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Há um grupo de síndromes dolorosas que foram caracterizadas por amplificação da sinalização da dor na ausência de qualquer inflamação ou lesão (como na dor nociceptiva) ou danos ao sistema nervoso (como na dor neuropática). Estas condições incluem estados dolorosos como a fibromialgia, síndrome do intestino irritável e cistite intersticial. Os mecanismos fisiopatológicos precisos da dor nesses distúrbios não são claros, embora compartilhem algumas características da dor neuropática. Outros estados dolorosos crônicos, como eritromelalgia primária e transtorno de dor extrema paroxística, são talvez mais bem descritos como canalopatias hereditárias associadas com mutações do canal de sódio dependentes de cálcio Nav1.7. Essas mutações levam a um aumento da excitabilidade de fibras nociceptivas aferentes e atividades em curso nos neurônios sensoriais, resultando em dor espontânea. A dor disfuncional representa aqueles pacientes com condições de dor crônica, muitas vezes disseminadas como fibromialgia, onde não há estímulo nocivo, nenhuma inflamação detectável e nenhum dano estrutural ao sistema nervoso ou qualquer outro tecido, e parece resultar de amplificação anormal da dor no SNC. → é uma dor abundante. Normalmente no corpo todo. A terapia farmacológica dá-se por: • Antidepressivos tricíclicos (Amitriptilina ou Nortriptilina); • Moduladores dos canais de cálcio; • Relaxantes musculares (Ciclobenzaprina) e analgésicos (opioides – Tramadol); • Inibidores seletivos da captação de serotonina (Fluoxetina em altas doses); • Neuromoduladores (Gabapentina e Pregabalina). Além disso, pode-se tratar o sono com Zopiclona e Zolpidem. • Hipocondria: é o quadro em que se tem um medo excessivo e não realista de ter algum sintoma ou condição de saúde que pode ameaçar sua vida e ainda não foi diagnosticado. Trata-se de uma patologia na qual a pessoa acredita que possui uma doença, geralmente séria, mesmo sem nenhuma evidência médica. O hipocondríaco tem o costume de procurar médicos e fazer exames rotineiramente, além de possuir um medo excessivo da morte. A preocupação abundante com doenças traz uma angústia constante ao hipocondríaco. • Somatização: é uma ação sobre o corpo (soma = corpo), ou seja, nada mais é do que a representação física do desequilíbrio psíquico e biológico do indivíduo. A palavra somatizar remete a apresentar sintomas no corpo, mas sem existir uma doença física associada ao desconforto. São problemas emocionais que causam esses sintomas. Por isso, ao realizar um exame e não diagnosticar nenhuma anormalidade, o médico deve encaminhar o paciente para um psicólogo ou psiquiatra, profissionais capazes de detectar a origem de suas dores ou reações físicas. A fibromialgia é uma síndrome álgica musculoesquelética crônica, de duração superior a 3 meses, generalizada, na qual existe um distúrbio do processamento dos centros aferentes, causando dor. De natureza não autoimune e não inflamatória, sua etiologia permanece desconhecida, mas sua frequência na prática clínica é elevada: perde apenas para as osteoartrites nas queixas do aparelho locomotor. Além disso, a doença possui grande impacto na qualidade de vida, o que torna o conhecimento sobre ela muito importante para a prática clínica. Embora seja muito frequente, seu diagnóstico permanece um desafio, demorando em média mais de 2 anos para o diagnóstico ser feito. A fibromialgia (FM) caracteriza-se por dor e hipersensibilidade musculoesqueléticas crônicas generalizadas, associadas frequentemente a queixas de fadiga, distúrbios do sono e baixa tolerância aos exercícios físicos. Adormecimentos, pontadas, queimação e cãibras também podem compor o quadro. Alguns mecanismos fisiopatológicos da fibromialgia são postulados. Dentre os mais importantes, está a sensibilização central. Portadores de fibromialgia estão em um estado de centralização da dor, o que significa que eles sentem mais dor do que o esperado para certo estímulo nociceptivo. Algumas alterações do sistema nervoso central interpretam esse estímulo como sensações desagradáveis e os traduzem em dor, além de amplificá-los. As fibras da dor (fibras C