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Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Tutoria 5 – Módulo 1 Fibromialgia 1. Entender a dor fibromialgia (definição, fisiopatologia e quadro clínico) Definição: o É uma síndrome álgica musculoesquelética crônica, de duração superior a 3 meses, generalizada, na qual existe um distúrbio do processamento dos centros aferentes, causando dor. De natureza não autoimune e não inflamatória, sua etiologia permanece desconhecida. o Se caracteriza por dor generalizada, pontos dolorosos, distúrbios do sono e fadiga extrema. A dor sempre é percebida na musculatura e está relacionada com a sensibilização das vias de transmissão da dor no SNC. o Caracterizada pela presença de dor difusa, generalizada e crônica – duração maior que três meses, associada a fadiga e sono não repousante. Acomete principalmente mulheres (9 mulheres para 1 homem), apresenta distribuição universal e pode ser encontrada em todos os grupos étnicos, em todos os climas e em todas as culturas. o É a segunda maior causa de consultas a reumatologistas, logo após a osteoartrite. Fisiopatologia: Mecanismos fisiológicos postulados: ( o Sensibilização central: Portadores de fibromialgia estão em um estado de centralização da dor, o que significa que eles sentem mais dor do que o esperado para certo estímulo nociceptivo. Algumas alterações do sistema nervoso central interpretam esse estímulo como sensações desagradáveis e os traduzem em dor, além de amplificá-los. As fibras da dor (fibras C desmielinizadas) são estimuladas repetida, rápida e prolongadamente – em um somatório temporal dos impulsos neurais. Isso amplifica os potenciais de ação nos neurônios do corno posterior da medula. E essa hiperestimulação causa despolarização dos receptores N- metil-D-aspartado (NMDA), gerando alterações da transcrição que afetam o processamento da dor. Além disso, há uma inibição das vias descendentes inibitórias da dor. Essas vias modulam a resposta medular aos estímulos dolorosos e estão prejudicadas em portadores de fibromialgia, o que potencializa a sensibilização central. Os níveis de neurotransimissores estão implicados na percepção da dor pelo indivíduo, facilitando ou dificultando a transmissão do estímulo. Esses transmissores também controlam o sono, humor, memória e atenção, e por isso pacientes com fibromialgia muito frequentemente também apresentam alterações do padrão do sono, humor, da memória e da atenção, como veremos adiante nas manifestações clínicas. o Alterações musculares: Foram observadas, por técnicas de imunohistoquímica, atrofia muscular de fibras tipo II, bem como fibras reticulares, maior quantidade de lipídeos e de mitocôndrias. Essas alterações são secundárias à redução da microcirculação local, causando hipóxia e reduzindo a energia disponível. Como, na contração, há maior necessidade de oxigênio, isso acaba causando hipóxias focais cronicamente. Esse processo ativa os receptores adenosina A2, sensibilizando fibras nervosas não mielinizadas. Além disso, há desregulação vascular, aumento de substância P nos músculos, de interleucina-1 (IL-1) no tecido cutâneo e fragmentação do DNA de fibras musculares. Todos esses processos parecem estar implicados também na fisiopatologia da fibromialgia. o Alterações neuro-hormonais e autonômicas: Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período A cronicidade da dor e alterações nos mecanismos nociceptivos no SNC geram uma hipersecreção do hormônio ACTH (adenocorticotrópico). Essa hipersecreção ocasiona uma resposta sustentada ao estresse pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHS). Estudos mostram aumento dos níveis de ACTH em nível basal e em estresse, além de níveis elevados de cortisol – particularmente no fim do dia – e de ciclo cicardiano interrompido. Altos níveis de ACTH aumentam os níveis do hormônio somatostatina, que, por sua vez, inibe o GH. Esse hormônio também é produzido na fase IV do sono, fase esta que é interrompida nos pacientes fibromiálgicos. Logo, os níveis de GH nesses indivíduos é reduzido, particularmente durante o sono. Alterações na frequência cardíaca de repouso, diminuição da variabilidade desta ao longo do dia e hipotensão ortostática sugerem uma hiperreatividade persistente do sistema nervoso autônomo (SNA) em pacientes com fibromialgia. Um aumento do tônus simpático durante o sono foi sugerido como possível explicação para a fragmentação do