Buscar

Direito Empresarial STJ

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 86 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 86 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 86 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO
DIREITO EMPRESARIAL
Atualizado em 05/12/2020: novos julgados e questões de concurso.
Pontos atualizados: nº 11 (Info 656); nº 14 (Info 657); nº 05 (Info 658); nº 14 (Info 658); nº 11 (Info 659); nº 05 (Info 660); nº 14 (Info 660); nº 11 (Info 661); nº 11 (Info 676 - julgados)
1. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 
1.1. SOCIEDADE ANÔNIMA: A ação social reparatória (ut universi) ajuizada pela sociedade empresária contra ex-administradores (art. 159 da Lei das SA), depende de autorização da assembleia geral, podendo esta autorização ser comprovada após o ajuizamento da ação – (Info 653)
		A ação social reparatória (ut universi) ajuizada pela sociedade empresária contra administradores ou ex-administradores, na forma do art. 159 da Lei 6.404/76, depende de autorização da assembleia geral ordinária ou extraordinária.
A redação do art. 159 da LSA afirma que esta autorização é prévia, ou seja, a autorização deveria ser obtida antes do ajuizamento da ação, sendo juntada com a petição inicial da demanda.
Vale ressaltar, contudo, que a jurisprudência admite que essa autorização assemblear seja obtida mesmo após a propositura da ação social.
Assim, ainda que a ação social tenha sido proposta sem a autorização, é possível que este vício seja sanado e que a assembleia-geral confira a autorização durante a tramitação.
Isso se justifica porque essa autorização está relacionada com a capacidade da companhia de estar em juízo (legitimatio ad processum). Logo, eventual irregularidade pode vir a ser sanada após o ajuizamento da ação, devendo o juiz designar prazo para que a sociedade anônima faça a regularização na forma do art. 76 do CPC/2015 (Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício).
Art. 159. Compete à companhia, mediante prévia deliberação da assembleia-geral, a ação de responsabilidade civil contra o administrador, pelos prejuízos causados ao seu patrimônio.
STJ. 3ª T. REsp 1778629-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 6/8/19 (Info 653).
1.2. SOCIEDADE LIMITADA: A sucessão civil e processual dos sócios de sociedade limitada, extinta por meio do distrato, poderá ser efetivada por meio do procedimento de habilitação, mas não pela via da desconsideração da personalidade jurídica – (Info 646)
		A extinção da pessoa jurídica se equipara à morte da pessoa natural (art. 110 do CPC/2015), atraindo a sucessão material e processual com os temperamentos próprios do tipo societário e da gradação da responsabilidade pessoal dos sócios.
Em sociedades de responsabilidade limitada, após integralizado o capital social, os sócios não respondem com seu patrimônio pessoal pelas dívidas titularizadas pela sociedade, de modo que o deferimento da sucessão dependerá intrinsecamente da demonstração de existência de patrimônio líquido positivo e de sua efetiva distribuição entre seus sócios.
A demonstração da existência de fundamento jurídico para a sucessão da empresa extinta pelos seus sócios poderá ser objeto de controvérsia a ser apurada no procedimento de habilitação, que é previsto no art. 687 do CPC/2015, aplicável por analogia à extinção de empresas no curso de processo judicial.
A desconsideração da personalidade jurídica não é, portanto, via cabível para promover a inclusão dos sócios em demanda judicial, da qual a sociedade era parte legítima, sendo medida excepcional para os casos em que verificada a utilização abusiva da pessoa jurídica.
STJ. 3ª T. REsp 1.784.032-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 2/4/19 (Info 646).
	OBS:
Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º.
Art. 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados houverem de suceder-lhe no processo.
1.3. SOCIEDADE LIMITADA: Ex-sócio de sociedade limitada não é responsável por obrigação contraída após sua saída da empresa – (SEM INFO)
		Na hipótese de cessão de quotas sociais, a responsabilidade do cedente pelo prazo de até 2 anos após a averbação da respectiva modificação contratual restringe-se às obrigações sociais contraídas no período em que ele ainda ostentava a qualidade de sócio, ou seja, antes da sua retirada da sociedade.
Ex: o sócio João retira-se da sociedade e a averbação dessa alteração social é levada à Junta Comercial em 18/2/14. Dessa última data conta-se o prazo de 2 anos para que os credores ou a sociedade o acionem pelas obrigações contraídas até 18/2/14. 
Essa é a interpretação dos arts. 1.003, § único, 1.032 e 1.057, § único, do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1537521/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 5/2/19.
1.4. A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa – (Info 632)
		A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.
Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.
STJ. 3ª Turma. REsp 1677983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 26/6/18 (Info 632).
1.5. Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas), para a ação de complementação de ações – (Info 630)
		Legitimidade passiva da Telebrás (antiga empresa estatal), bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas), para a ação de complementação de ações, na hipótese em que as ações originárias tenham sido emitidas pela Telebrás.
A legitimidade passiva para a demanda por complementação de ações é definida de acordo com as seguintes hipóteses:
1) Contrato de participação financeira celebrado com companhia independente não controlada pela TELEBRÁS (ex.: CRT S/A): legitimidade passiva da companhia independente, ou da sucessora desta (ex.: OI S/A); 
2) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela TELEBRÁS (ex.: TELESC S/A), e emissão originária de ações pela controlada: legitimidade passiva da TELEBRÁS, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas); 
3) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela TELEBRÁS, e emissão de ações pela TELEBRÁS: legitimidade passiva da TELEBRÁS, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas). 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.801-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 23/5/18 (recurso repetitivo) (Info 630).
1.6. SOCIEDADE ANÔNIMA: Prescrição em caso de ação de exigir contas pelo pagamento de dividendos e outros rendimentos – (Info 627)
		A pretensão do titular de ações de exigir contas da sociedade anônima referente ao pagamento de dividendos, juros sobre capital próprio e demais rendimentos inerentes às respectivas ações prescreve em três anos. 
Fundamento: art. 287, II, “a”, da Lei nº 6.404/76.
STJ. 3ª Turma. REsp 1608048-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22/5/18 (Info 627).
	OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João é titular de ações nominativas da sociedade anônima “BGG S/A”. João entende que a BGG não lhe pagou os dividendos, os juros sobre capital próprio e os demais rendimentos corretamente nos últimos 6 anos. Em razão disso, João quer ajuizar ação de exigir contas contra a empresa, nos termos do art. 550 do CPC, exigindo a prestação das contas dos últimos 6 anos. Surgiu, no entanto, a dúvida a respeito do prazo prescricional.
 
João poderá pedir a prestação de contas dos últimos 6 anos? NÃO. Somente dos últimos 3 anos.
Existe a previsão expressa de um prazo para a ação de exigir contas? Não. Não há um prazo prescricional específico para o ajuizamento da ação de exigir contas, o que atrai, de modogeral, a aplicação do prazo residual de 10 anos, constante do art. 205 do CC/02:
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
 
Desse modo, em princípio, o indivíduo que confiou a administração de seus bens a um terceiro goza do prazo de 10 anos para exigir que o gestor de seus bens preste as respectivas contas. Depois que o réu apresentar as contas, se ficar constatado que havia saldo em favor do autor, será possível pedir o pagamento desta quantia no bojo da mesma ação. Veja-se que as pretensões de exigir contas e a de obter o ressarcimento, na eventualidade de se apurar a existência de crédito a favor do demandante, embora não se confundam, são umbilicalmente ligadas e instrumentalizadas no bojo da mesma ação. Em razão disso, o prazo para se exigir contas deve ser o mesmo prazo para se pedir o pagamento dos valores residuais que eventualmente existam. Logo, não havendo na lei um prazo específico para a satisfação (“cobrança”) desse crédito, oriundo da administração/gestão de bens alheios, o exercício dessa pretensão observa, naturalmente, o mesmo prazo prescricional da ação de exigir as contas em que veiculada, que é de 10 anos.
 
