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Aula 01 Introdução Medicina do Trabalho Medicina do Trabalho: perspectivas histórica e social, legislação e doenças relacionadas ao trabalho. - Trabalho: conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim → Saúde ocupacional: é a área multidisciplinar do conhecimento humano que estuda e intervém nos aspectos relacionados à qualidade de vida no trabalho; a medicina do trabalho está incluída nessa categoria A especialidade médica envolvida nesta área, chama-se Medicina do Trabalho (MT). Medicina do trabalho (MT) - Bernardino Ramazzini, primeiro médico que introduziu essa discussão sobre o papel do trabalho na gênese de doenças “(...) Três são as causas das afecções nos escreventes: contínua vida sedentária, contínuo e sempre o mesmo movimento da mão e atenção mental. [...] A necessária posição da mão para fazer correr a pena sobre o papel ocasiona não um leve dano, que se comunica a todo o braço, devido à tensão tônica dos músculos e tendões, e com o andar do tempo diminui o vigor da mão. (RAMAZZINI, Bernardino).]” → Nomenclatura antiga: lesão por esforços repetitivos (LER) → Nomenclatura atual: doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT) CID-10 G50-59, G90-99, M00-99 A MT é uma especialidade médica que lida com as relações entre os trabalhadores e seu trabalho, visando à prevenção dos acidentes e das doenças do trabalho, a promoção da saúde e a qualidade de vida nestes ambientes. Quem pode exercer a Medicina do Trabalho? - Parecer CFM n. 08/1996: “Nenhum especialista possui exclusividade na realização de qualquer ato médico. O título de especialista é apenas um pressuposto de ‘plus’ de conhecimento em uma determinada área da ciência médica”. - Parecer CFM n. 17/2004: “Os Conselhos Regionais de Medicina não exigem que um médico seja especialista para trabalhar em qualquer ramo da Medicina, podendo exercê-la em sua plenitude nas mais diversas áreas, desde que se responsabilize por seus atos (…).” - Parecer CFM n. 09/2016: “O médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina (CRM) da jurisdição na qual atua está apto a exercer a profissão em toda sua plenitude, sendo impedido apenas de anunciar especialidade sem o registro do respectivo título no CRM. - Todo médico que tiver competência para tanto e se responsabilize por seus atos. Quem pode ser chamado de Médico do Trabalho? - “Médico do Trabalho” é o médico possuidor do RQE (Registro de Qualificação de Especialista) em Medicina do Trabalho. - “Especialista em Medicina do Trabalho” é o indivíduo, médico ou não, que realizou pós-graduação latu sensu em nível de especialização em Medicina do Trabalho; a divulgação deste título em peças publicitárias (audiovisuais, impressos) é vedada ao médico que não possui RQE, para evitar que os pacientes/usuários confundam esta titulação com especialidade médica reconhecida. Campos de atuação - Serviços Especializados de Engenharia de Segurança e de Medicina do Trabalho (SESMT) e na elaboração do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). - Assessoria, normalização e fiscalização das condições de Saúde e Segurança no Trabalho (SST) desenvolvida pelas diferentes formas de governo e na iniciativa privada. - Assessoria sindical e organizacional em SO. - Perícia Médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ou junto ao Sistema Judiciário. - Docência e capacitação profissional. - Investigação no campo das relações entre saúde e trabalho. Gabriela de Oliveira | T3 | 7º período 1 Aula 01 Ambiente de trabalho e legislação “ O ambiente de trabalho corresponde ao local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais. (...), caracterizado como o ambiente que cerca o trabalhador durante todo o período do dia em que exerce suas atividades laborais, o local de trabalho deve manter condições que assegurem a preservação da sua saúde e da integridade físico-psíquica, independentemente da sua condição pessoal (homem, mulher, menor idoso etc.) (ROMAR, 2018 citado por PEREIRA e PEREIRA, 2021).” - Organização Internacional do Trabalho (OIT) é a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata das relações e modos de trabalho dos Estados-Membros, com objetivos de: (a) definir e promover normas e princípios e direitos fundamentais no trabalho. (b) criar maiores