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Fibromialgia Conceito e epidemiologia Fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica de etiopatogenia multifatorial complexa, não totalmente conhecida, que acomete preferencialmente mulheres, sendo caracterizada por dores musculoesqueléticas espalhadas e sítios dolorosos específicos à palpação – tender points, associados frequentemente a distúrbios do sono, fadiga, sintomas somáticos e cognitivos e distúrbios psíquicos. A proporção de pacientes com fibromialgia na clínica reumatológica está entre 10 e 20% do total, estando entre as 4 desordens reumatológicas mais comuns na população mundial. No Brasil, é a 2ª mais relatada depois da artrite reumatoide e da osteoartrose. Resumindo: É uma doença que se caracteriza por muita dor muscular. Então, sempre que o indivíduo apresenta muita dor muscular, é importante pensar na fibromialgia. Apresenta prevalência em 2 a 3% da população. Mais comum em mulheres (9:1) e com prevalência maior em mulheres jovens de 35 a 55 anos de idade. Pode acometer adultos e crianças. Então o perfil clássico do paciente com fibromialgia, considerando as exceções, é uma mulher jovem com dores musculares. Fisiopatologia Sugere-se como fatores desencadeantes da fibromialgia: ➔ Fatores genéticos; ➔ Processamento sensorial, especialmente da dor; ➔ Gerenciamento do estresse. A suscetibilidade para fibromialgia é determinada pela combinação de fatores genéticos e ambientais, que podem ser predisponentes e desencadeantes dessa síndrome. Pode-se dizer que há gatilhos que desencadeiam o aparecimento dos primeiros sintomas ou do agravamento de sintomas - Entre os agentes que aumentam a incidência de fibromialgia estão: ● Traumas (como lesão em “chicote”); ● Infecções (como hepatite B e C, HIV); ● Estresse físico e emocional; ● Eventos catastróficos (guerra, morte); ● Cirurgias; ● Doenças autoimune; ● Outras patologias (como artrite reumatoide, lúpus, eritematoso sistêmico, outras síndromes); ● Outros agravantes são excesso de atividade, frio, umidade e ansiedade. As condições de dor crônica têm componentes de alteração do processamento da dor tanto pelo SNC como SNP. ➔ O componente do SNC está relacionado com uma transmissão exacerbada da dor, que pode ter sido desencadeada inicialmente por um fator periférico (uma lesão ou um processo inflamatório regional ou generalizado, como na osteoartrite e artrite reumatoide). A fibromialgia possui um envolvimento principalmente do componente do SNC. Sugere-se um distúrbio no processamento dos estímulos sensoriais pelo sistema nervoso, ocasionando hipersensibilidade especialmente dolorosa, mas também auditiva, olfativa etc. ➔ Há também uma referência aos neurotransmissores relacionados à dor, tanto inibitórios como excitatórios. ** As aminas biogênicas, serotonina e norepinefrina, inibidoras da dor, estão reduzidas em pacientes com fibromialgia. ** Enquanto a substância P, que é neurotransmissor excitatório à dor, parece estar em maior concentração no fluido cerebrospinal. Essas alterações poderiam justificar também outros sintomas da síndrome, como os distúrbios do sono e de humor. ➔ Outra alteração sugestiva da fibromialgia é a do sistema nervoso autônomo e do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, evidenciada por níveis basais elevados de hormônio adrenocorticotrófico e folículo-estimulante, associada à diminuição de fator de crescimento insulínico (IGF-1), de hormônio de crescimento (GH), estrogênio e cortisol urinário, entre outros. Esses achados justificam a associação entre fibromialgia e sintomas de estresse crônico, além de interferir na qualidade de sono e ansiedade. ** O componente afetivo ou emocional da dor é mais evidente que o sensorial nos pacientes com fibromialgia. Em 2010, o Colégio Americano de Reumatologia propôs uma mudança da definição da fibromialgia, incluindo os chamados sintomas somáticos, isto é, alguns sintomas, sem uma base fisiopatológica do órgão acometido, fazem parte da representação das emoções no corpo. Pacientes com fibromialgia apresentam maior aumento da atividade muscular em situações de estresse mental. Esse aumento significante da atividade muscular leva a uma resposta de ativação de mecanismos paralelos de indução da dor. Ou seja, algumas pessoas podem refletir as emoções em seus corpos. Quando há dificuldade no gerenciamento do estresse, a pessoa se contrai, se compacta, se adensa, se encolhe e se segura. Ainda é comum na dor crônica a presença de crenças disfuncionais e pensamentos negativos. Uma construção emocional e cognitiva chamada de catastrofização da dor é definida como “uma crença negativa exagerada das experiências de dor atuais ou anteriores” e tem sido observada nas experiências de dor crônica na fibromialgia. Ela está relacionada com a severidade da dor, maior número de tender points, angústia emocional, incapacidade funcional e desfechos pequenos ou ineficazes de tratamento, que podem ser considerados fatores estressores. A catastrofização da dor frequentemente leva ao desenvolvimento de comportamentos de fuga de alguns movimentos por receio de sentir dor, predispondo a mudanças físicas do paciente com fibromialgia, o que enfatiza a importância da fisioterapia no tratamento deste paciente. Resumindo Atualmente, evidências a partir de imagens cerebrais indicam que há uma sensibilização central, com