua satisfação.
Em outras palavras, sendo de 3 anos o prazo prescricional de cobrança dos dividendos, também deve ser de 3 anos o prazo prescricional para o ajuizamento da ação de exigir contas. Isso porque o objetivo final do autor é o de receber o saldo que ele entende que pode existir.
1.7. Ação de regresso proposta pela empresa cindida contra a empresa resultante da cisão – (Info 619)
		Cabe ação de regresso para ressarcimento de condenação relativa a obrigações tipicamente societárias suportada exclusivamente por empresa cindida contra empresa resultante da cisão parcial, observando-se a proporção do patrimônio recebido.
Ex: a Tele Sudeste surgiu a partir da cisão parcial da Telebrás (a Tele Sudeste é 2,42% do patrimônio original da Telebrás); determinado banco propôs ação contra a Telebrás e a Tele Sudeste cobrando uma quantia decorrente de uma obrigação de debênture (obrigação societária) anterior à cisão; ambas foram condenadas a pagar o valor total de R$ 5 milhões; a Telebrás cumpriu o julgado e quitou integralmente a dívida; em seguida, a Telebrás ajuizou ação regressiva contra a Tele Sudeste cobrando 2,42% do valor pago pela condenação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1642118-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 12/9/17 (Info 619).
	OBS: Em outras palavras, a Tele Sudeste deverá também ser condenada a ressarcir 2,42% do valor que a Telebrás pagou a título de condenação judicial. Ex: 2,42% de R$ 5 milhões (mais os juros, correção monetárias, honorários etc.).
Obrigações decorrentes da cisão: A responsabilidade por obrigações decorrentes da cisão envolve duas classes de obrigações:
a) obrigações tipicamente societárias (decorrentes do vínculo societário que agrega os acionistas); e
b) obrigações cíveis lato sensu (advindas da apuração do patrimônio líquido da sociedade cindida).
 
No tocante à primeira classe, nos termos do art. 229, § 1º, da Lei das Sociedades Anônimas (LSA), verifica-se que haverá indiscutível sucessão de direitos e obrigações relacionados no protocolo de cisão:
Lei n. 6.404/76, Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não relacionados.
 
Com efeito, com a cisão ocorrerá o aumento de capital da empresa destinatária, que absorverá a parcela do patrimônio líquido cindido a título de integralização das ações subscritas em benefício dos sócios da empresa cindida. Assim, há um completo entrelaçamento do quadro societário das empresas em negociação. A atribuição de participação societária na empresa receptora aos sócios da empresa cindida, na medida em que configura elemento essencial do instituto jurídico, não pode ser afastada por mera disposição contratual, sob pena de absoluto desvirtuamento do instituto jurídico.
No caso analisado, tem-se que a natureza da obrigação debatida é inquestionavelmente de direito societário. Por via de consequência, é devida a ação de regresso para ressarcimento pela empresa resultante da cisão, observando-se a proporção do patrimônio cindido recebido.
1.8. SOCIEDADE LIMITADA: Quórum para exclusão judicial do sócio majoritário não inclui as suas quotas – (Info 616) – Atenção! Juiz de Direito!
		A exclusão judicial do sócio majoritário nas sociedades limitadas é disciplinada pelo art. 1.030 do Código Civil:
Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.
O que significa essa expressão “mediante iniciativa da maioria dos demais sócios” prevista no art. 1.030 do CC? No cálculo dessa maioria deve-se incluir as quotas do sócio “acusado”?
Não. A lei é explícita ao falar em maioria dos demais sócios. Consideram-se apenas as quotas dos demais sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir. Isso porque o art. 1.030 é a oportunidade que a legislação confere aos sócios minoritários de excluírem o sócio majoritário.
Assim, o quórum deliberativo para exclusão judicial do sócio majoritário por falta grave no cumprimento de suas obrigações deve levar em conta a maioria do capital social de sociedade limitada, excluindo-se do cálculo o sócio que se pretende jubilar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1653421-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/10/17 (Info 616).
1.9. SOCIEDADE ANÔNIMA: Inventariante não pode votar em assembleia da sociedade anônima alterando o controle da companhia e alienando bens do acervo patrimonial – (Info 612)
		O inventariante, representando o espólio, não pode votar em assembleia de sociedade anônima da qual o falecido era sócio com a pretensão de alterar o controle da companhia e vender bens do acervo patrimonial. 
Os poderes de administração do inventariante são aqueles relativos à conservação dos bens inventariados para a futura partilha, dentre os quais se pode citar o pagamento de tributos e aluguéis, a realização de reparos e a aplicação de recursos, atendendo o interesse dos herdeiros. 
A atuação do inventariante, alienando bens sociais e buscando modificar a natureza das ações e a própria estrutura de poder da sociedade anônima, está fora dos limites dos poderes de administração e conservação do patrimônio. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.627.286-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/6/17 (Info 612).
	OBS: No momento dasucessão (morte do autor da herança), o patrimônio do falecido se constitui numa universalidade de bens, que sofrerá divisão com o término da partilha. Enquanto perdura o processo de divisão do patrimônio, é preciso que alguém administre o espólio, zelando pelos bens que o integram. Essa pessoa é o inventariante. De acordo com o art. 618, II, do CPC/2015:
Art. 618. Incumbe ao inventariante: (...)
II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem;
Segundo o art. 619, I, do CPC, o inventariante somente poderá fazer a alienação de bens de qualquer espécie se ouvir previamente os interessados e desde que haja autorização judicial. O inventariante, ao participar da assembleia geral, tinha o objetivo de alterar o estatuto social da companhia para permitir a conversão de ações preferenciais em ordinárias, atendendo seu interesse pessoal e de alguns outros herdeiros. Com a alteração realizada, os herdeiros detentores de ações preferenciais, que não têm direito a voto, passariam a ter esse direito, o que poderia modificar o controle acionário da companhia. Trata-se, portanto, de ato que extrapola a simples administração.
Nesse contexto, não há como entender que o voto do inventariante para modificar a natureza das ações e a própria estrutura de poder da sociedade anônima esteja dentro dos limites estabelecidos pelo art. 618, II, do CPC.
1.10. SOCIEDADE ANÔNIMA: Fechamento em branco ou indireto de capital – (Info 612)
		Não configura o fechamento em branco ou indireto de capital a hipótese de incorporação de ações de sociedade controlada para fins de transformação em subsidiária integral (art. 252 da Lei das S/A), realizada entre sociedades de capital aberto, desde que se mantenha a liquidez e a possibilidade de os acionistas alienarem as suas ações. 
Assim, é desnecessária a oferta pública de ações em favor dos acionistas preferenciais da companhia que teve suas ações incorporadas, mas que continuam com plena liquidez no mercado de capitais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.327-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, j. 19/9/17 (Info 612).
1.11. SOCIEDADE ANÔNIMA: Definição do “valor justo de mercado” como critério a ser utilizado para o cálculo do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante – (Info 611)
		A definição do valor justo de mercado como critério a ser utilizado para o cálculo do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante, por ocasião da incorporação da companhia controlada, não infringe o disposto no art. 45, § 1º, da Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações).
A utilização do valor justo de mercado como parâmetro para indenizar as ações de acionista retirante em caso de incorporação de companhias não fere a Lei das Sociedades Anônimas, e é possível nos casos em que o valor do patrimônio líquido contábil da empresa incorporada não reflita fielmente o valor daquelas ações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.572.648-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/9/17 (Info 611).
1.12. SOCIEDADE LIMITADA: O herdeiro necessário não possui legitimidade para ação de dissolução parcial de sociedade, salvo se for em defesa de interesse do espólio – (Info 611)
		O herdeiro necessário não possui legitimidade ativa para propositura de ação de dissolução parcial de sociedade em que se busca o pagamento de quotas sociais integrantes do acervo hereditário quando não for em defesa de interesse do espólio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.672-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22/8/17 (Info 611).
	OBS: A jurisprudência do STJ até admite que, enquanto não for realizada a partilha, o herdeiro necessário ingresse em juízo pedindo a dissolução parcial da sociedade empresária e a apuração de haveres. No entanto, isso somente é admitido se o pedido for feito na defesa do interesse do espólio. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.505.428-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 27/6/2016.
No caso concreto, contudo, o herdeiro necessário não estava tutelando os interesses do espólio, mas sim seus interesses individuais.
A liquidação da quota social em virtude da decisão do herdeiro de não prosseguir o exercício empresarial, depende de uma manifestação do espólio, ou seja, do conjunto de herdeiros, e não de um único herdeiro. Assim, a realização da apuração de haveres antes da partilha apenas deverá ocorrer quando houver consenso quanto à inexistência de interesse na sucessão do falecido na sociedade empresária. O intuito precípuo da legislação é o de preservação da sociedade empresária e isso pode acabar sendo inviabilizado ou, ao menos dificultado, se houver a liquidação da quota social.
1.13. SOCIEDADE ANÔNIMA: Se o indivíduo não é mais acionista no momento do ato de declaração do dividendo, não terá direito de receber os lucros da companhia – (Info 610)
		Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício. 
Fundamento jurídico: art. 205 da Lei nº 6.404/76. 
Ex: o indivíduo possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima. Em fev/2015, ele vendeu suas ações. Em abril/2015, a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e deliberou pagar aos acionistas da companhia os dividendos apurados no ano anterior (2014). Este indivíduo não terá direito ao pagamento porque na data do ato de declaração do dividendo (data da Assembleia), ele já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/8/17 (Info 610).
	OBS:
Art. 205. A companhia pagará o dividendo de ações nominativas à pessoa que, na data do ato de declaração do dividendo, estiver inscrita como proprietária ou usufrutuária da ação.
O autor vendeu suas ações em fevereiro de 2015. O ato de declaração do dividendo ocorreu em abril de 2015 (data em que foi realizada a Assembleia Geral Ordinária). Neste momento, o autor já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia. Logo, ele realmente não tinha mais direito aos dividendos. O simples fato de o autor possuir as ações no período do exercício a que correspondem os dividendos, não faz com que ele tenha direito aos dividendos considerando que existe regra expressa no art. 205 exigindo que a pessoa esteja inscrita como proprietária ou usufrutuária na data do ato de declaração do dividendo.
1.14. SOCIEDADE LIMITADA: Se parte das quotas do sócio retirante estão empenhadas (penhor), a apuração dos haveres ficará limitada às quotas livres do ônus real – (Info 608)
		A dissolução parcial de sociedade limitada por perda da affectio societatis pode ser requerida pelo sócio retirante, limitada a apuração de haveres às suas quotas livres de ônus reais. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.766-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1/6/17 (Info 608).
1.15. SOCIEDADE LIMITADA: Momento em que se considera dissolvida a sociedade empresária para fins de apuração de haveres – (Info 595) – IMPORTANTE!!! – (TJSP-2018)
		Na hipótese em que o sócio de sociedade limitada constituída por tempo indeterminado exerce o direito de retirada por meio de inequívoca e incontroversa notificação aos demais sócios, a data-base para apuração de haveres é o termo final do prazo de 60 dias, estabelecido pelo art. 1.029 do CC/02. 
STJ. 3ª T. REsp 1.602.240-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/12/16 (Info 595).
1.16. SOCIEDADE ANÔNIMA: Dissolução parcial da sociedade anônima que não está gerando lucros – (Info 595) – IMPORTANTE!!! – (MPRO-2010) (TRF3-2012) (TJSP-2018) (Aud. Cont. Interno-CGE/CE-2019)
		É possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que não formada por grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito de não atingir seu fim – consubstanciado no auferimento de lucros e na distribuição de dividendos aos acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos negócios da companhia. 
STJ.3ª T. REsp 1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 6/12/16 (Info 595).
	(TRF4-2012): Segundo a jurisprudência prevalente, é possível a dissolução parcial de sociedade anônima com a retirada dos sócios dissidentes, após a apuração de seus haveres.
(MPRO-2010-CESPE): É possível a dissolução parcial da sociedade anônima familiar fechada quando houver quebra da affectio societatis, ainda que tal requisito não esteja necessariamente conjugado com a perda de lucratividade e a ausência de distribuição de dividendos.
1.17. SOCIEDADE LIMITADA: Impossibilidade de nomeação de liquidante em dissolução parcial de sociedade empresária – (Info 580)
		A nomeação de liquidante somente se faz necessária nos casos de dissolução total da sociedade, considerando que suas atribuições estão relacionadas com a gestão do patrimônio social de modo a regularizar a sociedade que se pretende dissolver. 
Na dissolução parcial, em que se pretende apurar exclusivamente os haveres do sócio falecido ou retirante, com a preservação da atividade da sociedade, basta que seja nomeado um perito técnico habilitado para realizar uma perícia contábil a fim de determinar o valor da quota-parte devida ao ex-sócio ou aos seus herdeiros. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.557.989-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 17/3/16 (Info 580).
	OBS:
Dissolução de uma sociedade: A dissolução de uma sociedade pode ser:
· Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.
· Total: quando a sociedade é extinta.
Dissolução parcial de sociedade: Ocorre quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”. Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade. Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios. 
Morte de um dos sócios: Quando um dos sócios morre, haverá também, pelo menos a princípio, a dissolução parcial da sociedade. Isso porque pode acontecer de os demais sócios quererem continuar a sociedade. Veja o que estabelece a regra do art. 1.028 do CC, válida para as sociedades simples, mas que pode ser aplicada supletivamente às sociedades limitadas (art. 1.053):
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:
I — se o contrato dispuser diferentemente;
II — se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; (obs.: aqui se está falando da dissolução total)
III — se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.
Apuração de haveres: O sócio que deixa uma sociedade tem direito de receber a sua parte no patrimônio da sociedade. O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de apuração de haveres, que está previsto no art. 1.031 do CC e no art. 599 do CPC/15. Da mesma forma, se um dos sócios morre, haverá, como vimos, a dissolução parcial da sociedade, e os herdeiros do sócio falecido terão direito de receber a parte que ele tinha na sociedade. Isso é feito por meio da apuração de haveres. Vejamos os dispositivos citados:
Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado.
§ 1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota.
§ 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.
Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto:
I — a resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e 
II — a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou
III — somente a resolução ou a apuração de haveres.
No art. 600 do CPC/15 estão listadas as pessoas que têm legitimidade para ingressar com a ação de dissolução parcial de sociedade.
Dissolução total da sociedade e processo de liquidação: Ocorrendo a dissolução total da sociedade, exceto nos casos de fusão, incorporação e cisão, a sociedade deve entrar em processo de liquidação. A liquidação é o processo por meio do qual se irá calcular o quanto a sociedade possui de ativo, vender os seus bens para, em seguida, pagar as dívidas que existam (passivo) e, se sobrar algum valor, dividi-lo entre os sócios (partilha).
"Nessa fase, a sociedade ainda existe, ainda mantém a personalidade jurídica, mas apenas para finalizar as negociações pendentes e realizar os negócios necessários à realização da liquidação, tanto que deve operar com o nome seguido da cláusula em liquidação, para que terceiros não se envolvam em novos negócios com a sociedade." (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. 5ª ed., São Paulo: Atlas, 2013, p. 389).
Liquidante da sociedade: Como vimos, na dissolução total é necessária a fase de liquidação. Para realizar este processo, deverá ser designada uma pessoa que irá exercer o papel de liquidante. O liquidante é como se fosse um "administrador" da sociedade que foi dissolvida e será o responsável pelas últimas providências necessárias ao encerramento da sociedade. Dentre as atribuições do liquidante, compete a ele representar a sociedade e praticar todos os atos necessários à sua liquidação, inclusive alienar bens móveis ou imóveis, transigir, receber e dar quitação (art. 1.105 do CC).
Na liquidação PARCIAL da sociedade, também existe a figura do liquidante? NÃO.
1.18. SOCIEDADE LIMITADA: Prazo decadencial para desconstituir deliberação societária excludente de sócio minoritário – (Info 575)
		É de 3 anos o prazo decadencial para que o sócio minoritário de sociedade limitada de administração coletiva exerça o direito à anulação da deliberação societária que o tenha excluído da sociedade, ainda que o contrato social preveja a regência supletiva pelas normas da sociedade anônima. Esse prazo está previsto no art. 48 do Código Civil. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.459.190-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/12/15 (Info 575).
1.19. SOCIEDADE LIMITADA: Formação de quórum deliberativo necessário à exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada (Info 575)
		Para a fixação do quórum deliberativo assemblear necessário à aprovação da exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada, não se pode computar a participação deste no capital social, devendo a apuração da deliberação se lastrear em 100% do capital restante, ou seja, tão somente no capital social daqueles legitimados a votar. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.459.190-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/12/15 (Info 575).
1.20. Certidões negativas que podem ser exigidas na transformação de sociedade simples em empresarial – (Info 574)
		Para efetuar o registro e o arquivamento de alteração contratual, a fim de promover a transformação de sociedade civil em empresária, não é exigível a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União, exigindo-se, contudo, certidão negativa de débito com o INSS. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.393.724-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 28/10/15 (Info 574).
1.21. SOCIEDADE LIMITADA: Competência para julgar dissolução parcial de sociedade limitada com apuração de haveres – (Info 566)
		João era sócio em mais de 20 sociedades limitadas de grande porte. Determinado dia, João morre. Foi instaurado um processo judicial de inventário e partilha dos bens de João, sendo nomeada como inventariante a sua mulher sobrevivente. A inventariantedeseja ingressar com "ação de dissolução parcial da sociedade com apuração dos haveres" a fim de que seja calculado o valor que seu marido falecido tinha direito em relação a cada uma das empresas. 
O advogado da inventariante ficou, no entanto, com uma dúvida: o juízo competente para julgar essa ação será a vara cível ou a vara de sucessões (onde já tramita o inventário do sócio falecido)? 
Compete ao juízo cível - e não ao juízo de sucessões no qual tramita o inventário - julgar, com consequente apuração de haveres do de cujus, dissolução parcial de sociedade limitada que demande extensa dilação probatória. No caso concreto, o juízo competente será a vara cível porque eram muitas sociedades, exigindo ampla dilação probatória, o que é inviável no juízo do inventário. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.459.192-CE, Rel. originário Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão João Otávio de Noronha, j. 23/6/2015 (Info 566).
1.22. SOCIEDADE LIMITADA: Legitimidade ativa para ação social – (Info 563)
		Acionistas e companhia podem litigar em litisconsórcio facultativo ativo em ação de responsabilidade civil contra o administrador pelos prejuízos causados ao patrimônio da sociedade anônima (art. 159 da Lei 6.404/1976), quando não proposta a ação pela companhia no prazo de três meses após a deliberação da assembleia-geral (§ 3º). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.515.710-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 12/5/15 (Info 563).
1.23. SOCIEDADE LIMITADA: Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante de sociedade por quotas de responsabilidade limitada – (Info 558)
		Ocorre a dissolução parcial da sociedade limitada quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada e continua suas atividades. 
Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade. 
Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios. 
O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de APURAÇÃO DE HAVERES. 
Qual é o critério adotado para se fazer a apuração de haveres do sócio retirante?
SEGUNDO O ENTENDIMENTO DO STJ: 
· O contrato social pode prever o critério para a apuração dos haveres do sócio retirante no caso de dissolução parcial de sociedade limitada; 
· No entanto, o critério previsto no contrato social somente prevalecerá se houver consenso entre as partes quanto ao resultado alcançado; 
· Caso não haja concordância entre as partes, deve-se aplicar o “balanço de determinação”, que é o critério que melhor reflete o valor patrimonial da empresa; 
· O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na apuração de haveres do sócio dissidente. 
SEGUNDO O CPC 2015: 
· A primeira opção no caso de apuração dos haveres é adotar o critério previsto no contrato social (art. 604, II).
· Somente se o contrato social for omisso, ou seja, apenas se ele não previr um critério de apuração de haveres, é que será adotado o “balanço de determinação” (art. 606). 
O mais seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606 do CPC 2015, que irá ser bastante cobrado nas provas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/15 (Info 558).
1.24. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO: Aplicação do art. 1.034 do CC para a sua dissolução judicial – (Info 554)
		Como ocorre a dissolução da sociedade em conta de participação? Qual é o fundamento legal? 
Não existe regra específica para disciplinar a dissolução da sociedade em conta de participação. 
Diante disso, o STJ decidiu que deverá ser aplicada, subsidiariamente, a regra do art. 1.034 do CC, que define, de forma taxativa, as hipóteses pelas quais se admite a dissolução judicial das sociedades. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.230.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/12/14 (Info 554).
1.25. SOCIEDADE ANÔNIMA: Prazo prescricional para cobrança de debêntures – (Info 526)
		Prescreve em cinco anos a pretensão de cobrança de valores relativos a debêntures.
STJ. 4ª Turma. REsp 1316256-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/6/2013 (Info 526).
	OBS: Deve ser aplicada a regra prevista no art. art. 206, § 5º, I do CC:
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;
1.26. SOCIEDADE ANÔNIMA: Ação de responsabilidade contra administradores e prévia anulação da aprovação de contas – (Info 500) – (TJAC-2012)
		Para o ajuizamento da ação de responsabilidade civil contra os administradores da sociedade anônima, é necessária a prévia propositura da ação de anulação da assembleia geral que aprovou as contas da sociedade. 
Somente após o trânsito em julgado da sentença que julgar procedente a ação anulatória da assembleia (pela ocorrência de erro, dolo, fraude ou simulação), será possível ajuizar a ação de responsabilidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1313725-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/6/2012 (Info 500).
1.27. SOCIEDADE LIMITADA: Repercussão econômica do renome do sócio não integra cálculo da apuração de haveres – (Sem Info)
		Quando um sócio deixa a sociedade (dissolução parcial de sociedade), deve-se calcular a parte que lhe cabe no patrimônio social. A isso se chama “apuração de haveres”.
A possível repercussão econômica do renome de um dos sócios não integra o cálculo na apuração de haveres em dissolução parcial de sociedade simples composta por profissionais liberais. Isso porque o renome é atributo personalíssimo, intransferível, fora do comércio, e não é passível de indenização a título de fundo de comércio.
STJ. 4ª Turma. REsp 958116-PR, Rel. originário Min. João Otávio de Noronha, Rel. para o acórdão Min. Raul Araújo (art. 52, IV, b, do RISTJ), julgado em 22/5/2012.
2. TRESPASSE 
2.1. A cláusula de não concorrência fixada por prazo indeterminado é abusiva – (Info 554) – IMPORTANTE!!! – (TRF3-2018)
		Nos contratos de trespasse (alienação do estabelecimento comercial) existe, de forma implícita, por força de lei, uma cláusula de não concorrência (cláusula de não restabelecimento). 
Isso significa que, em regra, o alienante não pode fazer concorrência ao adquirente. Segundo o art. 1.147, o prazo da cláusula de não concorrência é de 5 anos. 
As partes não podem prever que a cláusula de “não restabelecimento” será por prazo indeterminado. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não aceita que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo indeterminado. Logo, a cláusula de não restabelecimento fixada por prazo indeterminado é considerada abusiva. 
STJ. 4ª Turma. REsp 680.815-PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 20/3/14 (Info 554).
3. CONTRATO DE FRANQUIA 
3.1. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 – (Info 591) – IMPORTANTE!!!
		A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato de adesão. 
Segundo o art. 4º, § 2º da Lei 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente: 
· tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou 
· concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96. 
Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que observados os requisitosdo art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).
	OBS:
CONTRATO DE FRANQUIA: A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o direito de usar a sua marca ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, haver a transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. O contrato de franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes termos:
Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.
O contrato firmado entre o franqueado e o franqueador é regido pelo Código de Defesa do Consumidor? O franqueado poderá invocar o CDC para discutir seus direitos em relação ao franqueador? NÃO.
O contrato de franquia é um contrato de adesão? SIM. O contrato de franquia é um contrato de adesão.
"Caracterizam-se os contratos de adesão pela desigualdade entre as partes contratantes: basicamente, uma das partes, o policitante, impõe à outra – o oblato – as condições e cláusulas que previamente redigiu. Não existe discussão a respeito do teor do contrato e suas cláusulas, de modo que o oblato cinge-se a anuir à proposta do policitante. Tais contratos supõem, antes de mais nada, a superioridade econômica de um dos contratantes, que fixa unilateralmente as cláusulas contratuais; o contratante economicamente mais fraco manifesta seu consentimento aceitando, pura e simplesmente, as condições gerais impostas pelo outro contratante; a proposta é, de regra, aberta a quem se interessar pela contratação; e a oferta é predeterminada, uniforme e rígida." (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. São Paulo: Atlas, 3ª ed., 2009, p. 106)
Mas o contrato de franquia não é um contrato de consumo... Não importa. Essa confusão é um erro comum em muitos estudantes. Nem todo contrato de adesão é um contrato de consumo e nem todo contrato de consumo é de adesão. São conceitos diferentes. Portanto, o contrato de franquia não é um contrato de consumo, mas, mesmo assim, é um contrato de adesão.
CLÁUSULA ARBITRAL NO CONTRATO DE FRANQUIA
Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é resolvido por um terceiro.
Regulamentação: A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema.
Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é...
- uma cláusula prevista no contrato,
- de forma prévia e abstrata,
- por meio da qual as partes estipulam que
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).
Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de Arbitragem)."
A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei 9.307/96:
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.
A cláusula compromissória é válida?
	REGRA: a cláusula compromissória é VÁLIDA.
	Peculiaridade 1:
contratos de ADESÃO
	Peculiaridade 2:
contratos de CONSUMO
	Peculiaridade 3:
Dissídios individuais de TRABALHO
	É válida, desde que o aderente:
• tenha tomado a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
• concorde, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula (art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96).
	Não é válida. O CDC estipula que é nula de pleno direito a cláusula que determina a utilização compulsória de arbitragem (art. 51, VII).
Vale ressaltar, no entanto, que é possível compromisso arbitral nas relações de consumo (REsp 1.169.841-RJ).
	Não é válida arbitragem nos dissídios individuais de trabalho, conforme entendimento pacífico do TST.
Obs: é permitida a arbitragem no caso de dissídios coletivos de trabalho (art. 114, § 1º da CF/88).
É possível a previsão de cláusula compromissória em contratos de franquia? O contrato de franquia é uma espécie de contrato de adesão.
Assim, só será válida cláusula compromissória em contrato de franquia se o aderente (franqueado):
· tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
· concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.
Desse modo, aplica-se ao contrato de franquia a regra prevista no § 2º do art. 4º da Lei 9.307/96:
§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96.
3.2. Validade de notificação por e-mail para o exercício de direito de preferência (Info 570)
		Em um contrato de franquia, havia uma cláusula segundo a qual a franqueadora teria direito de preferência caso a fraqueada decidisse vender o estabelecimento comercial. Para isso, quando a franqueada recebesse alguma proposta pelo imóvel, deveria notificar a franqueadora para que esta decidisse se desejaria pagar o mesmo valor e, assim, ficar com o bem. 
A franqueada recebeu uma proposta para vender o estabelecimento comercial e notificou a franqueadora, por e-mail, para que esta exercesse seu direito de preferência. 
O STJ entendeu que essa notificação por e-mail é válida. 
No caso concreto, o Tribunal entendeu que a notificação realizada foi idônea porque: o contrato não previa forma específica para a notificação; o correio eletrônico era o meio usual de comunicação entre franqueadora e franqueado; houve ciência inequívoca da franqueadora quanto à data do envio e do recebimento da mensagem; havia segurança da franqueadora quanto à legitimidade do remetente já que ela sempre recebia e-mails do franqueado; e quanto ao conteúdo, foram respeitados os requisitos estabelecidos na cláusula contratual. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.545.965-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/9/2015 (Info 570). 
4. FACTORING 
4.1. Empresa de factoring que recebeu cessão dos créditos de contrato tem legitimidade para figurar no polo passivo da ação que pede a revisão do pacto – (Info 608)
		A empresa de factoring, que figura como cessionária dos direitos e obrigações estabelecidos em contrato de compra e venda em prestações, de cuja cessão foi regularmente cientificado o devedor, tem legitimidade para figurar no polo passivo de demandas que visem à revisão das condições contratuais. 
Ex: Pedro comprou da loja uma moto parcelada. No mesmo instrumento contratual, a loja cedeu esse crédito para uma factoring. Assim, no próprio contrato de compra e venda havia uma cláusula dizendo que a loja estava cedendo o créditopara a factoring, a quem o devedor deveria pagar as parcelas e que, em caso de inadimplemento, a factoring iria pleitear a restituição do bem vendido. Se Pedro desejar propor ação pedindo a revisão deste contrato, poderá ajuizá-la diretamente contra a factoring. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.343.313-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Antônio Carlos Ferreira, j. 1/6/17 (Info 608).
4.2. Factoring e desnecessidade de notificação de emitente de título de crédito – (Info 573)
		É desnecessária a notificação de emitente de cheque com cláusula "à ordem", para que o faturizador que tenha recebido a cártula por meio de endosso possa cobrar o crédito decorrente de operação de factoring. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.236.701-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/11/15 (Info 573).
4.3. Faturizada responde caso o título cedido à faturizadora seja inexistente – (Info 535) – (TRF5-2015)
		A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de factoring vinculado a nota promissória, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.289.995-PE, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. 20/2/2014 (Info 535).
4.4. As empresas de factoring não são instituições financeiras (não há relação de consumo no contrato entre uma sociedade empresária e a factoring)
		As empresas de factoring NÃO são instituições financeiras, visto que suas atividades regulares de fomento mercantil não se amoldam ao conceito legal, tampouco efetuam operação de mútuo ou captação de recursos de terceiros. 
Uma sociedade empresária que contrata os serviços de uma factoring não pode ser considerada consumidora porque não é destinatária final do serviço e, tampouco se insere em situação de vulnerabilidade, já que não se apresenta como sujeito mais fraco, com necessidade de proteção estatal. 
Logo, não há relação de consumo no contrato entre uma sociedade empresária e a factoring. 
STJ. 4ª Turma. REsp 938.979-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/6/2012.
5. TÍTULOS DE CRÉDITO 
5.1. DUPLICATA: A aposição de número incorreto da fatura na duplicata invalida o título de crédito, retirando-lhe a exigibilidade executiva extrajudicial – (Info 660) – Atenção! Juiz de Direito!
		O § 1º do art. 2º da Lei 5.474/68 prevê as informações que deverão constar em uma duplicata. Uma das informações que deve obrigatoriamente constar na duplicata é o número da fatura (inciso II).
Se na duplicata constou o número errado da fatura, isso invalida o título, tornando-o inexigível. Isso porque o número da fatura é requisito legal da duplicata.
Assim, em observância ao princípio da literalidade, a aposição de número incorreto da fatura na duplicata invalida o título de crédito, retirando-lhe a exigibilidade executiva extrajudicial.
STJ. 3ª T. REsp 1601552-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 05/11/19 (Info 660).
5.2. CHEQUE: É possível a oposição de exceção pessoal ao portador de cheque prescrito – (Info 658) – IMPORTANTE!!!
		O cheque é um título de crédito. Logo, submete-se aos princípios da literalidade, da abstração, da autonomia das obrigações cambiais.
Uma das decorrências da autonomia é o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé, consagrado pelo art. 25 da Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85):
Art. 25. Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.
Assim, em regra, o emitente do cheque não pode invocar exceções pessoais contra o terceiro de boa-fé que recebeu o título. Ex: o emitente não pode deixar de pagar ao terceiro de boa-fé que recebeu o cheque por endosso alegando que o endossatário (destinatário original do cheque) não cumpriu sua obrigação contratual.
Essa regra, contudo, não se aplica no caso de cheque prescrito.
É possível a oposição de exceção pessoal ao portador de cheque prescrito. Isso porque se o cheque está prescrito, ele perde as suas características cambiárias, tais quais a autonomia, a independência e a abstração. Assim, como o cheque prescrito perde a autonomia, não se aplica mais o conhecido princípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé previsto no art. 25 da Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85).
STJ. 3ª T. REsp 1669968-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 08/10/19 (Info 658).
5.3. NOÇÕES GERAIS: A impenhorabilidade dos bens vinculados à Cédula de Produto Rural (CPR) é absoluta, não podendo ser afastada para satisfação de crédito trabalhista – (Info 653)
		O art. 18 da Lei nº 8.929/94 prevê que os bens vinculados à CPR são impenhoráveis:
Art. 18. Os bens vinculados à CPR não serão penhorados ou sequestrados por outras dívidas do emitente ou do terceiro prestador da garantia real, cumprindo a qualquer deles denunciar a existência da cédula às autoridades incumbidas da diligência, ou a quem a determinou, sob pena de responderem pelos prejuízos resultantes de sua omissão.
Essa impenhorabilidade é considerada absoluta porque existe em virtude da lei e do interesse público de estimular o crédito agrícola. Por essa razão, tal impenhorabilidade prevalece mesmo se estivermos diante da execução de créditos de natureza trabalhista.
STJ. 4ª T. REsp 1327643-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/05/2019 (Info 653).
5.4. CHEQUE: O dever de garantia do emitente do cheque, previsto no art. 15 da Lei nº 7.357/85, não pode ser afastado com fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva – (Info 647)
		O emitente garante o pagamento do valor contido no cheque, considerando-se não escrita a declaração pela qual se exima dessa garantia (art. 15 da Lei 7.357/85).
Esse dever de garantia do emitente do cheque não poder ser afastado com fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva.
Não há lacuna neste caso. Na ausência de lacuna, não cabe ao julgador se valer de um costume para afastar a aplicação da lei, sob pena de ofensa ao art. 4º da LINDB.
De igual modo, a flexibilização do art. 15 da Lei 7.357/85, sob o argumento do princípio da boa-fé objetiva, não tem o condão de excluir o dever de garantia do emitente do cheque, sob pena de se comprometer a segurança na tutela do crédito, pilar fundamental das relações jurídicas dessa natureza.
STJ. 3ª T. REsp 1787274/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/4/19 (Info 647).
5.5. NOÇÕES GERAIS: O instrumento de cessão fiduciária de direitos creditórios deve indicar, de maneira precisa, o crédito, e não o título objeto de cessão – (Info 646)
		Na cessão fiduciária de direitos creditórios, para a perfectibilização do negócio fiduciário, o correlato instrumento deve indicar, de maneira precisa, o crédito objeto de cessão e não os títulos representativos do crédito.
O objeto da cessão fiduciária são os direitos creditórios que devem estar devidamente especificados no instrumento contratual (e não o título objeto da cessão, que apenas os representa).
STJ. 3ª T. REsp 1.797.196-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 09/04/2019 (Info 646).
5.6. DUPLICATA: Não é possível a oposição de exceções pessoais à empresa de factoring que comprou duplicata mercantil com aceite – (Info 640) – IMPORTANTE!!! Mudança de Entendimento!!!
		A duplicata mercantil, apesar de causal no momento da emissão, com o aceite e a circulação adquire abstração e autonomia, desvinculando-se do negócio jurídico subjacente, impedindo a oposição de exceções pessoais a terceiros endossatários de boa-fé, como a ausência ou a interrupção da prestação de serviços ou a entrega das mercadorias.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1439749-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 28/11/18 (Info 640).
	OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE A DUPLICATA
Conceito de duplicata: Duplicata é...
· um título de crédito
· que consiste em uma ordem de pagamento emitida pelo próprio credor
· por conta de mercadorias que ele vendeu ou de serviços que prestou
· e que estão representados em uma fatura
· devendo ser paga pelo compradordas mercadorias ou pelo tomador dos serviços.
Genuinamente brasileiro: A duplicata foi criada pelo direito brasileiro, sendo considerada um título genuinamente brasileiro.
Regulamentação: A duplicata é regida pela Lei 5.474/68 e, agora, também pela Lei 13.775/18.
Duplicata e fatura são documentos diferentes: A fatura é o documento que descreve a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços. Na fatura constam a descrição e os preços dos produtos vendidos ou do serviço prestado. A fatura não é título de crédito. O título é a duplicata, que é emitida a partir de uma fatura. A fatura apenas prova a existência do contrato. Todas as vezes que for celebrado um contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no Brasil, com prazo não inferior a 30 dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor é obrigado a extrair uma fatura para apresentar ao comprador (art. 1º, da Lei nº 5.474/68). No caso de prestação de serviços (qualquer prazo) ou de compra e venda inferior a 30 dias, a emissão de fatura é facultativa.
Exemplo de emissão de duplicata: O distribuidor “SILVA & SOUZA Ltda.” vendeu para a loja “Bompé” 70 pares de sapatos. O distribuidor (vendedor) extrai uma fatura dos produtos e emite uma duplicata mercantil dando uma ordem à loja (compradora) para que pague a ele (vendedor) o preço dos pares de sapato e eventuais encargos contratuais.
Espécies de duplicata:
· Duplicata mercantil: emitida por causa da compra e venda mercantil;
· Duplicata de serviços: emitida por causa da prestação de serviços.
Características da duplicata:
a) Título causal: a duplicata só pode ser emitida para documentar o crédito decorrente de dois negócios jurídicos: a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços. Essa causa da duplicata é mencionada no próprio título. Por conta dessa característica, alguns autores afirmam que se trata de um título impróprio. Obs: o contrário dos títulos causais são os “não causais” ou “abstratos”, como o caso da nota promissória.
b) Ordem de pagamento.
c) Título de modelo vinculado (título formal): os padrões de emissão da duplicata são fixados pelo Conselho Monetário Nacional. A duplicata somente produz efeitos cambiais se observado o padrão exigido para a constituição do título.
Emissão da duplicata: O vendedor ou prestador dos serviços emite a fatura discriminando as mercadorias vendidas ou os serviços prestados. Com base nessa fatura, esse vendedor ou prestador poderá emitir a duplicata. Toda duplicata sempre terá origem em uma fatura. Uma duplicata só pode corresponder a uma única fatura (art. 2º, § 2º, da Lei). Depois de emitir a duplicata, ela deverá ser enviada ao devedor (comprador) para que este efetue o aceite e a devolva.
Remessa da duplicata para ACEITE: Aceite é o ato por meio do qual o sacado (comprador ou tomador dos serviços) assina o título se obrigando a pagar o crédito ali descrito, na data do vencimento. Assim, emitida a duplicata, nos 30 dias seguintes, o sacador (quem emitiu o título) deve remeter o título ao sacado (comprador ou tomador dos serviços) para que ele assine a duplicata no campo próprio para o aceite, restituindo-a ao sacador no prazo de 10 dias.
O aceite na duplicata é obrigatório: Na duplicata, o título documenta uma obrigação surgida a partir de um contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços. Desse modo, se o vendedor, que no caso foi o sacador, cumpriu as suas obrigações contratuais, não há motivo para o devedor recusar o aceite. Em virtude dessa circunstância, a doutrina afirma que o aceite na duplicata é, em regra, obrigatório, somente podendo ser recusado nas hipóteses previstas nos arts. 8º e 21 da Lei 5.474/68.
Recusa do aceite: Como vimos, o aceite é, em regra, obrigatório. As hipóteses previstas na lei em que o aceite pode ser recusado estão relacionadas com situações em que o sacador (vendedor ou prestador dos serviços) não cumpriu corretamente suas obrigações contratuais ou em que há divergência entre aquilo que foi combinado no contrato e o que consta da duplicata. Vejamos:
Recusa do aceite na duplicata mercantil:
Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco;
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
Recusa do aceite na duplicata de serviços:
Art. 21. O sacado poderá deixar de aceitar a duplicata de prestação de serviços por motivo de:
I - não correspondência com os serviços efetivamente contratados;
II - vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
Tipos de aceite:
a) aceite ordinário (expresso): ocorre quando o sacado (comprador ou tomador dos serviços), não encontra nenhum problema em aceitar e, por isso, assina em um campo próprio localizado na frente (anverso) do título, devolvendo-o em seguida.
b) aceite presumido: ocorre quando o sacado resolve não assinar ou não devolver a duplicata assinada, no entanto, ao receber as mercadorias compradas, ele assinou o comprovante de recebimento, sem fazer qualquer ressalva quanto aos bens adquiridos. Ora, se ele recebeu normalmente as mercadorias é porque se presume que o vendedor cumpriu sua obrigação contratual. Logo, esse comprador deveria ter feito o aceite da duplicata. Nesses casos, o sacador deverá fazer o protesto do sacado por falta de aceite ou por falta de pagamento. Diante disso, é admitido como aceite presumido da duplicata: o comprovante de entrega das mercadorias assinado pelo sacado acompanhado do instrumento do protesto do título por falta de aceite ou falta de pagamento.
c) aceite por comunicação: ocorre quando o sacado retém o título e expressa o aceite em carta ou comunicado. Essa comunicação, mesmo escrita fora do título, produz os mesmos efeitos do aceite.
Atenção: O aceite na duplicata mercantil transforma o comprador em devedor cambiário do sacador ou, ainda, do endossatário, caso o título tenha sido posto em circulação por meio do endosso.
Protesto: Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião de protesto, com a finalidade de provar: 
i) a inadimplência do devedor;
ii) o descumprimento de obrigação constante de título de crédito; ou 
iii) qualquer outro ato importante relacionado com o título (ex: falta de aceite).
 