desmielinizadas) são estimuladas repetida, rápida e prolongadamente – em um somatório temporal dos impulsos neurais. Isso amplifica os potenciais de ação nos neurônios do corno posterior da medula. E essa hiperestimulação causa despolarização dos receptores N-metil-D-aspartado (NMDA), gerando alterações da transcrição que afetam o processamento da dor. Além disso, há uma inibição das vias descendentes inibitórias da dor. Essas vias modulam a resposta medular aos estímulos dolorosos e estão prejudicadas em portadores de fibromialgia, o que potencializa a sensibilização central. Os níveis de neurotransimissores estão implicados na percepção da dor pelo indivíduo, facilitando ou dificultando a transmissão do estímulo. Esses transmissores também controlam o sono, humor, memória e atenção, e por isso pacientes com fibromialgia muito frequentemente também apresentam alterações do padrão do sono, humor, da memória e da atenção, como veremos adiante nas manifestações clínicas. Além da sensibilização central, na fibromialgia, há alterações musculares. Foram observadas, por técnicas de imunohistoquímica, atrofia muscular de fibras tipo II, bem como fibras reticulares, maior quantidade de lipídeos e de mitocôndrias. Essas alterações são secundárias à redução da microcirculação local, causando hipóxia e reduzindo a energia disponível. Como, na contração, há maior necessidade de oxigênio, isso acaba causando hipóxias focais cronicamente. Esse processo ativa os receptores adenosina A2, sensibilizando fibras nervosas não mielinizadas. Além disso, há desregulação vascular, aumento de substância P nos músculos, de interleucina-1 (IL-1) no tecido cutâneo e fragmentação do DNA de fibras musculares. Todos esses processos parecem estar implicados também na fisiopatologia da fibromialgia. Na fibromialgia, há também importantes alterações neuro-hormonais e autonômicas. A cronicidade da dor e alterações nos mecanismos nociceptivos no SNC geram uma hipersecreção do hormônio ACTH (adenocorticotrópico). Essa hipersecreção ocasiona uma resposta sustentada ao estresse pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHS). Estudos mostram aumento dos níveis de ACTH em nível basal e em estresse, além de níveis elevados de cortisol – particularmente no fim do dia – e de ciclo cicardiano interrompido. Altos níveis de ACTH aumentam os níveis do hormônio somatostatina, que, por sua vez, inibe o GH. Esse hormônio também é produzido na fase IV do sono, fase esta que é interrompida nos pacientes fibromiálgicos. Logo, os níveis de GH nesses indivíduos é reduzido, particularmente durante o sono. Alterações na frequência cardíaca de repouso, diminuição da variabilidade desta ao longo do dia e hipotensão ortostática sugerem uma hiperreatividade persistente ndo sistema nervoso autônomo (SNA) em pacientes com fibromialgia. Um aumento do tônus simpático durante o sono foi sugerido como possível explicação para a fragmentação do sono, além de pode explicar fadiga, rigidez matinal, distúrbios do sono, ansiedade e irritabilidade nesses pacientes. Com relação às alterações do sono, um aspecto importante do sono desses indivíduos é a presença de sono alfa-delta. O sono não REM possui quatro fases. À medida que essas fases progridem e o sono mais profundo é alcançado, a frequência das ondas cerebrais diminui. Na vigília com olhos fechados, as ondas possuem uma frequência entre 8Hz e 13Hz – chamadas de ondas alfa. A fase I é uma transição da vigília e, no eletroencefalograma, se associa a ondas teta (4 a 7Hz); já a fase IV é constituído majoritariamente por ondas delta (<4Hz). É a fase IV, formada pelas ondas delta, a responsável pelosono reparador e recuperador da energia física. Em pacientes com fibromialgia, há redução da eficiência do sono, com pequenos despertares noturnos frequentes, diminuição da duração de sono de ondas lentas e intrusão de ondas alfa nas fases do sono profundo. Esse padrão é chamado de sono alfa-delta e está presente em cerca de 90% dos pacientes. No entanto, o sono alfa-delta não é específico da fibromialgia, podendo estar presente em outras condições e até em indivíduos normais. Os principais sintomas da fibromialgia podem