sono, além de pode explicar fadiga, rigidez matinal, distúrbios do sono, ansiedade e irritabilidade nesses pacientes. Com relação às alterações do sono, um aspecto importante do sono desses indivíduos é a presença de sono alfa- delta. Mas o que seria isso? O sono não REM possui quatro fases. À medida que essas fases progridem e o sono mais profundo é alcançado, a frequência das ondas cerebrais diminui. Na vigília com olhos fechados, as ondas possuem uma frequência entre 8Hz e 13Hz – chamadas de ondas alfa. A fase I é uma transição da vigília e, no eletroencefalograma, se associa a ondas teta (4 a 7Hz); já a fase IV é constituído majoritariamente por ondas delta (<4Hz). É a fase IV, formada pelas ondas delta, a responsável pelo sono reparador e recuperador da energia física. Em pacientes com fibromialgia, há redução da eficiência do sono, com pequenos despertadores noturnos frequentes, diminuição da duração de sono de ondas lentas e intrusão de ondas alfa nas fases do sono profundo. Esse padrão é chamado de sono alfa-deta e está presente em cerca de 90% dos pacientes. No entanto, o sono alfa-delta não é específico da fibromialgia, podendo estar presente em outras condições e até em indivíduos normais. Quadro clínico: o Fadiga; o Distúrbios do sono; o Baixa tolerância aos exercícios físicos; o Adormecimentos; o Pontadas; o Queimação; o Cãibras; o Edema de membros; o Tontura; o Palpitações; o Alterações cognitivas; o Ansiedade; o Humor deprimido; Fatores de risco: As mulheres apresentam mais dores musculares que os homens, além de maiores respostas à dor aplicada por pressão, ou injeção de substância álgica na musculatura (Dannecker et al., 2008). A fibromialgia acomete as mulheres em um número bem maior que os homens (Bjorkegren et al., 2009). Um fator importante a respeito da fibromiagia é a sua provável história familiar, visto que os parentes de primeiro grau de um portador possuem uma propensão 8 vezes maior de desenvolver os sintomas (Smith et al., 2011), além de maior prevalência de tender points, indicando forte potencial de caráter hereditário (Goldenberg et al., 2008). No indivíduo geneticamente predisposto, a fibromialgia pode ser desencadeada por Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período fatores como traumas físicos e psíquicos, mudanças climáticas, sedentarismo, ansiedade, depressão e falta de lazer (Valim et al., 2003). O estresse emocional também é responsável por agravar ou precipitar o quadro (Mcloughlin et al., 2011). Existem outros fatores que podem desencadear a fibromialgia, como excesso de atividades físicas, excesso da jornada de trabalho, pouco apoio para as atividades profissionais nas empresas, excesso de atividade mental em trabalhos monótonos, utilização inadequada de material de trabalho ou materiais inadequados para a realização das atividades profissionais, posturas incorretas para a realização das tarefas, ambientes impróprios e insalubres de trabalho, estresse, pouco apoio familiar e solidão (Sikes et al., 2008). Recentemente, dois fatores estão chamando a atençãodos reumatologistas com relação a fibromialgia, que são a obesidade e a falta de atividade física (Williams e Arnold, 2011). Mulheres que se exercitam quatro vezes por semana apresentaram um risco 29% menor de desenvolver fibromialgia, em comparação com as mulheres fisicamente inativas. O IMC (índice de massa corporal) elevado (acima de 30) também é um fator de risco forte para o desenvolvimento da doença (Sprouse-Blum et al., 2010). o Neuropatia diabética – esta é uma forma de dano nervoso que pode acontecer em pessoas com diabetes. Diagnóstico: Geralmente, o exame físico é normal ou fornece poucos achados, a não ser pelo dolorimento difuso, o qual é avaliado pelos tender points ou pela palpação digital. O exame físico é extremamente importante pois ajuda na determinação da hipersensibilidade dolorosa, assim como no auxílio de diagnósticos diferenciais e comorbidades. Ainda no exame, as articulações devem ser examinadas e pesquisadas quanto à presença de edema, dolorimento, amplitude dos movimentos e crepitação. Os pacientes devem ser avaliado quanto à presença de geradores periféricos de dor (artrite reumatóide, osteoartrite, tendinopatias). Fraqueza e força muscular precisam ser objetivamente pesquisadas. O achado de outras afecções evocadoras de dor não exclui, nem elimina o diagnóstico de fibromialgia. Um acho típico nessa doença é o padrão postural