resposta exagerada ao estímulo experimental de dor e alteração estrutural e na função neurotransmissora. Essa teoria é reforçada pela presença de alterações de sono, humor e distúrbios cognitivos, bem como fatores relacionados ao estresse envolvendo o sistema nervoso autônomo, que contribuem para a hiperirritabilidade do sistema nervoso central. Além disso, fatores genéticos e ambientais provavelmente interagem para promover um estado de hiperirritabilidade crônica do sistema nervoso central e periférico. ● Etiologia e patogênese são desconhecidas; ● Parece ser multifatorial. Algumas teorias tentam explicar a fisiopatologia da fibromialgia: ❖ Biópsias musculares mostram alterações que poderiam justificar os sintomas – alterações encontradas em sedentários e assintomáticos. ❖ As alterações do sono poderiam comprometer a saúde muscular (estudos – sintomas parecidos com os da fibromialgia). ❖ Estudos neurofuncionais mostram hipofluxo sanguíneo no tálamo e em outras estruturas envolvidas na regulação da dor. ❖ Baixos níveis de cortisol urinário, assim como baixa resposta ao teste com ACTH sugere comprometimento do eixo hipotálamo-hipofisário. ❖ Alterações de neurotransmissores – Redução dos níveis de serotonina e aumento da substância P (neurotransmissor importante para a regulação da dor). Fatores envolvidos na dor e nos sintomas da fibromialgia Diagnóstico Exame físico – Importante no diagnóstico, pois a partir do exame pode-se excluir outras causas que poderiam gerar os sintomas. Por exemplo, através do exame físico pode-se encontrar achados de lúpus, artrite reumatoide... O exame físico tem o objetivo de avaliar a presença de outras doenças reumáticas e a presença de tender points. Tender points – São pontos muito sensíveis à digitopressão. Pontos musculares hipersensíveis à palpação. 18 tender points Como há comprometimento bilateral (direito e esquerdo) então são 18 pontos. 1. Suboccipital 2. Cervical lateral 3. Borda superior do trapézio 4. Supraescapular 5. Costocondral da 2ª costela 6. Epicôndilolateral (braço, região do cotovelo) 7. Glúteo laterosuperior 8. Trocanter maior 9. Medial acima do joelho. Os círculos indicam as várias localizações dos pontos sensíveis. A palpação desses pontos deve ser feita com a ponta do polegar. Pessoas com fibromialgia reagem com dor intensa, quando se pressiona muitos destes locais, por isso é muito importante investigar esses pontos. No exame físico, podemos ainda encontrar: Nódulos musculares – São pontos de consistência aumentada nos músculos. Geralmente se localiza no mesmo local dos tender points. Pode ocorrer hipersensibilidade cutânea. Diagnóstico diferencial A complexidade da fibromialgia reforça a necessidade do diálogo com o paciente, a importância de um bom exame físico e a solicitação de exames subsidiários criteriosos para complementar o diagnóstico, e não para substituir a avaliação criteriosa do infeccionado. É interessante notar que, em tempos de alta tecnologia, tudo o que se necessita para o diagnóstico da fibromialgia é dispender-se tempo adequado e suficiente com o paciente. Nenhum exame confirma o diagnóstico – Não há exames laboratoriais ou radiológicos que confirmem ou excluam o diagnóstico, pois os pacientes não apresentam alterações evidentes de órgãos ou sistemas, embora refiram elevados níveis de dor, fadiga e outros sintomas associados semelhantes aos de pacientes com outras patologias cuja fisiopatologia é evidente, por exemplo, a artrite reumatoide. Exames complementares (laboratoriais, de imagem) devem ser solicitados para afastar outras doenças – LES, AR, hipotiroidismo. **Em 1990, o Colégio Americano de Reumatologia (ACR) estabeleceu que a fibromialgia seria classificada pela presença de dor espalhada (hemicorpo direito e esquerdo, acima e abaixo da cintura e no esqueleto axial) e crônica (há mais de 3 meses), associada à sensibilidade dolorosa aumentada à palpação digital (pressão ~ 4 kg) em pelo menos 11 dos 18 tender points. No entanto, na prática clínica muitos reumatologistas familiarizados com a fibromialgia relatavam considerar o conjunto total dos sintomas para o diagnóstico e que a classificação do ACR não era suficiente para captar a sua essência. Além disso, a necessidade de experiência e familiaridade no exame dos tender points confundiam médicos e pacientes nos casos em que, por vezes, a melhora não preenchia mais os critérios de classificação. Assim, em 2010, novos critérios diagnósticos para a fibromialgia considera a combinação de dor espalhada e uma escala de severidade dos sintomas. Para satisfazer o atual critério diagnóstico, deve haver uma combinação entre índice de dor e sintomas. Presença dos 3 critérios: 1. (Índice de dor generalizada ³ 7 e escala de severidade dos sintomas ³ 5) ou (Índice de dor generalizada entre 3 e 6, e escala de severidade dos sintomas ³ 9). 2. Presença dos sintomas há pelo menos 3 meses. 3. Ausência de outra doença que explique os sinais e sintomas. Índice de do generalizada ou espalhada (WP) Somatório do número de regiões que apresentaram dor ao longo da última semana. Se resume de 0 a 19 pontos, de acordo com os números de locais dolorosos; Escala de severidade de sintomas (SS) Somatório da gravidade dos 3 sintomas principais + gravidade dos sintomas somáticos gerais. 