Prazo para cobrança de dividendos é de 3 anos e, portanto, interfere no prazo para exigir contas: O titular ações de uma sociedade anônima possui o prazo prescricional de 3 anos para exigir o pagamento dos dividendos. Isso está previsto no art. 287, II, da Lei 6.404/76 (Lei das SA):
Art. 287. Prescreve: (...)
II - em 3 (três) anos:
a) a ação para haver dividendos, contado o prazo da data em que tenham sido postos à disposição do acionista;
 
Esse dispositivo legal dispõe sobre a ação de cobrança de dividendos. Não trata expressamente a respeito da pretensão de exigir contas. Porém, como visto, não se pode deixar de reconhecer que a pretensão do acionista de exigir contas da companhia não se exaure na sua simples prestação, pois se destina, em última análise, à apuração do saldo de dividendos e, caso existente, também à sua satisfação.
Em outras palavras, sendo de 3 anos o prazo prescricional de cobrança dos dividendos, também deve ser de 3 anos o prazo prescricional para o ajuizamento da ação de exigir contas. Isso porque o objetivo final do autor é o de receber o saldo que ele entende que pode existir.
1.7. Ação de regresso proposta pela empresa cindida contra a empresa resultante da cisão – (Info 619)
		Cabe ação de regresso para ressarcimento de condenação relativa a obrigações tipicamente societárias suportada exclusivamente por empresa cindida contra empresa resultante da cisão parcial, observando-se a proporção do patrimônio recebido.
Ex: a Tele Sudeste surgiu a partir da cisão parcial da Telebrás (a Tele Sudeste é 2,42% do patrimônio original da Telebrás); determinado banco propôs ação contra a Telebrás e a Tele Sudeste cobrando uma quantia decorrente de uma obrigação de debênture (obrigação societária) anterior à cisão; ambas foram condenadas a pagar o valor total de R$ 5 milhões; a Telebrás cumpriu o julgado e quitou integralmente a dívida; em seguida, a Telebrás ajuizou ação regressiva contra a Tele Sudeste cobrando 2,42% do valor pago pela condenação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1642118-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 12/9/17 (Info 619).
	OBS: Em outras palavras, a Tele Sudeste deverá também ser condenada a ressarcir 2,42% do valor que a Telebrás pagou a título de condenação judicial. Ex: 2,42% de R$ 5 milhões (mais os juros, correção monetárias, honorários etc.).
Obrigações decorrentes da cisão: A responsabilidade por obrigações decorrentes da cisão envolve duas classes de obrigações:
a) obrigações tipicamente societárias (decorrentes do vínculo societário que agrega os acionistas); e
b) obrigações cíveis lato sensu (advindas da apuração do patrimônio líquido da sociedade cindida).
 
No tocante à primeira classe, nos termos do art. 229, § 1º, da Lei das Sociedades Anônimas (LSA), verifica-se que haverá indiscutível sucessão de direitos e obrigações relacionados no protocolo de cisão:
Lei n. 6.404/76, Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não relacionados.
 
