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Aula 01 - Movimentos Literários_P_92 (1)

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Aula 01
Senado Federal (Técnico - Policial
Legislativo) Literatura Nacional -
Cebraspe 2022
Autor:
Luana Signorelli
12 de Novembro de 2021
03164915195 - Willy Clayton Alves dos Santos
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Sumário 
Introdução ............................................................................................................................................... 3 
1 – Contextualização ............................................................................................................................. 5 
2 – Quinhentismo .................................................................................................................................... 9 
2.1 – Autores e Obras do Quinhentismo ...................................................................................... 14 
3 – Trovadorismo .................................................................................................................................. 20 
3.1 – Autores e Obras do Trovadorismo ....................................................................................... 24 
4 – Humanismo ..................................................................................................................................... 29 
3.1 – Autores e Obras do Humanismo ........................................................................................... 31 
 5 – Classicismo ..................................................................................................................................... 37 
3.1 – Autores e Obras do Classicismo ........................................................................................... 38 
6 – Movimentos Artísticos no Geral ...................................................................................................... 43 
6.1 – Românico .............................................................................................................................. 44 
6.2 – Gótico .................................................................................................................................. 45 
6.3 – Bizantino ............................................................................................................................... 46 
6.4 – Renascimento ........................................................................................................................ 47 
7 – Interpretação de Texto .................................................................................................................. 48 
8 – Gramática Aplicada à Literatura .................................................................................................. 50 
9 – Crítica Literária .............................................................................................................................. 52 
10 – Lista de Questões ......................................................................................................................... 56 
11 – Gabarito ...................................................................................................................................... 68 
12 – Questões Comentadas ................................................................................................................. 68 
13 – Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 87 
14 – Considerações FInais .................................................................................................................... 89 
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INTRODUÇÃO 
Olá, prezados concurseiros. 
Hoje nós vamos dar continuidade ao nosso Curso de Literatura para Técnico 
Legislativo/Policial Legislativo – Senado Federal 2022 em teoria e questões. Lembrem-se sempre do 
nosso lema: 
 
O segredo do sucesso é a constância no objetivo. 
Segundo o nosso cronograma de aulas, hoje estudaremos o seguinte: 
 
AULA TÓPICOS ABORDADOS 
Aula 01 Quinhentismo, Trovadorismo, Humanismo e Classicismo 
Literatura de formação e catequese. Brasil: Carta de Pero Vaz de 
Caminha e Padre José de Anchieta. Portugal: Trovadorismo (cantigas). 
Humanismo: Gil Vicente. Temáticas literárias: amor cortês; ética do 
comportamento. Classicismo: Camões (poesia lírica e poesia épica). 
 
Além desses assuntos que são pré-requisitos, considero igualmente importante formarmos 
uma bagagem cultural. Por isso, iremos tratar também de algumas noções gerais acerca de Artes 
Plásticas da Era Medieval: estilos Gótico, Bizantino e Românico, bem como o Renascimento. 
 
Na aula de hoje, iremos abordar 4 movimentos 
literários. Honestamente, eles não costumam cair 
com frequência em provas. Porém, quando caem, 
as bancas costumam cobrá-los numa abordagem 
interdisciplinar, associando-os à cultura 
medieval. Por isso, o tratamento desses 
conhecimentos são importantes: porque eles 
podem ser o diferencial! 
 
A metodologia dessa aula irá se pautar nos seguintes aspectos: contextualização do período 
histórico, tanto brasileiro quanto português, características gerais dos movimentos e um breve 
resumo de autores e obras com quadros sinópticos. 
O quadro sinóptico (sinopse: resumo) é um material de apoio que irá poder ajudá-los pouco 
antes da prova, por se tratar de conteúdos concentrados. 
Metodologicamente, separei os movimentos literários de acordo com os seguintes grupos: 
 Literatura brasileira: Quinhentismo. 
 Literatura portuguesa: Trovadorismo; Classicismo e Humanismo. 
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Com isso, é importante fazer uma observação. No Projeto Básico do 
Senado Federal, o que está discriminado é a disciplina de “Literatura 
Nacional”. No entanto, é importante conhecer os movimentos literários e 
artísticos europeus também, pois eles se relacionam diretamente com a 
Literatura Nacional. Logo, são instrumentos importantes no nosso estudo. Eis 
abaixo um esquema que pode ajudá-los. 
 