3 sintomas principais – Fadiga, sono não reparador e alterações cognitivas. Com pontuação final entre 0 e 12. Resumindo Antigamente, os tender points entravam nos critérios de diagnóstico da fibromialgia, atualmente com os critérios mais novos, não é obrigatório a digitopressão dos tender points para fechar o diagnóstico de fibromialgia. Porém, no exame físico é interessante, pois a dor intensa durante a palpação sugere a fibromialgia. Antigamente, a presença de 11 pontos positivos confirmava fibromialgia, hoje já não entra nos critérios de diagnóstico. Atualmente, é comum usar os 2 critérios, de 1990 e 2010, de maneira simultânea, em paralelo ou individualmente. Nos critérios diagnósticos atuais, não há necessidade de pesquisa dos tender points, pela dificuldade dos médicos em geral, para avaliar esses pontos e a sensibilidade à dor. Manifestações clínicas Classicamente, segundo o Colégio Americano de Reumatologia (ACR), a síndrome é caracterizada pela presença de DOR musculoesquelética difusa (espalhada), crônica e simétrica por mais de 3 meses (bastante frequente nas regiões cervical e ombros, parede torácica e membros), e comumente se associa a alterações neuropsicológicas, como: ● Fadiga; ● Distúrbio do sono – Insônia e/ou má qualidade do sono (dorme, mas não descansa, acorda cansada). ● Cefaleia crônica – Pode ter características de enxaqueca, tensional ou mista. ● Síndrome do intestino irritável – Dor abdominal e alterações do ritmo intestinal. ● Sensação de parestesias – Nas extremidades. ● Rigidez matinal e sensação de edema. Então é muito comum pacientes que têm fibromialgia apresentarem esses sintomas neuropsicossomáticos ou neuropsiquiátricos. Sendo a rigidez matinal, os distúrbios do sono e a fadiga presentes em mais de 75% dos pacientes. Além da dor, qualidade do sono e fadiga, os pacientes relataram como fontes de incapacidades e sofrimentos o comprometimento cognitivo (dificuldade de memória e raciocínio), o impacto emocional (especialmente ansiedade e depressão), o comprometimento físico e a qualidade de vida. Dados importantes: ➔ Depressão – Ocorre em 25 a 60% dos casos; ➔ Síndrome do intestino irritável – Ocorre em 50 a 80% dos casos. ➔ Enxaqueca – Ocorre em 50% dos pacientes. Esses sintomas podem modificar-se em intensidade de acordo com algumas condições moduladoras – alterações climáticas, estresse emocional, grau de atividade física – piorando com exercícios vigorosos e cessação repentina da atividade física –, mudança no padrão do sono ou coexistência com outras patologias. Fazem parte dos sintomas dolorosos a alodínia (dor resultante de estímulo que não seria doloroso) e disestesias (sensação desagradável sentida nas extremidades que varia desde amortecimento até agulhadas). Outros sintomas frequentes na fibromialgia são – Adormecimentos, pontadas, cãibras, palpitação, tontura, zumbido, dispneia, epigastralgia, enjoo, dificuldade de digestão, fenômeno de Raynauld, dismenorreia e irritabilidade, sendo suas ocorrências variadas. Os sintomas da fibromialgia costumam causar um grande impacto na vida dos doentes. Com o tempo restringem o contato social e interferem continuamente na rotina deles, causando conflitos de papéis, perda de futuras oportunidades e baixa autoestima. Tratamento O tratamento interdisciplinar é fundamental. Afinal, são vários aspectos da vida do paciente que ficam prejudicados pela síndrome. A participação de profissionais de diferentes áreas permite abranger tais aspectos e promover a reintegração biopsicossocial da pessoa. O médico de dor e os outros membros da equipe sempre têm como objetivo terapêutico melhorar a qualidade de vida e funcionalidade do paciente. Para tanto, precisam controlar a dor e fadiga e buscar meios de melhorar a qualidade do sono e estabilizar o humor do paciente. O tratamento é baseado em 3 pilares, utilizando estratégias farmacológicas e não farmacológicas: 1. Ajuste medicamentoso; 2. Atividade física; 3. Acompanhamento psicológico. Farmacológicas – Antidepressivos, analgésicos, relaxantes musculares, ansiolíticos, sedativos (calmantes) e opióides. Alguns medicamentos– Amitriptilina, ciclobenzaprina, duloxetina, gabapentina, pregabalina. Os antidepressivos tricíclicos são úteis no manejo das alterações do sono do paciente. Não farmacológicas: Físicos – Acupuntura, fisioterapia e infiltrações nos pontos dolorosos; Psicológicas – Psicoterapia ajuda o paciente a promover mudanças importantes que possam levar a uma melhor qualidade de vida e resgatar o funcionamento da pessoa. A abordagem psicológica mais efetiva é a cognitivo-comportamental em combinação com técnicas de relaxamento, ou exercícios aeróbicos e alongamentos. A Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), validando diretrizes do Colégio Americano de Reumatologia, consideram a educação ao paciente um tratamento não farmacológico no controle da síndrome. Justificam isso pelo fato de a enfermidade ser de longa duração e com queixas persistentes, o que acaba afetando a família de uma maneira ou outra. Por isso, quanto mais informações a família e os cuidadores tiverem, melhor será a atitude do paciente com relação à sua dor. E, quanto mais suporte tiver das pessoas do seu convívio, maiores condições terá para lidar com sua dor. Os exercícios físicos são recomendados, pois melhoram o condicionamento do corpo. Qualquer exercício aeróbico de baixo impacto proporciona os benefícios do relaxamento e do fortalecimento muscular, que contribuem para