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UCA001_Filosofia_do_Conhecimento_Tema6

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Teorias do conhecimento filosófico
Márcio Tadeu Girotti
Introdução
A filosofia, longe de ser uma ciência exata, procura caminhos reflexivos que envolvam pensa-
mento e conhecimento para buscar soluções, causas, fundamentos para todos os fenômenos que 
ocorrem no mundo da experiência. 
Mais do que procurar a causa última de todas as coisas, a filosofia é um ramo do conhe-
cimento que tem por base o pensar, o refletir, o dialogar, a busca por um método do conhecer, 
transformando o mundo em uma representação para o sujeito, constituindo conceitos de objetos 
representados no campo da experiência sensível.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
 • entender o que é o conhecimento na vertente filosófica;
 • entender que a filosofia não busca soluções, mas sim busca reflexão e entendimento 
para perceber o problema que confronta a realidade em determinado momento;
 • identificar o método filosófico para o conhecimento.
1 O que é conhecimento
O conhecimento está na relação entre aquele que conhece e aquilo que é conhecido, entre 
o sujeito do conhecimento e o objeto. O mundo se apresenta ao sujeito de forma desorganizada 
e é ele quem organiza o mundo em forma de pensamento, a fim de conhecer a coisas. Não se 
conhece do nada, ninguém inicia o conhecimento a partir do nada, pois há conhecimento acumu-
lado, que é transmitido e trabalhado pelo ser humano.
Desde a Antiguidade, o ser humano buscava conhecer o ser das coisas, o que são as coisas, 
a relação que elas estabelecem entre si e com o mundo, o ato de refletir levava o ser humano ao 
conhecimento. Essa busca pelo ser das coisas é a ontologia, o estudo do ser enquanto ser, que 
orientou, por séculos, o desenvolvimento do pensamento filosófico. 
Os primeiros filósofos iniciaram o descobrimento da natureza pelo ato de conhecer, bus-
cando conhecer as coisas como elas são, a partir disso criaram teorias sobre as coisas e sobre 
o mundo, tudo dentro de um processo do pensar, do conhecer. A passagem do mito para a razão 
representou um grande avanço dentro da teoria do conhecimento, rompendo com a forma sobre-
natural de interpretar o mundo, estabelecendo um novo mecanismo de conhecimento a partir da 
razão, com a investigação da natureza sem o auxílio do sobrenatural.
Figura 1 – Conhecimento humano
Fonte: Chinnapong/Shutterstock.com
O próprio conhecimento é objeto de conhecimento. Para tanto, é criticado, questionado, 
busca-se refletir sobre o conhecimento adquirido promovendo no ser humano uma autorrefle-
xão que o leva a constituir novos saberes, uma reflexão sobre o conhecer e sobre si mesmo, um 
autoconhecimento.
FIQUE ATENTO!
O conhecimento está na relação entre o sujeito e o objeto, entre o eu e o mundo, na 
forma de representação das coisas, criando conceitos de objetos.
SAIBA MAIS!
A ontologia, o estudo do ser enquanto ser, foi fundamental para o desenvolvimento 
do método em filosofia, que mais tarde transformou-se em epistemologia, um 
saber sobre como conhecemos, e não mais o que conhecemos.
2 Filosofia e conhecimento
A filosofia sempre se ocupou com o processo do conhecimento. Desde sua origem, a busca 
pelo saber conduziu os pensadores a procurarem formas de conhecimento, bem como a origem 
de todo o saber. 
A partir da investigação da natureza, a filosofia tentava entender o mundo e as coisas que 
nele estão. Investigava o princípio de todas as coisas, o elemento primordial, a arché, essência que 
compõe tudo o que existe. 
Figura 2 – Busca pelo saber
Fonte: PHOTOCREO Michal Bednarek/Shutterstock.com
O conhecimento filosófico é constituído por indagações sobre o ser e sobre o mundo, buscando 
na natureza a compreensão da existência das coisas, ultrapassando o mundo sensível, o mundo 
da experiência, à procura da causa última de todas as coisas a partir de fundamentos metafísicos.
No mundo do conhecimento, a ontologia fundamentou o pensamento filosófico por séculos, 
com a continua tentativa de conhecer o ser em sua essência, refletindo sobre o ser e sua existên-
cia enquanto ser, em sua relação com o mundo. Posteriormente, com a epistemologia, a filosofia 
começa o processo de conhecimento a partir de como podemos conhecer. A preocupação não é 
mais pelo que pode ser conhecido, mas sim quais são os instrumentos estabelecidos para o pro-
cesso de conhecimento.
Nesse sentido, o conhecimento, essa relação do eu com o mundo, promove a conceituação 
do mundo, a transformação da abstração dos objetos em ideias, em conceitos, em formas de 
conhecimento, que, aos poucos, foi se constituindo em teorias do conhecimento, o processo de 
como conhecemos as coisas. 
FIQUE ATENTO!
Desde os primórdios, a filosofia buscava uma teoria para o conhecimento, e viu na 
arché a primeira possibilidade de estabelecer um elemento essencial para a com-
posição das coisas.
EXEMPLO
Arché, elemento primordial, para o filósofo pré-socrático Tales de Mileto, era a água. 
Tudo o que existe contém água ou já passou em algum momento de sua transfor-
mação pelo estado da água. 
 