flexor típico. Doze dos dezoito tender points padronizados pela ACR para a caracterização da fibromialgia se localizam em músculos eretores e outros dois, em articulações esternais, estruturas sobrecarregadas nas posição fletida. Indivíduos com fibromialgia têm tendência a apresentar maior tensão em músculos posturais como o trapézio e o infraespinal, e menor resposta durante atividades dinâmicas quando comparados com controles livre de dor. Mesmo que os tender points representem sensibilidade aumetada, não há evidência de que os tecidos dolorosos sejam histolófica ou funcionalmente anormais. o Classificação para a síndrome: Presença de dor difusa pelo corpo (acima e abaixo da cintura, do lado direito e esquerdo do corpo) por mais de 3 meses; Detecção de onze pontos dolorosos á palpação, os tender points. Deve-se aplicar a esses locais uma pressão de, aproximadamente 4 kg/cm2 (aplicar força de pressão digital suficiente para que o leito ungueal do examinador se torne branco) e, a partir daí, indíviduos normais passam a indicar se o local é doloroso. Se a pessoa tiver fibromialgia aponta dor com pressões bem menores que as toleradas por indivíduos normais. Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período o No entanto, essa classificação limitava a investigação da doença na medida em que não levava em consideração alterações do sono, fadiga e distúrbios cognitivos. Assim, em 2010, a American College of Rheumatology mais uma vez se reuniu e elaborou os critérios de 2010, utilizando o índice de dor generalizada (IDG) e a escala de gravidade dos sintomas (EGS). IDG: Solicita-se ao paciente que relate o local de qualquer dor que tenha sentido durante a última semana em dezenove área, incluindo ombros, braços, quadris, pernas, mandíbula, peito, abdome, costas e pescoço. EGS: Leva em conta a gravidade dos sintomas na última semana, os quais são graduados por uma escala de zero à três, na qual zero corresponde a ausente; um, a sintomas leves ou intermitentes; dois, em grau moderado ou frequentemente presente e três, grave e contínuo. Marcar a gravidade dos seguintes sintomas nos últimos 7 dias: • Fadiga (cansaço ao executar atividades): (0) (1) (2) (3) • Sono não reparador (acordar cansado): (0) (1) (2) (3) • Sintomas cognitivos (dificuldade de memória, concentração): (0) (1) (2) (3). Sendo que: 0 = ausente; 1 = leve ou intermitente; 2 = moderado: intensidade moderada, sintoma geralmente presente; 3 = grave: sintoma persistente, contínuo, com prejuízo da qualidade de vida e funcionalidade. Subtotal:___________ (máximo de 9) Sintomas somáticos: responder às seguintes questões: Você apresentou um desses sintomas nos últimos 6 meses? Dor abdominal: Não (0) Sim (1) Cefaleia: Não (0) Sim (1) Depressão: Não (0) Sim (1) Total do EGS: _____________ (máximo de 12) Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Total do IDG e EGS: _____________ (máximo de 18 pontos) O paciente preenche os critérios de fibromialgia quando apresenta sintomas por mais de 3 meses, com IDG e EGS>5 ou IDG de 3 a 6 e EGS>9, e não possui outra doença que explique a dor. o 2. Conhecer os tratamentos farmacológicos e não farmacológicos da fibromialgia. A adoção de medidas que levem em conta as peculiaridades de cada paciente é fator determinante para a eficácia do tratamento. Antes da prescrição ou da recomendação de qualquer tratamento, cabe ao médico não só promover trabalho educativo, esclarecendo a natureza do quadro e confirmando que ele não acarreta incapacidade física ou deformidades, como também estimular o paciente a procurar identificar os principais fatores precipitantes e perpetuadores de suas crises de piora da dor. Cabe, também, ao médico orientar seu paciente quanto a métodos para minimização da dor, seja pelo uso de medicamentos, seja pela adoção de métodos alternativos, visto que, raramente, uma única modalidade de tratamento é suficiente para a solução de todos os sintomas de fibromialgia. Recentemente, a Sociedade Brasileira de Reumatologia elaborou um consenso sobre o tratamento da fibromialgia após realizar reunião e ampla discussão sobre o assunto, da qual participaram tanto reumatologistas, como especialistas de outras áreas médicas com conhecimento dessa síndrome. Tratamento farmacológicos: O uso de analgésicos comuns, como paracetamol ou anti-inflamatórios não esteroides (AINES), não é efetivo no tratamento de sensibilização central, mas esses fármacos são importantes