Esse quadro nos ajuda a entender que uma literatura particular pode se alçar a universal, e é 
nesse sentido que é importante ter uma perspectiva do todo. É como diz o russo Liév Tolstói: para 
se falar do mundo, é preciso primeiro saber falar da própria aldeia. 
Esse modo de encarar a Literatura também pode ser explicado pelo crítico literário Antonio 
Candido em sua obra A educação pela noite & outros ensaios: 
 A literatura nacional e a universal se encontram numa relação orgânica. 
 
Particular ⇌ Universal 
 É nesse sentido ainda que podemos empregar o termo “literatura” com letra minúscula 
para designar um sentido lato (geral, amplo) ou “Literatura”, para nos remeter à disciplina e à área 
de conhecimento especificamente. 
Então, vamos lá, não percamos tempo! 
 
LITERATURA REGIONAL
Produção literária em escala 
local ou particular. Pode 
transmitir qualidades 
culturais próprias. Foi 
importante para o 
Modernismo, por exemplo, 
com Graciliano Ramos e 
Guimarães Rosa, que 
retrataram o Nordeste e 
Minas Gerais.
LITERATURA NACIONAL
Literatura produzida em um 
contexto de Estado-Nação 
ou país. Por exemplo: 
literatura brasileira, 
francesa, inglesa, russa etc. 
É importanteobservar que, 
a depender do movimento 
literário, houve algumas 
diferenças de país para país.
LITERATURA UNIVERSAL
Weltliteratur (em alemão) 
significa Literatura Mundial. 
Foi um conceito 
desenvolvido pelo 
romântico Goethe (1749-
1832). É a noção de que a 
grande literatura ultrapassa 
fronteiras regionais e até 
mesmo temporais. 
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1 – CONTEXTUALIZAÇÃO 
RESUMO DA HISTÓRIA LITERÁRIA NO BRASIL 
 
ESTILO LITERÁRIO PRINCIPAIS AUTORES DESCRIÇÃO 
Literatura de formação, 
informação ou 
Quinhentismo. 
Pero Vaz de Caminha, Padre 
José de Anchieta, Padre 
Manuel da Nóbrega. 
• Literatura de cunho 
informativo, com foco em 
documentar. 
• Textos de cunho religioso. 
 
 
 
RESUMO DA HISTÓRIA LITERÁRIA EM PORTUGAL 
 
ESTILO LITERÁRIO PRINCIPAIS AUTORES/OBRAS DESCRIÇÃO 
Trovadorismo Cantigas de amor; de amigo; de 
escárnio e de maldizer 
• Mistura de música e poesia 
• Repetição e paralelismo 
• Repetição 
• Forma simples 
• Amor cortês 
Humanismo Gil Vicente: Farsa de Inês Pereira, 
Auto da barca do inferno, entre 
outros. 
• Traços medievais 
• Teatro 
• Crítica de costumes 
Classicismo Camões (Poesia lírica: sonetos; 
poesia épica: Os Lusíadas) 
• Antropocentrismo 
• Racionalismo 
• Configuração de formas poéticas 
mais complexas 
Barroco Portugal: Padre Antonio Vieira 
 Brasil: Gregório de Matos 
• Embate entre antropocentrismo 
versus Teocentrismo 
• Dualidade: sagrado versus profano 
• Ornamentação estilística 
• Abuso de paradoxos e de inversões 
sintáticas 
LITERATURA DE FORMAÇÃO
visava ao processo educativo e cultural dos 
povos nativos. É sinônimo de literatura de 
catequese
LITERATURA DE INFORMAÇÃO
testemunho que valia como documentos, cujo 
objetivo central era narrar e descrever as 
terras, os povos e os costumes
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Arcadismo Portugal: Bocage (Sonetos); 
Brasil: Cláudio Manuel da Costa; 
Tomás Antônio Gonzaga; Basílio 
da Gama e Santa Rita Durão. 
• Ideal bucólico: simplicidade e 
imersão na natureza 
• Ideais Iluministas 
 
 
Alguns gêneros desses períodos são: 
 Mistérios: encenações de episódios da vida de santos; 
 Milagres: episódios da vida de santos; 
 Moralidades: peças de fundo didático-moralizante, cujas personagens são qualidades, abstrações 
ou defeitos morais (Razão, Avareza, Verdade, etc.); 
 Sotties: peças cujas personagens, por serem consideradas loucas, têm a liberdade para dizer 
verdades desagradáveis ao público. 
 