3 O método na filosofia
O método do conhecimento surge a partir do problema em relacionar o sujeito e o mundo, 
como relacionar os objetos do mundo à ideia deste objeto em forma de conceito e abstração. Com 
isso, a filosofia procurava estabelecer a relação do sujeito com o objeto a partir da representação.
A intermediação entre sujeito e mundo é a representação que o sujeito faz do mundo, esse 
modo de relacionar o objeto ao sujeito, essa representação, é o que promove a origem do método.
Em toda esfera do conhecimento, o método busca solucionar problemas, para o eu, para o 
outro, para o mundo, mas o método não é único. Em especial, na filosofia nunca se chegou a um 
método que resolvesse todos os problemas, ou que fosse o único para a obtenção do conhecimento.
Figura 3 – Pensamento reflexivo
Fonte: imtmphoto/Shutterstock.com
O filósofo Sócrates acreditava na dialética como método para o conhecimento, a maiêutica 
socrática, o método de perguntar, partindo de premissas, da desconstrução do conhecimento para 
chegar a um resultado, ao conhecimento pretendido. Platão aprimorou o método de Sócrates, pro-
movendo uma dialética que envolvia uma rememoração, a reminiscência, conhecimentos outrora 
adquiridos e relembrados no processo do conhecer. Aristóteles, contrário a Platão, via no mundo 
da experiência o processo de conhecimento, constituindo o conceito das coisas do mundo a par-
tir da abstração desses objetos, comparando objetos e abstraindo deles suas semelhanças for-
mando o conceito do objeto.
O método de Sócrates e Platão, assim como de Aristóteles, são exemplos de como a filosofia 
procura conhecer por meio de um método. Na história da filosofia, o método se adapta à forma 
do conhecimento. Seja racional ou empírico, ele evolui, se modifica, se transforma, é aprimorado, 
mostrando que não há um método pronto e acabado para o conhecimento.
FIQUE ATENTO!
O método se estabelece na relação entre o sujeito e o objeto, com a intermediação 
do objeto e sua ideia/conceito por meio da representação. 
EXEMPLO
Pelo método de Platão, somente conheço uma cadeira porque há uma ideia de 
cadeira no mundo ideal. Essa cadeira que vejo é somente uma cópia imperfeita da 
ideia de cadeira, uma sombra da ideia perfeita.
4 A filosofia e o filosofar
Filosofia e filosofar são coisas distintas, a filosofia é uma forma de pensamento, de conheci-
mento, uma maneira de adquirir saber; enquanto o filosofar é uma forma de reflexão, de buscar o 
conhecimento, de contrapor verdades, de relacionar saberes.
A principal diferença entre filosofia e filosofar foi estabelecida por Immanuel Kant (1724-
1804) na sua obra “Crítica da razão pura” (1781), quando trata sobre o conhecimento e o processo 
de aquisição do saber. A Kant se atribui a expressão “não se ensina filosofia, se ensinafilosofar”. 
Com isto, ele pretende mostrar que o ensino da filosofia está relacionado ao processo de filosofar, 
de construir conhecimento a partir da reflexão, já que a filosofia é um conhecimento racional que 
parte de princípios e a partir deles se constitui o conhecimento. 
O filosofar está presente em nosso dia a dia, quando ponderamos, refletimos sobre deter-
minada escolha, quando buscamos resolver um problema, a todo momento estamos refletindo, 
pensando e, com isso, fazemos conhecimento. A filosofia parece ser um saber já constituído, que 
a todo tempo é questionado, desconstruído, revigorado, refletido e reflexivo, que nos conduz a 
raciocinar, a utilizar a razão para questionar e adquirir novos saberes.
Figura 4 – Reflexão
Fonte: ChristianChan/Shutterstock.com
A busca por conhecimento é um processo do filosofar. É com reflexão que adquirimos conhe-
cimento e a filosofia fundamenta a aquisição do saber por meio do método, transformando o 
mundo em uma representação que será trabalhada pela razão a fim de constituir uma ideia, um 
conceito, formando um conhecimento.
No âmbito do conhecimento, é o sujeito que constrói sua representação de mundo, formando 
conceitos para objetos da natureza, procurando entender o mundo por meio de algum método que 
oriente seu conhecimento.
SAIBA MAIS!
Leia o artigo “A história da filosofia e o filosofar: um olhar a partir de Kant” para 
melhor entender como o pensador articulava a diferença entre filosofia e filosofar. 
Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGE-
NESE/elitonsilva.pdf>.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 • compreender o que é o conhecimento;
 • entender o método na filosofia;
 • diferenciar a filosofia do filosofar.
Referências 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria. Helena Peres. Filosofando: introdução à filoso-
fia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993.
CHAUI, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1983. 
SILVA, Éliton Dias da. A história da filosofia e o filosofar: um olhar a partir de Kant. Filogênese, 
Marília, v. 6, n. 2, p. 163-170, 2013. Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasE-
letronicas/FILOGENESE/elitonsilva.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2017.

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