para tratar bursites, degeneração discal, artrites inflamatórias e outros. Alguns autores defendem o uso de analgésicos opioides desde que restrito aos períodos de exacerbação da dor. Evidências mostram diminuição da disponibilidade de receptores de receptores opioides na fibromialgia, talvez secundariamente ao aumento da ocupação dos receptores opioides, visto os elevados níveis de opioides endógeno encontrado na fibromialgia. Isso justificaria a baixa eficácia desses medicamentos no quadro álgico desses pacientes. Ressalta-se, porém, que opioides são uma boa opção no tratamento pós-operatório de fibromiálgicos. o Antidepressivos: Principal tratamento. Os antidepressivos tricíclios e seus derivados, os inibidores de recaptação de serotonina, bem como os inibidores de receptação de serotonina e norepinefrina, são os principais fármacos prescritos. O uso desse tipo de medicamento para a fibromialgia advém da experiência com o tratamento de dor crônica. Possuem ação antinociceptiva nas vias descendentes da medula espinal, a partir da inibição da receptação de monoaminas, principalmente serotonina e norepinefrina, ou pela inibição de sua degradação. Associado aos seguintes sintomas: melhora da dor, depressão, fadiga, distúrbios do sono e qualidade de vida dos pacientes com fibromialgia. - Amitriptilina: em doses que não ultrapassam 50 mg/dia mostrou-se efetiva no tratamento de sintomas como dor, fadiga e melhora do sono, mas possui efeito anticolinérgico que, por vezes, limita sua utilização. Os antidepressivos tricíclicos possuem grau de recomendação A e nível de evidência Ib no tratamento da doença. - Fármacos que agem na receptaçãode serotonina como a fluoxetina, o citalopram e a paroxetina têm sido utilizados com resposta favorável, assim como os antidepressivos com ação dual na receptação de serotonina e de norepinefrina, como a duloxetina e a milnaciprana. Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período o Relaxantes musculares: - Ciclobenzaprina: é medicamento destaque devido a sua estrutura e ação que são semelhantes às dos antidepressivos tricíclicos, associadas à sua ação miorrelaxante em nível do tronco e da medula espinal por inibição do potencial eferente para os músculos esqueléticos. Quando utilizada em doses baixas melhora o padrão do sono na fibromialgia. - A tiazidina reduz os níveis da substância P algogênica no LCR, induzindo diminuição da dor e da sensibilidade dolorosa. o Hipnóticos: Bloqueiam o reflexo nociceptivo espinal e diminui o potencial evocado somatossensorial primário que a modula a percepção da dor. Porém, apresentam poder para acarretar dependência química, o que torna seu uso restrito a curtos intervalos. - benzodiazepínicos atuam como sedativo, anticonvulsivante, ansiolítico e possuem potente ação miorrelaxante; - Aprazolam é utilizado no início do tratamento, devido ao seu efeito ansiolítico. - Não diazepínicos: zolpidem e o zoplicone podem ser utilizados para alívio dos distúrbios do sono o Anticonvulsivantes: - Pregabalina e gabapentina: benéficos para redução da dor e na melhora do padrão de sono em situações de dores crônicas como na fibromialgia. Exercem seus efeitos no SNC e no periférico, pela redução da liberação de glutamato e da substância P algogênica nas vias ascendentes da medula, como pela diminuição da excitabilidade neurogênica por aumento da atividade GABA. Efeito colaterais: tontura, sonolência e ganho de peso. Tratamento não farmacológico: o Exercícios físicos: Pacientes possuem dificuldade para se manterem ativos em função da percepção de que a atividade física pode ser geradora de dor. Sedentarismo é muito comum entre os acometidos pela doença, então é comum a prescrição de exercícios físicos. Estudos mostram que os pacientes toleram a intervenção com ganho de condicionamento aeróbico e força muscular sem piorar os sintomas da doença. Além disso, mostram melhora em parâmetros de dor, qualidade de vida mediada por meio de diferentes instrumentos, humor e contagem de pontos sensíveis e diminuição dos sintomas fibromiálgicos. O condicionamento aeróbico foi a modalidade mais estudada e possui nível de evidência I, com grau A de recomendação. Diversas modalidades podem ser sugerida, sendo aquática ou no solo e apresentam resultados semelhantes. Antes, o que se procurava era condicionamento cardiovascular, mas, atualmente, reconhece-se que exercícios de alongamento ou relaxamento, treino de força, ou caminhada