No caso da duplicata, para que serve o protesto? O protesto poderá servir para provar três situações distintas:
i) a falta de pagamento;
ii) a falta de aceite da duplicata;
iii) a falta de devolução da duplicata;
 
OPOSIÇÃO DE EXCEÇÕES PESSOAIS À EMPRESA DE FACTORING:
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João fez um contrato com uma empresa de móveis residenciais, segundo o qual ela iria construir e instalar os modulados da casa do cliente no prazo de 5 meses. Ficou combinado que João pagaria R$ 50 mil, divididos em 5 meses. Para instrumentalizar esse crédito, foram emitidas 5 duplicatas no valor de R$ 10 mil cada, a serem pagas por João assim que os serviços fossem entregues mês a mês. No sistema da duplicata, com base neste exemplo, João recebe o nome de “sacado” (comprador) e a movelaria é denominada de sacador (emitente).
• Sacado (comprador): é a pessoa que recebe a ordem de pagamento. É aquela que compra a mercadoria ou o serviço e paga para o beneficiário, que é o próprio vendedor.
• Sacador (emitente): é quem dá a ordem de pagamento (emite a duplicata). É aquele que vende a mercadoria ou o serviço.
 
Vale ressaltar que João, sem conhecer muito bem as regras de direito cambiário, deu aceite nas cinco duplicatas, ou seja, assinou-as na frente do título comprometendo-se a pagá-las mesmo sem ter ainda recebido os móveis comprados.
 
Venda das duplicatas para a factoring: A empresa, precisando de dinheiro imediatamente para ter capital de giro, procurou uma factoring e “vendeu” essas duplicatas(contrato de conventional factoring). Em outras palavras, a empresa de modulados cedeu o crédito estampado nas duplicatas para a factoring e, quando ocorresse o dia do vencimento de cada uma delas, quem receberia o valor pago pelo cliente seria a própria factoring (e não mais a movelaria). Importante registrar também que João foi notificado de que a empresa estava vendendo as duplicatas para a factoring e contra isso não se opôs.
 
Abrindo um parêntese para explicar esse serviço da factoring: Factoring tradicional (conventional factoring): nesta atividade, o empresário cede à factoring os títulos de crédito que recebeu em sua atividade empresária e que somente irão vencer em uma data futura, e a empresa de factoring antecipa esse pagamento, recebendo, como contraprestação, um percentual desses créditos. Trata-se de uma forma de o empresário obter capital de giro nas vendas a prazo. Ex.: uma loja recebe um cheque “pré-datado” (pós-datado) para 90 dias no valor de R$ 10 mil. Ocorre que a loja precisa de dinheiro logo. Então, ela cede o cheque para a empresa de factoring, que irá pagar à vista para a loja R$ 9.700,00 e, daqui a 90 dias, irá descontar o cheque, ficando com os R$ 10 mil. A loja recebeu o crédito à vista e teve que pagar um percentual à factoring. É como se o cliente tivesse “vendido” o título para a factoring, que irá cobrar do devedor no momento do vencimento da dívida. 
O contrato de conventional factoring é um contrato de mútuo? Não. Em verdade, consiste em uma compra e venda de créditos (direitos), por um preço ajustado entre as partes. Fechando o parêntese e voltando ao exemplo envolvendo a movelaria e João.
 
Atraso nos móveis: A empresa de modulados entregou as duas primeiras partes dos móveis nos dois primeiros meses, tendo João pagado as duas primeiras duplicatas. A partir do terceiro mês, no entanto, a empresa, alegando atraso na produção, não entregou a terceira parte. Diante disso, João também não pagou a terceira duplicata. Isso se repetiu no quarto e quinto meses. Desse modo, a empresa cumpriu dois meses de seu compromisso contratual e, como não mais entregou os móveis a partir daí, o cliente deixou de pagar as três duplicatas restantes. Ocorre que a factoring, que já havia “comprado” as duplicatas, não quis saber de nada e, como não houve o pagamento, levou os títulos para protesto.
 
Exceções pessoais: Juridicamente, um dos sentidos da palavra “exceção” é o de defesa. Assim, o termo “exceção” pode ser utilizado como sinônimo de defesa em alguns casos.
Em direito cambiário, quando falamos em “exceções pessoais”, estamos querendo dizer que são defesas que a pessoa que emitiu o título de crédito possui em relação àquele em favor de quem foi emitido o título de crédito. Ex: Pedro quer comprar um celular de Mário e emite uma nota promissória. A origem da nota promissória é a compra e venda (trata-se da causa subjacente/causa debendi). O celular apresenta vício e, por isso, Pedro não paga o valor da nota promissória e devolve o celular. Se Mário executar essa nota promissória, Pedro poderá invocar, como exceção pessoal, que a causa subjacente não se concretizou. Trata-se de uma exceção pessoal do emitente em relação ao beneficiário do título.
As exceções pessoais podem ser invocadas (alegadas) pelo emitente para deixar de pagar o beneficiário do título. No entanto, em regra, as exceções pessoais não podem ser utilizadas contra pessoas de boa-fé que receberam o título. Isso está previsto no art. 916 do Código Civil:
Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.
 
Assim, se Mário já havia passado a nota promissória para Juliana, uma terceira pessoa, e ela estava de boa-fé, Juliana poderá executar o título cobrando o valor de Pedro. Este, coitado, ficará com o celular quebrado e terá que pagar o valor do título para Juliana. Obviamente que, depois, Pedro poderá tentar cobrar de Mário aquilo que foi pago. No entanto, repito, não poderá invocar contra Juliana sua exceção pessoal porque o título circulou e agora encontra-se com alguém considerado terceiro de boa-fé.
 
Voltando ao exemplo da factoring: A factoring (faturizadora) está cobrando de João o valor das três duplicatas não pagas. João não quer pagar porque a mercadoria não foi entregue. João (sacado) poderá invocar isso como exceção pessoal para não pagar à factoring? NÃO.
 
Alguém poderia falar: mas a duplicata é um título causal, ou seja, ela está relacionada com um negócio jurídico. Se este negócio jurídico não foi cumprido, mesmo assim, a duplicata terá que ser paga? A duplicata é um título causal no momento da sua emissão. No entanto, ela conserva essa característica apenas até a emissão do aceite, expresso ou ficto, quando adquire feição e qualidades próprias dos demais títulos de crédito, tanto que se admite a sua circulação, por cessão ou endosso. Isso porque o aceite confere ao adquirente da duplicata uma segurança jurídica de que o negócio que justificou a emissão do título foi cumprido. A certeza é transmitida pelo próprio devedor (sacado) que, podendo recusar, aceitou o título. Assim, depois do aceite, a duplicata perde o caráter causal, ou seja, desvincula-se do negócio jurídico que lhe deu causa. Além disso, com a circulação (que ocorre com o endosso do título para terceiros), a duplicata passa a ter duas outras características muito relevantes para o direito cambiário: autonomia e abstração.
a) Autonomia: o possuidor de boa-fé (possuidor do título de crédito), ao cobrar esse título, está exigindo um direito próprio (direito seu), que não pode ser atrapalhado por conta de relações jurídicas anteriores entre o devedor e antigos possuidores do título. Assim, o possuidor de boa-fé do título de crédito não tem nada a ver com o fato de o título ter vícios ou defeitos anteriores. Se ele é o atual possuidor e está de boa-fé, tem direito ao crédito (obs.: existem algumas exceções ao princípio da autonomia, que não interessam no momento).
b) Abstração: significa que os títulos de crédito, quando circulam, ficam desvinculados da relação que lhe deu origem. Ex: João comprou um notebook de Ricardo, entregando-lhe uma nota promissória. Ricardo endossou a nota promissória para Rui. Ricardo acabou nunca levando o computador para João. Rui (que estava de boa-fé) poderá cobrar de João o crédito constante da nota promissória e o fato de o contrato não ter sido cumprido não poderá ser invocado para evitar que João pague o débito. Isso porque, como o título circulou, ele já não tem mais nenhuma vinculação com o negócio jurídico que lhe deu origem.
Esses dois princípios acima elencados têm por objetivo conferir segurança jurídica ao tráfego comercial e à circulação do crédito. Se a pessoa que recebeu um título de crédito (aparentemente válido) pudesse ficar sem o dinheiro por força de vícios anteriores ou por conta de uma quitação que não consta na cártula, isso geraria um enorme risco ao portador, o que desestimularia as pessoas a aceitarem títulos de crédito.
 
Foi isso que decidiu o STJ:
A duplicata mercantil, apesar de causal no momento da emissão, com o aceite e a circulação adquire abstração e autonomia, desvinculando-se do negócio jurídico subjacente, impedindo a oposição de exceções pessoais a terceiros endossatários de boa-fé, como a ausência ou a interrupção da prestação de serviços ou a entrega das mercadorias. STJ. 2ª Seção. EREsp 1.439.749-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 28/11/18 (Info 640).
 
Essa é também a opinião da doutrina majoritária:
“Assim, aceitando a duplicata, o sacado não mais poderá discutir a causa debendi porque o título liberta-se de sua causa originária em razão de ter reconhecido a sua exatidão e ter assumido a obrigação de pagá-lo no vencimento, tornando líquida a obrigação cambiária, ainda mais porque o sacado poderia ter recusado o aceite no prazo do art. 7º e pelas razões do art. 8º, e não o fez” (ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio da. Títulos de Crédito.2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 690). 
 
“A duplicata, título causal, pois nascido sempre de uma compra e venda a prazo, com a assinatura do comprador desprende-se da causa que lhe deu origem já que o comprador não apenas reconheceu a exatidão da mesma como a obrigação de pagá-la na época do vencimento. A obrigação torna-se desse modo líquida, o que dá maior segurança de recebimento não apenas ao sacador-vendedor como a qualquer outra pessoa a quem o título seja transferido.” (MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. Vol. II. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 165).
 
A ausência de entrega da mercadoria não vicia a duplicata que já foi aceita. Assim, uma vez aceita a duplicata, o sacado (aceitante) fica vinculado ao título como devedor principal e a ausência de entrega da mercadoria não pode ser oponível ao endossatário de boa-fé (empresa de factoring). Vale ressaltar que o aceitante (João) terá direito de regresso contra a endossante (empresa de móveis), diante do descumprimento do negócio jurídico subjacente.
 
A empresa de factoring, mesmo trabalhando com isso, pode ser considerada como terceiro de boa-fé? Em regra, sim. Não se pode presumir que a empresa de factoring, que celebrou mero contrato de factoring tradicional (conventional factoring), tenha conhecimento se a empresa endossante está ou não entregando as mercadorias ou prestando os serviços de forma pontual. Obviamente, seria possível que o aceitante demonstrasse que tal situação é do conhecimento da empresa de factoring, o que excluiria a sua boa-fé. Essa prova seria mais fácil caso o contrato que a factoring tivesse com a empresa de móveis fosse mais amplo e abrangesse não apenas a “compra” de títulos de crédito, prevendo também que a factoring desempenharia atividades de gerência financeira, gestão de crédito e seleção de riscos em favor da empresa, o que não era o caso.
5.7. Não é necessária prévia autorização do cônjuge para que a pessoa preste aval em títulos de créditos típicos – (Info 604) – NOVIDADE!!!
		O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada somente pode prestar aval se houver autorização do seu cônjuge (exceção: se o regime de bens for da separação absoluta).
Essa norma exige uma interpretação razoável e restritiva, sob pena de descaracterizar o aval como instituto cambiário.
Diante disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC somente é aplicado para os títulos de créditos inominados, considerando que eles são regidos pelo Código Civil.
Por outro lado, os títulos de créditos nominados (típicos), que são regidos por leis especiais, não precisam obedecer essa regra do art. 1.647, III, do CC.
Em suma, o aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de outorga uxória ou marital.
Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.526.560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 16/3/17 (Info 604).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.633.399-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/11/2016.
	OBS:
No que tange aos títulos de crédito nominados, o Código Civil tem uma aplicação apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da regulamentação dos títulos de crédito, no Código Civil, foi apenas o de permitir a criação dos denominados títulos atípicos ou inominados.
Assim, não deve ser aplicado art. 1.647, III, do CC aos títulos nominados porque esta regra é incompatível com as características dos títulos de crédito típicos.
A exigência de autorização do cônjuge do avalista enfraquece a garantia dos títulos de crédito, gerando intranquilidade e insegurança.
O aval consiste em uma declaração unilateral de vontade inserida no próprio título por meio da qual o avalista declara garantir o pagamento do valor inscrito no título. É, portanto, um instituto comercial muito mais ágil e informal do que a fiança, que é feita por intermédio de contrato.
A outorga uxória ou marital é compatível com o contrato de fiança, mas não com o aval que, como dito, é uma declaração unilateral. O portador do título de crédito, em regra, não tem contato algum com o avalista e, menos ainda, com algum documento de identificação deste por meio do qual possa descobrir seu estado civil.
5.8. CHEQUE: Termo inicial de correção monetária e de juros de mora em cobrança de cheque – (Info 587) – IMPORTANTE!!! – (PCPA-2016) (PGM-BH/MG-2017)
		Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a correção monetária incide a partir da data de emissão estampada na cártula, e os juros de mora a contar da primeira apresentação à instituição financeira sacada ou câmara de compensação. 
STJ. 2ª S. REsp 1.556.834-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/6/16 (recurso repetitivo) (Info 587).
	(PCPA-2016-FUNCAB): No tocante a crédito oriundo de cheque, o termo inicial para a incidência de correção monetária e o dies a quo para a contagem de juros de mora são: respectivamente, a data de emissão estampada na cártula e a data da primeira apresentação à instituição financeira sacada ou câmara de compensação. BL: Info 587, STJ.
5.9. CHEQUE: Possibilidade de protesto de cheque após o prazo de apresentação com a indicação apenas do emitente no apontamento – (Info 584)
		Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque com a indicação do emitente como devedor. 
STJ. 2ª S. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/4/16 (recurso repetitivo) (Info 584).
	OBS:
O que é um protesto de título? É o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida.
É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de apresentação? SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.
Mas o art. 48 da Lei 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.” E agora? O STJ afirma que a exigência imposta no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo de apresentação do cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados, para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.
Em outras palavras, o art. 48 da Lei nº 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança dos eventuais devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal (emitente).
O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação, desde que o cheque ainda não esteja prescrito.
Relembrando:
· Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do pagamento ou 60 dias, se for de praça diferente.
· Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do momento em que termina o prazo de apresentação do cheque.
Resumindo: 
O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso deve ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado protesto necessário. 
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, j. 24/2/15 (Info 556).
O STJ reafirmou este entendimento, agora sob a sistemática de recurso repetitivo.
5.10. DUPLICATA: Emissão de duplicata com base em mais de uma nota fiscal – (Info 581)
		Uma só duplicata pode corresponder à soma de diversas notas fiscais parciais.
Em outras palavras, uma única duplicata poderá abranger mais de uma nota fiscal.Não há proibição legal para que se somem vendas parceladas procedidas no curso de um determinado período (ex: um mês), e do montante se formule uma fatura única ao seu final. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.541-MG, Rel. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 5/4/16 (Info 581).
	OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "AA" comprou da loja "BB" 3 produtos. A loja extraiu uma fatura dos produtos e emitiu uma duplicata mercantil dando uma ordem à empresa compradora para que ela pague o preço das mercadorias.
A loja poderia ter emitido uma única nota fiscal dos 3 produtos. É o mais comum. Porém, por inexperiência do gerente, foram emitidas 3 notas fiscais, uma para cada produto. Apesar de terem sido emitidas 3 notas fiscais, foi extraída uma única fatura e uma só duplicata. A empresa "AA" acabou não pagando a duplicata e, em seguida, ajuizou ação ordinária contra a loja buscando a declaração de inexigibilidade e de nulidade da duplicata alegando que a soma das notas fiscais em uma única fatura e a emissão da duplicata correspondente foi um procedimento irregular. O argumento da empresa é o de que a emissão de duplicata deve se referir a apenas uma nota fiscal.
A tese da empresa foi acolhida pelo STJ? Houve irregularidade no fato de a duplicata se referir a mais de uma nota fiscal? NÃO.
O que é uma nota fiscal? É um "Documento fiscal a ser obrigatoriamente emitido por comerciantes e industriais, sempre que promoverem a saída de mercadorias ou a transmissão de sua propriedade." (LOPES DE SÁ, Antônio; LOPES DE SÁ, Ana Maria. Dicionário de Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1994). A nota fiscal prova que houve a realização de um negócio jurídico sujeito à fiscalização tributária. Faz prova da entrada e saída de mercadorias de estabelecimentos empresariais, acompanhando a sua entrega aos destinatários.
O que é a fatura? É um documento emitido pelo vendedor ou prestador de serviços no qual são discriminadas as mercadorias que foram vendidas ou os serviços prestados. Na fatura constam a descrição e os preços dos produtos vendidos ou do serviço prestado. Todas as vezes que for celebrado um contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no Brasil, com prazo não inferior a 30 dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor é obrigado a extrair uma fatura para apresentar ao comprador (art. 1º, da Lei nº 5.474/68). No caso de prestação de serviços (qualquer prazo) ou de compra e venda inferior a 30 dias, a emissão de fatura é facultativa.
Duplicata e fatura são documentos diferentes: A fatura não é título de crédito. O título é a duplicata, que é emitida a partir de uma fatura. A fatura apenas prova a existência do contrato.
Fatura pode abranger mais de uma nota: A duplicata só poder espelhar uma fatura, ou seja, para cada fatura, uma duplicata. No entanto, a fatura pode corresponder à soma de diversas notas parciais. A nota parcial é o documento representativo de uma venda parcial ou de venda realizada dentro do lapso de um mês, que poderá ser agrupada a outras vendas efetivadas nesse período pelo mesmo comprador. Não há proibição legal para que se somem vendas parceladas procedidas no curso de um determinado período (ex: um mês), e do montante se formule uma fatura única ao seu final.
5.11. DUPLICATA: Na duplicata mercantil o aceite não pode ser lançado em separado – (Info 580) – IMPORTANTE!!!
		O aceite lançado em separado da duplicata mercantil não imprime eficácia cambiária ao título. 
O aceite é ato formal e deve se aperfeiçoar na própria cártula (assinatura do sacado no próprio título), incidindo o princípio da literalidade (art. 25 da LUG). Não pode, portanto, ser dado verbalmente ou em documento em separado. 
O aceite lançado em separado à duplicata não possui nenhuma eficácia cambiária, mas o documento que o contém poderá servir como prova da existência do vínculo contratual subjacente ao título, amparando eventual ação monitória ou ordinária. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.334.464-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/3/2016 (Info 580).
	OBS:
Art. 25. O aceite é escrito na própria letra. Exprime-se pela palavra 'aceite' ou qualquer outra palavra equivalente; o aceite é assinado pelo sacado. Vale como aceite a simples assinatura do sacado aposta na parte anterior da letra.
Logo, o aceite lançado em documento que não seja a própria duplicata não possui nenhuma eficácia cambiária.
O sacador ficará, então, no prejuízo? Não necessariamente. O sacador poderá utilizar este documento no qual o sacado deu o aceite para ajuizar uma ação monitória ou ação ordinária de cobrança (art. 16 da Lei 5.474/68). Assim, o aceite realizado fora da duplicata faz com que esta não tenha força de título cambial. No entanto, este documento no qual foi aposto o aceite pode servir como prova da obrigação, instrumentalizando ação monitória ou ordinária.
5.12. Ação de locupletamento do art. 48 do Decreto 2.044/1908 envolvendo notas promissórias – (Info 580)
		A simples apresentação de nota promissória prescrita é suficiente para embasar a ação de locupletamento pautada no art. 48 do Dec. 2.044/08, não sendo necessário comprovar a relação jurídica subjacente. 
A pretensão de ressarcimento veiculada em ação de locupletamento pautada no art. 48 do Dec. 2044/08 prescreve em 3 anos, contados do dia em que se consumar a prescrição da ação executiva. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.323.468-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 17/3/16 (Info 580).
	OBS:
Conceito: A nota promissória é...
- um título de crédito
- no qual o emitente, por escrito, se compromete a pagar (promessa de pagamento)
- uma certa quantia em dinheiro
- a uma outra pessoa (tomador ou beneficiário).
Título executivo extrajudicial: A nota promissória é um título executivo extrajudicial (art. 585, I, do CPC). Assim, se não for paga, poderá ser ajuizada ação de execução cobrando o valor.
Qual é o prazo prescricional para a execução da nota promissória contra o emitente e o avalista? Esse prazo é de 3 anos (art. 70 da Lei Uniforme de Genebra - Decreto nº 57.663/66).
Mesmo que tenha transcorrido esse prazo e a nota promissória tenha perdido sua força executiva (esteja prescrita), ainda assim será possível a sua cobrança? SIM. O beneficiário terá duas opções para cobrar o valor contido na nota promissória:
1) Poderá ajuizar ação monitória.
Súmula 504-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.
2) Poderá propor ação de locupletamento, com base no art. 48 do Decreto nº 2.044/1908:
Art. 48. Sem embargo da desoneração da responsabilidade cambial, o sacador ou o aceitante fica obrigado a restituir ao portador, com os juros legais, a soma com a qual se locupletou à custa deste.
Dica: pelo fato de o art. 48 do Dec. 2044/08 prever uma ação específica para cobrar o valor do título, não deve o autor ingressar com ação de enriquecimento sem causa baseada no art. 884 do Código Civil. Isso porque a ação de enriquecimento sem causa amparada no Código Civil não tem cabimento caso a lei já preveja outro meio especificamente estabelecido para o ressarcimento do prejuízo. Veja a redação do art. 884: "Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido".
O autor da ação de locupletamento deverá provar a causa debendi, ou seja, a causa que deu origem a emissão do título? Ex: a nota promissória foi emitida por João pelo fato de ele ter comprado um celular de Pedro. Esse negócio jurídico que deu origem à emissão da nota promissória precisa ser provado pelo autor da ação de locupletamento? NÃO. Apesar de existir controvérsia na doutrina acerca da natureza dessa ação de locupletamento do art. 48, prevalece que se trata de uma "ação de natureza cambiária" (ação cambial), na medida em que amparada no título de crédito que perdeu sua força executiva (e não na relação jurídica que deu origem à sua emissão), além de estar prevista nalegislação de regência de tais títulos. Desse modo, nas ações cambiais não é necessário comprovar a causa debendi. Repare também que o aludido art. 48 fala que a ação de locupletamento pode ser proposta pelo "portador" do título de crédito. Ora, se o referido Decreto (que tem força de lei) faculta essa possibilidade ao portador, significa dizer que ele não se importa com a relação jurídica que deu causa a este título, uma vez que, se pensarmos na hipótese de título que tenha circulado, o portador não teria como fazer prova da relação jurídica subjacente. Dessa maneira, a posse, pelo portador, da nota promissória não paga e prescrita gera a presunção juris tantum de veracidade do locupletamento ilícito havido pelo não pagamento (em contrapartida ao empobrecimento do portador do título), nada obstante seja assegurada a amplitude de defesa ao réu.
Qual é o prazo prescricional de que dispõe o autor para ajuizar essa ação de locupletamento da nota promissória prescrita? 3 anos, contados do dia em que se consumar a prescrição da ação executiva.
Como o Dec. 2044/08 não prevê prazo prescricional específico para o exercício dessa pretensão, utiliza-se o prazo previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC, de acordo com o qual prescreve em "três anos" "a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa".
Cuidado:
· Ação de locupletamento envolvendo NOTA PROMISSÓRIA (art. 48 do Decreto nº 2.044/1908): prazo prescricional de 3 anos.
· Ação de locupletamento envolvendo CHEQUE (art. 62 da Lei n.º 7.357/85): prazo prescricional de 2 anos.
5.13. Sustação de protesto e prestação de contracautela – (Info 571) – IMPORTANTE!!!
		A legislação de regência estabelece que o documento hábil a protesto extrajudicial é aquele que caracteriza prova escrita de obrigação pecuniária líquida, certa e exigível. Portanto, a sustação de protesto de título, por representar restrição a direito do credor, exige prévio oferecimento de contracautela, a ser fixada conforme o prudente arbítrio do magistrado. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.340.236-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 571)
5.14. DUPLICATA: Duplicata virtual é válida
		O STJ considera válida a duplicata virtual. 
As duplicatas virtuais, emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica, podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é imprescindível para o ajuizamento da execução, conforme previsto no art. 8º, parágrafo único, da Lei 9.492/1997. 
Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em princípio, títulos executivos extrajudiciais. 
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.024.691-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgados em 22/8/2012.
6. PROTESTO 
6.1. Credor que havia protestado o título tem o dever de fornecer carta de anuência para cancelamento do protesto, mas para isso precisa haver um pedido do devedor – (Info 638) – IMPORTANTE!!!
		Não há como impor tacitamente ao credor o dever de enviar, sem provocação, o documento hábil ao cancelamento do legítimo protesto.
O credor tem o inequívoco dever de fornecer o documento hábil ao cancelamento do protesto, mas para isso precisa ser previamente provocado.
Assim, se o devedor paga ao banco um título de crédito que estava protestado, o banco deverá fornecer uma carta de anuência com a qual o devedor poderá cancelar o protesto. No entanto, o credor não tem o dever de fornecer este documento automaticamente. É necessário que haja um requerimento (um pedido) daquele que pagou. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.584-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 9/10/18 (Info 638).
	OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE O PROTESTO
O que é um protesto de título? Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida.
 
Regulamentação: O protesto é regulado pela Lei nº 9.492/97.
 
Quem é o responsável pelo protesto? O tabelião de protesto. "O particular não pratica o protesto, mas solicita ao Tabelião que o pratique. Este pode, depois de analisar os requisitos formais do documento, negar-se a tal lavratura, caso encontre vício que justifique a negativa. (...) O protesto é, pois, ato do tabelião de Protesto, que o pratica por provocação do interessado, depois de respeitado o procedimento legal." (BUENO, Sérgio Luiz. O protesto de títulos e outros documentos de dívida. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2011, p. 20 e 21)
 
Quais são as vantagens de o credor realizar o protesto? Existem inúmeros efeitos que decorrem do protesto; no entanto, as duas principais vantagens para o credor são as seguintes:
a) serve como meio de provar que o devedor está inadimplente;
b) funciona como uma forma de coerção para que o devedor cumpra sua obrigação sem que seja necessária uma ação judicial (como o protesto lavrado gera um abalo no crédito do devedor, que é inscrito nos cadastros de inadimplentes, a doutrina afirma que o receio de ter um título protestado serve como um meio de cobrança extrajudicial do débito; ao ser intimado do protesto, o devedor encontra uma forma de quitar seu débito).
 
Qual é o objeto do protesto? O que pode ser protestado? Segundo o art. 1º da Lei 9.492/97:
Art. 1º Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.
 
Assim, conclui-se que podem ser levados a protesto:
a) títulos de crédito e
b) outros documentos de dívida.
 
O que é um documento de dívida? Documento de dívida é todo e qualquer meio de prova escrita que comprove a existência de uma obrigação líquida, certa e exigível.
 
RESPONSABILIDADE PELA BAIXA DO PROTESTO APÓS O PAGAMENTO
Procedimento até ser registrado o protesto do título:
1) o credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo que se proceda ao protesto e informando os dados e endereço do devedor;
2) o tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;
3) se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto devedor no endereço apresentado pelo credor (art. 14);
4) a intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou providencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado;
Após a intimação, poderão ocorrer quatro situações:
4.1) o devedor pagar (art. 19);
4.2) o apresentante desistir do protesto e retirar o título (art. 16);
4.3) o protesto ser sustado judicialmente (art. 17);
4.4) o devedor ficar inerte ou não conseguir sustar o protesto.
 
5) se ocorrer as situações 4.1, 4.2 ou 4.3: o título não será protestado;
6) se ocorrer a situação 4.4: o título será protestado (será lavrado e registrado o protesto).
 
Imaginemos que o devedor foi intimado (etapa 4), mas não pagou nem conseguiu sustar o protesto. O que aconteceu então? O título foi protestado.
 
Após um tempo, esse devedor quis comprar um carro financiado, no entanto, não conseguiu porque o banco constatou a existência desse título protestado e, por essa razão, não liberou o crédito. O devedor decidiu, então, pagar o título protestado. Com o pagamento do débito, será possível retirar a anotação desse título protestado? SIM.
 
Após o pagamento do título protestado, o credor que foi pago tem a responsabilidade de retirar o protesto lavrado? NÃO. Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR providenciar o cancelamento do protesto, salvo se foi combinado o contrário entre ele e o credor. Segundo o STJ, a Lei nº 9.492/97 não impõe ao credor o dever de retirar o protesto. Veja:
Art. 26. O cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no Tabelionato de Protesto de Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento protestado, cuja cópia ficará arquivada.
 
Dessemodo, quando o art. 26 da Lei 9.492/97 fala que o cancelamento do registro de protesto pode ser solicitado por qualquer interessado, a melhor interpretação é a de que o principal interessado é o devedor, de forma que a ele cabe, em regra, o ônus do cancelamento. O tema foi pacificado em recurso especial repetitivo:
Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR, providenciar o cancelamento do protesto, salvo se foi combinado o contrário entre ele e o credor. No regime próprio da Lei nº 9.492/97, legitimamente protestado o título de crédito ou outro documento de dívida, salvo inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao devedor, após a quitação da dívida, providenciar o cancelamento do protesto. STJ. 2ª Seção. REsp 1339436-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/9/2014 (recurso repetitivo) (Info 549).
 
Esse entendimento vale mesmo que se trate de uma relação de consumo, ou seja, que o devedor seja um consumidor e o credor um fornecedor? SIM. Cabe ao devedor que paga posteriormente a dívida o ônus de providenciar a baixa do protesto em cartório, sendo irrelevante se a relação era de consumo (STJ. 4ª Turma. REsp 1.195.668/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 11/9/2012).
 
A solução jurídica acima aplica-se também no caso de inscrição em cadastros de inadimplentes (exs: SERASA/SPC)? NÃO. A posição acima explicada vale apenas para os casos de cancelamento de título protestado. Na hipótese de devedor inserido em cadastro de inadimplentes (ex: SERASA, SPC), a solução é diferente. Veja:
	CADASTRO DE INADIMPLENTES
	REGISTRO DE PROTESTO
	Se a dívida é paga, quem tem o dever de retirar o nome do devedor do cadastro (ex: SERASA)?
O CREDOR (no prazo máximo de 5 dias).
Fundamento: art. 43, § 3º do CDC (por analogia).
	Se o título é pago, quem tem o dever de retirar o protesto que foi lavrado?
O próprio DEVEDOR.
Fundamento: art. 26 da Lei nº 9.492/1997.
 
CREDOR TEM O DEVER DE ENVIAR AUTOMATICAMENTE O DOCUMENTO NECESSÁRIO PARA QUE CREDOR POSSA DAR BAIXA NO PROTESTO?
Imagine a seguinte situação hipotética: Cláudia tinha uma dívida com o banco, materializada em uma nota promissória, cujo vencimento era janeiro de 2016. Como ela não pagou, o banco apresentou o título a protesto, o que foi efetivado em março de 2016. Em abril de 2016, Cláudia conseguiu receber uma rescisão trabalhista e, aproveitando o dinheiro, imprimiu novo boleto do banco na internet e pagou a dívida principal, com juros e multa (quitação integral). Em agosto de 2016, Cláudia tentou comprar uma televisão a prazo, mas não conseguiu crédito porque foi informada pela loja, que seu nome constava no SERASA em razão de um protesto do banco. Chateada, Cláudia procurou um advogado querendo processar o banco por não ter feito o cancelamento do protesto depois de ela ter pagado. O advogado que atendeu Cláudia sempre acompanhava a jurisprudência e explicou para a cliente que, infelizmente, ela, enquanto devedora, é quem tinha o ônus de providenciar o cancelamento do protesto, conforme decidiu o STJ no REsp 1339436-SP. Cláudia perguntou do advogado como ela poderia fazer esse cancelamento e o profissional explicou que ela deve levar até o cartório a “carta de anuência” do banco. Carta de anuência é um documento no qual o credor declara que o título de crédito que havia sido protestado já foi pago e que, portanto, ele não se opõe ao cancelamento do protesto. Cláudia, então, disse: quando eu paguei o débito, o banco deveria ter me enviado por correio essa carta de anuência. Eles falharam comigo. Quero processar. Diante disso, Cláudia ajuizou ação de indenização por danos morais contra o banco argumentando que houve negligência do banco em não lhe enviar automaticamente o documento que ela necessitava (“carta de anuência”) para dar baixa no protesto.
 