a redução da dor e, em menor grau, a melhora da qualidade do sono. A atividade física estimula a liberação de endorfinas que possui efeito analgésico, funciona como antidepressivo, e proporciona uma sensação geral de bem-estar e de maior controle sobre a própria dor. Síndrome da dor regional complexa (SDRC) “Síndrome de dor pós traumática” Conceito É uma doença que não é muito comum, mas que causa muito sofrimento ao paciente. É uma doença que cursa com dor desproporcional ao trauma. Por exemplo, o paciente sofreu uma torção no pé ou uma fratura ou fez uma cirurgia e evolui com um quadro de dor muito superior ao esperado para aquela condição. Descrita pela 1ª vez por um médico Silas Weir Mitchel durante a guerra de secessão nos EUA, observando os pacientes descreveu: ● Dor em queimação de localização variada; ● Nunca afetava o tronco; ● Raramente compromete coxa e braços; ● Não raro acomete antebraços e pernas; ● Localização preferida são mãos e pés, ou seja, acomete principalmente as extremidades do corpo; ● Uma sensação de queimação intensa, mas que torna estranhamente hiperalgésica; ● A exposição ao ar é evitada pelo paciente de uma forma absurda; ● O simples toque na pele causa extrema dor; ● A feição transparece ansiedade e sofrimento; ● O sono não é restaurador; ● Por último, o paciente torna-se histérico. Resumindo A Síndrome Dolorosa Complexa Regional é um distúrbio que ocorre após fraturas, cirurgias, traumas ou espontaneamente e caracteriza-se principalmente por um quadro doloroso desproporcional ao evento causador. Afeta principalmente os membros superiores e inferiores. Etiologia A síndrome dolorosa regional complexa (SDRC) é um termo genérico para uma variedade de apresentações clínicas caracterizadas por dor crônica e alterações vasomotoras e tróficas, que persiste com intensidade e duração desproporcionais à lesão do tecido original. A nomenclatura “Síndrome Dolorosa Regional Complexa” (SDRC) é a mais atual e recomendada pela International Association for Study of Pain (IASP). A SDRC é uma dor neuropática crônica classificada em 2 tipos: 1. SDRC Tipo I (Clássica): Sem lesão nervosa periférica associada; Anteriormente conhecida como distrofia simpático-reflexa; Lesão de tecido mole ou ósseo; A SDRC tipo I costuma ocorrer após trauma, edema persistente, imobilização compressiva. Por exemplo, uma lesão ou amputação (habitualmente na mão ou no pé), fratura de punho, de dedos, de rádio distal etc. Pode ocorrer após infarto agudo do miocárdio, AVE ou câncer (no pulmão, na mama, no ovário, no SNC). 2. SDRC Tipo II: Com lesão nervosa periférica associada; Anteriormente conhecida como causalgia; A SDRC tipo II é similar à do tipo I, mas envolve lesões evidentes em um nervo periférico; Ocorre geralmente após imobilização do membro para tratar a lesão inicial. Exemplo: Lesão de membro mediano ou ulnar. Epidemiologia ➔ Ambos os tipos ocorrem com mais frequência em adultos jovens e são 2 ou 3 vezes mais comuns em mulheres. ➔ A incidência varia entre 5,5 e 26,2 casos por 100.000 pessoas por ano no mundo; ➔ Mulheres com idade entre 50 e 70 anos são mais afetadas; ➔ 65% relacionados a traumas, contusões, normalmente por fratura ou dor intensa após o trauma; ➔ Muito comum após fraturas de rádio no punho; ➔ 19% no pós operatório; ➔ 2% após processos inflamatórios; ➔ Em crianças, os principais fatores desencadeantes são os traumas de estresse. ➔ É mais comum em meninas entre 9 e 15 anos. Os membros inferiores são os mais afetados. https://pebmed.com.br/como-manejar-a-dor-cronica-em-idosos/ Fatores de risco Relativamente estabelecidos: ➔ Altos níveis de dor (antes ou pós cirurgia); ➔ Sexo feminino/ principalmente na menopausa; ➔ Disfunção simpática; ➔ Imobilização prolongada. Controversos ➔ Estresse/ ansiedade (pré ou pós procedimento). Há uma sensibilização central, por exemplo um paciente que tem mais dor antes da cirurgia, tem maior chance de apresentar SDCR. Eventos estressores Estudo – 79,2% apresentaram SDRC após passar por um momento de estresse importante há pelo menos 3 meses antes do quadro, como por exemplo uma perda conjugal, perda do emprego, perda de um ente querido... Escala de catastrofização Estudo – Paciente apresenta maiores níveis de substâncias inflamatórias no corpo, como IL-6, além de apresentarem menos sucesso no tratamento da SDRC. Então, de fato, as questões psicológicas têm muita relação com a SDCR. Fisiopatologia É causada por um processo multifatorial que envolve mecanismos periféricos e centrais. Esses fatores contribuem de maneiras diferentes em cada paciente, gerando diversidade nas apresentações clínicas. A fisiopatologia ainda é incerta e pouco progresso tem sido observado no entendimento dos processos que ocorrem na doença. Há autores que postulam que o fenômeno inicia seja o processo inflamatório desproporcional desencadeado após a lesão tecidual. Os componentes da resposta inflamatória como o edema, calor, rubor, eritema e a perda da função se fazem presentes em seguida à lesão, resultantes da liberação de mediadores químicos no local. A sensibilização dos nociceptores no local da lesão se estabelece por causa de mediadores inflamatórios liberados como bradicinina, leucotrienos, serotonina, histamina e prostaglandinas. Há evidências, também, de que radicais livres de oxigênio podem estar envolvidos com a patogênese da SDCR. Como a resposta inflamatória