Com efeito, com a cisão ocorrerá o aumento de capital da empresa destinatária, que absorverá a parcela do patrimônio líquido cindido a título de integralização das ações subscritas em benefício dos sócios da empresa cindida. Assim, há um completo entrelaçamento do quadro societário das empresas em negociação. A atribuição de participação societária na empresa receptora aos sócios da empresa cindida, na medida em que configura elemento essencial do instituto jurídico, não pode ser afastada por mera disposição contratual, sob pena de absoluto desvirtuamento do instituto jurídico.
No caso analisado, tem-se que a natureza da obrigação debatida é inquestionavelmente de direito societário. Por via de consequência, é devida a ação de regresso para ressarcimento pela empresa resultante da cisão, observando-se a proporção do patrimônio cindido recebido.
1.8. SOCIEDADE LIMITADA: Quórum para exclusão judicial do sócio majoritário não inclui as suas quotas – (Info 616) – Atenção! Juiz de Direito!
		A exclusão judicial do sócio majoritário nas sociedades limitadas é disciplinada pelo art. 1.030 do Código Civil:
Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.
O que significa essa expressão “mediante iniciativa da maioria dos demais sócios” prevista no art. 1.030 do CC? No cálculo dessa maioria deve-se incluir as quotas do sócio “acusado”?
Não. A lei é explícita ao falar em maioria dos demais sócios. Consideram-se apenas as quotas dos demais sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir. Isso porque o art. 1.030 é a oportunidade que a legislação confere aos sócios minoritários de excluírem o sócio majoritário.
Assim, o quórum deliberativo para exclusão judicial do sócio majoritário por falta grave no cumprimento de suas obrigações deve levar em conta a maioria do capital social de sociedade limitada, excluindo-se do cálculo o sócio que se pretende jubilar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1653421-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/10/17 (Info 616).
1.9. SOCIEDADE ANÔNIMA: Inventariante não pode votar em assembleia da sociedade anônima alterando o controle da companhia e alienando bens do acervo patrimonial – (Info 612)
		O inventariante, representando o espólio, não pode votar em assembleia de sociedade anônima da qual o falecido era sócio com a pretensão de alterar o controle da companhia e vender bens do acervo patrimonial. 
Os poderes de administração do inventariante são aqueles relativos à conservação dos bens inventariados para a futura partilha, dentre os quais se pode citar o pagamento de tributos e aluguéis, a realização de reparos e a aplicação de recursos, atendendo o interesse dos herdeiros. 
A atuação do inventariante, alienando bens sociais e buscando modificar a natureza das ações e a própria estrutura de poder da sociedade anônima, está fora dos limites dos poderes de administração e conservação do patrimônio. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.627.286-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/6/17 (Info 612).
	OBS: No momento dasucessão (morte do autor da herança), o patrimônio do falecido se constitui numa universalidade de bens, que sofrerá divisão com o término da partilha. Enquanto perdura o processo de divisão do patrimônio, é preciso que alguém administre o espólio, zelando pelos bens que o integram. Essa pessoa é o inventariante. De acordo com o art. 618, II, do CPC/2015:
Art. 618. Incumbe ao inventariante: (...)
II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem;
Segundo o art. 619, I, do CPC, o inventariante somente poderá fazer a alienação de bens de qualquer espécie se ouvir previamente os interessados e desde que haja autorização judicial. O inventariante, ao participar da assembleia geral, tinha o objetivo de alterar o estatuto social da companhia para permitir a conversão de ações preferenciais em ordinárias, atendendo seu interesse pessoal e de alguns outros herdeiros. Com a alteração realizada, os herdeiros detentores de ações preferenciais, que não têm direito a voto, passariam a ter esse direito, o que poderia modificar o controle acionário da companhia. Trata-se, portanto, de ato que extrapola a simples administração.
Nesse contexto, não há como entender que o voto do inventariante para modificar a natureza das ações e a própria estrutura de poder da sociedade anônima esteja dentro dos limites estabelecidos pelo art. 618, II, do CPC.
1.10. SOCIEDADE ANÔNIMA: Fechamento em branco ou indireto de capital – (Info 612)
		Não configura o fechamento em branco ou indireto de capital a hipótese de incorporação de ações de sociedade controlada para fins de transformação em subsidiária integral (art. 252 da Lei das S/A), realizada entre sociedades de capital aberto, desde que se mantenha a liquidez e a possibilidade de os acionistas alienarem as suas ações. 
Assim, é desnecessária a oferta pública de ações em favor dos acionistas preferenciais da companhia que teve suas ações incorporadas, mas que continuam com plena liquidez no mercado de capitais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.327-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, j. 19/9/17 (Info 612).
1.11. SOCIEDADE ANÔNIMA: Definição do “valor justo de mercado” como critério a ser utilizado para o cálculo do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante – (Info 611)
		A definição do valor justo de mercado como critério a ser utilizado para o cálculo do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante, por ocasião da incorporação da companhia controlada, não infringe o disposto no art. 45, § 1º, da Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações).
A utilização do valor justo de mercado como parâmetro para indenizar as ações de acionista retirante em caso de incorporação de companhias não fere a Lei das Sociedades Anônimas, e é possível nos casos em que o valor do patrimônio líquido contábil da empresa incorporada não reflita fielmente o valor daquelas ações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.572.648-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/9/17 (Info 611).
1.12. SOCIEDADE LIMITADA: O herdeiro necessário não possui legitimidade para ação de dissolução parcial de sociedade, salvo se for em defesa de interesse do espólio – (Info 611)
		O herdeiro necessário não possui legitimidade ativa para propositura de ação de dissolução parcial de sociedade em que se busca o pagamento de quotas sociais integrantes do acervo hereditário quando não for em defesa de interesse do espólio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.672-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22/8/17 (Info 611).
	OBS: A jurisprudência do STJ até admite que, enquanto não for realizada a partilha, o herdeiro necessário ingresse em juízo pedindo a dissolução parcial da sociedade empresária e a apuração de haveres. No entanto, isso somente é admitido se o pedido for feito na defesa do interesse do espólio. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.505.428-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 27/6/2016.
No caso concreto, contudo, o herdeiro necessário não estava tutelando os interesses do espólio, mas sim seus interesses individuais.
A liquidação da quota social em virtude da decisão do herdeiro de não prosseguir o exercício empresarial, depende de uma manifestação do espólio, ou seja, do conjunto de herdeiros, e não de um único herdeiro. Assim, a realização da apuração de haveres antes da partilha apenas deverá ocorrer quando houver consenso quanto à inexistência de interesse na sucessão do falecido na sociedade empresária. O intuito precípuo da legislação é o de preservação da sociedade empresária e isso pode acabar sendo inviabilizado ou, ao menos dificultado, se houver a liquidação da quota social.
1.13. SOCIEDADE ANÔNIMA: Se o indivíduo não é mais acionista no momento do ato de declaração do dividendo, não terá direito de receber os lucros da companhia – (Info 610)
		Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício. 
Fundamento jurídico: art. 205 da Lei nº 6.404/76. 
Ex: o indivíduo possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima. Em fev/2015, ele vendeu suas ações. Em abril/2015, a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e deliberou pagar aos acionistas da companhia os dividendos apurados no ano anterior (2014). Este indivíduo não terá direito ao pagamento porque na data do ato de declaração do dividendo (data da Assembleia), ele já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/8/17 (Info 610).
	OBS:
Art. 205. A companhia pagará o dividendo de ações nominativas à pessoa que, na data do ato de declaração do dividendo, estiver inscrita como proprietária ou usufrutuária da ação.
O autor vendeu suas ações em fevereiro de 2015. O ato de declaração do dividendo ocorreu em abril de 2015 (data em que foi realizada a Assembleia Geral Ordinária). Neste momento, o autor já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia. Logo, ele realmente não tinha mais direito aos dividendos. O simples fato de o autor possuir as ações no período do exercício a que correspondem os dividendos, não faz com que ele tenha direito aos dividendos considerando que existe regra expressa no art. 205 exigindo que a pessoa esteja inscrita como proprietária ou usufrutuária na data do ato de declaração do dividendo.
1.14. SOCIEDADE LIMITADA: Se parte das quotas do sócio retirante estão empenhadas (penhor), a apuração dos haveres ficará limitada às quotas livres do ônus real – (Info 608)
		A dissolução parcial de sociedade limitada por perda da affectio societatis pode ser requerida pelo sócio retirante, limitada a apuração de haveres às suas quotas livres de ônus reais. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.766-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1/6/17 (Info 608).
1.15. SOCIEDADE LIMITADA: Momento em que se considera dissolvida a sociedade empresária para fins de apuração de haveres – (Info 595) – IMPORTANTE!!! – (TJSP-2018)
		Na hipótese em que o sócio de sociedade limitada constituída por tempo indeterminado exerce o direito de retirada por meio de inequívoca e incontroversa notificação aos demais sócios, a data-base para apuração de haveres é o termo final do prazo de 60 dias, estabelecido pelo art. 1.029 do CC/02. 
STJ. 3ª T. REsp 1.602.240-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/12/16 (Info 595).
1.16. SOCIEDADE ANÔNIMA: Dissolução parcial da sociedade anônima que não está gerando lucros – (Info 595) – IMPORTANTE!!! – (MPRO-2010) (TRF3-2012) (TJSP-2018) (Aud. Cont. Interno-CGE/CE-2019)
		É possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que não formada por grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito de não atingir seu fim – consubstanciado no auferimento de lucros e na distribuição de dividendos aos acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos negócios da companhia. 
STJ.3ª T. REsp 1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 6/12/16 (Info 595).
	(TRF4-2012): Segundo a jurisprudência prevalente, é possível a dissolução parcial de sociedade anônima com a retirada dos sócios dissidentes, após a apuração de seus haveres.
(MPRO-2010-CESPE): É possível a dissolução parcial da sociedade anônima familiar fechada quando houver quebra da affectio societatis, ainda que tal requisito não esteja necessariamente conjugado com a perda de lucratividade e a ausência de distribuição de dividendos.
1.17. SOCIEDADE LIMITADA: Impossibilidade de nomeação de liquidante em dissolução parcial de sociedade empresária – (Info 580)
		A nomeação de liquidante somente se faz necessária nos casos de dissolução total da sociedade, considerando que suas atribuições estão relacionadas com a gestão do patrimônio social de modo a regularizar a sociedade que se pretende dissolver. 
Na dissolução parcial, em que se pretende apurar exclusivamente os haveres do sócio falecido ou retirante, com a preservação da atividade da sociedade, basta que seja nomeado um perito técnico habilitado para realizar uma perícia contábil a fim de determinar o valor da quota-parte devida ao ex-sócio ou aos seus herdeiros. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.557.989-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 17/3/16 (Info 580).
	OBS:
Dissolução de uma sociedade: A dissolução de uma sociedade pode ser:
· Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.
· Total: quando a sociedade é extinta.
Dissolução parcial de sociedade: Ocorre quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”. Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade. Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios. 
Morte de um dos sócios: Quando um dos sócios morre, haverá também, pelo menos a princípio, a dissolução parcial da sociedade. Isso porque pode acontecer de os demais sócios quererem continuar a sociedade. Veja o que estabelece a regra do art. 1.028 do CC, válida para as sociedades simples, mas que pode ser aplicada supletivamente às sociedades limitadas (art. 1.053):
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:
I — se o contrato dispuser diferentemente;
II — se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; (obs.: aqui se está falando da dissolução total)
III — se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.
Apuração de haveres: O sócio que deixa uma sociedade tem direito de receber a sua parte no patrimônio da sociedade. O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de apuração de haveres, que está previsto no art. 1.031 do CC e no art. 599 do CPC/15. Da mesma forma, se um dos sócios morre, haverá, como vimos, a dissolução parcial da sociedade, e os herdeiros do sócio falecido terão direito de receber a parte que ele tinha na sociedade. Isso é feito por meio da apuração de haveres. Vejamos os dispositivos citados:
Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado.
§ 1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota.
§ 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.
Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto:
I — a resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e 
II — a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou
III — somente a resolução ou a apuração de haveres.
No art. 600 do CPC/15 estão listadas as pessoas que têm legitimidade para ingressar com a ação de dissolução parcial de sociedade.
Dissolução total da sociedade e processo de liquidação: Ocorrendo a dissolução total da sociedade, exceto nos casos de fusão, incorporação e cisão, a sociedade deve entrar em processo de liquidação. A liquidação é o processo por meio do qual se irá calcular o quanto a sociedade possui de ativo, vender os seus bens para, em seguida, pagar as dívidas que existam (passivo) e, se sobrar algum valor, dividi-lo entre os sócios (partilha).
"Nessa fase, a sociedade ainda existe, ainda mantém a personalidade jurídica, mas apenas para finalizar as negociações pendentes e realizar os negócios necessários à realização da liquidação, tanto que deve operar com o nome seguido da cláusula em liquidação, para que terceiros não se envolvam em novos negócios com a sociedade." (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. 5ª ed., São Paulo: Atlas, 2013, p. 389).