O STJ concordou com o pedido de Cláudia? NÃO. Não há como impor tacitamente ao credor o dever de enviar, sem provocação, o documento hábil ao cancelamento do legítimo protesto. O credor tem o inequívoco dever de fornecer o documento hábil ao cancelamento do protesto, mas para isso precisa ser previamente provocado. STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.584-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 9/10/18 (Info 638).
 
Situação diferente seria se o banco, mesmo após o pagamento, recusasse ou dificultasse o fornecimento da declaração. Aí haveria ato ilícito passível de indenização.
6.2. Não cabem danos morais se houve protesto de cheque prescrito, mas cuja dívida ainda poderia ser cobrada por outros meios – (Info 616) – Atenção! Juiz de Direito!
		O protesto irregular de cheque prescrito não caracteriza abalo de crédito apto a ensejar danos morais ao devedor, se ainda remanescer ao credor vias alternativas para a cobrança da dívida consubstanciada no título. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.772-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/11/17 (Info 616).
	OBS:
O que é o cheque? O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela instituição financeira.
“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete efetuar pessoalmente o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse terceiro deverá ser um banco, no qual o criador do cheque deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco efetuará o pagamento das ordens que lhe forem sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível sempre no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento sempre à vista).” (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).
Personagens:
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele que tem o direito de receber o valor escrito no cheque.
Título executivo: O cheque é título executivo extrajudicial (art. 784, I, do CPC 2015). Assim, se não for pago, o portador do cheque poderá ajuizar ação de execução contra o emitente e eventuais codevedores (endossantes, avalistas). Essa ação de execução é conhecida como “ação cambial”.
O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”? É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de receber o valor determinado na cártula. Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O prazo de apresentação é o tempo que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e receber o valor. O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do cheque.
 
De quanto é o prazo de apresentação?
	30 dias
Se o cheque é da mesma praça do pagamento (município onde foi assinado é o município da agência pagadora).
	60 dias
Se o cheque for de praça diferente
 (município onde foi assinado é diferente do município da agência pagadora).
	O prazo será de 30 dias se o local da emissão do cheque (preenchido pelo emitente) for o mesmo lugar do pagamento (local da agência pagadora impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o cheque é da mesma praça (mesmo município).
Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP) como local da emissão.
	O prazo será de 60 dias se o local da emissão do cheque (preenchido pelo emitente) for diferente do lugar do pagamento (local da agência pagadora impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o cheque é de outra praça.
Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o emitente datou e assinou Manaus (AM) como local da emissão.
 
Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento? SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito.
 
Então para que serve esse prazo de apresentação? A doutrina apontatrês finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n. 7.357/85).
 
Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque? 6 meses, contados do fim do prazo de apresentação do cheque. Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o prazo de apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado. Logo, os seis meses iniciam-se com o fim do prazo de 30 dias (mesma praça) ou com o término do prazo de 60 dias (se de praças diferentes).
 
Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim será possível a sua cobrança? SIM. Com o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque. Diz-se que o cheque perdeu sua força executiva. No entanto, mesmo assim o beneficiário poderá cobrar o valor desse cheque por outros meios, quais sejam:
1) Ação de enriquecimento sem causa (“ação de locupletamento”): prevista no art. 61 da Lei do Cheque (Lei 7.357/85). Essa ação tem o prazo de 2 anos, contados do dia em que se consumar a prescrição da ação executiva.
2) Ação de cobrança (ação causal): prevista no art. 62 da Lei do Cheque. O prazo é de 5 anos, nos termos do art. 206, § 5º, I, CC.
3) Ação monitória.
 
Desse modo, estando o cheque prescrito (sem força executiva), ele poderá ser cobrado do emitente por meio de ação monitória? SIM. O beneficiário do cheque poderá ajuizar uma ação monitória para cobrar do emitente o valor consignado na cártula. Existe até uma súmula que menciona isso: Súmula 299-STJ: É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.
 
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João emitiu um cheque em favor da empresa “ABC”. A empresa tentou efetuar o saque da quantia, mas não havia fundos disponíveis. 1 ano depois, ou seja, quando o cheque já estava prescrito, a empresa “ABC” levou este título para protesto. João ingressou, então, com ação declaratória de nulidade de protesto de título c/c pedido de indenização por danos morais contra a empresa “ABC” alegando que ela levou a protesto um cheque prescrito.
 
O que é um protesto de título? É o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida.
 
É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de apresentação? SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.
 
Mas o art. 48 da Lei 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.” E agora? O STJ afirma que a exigência imposta no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo de apresentação do cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados, para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título. Em outras palavras, o art. 48 da Lei 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança dos eventuais devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal (emitente). O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação, desde que o cheque ainda não esteja prescrito.
 
Relembrando:
· Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do pagamento ou 60 dias, se for de praça diferente.
· Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do momento em que termina o prazo de apresentação do cheque.
O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso deve ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado protesto necessário.
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).
 
O STJ fixou a seguinte tese sob a sistemática de recurso repetitivo:
Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque com a indicação do emitente como devedor. STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/4/16 (recurso repetitivo) (Info 584).
 
Voltando ao nosso exemplo, o juiz deverá determinar o cancelamento do protesto? SIM. Em nosso exemplo, o protesto foi indevido considerando que realizado com a indicação do emitente como devedor, mas feito após o prazo prescricional do cheque.
 
E quanto aos danos morais? João (devedor) deverá ser indenizado por danos morais? 
NÃO. Isso porque o cheque, apesar de estar prescrito, ainda poderia ser cobrado por outros meios. No âmbito do protesto irregular de título de crédito, o reconhecimento do dano moral está diretamente relacionado com a ideia do abalo de crédito causado pela publicidade do ato notarial que, naturalmente, faz associar ao devedor a pecha de “mau pagador” perante a praça. Se houve um protesto irregular (porque o cheque está prescrito), mas existem ainda outras vias alternativas para a cobrança da dívida, entende-se que esse protesto indevido não gerou um abalo no crédito do devedor, considerando que o emitente do título permanece na condição de devedor, estando, de fato, impontual no pagamento. Com efeito, aquele que, efetivamente, insere-se na condição de devedor, estando em atraso no pagamento de dívida regularmente por si assumida, passível de cobrança por meios outros que não a execução, não pode se sentir moralmente ofendido pelo protesto, mesmo sendo ele extemporâneo. No caso concreto, mesmo estando o cheque prescrito, a empresa ainda tinha, à sua disposição, três ações judiciais possíveis. Assim, embora indevido o protesto, João permanecia na condição de devedor inadimplente, razão pela qual não está caracterizado abalo de crédito apto a ensejar a caracterização de dano moral indenizável.
6.3. Intimação por edital e necessidade de esgotamento dos meios de localização do devedor – (Info 579) – IMPORTANTE!!! - (Cartórios/TJRJ-2017)
		O tabelião, antes de intimar o devedor por edital, deve esgotar os meios de localização, notadamente por meio do envio de intimação por via postal, no endereço fornecido por aquele que procedeu ao apontamento do protesto. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579).
	OBS:
Procedimento até ser registrado o protesto do título:
1) o credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo que se proceda ao protesto e informando os dados e endereço do devedor;
2) o tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;
3) se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto devedor no endereço apresentado pelo credor (art. 14 da Lei nº 9.492/97);
4) a intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ouprovidencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado;
Após a intimação, poderão ocorrer quatro situações:
4.1) o devedor pagar (art. 19);
4.2) o apresentante desistir do protesto e retirar o título (art. 16);
4.3) o protesto ser sustado judicialmente (art. 17);
4.4) o devedor ficar inerte ou não conseguir sustar o protesto.
5) se ocorrer as situações 4.1, 4.2 ou 4.3: o título não será protestado;
6) se ocorrer a situação 4.4: o título será protestado (será lavrado e registrado o protesto).
Intimação: Como vimos acima, o tabelião irá determinar a intimação do devedor para que, no prazo de 3 dias, pague ou providencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado. As regras da intimação estão previstas nos arts. 14 e 15 da Lei nº 9.492/97.
Regras sobre a intimação:
· Depois que o apresentante protocoliza no cartório o título ou documento de dívida, o Tabelião de Protesto expedirá uma intimação ao devedor.
· O tabelião pode ir entregar pessoalmente a intimação, pode mandar por um funcionário seu ou remeter pelos Correios (o mais comum).
· A intimação deverá ser entregue no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento. Assim, quando uma pessoa vai pedir para que um título seja protestado, ela já tem que levar o endereço do devedor.
· Para que seja válida, é necessário que fique comprovado que uma pessoa maior e capaz recebeu a intimação no endereço do devedor. Para isso, é indispensável que a pessoa que recebeu assine um protocolo, aviso de recepção (AR) ou outro documento equivalente.
· Vale ressaltar, mais uma vez, que, para que a intimação seja válida, basta que ela tenha sido entregue para alguém no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento como sendo do devedor. A lei não exige que o próprio devedor receba a intimação, bastando que ela seja entregue em seu endereço.
· A intimação deverá conter nome e endereço do devedor, elementos de identificação do título ou documento de dívida, e prazo limite para cumprimento da obrigação no Tabelionato, bem como número do protocolo e valor a ser pago.
Formas de intimação: Há duas formas de intimação:
a) mediante remessa pelo tabelião e entrega no endereço do devedor;
b) por edital (art. 15).
Hipóteses de intimação por edital: A intimação será feita por edital se a pessoa indicada para aceitar ou pagar (devedor) for:
a) desconhecida;
b) tiver sua localização incerta ou ignorada;
c) for residente ou domiciliada fora da competência territorial do Tabelionato; ou
d) caso ninguém se disponha a receber a intimação no endereço fornecido.
Esgotar todos os meios: Segundo a jurisprudência do STJ, a intimação do protesto por edital somente pode ser considerada meio hábil para a caracterização da mora se tiverem sido esgotadas todas as possibilidades de se localizar o devedor. Assim, se o apresentante tiver fornecido algum endereço do devedor, o tabelião só poderá intimá-lo por edital se primeiro tentar enviar a intimação para este endereço e não conseguir que ninguém o receba.
Como será a publicidade do edital: O edital será:
· afixado no quadro de avisos do cartório do Tabelionato de Protesto; e
· publicado pela imprensa local onde houver jornal de circulação diária.
Má-fé do apresentante: Se o apresentante fornecer endereço incorreto, agindo de má-fé, responderá por perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções civis, administrativas ou penais (art. 15, § 2º).
6.4. Local onde deverá ser realizado o protesto de cédula de crédito bancário garantida por alienação fiduciária – (Info 579) – IMPORTANTE!!! - (Cartórios/TJRJ-2017)
		É possível, à escolha do credor, o protesto de cédula de crédito bancário garantida por alienação fiduciária, no tabelionato em que se situa a praça de pagamento indicada no título ou no domicílio do devedor. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, j. 24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579).
	OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João recebeu mútuo bancário de R$ 100 mil e emitiu em favor da instituição financeira uma Cédula de Crédito Bancário (CCB). Além disso, como garantia, ele fez a cessão fiduciária para o banco de um caminhão. Em outras palavras, João cedeu fiduciariamente o veículo para o banco. Se ele pagasse o empréstimo, o banco "devolveria" o bem; caso se tornasse inadimplente, o banco se tornaria, em definitivo, proprietário do caminhão. 
Cédula de Crédito Bancário (CCB) com garantia: É um título de crédito extremamente comum na atividade empresarial, estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº 10.931/2004. Quando uma pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário, a instituição financeira exige que este mutuário emita, em favor do banco, uma cédula de crédito bancário, que é um papel no qual o emitente se compromete a pagar para o beneficiário determinada quantia ali prevista. Este papel (CCB) fica em poder do credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida no prazo, o credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo extrajudicial. A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº 10.931/2004). Em caso de empréstimo de pequenos valores, os bancos normalmente não exigem garantia, bastando a CCB, que é, como vimos, título executivo. No entanto, se a quantia for grande, as instituições exigem que o mutuário, além de emitir a cédula, forneça uma garantia (ex: hipoteca de um bem imóvel, cessão fiduciária de bens móveis etc.). Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia.
Voltando ao exemplo: João deixou de pagar as prestações do empréstimo e tornou-se inadimplente. Diante disso, o banco levou o título para ser protestado pelo Tabelionato de Protesto. Vale ressaltar que João morava em Campinas, o banco se situava em São Bernardo e, no título, estava indicado São Paulo (capital) como praça (local) de pagamento do título. 
Diante desta diversidade de locais, indaga-se: onde deverá ser lavrado este protesto? Em São Paulo (capital) ou em Campinas. Foi a tese fixada pelo STJ em recurso repetitivo.
A determinação para que o protesto seja feito no local indicado pelo título como praça de pagamento está prevista no art. 28, parágrafo único, do Decreto 2.044/1908:
Art. 28. A letra que houver de ser protestada por falta de aceite ou de pagamento deve ser entregue ao oficial competente, no primeiro dia útil que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento, e o respectivo protesto, tirado dentro de três dias úteis.
Parágrafo único. O protesto deve ser tirado do lugar indicado na letra para o aceite ou para o pagamento. Sacada ou aceita a letra para ser paga em outro domicílio que não o do sacado, naquele domicílio deve ser tirado o protesto.
Também pode ser admitido que o protesto ocorra no domicílio do devedor porque isso se mostra mais vantajoso para ele, de forma que não poderá invocar qualquer nulidade no ato.
6.5. Não cancelamento do protesto pela prescrição do título cambial – (Info 562) - (TJPB-2015) (PCPA-2016)
		João não pagou uma nota promissória que emitiu em favor da empresa “XX”. Diante disso, a empresa levou a nota promissória a protesto no Tabelionato de Protesto. Quatro anos depois, a empresa ajuizou execução de título extrajudicial contra João cobrando o valor estampado na nota promissória. A execução, contudo, foi extinta porque o juiz constatou que houve prescrição da ação executiva. João ajuizou ação de cancelamento do protesto, alegando que, como houve a prescrição da execução, deveria automaticamente ocorrer o cancelamento do protesto realizado. A tese de João está correta? 
NÃO. A prescrição da pretensão executória de título cambial não enseja o cancelamento automático de anterior protesto regularmente lavrado e registrado. A validade do protesto não está diretamente relacionada com a exequibilidade do título ou de outro documento de dívida, mas sim com a inadimplência e o descumprimento da obrigação representada nestes papéis. 
A inadimplência e o descumprimentonão desaparecem com a mera prescrição do título executivo não quitado. Em outras palavras, o devedor continua sendo inadimplente, apesar de o título não poder mais ser cobrado mediante execução. Então, não pode o protesto ser cancelado simplesmente pelo fato de ele não poder ser mais executado. 
Vale lembrar que, mesmo havendo a prescrição da ação executiva, o credor ainda poderá cobrar o valor da nota promissória por meio da ação monitória. 
STJ. 4ª Turma. REsp 813.381-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/11/2014 (Info 562).
6.6. Responsabilidade pela baixa após o pagamento – (Info 549) – IMPORTANTE!!! - (Cartórios/TJRJ-2017)
		Após o pagamento do título protestado, o credor que foi pago tem a responsabilidade de retirar o protesto lavrado?
NÃO. Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR, providenciar o cancelamento do protesto, salvo se foi combinado o contrário entre ele e o credor.
No regime próprio da Lei 9.492/1997, legitimamente protestado o título de crédito ou outro documento de dívida, salvo inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao devedor, após a quitação da dívida, providenciar o cancelamento do protesto.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.339.436-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/9/14 (recurso repetitivo) (Info 549).
6.7. Simples apontamento do título, sem o efetivo registro do protesto, ainda que de forma indevida, não gera dano moral
		O simples apontamento do título, sem o efetivo registro do protesto, ainda que de forma indevida, é incapaz de gerar dano moral a quem quer que seja. 
O dano moral somente ocorrerá se o protesto indevido for efetivado, ou seja, se, após 3 dias da intimação, não houver pagamento ou sustação, ocasião em que o protesto será lavrado. 
Apenas com a efetivação do protesto, este é registrado e se torna público, trazendo efeitos negativos à pessoa protestada, que será, inclusive, incluída nos cadastros negativos de crédito. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.005.752-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/6/2012.
7. CHEQUE
7.1. CHEQUE: Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento – (Info 584) – IMPORTANTE!!! – VIDE INFO 528 DO STJ!
		O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Em suma, no caso de cheque pós-datado (pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação? 
1) Pós-datação regular (efetivada no campo referente à data de emissão): SIM. 
A pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo específico da cártula. O ordenamento jurídico confere segurança e eficácia à pós-datação regular (efetivada no campo referente à data de emissão). 
Ex: no dia 20/05, João emitiu (preencheu) um cheque e o entregou para Pedro (beneficiário). No entanto, no campo reservado para a data de emissão, ele, em vez de colocar 20/05, escreveu 20/07 (data que ficou combinada para que Pedro sacasse o cheque). O termo inicial do prazo de apresentação do cheque é o dia 20/07. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/4/16 (recurso repetitivo) (Info 584).
2) Pós-datação extracartular (feita em campo diverso do campo específico): NÃO.
A pós-datação extracartular do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do título. A pós-datação extracartular tem existência jurídica, mas apenas com natureza obrigacional entre as partes (Súmula 370). Esta pactuação extracartular, contudo, é ineficaz em relação à contagem do prazo de apresentação e, por conseguinte, não tem o condão de operar o efeito de ampliar o prazo de apresentação do cheque. 
Ex: João emitiu o cheque no dia 20/05 e o entregou a Pedro. No campo reservado para a data de emissão, ele colocou 20/05 (dia atual). No entanto, no verso do cheque escreveu o seguinte: “bom para o dia 20/07” (que foi a data combinada para que Pedro sacasse o dinheiro). O termo inicial do prazo de apresentação do cheque continua sendo o dia 20/05. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/6/13 (Info 528).
7.2. Devolução de cheque sem provisão de fundos e responsabilidade civil de instituição bancária – (Info 574) – IMPORTANTE!!!
		O banco sacado não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação ajuizada com o objetivo de reparar os prejuízos decorrentes da devolução de cheque sem provisão de fundos emitido por correntista. 
Ex: João emitiu um cheque em favor de Paulo. Este foi até o banco tentar sacar a quantia, mas o cheque foi recusado por falta de fundos. Paulo ajuizou ação de indenização contra o banco alegando que houve má prestação do serviço bancário. Isso porque a instituição financeira deveria ser mais cautelosa e diligente ao fornecer talonário de cheques aos seus clientes, verificando se são bons pagadores, se possuem renda suficiente, se já têm conta há muito tempo etc. Tal pedido não encontra amparo na jurisprudência do STJ. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.509.178-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/10/2015 (Info 574).
	Resumindo...
Não há defeito na prestação do serviço bancário quando ocorre devolução de cheque desprovido de fundos, sendo o emitente do cheque o único responsável pelo pagamento da dívida.
7.3. Ausência de responsabilidade do banco por cheque cancelado que não é pago – (Info 564)
		Durante assalto ocorrido em um banco, os ladrões roubaram 50 talonários de cheques. Tais talonários estavam impressos com nomes de clientes e seriam ainda entregues aos correntistas para que iniciassem seu uso. Diante desse fato, o banco efetuou o cancelamento dos referidos cheques. Cerca de um mês depois do assalto, um dos ladrões foi até o supermercado e comprou diversos produtos. A conta foi paga com o cheque roubado. O funcionário do banco foi tentar descontar o cheque, mas ele foi devolvido, tendo a bancária informado que aquele cheque não poderia ser pago porque havia sido cancelado pela instituição financeira, com base no motivo 25 da Resolução 1.631/1989, do Banco Central. 
O banco deverá responder pelo prejuízo do supermercado? 
NÃO. A instituição financeira não deve responder pelos prejuízos suportados por sociedade empresária que, no exercício de sua atividade empresarial, recebera como pagamento cheque que havia sido roubado durante o envio ao correntista e que não pode ser descontado em razão do prévio cancelamento do talonário (motivo 25 da Resolução 1.631/1989 do Bacen). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.324.125-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/5/2015 (Info 564).
7.4. Protesto do cheque após o prazo de apresentação – (Info 556)
		· O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso deve ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado protesto necessário. 
· O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).
7.5. Ampliação do prazo de apresentação do cheque pós-datado – (Info 528)
		O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Ex: o cheque foi emitido dia 01/07, mas ficou combinado que ele só seria apresentado dia 01/09. Em suma, no caso de cheque pós-datado (pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação? 
NÃO. A pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do título. 
Assim, mesmo em caso de cheque pós-datado, o prazo para apresentação deve ser contado a partir da data da emissão, não importando o dia futuro combinado com o beneficiário. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013 (Info 528).
7.6. Cheque e o cabimento de indenização por danos morais
		É cabível a indenização por danos morais pela instituição financeira quando o cheque apresentado fora do prazo legal e já prescrito é devolvidosob o argumento de insuficiência de fundos. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.353-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 16/10/2012.
8. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL
8.1. Prazo prescricional da repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural – (Info 592)
		Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito rural? 
· Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos. 
· Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos. 
O termo inicial do prazo prescricional é a data do pagamento (efetiva lesão). 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.361.730-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 10/8/16 (recurso repetitivo) (Info 592).
8.2. Invasão do MST e exigibilidade de cédula de crédito rural hipotecária – (Info 589)
		A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não é fato suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser analisada, concretamente, a presença dos requisitos caracterizadores do instituto (necessariedade e inevitabilidade – art. 393, parágrafo único, do Código Civil). 
A parte que faz esta alegação deverá comprovar que a ocupação ilegal da propriedade rural pelo MST criou óbice intransponível ao cumprimento da obrigação. Deverá também provar que não havia meios de evitar ou impedir os seus efeitos. 
Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá exigível na hipótese de o MST invadir o imóvel do financiado e este deixar de comprovar que a invasão constitui óbice intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam meios de evitar ou impedir os efeitos dessa ocupação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.705-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/8/16 (Info 589).
9. CÉDULA DE PRODUTO RURAL
9.1. Juros moratórios e cédula de produto rural financeira – (Info 603)
		No caso de cédulas de PRODUTO rural financeira (CPR-F), os juros também estão limitados a 1% ao ano, conforme prevê o DL 167/67 para as cédulas de CRÉDITO rural?
1ª corrente: NÃO. A limitação dos juros moratórios ao patamar de 1% ao ano, estabelecida pelo art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 167/67, não se aplica à cédula de produto rural financeira (CPR-F).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.435.979-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 30/3/17 (Info 603).
2ª corrente: SIM. Os juros de mora no caso de CPR-F deverão ficar limitados em 1% ao ano, nos termos do art. 5º do Decreto-Lei nº 167/1967.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 906.114/PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 06/10/2016.
10. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO 
10.1. Abusividade da cláusula-mandato - (Info 570) – IMPORTANTE!!!
		Nos contratos de cartão de crédito, é abusiva a previsão de cláusula-mandato que permita à operadora emitir título cambial contra o usuário do cartão. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.084.640-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 23/9/15 (Info 570). 
10.2. Contrato de abertura de crédito rotativo
		O contrato de abertura de crédito rotativo, ainda que acompanhado dos extratos relativos à movimentação bancária do cliente, não constitui título executivo.
Aplica-se a Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente, não é título executivo. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.022.034-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 12/3/2013.
11. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
11.1. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Empresa foi condenada a pagar danos morais ao seu ex-empregado; em seguida, ingressou com recuperação judicial; esse crédito será habilitado como crédito trabalhista – (Info 676) – IMPORTANTE!!!
		Na recuperação judicial, os créditos decorrentes de condenação por danos morais imposta à recuperanda na Justiça do Trabalho são classificados como trabalhistas.
Ex: João ingressou com ação de indenização por danos morais contra a empresa em que trabalhou pelo fato de ter sofrido intoxicação alimentar em decorrência da ingestão de alimentos contaminados no refeitório. A empresa foi condenada e, logo em seguida, ingressou com pedido de recuperação judicial. Esse crédito será habilitado na recuperação como crédito trabalhista (art. 41, I, da LFRE).
STJ. 3ª T. REsp 1869964-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/06/20 (Info 676).
11.2. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Os encargos derivados de adiantamento de contratos de câmbio se submetem aos efeitos da recuperação judicial da devedora – (Info 661)
		Adiantamento sobre contrato de câmbio (ACC) é um serviço por meio do qual o banco faz a antecipação de recursos para o exportador, em moeda nacional (Reais), enquanto ele não recebe o dinheiro da exportação.
Os encargos derivados de adiantamento de contratos de câmbio se submetem aos efeitos da recuperação judicial da devedora.
O exportador que celebrou um ACC terá que, depois de um tempo que for combinado, devolver ao banco os recursos que a ele foram adiantados. Ocorre que, além da quantia principal adiantada, o exportador também terá que pagar outros valores acessórios, como juros, multa, taxas etc.
• Os valores relacionados com adiantamento a contrato de câmbio não se sujeitam aos efeitos da falência, por força do § 4º do art. 49 da Lei 11.101/05. São considerados créditos extraconcursais.
• Por outro lado, os ENCARGOS derivados de adiantamento de contratos de câmbio: submetem-se aos efeitos da recuperação judicial da empresa devedora. Isso significa que o banco, para receber os encargos, terá que sujeitar esse crédito às regras de pagamento da recuperação judicial.
STJ. 3ª T. REsp 1810447-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/11/19 (Info 661).
11.3. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: É imprescindível a verificação da natureza onerosa ou gratuita do aval prestado, antes do pedido de recuperação judicial por sociedade empresária, para que se determine se a garantia se sujeita ou não ao processo de soerguimento – (Info 661)
		A empresa “J” tomou dinheiro emprestado junto a um banco e a empresa “E” foi avalista. Antes do vencimento, a empresa “E” entrou em recuperação judicial.
Esse crédito do banco deverá ser habilitado na recuperação judicial e poderá ser cobrado da empresa “E” (avalista)?
Depende. O art. 5º, I, da Lei nº 11.101/2005 preconiza:
Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:
I – as obrigações a título gratuito;
Esse art. 5º, I, tem como objetivo impedir que o devedor, já com dificuldades para adimplir dívidas decorrentes de obrigações de natureza onerosa, seja também compelido a satisfazer aquelas pelas quais não recebera qualquer contrapartida, circunstância que implicaria quebra de isonomia e prejuízo a quem se tornou credor e cumpriu, a contento, a contraprestação respectiva.
Assim, será necessário verificar se esse aval prestado pela empresa teve natureza onerosa ou gratuita, para que se determine se a garantia se sujeita ou não ao processo de recuperação judicial.
STJ. 3ª T. REsp 1829790-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/11/19 (Info 661).
11.4. FALÊNCIA: Empresa 1 deu bens em garantia de um contrato celebrado com a Empresa 2; Empresa 1 está em processo de falência e a Empresa 2 está em recuperação judicial; compete ao juízo da falência decidir sobre esses bens do falido que foram dados em garantia – (Info 659)
		Compete ao Juízo falimentar decidir sobre os bens do falido dados em garantia em favor de sociedade empresária em recuperação judicial ainda que pendente decisão no juízo arbitral sobre eventual descumprimento de obrigações entre as partes.
STJ. 2ª Seção. CC 166591-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 23/10/19 (Info 659).
11.5. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL: FUNDO DE INVESTIMENTO: Fundo encerrado possui legitimidade para ser réu em ação de reparação de danos proposta por credor do Fundo que alega que a liquidação não foi correta considerando que, antes de haver a partilha do saldo entre os cotistas, deveria lhe ter sido paga uma dívida – (Info 656)
		O administrador do fundo de investimento é parte legítima para figurar no polo passivo de demanda em que se pretende a reparação de supostos danos resultantes de inadequada liquidação.
“DPC Fund” era um Fundode Investimento em Participações, sendo administrado pelo Banco X. Decidiu-se fazer o encerramento do fundo. No procedimento de liquidação, o administrador calculou o ativo do fundo, fez o pagamento do passivo e o saldo foi dividido entre os cotistas. A empresa THA era uma das credoras do Fundo e afirmou que a liquidação não foi correta, considerando que o Fundo não cumpriu com algumas obrigações assumidas perante ela. Diante disso, a THA ajuizou ação de reparação de danos contra o Banco, administrador do Fundo. Segundo a teoria da asserção, isto é, à luz das afirmações deduzidas na petição inicial, o administrador do Fundo possui legitimidade passiva para a demanda.
STJ. 3ª T. REsp 1834003-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 17/09/19 (Info 656).
11.6. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Não é necessário que o contrato de compra e venda com reserva de domínio tenha sido registrado no cartório para que ele fique excluído da recuperação judicial, conforme previsto no § 3º do art. 49 da Lei 11.101/2005 – (Info 654)
		Os créditos concernentes a contrato de compra e venda com reserva de domínio não estão sujeitos aos efeitos da recuperação judicial da compradora, independentemente de registro da avença em cartório.
STJ. 3ª T. REsp 1725609-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/8/19 (Info 654).
11.7. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Em caso de recuperação judicial pedido por meio de litisconsórcio ativo, a exigência dos 2 anos deverá ser contada individualmente – (Info 652)
		O art. 48 da Lei 11.101/2005 elenca requisitos que deverão ser cumpridos pelo devedor para que ele possa requerer recuperação judicial.
O primeiro requisito é a previsão de que o devedor deverá estar exercendo regulamente suas atividades há, no mínimo, 2 anos no momento do pedido.
As sociedades empresárias integrantes de grupo econômico devem demonstrar individualmente o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos (art. 48 da Lei 11.101/05) de exercício regular de suas atividades para postular a recuperação judicial em litisconsórcio ativo.
STJ. 3ª T. REsp 1665042-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25/06/19 (Info 652).
11.8. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Se houve a migração da concordata para recuperação judicial, o crédito em moeda estrangeira será calculado com base no câmbio do dia do processamento da concordata – (Info 651)
		Crédito em moeda estrangeira que deveria ter sido ou foi habilitado em concordata preventiva (Decreto-Lei 7.661/45) que posteriormente vem a migrar para a recuperação judicial (Lei 11.101/05) deve ser convertido em moeda nacional pelo câmbio do dia em que foi processada a concordata preventiva.
STJ. 4ª T. REsp 1319085-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/5/19 (Info 651).
11.9. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Aprovação do plano suspende os protestos tirados contra a empresa em recuperação, mas ficam mantidos os protestos tirados contra eventuais coobrigados (ex: avalistas) – (Info 651) – IMPORTANTE!!! – (MPCE-2020)
		No plano de recuperação judicial é possível suspender tão somente o protesto contra a recuperanda e manter ativo o protesto tirado contra o coobrigado.
STJ. 3ª T. REsp 1630932-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 18/6/19 (Info 651).
	(MPCE-2020-CESPE): Acerca de associações, habilitação de crédito na falência, recuperação judicial e títulos de crédito, julgue os itens a seguir, de acordo com a jurisprudência do STJ: É legítima a cláusula de plano de recuperação judicial que suspenda protesto apenas em relação à sociedade empresária em recuperação, sob a condição resolutiva do cumprimento do plano de recuperação, mas que mantenha ativo o protesto existente em relação a coobrigado. BL: Info 651, STJ.
11.10. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Plano de recuperação judicial pode prever que os credores serão pagos parceladamente e que o saldo devedor será corrigido pela TR mais 1% ao ano – (Info 651)
		É válida a cláusula no plano de recuperação judicial que determina a TR como índice de correção monetária e a fixação da taxa de juros em 1% ao ano.
STJ. 3ª T. REsp 1630932-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 18/6/19 (Info 651).
11.11. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: O prazo do stay period, previsto no art. 6º, § 4º da Lei 11.101/05, deve ser computado em dias corridos – (Info 649)
		A Lei 11.101/05, ao erigir o microssistema recuperacional e falimentar, estabeleceu, a par dos institutos e das finalidades que lhe são próprios, o modo e o ritmo pelo qual se desenvolvem os atos destinados à liquidação dos ativos do devedor, no caso da falência, e ao soerguimento econômico da empresa em crise financeira, na recuperação. 
O sistema de prazos adotado pela Lei 11.101/05 revela a necessidade de se impor celeridade e efetividade ao processo de recuperação judicial, notadamente pelo cenário de incertezas quanto à solvibilidade e à recuperabilidade da empresa devedora e pelo sacrifício imposto aos credores.
Não se pode conceber, assim, que o prazo do stay period, previsto no art. 6º, § 4º da Lei 11.101/05, seja alterado, por interpretação extensiva, em virtude da superveniência do CPC/2015, até mesmo porque ele não possui natureza de prazo processual.
STJ. 3ª T. REsp 1698283/GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 21/5/19 (Info 649).
11.12. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Agravo de instrumento interposto contra decisão que julga impugnação de crédito pode se submeter à técnica da ampliação do colegiado (art. 942, § 3º, II, do CPC/2015) – (Info 649)
		A impugnação de crédito não é um mero incidente processual na recuperação judicial, mas uma ação incidental, de natureza declaratória, que tem como objeto definir a validade do título (crédito) e a sua classificação.
No caso de haver pronunciamento a respeito do crédito e sua classificação, mérito da ação declaratória, o agravo de instrumento interposto contra essa decisão, julgado por maioria, deve se submeter à técnica de ampliação do colegiado prevista no artigo 942, § 3º, II, do CPC/2015.
STJ. 3ª T. REsp 1.797.866-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/5/19 (Info 649).
11.13. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: No caso de crédito arrolado desde o ajuizamento da ação de recuperação judicial, não se reconhece impugnação de crédito após o decurso do prazo do art. 8º da Lei n. 11.101/2005 – (Info 649)
		O art. 8º da Lei nº 11.101/2005 prevê o seguinte:
Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7º, § 2º, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado.
A impugnação de crédito apresentada fora do prazo de 10 dias previsto no caput do art. 8º da Lei 11.101/05 não pode ter seu mérito apreciado pelo juízo.
A norma do art. 8º contém regra de aplicação cogente. Trata-se de prazo peremptório específico, estipulado expressamente pela lei de regência.
Eventual superação de regra legal deve ser feita de forma excepcional, observadas determinadas condições específicas, tais como elevado grau de imprevisibilidade, ineficiência ou desigualdade, circunstâncias não verificadas na espécie.
STJ. 3ª T. REsp 1704201/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, j. 7/5/19 (Info 649).
11.14. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Os créditos decorrentes do pensionamento fixado em sentença judicial podem ser equiparados àqueles derivados da legislação trabalhista para fins de inclusão no quadro geral de credores de sociedade em recuperação judicial – (Info 645)
		O pensionamento fixado em sentença judicial, decorrente de ação de indenização por acidente de trânsito (art. 950, CC), pode ser equiparado ao crédito derivado da legislação trabalhista para fins de inclusão no quadro geral de credores de sociedade em recuperação judicial.
Os créditos de natureza alimentar, ainda que não decorram especificamente de relação jurídica submetida aos ditames da legislação trabalhista,devem receber tratamento análogo para fins de classificação da ordem de pagamento nos processos de execução concursal.
Ex: João recebe pensão mensal vitalícia da sociedade empresária “X” em virtude de ter sido atropelado pelo veículo da empresa; após vários meses de atraso nos pagamentos, a empresa ingressou com pedido de recuperação judicial; o crédito de João será equiparado a crédito trabalhista para fins de pagamento prioritário.
STJ. 3ª T. REsp 1799041-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/4/19 (Info 645).
11.15. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: É possível que o plano da recuperação judicial preveja diferença de tratamento entre credores de uma mesma classe, criando, assim, subclasses, desde que baseado em critérios objetivos – (Info 644) – IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)
		É possível a criação de subclasses entre os credores da recuperação judicial, desde que estabelecido um critério objetivo, justificado no plano de recuperação judicial, abrangendo credores com interesses homogêneos, ficando vedada a anulação de direitos de eventuais credores isolados. 
Na hipótese, ficou estabelecida uma distinção entre os credores quirografários, reconhecendo-se benefícios aos fornecedores de insumos essenciais ao funcionamento da empresa, prerrogativa baseada em critério objetivo e justificada no plano aprovado pela assembleia geral de credores.
STJ. 3ª T. REsp 1634844-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/3/19 (Info 644).
	(TJPA-2019-CESPE): No entendimento do STJ, a criação de subclasses entre os credores da recuperação judicial é: possível, desde que estabelecido um critério objetivo, justificado na decisão que concede a recuperação judicial, devendo cada subclasse abranger credores com interesses homogêneos e garantir a possibilidade de contestar o crédito de eventuais devedores, mesmo que isolados. BL: Info 644, STJ.
11.16. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Reserva de 40% dos honorários do administrador judicial (art. 24, § 2º da Lei) se aplica apenas à falência, não à recuperação – (Info 642)
		A reserva de 40% dos honorários do administrador judicial, prevista no art. 24, § 2º, da Lei 11.101/05, não se aplica no âmbito da recuperação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1700700-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/2/19 (Info 642).
	OBS:
Art. 24. (...)
§ 2º Será reservado 40% (quarenta por cento) do montante devido ao administrador judicial para pagamento após atendimento do previsto nos arts. 154 e 155 desta Lei.
O art. 25, §4º da LRF determina que 40% da remuneração do administrador judicial deve ser reservado para pagamento posterior, após atendidas as previsões dos arts. 154 e 155:
• O art. 154 prevê que, após a realização do ativo e de ser distribuído o produto entre os credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo de 30 dias.
• O art. 155 afirma que, depois de o magistrado julgar as contas do administrador judicial, ele apresentará o relatório final da falência no prazo de 10 dias.
Os arts. 154 e 155 estão localizados topograficamente na seção XII do capítulo V, ou seja, na parte da lei que trata especificamente do “Encerramento da Falência e da Extinção das Obrigações do Falido”. Uma vez que o art. 24, § 2º, da LRF diz que o pagamento dos honorários somente pode ser feito após a realização de procedimentos que estão relacionados diretamente com a falência, o que se conclui é que este dispositivo não se aplica para os processos de recuperação judicial. 
Isso significa que se o legislador quisesse que a reserva de 40% da remuneração devida ao administrador fosse regra aplicável também aos processos de recuperação judicial, ele teria mencionado no art. 24, § 2º expressamente o art. 63 da Lei. No entanto, ele não fez isso, e o art. 24, § 2º fala apenas nos arts. 154 e 155 (que se aplicam apenas à falência).
11.17. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Empresas em recuperação podem celebrar contratos de factoring – (Info 641)
		Independentemente de autorização do juízo competente, as empresas em recuperação judicial podem celebrar contratos de factoring (contrato de fomento mercantil) no curso do processo de recuperação judicial.
Em regra, os administradores da empresa continuam sendo responsáveis pelos negócios sociais, exceto se verificada alguma das causas de afastamento ou destituição legalmente previstas.
O art. 66 da Lei nº 11.101/2005, contudo, prevê uma restrição: a empresa em recuperação não poderá, sob determinadas condições, alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente.
Os bens alienados em decorrência de contratos de factoring são “direitos de crédito” e, portanto, não se enquadram no conceito de “ativo permanente” da empresa. Assim, não incide a proibição do art. 66 da Lei.
STJ. 3ª Turma. REsp 1783068/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/2/19 (Info 641).
11.18. Conceito de bem de capital para os fins do § 3º do art. 49 da Lei nº 11.101/2005 – (Info 634) – IMPORTANTE!!!
		A Lei 11.101/05, embora tenha excluído expressamente dos efeitos da recuperação judicial o crédito de titular da posição de proprietário fiduciário de bens imóveis ou móveis, acentuou que os “bens de capital”, objeto de garantia fiduciária, essenciais ao desenvolvimento da atividade empresarial, permanecem na posse da recuperanda durante o stay period. 
A conceituação de “bem de capital”, referido na parte final do § 3º do art. 49 da LRF, há de ser objetiva. Assim, “bem de capital” é o bem corpóreo (móvel ou imóvel) utilizado no processo produtivo da empresa recuperanda e que não seja perecível nem consumível. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1758746-GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 25/9/18 (Info 634).
	OBS:
Créditos que estão sujeitos à recuperação judicial: Na recuperação judicial, a empresa devedora, que está “sufocada” por dívidas, irá pagar os seus credores de uma forma mais “suave”, a fim de que consiga quitar todos os débitos e se manter funcionando. Assim, os credores da empresa em recuperação judicial são inscritos no “quadro geral de credores”, e cada um receberá seu crédito de acordo com o que for definido no plano de recuperação. Um dos temas importantes sobre esse assunto é saber quais créditos estão sujeitos à recuperação judicial, ou seja, quais credores irão ter que receber seus créditos conforme o plano de recuperação.
 