é local, a propagação dos sinais e sintomas para áreas distantes da lesão sugere o envolvimento do sistema nervoso central e periférico. A sensibilização central e nociceptiva periférica devido a liberação de neuropeptídeos (substância P, peptídeo relacionado com o gene da calcitonina) ajudam a manter a dor e a inflamação. Aceita-se que mudanças adaptativas ocorram no sistema nervoso central após a lesão, sejam elas agudas ou crônicas. Desta forma, a lesão periférica de um nervo ou outro tecido, causa alterações neuroplásticas no cérebro, podendo ocorrer fenômeno semelhante na medula espinhal. A atividade simpática central está aumentada e os nociceptores periféricos estão sensibilizados para noradrenalina (um neurotransmissorsimpático), essas alterações podem causar sudorese anormal e fluxo sanguíneo deficiente decorrente de vasoconstrição. Apesar de tudo, apenas alguns pacientes respondem à manipulação simpática (bloqueio simpático central ou periférico). Fatores relacionados à lesão inicial: ➔ Aumento de citocinas inflamatórias, como interleucina 1β, substância P, osteoprotogerina, gerando alodínea, hiperalgesia, edema e alteração vasomotora. ➔ Sensibilização nociceptiva central e periférica: No sistema nervoso central, há aumento da excitabilidade neuronal. No sistema nervoso periférico, ocorrem alterações nas fibras aferentes que aumentam o disparo nociceptivo para estímulos não dolorosos como mecânico e térmico. Isso explica dor espontânea, hiperalgesia e alodínia. ➔ Função alterada do sistema nervoso simpático e acoplamento simpático-aferente: Ocorre expressão de receptores de catecolaminas nas fibras nociceptivas, ou seja, as catecolaminas liberadas em resposta a dor ou estresse podem desencadear diretamente o disparo dos nociceptores, gerando dor (fenômeno chamado de acoplamento simpático-aferente). ➔ Fatores inflamatórios e imunológicos: Estudos têm sido feitos na tentativa de associar citocinas inflamatórias, imunoglobulina G e autoanticorpos na gênese da patologia. A suposição é que a SDRC seja uma expressão da autoimunidade. ➔ Alterações cerebrais: Os estudos de imagem cerebral sugerem alterações nas vias de dor e no sistema somatossensorial. ➔ Fatores genéticos: Ainda são pouco conhecidos. Estão em pesquisa genes que codificam adrenoceptores e sistema HLA (antígenos leucocitários humanos). ➔ Fatores psicológicos: Os fatores psicológicos isoladamente não geram SDRC, contudo, devido a dor e incapacidades gerados pela doença, cerca de 25-49% dos pacientes podem desenvolver algum transtorno de humor. Sinais e sintomas Os sintomas da SDRC variam muito e não seguem nenhum padrão, englobam alterações sensoriais, autonômicas focais (vasomotoras ou sudomotoras) e motoras. A dor em queimação ou contínua é o principal sintoma. Pode ser também dor em pontada, picada ou latejante. E não segue a distribuição de um único nervo periférico, é regional. Pode se agravar com alterações no meio ambiente ou estresse emocional. Podem ocorrer aldoínia e hiperalgesia – O membro afetado fica extremamente sensível ao toque. Mesmo o peso da roupa pode desencadear dor grave. A dor geralmente limita o uso de um membro pelo paciente. Alterações vasomotoras cutâneas na área afetada podem se apresentar, como: ● Alterações vasomotoras cutâneas na área afetada podem se apresentar, como: ● Coloração avermelhada, pintada/marmorizada, azulada ou pálida; ● Temperatura aumentada ou diminuída; ● Região dolorosa normalmente edemaciada (o que pode levar a rigidez). O edema pode ser considerável e localmente confinado. ● Anormalidades sudomotoras – Pele seca ou hiperidrótica (Aumento ou diminuição do suor no membro afetado); Outros sintomas incluem anormalidades tróficas: ● Pele brilhante e atrófica; ● Unhas com rachaduras ou com excesso de crescimento; ● Atrofia cutânea ou óssea; ● Queda de cabelos. As anormalidades motoras incluem – Fraqueza, tremores, espasmo, distonia com dedos fletidos ou posição equinovara do pé. Após um tempo, os músculos do membro afetado podem enfraquecer. O controle dos movimentos pode ficar comprometido. A amplitude de movimento é geralmente limitada, causando às vezes contraturas articulares. Essas alterações podem variar bastante, inclusive durante um mesmo dia. Muitos dizem que o membro “está estranho”, ou parece maior ou menor que o membro do outro lado. Pessoas com SDCR podem apresentar distúrbios psicológicos (depressão, ansiedade, raiva) que são favorecidos pela causa pouco compreendida, ausência de terapia eficaz e evolução prolongada. Semelhante ao que ocorre em pacientes com dor crônica. Outros têm sentimentos negativos com relação ao membro. Os pacientes que sofrem da SDRC têm diminuição substancial na capacidade laboral, atividades básicas e instrumentais de vida diária e qualidade de vida. Os sintomas podem interferir na adaptação de próteses em membros amputados. Estágios clínicos (Categorização didática) Estágio 1 – Inflamatório (2 a 6 meses) ● Do em queimação ● Dor difusa ● Edema localizado ● Hiperalgesia/ Alodinia ● Espasmo muscular ● Aumento de temperatura ● Hiperemia local Estágio 2 – Distrófico (3 a 6 meses) ● Dor ● Progressão do edema ● Atrofia muscular ● Espessamento da pele ● Espessamento articular Estágio 3 – Atrófico ● Dor ● Limitação do movimento ● “Ombro congelado” ● Contratura dos dedos ● Pele em “cera” ● Unhas quebradiças Resumindo Dor – Incapacitante, severa, com