possuem efeito benéfico no tratamento, desde que sejam individualizados e respeitem as limitações do paciente. O condicionamento cardiovascular com exercícios aeróbicos não é capaz de melhorar apenas a condição cardiovascular, mas também de induzir melhoras significativas nos parâmetros da dor. Inicialmente, deve ser prescrito exercícios suaves e progressivos de alongamento muscular, seguidos por sessões de relaxamento, incluindo trabalho de conscientização postural e corporal. É importante iniciar com exercícios de baixo impacto para evitar contrações musculares excêntricas. A intensidade deve ser aumentada lenta e gradativamente. É importante deixar claro para o paciente que os exercícios fazem parte do arsenal terapêutico e são até mais necessários que os Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período medicamentos, para que eles tenham em mente a importância. o Tratamento não convencional: Estratégias como massagens, banhos quentes, acupuntura, ioga, musicoterapia, entre outras, apesar de não ter evidência cientifica de eficácia, podem ser sugeridas como meio de integração e socialização. o Acupuntura: Mesmo com diversos estudos sobre o uso para a fibromialgia os resultados são muito conflitantes. A partir da identificação de cinco de qualidade, três demonstraram efeitos benéficos, mas de curta duração, e, em dois, não houve benefício. Mesmo oferecendo alivio de curta duração não há nível de evidência que subsidie sua recomendação. o Massoterapia: É um recurso eficaz em várias publicações, com resultados que mostram reduções significativas nos níveis de dor e depressão, além de diminuição no uso de analgésicos pelos pacientes submetidos a esse tipo de abordagem. Massagem pode ser um fator de analgesia imediata. o Medidas educacionais: - Alteração do sono: medidas básicas de higiene do sono devem ser orientadas. Manter uma rotina no que diz respeito a fixar o horário para ir dormir e acordar, manter o quarto ventilado e escuro, não fazer uso de bebidas cafeinadas e evitar exercícios vigorosos próximo da hora de dormir. - Psicoterapia de apoio pode ser necessária, em alguns casos, já que pacientes com fibromialgia demonstram baixos graus de satisfação em suas relações familiares, profissionais, recreacionais, cívicas e em seu círculo de amizade, o que demonstra, nitidamente, a influência de sua doença em suas atividades sociais. Programa reeducacional deve enfatizar ao paciente a sua responsabilidade e participação ativa no controle de seus sintomas e eles devem ser estimulados a redescobrir aspectos de suas vidas que lhes tragam satisfações pessoais. - Esclarecer que fibromialgia não é uma afecção que acarreta deformidades ou incapacidades como a artrite reumatoide ou a esclerose múltipla também é de auxílio ao paciente que se sente incapacitado por seus sintomas álgicos. Não é necessário minimizar ou ignorar os sintomas da fibromialgia, mas, como essa síndrome não é uma afecção deformante ou fisicamente incapacitante, é importante salientar esse aspecto positivo. Como muitas outras condições, principalmente da área da reumatologia, ela nem sempre é curável, mas pode ser administrada. E, como em tantas outras doenças crônicas, os pacientes devem enfocar o bem-estar e necessitam participar ativamente do tratamento. 3. Identificar os diagnósticos diferenciais da fibromialgia. É essencial que a síndrome dolorosa miofascial não seja confundida com a fibromialgia, que é uma síndrome dolorosa difusa associada aos tender points (pontos dolorosos). Entretanto, apesar de distintas, a SDM pode coexistir com a fibromialgia. A fibromialgia possui também uma ampla gama de diagnósticos diferenciais, principalmente aqueles que cursam com dor crônica. Dentre os principais, temos: osteoartrite, artrite reumatoide, espondiloartrites, hipotireoidismo, deficiência de vitamina D/osteomalácia, polimialgia reumática, miopatias inflamatórias, distrofias musculares, parkinsonismo, hipopotassemia, uso de certos medicamentos (estatinas, bloqueadores de H2) ou drogas ilícitas (cocaína, cannabis). Alguns exames complementares podem auxiliar no diagnósitco diferencial: reagentes de fase aguda (VHS e PCR), função Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período tireoideana, avaliação do metabolismo ósseo (cálcio, paratormônio e vit. D), potássio sérico (uso de diuréticos), dosagem sérica de enzimas musculares (CPK e aldolase), eletroforese de proteínas séricas e