Regra: Em regra, estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput, da Lei 11.101/05). Ex: a empresa tem que pagar uma dívida com um fornecedor daqui a 9 meses; se o pedido de recuperação foi feito hoje, esse crédito já será incluído nas regras da recuperação judicial, mesmo que ainda não tenha chegado a data do vencimento.
 
Consequência dessa regra: Como vimos acima, tendo sido decretada a recuperação judicial, os credores irão receber conforme o plano. Como consequência disso, em regra, as ações e execuções que tramitam contra a empresa em recuperação são suspensas para poder não atrapalhar a execução do plano. Veja:
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. (...)
§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.
 
Esse prazo em que haverá a pausa momentânea das ações e execuções é chamado de stay period e tem por objetivo permitir que o devedor em crise consiga negociar, de forma conjunta com todos os credores (plano de recuperação) e, ao mesmo tempo, preservar o patrimônio do empreendimento, que ficará livre, por um determinado período de respiro, de eventuais constrições (ex: penhora) de bens necessários à continuidade da atividade empresarial.Com isso, minimiza-se o risco de haver uma falência.
 
Exceções à regra: A regra acima exposta (caput do art. 49) possui exceções que estão elencadas nos §§ 3º e 4º. Dessa feita, nesses parágrafos estão previstos determinados créditos que NÃO se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial. Veja o § 3º, que interessa para explicar o julgado:
§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º  do art. 6º (chamado de “stay period”) desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.
 
Créditos decorrentes de alienação fiduciária enquadram-se no § 3º: Se a empresa em recuperação tinha um contrato de alienação fiduciária com o credor “X” e este credor tinha, como garantia da dívida, a propriedade fiduciária de um bem que está na posse da empresa, esse crédito” enquadra-se no § 3º. Ex: a empresa tinha feito uma alienação fiduciária para adquirir um caminhão “XYZ”; como não tinha dinheiro para pagar à vista, fez um financiamento e o veículo ficou na propriedade fiduciária do banco “ABC”, sendo usado pela empresa (tinha a posse direta do bem). Se a empresa entra com pedido de recuperação judicial, esse crédito do banco não está submetido aos efeitos do plano de credores. Em outras palavras, a empresa terá que continuar pagando as prestações da mesma forma que já estava ajustada no contrato e, se atrasar, o banco poderá propor a ação de busca e apreensão.
 
Ressalva da parte final do § 3º: O § 3º traz uma ressalva: mesmo que o crédito se enquadre nas situações descritas no § 3º, a empresa não poderá perder o estabelecimento onde está situada, assim como também não poderá ser privada dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial. Ex: se o caminhão “XYZ” (acima mencionado) é o único utilizado pela empresa, sendo essencial para a sua atividade empresarial, o banco “ABC” não poderá ajuizar a ação de busca e apreensão. Ele terá que se submeter às regras da recuperação judicial. Essa situação dura, no máximo, 180 dias, conforme prevê o § 4º do art. 6º.
 
Resumindo:
1) REGRA: estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput). Devem obedecer ao plano de recuperação e as ações ficam suspensas.
2) EXCEÇÃO: os créditos de alienação fiduciária não estão sujeitos à recuperação judicial e as ações relacionadas com tais créditos podem continuar a ser propostas (§ 3º do art. 49). Aqui o Banco “comemora” porque seu crédito está fora da recuperação judicial.
3) EXCEÇÃO DA EXCEÇÃO (volta para regra): se a garantia da alienação fiduciária for o imóvel que funciona o estabelecimento do devedor ou forem bens de capital (bens móveis) essenciais à atividade empresarial da sociedade em recuperação judicial, nesse caso, mesmo sendo crédito de alienação fiduciária, deverá ficar sujeita aos efeitos da recuperação judicial. Aqui o Banco “lamenta” porque seu crédito deverá ficar sujeito à recuperação judicial. Prevalece o princípio da preservação da empresa, impondo restrição temporária ao proprietário fiduciário (ex: banco) em relação a bem de capital que se revele indispensável à manutenção do desenvolvimento da atividade econômica exercida pela empresa recuperanda.
 
Bem de capital essencial à atividade empresarial: Para se enquadrar na parte final do § 3º (exceção da exceção – situação 3), o bem objeto da alienação fiduciária deve ser bem de capital essencial à atividade empresarial. Se o contrato de alienação fiduciária for referente a:
1) um bem que seja bem de capital; ou
2) a um bem de capital não essencial
... esse crédito continua fora da recuperação judicial (situação 2).
 
Só se analisa se o bem é essencial se ele for bem de capital: Se determinado bem, alienado fiduciariamente, não puder ser classificado como “bem de capital”, o Juízo da recuperação nem analisa se ele é essencial ou não para a empresa. Isso porque o § 3º do art. 49 somente “salva” e mantém na empresa os bens de capital essenciais. São, portanto, dois “requisitos”: ser bem de capital + ser essencial. Veja novamente este trecho da Lei:
§ 3º (...) não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.
 
Em não se tratando de bem de capital, o bem cedido ou alienado fiduciariamente não pode ficar retido na posse da empresa em recuperação judicial, afigurando-se, para esse efeito, absolutamente descabido qualquer juízo de essencialidade. Desse modo, a caracterização do bem dado em garantia fiduciária como “bem de capital” constitui questão pressuposta ao subsequente juízo de essencialidade, a fim de mantê-lo na posse da empresa recuperanda.
 
Quem avalia a essencialidade do bem de capital? O Juízo da recuperação judicial, que detém todas as informações relacionadas à real situação econômico-financeira da recuperanda. É considerado essencial aquele bem que se mostra indispensável ao soerguimento da empresa.
 
O que é “bem de capital” mencionado no § 3º do art. 49? “Bem de capital” é o bem corpóreo (móvel ou imóvel) utilizado no processo produtivo da empresa recuperanda e que não seja perecível nem consumível. Assim, o bem, para se caracterizar como bem de capital, precisa ser utilizado no processo produtivo da empresa, já que necessário ao exercício da atividade econômica exercida pelo empresário. Verifica-se, ainda, que o bem, para se enquadrar neste conceito, precisa estar na posse da empresa recuperanda. Isso porque, como já dito, ele tem que estar sendo utilizado em seu processo produtivo. Logo, se o bem não está na posse da empresa, ele não se enquadra no § 3º do art. 49.
 
Bem de capital não pode ser perecível ou consumível: Por fim, não se pode considerar como bem de capital aquele que for perecível ou consumível. Isso porque não se pode atribuir tal qualidade a um bem cuja utilização signifique o próprio esvaziamento da garantia fiduciária. Deve-se lembrar que, ao final do stay period, o bem deverá ser restituído ao proprietário, ou seja, ao credor fiduciário. Se o bem for perecível ou consumível, não será possível essa devolução.
11.19. Ação de indenização por danos morais contra empresa em recuperação judicial – (Info 627) – IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)
		A ação de compensação por danos morais movida contra empresa em recuperação judicial não deve permanecer suspensa até o trânsito em julgado da decisão final proferida no processo de soerguimento. 
STJ. 3ª T. REsp 1710750-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/5/18 (Info 627).
	(TJPA-2019-CESPE): Considerando o recente entendimento do STJ a respeito da suspensão do curso da prescrição e das ações e execuções ajuizadas contra o devedor quando do deferimento do processamento da recuperação judicial pelo prazo de cento e oitenta dias, assinale a opção correta: Ação de compensação por danos morais movida contra empresa em recuperação judicial não deve permanecer suspensa até o trânsito em julgado da decisão final proferida no processo de soerguimento. BL: Info 627, STJ.
	OBS: 
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi ofendido e maltratado pelo motorista da empresa de ônibus “Viplan”. Em razão disso, ajuizou ação de indenização por danos morais que foi julgada procedente, condenando a pagar R$ 5 mil. O credor requereu o cumprimento de sentença, o que estava tramitando na 6ª VaraCível. Ocorre que a Viplan ingressou com pedido de recuperação judicial. O juiz da Vara de Falência deferiu o pedido de recuperação judicial. Diante disso, o juiz da 6ª Vara Cível decidiu suspender o processo de cumprimento de sentença, nos termos do art. 6º, § 4º da Lei 11.101/05:
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. (...)
§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.
 
Depois de alguns anos de tramitação, o Juiz da Vara de Falência entendeu que estavam cumpridas as obrigações e decretou, por sentença, o encerramento da recuperação judicial (art. 63 da Lei 11.101/05). Um dos credores, contudo, não concordou e apelou contra a sentença. Foi o tempo que o advogado de João lembrou do processo e pediu ao Juiz da 6ª Vara Cível que retomasse o cumprimento de sentença, pedido que foi acolhido pelo magistrado. A Viplan, porém, recorreu contra a decisão do Juiz da 6ª Vara Cível alegando que não se mostra plausível a retomada das execuções individuais após o mero decurso do prazo de 180 dias, sob pena de violação ao princípio da continuidade da empresa. Argumentou que o cumprimento de sentença deverá permanecer suspenso até a conclusão final da recuperação judicial.
 
Agiu corretamente o juiz da 6ª Vara Cível? SIM. O STJ possui precedentes nos quais já admitiu que os processos permaneçam suspensos mesmo depois do decurso do prazo de 180 dias previsto no art. 6º, § 4º da Lei nº 11.101/2005: Nesse sentido:
(...) 2. De acordo com o entendimento deste Tribunal Superior, admite-se a prorrogação do prazo suspensivo das ações e execuções ajuizadas em face da sociedade em crise econômico-financeira, previsto no art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/05. (...) STJ. 2ª Seção. CC 111.614/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/06/2013.
 
Todavia, não se pode admitir prorrogação genérica e indiscriminada do prazo de suspensão do art. 6º, § 4º para todo e qualquer processo relacionado à empresa recuperanda, sendo sempre necessário analisar as circunstâncias do caso concreto. No caso concreto, além de se ter esgotado o prazo de 180 dias, percebe-se que o próprio processo de recuperação judicial já havia se encerrado (ainda que pendente recurso). Logo, não havia qualquer motivo para se manter suspenso o cumprimento de sentença. Não seria razoável que João tivesse que continuar com sua execução suspensa, especialmente porque:
· seu crédito é muito pequeno se comparada ao porte econômico da empresa; e
· passou-se um grande tempo desde o ajuizamento da ação, o que afronta o princípio da efetividade da jurisdição.
11.20. Crédito derivado de fato ocorrido antes da recuperação judicial – (Info 626) – IMPORTANTE!!! Concurso Juiz de Direito!
		O crédito derivado de fato ocorrido em momento anterior àquele em que requerida a recuperação judicial deve sujeitar-se ao plano de soerguimento da sociedade devedora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.727.771-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/05/2018 (Info 626).
	OBS:
RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A recuperação judicial consiste em um processo judicial, no qual será construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.
FASES DA RECUPERAÇÃO: De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.
JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.
PLANO DE RECUPERAÇÃO: Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em falência (art. 53 da Lei 11.101/05). Este plano deverá conter:
· discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50);
· demonstração de sua viabilidade econômica; e
· laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.
Habilitação dos créditos: Depois que a recuperação judicial é decretada ocorre a habilitação dos créditos que deverão ser pagos pela empresa recuperanda. Assim, as pessoas que tiverem créditos para receber da empresa em recuperação deverão apresentá-los ao administrador judicial, na forma do art. 9º da Lei 11.101/05. A verificação dos créditos será realizada, então, primeiro pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e nos documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores. A partir desse trabalho inicial, confecciona-se um edital cujo teor pode ser alterado por novas habilitações ou divergências quanto aos créditos ali relacionados.
Imagine agora a seguinte situação hipotética: Em janeiro de 2017, Lucas consumiu leite estragado comprado no Supermercado BR. Em fevereiro de 2017, ele ajuizou ação de indenização por danos morais contra o Supermercado. Ocorre que a referida empresa vinha enfrentando realmente sérias dificuldades econômicas e, em setembro de 2017, ingressou com pedido de recuperação judicial, que foi aceito. Em outubro de 2017, o juiz julgou o pedido de Lucas procedente e condenou a empresa a pagar R$ 50 mil ao consumidor. Houve o trânsito em julgado. Diante disso, Lucas ingressou com pedido de habilitação de seu crédito no processo de recuperação judicial. No entanto, o juiz da recuperação judicial não aceitou o pedido sob a alegação de que o crédito do consumidor se constituiu com a sentença, o que ocorreu em data posterior ao ajuizamento da recuperação judicial. Assim, para o magistrado, o crédito de Lucas não está sujeito à recuperação judicial, conforme prevê o art. 49 da Lei 11.101/05:
Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.
 
Agiu corretamente o magistrado? NÃO. Realmente, por força do art. 49 da Lei 11.101/2005, os créditos posteriores ao pedido de recuperação judicial não se submetem aos seus efeitos. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1494870/DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/09/2016. Assim, o juiz está certo quando afirma isso.
Qual foi, no entanto, o equívoco do magistrado? Considerar que o crédito de Lucas surgiu apenas com a sentença. Isso não é verdade. O crédito de Lucas decorreu do ato ilícito praticado pelo Supermercado, fato ocorrido antes do pedido de recuperação judicial. A constituição de um crédito pressupõe a existência de um vínculo jurídico entre as partes e não se encontra condicionada a uma decisão judicial. Em outras palavras, o crédito surge antes da sentença, que apenas declara a existência do crédito. Assim, tratando-se de vínculo jurídico decorrente de evento que causou dano ao consumidor, a constituição do crédito correspondente não se dá com a prolação da decisão judicial que o reconhece e o quantifica, mas coma própria ocorrência daquele evento. O sujeito prejudicado (em nosso exemplo, Lucas) assume a posição de credor da reparação civil derivada de ato lesivo contra ele intentado desde sua prática, e não com a declaração judicial de sua ocorrência. Tanto é assim que, nas hipóteses de responsabilidade civil extracontratual, o marco inicial de fluência dos juros decorrentes da mora do devedor são contados da data do evento danoso (Súmula 54/STJ).
11.21. O fato de a empresa se encontrar em recuperação judicial não obsta a homologação de sentença arbitral estrangeira – (Info 610)
		O fato de a empresa se encontrar em recuperação judicial não obsta a homologação de sentença arbitral estrangeira. 
No caso, empresa brasileira foi condenada, em sentença arbitral proferida na Suíça, a pagar determinada quantia a empresa estrangeira. A credora pediu a homologação desta sentença no STJ. A empresa brasileira encontra-se em processo de recuperação judicial no Brasil. Isso, contudo, não impede que o STJ homologue esta sentença estrangeira. Depois, a credora terá que habilitar este crédito no juízo da recuperação. 
STJ. Corte Especial. SEC 14.408-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/6/17 (Info 610).
	OBS:
O processo de homologação de sentença estrangeira tem natureza constitutiva e tem por objetivo conferir eficácia jurídica, no Brasil, a um provimento jurisdicional alienígena (“sentença estrangeira”). Isso é feito a fim de permitir que a decisão possa vir a ser executada em nosso país.
Dessa forma, a homologação é um pressuposto lógico da execução da decisão estrangeira, não se confundindo com o próprio processo de execução, o qual será instaurado posteriormente, se for o caso. Em outras palavras, homologação de sentença estrangeira não é execução do crédito. Trata-se de providência necessária para, no futuro, o credor pedir a execução do crédito.
Em virtude disso, o simples fato de a empresa estar em recuperação judicial não faz com que seja proibida a homologação da sentença estrangeira porque não haverá, ainda, qualquer ato de constrição do patrimônio do devedor. Por essa razão, o processo de homologação de sentença estrangeira em face da empresa recuperanda não atrapalha o princípio da preservação da empresa, que é o grande objetivo da recuperação judicial.
Não se aplica, no caso, a suspensão de que trata o art. 6º, § 4º da Lei 11.101/05 (Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial)? NÃO. Não se aplica o art. 6º, § 4º, da Lei de Falências como óbice à homologação da sentença arbitral, uma vez que se está em fase antecedente à execução, apenas emprestando eficácia jurídica ao provimento homologando. Logo, o pedido de homologação não se enquadra no conceito de “ações” ou “execuções” de que trata o art. 6º, § 4º.
11.22. A habilitação de crédito deverá limitar a incidência de juros de mora e correção monetária até a data do pedido de recuperação judicial mesmo que a sentença diga de forma diversa – (Info 610)
		O credor deverá apresentar ao administrador judicial da falência o valor do seu crédito, atualizado com juros e correção monetária. Vale ressaltar que o termo final da incidência dos juros e correção monetária é a data do pedido de recuperação judicial, nos termos do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/2005. 
Assim, mesmo que a sentença condenatória transitada em julgado tenha determinado que os juros e correção monetária iriam incidir até a data do efetivo pagamento, quando este crédito for habilitado na recuperação judicial ele será atualizado até a data do pedido de recuperação judicial. Segundo o STJ decidiu, isso não ofende a coisa julgada. Nesse sentido: 
Não ofende a coisa julgada a decisão de habilitação de crédito que limita a incidência de juros de mora e correção monetária, delineados em sentença condenatória de reparação civil, até a data do pedido de recuperação judicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.662.793-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 8/8/17 (Info 610).
11.23. Os bondholders podem votar no plano de recuperação da empresa – (Info 607)
		Os bondholders – detentores de títulos de dívida emitidos por sociedades em recuperação judicial e representados por agente fiduciário – têm assegurados o direito de voto nas deliberações sobre o plano de soerguimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.670.096-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/6/17 (Info 607).
	OBS:
RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A recuperação judicial consiste em um processo judicial, no qual será construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.
FASES DA RECUPERAÇÃO: De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.
JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.
PLANO DE RECUPERAÇÃO: Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em falência (art. 53 da Lei 11.101/05). Este plano deverá conter:
· discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50);
· demonstração de sua viabilidade econômica; e
· laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.
Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela assembleia geral de credores.
Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções: Após o devedor apresentar o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixando prazo para a manifestação de eventuais objeções. Os credores serão chamados a analisar esse plano e, se não concordarem com algo, poderão apresentar objeção. O prazo para os credores apresentarem objeções é de 30 dias.
Se não houver objeção dos credores: Caso nenhum credor apresente objeção ao plano no prazo fixado, considera-se que houve aprovação tácita. Nessa hipótese, não será necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano.
Se houver objeção por parte dos credores: Havendo objeção de algum credor, o juiz deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de recuperação apresentado. A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos pertinentes, poderá:
a) aprovar o plano sem ressalvas;
b) aprovar o plano com alterações;
c) não aprovar o plano.
Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, § 1º).
Se o plano for aprovado: o juiz homologa a aprovação e concede a recuperação judicial, iniciando-se a fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de recuperação é aprovado pelos credores e apenas homologado pelo juiz.
“BONDHOLDERS”
Noções gerais: Tem sido cada vez mais comum que empresas brasileiras emitam títulos (ou papeis representativos de dívida) no mercado internacional como uma forma de captar recursos.Assim, é como se fosse um “empréstimo” que a empresa obtém no exterior emitindo títulos em favor dos investidores estrangeiros. Esses títulos de dívida são conhecidos como bonds (“obrigação”) e os investidores que adquirem esses títulos são chamados de bondholders (“obrigacionistas”). Assim, os bondholders são investidores que adquiriram títulos de dívida (bonds) emitidos por companhias brasileiras que buscaram financiar suas atividades no exterior. A emissão desses bonds é instrumentalizada (formalizada) por meio de uma escritura (indenture), que deve indicar o nome do agente fiduciário (indenture trustee) responsável por atuar em favor dos investidores finais. Essa escritura (indenture) deverá estabelecer os direitos e deveres dos titulares (bondholders), quais são emissores e os garantidores dos títulos e também quem é o agente fiduciário (indenture trustee) que funciona como representante dos interesses dos bondholders. 
Os bondholders são credores da empresa. Caso a empresa que emitiu os títulos requeira a recuperação judicial, os bondholders poderão participar da Assembleia Geral de Credores? SIM. Os bondholders, diretamente ou por meio do agente fiduciário, poderão participar da Assembleia Geral de Credores, possuindo direito de voz e voto. Em regra, no processo de recuperação judicial, consta apenas o nome do agente fiduciário na lista de credores.
Ocorre que, na realidade, os verdadeiros titulares do interesse econômico-financeiro, que sofrerão diretamente os efeitos da reorganização empresarial, são os investidores finais (bondholders), pois são eles os reais credores das recuperandas. Por esse motivo, é possível conferir a possibilidade de os bondholders votarem diretamente nas assembleias de credores, a fim de que possam deliberar acerca de questões que guardam relação direta com seus interesses.
11.24. O crédito trabalhista decorrente de serviço prestado pelo empregado antes da recuperação judicial a ela estará sujeito – (Info 604)
		Os créditos trabalhistas litigiosos referentes a serviços prestados pelo trabalhador à empresa antes da recuperação judicial deverão estar sujeitos a ela, mesmo que no momento do pedido tais créditos não estivessem consolidados?
SIM. A partir do momento em que o empregado trabalha, ele se torna credor de seu empregador, tendo direito ao recebimento das verbas trabalhistas. Esse crédito existe independentemente de decisão judicial. Se o empregador não paga e o empregado ingressa com reclamação trabalhista, a sentença apenas reconhecerá (declarará) a existência do direito do trabalhador, condenando o patrão a pagar. Não é a sentença, contudo, que constitui o direito, mas apenas o declara.
Isso significa que, se este crédito foi constituído em momento anterior ao pedido de recuperação judicial, deverá se submeter aos seus efeitos.
Desse modo, se as verbas trabalhistas estão relacionadas com serviços prestados pelo empregado em momento anterior ao pedido de recuperação judicial, tais verbas também estarão sujeitas a esse procedimento, mesmo que a sentença trabalhista tenha sido prolatada somente depois do deferimento da recuperação.
A consolidação do crédito trabalhista (ainda que inexigível e ilíquido) não depende de provimento judicial que o declare — e muito menos do transcurso de seu trânsito em julgado —, para efeito de sua sujeição aos efeitos da recuperação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.046-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 25/4/2017 (Info 604).
11.25. O juízo da recuperação judicial é o competente para decidir sobre os bens da empresa devedora mesmo que tramite em outro juízo execução cobrando crédito decorrente de relação de consumo – (Info 598) – (TJPB-2015)
		Depois de ter sido deferido o processamento da recuperação judicial, todas as ações e execuções contra o devedor que está em recuperação judicial ficam suspensas, excetuadas as que demandarem quantia ilíquida (§ 1º do art. 6º da Lei nº 11.101/2005) e as execuções fiscais (§ 7º). 
Além de as ações e execuções contra o devedor em recuperação ficarem suspensas, o destino do patrimônio da sociedade em processo de recuperação judicial não poderá ser atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento, sob pena de violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial. Em outras palavras, qualquer decisão que afete os bens da empresa em recuperação deverá ser tomada pelo juízo onde tramita a recuperação. 
O juízo onde tramita o processo de recuperação judicial é o competente para decidir sobre o destino dos bens e valores objeto de execuções singulares movidas contra a recuperanda, ainda que se trate de crédito decorrente de relação de consumo. 
Ex: João comprou uma geladeira em uma loja. O produto apresentou vício e o consumidor propôs, no Juizado Especial, ação de indenização contra o fornecedor. O juiz julgou o pedido procedente, condenando a empresa a pagar R$ 10 mil. Como não houve pagamento espontâneo, o magistrado determinou a penhora on line da quantia. Ocorre que, em março de 2017, antes que o dinheiro penhorado fosse transferido para João, o Juízo da Vara Cível deferiu a recuperação judicial da referida loja. Como já foi deferida a recuperação judicial, a competência para decidir sobre o patrimônio do devedor passa a ser do juízo da recuperação judicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.702-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/02/17 (Info 598).
	(PGM Goiânia-2015-UFG): O Município de Goiânia ajuizou execução fiscal em face de empresa prestadora de serviços que acumulava débitos relativos a tributos municipais. No curso da execução fiscal houve a falência da empresa devedora. Nesse contexto, o produto da alienação dos bens penhorados deve ser repassado ao Juízo universal da falência, para apuração das preferências do crédito.
	OBS:
Decisões sobre o patrimônio da empresa que está em recuperação deverão ser tomadas pelo juízo onde tramita a recuperação: Além de as ações e execuções contra o devedor em recuperação ficarem suspensas, o STJ afirma também que o destino do patrimônio da sociedade em processo de recuperação judicial não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento, sob pena de violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial, insculpido no art. 47 da LFRE. Em outras palavras, qualquer decisão que afete os bens da empresa em recuperação deverá ser tomada pelo juízo onde tramita a recuperação. Nesse sentido:
(...) o destino do patrimônio da empresa em processo de soerguimento judicial ou falimentar, como no presente caso, não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele da recuperação ou da falência. STJ. 2ª Seção. CC 137.178/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 28/09/16.
Trata-se da vis attractiva do juízo universal da recuperação judicial.
Vale ressaltar que, mesmo em processos de execução fiscal – hipóteses nas quais a lei expressamente prevê a continuidade de tramitação (art. 6º, § 7º), o STJ tem entendido que, embora as ações não se suspendam, compete ao juízo universal da recuperação dar seguimento a atos que envolvam a expropriação de bens do acervo patrimonial do devedor. Dito de outro modo, depois de deferida a recuperação judicial, as execuções fiscais prosseguem, mas os atos de expropriação deverão ser decididos pelo juízo onde tramita a recuperação judicial. Confira:
(...) A execução fiscal não se suspende com o deferimento da recuperação judicial; todavia, fica definida a competência do Juízo universal para dar seguimento aos atos constritivos ou de alienação. STJ. 2ª Seção. AgInt no CC 140.021/MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 10/08/2016.
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João comprou uma geladeira em uma loja de departamentos ("Atacadão dos Eletros"). O produto apresentou vício e o consumidor, como não conseguiu resolver a questão, foi obrigado a propor, em abril de 2016, ação de indenização por danosmorais e materiais contra a loja. A ação proposta por João tramita no Juizado Especial. O juiz julgou o pedido procedente, condenando a empresa a pagar R$ 10 mil em favor do autor. Como não houve pagamento espontâneo, o magistrado determinou a penhora on line da quantia, tendo a medida tido sucesso, ou seja, foi localizado e penhorado esse valor em uma das contas bancárias da loja. Ocorre que, em março de 2017, antes que o dinheiro penhorado fosse transferido para João, o Juízo da Vara Cível deferiu a recuperação judicial da "Atacadão dos Eletros".
Neste caso, o juiz do Juizado Especial poderá determinar a transferência do valor para João? NÃO. Como já foi deferida a recuperação judicial, a competência para decidir sobre o patrimônio do devedor passa a ser do juízo da recuperação judicial. Foi o decidido no Info 598 do STJ.
Uma vez deferido o pedido de recuperação judicial, fica obstada (proibida) a prática de atos expropriatórios por juízo distinto daquele onde está tramitando o processo recuperacional. Isso vale mesmo para créditos decorrentes de relação de consumo, como no caso do exemplo acima dado.
Mesmo já tendo havido penhora, como no exemplo? SIM. Mesmo que a penhora já tenha sido realizada em data anterior ao deferimento do pedido de recuperação judicial, ainda assim os próximos atos de expropriação somente poderão ser decididos pelo juízo da recuperação judicial:
A jurisprudência desta Corte assentou-se no sentido de que, decretada a falência ou deferido o processamento da recuperação judicial, as execuções contra o devedor não podem prosseguir, ainda que exista prévia penhora. Na hipótese de adjudicação posterior levada a efeito em juízo diverso, o ato deve ser desfeito, em razão da competência do juízo universal e da observância do princípio da preservação da empresa. STJ. 2ª Seção. CC 111.614/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/6/13.
O juízo da recuperação é o que está mais próximo da realidade das empresas em dificuldades, tendo, por isso, maiores condições de definir se as medidas constritivas incidentes sobre seus acervos patrimoniais podem ou não comprometer o sucesso do plano de reerguimento.
Admitir a não sujeição de valores objeto de execuções singulares à vis attractiva do foro recuperacional representaria clara afronta aos princípios da universalidade e unidade do juízo e da preservação da empresa.
11.26. Vinculação de todos os credores à determinação de plano de recuperação judicial aprovado por maioria pela assembleia geral de credores – (Info 591)
		Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles - devidamente representados pelas respectivas classes - optar, por meio de dispositivo expressamente consignado em plano de recuperação judicial, pela supressão de todas as garantias fidejussórias e reais existentes em nome dos credores na data da aprovação do plano, todos eles - inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo - estarão indistintamente vinculados a essa determinação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/9/16 (Info 591).
	OBS:
ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES PODERÁ DISPENSAR AS GARANTIAS PRESTADAS: Em comentários a outros julgados, vimos que, na novação da recuperação judicial, em regra, não haverá a extinção das garantias prestadas. Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral.
Indaga-se: a Assembleia Geral de Credores poderá dispensar as garantias que haviam sido prestadas por terceiros? SIM. Na deliberação do plano de recuperação os credores negociam com a empresa devedora e decidem a extensão de esforços e renúncias que estão dispostos a suportar, no intento de reduzir os prejuízos que se avizinham. Apesar disso não ser exigido pela lei, os credores poderão decidir dispensar as garantias real e fidejussórias se assim entenderem pertinente.
Esta decisão da Assembleia vincula também os credores que não estavam presentes? SIM. Essa deliberação atinge a todos os credores, inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo. Todos eles, indistintamente, estarão vinculados a essa determinação. Nesse sentido é também a opinião da doutrina:
"Em princípio, todos os credores anteriores ao pedido de recuperação judicial estão sujeitos aos efeitos do plano de recuperação aprovado em juízo. Mesmo os que haviam se oposto ao plano e votado por sua rejeição devem se curvar à decisão judicial respaldada na maioria dos credores. Não tem outra alternativa. Se no plano aprovado em juízo é prevista a substituição de determinada garantia real por outra de menor valor, o credor atingido simplesmente não tem meios para se opor ao mérito dessa medida, por mais que considere seus interesses injustamente sacrificados." (COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e de Recuperação de Empresas. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 236)
É possível, em tese, que o Poder Judiciário faça o controle de legalidade do plano de recuperação judicial aprovado pela assembleia geral de credores? SIM.
Afigura-se absolutamente possível que o Poder Judiciário, sem imiscuir-se na análise da viabilidade econômica da empresa em crise, promova controle de legalidade do plano de recuperação judicial. Esse controle de legalidade do plano de recuperação não significa a desconsideração da soberania da assembleia geral de credores. À assembleia geral de credores compete analisar, a um só tempo, a viabilidade econômica da empresa, assim como da consecução da proposta apresentada. Ao Poder Judiciário, por sua vez, incumbe velar pela validade das manifestações expendidas, e, naturalmente, preservar os efeitos legais das normas que se revelarem cogentes. STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591).
11.27. Submissão de credor dissidente a novo plano de recuperação judicial aprovado pela assembleia geral de credores – (Info 580)
		Se, após o biênio de supervisão judicial e desde que ainda não tenha ocorrido o encerramento da recuperação judicial, houver aprovação de novo plano de recuperação judicial, o credor que discordar do novo acordo não tem direito a receber o seu crédito com base em plano anterior aprovado pelo mesmo órgão. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.302.735-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/3/2016 (Info 580).
11.28. Não sujeição à recuperação judicial de direitos de crédito cedidos fiduciariamente – (Info 578)
		Não se submetem aos efeitos da recuperação judicial do devedor os direitos de crédito cedidos fiduciariamente por ele em garantia de obrigação representada por Cédula de Crédito Bancário existentes na data do pedido de recuperação, independentemente de a cessão ter ou não sido registrada no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor. 
Ex: determinada empresa recebeu um empréstimo de um banco. Como garantia de que iria pagar este empréstimo, ela cedeu fiduciariamente uma CCB. Posteriormente, esta empresa entrou em recuperação judicial. O banco possui, portanto, um crédito a ser pago pela empresa representado por meio da CCB. Este crédito do banco não entrará na recuperação judicial. 
A situação enquadra-se no art. 49, § 3º da Lei nº 11.101/2005. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.412.529-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/12/2015 (Info 578).
	OBS:
Imagine agora a seguinte situação adaptada: A empresa "LWS" recebeu mútuo bancário de R$ 2 milhões e emitiu em favor da instituição financeira uma Cédula de Crédito Bancário (CCB). Além disso, como garantia, fez a cessão fiduciária para o banco de títulose direitos que ela possuía para receber. Em outras palavras, a empresa tinha valores para receber no futuro (daqui a alguns dias, meses ou anos) de alguns devedores e cedeu fiduciariamente tais créditos para o banco. Se ele pagasse o empréstimo, o banco "devolveria" os créditos; caso se tornasse inadimplente, o banco se tornaria, em definitivo, proprietário dos valores.
Cédula de Crédito Bancário com garantia (CCB): É um título de crédito extremamente comum na atividade empresarial, estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº 10.931/2004. Quando uma pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário, a instituição financeira exige que este mutuário emita, em favor do banco, uma cédula de crédito bancário, que é um papel no qual o emitente se compromete a pagar para o beneficiário determinada quantia ali prevista. Este papel (CCB) fica em poder do credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida no prazo, o credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo extrajudicial. A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº 10.931/2004). Em caso de empréstimo de pequenos valores, os bancos normalmente não exigem garantia, bastando a CCB, que é título executivo. No entanto, se a quantia for grande, as instituições exigem que o mutuário, além de emitir a cédula, forneça uma garantia (ex: hipoteca de um bem imóvel, cessão fiduciária de bens móveis etc.). Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia.
Voltando ao exemplo: Após alguns meses, a referida empresa "LWS" entrou em recuperação judicial. Diante disso, os demais credores da empresa queriam que este título e os créditos que foram cedidos para o banco fossem trazidos para a recuperação judicial a fim de que servissem para pagar as dívidas.
O pedido dos credores deverá ser aceito? Estes créditos cedidos fiduciariamente pela empresa para o banco deverão se submeter às regras da recuperação judicial? NÃO. Estes créditos cedidos ao banco fiduciariamente como garantia da dívida não deverão entrar na recuperação judicial, ou seja, estarão excluídos das regras da recuperação judicial porque se tratam de uma exceção à regra do caput do art. 49, nos termos do § 3º do mesmo artigo. Veja:
§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.
Encontra-se sedimentado no STJ o entendimento de que:
- a alienação fiduciária de coisa fungível;
- a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis;
- a cessão fiduciária de títulos de créditos,
... por possuírem a natureza jurídica de propriedade fiduciária, não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial, nos termos do § 3º do art. 49 da Lei nº 11.101/2005.
Os credores argumentaram que esta cessão fiduciária dos créditos não teria validade porque não foi registrada no cartório do Registro de Títulos e Documentos. Esta tese foi acolhida pelo STJ? NÃO. Não é necessário que a cessão de crédito realizada tenha sido registrada em cartório. Mesmo sem registro no RTD, esta cessão feita pela sociedade empresária ao banco é válida. Foi o que decidiu o STJ. A alienação fiduciária de bens móveis fungíveis, quando o credor fiduciário for instituição financeira, é regida pelo art. 66-B da Lei nº 4.728/65. Esta Lei não exige o registro para que haja a constituição da propriedade fiduciária.
A constituição da propriedade fiduciária em caso de cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis e de títulos de crédito dá-se a partir da própria contratação, afigurando-se, desde então, plenamente válida e eficaz entre as partes.
O único efeito extra no caso de as partes decidirem fazer o registro do contrato é que, com essa providência, ele passará a produzir efeitos em relação a terceiros, ampliando a sua publicidade. No entanto, o contrato já é válido mesmo que celebrado apenas entre as partes e sem registro.
Vale ressaltar, ainda, que o art. 42 da Lei nº 10.931/2004 prevê que "a validade e eficácia da Cédula de Crédito Bancário não dependem de registro, mas as garantias reais, por ela constituídas, ficam sujeitas, para valer contra terceiros, aos registros ou averbações previstos na legislação aplicável, com as alterações introduzidas por esta Lei."
No caso, a garantia dada não foi real, mas sim de bens móveis (títulos e direitos creditícios). Logo, não era necessário registro ou averbação.
11.29. Retificação do quadro geral de credores após homologação do plano de recuperação judicial – (Info 567)
		Ainda que o plano de recuperação judicial já tenha sido homologado, é possível a retificação do quadro geral de credores fundada em julgamento de impugnação. 
STJ. 3ª T. REsp 1.371.427-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/8/2015 (Info 567).
11.30. Deferimento da recuperação judicial e cadastros de restrição e tabelionatos de protestos – (Info 564) – IMPORTANTE!!!
		Tendo sido decretada a recuperação judicial, as ações e execuções que tramitavam contra a empresa em recuperação serão suspensas. A dúvida que surge é a seguinte: além da suspensão das ações e execuções, o deferimento da recuperação judicial acarreta também a retirada do nome da empresa do SPC, SERASA e demais cadastros negativos? A empresa em recuperação judicial tem direito tirar seu nome dos serviços de restrição de crédito e tabelionatos de protesto? NÃO. O deferimento do processamento de recuperação judicial, por si só, não enseja a suspensão ou o cancelamento da negativação do nome do devedor nos cadastros de restrição ao crédito e nos tabelionatos de protestos. 
O deferimento do processamento de recuperação judicial suspende o curso das ações e execuções propostas em face do devedor. Como vimos acima, isso está expressamente previsto no art. 6º, caput e § 4º, da Lei nº 11.101/2005. Contudo, essa providência (suspensão das ações e execuções) não significa que o direito dos credores (direito creditório propriamente dito) tenha sido extinto. A dívida continua existindo. 
Assim, se a dívida continua existindo (e apenas a execução é que está suspensa), não se pode aceitar a retirada do nome da empresa em recuperação dos serviços de proteção ao crédito e tabelionato de protesto. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.259-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015 (Info 564).
11.31. Extinção das execuções individuais propostas contra devedor em recuperação judicial – (Info 564)
		Após a aprovação do plano de recuperação judicial pela assembleia de credores e a posterior homologação pelo juízo competente, deverão ser extintas - e não apenas suspensas - as execuções individuais até então propostas contra a recuperanda nas quais se busca a cobrança de créditos constantes do plano. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.272.697-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015 (Info 564).
11.32. Mudança de domicílio da sociedade em recuperação judicial e prova da má-fé – (Info 564) – (Advogado/Telebras-2015)
		A mudança de domicílio da sociedade em recuperação judicial, devidamente informada em juízo, ainda que sem comunicação aos credores e sem data estabelecida para a instalação do novo estabelecimento empresarial, não é causa, por si só, para a decretação de ofício da falência. 
Ex: a sociedade empresária "XXX" encontrava-se em recuperação judicial. O administrador decidiu mudar a sede da empresa do bairro "A" para o bairro "B". Assim, a empresa deixou defuncionar no bairro "A", mas ainda não se mudou fisicamente para o bairro "B" uma vez que as obras no local ainda não ficaram prontas. Vale ressaltar que essa mudança foi comunicada ao juízo falimentar, mas não foi informada aos credores. Determinado dia, um dos credores procurou a empresa devedora no bairro "A" e não a encontrou, razão pela qual pediu a decretação de sua falência, nos termos do art. 94, III, "f", da Lei nº 11.101/2005. Esse pedido deverá ser indeferido porque a mudança do domicílio comercial desacompanhada de comunicação aos credores não é suficiente, por si só, para caracterização do abandono. É necessário provar que a mudança foi furtiva e realizada com o objetivo de fraudar os interesses dos credores. É preciso, portanto, demonstrar a má-fé do devedor. 
STJ. 4ª T. REsp 1.366.845-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 18/6/2015 (Info 564).
11.33. Crédito de honorários advocatícios sucumbenciais constituído após o pedido de recuperação judicial – (Info 564)
		Os créditos que surgiram após o pedido de recuperação judicial não estão sujeitas ao plano de recuperação judicial aprovado, independentemente da natureza do crédito. Em outras palavras, o plano de recuperação abrange apenas as dívidas da empresa que foram contraídas antes do pedido de recuperação. As dívidas posteriores estão fora do plano. 
Assim, se, após a empresa ter feito um pedido de recuperação judicial, surgiu contra si um novo débito de honorários advocatícios sucumbenciais, o advogado que for credor dessa dívida, para receber a quantia, não precisará habilitar esse crédito no juízo universal da recuperação judicial. O credor poderá executar esses honorários no juízo comum, não ficando a execução suspensa por força da recuperação judicial. 
No entanto, apesar disso, o juízo universal da recuperação judicial deverá exercer o controle sobre os atos de constrição ou expropriação patrimonial do devedor. O juízo universal da recuperação pode decidir, por exemplo, que determinado bem da empresa não deverá ser penhorado porque é essencial à atividade empresarial e, se fosse expropriado, isso prejudicaria a sobrevivência da sociedade empresária que está em recuperação. Ex: no juízo comum o credor pediu a penhora da principal máquina da indústria que está em recuperação judicial; o juízo universal da recuperação pode obstar que essa coisa seja penhorada porque se trata de bem de capital essencial à atividade empresarial. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.298.670-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/5/2015 (Info 564).
11.34. Despesas feitas após o deferimento do processamento da recuperação judicial são créditos extraconcursais – (Info 543 e 557)
		Créditos extraconcursais consistem em dívidas contraídas pela massa falida, ou seja, após ter ocorrido a quebra. Os créditos extraconcursais são pagos antes dos concursais porque são dívidas que surgem depois de ter sido decretada a falência e em decorrência dela. Em regra, são débitos que nascem para que o processo de falência possa ser realizado. Caso fossem pagos após os demais créditos, a massa falida teria muita dificuldade de conseguir levar em frente o procedimento da falência, já que ninguém iria querer prestar serviços para uma sociedade empresária que está quase falindo com a promessa de receber somente após todos os demais credores. 
O STJ tem decidido que, em caso de decretação de falência, serão considerados extraconcursais os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor entre a data em que se defere o processamento da recuperação judicial e a data da decretação da falência, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo. Assim, são extraconcursais os créditos originários de negócios jurídicos realizados após a data em que foi deferido o pedido de processamento de recuperação judicial. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.399.853-SC, Rel. originária Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 10/2/2015 (Info 557). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.398.092-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/5/2014 (Info 543).
11.35. Inaplicabilidade do prazo em dobro para recorrer aos credores na recuperação judicial – (Info 557)
		O CPC prevê que, quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois ou mais réus), caso os litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos serão contados em dobro (art. 191 do CPC 1973 / art. 229 do CPC 2015). 
Na recuperação judicial existe a possibilidade de litisconsórcio ativo. Ex: três sociedades empresárias, integrantes do mesmo grupo econômico, estão em situação de extrema dificuldade econômica e decidem pedir a recuperação judicial. Em caso de litisconsórcio ativo, é possível aplicar o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015). 
Por outro lado, na recuperação judicial não existe a possibilidade de litisconsórcio passivo. O motivo é muito simples: no processo de recuperação judicial não existem réus. Os credores não são réus. Ocupam a posição de interessados. Portanto, não havendo réus, não se pode falar que exista litisconsórcio passivo entre os credores da recuperanda. 
Assim, se no processo de recuperação judicial uma decisão desagradar aos credores e eles decidirem recorrer, não terão prazo em dobro, mesmo que possuam advogados diferentes. Em outras palavras, é inaplicável aos credores da sociedade recuperanda o prazo em dobro para recorrer previsto no art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015). 
STJ. 3ª T. REsp 1.324.671-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
11.36. Prosseguimento das execuções e demais ações contra terceiros devedores solidários ou coobrigados – (Info 554) – IMPORTANTE!!! - (PGEPA-2015) (TRF4-2016) (PGM-Campinas/SP-2016) (TRF5-2017) (TRT/Unificado-2017) (TJMG-2018) (TJAL-2019)
		A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei 11.101/2005. 
STJ. 2ª S. REsp 1.333.349-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/11/14 (recurso repetitivo) (Info 554).
	(TJMG-2018-Consulplan): A respeito do deferimento do processamento da recuperação judicial e seus efeitos em relação ao devedor principal, a terceiros devedores solidários e coobrigados em geral, assinale a afirmativa correta: Embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral. BL: Info 554, STJ.
(PGM-Campinas/SP-2016-FCC): Empresa X firmou contrato de adiantamento de crédito com o Banco Y e emitiu, em garantia, títulos de crédito avalizados por seus sócios. Posteriormente, firmou com o Banco Y contrato de financiamento que foi afiançado por seus sócios, os quais se obrigaram solidariamente pelo pagamento do empréstimo, renunciando ao benefício de ordem. Inadimplidos ambos os negócios, o Banco Y ajuizou duas ações de execução contra os sócios da Empresa X, uma tendo como objeto o aval dos títulos de crédito, outra tendo como objeto a fiança prestada ao contrato de financiamento. Posteriormente, foi deferida a recuperação judicial da Empresa X. De acordo com jurisprudência consolidada do STJ, a recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento nem induz a extinção das execuções ajuizadas contra os devedores solidários coobrigados por garantia cambial ou fidejussória. BL: Info 554, STJ.
(PGEPA-2015-UEPA): Sobre a falência e recuperação judicial, julgue a afirmativa abaixo e assinale a alternativa correta: A recuperaçãojudicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória. BL: Info 554, STJ.
11.37. Créditos que estão sujeitos e excluídos da recuperação judicial – (Info 551) – (TJDFT-2016)
		Em ação de despejo movida pelo proprietário locador, a retomada da posse direta do imóvel locado à sociedade empresária em recuperação judicial, com base na Lei do Inquilinato (Lei 8.245⁄91), não se submete à competência do Juízo universal da recuperação. 
O credor proprietário de imóvel, quanto à retomada do bem, não está sujeito aos efeitos da recuperação judicial (Lei 11.101⁄2005, art. 49, § 3º). 
Em suma: a ação de despejo não se submete ao juízo universal da falência, podendo continuar a tramitar normalmente, inclusive com a retomada do bem pelo locador (proprietário). 
STJ. 2ª Seção. CC 123.116-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/8/2014 (Info 551).
11.38. Créditos que estão sujeitos e excluídos da recuperação judicial – (Info 550) – (TJSP-2017)
		Situação 1 – REGRA: estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput). Devem obedecer ao plano de recuperação e as ações ficam suspensas.
Situação 2 – EXCEÇÃO: os créditos de alienação fiduciária não estão sujeitos à recuperação judicial e as ações relacionadas com tais créditos podem continuar ou ser propostas (§ 3º do art. 49).
Situação 3 – EXCEÇÃO DA EXCEÇÃO (volta para regra): se a garantia da alienação fiduciária for o imóvel que funciona o estabelecimento do devedor ou forem bens móveis essenciais à atividade empresarial da empresa em recuperação judicial, nesse caso, mesmo sendo crédito de alienação fiduciária, deverá ficar sujeita aos efeitos da recuperação judicial. 
Assim, conforme decidiu o STJ: não se submetem aos efeitos da recuperação judicial os créditos garantidos por alienação fiduciária de bem não essencial à atividade empresarial. Isso porque tal crédito se enquadrará na situação 2 acima explicada (exceção à regra). 
STJ. 2ª Seção. CC 131.656-PE, Rel. Min. Maria Isabel Galloti, julgado em 8/10/2014 (Info 550).
11.39. Magistrado não pode fazer análise da viabilidade econômica do plano de recuperação judicial – (Info 549) – IMPORTANTE!!!
		O juiz pode recusar-se a homologar o plano de recuperação judicial alegando que ele não tem viabilidade econômica, mesmo já tendo sido aprovado em assembleia e estando formalmente perfeito? 
NÃO. Se o plano cumpriu as exigências legais e foi aprovado em assembleia, o juiz deve homologá-lo e conceder a recuperação judicial do devedor, não sendo permitido ao magistrado se imiscuir (intrometer) no aspecto da viabilidade econômica da empresa. 
O magistrado não é a pessoa mais indicada para aferir a viabilidade econômica do plano de recuperação judicial. 
O juiz deve exercer o controle de legalidade do plano de recuperação, analisando se há fraude ou abuso de direito. No entanto, não cabe a ele fazer controle sobre a viabilidade econômica do plano. 
No mesmo sentido são os enunciados 44 e 46 da I Jornada de Direito Comercial do CJF/STJ. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.319.311-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/9/2014 (Info 549).
11.40. Novação de dívidas por força de recuperação judicial não extingue as garantias prestadas – (Info 540) – (TJMG-2018)
		A novação prevista no Código Civil extingue os acessórios e as garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364). No entanto, na novação prevista no art. 59 da Lei 11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou seja, as garantias são mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão suprimidas ou substituídas “mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º).
Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 8/4/14 (Info 540).
12. FALÊNCIA 
12.1. FALÊNCIA: A decretação da falência não importa, por si, na extinção da personalidade jurídica da sociedade – (Info 653)
		Segundo o procedimento regrado pelo Decreto-Lei 7.661/45 (antiga Lei de Falências), a decretação da falência não implica a imediata e incondicional extinção da pessoa jurídica, mas tão só impõe ao falido a perda do direito de administrar seus bens e deles dispor, conferindo ao “síndico” (atualmente chamado de “administrador judicial”) a representação judicial da massa.
Ao término do processo falimentar, concluídas as fases de arrecadação, verificação e classificação dos créditos, realização do ativo e pagamento do passivo, se eventualmente sobejar patrimônio da massa, a lei faculta ao falido requerer a declaração de extinção de todas as suas obrigações, pedido cujo acolhimento autoriza-o voltar ao exercício do comércio.
Portanto, a decretação da falência, que enseja a dissolução, é o primeiro ato do procedimento e não importa, por si, na extinção da personalidade jurídica da sociedade. A extinção, precedida das fases de liquidação do patrimônio social e da partilha do saldo, dá-se somente ao fim do processo de liquidação, que todavia pode ser antes interrompido, se acaso revertidas as razões que ensejaram a dissolução, como na hipótese em que requerida e declarada a extinção das obrigações.
STJ. 4ª T. AgRg no REsp 1265548-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 25/6/19 (Info 653).
Obs: o entendimento acima exposto também pode ser aplicado para a atual Lei de Falência (Lei nº 11.101/2005).
12.2. Em caso de falência do banco, os titulares de CDB deverão tentar receber seus créditos habilitando-os na falência, não sendo possível mero pedido de restituição – (Info 652)
		Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) se submetem aos efeitos da falência da instituição financeira.
STJ. 3ª T. REsp 1801031-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 4/6/19 (Info 652).
12.3. Na fila de pagamentos da falência, o encargo do DL 1.025/69, apesar de não ter natureza de crédito tributário, ocupa a mesma posição dos créditos tributários (art. 83, III, da LFR) – (Info 644) – IMPORTANTE!!! RECURSO REPETITIVO!!!
		O encargo do DL 1.025/69 tem as mesmas preferências do crédito tributário devendo, por isso, ser classificado, na falência, na ordem estabelecida pelo art. 83, III, da Lei 11.101/05.
O encargo de 20% do art. 1º do DL 1.025/69 possui natureza jurídica de “crédito não tributário”. Em outras palavras, o encargo de 20% do art. 1º do DL 1.025/69 não é crédito tributário (não é tributo).
Apesar disso, o § 4º do art. 4º da Lei nº 6.830/80 estendeu ao crédito não tributário inscrito em dívida ativa (como é o caso do encargo do DL 1.025/69) a mesma preferência que é dada ao crédito tributário.
STJ. 1ª S. REsp 1521999-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, j. 28/11/18 (recurso repetitivo) (Info 644).
	OBS:
ORDEM DE PAGAMENTO DA FALÊNCIA E ENQUADRAMENTO DO ENCARGO DO DL 1.025/69
Falência: Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja recuperação mostra-se inviável.
 