Liquidante da sociedade: Como vimos, na dissolução total é necessária a fase de liquidação. Para realizar este processo, deverá ser designada uma pessoa que irá exercer o papel de liquidante. O liquidante é como se fosse um "administrador" da sociedade que foi dissolvida e será o responsável pelas últimas providências necessárias ao encerramento da sociedade. Dentre as atribuições do liquidante, compete a ele representar a sociedade e praticar todos os atos necessários à sua liquidação, inclusive alienar bens móveis ou imóveis, transigir, receber e dar quitação (art. 1.105 do CC).
Na liquidação PARCIAL da sociedade, também existe a figura do liquidante? NÃO.
1.18. SOCIEDADE LIMITADA: Prazo decadencial para desconstituir deliberação societária excludente de sócio minoritário – (Info 575)
		É de 3 anos o prazo decadencial para que o sócio minoritário de sociedade limitada de administração coletiva exerça o direito à anulação da deliberação societária que o tenha excluído da sociedade, ainda que o contrato social preveja a regência supletiva pelas normas da sociedade anônima. Esse prazo está previsto no art. 48 do Código Civil. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.459.190-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/12/15 (Info 575).
1.19. SOCIEDADE LIMITADA: Formação de quórum deliberativo necessário à exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada (Info 575)
		Para a fixação do quórum deliberativo assemblear necessário à aprovação da exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada, não se pode computar a participação deste no capital social, devendo a apuração da deliberação se lastrear em 100% do capital restante, ou seja, tão somente no capital social daqueles legitimados a votar. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.459.190-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/12/15 (Info 575).
1.20. Certidões negativas que podem ser exigidas na transformação de sociedade simples em empresarial – (Info 574)
		Para efetuar o registro e o arquivamento de alteração contratual, a fim de promover a transformação de sociedade civil em empresária, não é exigível a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União, exigindo-se, contudo, certidão negativa de débito com o INSS. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.393.724-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 28/10/15 (Info 574).
1.21. SOCIEDADE LIMITADA: Competência para julgar dissolução parcial de sociedade limitada com apuração de haveres – (Info 566)
		João era sócio em mais de 20 sociedades limitadas de grande porte. Determinado dia, João morre. Foi instaurado um processo judicial de inventário e partilha dos bens de João, sendo nomeada como inventariante a sua mulher sobrevivente. A inventariantedeseja ingressar com "ação de dissolução parcial da sociedade com apuração dos haveres" a fim de que seja calculado o valor que seu marido falecido tinha direito em relação a cada uma das empresas. 
O advogado da inventariante ficou, no entanto, com uma dúvida: o juízo competente para julgar essa ação será a vara cível ou a vara de sucessões (onde já tramita o inventário do sócio falecido)? 
Compete ao juízo cível - e não ao juízo de sucessões no qual tramita o inventário - julgar, com consequente apuração de haveres do de cujus, dissolução parcial de sociedade limitada que demande extensa dilação probatória. No caso concreto, o juízo competente será a vara cível porque eram muitas sociedades, exigindo ampla dilação probatória, o que é inviável no juízo do inventário. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.459.192-CE, Rel. originário Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão João Otávio de Noronha, j. 23/6/2015 (Info 566).
1.22. SOCIEDADE LIMITADA: Legitimidade ativa para ação social – (Info 563)
		Acionistas e companhia podem litigar em litisconsórcio facultativo ativo em ação de responsabilidade civil contra o administrador pelos prejuízos causados ao patrimônio da sociedade anônima (art. 159 da Lei 6.404/1976), quando não proposta a ação pela companhia no prazo de três meses após a deliberação da assembleia-geral (§ 3º). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.515.710-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 12/5/15 (Info 563).
1.23. SOCIEDADE LIMITADA: Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante de sociedade por quotas de responsabilidade limitada – (Info 558)
		Ocorre a dissolução parcial da sociedade limitada quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada e continua suas atividades. 
Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade. 
Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios. 
O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de APURAÇÃO DE HAVERES. 
Qual é o critério adotado para se fazer a apuração de haveres do sócio retirante?
SEGUNDO O ENTENDIMENTO DO STJ: 
· O contrato social pode prever o critério para a apuração dos haveres do sócio retirante no caso de dissolução parcial de sociedade limitada; 
· No entanto, o critério previsto no contrato social somente prevalecerá se houver consenso entre as partes quanto ao resultado alcançado; 
· Caso não haja concordância entre as partes, deve-se aplicar o “balanço de determinação”, que é o critério que melhor reflete o valor patrimonial da empresa; 
· O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na apuração de haveres do sócio dissidente. 
SEGUNDO O CPC 2015: 
· A primeira opção no caso de apuração dos haveres é adotar o critério previsto no contrato social (art. 604, II).
· Somente se o contrato social for omisso, ou seja, apenas se ele não previr um critério de apuração de haveres, é que será adotado o “balanço de determinação” (art. 606). 
O mais seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606 do CPC 2015, que irá ser bastante cobrado nas provas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/15 (Info 558).
1.24. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO: Aplicação do art. 1.034 do CC para a sua dissolução judicial – (Info 554)
		Como ocorre a dissolução da sociedade em conta de participação? Qual é o fundamento legal? 
Não existe regra específica para disciplinar a dissolução da sociedade em conta de participação. 
Diante disso, o STJ decidiu que deverá ser aplicada, subsidiariamente, a regra do art. 1.034 do CC, que define, de forma taxativa, as hipóteses pelas quais se admite a dissolução judicial das sociedades. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.230.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/12/14 (Info 554).
1.25. SOCIEDADE ANÔNIMA: Prazo prescricional para cobrança de debêntures – (Info 526)
		Prescreve em cinco anos a pretensão de cobrança de valores relativos a debêntures.
STJ. 4ª Turma. REsp 1316256-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/6/2013 (Info 526).
	OBS: Deve ser aplicada a regra prevista no art. art. 206, § 5º, I do CC:
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;
1.26. SOCIEDADE ANÔNIMA: Ação de responsabilidade contra administradores e prévia anulação da aprovação de contas – (Info 500) – (TJAC-2012)
		Para o ajuizamento da ação de responsabilidade civil contra os administradores da sociedade anônima, é necessária a prévia propositura da ação de anulação da assembleia geral que aprovou as contas da sociedade. 
Somente após o trânsito em julgado da sentença que julgar procedente a ação anulatória da assembleia (pela ocorrência de erro, dolo, fraude ou simulação), será possível ajuizar a ação de responsabilidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1313725-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/6/2012 (Info 500).
1.27. SOCIEDADE LIMITADA: Repercussão econômica do renome do sócio não integra cálculo da apuração de haveres – (Sem Info)
		Quando um sócio deixa a sociedade (dissolução parcial de sociedade), deve-se calcular a parte que lhe cabe no patrimônio social. A isso se chama “apuração de haveres”.
A possível repercussão econômica do renome de um dos sócios não integra o cálculo na apuração de haveres em dissolução parcial de sociedade simples composta por profissionais liberais. Isso porque o renome é atributo personalíssimo, intransferível, fora do comércio, e não é passível de indenização a título de fundo de comércio.
STJ. 4ª Turma. REsp 958116-PR, Rel. originário Min. João Otávio de Noronha, Rel. para o acórdão Min. Raul Araújo (art. 52, IV, b, do RISTJ), julgado em 22/5/2012.
2. TRESPASSE 
2.1. A cláusula de não concorrência fixada por prazo indeterminado é abusiva – (Info 554) – IMPORTANTE!!! – (TRF3-2018)
		Nos contratos de trespasse (alienação do estabelecimento comercial) existe, de forma implícita, por força de lei, uma cláusula de não concorrência (cláusula de não restabelecimento). 
Isso significa que, em regra, o alienante não pode fazer concorrência ao adquirente. Segundo o art. 1.147, o prazo da cláusula de não concorrência é de 5 anos. 
As partes não podem prever que a cláusula de “não restabelecimento” será por prazo indeterminado. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não aceita que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo indeterminado. Logo, a cláusula de não restabelecimento fixada por prazo indeterminado é considerada abusiva. 
STJ. 4ª Turma. REsp 680.815-PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 20/3/14 (Info 554).
3. CONTRATO DE FRANQUIA 
3.1. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 – (Info 591) – IMPORTANTE!!!
		A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato de adesão. 
Segundo o art. 4º, § 2º da Lei 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente: 
· tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou 
· concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96. 
Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que observados os requisitosdo art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).
	OBS:
CONTRATO DE FRANQUIA: A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o direito de usar a sua marca ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, haver a transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. O contrato de franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes termos:
Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.
O contrato firmado entre o franqueado e o franqueador é regido pelo Código de Defesa do Consumidor? O franqueado poderá invocar o CDC para discutir seus direitos em relação ao franqueador? NÃO.
O contrato de franquia é um contrato de adesão? SIM. O contrato de franquia é um contrato de adesão.
"Caracterizam-se os contratos de adesão pela desigualdade entre as partes contratantes: basicamente, uma das partes, o policitante, impõe à outra – o oblato – as condições e cláusulas que previamente redigiu. Não existe discussão a respeito do teor do contrato e suas cláusulas, de modo que o oblato cinge-se a anuir à proposta do policitante. Tais contratos supõem, antes de mais nada, a superioridade econômica de um dos contratantes, que fixa unilateralmente as cláusulas contratuais; o contratante economicamente mais fraco manifesta seu consentimento aceitando, pura e simplesmente, as condições gerais impostas pelo outro contratante; a proposta é, de regra, aberta a quem se interessar pela contratação; e a oferta é predeterminada, uniforme e rígida." (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. São Paulo: Atlas, 3ª ed., 2009, p. 106)
Mas o contrato de franquia não é um contrato de consumo... Não importa. Essa confusão é um erro comum em muitos estudantes. Nem todo contrato de adesão é um contrato de consumo e nem todo contrato de consumo é de adesão. São conceitos diferentes. Portanto, o contrato de franquia não é um contrato de consumo, mas, mesmo assim, é um contrato de adesão.
CLÁUSULA ARBITRAL NO CONTRATO DE FRANQUIA
Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é resolvido por um terceiro.
Regulamentação: A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema.
Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é...
- uma cláusula prevista no contrato,
- de forma prévia e abstrata,
- por meio da qual as partes estipulam que
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).
Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de Arbitragem)."
A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei 9.307/96:
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.
A cláusula compromissória é válida?
	REGRA: a cláusula compromissória é VÁLIDA.
	Peculiaridade 1:
contratos de ADESÃO
	Peculiaridade 2:
contratos de CONSUMO
	Peculiaridade 3:
Dissídios individuais de TRABALHO
	É válida, desde que o aderente:
• tenha tomado a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
• concorde, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula (art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96).
	Não é válida. O CDC estipula que é nula de pleno direito a cláusula que determina a utilização compulsória de arbitragem (art. 51, VII).
Vale ressaltar, no entanto, que é possível compromisso arbitral nas relações de consumo (REsp 1.169.841-RJ).
	Não é válida arbitragem nos dissídios individuais de trabalho, conforme entendimento pacífico do TST.
Obs: é permitida a arbitragem no caso de dissídios coletivos de trabalho (art. 114, § 1º da CF/88).
É possível a previsão de cláusula compromissória em contratos de franquia? O contrato de franquia é uma espécie de contrato de adesão.
Assim, só será válida cláusula compromissória em contrato de franquia se o aderente (franqueado):
· tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
· concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.
Desse modo, aplica-se ao contrato de franquia a regra prevista no § 2º do art. 4º da Lei 9.307/96:
§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96.
3.2. Validade de notificação por e-mail para o exercício de direito de preferência (Info 570)
		Em um contrato de franquia, havia uma cláusula segundo a qual a franqueadora teria direito de preferência caso a fraqueada decidisse vender o estabelecimento comercial. Para isso, quando a franqueada recebesse alguma proposta pelo imóvel, deveria notificar a franqueadora para que esta decidisse se desejaria pagar o mesmo valor e, assim, ficar com o bem. 
A franqueada recebeu uma proposta para vender o estabelecimento comercial e notificou a franqueadora, por e-mail, para que esta exercesse seu direito de preferência. 
O STJ entendeu que essa notificação por e-mail é válida. 
No caso concreto, o Tribunal entendeu que a notificação realizada foi idônea porque: o contrato não previa forma específica para a notificação; o correio eletrônico era o meio usual de comunicação entre franqueadora e franqueado; houve ciência inequívoca da franqueadora quanto à data do envio e do recebimento da mensagem; havia segurança da franqueadora quanto à legitimidade do remetente já que ela sempre recebia e-mails do franqueado; e quanto ao conteúdo, foram respeitados os requisitos estabelecidos na cláusula contratual. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.545.965-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/9/2015 (Info 570). 