sorologias (HCV, HBV, HIV, citomegalovírus, toxoplasmose parvovirose). Os reagentes de fase aguda estão geralmente ausentes na fibromialgiae aumentados em condições inflamatórias, como polimialgia reumática, miopatias inflamatórias e doenças articulares inflamatórias (artrite reumatoide e espondiloartrites). Lembre-se que a fibromialgia não é uma condição inflamatória, logo, provas inflamatórias não estão tipicamente alteradas. Exames de autoanticorpos, como fator anti-nuclear (FAN) e fator reumatoide (FR), podem ajudar a excluir lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide – pois o FAN e o FR estão presentes na maioria dos casos dessas doenças, respectivamente, ao passo que sua positividade não é característica ou fala a favor da fibromialgia. No entanto, esses exames devem ser feitos com cautela, pois a fibromialgia pode ocorrer concomitantemente a outras doenças reumáticas. Nesse caso, a dor difusa crônica, fadiga e distúrbios do sono falam a favor da fibromialgia; lesões cutâneas, nódulos subcutâneos, acometimento pulmonar e renal – comuns no lúpus ou na artrite reumatoide – não compõem o quadro da fibromialgia. Exames hormonais tireoideanos ajudam a excluir tireoideopatia como possível causa, e exames de enzimas musculares são normais na fibromialgia – ao passo que podem estar aumentados em doenças musculares inflamatórias. Outro dado que pode auxiliar na diferenciação entre fibromialgia e polimialgia reumática é a epidemiologia: nesta, frequentemente a doença surge a partir dos 50 anos, enquanto naquela o diagnóstico é mais provável em idade mais jovem. A anamnese também pode ajudar no diagnóstico diferencial ao questionar o uso de medicamentos e de drogas – como cocaína e cannabis. 4. Entender a síndrome miofascial. Definição: A síndrome dolorosa miofascial é uma síndrome dolorosa regional associada à presença de trigger points (pontos gatilho), que são pontos hipersensíveis em uma banda muscular tensa palpável. Quando localizados e submetidos à pressão digital, estes pontos contraem-se e desencadeiam a dor (local ou irradiada). Caracteriza-se por bandas de tensão musculares e pontos dolorosos em seu interior. As bandas de tensão são um conjunto de fibras musculares, dentro dos limites do músculo, que se contraem. Desse modo, tais fibras, além de dolorosas, apresentam consistência aumentada à palpação. O tecido muscular ao redor da banda tensa apresenta tônus normal. Ao longo dessa banda, constatam-se áreas localizadas de dolorimento muscular profundo à palpação, que podem ser de dois tipos: ponto de dolorimento e ponto-gatilho. O ponto-gatilho recebe essa nomenclatura porque sua palpação provoca dor a distância. As zonas de dor referida encontram-se em locais predeterminados e previsíveis. Já a palpação dos pontos de dolorimento desencadeia, ao contrário, apenas dor local. A palpação digital sobre o ponto-gatilho ou sobre o ponto de dolorimento reproduz o quadro doloroso. Interessante notar que o espasmo muscular também é diagnosticado por dor e por aumento da consistência muscular à palpação. Entretanto, esses achados se estendem por todo o músculo e não se limitam, apenas, a um grupo de fibras musculares, como nas bandas de tensão. A SDM pode permanecer não diagnosticada ou não detectada se o clínico for incapaz de identificar a existência de pontos-gatilho miofasciais. o Etiologia: Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Pode estar associada a fenômenos artríticos, traumáticos, degenerativos, neuropáticos e, até mesmo, viscerais. Quando ocorre de maneira isolada, a SDM primária pode ser causada por fenômenos de sobrecarga muscular aguda, traumatismos ou microtraumatismos de repetição sobre as estruturas do aparelho locomotor. O excesso do uso (assim como a permanência do músculo em posição biomecânica desfavorável, seja em encurtamento, seja em estiramento prolongado), a isquemia muscular e a radiculopatia podem ativar o ponto de dolorimento. Doenças articulares, viscerais e o estresse emocional também podem ativar os pontos. A ativação de nociceptores musculares pode ocorrer em virtude de lesão direta aguda ou de sobrecarga repetida e persistente. Trabalhadores que realizam exercício vigoroso diário, durante o trabalho, apresentam menor probabilidade de desenvolver pontos-gatilho ativos que os que realizam atividade sedentária e episódios de atividade física exagerada. Pontos de gatilho: O ponto gatilho corresponde a um nódulo