Finalidade: A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.
Procedimento:
	I – PROCEDIMENTO PRÉ-FALIMENTAR
	II – PROCESSO FALIMENTAR
	O procedimento pré-falimentar vai do pedido de falência até a sentença do juiz.
Engloba, resumidamente, três atos principais:1) Pedido de falência;
2) Resposta do devedor;
3) Sentença.
Ao final desta fase, a sentença pode ser:
• Denegatória: o processo se extingue sem a instauração da falência.
• Declaratória: hipótese em que se iniciará o processo falimentar propriamente dito.
	O processo falimentar vai da sentença declaratória de falência até a sentença de encerramento.
 
É no processo falimentar propriamente dito que ocorre a verificação e habilitação dos créditos e o pagamento dos credores.
 
Classificação dos créditos da falência: Como vimos, o objetivo da falência é arrecadar valores para efetuar o pagamento dos credores, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei. O art. 83 da Lei 11.101/05 estabelece a ordem em que os créditos concursais devem ser organizados para que sejam pagos.
 
Qual é a posição dos créditos tributários na ordem dos pagamentos na falência? Na “fila” de pagamentos da falência, os créditos tributários ocupam qual posição? O art. 83 da Lei 11.101/05 prevê os créditos tributários no inciso III:
Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:
I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; (...)
 
No entanto, para se ter a ordem exata de pagamento não se pode analisar apenas o art. 83, devendo este dispositivo ser conjugado com outros artigos da Lei 11.101/05, como é o caso dos arts. 84 e 85. Assim, fazendo essa interpretação sistemática, a doutrina aponta a ordem exata dos pagamentos na falência. No caso dos créditos tributários, a ordem de pagamento irá variar de acordo com o momento em que ocorreu o fato gerador desse crédito tributário. Se o fato gerador do crédito tributário surgiu antes da decretação da falência, ele ocupará determinada posição. Se surgiu depois, a sua ordem de pagamento será outra. Veja o quadro abaixo para entender:
	Créditos tributários decorrentes de fatos geradores ocorridos...
	ANTES da decretação da falência
	DEPOIS da decretação da falência
(ou seja, surgiu o FG ocorreu durante a falência)
	São pagos na 7ª posição:
1) Créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 salários-mínimos por trabalhador (art. 151).
2) Despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência, inclusive na hipótese de continuação provisória das atividades (art. 150).
3) Importâncias passíveis de restituição (art. 85).
4) Créditos extraconcursais (art. 84).
5)  Créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho (art. 83, I).
6) Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado.
7) Créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias.
	Os créditos tributários surgidos no curso do processo falimentar são considerados créditos extraconcursais, ou seja, estão fora do concurso de credores, sendo, pagos, portanto, com prioridade.
Assim determina o art. 188 do CTN:
Art. 188. São extraconcursais os créditos tributários decorrentes de fatos geradores ocorridos no curso do processo de falência.
 
No mesmo sentido é a redação da Lei nº 11.101/2005:
Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a: (...)
V – (...) tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.
 
Na “fila” de pagamentos da falência, o encargo do DL 1.025/69 ocupa a mesma posição dos “créditos tributários”? SIM. O encargo de 20% do art. 1º do DL 1.025/69 possui natureza jurídica de crédito não tributário. Em outras palavras, o encargo de 20% do art. 1º do DL 1.025/69 não é crédito tributário (não é tributo). Apesar disso, o § 4º do art. 4º da Lei nº 6.830/80 estendeu ao crédito não tributário inscrito em dívida ativa (como é o caso do encargo do DL 1.025/69) a mesma preferência que é dada ao crédito tributário:
Art. 4º (...)
§ 4º - Aplica-se à Dívida Ativa da Fazenda Pública de natureza não tributária o disposto nos artigos 186 e 188 a 192 do Código Tributário Nacional.
 
Logo, por força do § 4º do art. 4º da Lei nº 6.830/80:
O encargo do DL 1.025/69 tem as mesmas preferências do crédito tributário devendo, por isso, ser classificado, na falência, na ordem estabelecida pelo art. 83, III, da Lei nº 11.101/2005. STJ. 1ª S. REsp 1.521.999-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, j. 28/11/18 (recurso repetitivo) (Info 644).
 
Por opção do legislador, foi estendida expressamente ao crédito não tributário inscrito em dívida ativa a preferência dada ao crédito tributário. Assim, se o encargo do mencionado decreto-lei tem natureza não tributária (Lei nº 7.711/88), compõe a dívida ativa da Fazenda Nacional (art. 2º, §§ 2º, 5º, II, da Lei nº 6.830/1980) e tem as mesmas preferências do crédito tributário, por força da autorização contida no art. 4º, § 4º, da Lei nº 6.830/80, pode-se concluir pelo seu enquadramento, por equiparação, no inciso III do art. 83 da Lei nº 11.101/2005.
 
Não possuem natureza de honorários advocatícios: Vale ressaltar que o STJ entendeu que, mesmo com a previsão do art. 30, II, da Lei nº 13.327/2016, o encargo legal do DL 1.025/69 não se qualifica como honorários advocatícios de sucumbência, “mas sim como mero benefício remuneratório”. Isso é muito importante porque se o STJ tivesse considerado que o encargo do DL 1.025/69 eram honorários advocatícios, ele seria cobrado como se fosse (equiparado) um crédito trabalhista e, portanto, estaria enquadrado no inciso I do art. 83 da Lei nº 11.101/2005.
12.4. Se a parte já tem um título executivo, não precisa ir para a arbitragem mesmo que o contrato contenha cláusula compromissória – (Info 637)
		A existência de cláusula compromissória não afeta a executividade do título de crédito inadimplido e não impede a deflagração do procedimento falimentar, fundamentado no art. 94, I, da Lei 11.101/05.
Caso concreto: o contrato entre as empresas “A” e “B” continha uma cláusula compromissória. Com base nesse contrato, a empresa “A” forneceu mercadorias para a empresa “B”. A empresa “B” não pagou a duplicata referente a essa venda. Diante disso, a empresa “A” poderá ingressar com execução individual ou, então, pedir a falência da empresa “B” sem precisar instaurar o procedimento arbitral. Havendo título executivo, o direito do credor só pode ser garantido por meio do juízo estatal, já que o árbitro não possui poderes de natureza executiva. 
Assim, na hipótese de pretensão amparada em título de natureza executiva, o direito que assiste ao credor somente pode ser exercido mediante provocação do Judiciário. Isso porque, como referido, o árbitro não possui poderes de natureza executiva. Não pode penhorar bens, determinar a alienação judicial etc. Logo, todos os atos de natureza expropriatória dependem do juízo estatal para serem efetivados.
STJ. 4ª T. REsp 1.733.685-SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 6/11/18 (Info 637).
	OBS:
Vale ressaltar que já havia precedente do STJ no mesmo sentido:
(...) A existência de cláusula compromissória, de um lado, não afeta a executividade do título de crédito inadimplido. De outro lado, a falência, instituto que ostenta natureza de execução coletiva, não pode ser decretada por sentença arbitral. Logo, o direito do credor somente pode ser exercitado mediante provocação da jurisdição estatal. Admite-se a convivência harmônica das duas jurisdições - arbitral e estatal -, desde que respeitadas as competências correspondentes, que ostentam natureza absoluta. (...) STJ. 3ª T. REsp 1.277.725/AM, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/03/13.
12.5. Écabível a interposição de agravo de instrumento contra todas as decisões interlocutórias em processo falimentar e recuperacional – (Info 635) – IMPORTANTE!!!
		É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias em processo falimentar e recuperacional, ainda que não haja previsão específica de recurso na Lei nº 11.101/2005.
Fundamento: interpretação extensiva do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.
STJ. 4ª T. REsp 1722866-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 25/9/18 (Info 635).
	OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Nata Indústria S/A ingressou com pedido de recuperação judicial. O juiz deferiu o processamento. Durante a tramitação do feito, o juiz proferiu decisão interlocutória determinando que a recuperanda efetuasse o imediato depósito de 40% dos honorários do administrador judicial. Contra esta decisão, a empresa interpôs agravo de instrumento. O TJ não conheceu do recurso, afirmando que não cabe agravo de instrumento contra a decisão do juiz que determina o pagamento da remuneração do administrador judicial. Para o TJ, não cabe agravo de instrumento porque essa situação não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas no art. 1.015 do CPC/15. Segundo argumentou o Tribunal, as hipóteses elencadas nos incisos I a XI, do art. 1015, do CPC/15 são taxativas e não admitem interpretação extensiva.
 
Agiu corretamente o TJ? NÃO.
 
CPC é norma geral e se aplica ao processo falimentar de forma subsidiária e supletiva: O CPC, na qualidade de lei geral, é aplicável, forma subsidiária e supletiva, para os processos envolvendo falência e recuperação judicial. É o que se conclui pelo art. 1.046, § 2º do CPC/2015:
Art. 1.046. (...)
§ 2º Permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos regulados em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código.
 
A Lei 11.101/05, no mesmo sentido, prevê que se aplica o CPC, “no que couber, aos procedimentos” de falência e recuperação judicial.
 
Sistema recursal da Lei de Falência: A Lei 11.101/05 trouxe um sistema recursal próprio, prevendo, para diversas situações específicas, o recurso adequado a desafiar o correspondente ato judicial. No entanto, conforme já explicado, o CPC deve incidir também no sistema recursal da Lei de Falência, seja para suprimento, seja para complementação e disciplinamento de lacunas e omissões, desde que, por óbvio, não conflite com a lei especial.
 
Rol do art. 1.015 do CPC/15 não afasta a incidência das hipóteses previstas na Lei de Falência: Existem algumas hipóteses em que a própria Lei 11.101/05 fala que cabe agravo. Exemplo:
Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação.
 
Essas situações trazidas pela Lei 11.101/05 continuam existindo e não foram afetadas pelo novo CPC, tendo em vista que são previsões de lei específica. O próprio inciso XIII do art. 1.015 do CPC/2015 determina esse “respeito” pelas leis específicas:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
 
Assim, havendo disposição expressa da Lei de Recuperação de Empresas e Falência, essa prevalecerá sobre o dispositivo do CPC, de modo que a aplicação desse Código será apenas para suprimento de lacunas e omissões.
 
Hipóteses do art. 1.015 do CPC/2015 podem ser levadas para o processo falimentar ou de recuperação judicial: Se a decisão proferida no âmbito falimentar/recuperacional se enquadrar em uma das hipóteses do rol do art. 1.015 do CPC/15, também será possível o manejo do agravo de instrumento.
 
Parágrafo único do art. 1.015 do CPC/15 deve ser aplicado às decisões interlocutórias proferidas nos processos de falência e recuperação judicial: O art. 1.015, parágrafo único, do CPC/15 prevê o seguinte:
Art. 1.015 (...)
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
 
Para o STJ, o mesmo raciocínio que inspirou a permissão do agravo de instrumento para o processo de execução e para o processo de inventário, deve ser aplicado para a aplicação deste recurso ao processo falimentar e recuperacional. 
 
Desse modo, o STJ determinou que o parágrafo único do art. 1.015 do CPC deveria ser interpretado extensivamente para abranger também as decisões interlocutórias proferidas nos processos de falência e recuperação judicial. Essa já havia sido a conclusão adotada na I Jornada de Direito Processual Civil do CJF:
Enunciado nº 69: A hipótese do art. 1.015, parágrafo único, do CPC abrange os processos concursais, de falência e recuperação.
 
Trata-se da opinião manifestada pela imensa maioria da doutrina especializada:
(...) o entendimento correto é no sentido de continuar sendo possível o agravo de instrumento, em todos os casos de decisão interlocutória na LREF, aplicando-se analogicamente ao processo falimentar e recuperacional, a exceção prevista no parágrafo único do art. 1.015 do CPC.” (BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falência. São Paulo: RT, 2018, p. 448)
12.6. O edital com a relação dos credores do falido (art. 7º, § 2º da Lei 11.101/05) deve ser obrigatoriamente publicado na imprensa oficial – (Info 633)
		É imprescindível a publicação na imprensa oficial do edital previsto no art. 7º, § 2º, da Lei nº 11.101/2005.
Assim, a Lei não permite que a publicação seja feita exclusivamente no jornal.
Fundamento: art. 191 da Lei de Falência.
A leitura do caput do art. 191 revela que as publicações devem ser sempre feitas na imprensa oficial, devendo ser, preferencialmente, feitas também mediante publicação em jornal ou revista de circulação se as possibilidades financeiras do devedor ou da massa falida assim comportarem.
Obs: o art. 7º, § 2º trata sobre o edital contendo a relação feita pelo administrador judicial dos credores do falido.
STJ. 3ª T. REsp 1758777-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11/9/18 (Info 633).
	OBS:
Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas.
§ 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1º, ou no parágrafo único do art. 99 desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados.
§ 2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput e do § 1º deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1º deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.
Art. 191. Ressalvadas as disposições específicas desta Lei, as publicações ordenadas serão feitas preferencialmente na imprensa oficial e, se o devedor ou a massa falida comportar, em jornal ou revista de circulação regional ou nacional, bem como em quaisquer outros periódicos que circulem em todo o país.
Mas... e essa palavra “preferencialmente”? Ao falar em preferencialmente, o dispositivo não está, indiretamente, dizendo que a publicação pode ser feita por outro meio? NÃO. O que o art. 191 quis dizer foi o seguinte:
• as publicações serão feitas preferencialmente de duas formas: na imprensa oficial e em jornal, revista ou outros periódicos.
• se o devedor ou a massa falida não comportar esse custo, as publicações serão feitas apenas (mas obrigatoriamente) na imprensa oficial.
• assim, a publicação na imprensa oficial é sempre obrigatória.
• a palavra preferencialmente está se referindo à ideia de se fazer, preferencialmente, por outros meios além da imprensaoficial.
12.7. Valores depositados em banco por conta de contrato de trust podem ser arrecadados no caso de falência da instituição financeira – (Info 631)
		Não é cabível a restituição de quantia em dinheiro que se encontra depositada em conta corrente de banco falido, em razão de contrato de trust.
STJ. 3ª T. REsp 1438142-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 15/5/18 (Info 631).
12.8. Contribuição previdenciária reconhecida por juiz trabalhista pode ser habilitada na falência sem CDA – (Infos 530 e 618)
		É desnecessária a apresentação de Certidão de Dívida Ativa (CDA) para habilitação, em processo de falência, de crédito previdenciário resultante de decisão judicial trabalhista.
STJ. 3ª T. REsp 1591141-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 5/12/17 (Info 618).
STJ. 4ª T. REsp 1170750-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/08/13 (Info 530).
	OBS: No caso das contribuições previdenciárias que forem reconhecidas pela Justiça do Trabalho, não será necessário que com relação a elas haja um lançamento tributário a ser realizado pelo Fisco. Dito de outra forma, as contribuições previdenciárias que forem apuradas pelo juiz trabalhista não precisam de novo lançamento tributário para serem executadas. É a própria sentença que é executada pela Justiça Laboral e não o tradicional crédito constituído pela via administrativa do lançamento tributário. Isso ocorre por força de mandamento constitucional:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, “a”, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;
A partir disso, o STJ conclui que o crédito tributário poderá decorrer:
· Do lançamento na via administrativa (hipótese tradicional, regulada pelo CTN); ou
· Da sentença da Justiça do Trabalho que reconhecer a existência de contribuições previdenciárias devidas (hipótese excepcional, trazida pelo art. 114, VIII, da C/88).
Desse modo, como as contribuições previdenciárias já foram reconhecidas na sentença pelo juiz trabalhista, já houve a constituição do crédito tributário, sendo desnecessário que haja um procedimento administrativo de lançamento tributário. Isso já é suprido pela sentença trabalhista. Logo, é indevida a exigência feita pelo juízo falimentar, sendo possível que o INSS habilite o crédito tributário decorrente das contribuições previdenciárias apenas com a sentença trabalhista.
12.9. Competência para julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa falida – (Info 617)
		A competência para processar e julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa falida, quando em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito público, é do juízo cível no qual for proposta a ação de conhecimento, competente para julgar ações contra a Fazenda Pública, de acordo as respectivas normas de organização judiciária.
STJ. 1ª S. REsp 1643856-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/12/17 (recurso repetitivo) (Info 617).
	OBS: 
Massa falida: A expressão “massa falida” possui duas acepções:
a) Massa falida SUBJETIVA (massa passiva): É o conjunto dos credores do falido. Trata-se de um ente despersonalizado (não possui personalidade jurídica). Apesar disso, é sujeito de direito, podendo praticar atos, inclusive processuais, para a defesa dos interesses dos credores. A massa falida pode atuar a “favor” ou “contra” a sociedade empresária falida.
Ex1: a massa falida pode ajuizar ação de cobrança contra um devedor da sociedade falida exigindo o pagamento da dívida. Nesse caso, é como se a massa falida estivesse agindo “em favor” do falido. Na verdade, a massa falida aqui atua como sucessora da sociedade empresária falida.
Ex2: a massa falida pode ajuizar ação revocatória contra o falido caso este tenha praticado atos com a intenção de prejudicar os credores.
 
b) Massa falida OBJETIVA (massa ativa): é o conjunto dos bens do falido que foram arrecadados no processo falimentar.
Essa distinção acima é feita pela doutrina, não havendo tal diferenciação na lei.
A massa falida é administrada e representada pelo administrador judicial. O administrador judicial é o que antigamente chamavam de “síndico da massa falida”, tendo esta expressão sido abandonada pela Lei 11.101/05. A massa falida, embora seja um ente despersonalizado (não é uma pessoa jurídica), tem capacidade de estar em juízo como autora ou ré de processos judiciais. Em juízo, a massa falida é representada pelo administrador judicial. Vale ressaltar que se alguém deseja ingressar com ação contra o falido, deverá propor a demanda contra a massa falida.
 