sensação de esmagamento, queimação, martelada; - Alodínia e hiperalgesia (dor exacerbada) frequentes; - Intensifica a noite. Alteração trófica – Rigidez, edema, osteopenia - Alteração pilomotora, sudomotora; - Alteração da textura e coloração da pele; - Atrofia e crescimento anormal das unhas; - Desaparecimento das pregas. Disfunção autonômica - Alteração da temperatura, coloração, textura da pele; - Vasoconstrição ou vasodilatação; - Anidrose (ausência de suor) ou excesso de transpiração. Déficit funcional; Intolerância ao frio. Diagnóstico Não há um teste específico que confirme o diagnóstico. O diagnóstico é clínico, ou seja, baseado nos sintomas referidos pelo paciente e no exame físico, embora alguns exames possam ser pedidos para excluir outros diagnósticos (exames laboratoriais e de imagem). Infiltrações também podem ser usadas para confirmar o diagnóstico, mas depende das suspeitas médicas no momento da consulta. O prognóstico é imprevisível e varia bastante. Pode haver remissão da SDRC, ou esta pode permanecer estável durante anos, em alguns pacientes, progride e dissemina-se para outras áreas do corpo. Porém, caso a dor seja no corpo todo, e não em um membro ou área específica, é possível que seja outra doença, como a fibromialgia. Diagnóstico diferencial Devem ser excluídas as doenças reumáticas, artropatias infecciosas, celulites, lesões neurovasculares e síndromes compartimentais. O diagnóstico é clínico e deve seguir o critério estabelecido. https://www.reumatocare.com.br/fibromialgia.html O diagnóstico é baseado nos critérios clínicos – Critérios diagnósticos da IASP (Critérios de Budapeste) ➔ Diagnostica-se a CRPS quando os pacientes têm dor contínua (ou hiperestesia, alodínia) desproporcional a qualquer lesão tecidual original (evento causador) e quando a dor corresponde a certos critérios clínicos. Esses critérios incluem a existência de 1 sintoma em 3 das 4 categorias (os sinais e sintomas se sobrepõem): 1. Sensorial – Relato de hiperalgesia (como sinal, ao estímulo de picada) e/ou alodinia (como sinal, em testes sensoriais); 2. Vasomotor – Relato de assimetria de temperatura (> 1 °C como sinal) ou alterações assimétricas na coloração da pele; 3. Sudomotor ou edema – Relato de alterações na transpiração, sudorese assimétrica ou edema; 4. Motora ou trófica – Relato de alterações tróficas na pele, cabelo ou unhas, diminuição da amplitude de movimento ou disfunção motora (fraqueza, tremor e/ou distonia). Após o paciente relatar os sinais e sintomas, o médico deve documentar essas alterações pelo exame físico (com agulha para avaliar a sensibilidade, medição de temperatura e observação de edema, sudorese, vermelhidão... Além disso, não deve haver nenhuma evidência de outro distúrbio ou diagnóstico que possa justificaros sintomas. Por exemplo – Fraturas instáveis, compressão de nervos, neuropatias, vasculites. ➔ Se outro distúrbio estiver presente, a SDRC deve ser considerada possível ou provável. Exames complementares servem apenas para descartar outras condições e devem ser solicitados sob suspeita. Dentre eles, destacam-se termografia, cintilografia óssea trifásica, bloqueio do gânglio simpático, teste do axônio Sudomotor, eletroneuromiografia, ressonância nuclear magnética, ultrassom doppler vascular. Alterações ósseas (desmineralização observada por radiografia ou absorção aumentada verificada por cintilografia óssea de fase tripla) podem ser detectadas e, em geral, são avaliadas apenas se o diagnóstico for duvidoso. Entretanto, os exames de imagem não são específicos porque também podem conter alterações após trauma em pacientes sem SDRC, tornando os achados inespecíficos. Bloqueio simpático e nervoso ● Infusão de anestésico local próximo do gânglio estrelado. ● Infusão de anestésico no plexo braquial Em um teste do comprometimento simpático, um paciente recebe infusão intravenosa de soro fisiológico (placebo) ou fentolamina 1 mg/kg durante 10 minutos enquanto a classificação da dor é registrada, a diminuição da dor após a administração da fentolamina, mas não do placebo, indica dor de origem simpática. O bloqueio simpático (gânglio estrelado ou lombar) tem sido usado para o diagnóstico (e o tratamento). No entanto, resultados falso-positivos e falso-negativos são comuns, pois nem toda dor de SDRC é de manutenção simpática e o bloqueio nervoso também pode afetar fibras não simpáticas. Lembrando que, se o paciente tem dor neuropática, aldoínia ou hiperalgesia, e desregulação autonômica focal quando nenhuma outra causa é identificada, é importante pensar em SDRC. Tratamento É fundamental que o tratamento seja multidisciplinar, que envolva a combinação de reabilitação (fisioterapia, terapia ocupacional) e tratamento adequado da dor. Além disso, acompanhamento psicológico normalmente traz vários benefícios. Não há um tratamento único para todos os pacientes, mas a mobilização precoce é imprescindível. O principal objetivo de qualquer tratamento da SDRC é aumentar a mobilidade do membro comprometido. O tratamento da SDRC é complexo e geralmente insatisfatório, particularmente, se tardio. As terapias de reabilitação são muito importantes, e são mais efetivas quanto mais cedo forem iniciadas. O principal objetivo é o ganho de movimento e melhora da qualidade de vida. Nem sempre elas resolverão a dor, mas são capazes de impedir a perda de força dos músculos. A