4. FACTORING 
4.1. Empresa de factoring que recebeu cessão dos créditos de contrato tem legitimidade para figurar no polo passivo da ação que pede a revisão do pacto – (Info 608)
		A empresa de factoring, que figura como cessionária dos direitos e obrigações estabelecidos em contrato de compra e venda em prestações, de cuja cessão foi regularmente cientificado o devedor, tem legitimidade para figurar no polo passivo de demandas que visem à revisão das condições contratuais. 
Ex: Pedro comprou da loja uma moto parcelada. No mesmo instrumento contratual, a loja cedeu esse crédito para uma factoring. Assim, no próprio contrato de compra e venda havia uma cláusula dizendo que a loja estava cedendo o créditopara a factoring, a quem o devedor deveria pagar as parcelas e que, em caso de inadimplemento, a factoring iria pleitear a restituição do bem vendido. Se Pedro desejar propor ação pedindo a revisão deste contrato, poderá ajuizá-la diretamente contra a factoring. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.343.313-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Antônio Carlos Ferreira, j. 1/6/17 (Info 608).
4.2. Factoring e desnecessidade de notificação de emitente de título de crédito – (Info 573)
		É desnecessária a notificação de emitente de cheque com cláusula "à ordem", para que o faturizador que tenha recebido a cártula por meio de endosso possa cobrar o crédito decorrente de operação de factoring. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.236.701-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/11/15 (Info 573).
4.3. Faturizada responde caso o título cedido à faturizadora seja inexistente – (Info 535) – (TRF5-2015)
		A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de factoring vinculado a nota promissória, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.289.995-PE, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. 20/2/2014 (Info 535).
4.4. As empresas de factoring não são instituições financeiras (não há relação de consumo no contrato entre uma sociedade empresária e a factoring)
		As empresas de factoring NÃO são instituições financeiras, visto que suas atividades regulares de fomento mercantil não se amoldam ao conceito legal, tampouco efetuam operação de mútuo ou captação de recursos de terceiros. 
Uma sociedade empresária que contrata os serviços de uma factoring não pode ser considerada consumidora porque não é destinatária final do serviço e, tampouco se insere em situação de vulnerabilidade, já que não se apresenta como sujeito mais fraco, com necessidade de proteção estatal. 
Logo, não há relação de consumo no contrato entre uma sociedade empresária e a factoring. 
STJ. 4ª Turma. REsp 938.979-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/6/2012.
5. TÍTULOS DE CRÉDITO 
5.1. DUPLICATA: A aposição de número incorreto da fatura na duplicata invalida o título de crédito, retirando-lhe a exigibilidade executiva extrajudicial – (Info 660) – Atenção! Juiz de Direito!
		O § 1º do art. 2º da Lei 5.474/68 prevê as informações que deverão constar em uma duplicata. Uma das informações que deve obrigatoriamente constar na duplicata é o número da fatura (inciso II).
Se na duplicata constou o número errado da fatura, isso invalida o título, tornando-o inexigível. Isso porque o número da fatura é requisito legal da duplicata.
Assim, em observância ao princípio da literalidade, a aposição de número incorreto da fatura na duplicata invalida o título de crédito, retirando-lhe a exigibilidade executiva extrajudicial.
STJ. 3ª T. REsp 1601552-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 05/11/19 (Info 660).
5.2. CHEQUE: É possível a oposição de exceção pessoal ao portador de cheque prescrito – (Info 658) – IMPORTANTE!!!
		O cheque é um título de crédito. Logo, submete-se aos princípios da literalidade, da abstração, da autonomia das obrigações cambiais.
Uma das decorrências da autonomia é o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé, consagrado pelo art. 25 da Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85):
Art. 25. Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.
Assim, em regra, o emitente do cheque não pode invocar exceções pessoais contra o terceiro de boa-fé que recebeu o título. Ex: o emitente não pode deixar de pagar ao terceiro de boa-fé que recebeu o cheque por endosso alegando que o endossatário (destinatário original do cheque) não cumpriu sua obrigação contratual.
Essa regra, contudo, não se aplica no caso de cheque prescrito.
É possível a oposição de exceção pessoal ao portador de cheque prescrito. Isso porque se o cheque está prescrito, ele perde as suas características cambiárias, tais quais a autonomia, a independência e a abstração. Assim, como o cheque prescrito perde a autonomia, não se aplica mais o conhecido princípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé previsto no art. 25 da Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85).
STJ. 3ª T. REsp 1669968-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 08/10/19 (Info 658).
5.3. NOÇÕES GERAIS: A impenhorabilidade dos bens vinculados à Cédula de Produto Rural (CPR) é absoluta, não podendo ser afastada para satisfação de crédito trabalhista – (Info 653)
		O art. 18 da Lei nº 8.929/94 prevê que os bens vinculados à CPR são impenhoráveis:
Art. 18. Os bens vinculados à CPR não serão penhorados ou sequestrados por outras dívidas do emitente ou do terceiro prestador da garantia real, cumprindo a qualquer deles denunciar a existência da cédula às autoridades incumbidas da diligência, ou a quem a determinou, sob pena de responderem pelos prejuízos resultantes de sua omissão.
Essa impenhorabilidade é considerada absoluta porque existe em virtude da lei e do interesse público de estimular o crédito agrícola. Por essa razão, tal impenhorabilidade prevalece mesmo se estivermos diante da execução de créditos de natureza trabalhista.
STJ. 4ª T. REsp 1327643-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/05/2019 (Info 653).
5.4. CHEQUE: O dever de garantia do emitente do cheque, previsto no art. 15 da Lei nº 7.357/85, não pode ser afastado com fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva – (Info 647)
		O emitente garante o pagamento do valor contido no cheque, considerando-se não escrita a declaração pela qual se exima dessa garantia (art. 15 da Lei 7.357/85).
Esse dever de garantia do emitente do cheque não poder ser afastado com fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva.
Não há lacuna neste caso. Na ausência de lacuna, não cabe ao julgador se valer de um costume para afastar a aplicação da lei, sob pena de ofensa ao art. 4º da LINDB.
De igual modo, a flexibilização do art. 15 da Lei 7.357/85, sob o argumento do princípio da boa-fé objetiva, não tem o condão de excluir o dever de garantia do emitente do cheque, sob pena de se comprometer a segurança na tutela do crédito, pilar fundamental das relações jurídicas dessa natureza.
STJ. 3ª T. REsp 1787274/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/4/19 (Info 647).
5.5. NOÇÕES GERAIS: O instrumento de cessão fiduciária de direitos creditórios deve indicar, de maneira precisa, o crédito, e não o título objeto de cessão – (Info 646)
		Na cessão fiduciária de direitos creditórios, para a perfectibilização do negócio fiduciário, o correlato instrumento deve indicar, de maneira precisa, o crédito objeto de cessão e não os títulos representativos do crédito.
O objeto da cessão fiduciária são os direitos creditórios que devem estar devidamente especificados no instrumento contratual (e não o título objeto da cessão, que apenas os representa).
STJ. 3ª T. REsp 1.797.196-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 09/04/2019 (Info 646).
5.6. DUPLICATA: Não é possível a oposição de exceções pessoais à empresa de factoring que comprou duplicata mercantil com aceite – (Info 640) – IMPORTANTE!!! Mudança de Entendimento!!!
		A duplicata mercantil, apesar de causal no momento da emissão, com o aceite e a circulação adquire abstração e autonomia, desvinculando-se do negócio jurídico subjacente, impedindo a oposição de exceções pessoais a terceiros endossatários de boa-fé, como a ausência ou a interrupção da prestação de serviços ou a entrega das mercadorias.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1439749-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 28/11/18 (Info 640).
	OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE A DUPLICATA
Conceito de duplicata: Duplicata é...
· um título de crédito
· que consiste em uma ordem de pagamento emitida pelo próprio credor
· por conta de mercadorias que ele vendeu ou de serviços que prestou
· e que estão representados em uma fatura
· devendo ser paga pelo compradordas mercadorias ou pelo tomador dos serviços.
Genuinamente brasileiro: A duplicata foi criada pelo direito brasileiro, sendo considerada um título genuinamente brasileiro.
Regulamentação: A duplicata é regida pela Lei 5.474/68 e, agora, também pela Lei 13.775/18.
Duplicata e fatura são documentos diferentes: A fatura é o documento que descreve a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços. Na fatura constam a descrição e os preços dos produtos vendidos ou do serviço prestado. A fatura não é título de crédito. O título é a duplicata, que é emitida a partir de uma fatura. A fatura apenas prova a existência do contrato. Todas as vezes que for celebrado um contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no Brasil, com prazo não inferior a 30 dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor é obrigado a extrair uma fatura para apresentar ao comprador (art. 1º, da Lei nº 5.474/68). No caso de prestação de serviços (qualquer prazo) ou de compra e venda inferior a 30 dias, a emissão de fatura é facultativa.
Exemplo de emissão de duplicata: O distribuidor “SILVA & SOUZA Ltda.” vendeu para a loja “Bompé” 70 pares de sapatos. O distribuidor (vendedor) extrai uma fatura dos produtos e emite uma duplicata mercantil dando uma ordem à loja (compradora) para que pague a ele (vendedor) o preço dos pares de sapato e eventuais encargos contratuais.
Espécies de duplicata:
· Duplicata mercantil: emitida por causa da compra e venda mercantil;
· Duplicata de serviços: emitida por causa da prestação de serviços.
Características da duplicata:
a) Título causal: a duplicata só pode ser emitida para documentar o crédito decorrente de dois negócios jurídicos: a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços. Essa causa da duplicata é mencionada no próprio título. Por conta dessa característica, alguns autores afirmam que se trata de um título impróprio. Obs: o contrário dos títulos causais são os “não causais” ou “abstratos”, como o caso da nota promissória.
b) Ordem de pagamento.
c) Título de modelo vinculado (título formal): os padrões de emissão da duplicata são fixados pelo Conselho Monetário Nacional. A duplicata somente produz efeitos cambiais se observado o padrão exigido para a constituição do título.
Emissão da duplicata: O vendedor ou prestador dos serviços emite a fatura discriminando as mercadorias vendidas ou os serviços prestados. Com base nessa fatura, esse vendedor ou prestador poderá emitir a duplicata. Toda duplicata sempre terá origem em uma fatura. Uma duplicata só pode corresponder a uma única fatura (art. 2º, § 2º, da Lei). Depois de emitir a duplicata, ela deverá ser enviada ao devedor (comprador) para que este efetue o aceite e a devolva.
Remessa da duplicata para ACEITE: Aceite é o ato por meio do qual o sacado (comprador ou tomador dos serviços) assina o título se obrigando a pagar o crédito ali descrito, na data do vencimento. Assim, emitida a duplicata, nos 30 dias seguintes, o sacador (quem emitiu o título) deve remeter o título ao sacado (comprador ou tomador dos serviços) para que ele assine a duplicata no campo próprio para o aceite, restituindo-a ao sacador no prazo de 10 dias.
O aceite na duplicata é obrigatório: Na duplicata, o título documenta uma obrigação surgida a partir de um contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços. Desse modo, se o vendedor, que no caso foi o sacador, cumpriu as suas obrigações contratuais, não há motivo para o devedor recusar o aceite. Em virtude dessa circunstância, a doutrina afirma que o aceite na duplicata é, em regra, obrigatório, somente podendo ser recusado nas hipóteses previstas nos arts. 8º e 21 da Lei 5.474/68.
Recusa do aceite: Como vimos, o aceite é, em regra, obrigatório. As hipóteses previstas na lei em que o aceite pode ser recusado estão relacionadas com situações em que o sacador (vendedor ou prestador dos serviços) não cumpriu corretamente suas obrigações contratuais ou em que há divergência entre aquilo que foi combinado no contrato e o que consta da duplicata. Vejamos:
Recusa do aceite na duplicata mercantil:
Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco;
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
Recusa do aceite na duplicata de serviços:
Art. 21. O sacado poderá deixar de aceitar a duplicata de prestação de serviços por motivo de:
I - não correspondência com os serviços efetivamente contratados;
II - vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
Tipos de aceite:
a) aceite ordinário (expresso): ocorre quando o sacado (comprador ou tomador dos serviços), não encontra nenhum problema em aceitar e, por isso, assina em um campo próprio localizado na frente (anverso) do título, devolvendo-o em seguida.
b) aceite presumido: ocorre quando o sacado resolve não assinar ou não devolver a duplicata assinada, no entanto, ao receber as mercadorias compradas, ele assinou o comprovante de recebimento, sem fazer qualquer ressalva quanto aos bens adquiridos. Ora, se ele recebeu normalmente as mercadorias é porque se presume que o vendedor cumpriu sua obrigação contratual. Logo, esse comprador deveria ter feito o aceite da duplicata. Nesses casos, o sacador deverá fazer o protesto do sacado por falta de aceite ou por falta de pagamento. Diante disso, é admitido como aceite presumido da duplicata: o comprovante de entrega das mercadorias assinado pelo sacado acompanhado do instrumento do protesto do título por falta de aceite ou falta de pagamento.
c) aceite por comunicação: ocorre quando o sacado retém o título e expressa o aceite em carta ou comunicado. Essa comunicação, mesmo escrita fora do título, produz os mesmos efeitos do aceite.
Atenção: O aceite na duplicata mercantil transforma o comprador em devedor cambiário do sacador ou, ainda, do endossatário, caso o título tenha sido posto em circulação por meio do endosso.
Protesto: Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião de protesto, com a finalidade de provar: 
i) a inadimplência do devedor;
ii) o descumprimento de obrigação constante de título de crédito; ou 
iii) qualquer outro ato importante relacionado com o título (ex: falta de aceite).
 