Imagine a seguinte situação hipotética: A “Rodo Ltda” era responsável pelo transporte coletivo (ônibus) no Município de Guarulhos. João foi atropelado por um ônibus da “Rodo Ltda” e ficou inválido. Antes que João pudesse ingressar com qualquer medida contra a causadora do acidente, o juízo da 1ª Vara de Falências decretou a falência da sociedade empresária “Rodo Ltda.”. João quer agora ajuizar uma ação de indenização por danos morais contra a massa falida da “Rodo Ltda” em litisconsórcio passivo com o Município de Guarulhos. Vale ressaltar que a ação na qual se busca indenização por danos morais é considerada como uma demanda cível com pedido ilíquido, pois cabe ao magistrado avaliar a existência do evento danoso, bem como determinar a extensão e o valor da reparação para o caso concreto. João ajuizou a referida ação na 1ª Vara de Falências afirmando ser este o juízo universal para demandas contra a massa falida. O Município contestou a demanda afirmando que a ação deveria ter sido proposta na Vara da Fazenda Pública municipal, considerando que a lei de organização judiciária afirma que esta é vara cível competente para julgar as demandas propostas contra o Município.
 
A tese do Município foi acolhida pelo STJ? De quem é a competência para julgar demanda cível ilíquida contra a massa falida, quando no polo passivo se encontra, como litisconsorte passivo, pessoajurídica de direito público? SIM.
 
Juízo universal da falência: Com a decretação da falência, instaura-se o chamado juízo universal da falência. Isso significa que, em regra, todas as ações que envolvem o devedor falido deverão ser julgadas pelo juízo que decretou a falência. Isso é chamado de vis attractiva ou aptidão atrativa do juízo falimentar, estando prevista no art. 76 da Lei nº 11.101/2005:
Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo.
 
Exceções: A universalidade do juízo falimentar, contudo, não é absoluta. Há exceções. Uma dessas exceções diz respeito às ações que demandem quantia ilíquida. Veja o que diz o art. 6º, § 1º da Lei nº 11.101/2005:
Art. 6º (...)
§ 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida.
 
(...) Tratando-se de demandas cujos pedidos são ilíquidos, a ação de conhecimento deverá prosseguir, não havendo falar em competência absoluta do Juízo Falimentar para apreciar e julgar a demanda, nos termos do artigo 6°, §1°, da Lei n .11.101/2005. (...) STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1.617.538/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/12/2016.
 
Assim, as ações que estiverem cobrando quantia ilíquida não precisam tramitar no juízo universal da falência, podendo continuar ou serem propostas no juízo cível competente segundo as leis de organização judiciária. 
 
O que são ações que demandam quantia ilíquida? “A expressão usada pela lei não é muito clara e deve ser interpretada como abrangendo as ações de conhecimento, nas quais se discute a existência ou o valor de certos créditos.” (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. São Paulo: Atlas, 2017, p. 404).
 
O art. 6º, § 1º, fala em “prosseguimento”, ou seja, dando a entender que a ação já havia sido proposta antes da falência. Se a açãocobrando quantia ilíquida for proposta depois da falência, também será uma exceção ao juízo universal? SIM. Tanto no caso de ações propostas antes como depois da decretação da falência, se estas estiverem cobrando quantia ilíquida, não se submetem ao juízo universal da falência, seguindo normalmente a competência estipulada na lei de organização judiciária. Veja:
(...) A decretação da falência, a despeito de instaurar o juízo universal falimentar, não acarreta a suspensão nem a atração das ações que demandam quantia ilíquida: se elas já tinham sido ajuizadas antes, continuam tramitando no juízo onde foram propostas; se forem ajuizadas depois, serão distribuídas normalmente segundo as regras gerais de competência. Em ambos os casos, as ações tramitarão no juízo respectivo até a eventual definição de crédito líquido. (...) STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.471.615/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 16/9/14.
 
A ação de indenização por danos morais se enquadra nesse conceito de “ação que demandar quantia ilíquida”? SIM. Confira precedente nesse sentido:
(...) 3. A ação na qual se busca indenização por danos morais - caso dos autos - é tida por "demanda ilíquida", pois cabe ao magistrado avaliar a existência do evento danoso, bem como determinar a extensão e o valor da reparação para o caso concreto. 4. Tratando-se, portanto, de demanda cujos pedidos são ilíquidos, a ação de conhecimento deverá prosseguir perante o juízo na qual foi proposta, após o qual, sendo determinado o valor do crédito, deverá ser habilitado no quadro geral de credores da sociedade em recuperação judicial. Interpretação do § 1º do art. 6º da Lei n. 11.101/2005. (...) STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.918/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/4/2016.
 
Voltando ao exemplo dado: A ação proposta por João cobrava quantia ilíquida. Logo, enquadrava-se no art. 6º, § 1º da Lei de Falências. Diante disso, o juízo da falência não é competente para essa demanda, devendo a ação ser proposta na vara da Fazenda Pública municipal, conforme previsão na lei de organização judiciária.
12.10. A incidência de juros e correção monetária sobre os créditos habilitados deve ocorrer até a data em que a sentença é prolatada – (Info 609)
		A Lei de Falências afirma que o credor terá direito de receber seu crédito do falido com juros e correção monetária que são calculados até a “data da decretação da falência”. 
Quando a lei fala em “decretação da falência” deve-se considerar a data em ela foi prolatada (não importando quando ocorreu a sua publicação). 
Assim, no processo de falência, a incidência de juros e correção monetária sobre os créditos habilitados deve ocorrer até a decretação da quebra, entendida como a data da prolação da sentença (e não sua publicação). 
STJ. 3ª T. REsp 1.660.198-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 3/8/17 (Info 609).
	OBS: Assim, o credor terá direito de receber seu crédito do falido com juros e correção monetária que são calculados, contudo, até a data da decretação da falência. Após a decretação, em regra, não correm mais juros e correção monetária mesmo que o pagamento efetivo ainda demore para ser realizado.
A lei falimentar não condicionou os efeitos da falência à publicação da sentença de quebra. Sérgio Campinho ensina que “os seus efeitos materiais são de imediato produzidos, a partir, portanto, da assinatura pelo juiz, dadas as consequências que de logo acarreta. A sua publicação no órgão oficial, além de servir à sua publicidade, tem por fim a produção de efeitos de ordem processual, como a contagem do prazo recursal e do prazo de habilitação dos credores.” (Falência e Recuperação de Empresa. 7ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2015, p. 311).
12.11. A extinção das obrigações do falido não aproveita os codevedores – (Info 605)
		A extinção das obrigações do falido, em decorrência da aplicação do art. 135, III, do Decreto-Lei nº 7.661/45 (art. 158, III, da Lei 11.101/05), não extingue nem impede o prosseguimento de execução ajuizada contra avalista e devedor solidário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.104.632-PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 20/4/17 (Info 605).
	OBS:
Art. 158. Extingue as obrigações do falido: (...)
III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei;
A causa extintiva da obrigação prevista no art. 135, III, do Decreto-Lei nº 7.661/45 (art. 158, III, da Lei nº 11.101/2005) constitui-se em direito pessoal do falido, tratando-se, deste modo, de exceção (exceção = meio de defesa) que não pode ser aproveitada pelos demais codevedores, nos termos da parte final do art. 281 do CC/2002:
Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor.
12.12. A extinção das obrigações do falido depende da quitação dos tributos? – (Info 601)
		Nos processos de falência ajuizados anteriormente à vigência da Lei 11.101/05, a decretação da extinção das obrigações do falido prescinde da apresentação de prova da quitação de tributos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.426.422-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/3/17 (Info 601). 
Existe divergência se, na vigência da Lei nº 11.101/2005, a quitação dos tributos é condição para a extinção das obrigações do falido. A Min. Nancy Andrighi sustenta que sim.
Em provas objetivas, fique atento porque pode ser cobrada a redação literal do art. 191 do CTN, devendo essa alternativa ser assinalada como correta: “Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de todos os tributos.”
12.13. Autor do pedido de falência não precisa provar insolvência patrimonial do devedor – (Info 596) – IMPORTANTE!!! – (Aud. Fiscal/MA-2016)
		O autor do pedido de falência não precisa demonstrar/provar que existem indícios da insolvência ou da insuficiência patrimonial do devedor, bastando que a situação se enquadre em uma das hipóteses do art. 94 da Lei 11.101/2005. 
Assim, independentemente de indícios ou provas de insuficiência patrimonial, é possível a decretação da quebra do devedor que não paga, sem relevante razão de direito, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I, da Lei 11.101/05).
STJ. 3ª T. REsp 1.532.154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 18/10/16 (Info 596).
12.14. Credor trabalhista possui legitimidade ativa para pedir falência de devedor – (Info 589)
		A natureza trabalhista do crédito não impede que o credor requeira a falência do devedor. Assim, o credor trabalhista tem legitimidade ativa para ingressar com pedido de falência, considerando que o art. 97, IV, da Lei 11.101/05 não faz distinção entre credores. 
STJ. 3ª T. REsp 1.544.267-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 23/8/16 (Info 589).
	OBS:
Conceito: Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja recuperação mostra-se inviável.
Finalidade: Tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.
Quem pode requerer a falência do empresário ou da sociedade empresária? A pessoa que requer a falência é chamada de “sujeito ativo” da falência (deve-se lembrar que a falência acarreta um processo judicial).
Segundo o art. 97 da Lei 11.101/2005, podem requerer a falência do devedor: 
I — o próprio devedor;
(Obs.: é a chamada autofalência.)
II — o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
(Obs.: ocorre no caso de empresário individual que morre e os seus herdeiros percebem que o falecido estava em situação de insolvência, razão pela qual optam por requerer a falência.)
III — o cotista ou o acionista do devedor;
(Obs.: ocorre quando o sócio da sociedade empresária, seja ele cotistaou acionista, entende que a empresa está insolvente e que o único caminho é a falência.)
IV — qualquer credor.
(Obs.: é a hipótese que ocorre em 99% dos casos.)
Hipóteses nas quais pode ser requerida a falência: O art. 94 da Lei 11.101/05 prevê que a falência poderá ser requerida em três hipóteses. 
I — Impontualidade injustificada 
Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de falência.
Adotou-se neste inciso o critério da impontualidade injustificada.
II — Execução frustrada
Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal.
A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si proposta, demonstra estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato de falência”, ou seja, um ato de quem está em falência. Adotou-se neste inciso o chamado critério da enumeração legal.
III — Atos de falência
Quando o devedor pratica uma série de atos listados nas alíneas do inciso III do art. 94 da Lei nº 11.101/2005.
Aqui a lei também presumiu que o devedor está falido pelo fato de ter praticado algum dos comportamentos descritos na lei. Assim, também se adotou neste inciso o chamado critério da enumeração legal.
Feitas as considerações acima, imagine a seguinte situação hipotética: João era empregado da empresa “XX”. Ele foi demitido sem justa causa e não recebeu as verbas rescisórias a que teria direito. João ajuizou reclamação trabalhista, julgada procedente pelo Juiz do Trabalho, condenando a empresa a pagar um valor equivalente a 50 salários-mínimos. Ocorre que o ex-empregado não conseguiu receber o valor da condenação, considerando que a empresa não pagou nem foram localizados bens penhoráveis que pudessem satisfazer o crédito. Diante disso, João requereu, na Justiça comum estadual, a falência da empresa “XX”, fundamentando seu pedido no art. 94, II, da Lei nº 11.101/2005: 
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;
A empresa contestou o pedido alegando que o autor não tem legitimidade ativa nem interesse de agir para requerer a falência, considerando que se trata de credor trabalhista. Segundo a ré, o credor trabalhista dispõe de inúmeros instrumentos processuais céleres e eficientes para a cobrança de seu crédito, de forma que não é razoável que peça a falência da empresa, o que ocasionaria prejuízos à atividade econômica, gerando desemprego e queda na arrecadação do país.
A tese da empresa foi aceita pelo STJ? O credor trabalhista é impedido de requerer a falência da empresa por dispor de meios mais eficientes de cobrança do crédito? NÃO. O fato de o crédito ser trabalhista não afasta o direito do autor de requerer falência, uma vez que o inciso IV, do art. 97 da Lei de Falências afirma que qualquer credor poderá formular o pedido, não havendo diferenciação entre os “tipos” de credores. Confira:
Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:
IV – qualquer credor.
O legislador foi enfático e utilizou a palavra “qualquer” como forma de deixar claro que todas as espécies de credores podem requerer a falência do devedor, não importando se titulares de créditos civis, comerciais ou trabalhistas.
No caso do inciso II do art. 94, o principal requisito para requerer a decretação de falência do devedor reside na caracterização de sua omissão ao ser devidamente citado em execução. Tal omissão deve ser demonstrada mediante a juntada aos autos de certidão que descreva o processo de execução frustrado, bem como as infrutíferas tentativas de satisfação do crédito pelo credor e o valor atualizado da dívida.
Situação correlata. A Fazenda Pública possui legitimidade para requerer a falência do devedor? Prevalece que não. O STJ possui julgados antigos afirmando que não é possível o requerimento de falência formulado pela Fazenda Pública considerando que ela dispõe de um instrumento específico e eficiente para a cobrança do crédito tributário, qual seja, a execução fiscal. Nesse sentido: STJ. REsp 287.824/MG, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 20/10/05.
Em âmbito doutrinário, existe um enunciado da Jornada de Direito Comercial no mesmo caminho:
Enunciado 56: A Fazenda Pública não possui legitimidade ou interesse de agir para requerer a falência do devedor empresário.
12.15. Responsabilidade pela remuneração do administrador judicial – (Info 580)
		É possível impor ao credor que requereu a falência da sociedade empresária a obrigação de adiantar as despesas relativas à remuneração do administrador judicial, quando a referida pessoa jurídica não for encontrada - o que resultou na sua citação por edital e na decretação, incontinenti, da falência - e existirem dúvidas se os bens a serem arrecadados serão suficientes para arcar com a mencionada dívida. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.526.790-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/3/16 (Info 580).
	OBS:
Administrador judicial: É uma pessoa escolhida pelo juiz para auxiliá-lo na condução do processo de falência praticando determinados atos que estão elencados no art. 22 da Lei 11.101/05. Na antiga Lei de Falências, o administrador judicial era chamado de "síndico". O administrador judicial deve ser um profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador. Pode ser também uma pessoa jurídica especializada neste tipo de atividade (art. 21 da Lei).
Remuneração do administrador judicial: É um profissional (ou uma empresa) e precisará, obviamente, ser remunerado pelos serviços que prestar em prol do processo de falência. O valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial são fixados pelo juiz, observados alguns critérios estabelecidos pelo art. 24 da Lei:
· capacidade de pagamento do devedor;
· grau de complexidade do trabalho; e
· os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes.
Os parágrafos do art. 24 trazem outras regras específicas sobre a remuneração do administrador judicial.
Quem é responsável pelo pagamento da remuneração do administrador judicial? Caberá ao devedor ou à massa falida arcar com as despesas relativas à remuneração do administrador judicial e das pessoas eventualmente contratadas para auxiliá-lo (art. 25 da Lei).
Deve-se aplicar à situação a regra prevista no art. 82 do CPC 2015:
Art. 82. Salvo as disposições concernentes à gratuidade da justiça, incumbe às partes prover as despesas dos atos que realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes o pagamento, desde o início até a sentença final ou, na execução, até a plena satisfação do direito reconhecido no título.
Caso a ação prossiga e sejam arrecadados bens suficientes para a remuneração do administrador, a massa falida irá restituir o valor adiantado pelo credor, fazendo com que seja cumprido o art. 25 da Lei 11.101/05.
12.16. O protesto do cheque para fins falimentares é obrigatório para se comprovar a impontualidade injustificada – (Info 572)
		O protesto tirado contra o emitente do cheque é obrigatório para o fim de comprovar a impontualidade injustificada do devedor no procedimento de falência (art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005) e deve ser realizado em até 6 meses contados do término do prazo de apresentação (prazo prescricional da ação cambial). 
STJ. 3ª T. REsp 1.249.866-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 6/10/2015 (Info 572).
12.17. Declaração de extinção das obrigações do falido – (Info 572)
		O reconhecimento da extinção das obrigações não tributárias do falido, nos termos do art. 158 da Lei nº 11.101/2005 não depende de prova da quitação de tributos. 
STJ. 4ª Turma. REsp 834.932-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 25/8/2015 (Info 572).
12.18. Capacidade processual do falido para a propositura de açãorescisória – (Info 558) – IMPORTANTE!!!
		O falido poderá propor ação rescisória para desconstituir a sentença que decretou a falência? 
SIM. O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a sentença transitada em julgado que decretou a sua falência. 
Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui personalidade jurídica e não poderá postular, em nome próprio, direitos da massa falida, nem mesmo em caráter extraordinário. Diz-se que ela sofre uma capitis diminutio (diminuição de sua capacidade) referente aos direitos patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastada da administração dos seus bens. Sendo assim, num processo em que se discuta, por exemplo, a venda desses bens, o falido apenas poderia acompanhá-lo como assistente. Ele não poderia, portanto, tomar a iniciativa das ações com relação a bens da massa. 
No entanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a situação é diferente. Nesse caso, nem a massa nem os credores têm interesse na desconstituição da decretação de falência. Realmente, o falido é o único interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto falimentar fosse retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente, ainda que contrariamente à ordem legal. 
Desse modo, o STJ entende que o falido mantém a legitimidade para a propositura de ações pessoais, podendo, inclusive, ajuizar ação rescisória para tentar reverter o decreto falimentar. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.126.521-MT, Rel. originário Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2015 (Info 558).
12.19. Alienação extraordinária de ativo da falência e desnecessidade de prévia publicação de edital – (Info 555)
		Depois que os bens da massa falida forem arrecadados, ou seja, listados e organizados formalmente, eles serão vendidos a fim de arrecadar dinheiro para pagar os credores. Essa venda é chamada pela lei de “realização do ativo”. 
No art. 142 da Lei estão previstas as modalidades ordinárias de realização do ativo (leilão, propostas fechadas e pregão). No caso da alienação ordinária, a Lei exige que haja prévia publicação de um anúncio em jornal de ampla circulação (§ 1º do art. 142). Além das modalidades ordinárias de alienação, a Lei prevê formas extraordinárias de venda, que estão disciplinadas nos arts. 144 e 145 para casos em que se exige uma maior celeridade e informalidade. 
O STJ decidiu que, em caso de alienação extraordinária, NÃO é necessária a prévia publicação do anúncio em jornal de grande circulação de que trata o § 1º do art. 142. 
STJ. 3ª T. REsp 1.356.809-GO, Rel. Min. Paulo De Tarso Sanseverino, j. 10/2/2015 (Info 555).
12.20. No pedido de falência, é desnecessária a demonstração da insolvência econômica do devedor – (Info 550) – IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2016)
		No pedido de falência, é desnecessário que o requerente demonstre a insolvência econômica do devedor. Se ele não pagou a dívida e esta se enquadra na descrição dos incisos do art. 94, é possível fazer o pedido de falência independentemente da condição econômica real do empresário. 
O pressuposto para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a partir de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico no art. 94 da Lei 11.101/2005: a impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de falência (inciso III). 
A insolvência que autoriza a decretação de falência é presumida, uma vez que a lei presume que o empresário individual ou a sociedade empresária que se encontram em uma das situações apontadas pela norma estão em estado pré-falimentar. 
É bem por isso que se mostra possível a decretação de falência independentemente de comprovação da insolvência econômica, ou mesmo depois de demonstrado que o patrimônio do devedor supera o valor de suas dívidas. 
STJ. 4ª T. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/9/14 (Info 550).
12.21. Pedido feito com base no art. 94, I, não pode ser considerado abusivo mesmo que a devedora possua grande capacidade econômica – (Info 550)
		Diante de depósito elisivo de falência requerida com fundamento na impontualidade injustificada do devedor (art. 94, I, da Lei 11.101/2005), admite-se, embora afastada a decretação de falência, a conversão do processo falimentar em verdadeiro rito de cobrança para apurar questões alusivas à existência e à exigibilidade da dívida cobrada, sem que isso configure utilização abusiva da via falimentar como sucedâneo de ação de cobrança/execução. 
Assim, se o autor da ação de falência fez o requerimento baseado no inciso I do art. 94 e a dívida não paga era realmente superior a 40 salários-mínimos, não se pode dizer que o pedido tenha sido abusivo, mesmo que a devedora tenha grande porte econômico. 
Nesse caso, se a devedora efetuar o depósito elisivo, não cabe ao magistrado extinguir o processo sem resolução de mérito, devendo continuar o feito como se fosse uma ação de cobrança, discutindo a dívida e, ao final, proferindo sentença resolvendo o mérito quanto à dívida e julgando improcedente a falência. 
STJ. 4ª T. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/9/2014 (Info 550).
12.22. Habilitação de créditos decorrentes do término de apartamento de construtora falida – (Info 548)
		Incorporadora foi a falência sem terminar o edifício de apartamentos que estava construindo. Os adquirentes se reuniram e, com recursos próprios, terminaram o prédio. Obtiveram na justiça sentença transitada em julgado determinando que a incorporadora reembolse esse valor a eles. Ocorre que a incorporadora está em processo de falência, de forma que esse crédito deverá ser habilitado no concurso de credores, sendo classificado como crédito quirografário. 
Em suma, quando o adquirente de unidade imobiliária, em razão da falência da incorporadora, tenha assumido as despesas necessárias à conclusão do prédio residencial, os gastos desembolsados pelo adquirente devem ser inscritos no processo de falência da referida incorporadora como créditos quirografários. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.185.336-RS, Rel. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/9/2014 (Info 548).
12.23. Pedido de falência – (Info 547)
		A falência do devedor poderá ser decretada quando ele, sem relevante razão de direito, não pagar, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I, da Lei 11.101/2005). 
Para pedir a falência com base neste inciso não é necessário que o requerente tenha tentado executar o título. Não se revela como exigência para a decretação da quebra a execução prévia. Assim, é desnecessário o prévio ajuizamento de execução forçada para se requerer falência com fundamento na impontualidade do devedor. 
A duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir pedido de falência com base na impontualidade do devedor. Logo, se o devedor não pagar uma duplicata virtual em valor superior a 40 salários-mínimos é possível que seja decretada a sua falência 
STJ. 3ª T. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/8/2014 (Info 547).
12.24. Créditos decorrentes de honorários advocatícios e falência – (Info 540) – IMPORTANTE!!! – (PGEPA-2015) (PGM/BH-2017) (TJSP-2017) (MPCE-2020)
		I – Caso um advogado tenha créditos de honorários advocatícios para receber da sociedade empresária falida, tais créditos estarão em que lugar na ordem do art. 83 da Lei 11.101/05?
Em primeiro lugar, enquadrando-se no inciso I do art. 83. Os créditos resultantes de honorários advocatícios (sucumbenciais ou contratuais) têm natureza alimentar e são equiparados aos créditos trabalhistas para efeito de habilitação em falência, estando, portanto, enquadrados no art. 83, I. (TJSP-2017)
II – Se um advogado é contratado pela massa falida, os honorários advocatícios dessecausídico deverão ser pagos também segundo a ordem do art. 83?
NÃO. Os honorários de advogado resultantes de trabalhos prestados à massa falida, depois de ter sido decretada a falência são considerados como créditos extraconcursais, nos termos dos arts. 84 e 149 da Lei 11.101/2005.
STJ. Corte Especial. REsp 1.152.218-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 7/5/14 (recurso repetitivo) (Info 540).
	(MPCE-2020-CESPE): Acerca de associações, habilitação de crédito na falência, recuperação judicial e títulos de crédito, julgue os itens a seguir, de acordo com a jurisprudência do STJ: Em razão de sua natureza alimentar, os créditos decorrentes de honorários advocatícios se equiparam aos trabalhistas para efeito de habilitação em falência. BL: Info 540, STJ (Item I).
(PGM/BH-2017-CESPE): Marcos, advogado, prestava serviços advocatícios, sem vínculo empregatício, a determinada sociedade empresária que lhe pagava R$ 10 mil mensais. Tendo ficado sem receber a quantia relativa a um dos meses de prestação de serviços, o advogado tomou conhecimento de que a empresa havia decretado falência. Ainda assim, o administrador judicial decidiu, com a anuência do comitê de credores, pela continuidade do contrato em relação à massa falida, para evitar o aumento do passivo. Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta à luz da legislação aplicável: Após a decretação da falência, o crédito de Marcos é considerado extraconcursal. BL: Info 540, STJ (Item II).
(PGEPA-2015-UEPA): Sobre a falência e recuperação judicial, julgue a afirmativa abaixo e assinale a alternativa correta: Os honorários de advogado resultantes de trabalhos prestados à massa falida, após o decreto de falência, são considerados créditos extraconcursais. BL: Info 540, STJ (Item II).
12.25. Competência para processar e julgar o pedido de falência de empresa em liquidação extrajudicial
		A competência para processar e julgar o pedido de falência de empresa em liquidação extrajudicial, ou seja, sob intervenção do BACEN é da Justiça Estadual (e não da Justiça Federal). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.469-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/04/2012.
13. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL 
13.1. Pode ser pedido o arrolamento de bens mesmo que já tenha sido decretada a indisponibilidade – (Info 592)
		Mesmo que já tenha sido decretada a indisponibilidade de bens, nos termos do art. 36 da Lei 6.024/74, o MP continua tendo interesse de agir para pedir o arrolamento de bens do administrador da instituição financeira em liquidação extrajudicial. Isso porque tais institutos possuem finalidades, limites e efeitos distintos. 
O arrolamento tem por finalidade conservar bens ameaçados de dissipação e, assim, garantir a responsabilidade do administrador de instituição financeira. 
A prévia indisponibilidade visa salvaguardar o interesse público, em caso de fraude ou ilícito no curso da liquidação extrajudicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.375.540-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/10/16 (Info 592).
13.2. Análise do art. 18, “a” da Lei 6.024/74 – (Info 562) – IMPORTANTE!!! – (TRF1-2015)
		João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra o plano de saúde “XXX”, que está em processo de liquidação extrajudicial. O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito afirmando que havia impossibilidade jurídica do pedido, já que o art. 18, “a”, da Lei 6.024/74 proibiria a propositura de novas ações após o início da liquidação: 
Art. 18. A decretação da liquidação extrajudicial produzirá, de imediato, os seguintes efeitos: 
a) suspensão das ações e execuções iniciadas sobre direitos e interesses relativos ao acervo da entidade liquidanda, não podendo ser intentadas quaisquer outras, enquanto durar a liquidação; (...) 
Agiu corretamente o juiz? 
NÃO. A suspensão das ações e execuções ajuizadas em desfavor de instituições financeiras sob regime de liquidação extrajudicial e a proibição da propositura de novas demandas após o decreto de liquidação (art. 18, “a”, da Lei 6.024/74) não alcançam as ações de conhecimento voltadas à obtenção de provimento judicial relativo à certeza e liquidez do crédito. 
Em outras palavras, esse dispositivo não suspende nem impede a propositura de ações que tenham como objetivo conseguir ainda um título executivo, ou seja, conseguir a certeza e liquidez de um crédito que o autor alega possuir contra a entidade. 
Se o autor ainda não tem uma declaração judicial acerca do pretenso crédito (não tem um título executivo), ele não poderá habilitar esse crédito no procedimento administrativo de liquidação extrajudicial. Logo, se essa proibição do art. 18, “a” o alcançasse, ele não teria como habilitar o crédito nem teria como conseguir o título. Ficaria, portanto, sem alternativa. 
STJ. 3ª T. REsp 1.298.237-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 19/5/15 (Info 562).
13.3. Suspensão da fluência dos juros legais e contratuais – (Info 551)
		Após a decretação da liquidação extrajudicial de instituição financeira, os juros contra a massa liquidanda, sejam eles legais ou contratuais, terão sua fluência ou contagem suspensa enquanto o passivo não for integralmente pago aos credores habilitados, devendo esses juros serem computados e pagos apenas após a satisfação integral do passivo, se houver ativo que os suporte, observando-se a ordem do quadro geral de credores. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.102.850-PE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 4/11/14 (Info 551).
14. PROPRIEDADE INDUSTRIAL 
14.1. MARCA: O prazo de vigência das patentes concedidas pelo sistema mailbox é de 20 anos contados da data do depósito – (Info 660) – Atenção! Juiz Federal!
		O sistema denominado mailbox consistiu em mecanismo transitório adotado para salvaguarda de pedidos de patentes relacionadas a produtos farmacêuticos e produtos agroquímicos, cuja tutela jurídica resultou da internalização no País, em 1/1/1995, do Acordo TRIPS (Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio).
Tratando-se de patentes excepcionalmente requeridas pelo sistema mailbox, a Lei de Propriedade Industrial, em suas disposições finais e transitórias (art. 229, § único[footnoteRef:1]), estabeleceu regra expressa assegurando proteção, a partir da data da respectiva concessão, limitada ao prazo remanescente previsto no caput do seu art. 40[footnoteRef:2] (20 anos contados do dia do depósito). Assim, o legislador afastar a possibilidade de incidência do prazo excepcional do parágrafo único do art. 40 (10 anos a partir da concessão). [1: Art. 229 (...) Parágrafo único. Aos pedidos relativos a produtos farmacêuticos e produtos químicos para a agricultura, que tenham sido depositados entre 1o de janeiro de 1995 e 14 de maio de 1997, aplicam-se os critérios de patenteabilidade desta Lei, na data efetiva do depósito do pedido no Brasil ou da prioridade, se houver, assegurando-se a proteção a partir da data da concessão da patente, pelo prazo remanescente a contar do dia do depósito no Brasil, limitado ao prazo previsto no caput do art. 40. (Incluído pela Lei nº 10.196/2001)] [2: Art. 40. A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de modelo de utilidade pelo prazo 15 (quinze) anos contados da data de depósito. (....)] 
STJ. 3ª T. REsp 1840910-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/11/19 (Info 660).
14.2. PATENTE: Os “privilégios do agricultor”, previstos no art. 10 da Lei 9.456/97, não se aplicam para o caso de processo de inserção do gene na semente da soja – (Info 658)
		As limitações ao direito de propriedade intelectual constantes do art. 10 da Lei 9.456/97 - aplicáveis tão somente aos titulares de Certificados de Proteção de Cultivares - não são oponíveis aos detentores de patentes de produto e/ou processo relacionados à transgenia cuja tecnologia esteja presente no material reprodutivo de variedades vegetais.
STJ. 2ª S. REsp 1610728-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 09/10/19 (Tema IAC 4) (Info 658).
14.3. MARCA: O registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, nãoafasta a possibilidade de utilizá-la no nome de um empreendimento imobiliário – (Info 657)
		O registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, não impede que essa mesma expressão seja utilizada como nome de um edifício. Dar nome a um edifício não é uma atividade empresarial, mas sim um ato da vida civil.
A exclusividade conferida pelo direito marcário se limita às atividades empresariais, sem atingir os atos da vida civil.
Caso concreto: foi lançado um empreendimento imobiliário denominado de “Natura Recreio”. Apesar de a Natura, marca de cosméticos, ser considerada uma marca de alto renome, ela não conseguiu impedir o uso dessa expressão no nome deste condomínio.
STJ. 3ª T. REsp 1804960-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 24/9/19 (Info 657).
14.4. MARCA: Mesmo que exista autorização para que um nome civil seja registrado como marca, para que esse nome seja registrado como nova marca não abrangida pela primeira, será necessária nova autorização do titular – (Info 654)
		Cada novo registro de signo distintivo como marca, ainda que de mesma titularidade, deve atender todos os requisitos de registrabilidade, inclusive quanto à autorização do titular do nome civil eventualmente utilizado.
Caso concreto: Hospital Albert Einstein, mesmo tendo autorização para utilizar o nome civil “Albert Einstein” no hospital, só pode registrar uma nova marca denominada “Unidade Diagnóstica Einstein Jardins” se tiver nova autorização específica do detentor dos direitos autorais e de imagem do falecido físico alemão.
STJ. 3ª T. REsp 1715806-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 20/8/19 (Info 654).
 
14.5. MARCA: A prescritibilidade do direito de alegar a nulidade de registro de marca, conforme previsto no art. 174 da Lei nº 9.279/96, não pode ser afastada por meio de aplicação da teoria dualista das nulidades – (Info 648)
		O art. 174 da Lei nº 9.279/96 preconiza que: “prescreve em 5 (cinco) anos a ação para declarar a nulidade do registro, contados da data da sua concessão”.
Mesmo que se alegue que o registro feito pelo INPI é nulo de pleno direito (e não apenas anulável), ainda assim os efeitos decorrentes desse registro não poderão ser afastados se, entre a data de sua prática e o ajuizamento da ação, já houver se passado mais de 5 anos, salvo flagrante inconstitucionalidade.
Assim, não se aplica a teoria dualista das nulidades para o registro de marca pelo INPI.
Teoria dualista das nulidades: divide os atos administrativos defeituosos em nulos e anuláveis, de sorte que os atos administrativos contaminados por vício de legalidade poderiam ser invalidados a qualquer tempo pela Administração, em decorrência de seu poder de autotutela.
A ação de nulidade da marca não pode ser considerada como imprescritível sob pena de esvaziar o conteúdo normativo do art. 174, além de gerar instabilidade, não somente aos titulares de registro, mas também a todo o sistema de defesa da propriedade industrial.
A imprescritibilidade não constitui regra no direito brasileiro, sendo admitida somente em hipóteses excepcionalíssimas que envolvem direitos da personalidade, estado das pessoas, bens públicos. Os demais casos devem se sujeitar aos prazos prescricionais do Código Civil ou das leis especiais.
STJ. 3ª T. REsp 1.782.024-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7/5/19 (Info 648).
14.6. MARCA: A aquisição de distintividade de marca não gera como decorrência lógica, direta e automática a exclusividade de seu uso – (Info 646) – (TRF4-2016)
		Marcas “fracas”, evocativas, descritivas ou sugestivas: são aquelas que apresentam baixo grau de distintividade, por se constituírem a partir de expressões que remetem à finalidade, natureza ou características do produto ou serviço por elas identificado. São formadas, portanto, por expressões de uso comum, de pouca originalidade. Ex: “American Airlines” (empresa de serviços de transporte aéreo).
Em caso de marcas evocativas ou sugestivas, a exclusividade conferida ao titular do registro comporta mitigação, devendo ele suportar o ônus da convivência com outras marcas semelhantes. Ex: “American Airlines” teve que aceitar outra marca registrada como “America Air” (empresa brasileira que atua como táxi aéreo). Isso porque no caso de uso de marcas evocativas ou descritivas, a anterioridade do registro não justifica o uso exclusivo de uma expressão dotada de baixo vigor inventivo.
A “American Airlines” buscou anular o registro da marca nominativa “America Air” invocando a teoria da “distintividade adquirida” (significação secundária ou secondary meaning). O fenômeno da distintividade adquirida ocorre quando um signo de caráter comum, descritivo ou evocativo foi utilizado durante tanto tempo, alcançando tantas pessoas que passou a adquirir eficácia distintiva suficiente, a ponto de possibilitar seu registro como marca.
O STJ não acolheu a tese. Diante do fato de as duas marcas serem evocativas e considerando que as empresas prestam serviços distintos (não tendo sido constatada a possibilidade de confusão junto ao público) inexiste qualquer razão jurídica que justifique a declaração de nulidade do registro marcário da “America Air”.
STJ. 3ª T. REsp 1773244/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 02/04/19 (Info 646)
	(TRF4-2016): Marcas fracas ou evocativas, constituídas por expressões comuns ou genéricas, não possuem o atributo da exclusividade, podendo conviver com outras semelhantes.
14.7. MARCA: O INPI possui legitimidade para recorrer de decisão que extinguiu reconvenção apresentada por litisconsorte passivo pedindo a nulidade de registro de marca – (Info 644)
		O INPI possui legitimidade para recorrer de decisão que extinguiu, sem resolução de mérito, reconvenção apresentada por litisconsorte passivo, na qual se veiculou pedido de nulidade de registro de marca.
STJ. 3ª T. REsp 1775812-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 19/3/19 (Info 644).
	OBS:
Segundo o art. 175 da Lei nº 9.279/96, o INPI deve intervir nas ações de anulação de registro:
Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro da justiça federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
 
Vale ressaltar que a participação do INPI no processo não é necessariamente para defender o ato que concedeu o registro. Ao contrário, o interesse jurídico do INPI se distingue do interesse individual de ambas as partes, considerando que o objetivo da Instituição é de proteger a concorrência e o consumidor, direitos essencialmente transindividuais, o que atrai certo temperamento das regras processuais tradicionais da defesa de direitos individuais.
O INPI desempenha função própria, mediante intervenção sui generis, nos processos de anulação de registro de marca. Em face disso, nem sempre se comportará como litisconsorte passivo, devendo a sua legitimidade e os consectários da sua atuação processual tomarem em consideração a função efetivamente exercida no caso concreto. Assim, mesmo a reconvenção pedindo a nulidade da marca tendo sido proposta por uma empresa, se o INPI entender que os argumentos do reconvinte são pertinentes, ele (INPI) poderá assumir também o polo ativo dessa reconvenção. Logo, ele tem sim legitimidade para recorrer contra a decisão que extinguiu a reconvenção sem resolução do mérito.
14.8. TRADE DRESS: Para analisar se houve violação do trade dress, é indispensável a prova pericial – (Info 641)
		A caracterização de concorrência desleal por confusão, apta a ensejar a proteção ao conjunto-imagem (trade dress) de bens e produtos é questão fática a ser examinada por meio de perícia técnica. 
É necessária a produção de prova técnica para se concluir que houve concorrência desleal decorrente da utilização indevida do conjunto-imagem (trade dress) de produto da empresa concorrente. 
Assim, o indeferimento da perícia que havia sido oportunamente requerida para tal fim caracteriza cerceamento de defesa.
STJ. 3ª T. REsp 1353451-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 19/9/17 (Info 612).
STJ. 4ª T. REsp 1778910-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 6/12/18 (Info 641).OBS:	
Imagine a seguinte situação adaptada: “Leto” e “Fonte” são duas marcas concorrentes, que fabricam algodão. A empresa titular da marca “Leto” ajuizou ação de obrigação de fazer cumulada com indenização contra a empresa titular da marca “Fonte”. Na ação, a “Leto” afirmou que é líder do mercado e que a ré (empresa nova) passou a utilizar embalagem copiando as cores e o design da autora. Em outras palavras, a “Leto” afirmou que a “Fonte” está imitando sua embalagem com o objetivo de confundir o público consumidor.
Proteção ao conjunto-imagem (trade dress): Trade dress ou conjunto-imagem consiste no conjunto de elementos distintivos que caracterizam um produto, um serviço ou um estabelecimento comercial fazendo com que o mercado consumidor os identifique. Nas palavras do Min. Marco Aurélio Bellizze:
“O conjunto-imagem (trade dress) é a soma de elementos visuais e sensitivos que traduzem uma forma peculiar e suficientemente distintiva, vinculando-se à sua identidade visual, de apresentação do bem no mercado consumidor.”
Ao contrário de outros países, no Brasil ainda não existe uma legislação que proteja, de forma específica, as violações ao trade dress. Apesar disso, a jurisprudência tem protegido os titulares das marcas copiadas. Nesse sentido:
(...) A despeito da ausência de expressa previsão no ordenamento jurídico pátrio acerca da proteção ao trade dress, é inegável que o arcabouço legal brasileiro confere amparo ao conjunto-imagem, sobretudo porque sua usurpação encontra óbice na repressão da concorrência desleal. Incidência de normas de direito de propriedade industrial, de direito do consumidor e do Código Civil. (...) STJ. 3ª Turma. REsp 1677787/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/9/17.
Trade dress é diferente de marca e desenho industrial: O conjunto-imagem distingue-se dos institutos denominados “marca” e “desenho industrial”. Tanto a marca como o desenho industrial e o conjunto-imagem têm, em comum, a finalidade de designar um produto, mercadoria ou serviço, diferenciando-o dos concorrentes. Apesar da finalidade ser semelhante, eles possuem características diferentes.
 