hipersensível, dentro de uma banda tensa, composto microscopicamente por nós de contração. Este ponto pode ser classificado quanto a sua atividade, a sua localização e à presença de outros pontos. Quanto a sua atividade o ponto gatilho pode ser: • Ativo – ponto gatilho que desencadeia sintomas, como a manifestação de dor local, irradiada ou referida ou parestesia. • Latente – ponto gatilho de paciente assintomático, mas que gera dor ao ser pressionado. Quanto à localização: • Central – ponto gatilho que se encontra no meio da fibra muscular. • De inserção – ponto gatilho localizado na área de inserção tendínea. Quanto à presença de outros pontos gatilho: • Primário – ponto gatilho que isoladamente é o responsável por toda a dor regional do paciente. Geralmente, após o tratamento, os sintomas cessam. • Secundário – ponto gatilho concomitante a outro ponto, localizado numa musculatura sinérgica ou antagonista àquela que tem o ponto primário. • Satélite – ponto gatilho em uma área de dor referida, mas que não é responsável pela dor daquela região. Fisiopatologia: A síndrome dolorosa miofascial, geralmente, é precedida por algum evento desencadeador. Logo, um trauma, por exemplo, leva a banda muscular a ficar tensa e a desenvolver pontos gatilho, que inicialmente são latentes. Estes podem se encaminhar para a recuperação espontânea, persistir sem progressão ou evoluir para pontos gatilho ativos, quando submetidos a algum tipo de estresse: fatores ergonômicos, posturais ou, até mesmo, estresse emocional. O ponto gatilho ativo, quando submetido a fatores perpetuadores, gera pontos gatilho adicionais e a cronicidade, uma vez que se torna um ciclo vicioso. Entre os fatores perpetuadores, está inclusa a reexposição ao trauma ou ao estresse e diversos outros fatores que podem ser observados na tabela 1. Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Quadro clínico: O paciente com SDM cursa com dor regional, referida ou irradiada para áreas adjacentes ou distantes. Essa dor é reproduzida com a compressão do ponto gatilho durante o exame físico. Ademais, a SDM pode gerar também sinais sensoriais, como parestesia (sensação de formigamento) ou lacrimejamento, a depender da localização do ponto gatilho. Associado a este quadro, comumente, o paciente refere restrição da amplitude de movimento articular e fraqueza muscular. Fatores de risco: Diagnóstico: O diagnóstico da síndrome dolorosa miofascial é clínico e consiste na associação entre: • História de dor referida com padrão miofascial. • Identificação do ponto gatilho e aplicação dos critérios diagnósticos (tabela 2). Para a constatação positiva, deve-se ter os cinco critérios maiores e, pelo menos, um menor. • Identificação dos fatores perpetuadores e amplificadores. Os exames complementares, como elastografia ressonância magnética e sonoelastografia com imagem por ultrassom, são usados somente a nível de pesquisa, não sendo utilizado na prática Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5ºPeríodo clínica para o diagnóstico de SDM, que é meramente clínico. Na elastografia, identificam-se tecidos de densidades variáveis e na sonoelastografia, verifica-se a presença de bandas musculares tensas, onde pode haver pontos gatilho. Tratamento: Os objetivos do tratamento da SDM são: • Inativação dos pontos gatilho; • Restaurar o comprimento muscular; • Eliminar os fatores desencadeantes e perpetuadores. Visando alcança-los, é essencial uma terapia combinada, que pode envolver tratamento farmacológico e não farmacológico, invasivo e não invasivo. o Tratamento farmacológico Para a analgesia podem ser usados: • Antidepressivos duais ou tricíclicos; • Relaxantes musculares; • Opioides fracos; • Gabapentinoides; • Anti-inflamatórios não esteroidais; • Analgésicos simples; • Benzodiazepínicos. Estes trazem maiores benefícios para as pessoas que têm o estresse emocional como fator perpetuador da SDM. Entretanto, a terapia farmacológica não deve ser usada a longo prazo, apenas como ponte até o efeito dos tratamentos não farmacológicos, invasivos ou não invasivos. o Tratamento não farmacológico: Este tipo de tratamento tem por objetivo eliminar os fatores desencadeantes, estressores e perpetuadores da SDM e restaurar o tamanho das fibras musculares. Nele se inclui: • Modificação postural mecânica e ergonômica; • Exercício físico, consistindo em alongar e fortalecer os músculos; • Aplicação de gelo sobre o local; • Cinesioterapia: melhora a flexibilidade, a funcionalidade e reduz a dor. Trabalha com alongamento, fortalecimento, propriocepção e resistência muscular; • Meditação ou terapia cognitivo- comportamental: redução do estresse emocional. o Tratamentos invasivos Entre os tratamentos invasivos se encontram: • Acupuntura; • Agulhamento com anestésico local; • Infiltração com toxina botulínica; • Agulhamento a seco. Todas estas técnicas inativam os pontos gatilho, mas devem ser associadas a exercícios físicos para serem eficazes por maior período de tempo. O agulhamento a seco é a técnica mais usada, gera dor local após injeção, mas possui efeito mais duradouro que o agulhamento com anestésico local. o Tratamentos não invasivos • Kinesio taping ou bandagem fun- cional (figura 5); • Ultrassom; • Estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS); • Estimulação elétrica funcional (FES); • Liberação miofascial manual. Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período 5. Explicar o questionário FIQ: Em 1991, Burckhardt et al(4) propuseram e testaram um instrumento para avaliação da qualidade de vida específico para FM, o Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). Este questionário envolve questões relacionadas à capacidade funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos. É composto por 19 questões, organizadas em 10 itens. Quanto maior o escore, maior é o impacto da fibromialgia na qualidade de vida. Os autores concluíram que o FIQ é válido para ser utilizado em situações clínicas e de pesquisa. Diversos estudos subsequentes, com pacientes com FM, utilizaram este instrumento e verificaram através dele o impacto negativo causado pela FM. Este questionário é específico para pacientes com fibromialgia e envolve questões relacionadas à capacidade funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos. Em grande parte das questões, o maior escore indica maior impacto da fibromialgia na qualidade de vida (Bennett et al., 2007). Desde então o instrumento tem sido utilizado em situações clínicas e de pesquisa. O FIQ foi criado a partir do diagnóstico da fibromialgia, sendo um instrumento que avalia a gravidade da doença, a capacidade funcional e a qualidade de vida. No Brasil, ainda não há uma proposta do FIQ validada. Embora amplamente utilizado, existem apenas traduções do referido instrumento, porém sem a preocupação de haver uma adaptação para a cultura brasileira. As adaptações socioculturais são de fundamental importância para que se possa aproveitar todas as questões do instrumento, visando a análise da qualidade de vida em pacientes com FM, podendo ser utilizada como auxílio no diagnóstico e tratamento da doença. Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período Anna Déborah Martins – Medicina - FITS – 5º Período 6. Descrever os impactos da fibromialgia na vida do paciente: O principal sintoma da fibromialgia é a dor crônica generalizada, com a presença de sintomas associados ao sono, fadiga muscular, disfunção cognitiva e uma variedade de sintomas somáticos que podem estar presentes em vários graus dependendo de cada paciente. É esta combinação de sintomas que contribui para o sofrimento dos pacientes com fibromialgia e diminuição da qualidade de vida. Pacientes com fibromialgia têm a sua qualidade de vida afetada negativamente em idade produtiva ou na velhice (Wallace et al., 2009). Além da dor, a paciente desenvolve outros sintomas como: rigidez muscular, falta de habilidade e dificuldade em realizar tarefas diárias, ansiedade, depressão e fraqueza (Santos et al., 2006). Estes sintomas repercutem principalmente em sua vida pessoal, familiar, profissional e social (Alane et al., 2006) 7. Referências: https://www.scielo.br/j/rbr/a/VbJNBxFTfp n6PTTMwhpDBpB/?lang=pt&format=pdf http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstrea m/tede/2997/1/GESNER%20JOSE%20DE% 20ALMEIDA%20FILHO.pdf https://www.scielo.br/j/rbr/a/VbJNBxFTfpn6PTTMwhpDBpB/?lang=pt&format=pdf https://www.scielo.br/j/rbr/a/VbJNBxFTfpn6PTTMwhpDBpB/?lang=pt&format=pdf http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstream/tede/2997/1/GESNER%20JOSE%20DE%20ALMEIDA%20FILHO.pdf http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstream/tede/2997/1/GESNER%20JOSE%20DE%20ALMEIDA%20FILHO.pdf http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstream/tede/2997/1/GESNER%20JOSE%20DE%20ALMEIDA%20FILHO.pdf
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