No caso da duplicata, para que serve o protesto? O protesto poderá servir para provar três situações distintas:
i) a falta de pagamento;
ii) a falta de aceite da duplicata;
iii) a falta de devolução da duplicata;
 
OPOSIÇÃO DE EXCEÇÕES PESSOAIS À EMPRESA DE FACTORING:
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João fez um contrato com uma empresa de móveis residenciais, segundo o qual ela iria construir e instalar os modulados da casa do cliente no prazo de 5 meses. Ficou combinado que João pagaria R$ 50 mil, divididos em 5 meses. Para instrumentalizar esse crédito, foram emitidas 5 duplicatas no valor de R$ 10 mil cada, a serem pagas por João assim que os serviços fossem entregues mês a mês. No sistema da duplicata, com base neste exemplo, João recebe o nome de “sacado” (comprador) e a movelaria é denominada de sacador (emitente).
• Sacado (comprador): é a pessoa que recebe a ordem de pagamento. É aquela que compra a mercadoria ou o serviço e paga para o beneficiário, que é o próprio vendedor.
• Sacador (emitente): é quem dá a ordem de pagamento (emite a duplicata). É aquele que vende a mercadoria ou o serviço.
 
Vale ressaltar que João, sem conhecer muito bem as regras de direito cambiário, deu aceite nas cinco duplicatas, ou seja, assinou-as na frente do título comprometendo-se a pagá-las mesmo sem ter ainda recebido os móveis comprados.
 