fisioterapia é essencial e inclui mobilização, fortalecimento, aumento da amplitude de movimento e reabilitação profissional. Existe uma técnica de reabilitação chamada terapia com espelhos que pode ajudar bastante na recuperação. Foi relatado que a terapia de espelho beneficia pacientes com SDRC tipo 1 devido à dor do membro fantasma ou AVE. ❖ Os pacientes posicionam um grande espelho entre as pernas. ❖ O espelho reflete a imagem do membro afetado e oculta o membro afetado (doloroso ou ausente), dando aos pacientes a impressão de que eles têm 2 membros normais. ❖ Os pacientes são instruídos a mover ambos os membros enquanto observam a imagem refletida do membro normal se movendo. Esse exercício faz o cérebro pensar que 2 membros normais estão se movendo sem dor. ❖ A maioria dos pacientes que fazem esse exercício por 30 min/dia durante 4 semanas relata uma redução substancial da dor. ❖ O objetivo é fornecer feedback visual para o paciente de que ele não sente dor com a movimentação do membro. ❖ Em resumo, a técnica busca enganar o cérebro para formar novas conexões neurais e eliminar a dor. Nenhum medicamento é específico para o tratamento da síndrome da dor complexa regional. Existem vários tratamentos para controle da dor, com particularidades para cada tipo de paciente. Os medicamentos são usados para reduzir a dor a um nível que permita a reabilitação. Muitos fármacos usados para a dor neuropática, como antidepressivos tricíclicos (amitriptilina), anticonvulsivantes (gabapentina e pregabalina) e corticoides, podem ser tentados, nenhum é notoriamente melhor. O tratamento a longo prazo com analgésicos opióides pode ser útil para determinados pacientes. Adesivos de lidocaína podem ser usados e bloqueios anestésicos parecem ter bons resultados. Em alguns pacientes com dor de manutenção simpática, o bloqueio simpático regional alivia a dor, de forma que a fisioterapia se torna possível. Analgésicos orais (AINEs, opióides e vários analgésicos adjuvantes) também podem aliviar o suficiente a dor, de modo a permitir a reabilitação. Para neuromodulação, estão sendo cada vez mais usados estimuladores implantados na medula espinal. Estimulação do gânglio da raiz dorsal pode ter como alvo os sintomas localizados. Outros métodos de neuromodulação são a rápida fricção da parte afetada (estimulação contrairritante) e acupuntura. Sabe-se que nenhuma forma de neuromodulação é mais eficaz que outra e uma resposta insuficiente a uma forma não significa resposta insuficiente à outra. A infusão neuroaxial com opióides, anestésicos e clonidina pode ajudar e o baclofeno intratecal reduziu a distonia em alguns pacientes. A dessensibilização do membro com alodÍnia também é essencial. Esse procedimento é feito inicialmente pela aplicação de estímulos relativamente não irritantes (seda) e então, com o passar do tempo, aumentando para estímulos mais irritantes (brim). A dessensibilização também pode ser feita por meio de banhos de contraste térmico, nos quais o membro comprometido é colocado na água fria e a seguir na água morna. Resumindo Em suma, os 3 pilares de tratamento são: Fisioterapia e Terapia Ocupacional ➔ Terapia de espelho – Reorganização somatotópica; ➔ Banho de contraste; ➔ Técnicas de dessensibilização; ➔ Controle de edema; ➔ Alongamento; https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/t%C3%B3picos-especiais/reabilita%C3%A7%C3%A3o/fisioterapia-ft https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/dor/tratamento-da-dor#v1033484_pt https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/dor/tratamento-da-dor#v1032990_pt ➔ Exercícios isométricos; ➔ Condicionamento aeróbico. Psicoterapia ➔ Educação sobre a doença; ➔ Terapia cognitiva comportamental. ➔ Técnica de relaxamento com biofeedback: ➔ Diminuição dos impulsos emocionais → diminuição das descargas simpáticas → Controle da dor. ➔ Terapia cognitivo comportamental ➔ Técnicas de enfrentamento, atenção e vigília, catastrofização, atitude e controle. Manejo da dor ➔ Corticoides orais (fase aguda); ➔ Gabapentinóides ou antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes; ➔ Medicações em pesquisa (bifosdonados, imunossupressores, etc.); ➔ Tratamento da dor miofascial secundária; ➔ Técnicas intervencionistas em dor (bloqueio simpático). As estratégias terapêuticas devem ser feitas em conjunto com a equipe interdisciplinar, evoluindo o grau de intervenção de acordo com a necessidade. De acordo com a literatura, a taxa de resolução completa ou parcial chega a 70%, ocorrendo de forma lenta e gradual ao longo dos meses. Síndrome da dor Miofascial Conceito A dor miofascial, também chamada de síndrome miofascial, é um uma dor muscular que se manifesta quando um ponto específico do corpo é pressionado, sendo esse ponto conhecido como ponto de gatilho, que corresponde a um pequeno nódulo nos músculos que, quando palpadopode-se sentir um ressalto e resulta na dor local que irradia para outras partes do corpo. O termo dor miofascial é utilizado para descrever uma condição clínica específica de dor muscular regional, muito frequentemente associada à presença de um ou mais pontos dolorosos - pontos-gatilho. A dor é profunda e mal localizada e podem vir associados fenômenos motores, sensoriais e autonômicos, justificando-se, desta maneira, a designação de síndrome miofascial. Etiologia É a causa mais freqüente de dor