oportunidades de emprego e renda decentes para mulheres e homens. (c) melhorar a cobertura e a eficácia da proteção social para todos. (d) fortalecer o tripartismo e o diálogo social. - Constituição Federal do Brasil (CF): 1988. - Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): Decreto Lei 5.452/1943 e alterações. - Capítulo V - Da segurança e da Medicina do Trabalho (arts. 154 a 200). - Instituem normas implícitas aos contratos de trabalho. - (a) Deveres do empregador e do empregado. - Cumprir e fazer cumprir a legislação relacionada ao trabalho. - Facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. - (b) Periculosidade (“risco intenso, imediato”) e insalubridade (“risco brando, prolongado”). - Periculosidade: adicional de 30% do salário básico (ex.: mineradores). - Insalubridade: adicional 10%, 20% e 40% do salário mínimo (ex.: profissionais de saúde). - Padrão misto (?): não se pode acumular benefícios. - (c) Normas regulamentadoras: as normas regulamentadoras são complementações ao Decreto Lei 5.452/1943, Capítulo V, elaborada pelo Ministério do Trabalho e Previdência e aprovadas pela Comissão Tripartite Partidária Permanente (CTPP). - (d) Penalidades: infrações geram penalidades de acordo com suas características de risco e possibilidade de resolução (advertência, auto de infração, paralisação). Riscos ocupacionais - Brasil (2001): físicos, químicos, biológicos, mecânicos e acidentes, ergonômicos e psicossociais. - Mendes (2013): físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais. - Brasil (2020) e Pereira (2021): físicos, químicos, biológicos, acidentes e ergonômicos. Gabriela de Oliveira | T3 | 7º período 2 Aula 01 Doenças associadas ao trabalho - São aquelas que têm a sua história natural modificada pelas condições de trabalho. Veja exemplo da escala de Schilling: - Maior prevalência (estimada): doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho, dermatoses ocupacionais, transtornos mentais associados ao trabalho, doenças respiratórias relacionadas ao trabalho, intoxicação por agrotóxicos → Classificação técnica - Doença do trabalho é “aquela adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e como ele se relaciona diretamente, constante da relação mencionada no inciso I” (art. 20, II, Lei 8.213/1991); relacionada ao ambiente de trabalho; pode ser Schilling I, II ou III. - Exemplo: perda auditiva induzida por ruído (PAIR), em trabalhadores de fábricas cujo gerenciamento de riscos físicos como o ruído não existem ou são insuficientes - Doença profissional é “produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social” (art. 20, I, Lei 8.213/1991); relacionada à profissão do trabalhador; toda doença profissional é Schilling I, ou seja, o trabalho é uma causa necessária para a doença. - Exemplo: “catarata da solda”, em trabalhadores soldadores em metalúrgicas, cujo gerenciamento de riscos físicos como o calor e a luz não existem ou são insuficientes. As doenças profissionais são doenças associadas ao trabalho que são legalmente reconhecidas, por meio da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, disposta no Anexo LXXX da Portaria de Consolidação n. 5/2017, atualizada pela Portaria MS n. 2.309/2020. - São cerca de quatrocentas doenças, separadas em treze grupos. - Sua identificação está associada à concessão de benefícios previdenciários, por motivos de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte Prática médica Gabriela de Oliveira | T3 | 7º período 3 Aula 01 → Recursos e instrumentos para investigaçãoOBS- relembrando tópicos da aula Questões 1) Recém-formado médico generalista, você foi convidado a trabalhar em uma empresa na área de medicina do trabalho. Discuta essa possibilidade com base na legislação vigente. 2) Discuta e exemplifique a classificação de Schilling (1984) de relação entre doença e o trabalho. 3) Exemplifique cada um dos riscos ocupacionais apresentados pela legislação vigente atualizada. 