Outros gêneros do período são o épico, a saga e a epopeia, que eram parecidos da 
antiguidade. Conforme Spina (2007, p. 70), as sagas são narrativas em verso ou em prosa, de 
interesse capital para a história primitiva dos povos nórdicos. Porém, este gênero se pauta na já 
existente epopeia, desde a Antiguidade Clássica. Segundo N. K. Sandars, os épicos podem ser 
caracterizados como “um tipo especial de narrativas de viagens e aventuras, sempre presentes no 
mundo atemporal e sem fronteiras da lenda e do romance folclórico” (ANÔNIMO, 2012, 67). 
Geralmente, trata-se de um contexto antes de haver nações, quando os povos costumavam 
ser nômades (isto é, não tinham moradia fixa, deslocavam-se e estavam constantemente em luta 
com outros povos pela conquista de territórios e firmada de poder). Uma das características do épico 
é não haver uma versão consolidada, pois funcionava como se fosse telefone sem fio, passando de 
povos a povos, culturas e culturas, gerações e gerações. Assim, a narrativa oral era muito valorizada, 
consistindo no principal meio/veículo de comunicação na época, até o advento do livro e da 
imprensa com Gutenberg, no século XV. 
A História Geral da Europa no período estava dividida da seguinte maneira: 
 
 
 
 
 
 
 
ALTA IDADE MÉDIA
Séculos V-X
Épicos, sagas, epopeias e grandes 
narrativas heroicas
Narrativas orais, seguindo a tradição da 
Antiguidade Clássica
Predomínio do paganismo
BAIXA IDADE MÉDIA
Séculos XI-XV
Cantigas, autos, moralidades, milagres, 
teatro de costumes
Já começaram a seguir uma nova tradição: 
a da escrita 
Forte influência do teocentrismo e 
da Igreja Católica
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Infográfico: Showeet. 
 
Abaixo, identificamos mais gêneros literários do período: 
 
 
CATEGORIA ERA MEDIEVAL 
ESTRUTURA PRIMEIRA ÉPOCA: TROVADORISMO 
(SÉCULOS XII – XIV) 
SEGUNDA ÉPOCA (SÉCULO XV E 
INÍCIO DO SÉCULO XVI) 
POESIA Lírica cantigas de amor 
 cantigas de amigo 
Sátira cantigas de escárnio 
 cantigas de maldizer 
• Poesia palaciana 
• O cancioneiro geral, de Garcia 
Resende 
PROSA • Novelas de cavalaria 
• Hagiografias 
• Cronicões 
• Nobiliários 
• Crônicas de Fernão Lopes 
TEATRO • Mistérios 
• Milagres 
• Moralidades 
• Sotties 
• Gil Vicente 
 
Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2004, p. 102. 
 
PONTOS HISTÓRICOS MAIS RELEVANTES DO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1499 1500 1532 
História Pré-
Cabralina Luzia é o fóssil da mulher pré-
histórica mais antigo 
encontrado nas Américas. No 
Brasil, especificamente, regiões 
onde foi indicada presença de 
povos primitivos foram Pedra 
Pintada e Pedra Furada. Até 
pouco antes de Pedro Álvares 
Cabral chegar (~ 1300 d. C.), uma 
grande comunidade de 
Capitanias hereditárias 
Em 1532, há a criação do 
sistema de Capitanias 
Hereditárias (rei D. João 
III). Esse regime inicial foi 
de 1534 a 1549, baseando-
se numa organização 
puramente mercantil. No 
início, apenas duas 
prosperavam: São Vicente 
e Pernambuco. 
Chegam os portugueses 
D. João II falece em 1495. O 
contexto de expulsão dos 
judeus se acentua, e eles eram 
quem bancavam grande parte 
das expedições portuguesas. 
Ainda assim, Pedro Álvares 
Cabral chega em terras 
brasileiras em 22 de abril de 
1500. 1538 
Chegam os 
escravos Em 1538, começam a 
chegar ao Brasil os 
primeiros escravos 
vindos da África. Em 
1548, a Coroa 
Portuguesa cria e 
institui o Governo-
Geral no Brasil. 
Chegam os 
holandeses 
Início dos ataques 
holandeses ao 
litoral brasileiro. 
Maurício de 
Nassau conquista 
Pernambuco 
(1637). O açúcar 
era a maior 
 