ser vistos como uma tríade que inclui: • Dor difusa crônica (bilateral, acima e abaixo do tronco e no esqueleto axial, com duração maior que 3 meses); • Fadiga; • Distúrbios do sono. A dor na fibromialgia é generalizada, de intensidade variável ao longo dos dias e de caráter migratório. Pode começar de forma localizada, tornando-se difusa posteriormente. Além disso, de 76% a 100% dos pacientes afetados têm fadiga, que geralmente piora após esforço físico, podendo inclusive tornar-se o sintoma mais incapacitante. Já os distúrbios do sono ocorrem em 55% a 80% dos portadores. O paciente geralmente apresenta exame físico normal, à exceção da presença de dor difusa. Esta pode ser identificada tanto pela contagem de pontos dolorosos, como pela palpação digital de várias regiões do corpo. A hipersensibilidade deve ser avaliada para a presença de alodinia ou hiperalgesia. O exame físico também pode auxiliar no diagnóstico diferencial de outras condições, sendo particularmente o exame articular de grande importância nesse contexto. Os exames laboratoriais e radiográficos de rotina fornecem resultados normais na FM. Por conseguinte, os exames complementares visam a descartar a possibilidade de outros diagnósticos e a avaliar os geradores de dor ou condições comórbidas. Os pacientes com queixa recente de dor crônica disseminada devem ser avaliados, em sua maioria, quanto às entidades mais comuns no diagnóstico diferencial. Os exames radiográficos devem ser usados de modo parcimonioso e apenas para o diagnóstico de artrite inflamatória. Após o paciente ter sido submetido a uma avaliação completa, a repetição dos exames não é incentivada, a não ser que haja mudanças no complexo sintomático. O exame de imagem (ressonância magnética [RM]) da coluna deve ser particularmente desencorajado, a não ser que tenham características sugestivas de doença inflamatória da coluna ou sintomas neurológicos. Marcar as áreas em que o paciente sentiu dor nos últimos 7 dias: Marcar a gravidade dos seguintes sintomas nos últimos 7 dias: • Fadiga (cansaço ao executar atividades): (0) (1) (2) (3) • Sono não reparador (acordar cansado): (0) (1) (2) (3) • Sintomas cognitivos (dificuldade de memória, concentração): (0) (1) (2) (3) Sendo que: • 0 = ausente; • 1 = leve ou intermitente; • 2 = moderado: intensidade moderada, sintoma geralmente presente; • 3 = grave: sintoma persistente, contínuo, com prejuízo da qualidade de vida e funcionalidade. O tratamento ideal requer uma abordagem multidisciplinar, incluindo a associação de terapia farmacológica com não farmacológica (vasta sintomatologia e natureza multifatorial da sua patogênese) • Terapia Farmacológica: atualmente preconizada nessa síndrome inclui antidepressivos, modeladores dos canais de cálcio, relaxantes musculares e analgésicos • Tratamento não farmacológico: educação do paciente, atividade física aeróbica supervisionada e terapia cognitivo-comportamental. Corticoesteróides e anti-inflamatórios não esteroidais (AINE’s) não são recomendados para o tratamento da fibromialgia! Muitos pacientes não apresentam respostas satisfatórias ou apresentam efeitos colaterais associados ao uso de tais fármacos a longo prazo. Há grande interesse por parte dos pacientes por uma terapia alternativa e complementar, muitos médicos são questionados sobre estas formas complementares ou adjuvantes de tratamento. O tratamento não farmacológico dá-se por: • Atividade física aeróbica supervisionada e terapia cognitivocomportamental. • Medicina alternativa: acupuntura; naturopática, ayurvedica, homeopatia. • Terapias com bases biológicas: fitoterapia, suplementação dietética. • Terapias energéticas: reike, toque terapêutico, terapia magnética. • Manipulação corporal: quiropraxia, osteopatia e massagens. • Corpo e mente: meditação, relaxamento e hipnoterapia. • Schafer AI, Goldman.L. Cecil Tratado de Medicina Interna. 26ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2018. • Braunwald E, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, Jameson JL. Medicina Interna de Harrison. 20ª Ed. Amgh Editora; 2020. • Resumos da Med • SuperMaterial SanarFlix
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