Venda das duplicatas para a factoring: A empresa, precisando de dinheiro imediatamente para ter capital de giro, procurou uma factoring e “vendeu” essas duplicatas(contrato de conventional factoring). Em outras palavras, a empresa de modulados cedeu o crédito estampado nas duplicatas para a factoring e, quando ocorresse o dia do vencimento de cada uma delas, quem receberia o valor pago pelo cliente seria a própria factoring (e não mais a movelaria). Importante registrar também que João foi notificado de que a empresa estava vendendo as duplicatas para a factoring e contra isso não se opôs.
 
Abrindo um parêntese para explicar esse serviço da factoring: Factoring tradicional (conventional factoring): nesta atividade, o empresário cede à factoring os títulos de crédito que recebeu em sua atividade empresária e que somente irão vencer em uma data futura, e a empresa de factoring antecipa esse pagamento, recebendo, como contraprestação, um percentual desses créditos. Trata-se de uma forma de o empresário obter capital de giro nas vendas a prazo. Ex.: uma loja recebe um cheque “pré-datado” (pós-datado) para 90 dias no valor de R$ 10 mil. Ocorre que a loja precisa de dinheiro logo. Então, ela cede o cheque para a empresa de factoring, que irá pagar à vista para a loja R$ 9.700,00 e, daqui a 90 dias, irá descontar o cheque, ficando com os R$ 10 mil. A loja recebeu o crédito à vista e teve que pagar um percentual à factoring. É como se o cliente tivesse “vendido” o título para a factoring, que irá cobrar do devedor no momento do vencimento da dívida. 
O contrato de conventional factoring é um contrato de mútuo? Não. Em verdade, consiste em uma compra e venda de créditos (direitos), por um preço ajustado entre as partes. Fechando o parêntese e voltando ao exemplo envolvendo a movelaria e João.
 
Atraso nos móveis: A empresa de modulados entregou as duas primeiras partes dos móveis nos dois primeiros meses, tendo João pagado as duas primeiras duplicatas. A partir do terceiro mês, no entanto, a empresa, alegando atraso na produção, não entregou a terceira parte. Diante disso, João também não pagou a terceira duplicata. Isso se repetiu no quarto e quinto meses. Desse modo, a empresa cumpriu dois meses de seu compromisso contratual e, como não mais entregou os móveis a partir daí, o cliente deixou de pagar as três duplicatas restantes. Ocorre que a factoring, que já havia “comprado” as duplicatas, não quis saber de nada e, como não houve o pagamento, levou os títulos para protesto.
 
Exceções pessoais: Juridicamente, um dos sentidos da palavra “exceção” é o de defesa. Assim, o termo “exceção” pode ser utilizado como sinônimo de defesa em alguns casos.
Em direito cambiário, quando falamos em “exceções pessoais”, estamos querendo dizer que são defesas que a pessoa que emitiu o título de crédito possui em relação àquele em favor de quem foi emitido o título de crédito. Ex: Pedro quer comprar um celular de Mário e emite uma nota promissória. A origem da nota promissória é a compra e venda (trata-se da causa subjacente/causa debendi). O celular apresenta vício e, por isso, Pedro não paga o valor da nota promissória e devolve o celular. Se Mário executar essa nota promissória, Pedro poderá invocar, como exceção pessoal, que a causa subjacente não se concretizou. Trata-se de uma exceção pessoal do emitente em relação ao beneficiário do título.
As exceções pessoais podem ser invocadas (alegadas) pelo emitente para deixar de pagar o beneficiário do título. No entanto, em regra, as exceções pessoais não podem ser utilizadas contra pessoas de boa-fé que receberam o título. Isso está previsto no art. 916 do Código Civil:
Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.
 
Assim, se Mário já havia passado a nota promissória para Juliana, uma terceira pessoa, e ela estava de boa-fé, Juliana poderá executar o título cobrando o valor de Pedro. Este, coitado, ficará com o celular quebrado e terá que pagar o valor do título para Juliana. Obviamente que, depois, Pedro poderá tentar cobrar de Mário aquilo que foi pago. No entanto, repito, não poderá invocar contra Juliana sua exceção pessoal porque o título circulou e agora encontra-se com alguém considerado terceiro de boa-fé.
 
Voltando ao exemplo da factoring: A factoring (faturizadora) está cobrando de João o valor das três duplicatas não pagas. João não quer pagar porque a mercadoria não foi entregue. João (sacado) poderá invocar isso como exceção pessoal para não pagar à factoring? NÃO.
 