4) Quais riscos ocupacionais o médico está submetido em um ambiente de trabalho hospitalar? E em um ambiente de trabalho de uma unidade básica de saúde? Gabriela de Oliveira | T3 | 7º período 4 Aula 01 EDITORIAL - indicação de leitura da aula O papel do médico do trabalho na atenção primária à saúde Relembrando o conceito de APS: “Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e automedicação.” Ainda de acordo com a definição da OMS, a APS representa o primeiro nível de contato com o sistema médico, o qual é responsável por levar os cuidados de saúde para o mais próximo possível dos lugares onde pessoas vivem e trabalham. Aqui, já se vislumbra uma parte do papel do médico do trabalho e uma forte relação com a medicina do trabalho, pois, muitas vezes, o trabalhador tem, no médico do trabalho, seu primeiro, talvez único, contato com o sistema de saúde. Como um dos objetivos da APS é divulgar orientações sobre a prevenção de doenças e a promoção da saúde, os exames médicos ocupacionais também podem (e devem) ser utilizados como uma “porta de entrada” do trabalhador no cuidado geral da sua saúde. A promoção da saúde se assenta em dois pilares basilares, sendo que um diz respeito ao comportamento quotidiano e o outro, às circunstâncias em que vivemos. Ambos possuem um grande impacto na vida e na saúde, ou seja, a saúde é fortemente influenciada por esses dois fatores. A promoção da saúde pretende oferecer uma visão holística, isto é, olhar para as pessoas como um todo, de uma forma abrangente, pois ser saudável é muito mais do que não estar doente3. Estes quatro atributos básicos devem estar presentes no papel do médico do trabalho em relação à APS: - ATENÇÃO AO PRIMEIRO CONTATO: a atenção ao primeiro contato acontece no exame médico de admissão, no qual é importante que o trabalhador perceba o médico do trabalho como acessível, interessado e de confiança e que o exame médico não seja somente para avaliar a aptidão, mas que seja realizado com uma visão holística do trabalhador. Inicia-se, então, uma relação médico-trabalhador. - CONTINUIDADE DO ATENDIMENTO: os exames médicos periódicos constituem uma fonte regular de atenção ao trabalhador e o seu uso frequente ao longo do tempo (longitudinalidade do atendimento). É importante que o médico do trabalho e o trabalhador estejam conscientes de que os exames não são realizados somente para cumprir uma legislação, mas para avaliar de forma permanente o estado de saúde do trabalhador. Dessa forma, é estabelecido um vínculo entre os dois, de forma que o médico do trabalho conheça o histórico de saúde do paciente, facilitando o entendimento quando uma nova demanda surgir. Esse vínculo deve se converter em uma cooperação mútua entre ambos. - INTEGRALIDADE DO SERVIÇO: integralidade do serviço de medicina do trabalho, seja público/privado/terceirizado, implica em atendimento ocupacional e clínico, a fim de que eventuais doenças manifestas possam ser posteriormente direcionadas a outros níveis de atenção, como encaminhamento para consultas com médicos de outras especialidades ou internação hospitalar. Integralidade também significa a ampliação do conceito de saúde para aspectos psicossociais - COORDENAÇÃO (INTEGRAÇÃO) DO CUIDADO: Cabe ao médico do trabalho organizar, coordenar e integrar os cuidados previamente mencionados. A coordenação dos cuidados implica em alguma forma de continuidade no contato entre os profissionais, sejam eles terceirizados ou não. Nesse contexto, é fundamental garantir que os problemas observados em consultas anteriores ou que tenham motivado encaminhamento para outros profissionais sejam constantemente avaliados. Esse reconhecimento de problemas será facilitado se o mesmo profissional examinar o trabalhador durante o processo de acompanhamento ou se houver um prontuário médico com todas as informações pertinentes a todos os atendimentos. O médico do trabalho deve ter, a priori, um conhecimento clínico geral para o desempenho do seu papel no mundo do trabalho. O trabalhador deve ser visto, atendido e entendido como um ser único, não segmentado em partes ocupacionais e não ocupacionais, criando, assim, um projeto estocástico que permita ao médico do trabalho conhecer o passado do trabalhador (prontuário médico), prever o futuro da saúde do trabalhador (promoção de saúde) e, consequentemente, construir o presente para esse trabalhador (prevenção). O papel do médico do trabalho, nesse sentido ampliado, holístico e não utópico, fará da medicina do trabalho um grande pilar de benefício ao trabalhador, ao empregador, ao sistema de saúde e, principalmente, à nação brasileira. Gabriela de Oliveira | T3 | 7º período 5
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