1580 
 
 1599 
Domínio 
espanhol O Brasil passa a ser 
domínio espanhol. A 
União Ibérica vai ser um 
episódio na História do 
Brasil Colônia de 1580 a 
1640. Durante esse 
período, governarão 3 
Felipes. 
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PONTOS HISTÓRICOS MAIS RELEVANTES DE PORTUGAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Infográfico: Showeet. 
 
 
Reparem que em alguns momentos a História do Brasil 
coincide com a História de Portugal. É importante 
observar esses pontos de intersecção. 
 
 
1385 1434 1488 1499 1500 1578 
Batalha de 
Aljubarrota 
As tropas portuguesas 
foram comandadas por D. 
João I de Portugal e o seu 
condestável D. Nuno 
Álvares Pereira versus o 
exército castelhano e seus 
aliados liderados por D. 
João I de Castela. O 
resultado foi a derrota 
definitiva dos castelhanos e 
a consolidação de D. João I, 
Mestre de Avis, como Rei de 
Portugal, o primeiro da 
Dinastia de Avis. 
Dobragem do Cabo 
da Boa Esperança 
 
Descoberto por Bartolomeu 
Dias. Antigamente, era 
chamado de Cabo das 
Tormentas, mas depois 
mudou de nome para Boa 
Esperança,por mostrar a 
ligação entre o Oceano 
Atlântico e o Oceano Índico e 
prometendo a tão desejada 
chegada à Índia. 
“Descoberta
” do Brasil 
Frota comandada por Pedro 
Álvares Cabral ao território 
onde hoje se localiza o 
Brasil. Pedro Álvares Cabral 
parte em março com 1300 
tripulantes com o objetivo 
de chegar à Índia. Devido a 
uma grande tempestade a 
armada viu-se obrigada a 
mudar a sua rota para 
sudoeste, acabando por 
chegar à América do Sul, 
Ilha de Vera Cruz. 
Dobragem do Cabo Bojador 
Gil Eanes, enviado pelo Infante D. Henrique, 
tinha como objetivo dobrar o Cabo Bojador 
conhecido como “cabo do medo”, que nunca 
tinha sido dobrado devido aos frequentes 
nevoeiros e ventos fortes. Com uma barca de 
30 toneladas e 15 homens, ele conseguiu 
dobrar para sudeste e então percebeu que os 
tempos estavam mais amenos. A passagem 
do Cabo Bojador foi um dos marcos mais 
importantes da navegação portuguesa. 
Derrubou os velhos mitos medievais e abriu 
caminho para os grandes descobrimentos. 
Rota para as 
Índias 
 
Iniciada em 1497, sob 
o comando do 
navegador português 
Vasco da Gama 
durante o reinado do 
Rei D. Manuel I. Uma 
das mais notáveis 
viagens da era dos 
descobrimentos. 
Batalha de Alcácer 
Quibir 
 
Batalha travada a Norte de Marrocos 
perto da cidade de Alcácer Quibir 
entre Tânger e Fez. A batalha 
resultou na derrota portuguesa, com 
o desaparecimento em combate do 
rei D. Sebastião. Nasce assim o mito 
do Sebastianismo: “Enfim acabarei a 
minha vida e verão todos que fui tão 
afeiçoado à minha Pátria que não só 
me contentei de morrer nela, mas 
com ela,” Luís de Camões. 
1755 
Terremoto em 
Lisboa 
Em novembro de 1755, 
ocorreu um grande 
terremoto, resultando 
na destruição quase 
completa da cidade de 
Lisboa, especialmente 
na zona da Baixa, e 
atingindo ainda grande 
parte do litoral do 
Algarve e Setúbal. Esse 
fato é mencionado em 
obras literárias, como o 
Cândido de Voltaire. 
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Fonte: Pixabay. Fonte: Shutterstock. 
2 – QUINHENTISMO 
Aqui, vocês serão convidados a adentrar o universo de sonho das grandes navegações! 
 Julho de 1969. O estadunidense Armstrong chocava toda a humanidade quando pisava pela 
primeira vez na lua. Não foi tão diferente com as descobertas dos espanhóis e dos portugueses 
quando descobriram novos mundos antes desconhecidos. 
 O contato com os nativos nus, de língua e costumes estranhos, as belezas naturais, os animais, 
as plantas e os frutos exóticos, os mistérios, as riquezas – tudo isso contribuiu para uma vasta 
criatividade dos escritores que para cá vinham, consistindo na primeira produção literária nacional. 
 