Marca: É um sinal que designa a origem do produto, mercadoria ou serviço. A marca cria um vínculo duradouro entre o bem e a pessoa que o colocou em circulação. As marcas, para serem registradas, devem atender à distintividade ou novidade relativa, ou seja, dentro do mercado em que se insere o produto, o sinal visivelmente perceptível deve se distanciar do domínio comum, a fim de propiciar a utilização comercial exclusiva por seu titular. Esta fruição exclusiva, que será assegurada por meio do registro, pode se estender indefinidamente no tempo, desde que promovidas as tempestivas prorrogações. Isso porque o direito de exclusividade da marca tem por escopo assegurar ao consumidor a correspondência entre o produto designado e a empresa que o colocou em circulação.
 
Desenho industrial: Protege a configuração externa de um objeto tridimensional ou um padrão ornamental (bidimensional) que possa ser aplicado a uma superfície ou a um objeto. O desenho industrial insere no mercado uma inovação estética em objeto comum ou facilmente reproduzível em escala industrial. O desenho industrial, por se caracterizar em uma inovação estética facilmente reproduzível em escala industrial, a partir de sua publicidade, passa a integrar o estado da técnica. Nota-se, portanto, que o desenvolvimento de desenhos industriais movimenta-se, ao longo do tempo, numa crescente, podendo ser posteriormente incorporada pelos produtos de seus concorrentes de forma lícita e regular. Ao seu desenvolvedor (autor) é assegurado, mediante registro, o direito de exploração exclusiva, porém temporária (até, no máximo, 25 anos), nos termos do art. 108 da Lei nº 9.279/96.
Trade dress: O denominado trade dress, não disciplinado na legislação nacional atual, tem por finalidade proteger o conjunto visual global de um produto ou a forma de prestação de um serviço. Materializa-se, portanto, pela associação de variados elementos que, conjugados, traduzem uma forma peculiar e suficientemente distintiva de inserção do bem no mercado consumidor, vinculando-se à identidade visual dos produtos ou serviços. Apesar de não haver legislação específica, a proteção do trade dress é assegurada com fundamento no dever geral de garantia de livre mercado, ou seja, no dever estatal de assegurar o funcionamento saudável do mercado, de forma a expurgar condutas desleais tendentes a criar distorções de concorrência.
Violação ao trade dress: O trade dress é violado quando uma empresa imita sutilmente diversas características da marca concorrente (normalmente a líder do mercado) com o objetivo de confundir o público e angariar vendas com base na fama da marca copiada.
Exemplo de violação ao trade dress: Em um caso concreto, o TJSP entendeu que uma empresa cuja marca era “Uai in box” teria violado a trade dress da “China in box”. Além do nome parecido, a empresa “Uai in box” também oferecia comida em delivery com pacotes iguais ao da “China in box”.
Voltando ao exemplo: No caso concreto, o juiz indeferiu o pedido de prova pericial formulado pela ré e julgou procedente o pedido da autora reconhecendo que houve violação ao trade dress. O magistrado decidiu que houve utilização indevida do conjunto-imagem unicamente com base na comparação das fotografias das embalagens. O STJ não concordou com a decisão por entender que esse tema exige discussão fática para a qual é indispensável a prova pericial:
A caracterização de concorrência desleal por confusão, apta a ensejar a proteção ao conjunto-imagem (trade dress) de bens e produtos é questão fática a ser examinada por meio de perícia técnica. STJ. 3ª Turma. REsp 1.353.451-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 19/09/2017 (Info 612).
 
É necessária a produção de prova técnica para se concluir que houve concorrência desleal decorrente da utilização indevida do conjunto-imagem (trade dress) de produto da empresa concorrente. Assim, o indeferimento da perícia que havia sido oportunamente requerida para tal fim caracteriza cerceamento de defesa. STJ. 4ª Turma. REsp 1.778.910-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 6/12/18 (Info 641).
 
Ainda que se esteja diante de uma notória semelhança entre os dois produtos, é indispensável analisar se esta similitude é aceitável do ponto de vista legal ou se estamos diante de um ato abusivo, usurpador de conjunto-imagem alheio e passível de confundir o consumidor. A dificuldade existe no fato de que muitas das características que assemelham os produtos se situam numa zona limítrofe entre o que se admite como concorrência saudável – e até desejável – e o que se reputa concorrência desleal e parasitária.
Assim, a confusão que caracteriza concorrência desleal é questão fática, sujeita a exame técnico, a fim de averiguar o mercado em que inserido o bem e serviço e o resultado da entrada de novo produto na competição, de modo a se alcançar a imprevisibilidade da conduta anticompetitiva aos olhos do mercado. Nesses casos, não é possível, portanto, que o magistrado consulte única e exclusivamente o seu íntimo para concluir pela existência de confusão. Dessa forma, o indeferimento de prova técnica, para utilizar-se de máximas da experiência como substitutivo de prova, é conduta que cerceia o direito de ampla defesa das partes.
14.9. Danos materiais e morais em caso de uso indevido de marca – (Info 619) – IMPORTANTE!!!
		O uso indevido da marca acarreta dano material uma vez que a própria violação do direito revela-se capaz de gerar lesão à atividade empresarial do titular. O uso indevido da marca provoca desvio de clientela e confusão entre as empresas, acarretando indiscutivelmente dano material. 
Desse modo, se ficar demonstrado o uso indevido de marca, o juiz deverá declarar a existência do dano (an debeatur). O quantum debeatur, por sua vez, deverá ser apurado no âmbito da liquidação pelo procedimento comum, haja vista a necessidade de comprovação de fatos novos, nos termos do art. 210 da LPI.
Quanto aoprejuízo extrapatrimonial, prevalece que o uso indevido da marca gera dano moral in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita - contrafação -, revelando-se desnecessária a demonstração de prejuízos concretos ou a comprovação probatória do efetivo abalo moral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1327773-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/11/17 (Info 619).
	OBS: Sendo assim, a própria Lei de Propriedade Industrial presume a existência dos danos materiais, sendo decorrência natural da contrafação e da violação da concorrência do mercado. A norma, inclusive, estabelece critérios específicos para se melhor alcançar o quantum debeatur.
Veja o que diz a Lei:
LPI, Art. 208. A indenização será determinada pelos benefícios que o prejudicado teria auferido se a violação não tivesse ocorrido.
LPI, Art. 209. Fica ressalvado ao prejudicado o direito de haver perdas e danos em ressarcimento de prejuízos causados por atos de violação de direitos de propriedade industrial e atos de concorrência desleal não previstos nesta Lei, tendentes a prejudicar a reputação ou os negócios alheios, a criar confusão entre estabelecimentos comerciais, industriais ou prestadores de serviço, ou entre os produtos e serviços postos no comércio.
§ 1º Poderá o juiz, nos autos da própria ação, para evitar dano irreparável ou de difícil reparação, determinar liminarmente a sustação da violação ou de ato que a enseje, antes da citação do réu, mediante, caso julgue necessário, caução em dinheiro ou garantia fidejussória.
§ 2º Nos casos de reprodução ou de imitação flagrante de marca registrada, o juiz poderá determinar a apreensão de todas as mercadorias, produtos, objetos, embalagens, etiquetas e outros que contenham a marca falsificada ou imitada.
Art. 210. Os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais favorável ao prejudicado, dentre os seguintes:
I - os benefícios que o prejudicado teria auferido se a violação não tivesse ocorrido; ou
II - os benefícios que foram auferidos pelo autor da violação do direito; ou
III - a remuneração que o autor da violação teria pago ao titular do direito violado pela concessão de uma licença que lhe permitisse legalmente explorar o bem.
A norma, em nenhum momento, condiciona a reparação à efetiva demonstração do dano, até porque, como dito, é inerente ao uso indevido da marca a concorrência desleal, o desvio de clientela, a confusão entre estabelecimentos, independentemente da análise do dolo do agente ou da comprovação de prejuízos.
O dispositivo autoriza a reparação material se houver “ato de violação de direito de propriedade industrial e atos de concorrência desleal”, ou seja, a demonstração do dano perpassa pela comprovação da existência do fato - uso indevido de marca.
Ademais, deve-se levar em consideração que a referida prova é de dificílima execução.
Assim, se ficar demonstrado o uso indevido de marca, o juiz deverá declarar a existência do dano (an debeatur). O quantum debeatur, por sua vez, deverá ser apurado no âmbito da liquidação pelo procedimento comum, haja vista a necessidade de comprovação de fatos novos, nos termos do art. 210 da LPI. Nesse sentido:
O dano patrimonial causado ao titular de direito de marca configura-se com a violação dos interesses tutelados pela Lei de Propriedade Industrial, sendo despicienda a comprovação da intenção do agente em prejudicar a vítima ou do prejuízo causado, devendo o montante ser apurado em liquidação de sentença. STJ. 3ª Turma. REsp 1635556/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/11/2016.
E quanto ao dano moral? Vamos pelo início: a pessoa jurídica pode sofrer dano moral? SIM. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227-STJ). A pessoa jurídica é possuidora de bens extrapatrimoniais. Conforme previsto no art. 52 do CC, apesar de despida de direitos ligados à personalidade humana (saúde, integridade física e psíquica), a pessoa jurídica é titular de direitos da personalidade, tais como à tutela ao nome, à marca, à imagem, à reputação, à honra (objetiva), à intimidade (como nos segredos industriais), à liberdade de ação etc.
 
No caso de uso indevido de marca, o dano moral precisa ser provado? NÃO. O tema ainda não é pacífico no STJ, mas prevalece que o dano moral decorre automaticamente da constatação do uso indevido da marca. Vejamos:
Os prejuízos causados pelo uso não autorizado de marca alheia prescindem de comprovação, pois se consubstanciam na própria violação do direito do titular, derivando da natureza da conduta perpetrada. A demonstração do dano se confunde com a demonstração da existência do fato, cuja ocorrência é premissa assentada pelo acórdão recorrido. STJ. 3ª T. REsp 1674375/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 07/11/17.
 
Por sua natureza de bem imaterial, é ínsito que haja prejuízo moral à pessoa jurídica quando se constata o uso indevido da marca. Isso porque, obrigatoriamente, a reputação, a credibilidade e a imagem da empresa acabam sendo atingidas perante todo o mercado (clientes, fornecedores, sócios, acionistas e comunidade em geral), além de haver o comprometimento do prestígio e da qualidade dos produtos ou serviços ofertados, caracterizando evidente violação de seus direitos, bens e interesses extrapatrimoniais.
Assim, o dano moral por uso indevido da marca é aferível in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita - contrafação -, revelando-se desnecessária a demonstração de prejuízos concretos ou a comprovação probatória do efetivo abalo moral.
14.10. COMPETÊNCIA: Ações envolvendo trade dress e nulidade de registro de marca – (Info 618) – IMPORTANTE!!!
		As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência desleal e outras demandas afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares, é inequivocamente de competência da Justiça estadual, já que não afeta interesse institucional da autarquia federal. 
No entanto, compete à Justiça Federal, em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao titular a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela provisória.
STJ. 2ª Seção. REsp 1527232-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 13/12/17 (recurso repetitivo) (Info 618).
	OBS:
COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÕES ENVOLVENDO TRADE DRESS E REGISTRO DE MARCA
De quem é a competência para julgar ação na qual o autor alega que está sendo desrespeitada a sua trade dress, o que enseja concorrência desleal, pedindo, em razão disso, indenização, além da cessação da prática? Justiça Estadual.
Conforme explica a doutrina, “(...) no Brasil, a proteção jurídica do 'trade dress' situa-se no âmbito da Repressão à Concorrência Desleal, e insurge-se contra a prática de atos de natureza fraudulenta que venham a desviar clientela de outrem, notadamente pela reprodução e/ou imitação desautorizada de características distintivas de produtos, serviços e estabelecimentos comerciais” (MANARA, Cecília. ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva; MORAES, Rodrigo. Propriedade intelectual em perspectiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 10-11).
As disputas relacionadas com concorrência desleal não são dirimidas diretamente pelo INPI, considerando que a sua constatação depende de procedimento a ser realizado no âmbito do Poder Judiciário, com ampla possibilidade de produção de provas, inclusive pericial. Nesse sentido é a lição de Denis Borges Barbosa:
“Em suma, não há competência para o INPI aplicar diretamente a regra de concorrência desleal. Sempre tal competência recaiu no Poder Judiciário. (...)
Por isso, a apuração da concorrência desleal se faz num procedimento judicial plenamente sujeito ao devido processo legal, com apuração de fatos, ampla perícia, avaliação dilatada, tudo que inexiste no restrito, inespecífico e (no que toca à concorrência desleal) incompetente procedimento registral do INPI.” (BARBOSA, Denis Borges. Tratado da propriedade intelectual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 516-518).
 
Desse modo, entende-se que não há interesse do INPIem figurar na demanda que se discute violação do trade dress e concorrência desleal, sendo esta ação de competência da Justiça Estadual.
 
Por outro lado, de quem é a competência para julgar ação na qual se requer a nulidade de uma marca registrada no INPI, pedindo-se ainda a cessação de seu uso? Justiça Federal. Isso porque, nesta situação, haverá interesse jurídico do INPI na demanda, considerando que foi a autarquia que concedeu o registro, incidindo, portanto, na hipótese do art. 109, I, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
 
No mesmo sentido, prevê a Lei nº 9.279/96:
Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro da justiça federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
 
A discussão sobre a validade de um registro de marca, patente ou desenho industrial, nos termos da LPI, tem de ser travada administrativamente ou, caso a parte opte por recorrer ao judiciário, deve ser empreendida em ação proposta perante a Justiça Federal, com a participação do INPI na causa. Sem essa discussão, os registros emitidos por esse órgão devem ser reputados válidos e produtores de todos os efeitos de direito. STJ. 3ª Turma. REsp 1281448/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/6/2014.
 
A alegação de que é inválido o registro, obtido pela titular de marca perante o INPI, deve ser formulada em ação própria, para a qual é competente a Justiça Federal. Ao Juiz estadual não é possível, incidentalmente, considerar inválido um registro vigente perante o INPI. STJ. 3ª Turma. REsp 1322718/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/6/12.
 
Embora a Lei 9.279/96 preveja, em seu art. 56, § 1º, a possibilidade de alegação de nulidade do registro como matéria de defesa, a melhor interpretação desse dispositivo indica que ele deve estar inserido numa ação própria, na qual que discuta, na Justiça Federal, a nulidade do registro. STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 254.141/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/6/12.
14.11. TRADE DRESS: Para analisar se houve violação do trade dress, é indispensável a prova pericial – (Info 612)
		Trade dress ou conjunto-imagem consiste no conjunto de elementos distintivos que caracterizam um produto, um serviço ou um estabelecimento comercial fazendo com que o mercado consumidor os identifique.
A caracterização de concorrência desleal por confusão, apta a ensejar a proteção ao conjunto-imagem (trade dress) de bens e produtos, é questão fática a ser examinada por meio de perícia técnica.
Ainda que se esteja diante de uma notória semelhança entre os dois produtos, é indispensável analisar se esta similitude é aceitável do ponto de vista legal ou se estamos diante de um ato abusivo, usurpador de conjunto-imagem alheio e passível de confundir o consumidor.
Ex: a empresa líder do mercado ajuizou ação contra a ré (empresa nova) afirmando que esta passou a utilizar embalagem copiando as cores e o design da autora. Será necessária perícia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.353.451-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 19/9/17 (Info 612).
14.12. PATENTES: Para que o pedido seja arquivado ou a patente extinta por falta de pagamento da retribuição, exige-se notificação prévia do depositante ou titular – (Info 608)
		Para arquivamento de pedido ou extinção de patente por falta de pagamento da retribuição anual prevista no art. 84 da Lei 9.279/96, exige-se notificação prévia do respectivo depositante ou titular. 
Obs: retribuição anual é um valor que deve ser pago anualmente ao INPI pelo fato de o indivíduo ter pedido ou já ser titular de uma patente. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.131-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 27/6/17 (Info 608).
14.13. Possibilidade de o INPI analisar as cláusulas dos contratos de transferência de tecnologia que são submetidos a seu registro – (Info 599) – APENAS CONCURSOS FEDERAIS!!!
		Os contratos que impliquem transferência de tecnologia, para produzirem efeitos em relação a terceiros, precisam ser registrados e/ou averbados no INPI (art. 211 da Lei 9.279/96). 
O INPI, ao examinar os contratos que lhe são submetidos para averbação ou registro, pode e avaliar as cláusulas contratuais exigindo a alteração daquelas que forem abusivas ou ilegais? 
SIM. O art. 211 da Lei nº 9.279/96 em conjunto com o art. 2º da Lei nº 5.648/70 (com redação dada pelo art. 240 da Lei nº 9.279/96) permitem que o INPI analise as cláusulas dos contratos de transferência de tecnologia que lhe são submetidos para registro, podendo reprimir cláusulas abusivas e/ou ilegais. 
O INPI pode intervir no âmbito negocial de transferência de tecnologia, diante de sua missão constitucional e infraconstitucional de regulamentação das atividades atinentes à propriedade industrial. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.200.528-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 16/2/17 (Info 599).
15. MARCA 
15.1. Termo inicial do prazo prescricional de ação de abstenção de uso de marca – (Info 593)
		A pretensão de abstenção de uso de marca nasce para seu titular com a violação do direito de utilização exclusiva. 
No caso concreto, o titular da marca havia autorizado que terceiro a utilizasse até determinada data. A pretensão inibitória nasceu a partir do momento em que este terceiro desrespeitou a data assinalada como termo final de vigência da autorização. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.874-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25/10/16 (Info 593).
15.2. PROPRIEDADE INDUSTRIAL: Termo inicial para o pagamento da retribuição quinquenal prevista no art. 120 da Lei 9.279/96 – (Info 578)
		O prazo para o pagamento da "retribuição quinquenal" prevista no art. 120 da Lei nº 9.279/96 conta-se da data do depósito do pedido de registro do desenho industrial no INPI, e não da data do certificado de registro. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.470.431-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 23/2/16 (Info 578).
	OBS:
Desenho industrial: É a forma ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto (art. 95 da Lei nº 9.279/96). Ex: um novo formato de relógio, de brinquedo, de carro etc. Em palavras mais simples, desenho industrial é o design. O autor de um desenho industrial pode pedir o seu registro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), que é uma autarquia federal situada no Rio de Janeiro (RJ). No Brasil, o desenho industrial é protegido por meio de "registro", e não de patente, como ocorre em outros países.
Requisitos: Para que um desenho possa ser registrado como "desenho industrial", ele deverá preencher os seguintes requisitos:
a) Novidade (é um conceito difícil de explicar; significa que o desenho não pode ser nenhum que já existe segundo o estado atual da técnica);
b) Originalidade (deve ter uma configuração visual diferente dos outros já existentes);
c) Utilização ou aplicação industrial (deve ser possível reproduzir este desenho industrialmente).
Procedimento para registro: O autor de um desenho industrial, para solicitar seu registro no INPI, deverá pagar uma taxa mediante guia de recolhimento da União (GRU), preencher um formulário de depósito e apresentar as figuras do desenho. É possível fazer o pedido pela internet ou em papel. Inicia-se, então, um procedimento interno no INPI, onde o pedido passará por diversos setores. Pode ser que os técnicos da autarquia solicitem mais documentos e esclarecimentos do autor a fim de verificar se estão presentes os requisitos acima elencados. Vale ressaltar que o autor que faz o pedido de registro de um desenho industrial possui apenas uma expectativa de direito. Isso quer dizer que ele ainda será examinado e o INPI poderá conceder ou não o certificado de registro.
Prazo de proteção: O prazo de vigência do registro é de 10 anos, contados da data de depósito. Este prazo poderá ser prorrogado por mais três períodos sucessivosde 5 anos. Enfim, no total, o titular poderá ter uma proteção do seu desenho industrial por 25 anos.
Retribuição quinquenal: O titular do registro deverá pagar um valor chamado de "retribuição quinquenal", que serve como uma espécie de taxa de manutenção do registro. Esta taxa encontra-se prevista no art. 120 da LPI:
Art. 120. O titular do registro está sujeito ao pagamento de retribuição qüinqüenal, a partir do segundo qüinqüênio da data do depósito.
§ 1º O pagamento do segundo qüinqüênio será feito durante o 5º (quinto) ano da vigência do registro.
§ 2º O pagamento dos demais qüinqüênios será apresentado junto com o pedido de prorrogação a que se refere o art. 108.
§ 3º O pagamento dos qüinqüênios poderá ainda ser efetuado dentro dos 6 (seis) meses subseqüentes ao prazo estabelecido no parágrafo anterior, mediante pagamento de retribuição adicional.
Desse modo, de cinco em cinco anos o autor deverá pagar esta taxa.
A partir de quando é contado o prazo de 5 anos para pagamento da retribuição quinquenal? Deverá ser contado a partir do dia em que o autor fez o depósito do pedido de registro ou da data em que o INPI concedeu o certificado de registro? Da data do depósito. Este é o texto expresso do art. 120: "o titular do registro está sujeito ao pagamento de retribuição quinquenal, a partir do segundo quinquênio da data do depósito."
15.3. Caducidade de marca (art. 143 da LPI) – (Info 563) – ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS! – (Advogado/Telebrás-2015)
		A Lei 9.279/96 prevê a possibilidade de o registro da marca caducar se não for usada: 
Art. 143. Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse se, decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na data do requerimento:
I - o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou 
II - o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos consecutivos, ou se, no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com modificação que implique alteração de seu caráter distintivo original, tal como constante do certificado de registro. 
Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa começa a fabricá-lo aqui no Brasil, mas ele só é vendido para o mercado externo, nunca sendo comercializado aqui. Há risco de haver a caducidade da marca com base no inciso I? 
NÃO. Se o titular da marca registrada no Brasil industrializa, fabrica, elabora o produto em território nacional, claramente inicia e faz uso da marca no Brasil, merecendo toda proteção legal, pois aqui empreende, gerando produção, empregos e riqueza, sendo indiferente que a mercadoria aqui produzida seja destinada ao mercado interno ou exclusivamente ao externo. Produzir no País o produto com a marca aqui registrada atende suficientemente ao requisito legal de “uso da marca iniciado no Brasil”. 
Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa (de grande porte) começa a fabricá-lo aqui no Brasil, mas depois de mais de 5 anos, somente produziu cerca de 70 pacotes do produto. Há risco de haver a caducidade da marca com base no inciso II? 
SIM. É possível que se reconheça a caducidade do registro da marca quando, em um período de cinco anos, o valor e o volume de vendas do produto relacionado à marca forem inexpressivos. 
No caso analisado pelo STJ, o uso esporádico da marca, com escassas negociações no mercado, foi considerado inexpressivo dentro da magnitude das operações bilionárias realizadas pela empresa, portanto, insuficiente para configurar e comprovar o uso efetivo da marca. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.236.218-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, j. 5/2/2015 (Info 563).
	(Advogado/Telebrás-2015-CESPE): Passados cinco anos da concessão do registro de marca, determinada pessoa, com legítimo interesse, solicitou ao INPI que fosse declarada a caducidade do registro das marcas de duas sociedades empresárias, com base nos seguintes fatos: o produto elaborado e fabricado no Brasil pela primeira sociedade era destinado exclusivamente ao mercado externo; a marca da segunda sociedade era de uso esporádico, com escassas negociações no mercado e rentabilidade ínfima nos cinco anos anteriores. Com relação a essa situação hipotética, julgue o item subsecutivo acerca do registro das marcas, nos termos da jurisprudência do STJ. O INPI deverá denegar o pedido de caducidade do registro de marca da primeira sociedade empresária, pois o simples fato de o produto elaborado e fabricado no Brasil ser destinado ao mercado externo não demonstra a caducidade do registro de marca por desuso. BL: Info 563, STJ.
15.4. Em regra, é lícita a propaganda comparativa – (Info 550) – (TJDFT-2015)
		A propaganda comparativa é forma de publicidade na qual se compara, explícita ou implicitamente, produtos ou serviços concorrentes, a fim de conquistar a escolha do consumidor. 
Em nosso país, não há lei definindo o que seja publicidade comparativa. 
A doutrina e o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do CONAR afirmam que a publicidade comparativa, em regra, é permitida, desde que não viole alguns princípios. 
Segundo decidiu o STJ, é lícita a propaganda comparativa entre produtos alimentícios de marcas distintas e de preços próximos no caso em que: 
a) a comparação tenha por objetivo principal o esclarecimento do consumidor;
b) as informações vinculadas sejam verdadeiras, objetivas, não induzam o consumidor a erro, não depreciem o produto ou a marca, tampouco sejam abusivas (art. 37, § 2º, do CDC); e 
c) os produtos e marcas comparados não sejam passíveis de confusão. 
A publicidade comparativa não é vedada pelo CDC, desde que obedeça ao princípio da veracidade das informações, seja objetiva e não abusiva. 
De igual forma, em regra, a propaganda comparativa não é proibida pela Lei 9.279/96 (LPI). Para que a propaganda comparativa viole o direito marcário do concorrente, as marcas devem ser passíveis de confusão ou a menção à marca do concorrente deve ser feita de forma depreciativa, acarretando a degradação (desgaste do outro produto) e o consequente desvio de clientela. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.377.911-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/10/2014 (Info 550).
15.5. Requisitos para a concessão da patente “pipeline” – (Info 550)
		O registro sob o sistema “pipeline” não se submete à regra do art. 8º, ou seja, não se exige dele novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. 
Os requisitos para a concessão da patente “pipeline” estão disciplinados nos 230 e 231 da Lei de Propriedade Industrial e, uma vez concedida a patente “pipeline” por outra jurisdição, ela não poderá ser anulada invocando-se a ausência de um dos requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a concessão das patentes ordinárias (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial). 
Assim, uma patente pipeline concedida no exterior e revalidada no Brasil não pode ser anulada ao fundamento de falta de um dos requisitos de mérito do art. 8º da Lei 9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial – LPI), mas apenas por ausência de requisito especificamente aplicável a ela (como, por exemplo, por falta de pagamento da anuidade no Brasil) ou em razão de irregularidades formais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.201.454-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/10/14 (Info 550).
15.6. Direito exclusivo de uso de marca registrada – (Info 548) – ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!
		A empresa “A” oferece serviços de orientação e reeducação pedagógica a alunos com dificuldades escolares. Essa instituição registrou no INPI a expressão “CRESCER”, adquirindo o direito de uso da marca. 
Alguns anos depois, foi inaugurada uma escola (empresa “B”) e passou a também utilizar a palavra “CRESCER” em suas atividades empresariais. 
O STJ entendeu que o uso da expressão “CRESCER” por parte da escola viola o direito de uso exclusivo de marca pertencente à empresa “A”. Isso porque, embora as atividades exercidas sejam distintas, elas se enquadram na mesma classe de serviços, a de serviços de educação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.309.665-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 4/9/14 (Info 548).
15.7. Precedênciade nome empresarial que não implica direito ao registro de marca – (Info 548) – ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!
		Determinada sociedade empresária registrou seu ato constitutivo na junta comercial de Blumenau (SC) com o nome empresarial de “Multimed Distribuidora de Medicamentos Ltda”. 
Anos mais tarde, uma sociedade empresária do Rio Grande do Sul (“Multiclínica Serviços de Saúde Ltda.”) registrou no INPI, como marca, a expressão “MULTIMED”. 
O STJ entendeu que esse registro da marca MULTIMED foi válido mesmo o nome empresarial da outra empresa sendo igual. Isso porque as formas de proteção do nome empresarial e da marca comercial não se confundem.
Em regra, a proteção do NOME EMPRESARIAL fica restrita ao Estado/DF de competência da Junta Comercial em que foi registrado o ato constitutivo da empresa. Ex: se a empresa “A” registrou seu ato constitutivo na Junta Comercial de Blumenau, a proteção será apenas em Santa Catarina. Essa proteção poderá ser estendida a todo o território nacional, desde que seja feito pedido complementar de arquivamento nas demais Juntas Comerciais. 
A proteção da MARCA é mais extensa e, depois do registro no INPI, apenas o titular desta marca poderá utilizá-la em todo o território nacional. 
Para que nome empresarial da empresa “Multimed Distribuidora de Medicamentos Ltda” pudesse impedir que outra empresa registrasse no INPI a marca “MULTIMED” seria necessário que ela tivesse feito pedido complementar de arquivamento do seu nome empresarial nas demais Juntas Comerciais do país. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.184.867-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014 (Info 548).
15.8. Licenciamento da marca e obrigação de o licenciador zelar pela sua integridade e reputação – (Info 538)
		É possível ao titular do registro de marca, após conceder licença de uso, impedir a utilização da marca pelo licenciado quando não houver observância à nova padronização dos produtos e dos serviços, ainda que o uso da marca tenha sido autorizado sem condições ou efeitos limitadores. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.387.244-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 25/2/14 (Info 538).
16. AÇÃO DE NULIDADE DE REGISTRO DE MARCA 
16.1. Honorários sucumbenciais em desfavor do INPI – (Info 585)
		Em ação de nulidade de registro de marca a que o INPI não deu causa nem ofereceu resistência direta, não cabe condenação do instituto em honorários advocatícios sucumbenciais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.699-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 7/6/16 (Info 585).
Na ação de nulidade de registro de marca em que o INPI foi indicado como réu ao lado de sociedade empresária em virtude da concessão indevida do registro e do não processamento do procedimento administrativo para anular o registro indevidamente concedido, o Instituto responde solidariamente pelos honorários advocatícios sucumbenciais, ainda que tenha reconhecido a procedência do pedido formulado na Inicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 2/2/16 (Info 576).
16.2. Responsabilidade do INPI pelos honorários sucumbenciais, custas processuais e reembolso de despesas feitas pelo autor – (Info 576)
		Este julgado tratava sobre uma ação de nulidade de registro de marca proposta por uma sociedade empresária ("A") contra o INPI e contra outra empresa concorrente ("B"), titular da marca questionada na demanda. A ação foi julgada procedente e discutiu-se se o INPI deveria pagar honorários advocatícios, custas e despesas processuais. Foram expostas três conclusões: 
I - Na ação de nulidade de registro de marca o INPI foi indicado como réu ao lado de sociedade empresária porque concedeu indevidamente o registro para a empresa "B" mesmo gerando confusão com a marca da empresa "A" e também porque não deu andamento ao pedido administrativo formulado pela empresa "A" para anular o registro indevidamente concedido. Assim, diante disso, o referido Instituto deve responder solidariamente pelos honorários advocatícios sucumbenciais mesmo que, na ação proposta, ele tenha reconhecido a procedência do pedido formulada na Inicial.
II - Em ação de nulidade de registro de marca, o INPI é isento de pagamento de custas. 
III - Em ação de nulidade de registro de marca em que o INPI for sucumbente, cabe a ele reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte autora. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 2/2/2016 (Info 576).
17. CONTRATOS EMPRESARIAIS 
17.1. Em shopping center que funcione como condomínio é permitido que a convenção do condomínio preveja que a área comum será explorada por apenas alguns condôminos (lojistas) – (Info 629)
		A cláusula prevista em convenção de condomínio de shopping center, permitindo a alguns condôminos (lojistas) o uso, gozo e fruição de áreas comuns, não é, em regra, nula.
STJ. 3ª Turma. REsp 1677737-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 19/6/18 (Info 629).
	OBS:
Modalidades de shopping center: Há três modalidades distintas de shopping center:
a) Shopping center típico: todos os espaços são locados. Não possui condomínio.
b) Shopping center vendido: existem vários proprietários das unidades autônomas, que formam um condomínio comercial. Essas unidades autônomas (espaços) são vendidos ou locados. Trata-se de um condomínio comercial, mas com características típicas de shopping, como mix, publicidade conjunta e normas de funcionamento com horários preestabelecidos. Neste modelo existe, portanto, uma convenção de condomínio que rege o shopping e, normalmente, é escolhido um síndico.
c) Centro comercial: mero aglomerado de lojas, sem um sistema organizado de funcionamento.
Nesse sentido: CÂMARA, Hamilton Quirino. Condomínio Edilício. Manual Prático com Perguntas e Respostas. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2004, p. 44.
 
Imagine a seguinte situação hipotética: Itaguaré é um shopping center constituído na modalidade “vendido”. O Itaguaré é composto por partes autônomas e partes de uso comum, cabendo aos proprietários das partes autônomas frações ideais do terreno onde está edificado o empreendimento, bem como, de modo geral, das partes de uso comum deste. Na convenção de condomínio do shopping ficou previsto que alguns condôminos (lojistas) teriam o direito de explorar, com exclusividade, a quase totalidade das áreas comuns do shopping, inclusive o estacionamento e os quiosques que ficam nos corredores. Um dos condôminos questionou judicialmente esta cláusula afirmando que ela seria ilegal, considerando que as áreas comuns pertencem, por força de lei, a todos os condôminos, não podendo ser de apenas alguns.
 