Alguém poderia falar: mas a duplicata é um título causal, ou seja, ela está relacionada com um negócio jurídico. Se este negócio jurídico não foi cumprido, mesmo assim, a duplicata terá que ser paga? A duplicata é um título causal no momento da sua emissão. No entanto, ela conserva essa característica apenas até a emissão do aceite, expresso ou ficto, quando adquire feição e qualidades próprias dos demais títulos de crédito, tanto que se admite a sua circulação, por cessão ou endosso. Isso porque o aceite confere ao adquirente da duplicata uma segurança jurídica de que o negócio que justificou a emissão do título foi cumprido. A certeza é transmitida pelo próprio devedor (sacado) que, podendo recusar, aceitou o título. Assim, depois do aceite, a duplicata perde o caráter causal, ou seja, desvincula-se do negócio jurídico que lhe deu causa. Além disso, com a circulação (que ocorre com o endosso do título para terceiros), a duplicata passa a ter duas outras características muito relevantes para o direito cambiário: autonomia e abstração.
a) Autonomia: o possuidor de boa-fé (possuidor do título de crédito), ao cobrar esse título, está exigindo um direito próprio (direito seu), que não pode ser atrapalhado por conta de relações jurídicas anteriores entre o devedor e antigos possuidores do título. Assim, o possuidor de boa-fé do título de crédito não tem nada a ver com o fato de o título ter vícios ou defeitos anteriores. Se ele é o atual possuidor e está de boa-fé, tem direito ao crédito (obs.: existem algumas exceções ao princípio da autonomia, que não interessam no momento).
b) Abstração: significa que os títulos de crédito, quando circulam, ficam desvinculados da relação que lhe deu origem. Ex: João comprou um notebook de Ricardo, entregando-lhe uma nota promissória. Ricardo endossou a nota promissória para Rui. Ricardo acabou nunca levando o computador para João. Rui (que estava de boa-fé) poderá cobrar de João o crédito constante da nota promissória e o fato de o contrato não ter sido cumprido não poderá ser invocado para evitar que João pague o débito. Isso porque, como o título circulou, ele já não tem mais nenhuma vinculação com o negócio jurídico que lhe deu origem.
Esses dois princípios acima elencados têm por objetivo conferir segurança jurídica ao tráfego comercial e à circulação do crédito. Se a pessoa que recebeu um título de crédito (aparentemente válido) pudesse ficar sem o dinheiro por força de vícios anteriores ou por conta de uma quitação que não consta na cártula, isso geraria um enorme risco ao portador, o que desestimularia as pessoas a aceitarem títulos de crédito.
 
Foi isso que decidiu o STJ:
A duplicata mercantil, apesar de causal no momento da emissão, com o aceite e a circulação adquire abstração e autonomia, desvinculando-se do negócio jurídico subjacente, impedindo a oposição de exceções pessoais a terceiros endossatários de boa-fé, como a ausência ou a interrupção da prestação de serviços ou a entrega das mercadorias. STJ. 2ª Seção. EREsp 1.439.749-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 28/11/18 (Info 640).
 
Essa é também a opinião da doutrina majoritária:
“Assim, aceitando a duplicata, o sacado não mais poderá discutir a causa debendi porque o título liberta-se de sua causa originária em razão de ter reconhecido a sua exatidão e ter assumido a obrigação de pagá-lo no vencimento, tornando líquida a obrigação cambiária, ainda mais porque o sacado poderia ter recusado o aceite no prazo do art. 7º e pelas razões do art. 8º, e não o fez” (ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio da. Títulos de Crédito.2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 690). 
 
“A duplicata, título causal, pois nascido sempre de uma compra e venda a prazo, com a assinatura do comprador desprende-se da causa que lhe deu origem já que o comprador não apenas reconheceu a exatidão da mesma como a obrigação de pagá-la na época do vencimento. A obrigação torna-se desse modo líquida, o que dá maior segurança de recebimento não apenas ao sacador-vendedor como a qualquer outra pessoa a quem o título seja transferido.” (MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. Vol. II. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 165).
 
A ausência de entrega da mercadoria não vicia a duplicata que já foi aceita. Assim, uma vez aceita a duplicata, o sacado (aceitante) fica vinculado ao título como devedor principal e a ausência de entrega da mercadoria não pode ser oponível ao endossatário de boa-fé (empresa de factoring). Vale ressaltar que o aceitante (João) terá direito de regresso contra a endossante (empresa de móveis), diante do descumprimento do negócio jurídico subjacente.
 
A empresa de factoring, mesmo trabalhando com isso, pode ser considerada como terceiro de boa-fé? Em regra, sim. Não se pode presumir que a empresa de factoring, que celebrou mero contrato de factoring tradicional (conventional factoring), tenha conhecimento se a empresa endossante está ou não entregando as mercadorias ou prestando os serviços de forma pontual. Obviamente, seria possível que o aceitante demonstrasse que tal situação é do conhecimento da empresa de factoring, o que excluiria a sua boa-fé. Essa prova seria mais fácil caso o contrato que a factoring tivesse com a empresa de móveis fosse mais amplo e abrangesse não apenas a “compra” de títulos de crédito, prevendo também que a factoring desempenharia atividades de gerência financeira, gestão de crédito e seleção de riscos em favor da empresa, o que não era o caso.
5.7. Não é necessária prévia autorização do cônjuge para que a pessoa preste aval em títulos de créditos típicos – (Info 604) – NOVIDADE!!!
		O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada somente pode prestar aval se houver autorização do seu cônjuge (exceção: se o regime de bens for da separação absoluta).
Essa norma exige uma interpretação razoável e restritiva, sob pena de descaracterizar o aval como instituto cambiário.
Diante disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC somente é aplicado para os títulos de créditos inominados, considerando que eles são regidos pelo Código Civil.
Por outro lado, os títulos de créditos nominados (típicos), que são regidos por leis especiais, não precisam obedecer essa regra do art. 1.647, III, do CC.
Em suma, o aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de outorga uxória ou marital.
Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.526.560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 16/3/17 (Info 604).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.633.399-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/11/2016.
	OBS:
No que tange aos títulos de crédito nominados, o Código Civil tem uma aplicação apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da regulamentação dos títulos de crédito, no Código Civil, foi apenas o de permitir a criação dos denominados títulos atípicos ou inominados.
Assim, não deve ser aplicado art. 1.647, III, do CC aos títulos nominados porque esta regra é incompatível com as características dos títulos de crédito típicos.
A exigência de autorização do cônjuge do avalista enfraquece a garantia dos títulos de crédito, gerando intranquilidade e insegurança.
O aval consiste em uma declaração unilateral de vontade inserida no próprio título por meio da qual o avalista declara garantir o pagamento do valor inscrito no título. É, portanto, um instituto comercial muito mais ágil e informal do que a fiança, que é feita por intermédio de contrato.
A outorga uxória ou marital é compatível com o contrato de fiança, mas não com o aval que, como dito, é uma declaração unilateral. O portador do título de crédito, em regra, não tem contato algum com o avalista e, menos ainda, com algum documento de identificação deste por meio do qual possa descobrir seu estado civil.
5.8. CHEQUE: Termo inicial de correção monetária e de juros de mora em cobrança de cheque – (Info 587) – IMPORTANTE!!! – (PCPA-2016) (PGM-BH/MG-2017)
		Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a correção monetária incide a partir da data de emissão estampada na cártula, e os juros de mora a contar da primeira apresentação à instituição financeira sacada ou câmara de compensação. 
STJ. 2ª S. REsp 1.556.834-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/6/16 (recurso repetitivo) (Info 587).
	(PCPA-2016-FUNCAB): No tocante a crédito oriundo de cheque, o termo inicial para a incidência de correção monetária e o dies a quo para a contagem de juros de mora são: respectivamente, a data de emissão estampada na cártula e a data da primeira apresentação à instituição financeira sacada ou câmara de compensação. BL: Info 587, STJ.
5.9. CHEQUE: Possibilidade de protesto de cheque após o prazo de apresentação com a indicação apenas do emitente no apontamento – (Info 584)
		Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque com a indicação do emitente como devedor. 
STJ. 2ª S. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/4/16 (recurso repetitivo) (Info 584).
	OBS:
O que é um protesto de título? É o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida.
É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de apresentação? SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.
Mas o art. 48 da Lei 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.” E agora? O STJ afirma que a exigência imposta no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo de apresentação do cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados, para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.
Em outras palavras, o art. 48 da Lei nº 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança dos eventuais devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal (emitente).
O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação, desde que o cheque ainda não esteja prescrito.
Relembrando:
· Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do pagamento ou 60 dias, se for de praça diferente.
· Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do momento em que termina o prazo de apresentação do cheque.
Resumindo: 
O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso deve ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado protesto necessário. 
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, j. 24/2/15 (Info 556).
O STJ reafirmou este entendimento, agora sob a sistemática de recurso repetitivo.
5.10. DUPLICATA: Emissão de duplicata com base em mais de uma nota fiscal – (Info 581)
		Uma só duplicata pode corresponder à soma de diversas notas fiscais parciais.
Em outras palavras, uma única duplicata poderá abranger mais de uma nota fiscal.

Continue navegando