musculoesquelética, devendo sempre ser pesquisada a sua presença na avaliação das dores regionais orofaciais (cefaléias tensionais, dor temporomandibular), cervicais, dorsais e lombares, incluindo as dores pélvicas de origem desconhecida. É mais comum em indivíduos do sexo feminino, de meia-idade e com hábitos sedentários. Pode, no entanto, ocorrer em qualquer idade, apresentando uma maior prevalência do sexo masculino quando presente em idade mais avançada. Fisiopatologia São vários os fatores que podem levar à formação dos pontos de gatilho, podendo ser tanto devido a fatores psicológicos quanto a alterações do organismo ou como consequência de pancadas, além de também estarem fortemente relacionados com situações voltadas à atividade profissional realizada. Por isso, estresse, cansaço excessivo, alterações do sono e tensão, bem como postura e movimentos repetitivos podem levar à formação dos pontos de gatilho. Além disso, esses pontos podem ser formados devido às alterações hormonais, deficiências nutricionais, problemas musculares ou após realização de cirurgia, por exemplo. Esse tipo de dor é mais comum nas costas, ombros e pescoço. As causas da dor miofascial permanecem desconhecidas, tendo sido aventadas as hipóteses de uma disfunção muscular devido a alterações estruturais adquiridas, bem como a hipótese integrada que alia as desordens micro-estruturais a um fenômeno de sensibilização central como um mecanismo amplificador da dor (como o que ocorre na fibromialgia). A sensibilização central pode ser definida como uma disfunção na percepção da dor, na qual o sistema nervoso central passa a interpretar vários estímulos, inclusive os não dolorosos, como dor – daí o termo amplificação. Dentre os fatores que modulam ou perpetuam a dor miofascial, destacam-se os mecânicos, como o estresse físico (bruxismo e má postura), e os não-mecânicos, como os estresses imunológico, hormonal, infeccioso e/ou psicológico. Sinais e sintomas Além da dor muscular e dos pontos-gatilho, podem estar presentes: ➔ Diminuição da mobilidade local e fraqueza muscular (fenômenos motores); ➔ Dormências e formigamento (fenômenos sensoriais); ➔ Vertigens; ➔ Urgência urinária e/ou desconforto ao urinar (fenômenos autonômicos, presentes na dor miofascial orofacial e pélvica, respectivamente). ➔ São frequentes as queixas de alterações do sono e do humor. A fibromialgia deve ser sempre lembrada no diagnóstico diferencial, não sendo incomum a coexistência de ambas as patologias num mesmo indivíduo. Diagnóstico O diagnóstico precoce, seguido de tratamento especializado e multidisciplinar da síndrome miofascial são os grandes diferenciais para se evitar a cronicidade e o consequente pior prognóstico dessa dor. Uma vez que são elementos centrais para o diagnóstico, os pontos-gatilho devem ser bem caracterizados pelas mãos treinadas de um especialista. São definidos pela presença de um ponto doloroso à palpação manual sobre uma área de músculo tenso, que também provoca uma dor percebida à distância (dor referida). É comum a percepção de uma contração muscular à palpação local, bem como uma reação involuntária de salto em retirada à dor provocada. Os sintomas de dor miofascial tendem a piorar com o movimento ou exercício físico, no entanto quando a lesão permanece por mais de 12 semanas pode surgir dor e desconforto mesmo quando a pessoa está em repouso. Outros sinais e sintomas de dor miofascial são: ● Aumento da tensão no músculo dolorido (rigidez muscular); ● Diminuição da amplitude de movimento; ● Dor ao pressionar o ponto dolorido; ● Pontos duros nos músculos que podem ser sentidos através de um ressalto ao pressionar toda a banda muscular (pontos gatilho); ● Contração do músculo ao inserir a agulha ou realizar a palpação transversa; ● Alívio da dor ao realizar o alongamento do músculo. Tratamento O tratamento para a dor miofascial deve possuir como objetivo o alívio da dor e do desconforto. O tratamento inclui estratégias de ordem multidisciplinar, dada a natureza complexa da dor. Pode ser tratada por meio da realização de alongamentos, fisioterapia e mudança de hábitos. A identificação de fatores mecânicos no ambiente de trabalho (ergonomia) é útil para a correção ou prevenção de elementos perpetuadores da dor. O bruxismo deve ser detectado e abordado por meio de exercícios para a musculatura mastigatória e pelo uso de placa dentária, quando esta se fizer necessária. Técnicas de terapia física, como o emprego de aerossóis, massagem e aplicação de calor superficial e profundo podem ser utilizadas, muito embora para estas não exista uma eficácia comprovada. O agulhamento dos pontos-gatilho (introdução de uma agulha num ponto doloroso identificado no músculo), a seco ou com injeção de substâncias anestésicas, é amplamente descrito na literatura, devendo ser sempre realizado por um especialista. A injeção de toxina botulínica merece comprovação de sua eficácia, e o uso de corticóides locais deve ser evitado por efeitos adversos potenciais, além de qualquer vantagem adicional demonstrável. A acupuntura, por sua vez, apresenta resultados positivos. O tratamento medicamentoso inclui o uso de analgésicos, antiinflamatórios não-hormonais, miorrelaxantes e antidepressivos. A identificação de distúrbios psicológicos, tanto quanto suporte para estes, é de incontestável importância.
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