O que decidiu o STJ? A convenção de condomínio pode atribuir direito de uso exclusivo de áreas comuns a um ou mais condôminos? Essa previsão da convenção de condomínio, em princípio, é válida? SIM. O condomínio que funciona como um shopping center possui peculiaridades que o distingue de um condomínio edilício comum. No condomínio que funciona como um shopping, o condômino (lojista), apesar de proprietário de uma unidade autônoma, sofre algumas restrições, contratualmente acertadas, aos seus direitos de condômino. As limitações atingem, especialmente, a autonomia, já que terá que se utilizar do imóvel exatamente para a finalidade específica para a qual foi adquirido, observando, quanto à utilização, as mesmas regras impostas a todos os demais lojistas. Outra diferença está justamente nas áreas comuns. Nada impede que, quando da constituição do empreendimento, em decisão assemblear ou por meio de cláusulas de convenção de condomínio e demais normais gerais complementares, seja limitada à propriedade adquirida pelos lojistas ao espaço interno. Assim, é possível que se estabeleça que as áreas comuns irão pertencer a uma ou algumas empresas (e não a todos os lojistas).
17.2. Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner – (Info 586) 
		É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos do segurado, de indenização pela deterioração de carga em navio por falhaem contêiner. 
Aplica-se, neste caso, o art. 8º do Dec-Lei 116/67, que trata sobre o prazo prescricional envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de carga. 
Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do CC considerando que se trata de norma geral e, por isso, não revogou o art. 8º do DL 116/67, que é considerado norma especial. 
Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua vigente: 
Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.278.722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/5/16 (Info 586).
17.3. Legalidade de cláusula de raio em contrato de locação de espaço em shopping center – (Info 585) – IMPORTANTE!!!
		Em tese, não é abusiva a previsão, em normas gerais de empreendimento de shopping center ("estatuto"), da denominada "cláusula de raio", segundo a qual o locatário de um espaço comercial se obriga - perante o locador - a não exercer atividade similar à praticada no imóvel objeto da locação em outro estabelecimento situado a um determinado raio de distância contado a partir de certo ponto do terreno do shopping center. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.535.727-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 10/5/16 (Info 585).
	OBS:
Controle judicial sobre cláusulas empresariais é restrito:O shopping center constitui uma estrutura comercial híbrida e peculiar e o contrato firmado com os locatários possui diversas cláusulas extravagantes que têm como objetivo fazer com que o negócio tenha o retorno econômico planejado, além de fazer com que se mantenha como centro comercial atrativo aos consumidores. Assim, para o sucesso e viabilização econômica/administrativa do shopping center, os comerciantes interessados aceitam se vincular a uma modalidade específica de contratação, não podendo alegar que tais cláusulas são abusivas. O controle judicial sobre eventuais cláusulas abusivas em contratos de cunho empresarial deve ser restrito, porque aqui vigora o princípio da autonomia privada, da livre iniciativa, do pacta sunt servanda, da função social da empresa e da livre concorrência de mercado.
Não se trata de mero contrato de adesão: Os ajustes locatícios, notadamente aqueles firmados para locação de espaço em shopping center, não constituem mero contratos de adesão, pois são de livre estipulação/comutativo entre os contratantes, sem a preponderância de um sobre outro. Assim, tanto o locador como o locatário estão livres para pactuarem as cláusulas contratuais que melhor assistam às suas necessidades.
Não há prejuízo aos consumidores: A "cláusula de raio" não prejudica os consumidores. O simples fato de o consumidor não encontrar em todos os shopping centers que frequenta determinadas lojas não implica efetivo prejuízo a ele, pois a instalação dos lojistas em tais ou quais empreendimentos depende, categoricamente, de inúmeros fatores. De fato, a lógica por detrás do empreendimento se sobrepõe à pretensão comum do cidadão de objetivar encontrar, no mesmo espaço, todas as facilidades e variedades pelo menor preço e distância.
Direito de propriedade: Ademais, nos termos do ordenamento jurídico pátrio, ao proprietário de qualquer bem móvel ou imóvel - e aqui se inclui o(s) dono(s) de shopping center - é assegurado o direito de usar, gozar e dispor de seus bens e, ainda, de reavê-los do poder de quem injustamente os possua. Denota-se que, para o exercício desses atributos inerentes à propriedade, principalmente a permissão do uso por terceiros, pode o proprietário impor limites e delimitar o modo pelo qual essa utilização deverá ser realizada. Assim, diversas são as restrições que pode o dono impor aos usuários do estabelecimento (vestimentas, ingresso com animais, horário de funcionamento, entre outros) e, como já mencionado antecedentemente, inúmeras são as cláusulas contratuais passíveis de inserção nos contratos de locação atinentes aos centros comerciais híbridos, sem que se possa afirmar, genérica e categoricamente, sejam elas abusivas ou ilegais, uma vez que, em última análise, visam garantir a própria viabilidade do uso, a implementação do empreendimento e, pois, o alcance e incremento real da função social da propriedade.
Conquista de mercado: Além do mais, o fato de shopping center exercer posição relevante no perímetro estabelecido pela "cláusula de raio" não significa que esteja infringindo os princípios da ordem econômica estampados na CF/88, visto que inserções de "cláusulas de raio" em determinados contratos de locação são realizadas com o propósito de servir à logística do empreendimento. Aliás, a conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores não caracteriza ilícito, tanto que prevista como excludente de infração da ordem econômica (§ 1º do art. 36 da Lei nº 12.529/2011).
Pode-se dizer que a cláusula de raio é proibida pela Súmula 646 do STF ("Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área")? NÃO. A Súmula 646 do STF não diz respeito às cláusulas contratuais estabelecidas em pactos firmados entre locador e locatário. Ela se refere apenas a leis municipais, ou seja, a situações em que o próprio poder público impede e inviabiliza a implementação do princípio da livre concorrência. O enunciado não tem relação, portanto, com contratos empresariais.
17.4. Vedação de repasse ao sacado de despesas referentes a tarifa de emissão de boleto bancário – (Info 578) – IMPORTANTE!!! – (Cartórios/TJRJ-2017)
		É abusiva a cobrança ou o repasse, pelo atacadista (beneficiário) ao varejista (pagador), de despesa referente a tarifa de emissão de boleto bancário. 
STJ. 3ª T., REsp 1.568.940-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 1º/3/16 (Info 578).
	OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "DistriDroga" é uma grande distribuidora de remédios. Ela é responsável por comprar os remédios das indústrias farmacêuticas e distribuí-los (revendê-los) para todas as drogarias do Estado. Quando a drogaria encomenda os remédios que quer comprar, a distribuidora emite um boleto bancário para que a farmácia efetue o pagamento. A distribuidora é a cedente do título e a drogaria que comprou o medicamento é o sacado. Ocorre que a distribuidora cobra R$ 1,80 das drogarias por cada boleto bancário que emite, afirmando que faz isso para cobrir os custos, já que os bancos exigem dela este valor. As drogarias (varejistas) são pequenas e não têm condições de, individualmente, discutir cláusulas contratuais com a distribuidora (atacadista), que é maior em termos de poderio econômico. Diante disso, o sindicato das drogarias e farmácias ingressou com ação de obrigação de fazer contra a distribuidora requerendo que esta seja condenada a se abster de cobrar ou repassar as despesas para as varejistas quanto aos custos de emissão dos boletos bancários. Após ser julgado pelo juiz e pelo TJ, a questão chegou até o STJ.
O pedido do sindicato foi aceito? SIM. A tarifa bancária pela emissão de boletos é algo cobrado pelos bancos com base em um contrato firmado exclusivamente entre a instituição financeira e o cedente do título, no caso, o fornecedor, com a finalidade de remunerar pelo fato de este fornecedor estar se utilizado da rede bancária como um mecanismo de arrecadação pela venda de seus produtos. Logo, considerando-se que referida tarifa é fruto de negociação entre o cedente (fornecedor/atacadista) e o banco, não se pode perder de vista que a discussão aqui travada encontra-se no âmbito específico da atividade bancária, matéria que, nos termos da Lei nº 4.595/64, rege-se pelas disposições do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do Brasil (BC). Nesse contexto, foi editada a Resolução nº 3.919/2010, que estabeleceu o seguinte:
Art. 1º (...)
§ 2º É vedada a realização de cobranças na forma de tarifas ou de ressarcimento de despesas:
(...)
II - do sacado, em decorrênciada emissão de boletos ou faturas de cobrança, carnês e assemelhados.
Dessa forma, o referido dispositivo proíbe que seja cobrado do sacado o ressarcimento das despesas realizadas com a emissão de boletos. Nesse contexto, não se afigura razoável o repasse da cobrança de tarifa que, por força de Resolução do CMN, é considerada ilegal e cuja pactuação não foi negociada com o sacado. A proibição deste repasse ao sacado não fere os princípios da liberdade de contratar, da probidade e da boa-fé. Isso porque a matéria não é apenas contratual e está inserida também no âmbito do sistema financeiro, especialmente no que tange à atividade de intermediação financeira, de modo que a liberdade de contratar encontra limites que se operam em prol da higidez e da estabilidade de todo o sistema. Vale ressaltar, por fim, que os bancos não podem mais cobrar tarifas pela emissão de boletos, conforme expresso em entendimento sumulado do STJ:
Súmula 565-STJ: A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida apenas nos contratos bancários anteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/4/2008.
17.5. TRESPASSE: Validade da cláusula de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente – (Info 561)
		É válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente. Isso porque esse tipo de cláusula protege a concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente. 
Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade empresária concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que por um prazo certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e espacialmente). 
Ex: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré-pagos etc. Para isso, ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por meio da qual ele somente iria vender os produtos e serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a ele preços diferenciados, consultoria e treinamento para abrir a loja. No contrato assinado com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava proibido, por 6 meses após a extinção do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela cidade. Essa cláusula de não concorrência é válida. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.203.109-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015 (Info 561).
18. CONTRATO DE LOCAÇÃO DE ESPAÇO EM SHOPPING CENTER 
18.1. Legitimidade ativa para pleitear de empreendedor de shopping center indenização por danos causados ao estabelecimento – (Info 589)
		Foi firmado um contrato entre o sócio, enquanto pessoa física, e a administradora do shopping para a locação de um espaço para funcionamento de uma loja. 
O contrato foi, portanto, assinado pela pessoa física do sócio. 
Se esta loja sofrer prejuízos causados pelo shopping, a pessoa jurídica poderá ajuizar ação contra a administradora do shopping. 
Assim, ainda que no contrato de locação estabelecido com o empreendedor de shopping center conste como locatário apenas o sócio majoritário, a sociedade empresária possui legitimidade ativa ad causam concorrente para pleitear indenização por danos ao estabelecimento instalado no centro comercial. 
Em um contrato de shopping center, a sociedade empresária tem legitimidade ativa ad causam, em concorrência com o locatário (pessoa física), para demandar o empreendedor nas causas em que houver interesses relativos ao estabelecimento empresarial, desde que, no contrato firmado entre as partes, haja a expressa destinação do espaço para a realização das atividades empresariais da sociedade da qual faça parte. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.358.410-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 4/8/16 (Info 589).
	OBS:
"Societas distat a singulis": Existe um brocardo que apregoa societas distat a singulis, o que significa, em linhas gerais, que a pessoa jurídica tem existência distinta da dos seus membros. Esse brocardo tem grande aplicação sob o ponto de vista patrimonial. De fato, em regra, vigora o princípio da autonomia patrimonial, de forma que o patrimônio da pessoa jurídica é diferente do patrimônio de seus sócios. Como exceção a essa regra, temos as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica.
Mitigação deste brocardo: Estabelecimento (ou fundo de comércio) é o conjunto de bens (materiais e imateriais) e serviços que o empresário reúne e organiza com o objetivo de realizar a atividade empresarial e gerar lucros. Seu conceito legal está previsto no art. 1.142 do CC/02:
Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.
Vimos acima que, sob o ponto de vista patrimonial, o princípio societas distat a singulis é aplicado de forma bem intensa. No entanto, sob a perspectiva do estabelecimento, há uma mitigação do referido axioma latim. Quando falamos em estabelecimento empresarial, existe uma absoluta sintonia de interesses da pessoa física com a jurídica, interesses que estão diretamente ligados ao aviamento.
Aviamento é o conjunto de fatores pessoais, materiais e imateriais, que fazem com que um estabelecimento dê certo e gere lucros.
O que se quer dizer com tudo isso é o seguinte: se a pretensão a ser defendida em juízo diz respeito ao estabelecimento, neste caso, a ação poderá ser proposta não apenas pela sociedade empresária (pessoa jurídica), mas também pelos seus sócios porque estes, como também almejam os mesmos objetivos, possuem interesses juridicamente protegidos capazes de habilitá-los como titulares de direito material, podendo, eventualmente, deduzi-los em juízo.
Conceito de estabelecimento não abrange todos os bens da pessoa jurídica: O estabelecimento não abrange necessariamente todos os bens pertencentes à pessoa jurídica, mas apenas aqueles que estejam voltados para o exercício da atividade empresarial. Nesse sentido:
"O estabelecimento, como conjunto de bens afetados ao exercício da atividade do empresário, pode não abranger a totalidade de seu patrimônio. É, tão somente, a parcela do patrimônio do empresário composta por aqueles bens por ele utilizados para o exercício de sua atividade. Outros bens que integrem o patrimônio do empresário sem tal destinação, não se enquadram na noção do estabelecimento.
Assim, não se considera pertencente ao estabelecimento a casa de moradia do empresário individual, porque voltada para a finalidade distinta. Da mesma forma, um imóvel de uma sociedade empresária havido em pagamento de dívida e por ela mantido sem utilização econômica ou com destinação diversa daquela que diz respeito à sua atividade empresarial não se inclui entre os bens do seu estabelecimento." (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil. São Paulo: RT, 2016, p. 647)
Isso significa que o sócio não teria legitimidade ativa para defender em juízo um bem imóvel da pessoa jurídica que não compusesse o conceito de estabelecimento. De igual forma, a sociedade empresária só teria legitimidade para ajuizar ação defendendo um bem particular do sócio se este estivesse sendo utilizado para o exercício da atividade empresarial.
No presente caso, a sociedade empresária tem legitimidade porque possui, assim como o sócio, o interesse de resguardar todo o complexo de bens que compõe o estabelecimento.
Aplicação analógica da Lei 8.245/91: A fim de corroborar a tese adotada, é possível aplicar ainda ao caso concreto o art. 51, §2º, da Lei 8.245/91, que trata sobre as ações renovatórias:
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:
(...)
§ 2º Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividadesde sociedade de que faça parte e que a esta passe a pertencer o fundo de comércio, o direito a renovação poderá ser exercido pelo locatário ou pela sociedade.
18.2. Validade da cláusula de 13º aluguel em contrato de locação de espaço em shopping center – (Info 582) – (Anal. Judic./TRT7-2017)
		Não é abusiva a mera previsão contratual que estabelece a duplicação do valor do aluguel no mês de dezembro em contrato de locação de espaço em shopping center. 
Assim, é válida a chamada cláusula de "aluguel dúplice" (ou "13º aluguel") nos contratos de locação de espaço em shopping center. 
Fundamento: princípio da autonomia privada. 
STJ. 3ª T. REsp 1.409.849-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/4/16 (Info 582).
	(Anal. Judic./TRT7-2017-CESPE): Em contrato de locação de loja em determinado shopping center consta cláusula que prevê o pagamento do décimo terceiro aluguel. Com base na legislação pertinente a contratos de locação, é correto afirmar que a referida cláusula é válida, por ser mera previsão contratual. BL: Info 582, STJ e art. 54 da Lei de Locações.
	OBS:
O que rege o contrato de locação de espaços em shopping center? É regido, primordialmente, pelas condições fixadas entre as partes, aplicando-se apenas as disposições sobre procedimento previstas na Lei de Locações. Nesse sentido, confira a redação do art. 54 da Lei nº 8.245/91:
Art. 54. Nas relações entre lojistas e empreendedores de shopping center, prevalecerão as condições livremente pactuadas nos contratos de locação respectivos e as disposições procedimentais previstas nesta lei.
19. CONTRATOS BANCÁRIOS 
19.1. Banco que, após notificar a corretora de Bitcoin, decide encerrar contrato de conta-corrente com a empresa não pratica ato que configure abuso de direito – (Info 636) – IMPORTANTE!!! – (TRF3-2018)
	A empresa corretora de Bitcoin que celebra contrato de conta-corrente com o banco para o exercício de suas atividades não pode ser considerada consumidora. Não se trata de uma relação de consumo.
A empresa desenvolve a atividade econômica de intermediação de compra e venda de Bitcoins. Para realizar essa atividade econômica, utiliza o serviço de conta-bancária oferecido pela instituição financeira.
Desse modo, a utilização desse serviço bancário (abertura de conta-corrente) tem o propósito de incrementar sua atividade produtiva de intermediação, não se caracterizando, portanto, como relação jurídica de consumo, mas sim de insumo.
Em outras palavras, o serviço bancário de conta-corrente é utilizado como implemento de sua atividade empresarial, não se destinando, pois, ao seu consumo final. Logo, não se aplicam as normas protetivas do CDC.
	Banco que, após notificar a corretora de Bitcoin, decide encerrar contrato de conta-corrente com a empresa, não pratica ato que configure abuso de direito
O encerramento de conta-corrente usada na comercialização de criptomoedas, observada a prévia e regular notificação, não configura prática comercial abusiva ou exercício abusivo do direito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1696214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 9/10/18 (Info 636).
	OBS:
Criptomoeda: Em palavras muito simples (sem tanto rigor técnico, para facilitar o entendimento), criptomoedas (cryptocurrencies) são moedas “digitais” (também chamadas de “moedas virtuais” ou “moedas criptografárias”). É como se fosse um “dinheiro” que não existe fisicamente (só existe virtualmente), mas que, apesar disso, pode ser utilizado para comprar mercadorias ou remunerar serviços. Em uma frase: é um dinheiro virtual. Existem atualmente várias espécies de criptomoedas no mundo. Alguns exemplos: Bitcoin, Ether, Cardano, Litecoin, Stellar etc.
Curiosidade: cripto é uma palavra originária do grego Kryptose significa algo que é oculto, escondido. Daí vem a palavra criptografia, ou seja, que consiste na aplicação de técnicas para tornar a escrita codificada. Ex: o Whatsapp, ao transmitir uma mensagem de um usuário para outro, utiliza técnicas de criptografia, ou seja, durante a transmissão pela internet, a mensagem vai de forma codificada, de modo que, mesmo se alguém conseguir interceptá-la, irá ler apenas códigos (e não a mensagem propriamente). As criptomoedas também se utilizam de técnicas de criptografia.
 
Bitcoin: Bitcoiné considerada a primeira criptomoeda criada no mundo, sendo a mais famosa delas. Foi criada em 2008 por uma pessoa que utilizou o pseudônimo de Satoshi Nakamoto e até hoje não se sabe a sua real identidade. Este é o símbolo do bitcoin: ₿. Sua abreviatura é: BTC ou XBT. Veja a definição dada por André Luiz Santa Cruz Ramos:
“O bitcoin é uma criptomoeda que utiliza uma tecnologia ponto a ponto (peer-to-peer) para criar um sistema de pagamentos on-line que não depende de intermediários e não se submete a nenhuma autoridade regulatória centralizadora. O código do bitcoin é aberto, seu design é público, não há proprietários ou controladores centrais e qualquer pessoa pode participar do seu sistema de gerenciamento coletivo. Enfim, o bitcoin é uma inovação revolucionária porque é o primeiro sistema de pagamentos totalmente descentralizado.” (Ramos, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial. 8ª ed., São Paulo: Método, 2018, p. 529)
 
Vale ressaltar que os Bitcoins (e demais moedas virtuais) não são autorizados nem regulamentados pelo Banco Central. Não fazem parte do sistema bancário oficial. De igual forma, as empresas que negociam ou guardam moedas virtuais não são autorizadas nem reguladas pelo BACEN.
Já foi cobrado em concursos:
· (TRF3-2018): Sobre bitcoin, assinale a alternativa CORRETA: Não é regulada pelo Bacen (Banco Central do Brasil).
Juridicamente, podemos dizer que Bitcoin é uma moeda eletrônica? NÃO. A legislação utiliza a nomenclatura “moeda eletrônica” para outra situação. Segundo a Lei nº 12.865/2013, “moeda eletrônica” são os “recursos armazenados em dispositivo ou sistema eletrônico que permitem ao usuário final efetuar transação de pagamento” (art. 6º, VI). Assim, “moeda eletrônica”, para a legislação brasileira, é o dinheiro, em Reais, mantido em meio eletrônico que permita ao usuário realizar pagamentos. Desse modo, as “moedas virtuais” (como é o caso do Bitcoin) não se confundem com a “moeda eletrônica” prevista na legislação.
Quem controla e registra essas transações em bitcoin? Ex: João transfere 10 BTC para Pedro; onde essa operação fica registrada? Onde o saldo de bitcoins das pessoas fica registrado? As criptomoedas em geral e, especificamente o bitcoin, são consideradas moedas descentralizadas. Isso porque adotam um controle descentralizado baseado em uma tecnologia chamada de blockchain ou “protocolo da confiança”. Em uma definição muito rudimentar e simplificada, o blockchain é como se fosse um arquivo virtual (um banco de dados ou livro-registro virtual) onde são registradas todas as transações envolvendo os bitcoins. Existem cópias deste banco de dados em milhares de computadores espalhados pelo mundo, sendo isso distribuído por meio de uma rede virtual ponto-a-ponto (peer-to-peer). Assim, todos possuem uma cópia igual de todo o histórico de transações. Com isso, garante-se que as informações ali contidas não sejam perdidas nem adulteradas.
 
Características principais: A partir do que foi exposto, podemos apontar três importantes características das moedas virtuais:
1) incorporeidade;
2) desnecessidade de um terceiro intermediário para realização de transações e
3) ausência de uma autoridade central emissora e controladora.
 
1) Incorporeidade
Trata-se de uma moeda “virtual” (incorpórea), ou seja, não existe lastro físico.
 
2) Desnecessidade de intermediário
Se a pessoa vai comprar um produto pela internet pagando com moeda tradicional (com “Real”), ela precisará de uma instituição financeira intermediária, ou seja, um banco ou operadora de cartão de crédito que irá intermediar essa transação entre o comprador e o vendedor. Funciona assim: o comprador transfere o dinheiro para a instituição financeira e esta repassa ao vendedor. Essa intermediação fica registrada e o intermediáriorecebe por isso. Como essas operações ocorrem em frações de segundos, nós praticamente não percebemos. Com o Bitcoin, não existe essa intermediação. O comprador transfere diretamente o dinheiro virtual para o comprador. É como se o comprador tivesse encontrado fisicamente o vendedor e tivesse entregado a ele o dinheiro, porém feito virtualmente. Isso é chamado de “mercado P2P” (ou seja, entre pessoas, sem intermediários).
 
3) Ausência de autoridade central
O Bitcoin, e as demais criptomoedas, são chamadas de moedas descentralizadas, porque não são controladas por um Banco Central ou por algum órgão governamental, como as moedas tradicionais. O controle e o registro são feitos, em tese, por toda a comunidade, por intermédio da tecnologia de blockchain.
 
Como comprar e vender moedas virtuais (ex: Bitcoins)? É possível comprar Bitcoins diretamente de alguém que possua (em um marketplace), no entanto, a forma mais comum é por meio de corretoras de Bitcoins (exchanges). Assim, existem corretoras, ou seja, empresas que fazem a atividade de compra e venda de criptomoedas. A pessoa interessada entra no site, faz uma conta gratuita e informa quantos Bitcoins deseja comprar. Depois disso, faz a transferência bancária do correspondente valor em reais. Ela, então, irá ter uma carteira digital de Bitcoins, que estará armazenada no blockchain e poderá utilizar livremente esse dinheiro virtual. Desse modo, a corretora é como se fosse uma “casa de câmbio”, onde você vai trocar seu dinheiro por uma moeda estrangeira. No caso, o Bitcoin (uma moeda universal). Atualmente (janeiro de 2019), 1 Bitcoin está valendo, aproximadamente, R$ 14.600,00. Vale ressaltar, no entanto, que é possível comprar menos que 1 Bitcoin. Obviamente, assim como funciona nas casas de câmbio, o valor do Bitcoin na corretora é, em geral, mais caro do que no livre comércio. Algumas pessoas ficaram ricas comprando Bitcoins. Isso porque em 2011, por exemplo, 1 Bitcoin valia R$ 15,00. Se a pessoa acreditou e comprou a moeda naquela época guardando até hoje, terá realizado o lucro de uma grande valorização.
 
Bitcoins e criminalidade: As criptomoedas foram uma invenção espetacular e representarão, sem dúvidas, o futuro das transações monetárias no mundo. Ocorre que tudo na vida pode ser utilizado para o bem ou para o mal. Nos pagamentos feitos com Bitcoins, é possível que o comprador permaneça anônimo. Com isso, em tese, a moeda pode ser utilizada para pagamento de crimes e também para lavagem de dinheiro, tendo em vista seu potencial de irrastreabilidade. Desse modo, em tese, seria possível, por exemplo, comprar armamentos, drogas e outros produtos ilícitos por meio de operações feitas na deepweb e com pagamento em Bitcoins. Também seria possível pagar propinas a agentes públicos por meio de Bitcoins. Por essas razões, algumas pessoas, de forma injusta, associam as criptomoedas à criminalidade. No entanto, conforme já explicado, o Bitcoin e as demais moedas não têm, em si, nada de ilegal. A utilização irregular desses instrumentos é que pode vir a ser criminosa. Alguns criminosos utilizam os Bitcoins para praticar delitos assim como utilizam dinheiro real, computadores, celulares, carros etc.
 
Feita esta breve e rudimentar explicação, imagine a seguinte situação enfrentada pelo STJ (com algumas adaptações): Mercado Bitcoin Serviços Digitais Ltda. é uma das principais empresas que oferece o serviço de compra e venda de Bitcoins. Podemos dizer que ela é uma corretora de criptomoedas. Isso porque ela é responsável por intermediar a comercialização de Bitcoin. Conforme já explicado, a pessoa interessada em Bitcoins faz um depósito na conta bancária da “Mercado Bitcoin” e esta vende o Bitcoin para o usuário. Ex: Felipe deseja comprar 10 Bitcoins. Para tanto, deposita R$ 146.000,00 na conta da “Mercado Bitcoin”. Em compensação, esta empresa irá depositar 10 Bitcoins na conta virtual de Felipe. Desse modo, a empresa “Mercado Bitcoin” precisa, obrigatoriamente, de um conta bancária tradicional para realizar sua atividade econômica, tendo em vista que recebe dinheiro em moeda tradicional em troca de Bitcoins. Durante meses, a empresa utilizou para isso uma conta bancária no Itaú. Ocorre que, determinado dia, o Banco Itaú enviou uma notificação extrajudicial para a “Mercado Bitcoin” informando que sua conta bancária seria encerrada dentro de 30 dias em razão de “desinteresse comercial”, ou seja, a instituição financeira comunicou que não mais tinha interesse comercial em ter a empresa como cliente.
 
Ação de obrigação de fazer: Diante disso, a “Mercado Bitcoins” ingressou contra o Banco Itaú S.A. com ação de obrigação de fazer pedindo para que o banco mantenha a conta-corrente encerrada. A autora argumentou que o encerramento da conta configurou prática abusiva e ato ilícito por parte do banco, violando o art. 39, IX, do CDC, além do configurar abuso de direito (art. 187 do Código Civil):
CDC, Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (...)
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais;
 
CC/02, Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
 
Primeira pergunta: pode ser aplicado, no caso, o CDC para esta relação jurídica? NÃO. Foi um dos pontos decididos pelo julgado veiculado no Info 636 do STJ.
Vários bancos têm se negado a fornecer serviço de conta-corrente para as corretoras de Bitcoins. São acusadas de fazer isso para evitar o crescimento das criptomoedas, o que poderia produzir impacto no faturamento das instituições financeiras. Os bancos, ao negarem esse serviço, praticam ato ilícito? A conduta do Banco Itaú, que encerrou a conta-bancária da “Mercado Bitcoin”, foi considerada, pelo STJ, como prática comercial abusiva? NÃO. O encerramento de conta-corrente usada na comercialização de criptomoedas, observada a prévia e regular notificação, não configura prática comercial abusiva ou exercício abusivo do direito. STJ. 3ª Turma. REsp 1.696.214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 9/10/18 (Info 636).
 
Direito subjetivo: O encerramento do contrato de conta-corrente é corolário (uma consequência) da autonomia privada. Trata-se de um direito subjetivo exercitável por qualquer das partes contratantes, desde que observada a prévia e regular notificação. O Conselho Monetário Nacional, conforme prevê a Lei 4.595/64, possui a competência para regulamentar o funcionamento dos serviços bancários. O art. 12 da Resolução BACEN/CMN 2.025/93 permite que o banco ou o cliente, livremente, encerrem o contrato de conta-corrente, observada apenas a necessidade de, previamente, fazer a comunicação do outro. Vale ressaltar que, mesmo em se tratando de relação de consumo, o STJ possui precedentes dizendo que o banco pode encerrar a conta-bancária do cliente sem que isso configure prática abusiva, não se aplicando a regra do art. 39, IX, do CDC aos bancos:
Os contratos bancários envolvem análise de riscos, entre outras peculiaridades, de modo que não há como se impor aos bancos a obrigação de contratar prevista no inciso IX do art. 39 do CDC. Conforme a Resolução BACEN/CMN nº 2.025/93, com a redação dada pela Resolução BACEN/CMN nº 2.747/00, podem as partes contratantes rescindir unilateralmente os contratos de conta-corrente e de outros serviços bancários. STJ. 4ª Turma. REsp 1538831/DF, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/8/15.
 
A recusa é legítima sob o aspecto institucional: Desse modo, é legítima, sob o aspecto institucional, a recusa da instituição financeira em manter o contrato de conta-corrente, utilizado como insumo pela corretora de Bitcoins, no desenvolvimento da atividade empresarial.
 
A recusa também é legítima sob o aspecto mercadológico: De igual modo, sob o aspecto mercadológico, também se afigura legítima a recusa em mantera contratação. Como a atividade empresarial da corretora de Bitcoins concorre com as atividades da instituição financeira, não se pode dizer que a recusa do banco em fornecer o serviço a ela seja abusiva. Não há, em princípio, abuso de direito porque se trata de proteção dos interesses comerciais da instituição.
 
Infração à ordem econômica: Vale ressaltar que, durante os debates, surgiu a discussão sobre a possiblidade de a conduta do banco se enquadrar em infração à ordem econômica, nos termos da Lei nº 12.529/2011. Ocorre que essa Lei não foi prequestionada, de forma que o STJ não poderia fazer a análise do caso com base nela sem que tivesse tido seu enfrentamento pelas instâncias ordinárias.
19.2. A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo devedor? – (Info 605) – IMPORTANTE!!!
		· Contratos celebrados antes da Resolução CMN nº 3.516/07 (antes de 10/12/07): SIM 
· Contratos firmados depois da Resolução CMN nº 3.516/07 (de 10/12/07 para frente): NÃO 
Assim, para as operações de crédito e arrendamento mercantil contratadas antes de 10/12/07 (data de publicação da referida Resolução), podem ser cobradas tarifas pela liquidação antecipada no momento em que for efetivada a liquidação, desde que a cobrança dessa tarifa esteja claramente identificada no extrato de conferência. 
É permitida, desde que expressamente pactuada, a cobrança da tarifa de liquidação antecipada de mútuos e contratos de arrendamento mercantil até a data da entrada em vigor da Resolução nº 3.501/2007 (10/12/2007).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.144-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/2/17 (Info 597).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.392.449-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 24/5/17 (Info 605).
	OBS:
Art. 52 (...)
§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.
Assim, a liquidação antecipada consiste na quitação, total ou parcial, de uma dívida antes do seu vencimento, acarretando a redução proporcional dos juros e demais acréscimos.
Resolução CMN nº 3.516/2007: Antes da Resolução CMN nº 3.516/2007 não havia proibição para esta prática, de forma que o STJ considera que ela era permitida. No entanto, a Resolução CMN nº 3.516/2007, em seu art. 1º, proibiu expressamente a cobrança. Veja:
Art. 1º Fica vedada às instituições financeiras e sociedades de arrendamento mercantil a cobrança de tarifa em decorrência de liquidação antecipada nos contratos de concessão de crédito e de arrendamento mercantil financeiro, firmados a partir da data da entrada em vigor desta resolução com pessoas físicas e com microempresas e empresas de pequeno porte de que trata a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.
19.3. Período de legalidade da cobrança de tarifa de renovação de cadastro (TRC) – (Info 584)
		É válida cláusula contratual que prevê a cobrança da tarifa de renovação de cadastro (TRC) em contrato bancário celebrado ainda no período de vigência da Circular 3.371/07 do BACEN, considerando que ela autorizava que os bancos exigissem a TRC. 
Posteriormente, com a edição da Circular 3.466/2009 do BACEN, que entrou em vigor no dia 14/09/09, foi proibida a cobrança da referida tarifa. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.646-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 10/5/16 (Info 584).
20. CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL 
20.1. Presunção da existência de exclusividade em zona – (Info 601)
		É possível presumir a existência de exclusividade em zona de atuação de representante comercial quando:
a) não houver previsão expressa em sentido contrário; e
b) houver demonstração por outros meios da existência da exclusividade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.077-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 9/3/2017 (Info 601).
20.2. Denúncia do contrato e concessão de aviso prévio – (Info 546)
		Não é devida a verba atinente ao aviso prévio – um terço das comissões auferidas pelo representante comercial nos três meses anteriores à resolução do contrato (art. 34 da Lei 4.886/1965) –, quando o fim do contrato de representação comercial se der por justa causa. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.190.425-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2/9/14 (Info 546).
	OBS:
O art. 34 da Lei 4.886/65 estabelece a seguinte regra:
Art. 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do contrato de representação, ajustado por tempo indeterminado e que haja vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante, salvo outra garantia prevista no contrato, à concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de trinta dias, ou ao pagamento de importância igual a um terço (1/3) das comissões auferidas pelo representante, nos três meses anteriores.
Pela leitura do dispositivo, percebe-se que poderá haver a denúncia do contrato de representação por qualquer das partes, mesmo que sem justo motivo, desde que seja concedido o aviso prévio de 30 dias ou paga indenização ao prejudicado.
Essa regra, contudo, não se aplica quando o fim do contrato de representação comercial ocorrer por justa causa. Reconhecida a existência de justa causa, não é necessário que se dê o aviso prévio de 30 dias nem que seja paga a indenização de 1/3 das comissões.
Segundo explica Rubens Requião, “o aviso prévio é incompatível com a arguição de falta grave cometida pela outra parte. Assim, se cometida falta grave, a denúncia do contrato, seja de agência, seja de representação comercial, terá natureza abrupta, rompendo-se o contrato tão logo a denúncia chegue ao conhecimento da parte faltosa” (REQUIÃO, Rubens Edmundo. Nova regulamentação da representação comercial autônoma. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 153).
Assim, o art. 34 da Lei 4.886⁄65 somente incide no caso de denúncia vazia (sem justa causa) do contrato por qualquer das partes, não sendo aplicado nos casos em que uma das partes toma a iniciativa de romper o contrato diante da existência de motivo justo, conforme previsto na lei especial de regência.
21. DIREITOS ANTIDUMPING 
21.1. A retenção de mercadoria importada até o pagamento dos direitos antidumping não viola o enunciado da Súmula 323 do STF – (Info 636) - ATENÇÃO! Juiz Federal, em especial TRF4!!!
		A retenção de mercadoria importada até o pagamento dos direitos antidumping não viola o enunciado da Súmula 323 do STF.
Súmula 323-STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos.
A exigência do pagamento dos direitos antidumping como condição para a liberação das mercadorias importadas não significa apreensão, mas tão somente a sua retenção enquanto se aguarda o desembaraço aduaneiro. 
A retenção das mercadorias trazidas para o Brasil e a exigência de recolhimento dos tributos e multa é um procedimento que integra a operação de importação.
STJ. 1ª Turma. REsp 1728921-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 16/10/2018 (Info 636).
21.2. Suspensão da exigibilidade do direito antidumping provisório – (Info 584)
		Não se pode aceitar as máquinas do importador como caução idônea (garantia) para liberar as mercadorias importadas e que estão sujeitas a direitos antidumping provisórios. 
Isso porque o art. 3º da Lei 9.019/95 prevê que a exigibilidade dos direitos provisórios poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a critério da CAMEX, desde que o importador ofereça garantia mediante: depósito em dinheiro ou fiança bancária.
Essas hipóteses do art. 3º são taxativas e, portanto, não se admite como garantia o oferecimento de maquinário. 
A suspensão da exigibilidade do direito provisório é um benefício excepcional e, portanto, não se pode permitir a interpretação extensiva do art. 3º para alcançar outras formas de garantias nele não previstas, sob pena de o Poder Judiciário atuar como legislador positivo e afrontar o princípio da separação dos poderes. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.516.614-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 10/5/16 (Info 584).
	OBS:
Dumping: "O dumping consiste na conduta dos agentes econômicos que vendem os seus produtos fora do país abaixo do custo de produção e tambémpor preço inferior aos cobrados no país de origem." (MASSO, Fabiano Del. Direito Econômico esquematizado. São Paulo: Método, 2ª ed., p. 283).
Trata-se de uma prática comercial predatória por meio da qual uma empresa exporta seus produtos por preços inferiores ao custo com o objetivo de fazer com que as indústrias do país importador não consigam competir e, assim, quebrem. Durante um tempo, a empresa exportadora fica suportando o prejuízo de vender suas mercadorias abaixo do custo. No entanto, depois de não ter mais concorrentes no mercado (já que eles faliram por não acompanharem os preços), a empresa que praticou o dumping aumenta absurdamente os preços de seus produtos, considerando que o público consumidor não terá mais opções de outras empresas. É uma forma, portanto, de eliminar a concorrência.

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