A expansão ultramarina foi uma das ‘soluções’ encontradas pela sociedade da 
Europa Ocidental para fazer frente aos graves problemas gerados pela crise do 
sistema feudal. A necessidade de encontrar novas fontes de riquezas, controlar 
novas regiões produtoras, a centralização política, foram fatores decisivos para o 
desencadeamento do processo expansionista. (MARQUES, 2005). 
Os portugueses levaram grande vantagem sobre este processo, pois lideravam a Escola de 
Sagres, um grupo de pessoas ligadas à arte náutica, desenvolvendo tecnologia – tais como as 
caravelas e o astrolábio (instrumento astronômico que funcionava como bússola) – e a tradição 
marítima acumulada fez com que Pedro Álvares Cabral chegasse ao Brasil em 1500. Seguem abaixo 
exemplos de instrumentos de navegação: a bússola e o astrolábio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As grandes navegações motivaram expansões ultramarinas. A atmosfera era de 
competitividade/necessidade, consistindo na primeira fase do capitalismo: mercantilismo. As 
metrópoles iam atrás de matérias-primas. O Brasil naturalmente logo se revelou fonte riquezas 
naturais. Assim, primeiro houve aqui colônia de povoamento e depois de exploração. 
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As capitais brasileiras foram respectivamente: 
 
 
 
 
E depois disso, no Brasil... 
• Século XVI: a metrópole procurou garantir o domínio sobre a terra descoberta, 
organizando-a em capitanias hereditárias e enviando negros da África para povoá-la e jesuítas da 
Europa para catequizar os índios; 
• Século XVII: a cidade de Salvador, na Bahia, povoada por aventureiros portugueses, índios, 
negros e mulatos, tornou-se o centro das decisões políticas e do comércio do açúcar; 
• Século XVIII: a região de Minas Gerais transformou-se no centro da exploração do ouro e 
das primeiras revoltas políticas contra a colonização portuguesa, entre as quais se destacou o 
movimento da Inconfidência Mineira (1789-1792). 
 
 
 
 
 
Embora a Literatura Brasileira tenha nascido no período colonial, é difícil precisar o momento 
em que passou a configurar como produção cultural independente dos vínculos lusitanos. É preciso 
lembrar que, durante o período colonial, ainda não eram sólidas as condições essenciais para o 
florescimento da literatura em si; portanto, eram comuns na época meros registros ou diários de 
navegação. Os livros produzidos por escritores nascidos no Brasil eram então impressos em Portugal 
e depois trazidos à colônia. 
 
A LITERATURA DE INFORMAÇÃO 
A literatura de informação, ou de expansão, foi cultivada em Portugal à época das grandes 
navegações. A finalidade desses textos, escritos em prosa, era narrar e descrever as viagens e os 
primeiros contatos com a terra brasileira e seus nativos. Embora guardem pouco valor literário, são 
textos dotados de grande documentação histórica. 
 
Nem crônicas, nem memórias, pois não resultavam de nenhuma intenção literária: 
os escritos dos cronistas e viajantes eram uma tentativa de descrever e catalogar a 
terra e o povo recém-descobertos. Entretanto, permeava-os a fantasia de seus 
autores, exploradores europeus que filtravam fatos e dados, acrescentando-lhes 
elementos mágicos e características muitas vezes fantásticas. (VOGT, 1982). 
 
Salvador
Rio de 
Janeiro
Brasília
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PARA FRENTE... 
Outros movimentos literários posteriores resgataram a figura do índio de formas diversas. 
Podemos ressaltar: 
• Jose de Alencar – O guarani (Romantismo). 
• Oswaldo de Andrade – Macunaíma (Modernismo → movimento Pau-Brasil). 
 
É importante ressaltar que essa figura do índio no período 
do Quinhentismo era descritiva, ou seja, não passou por 
idealização como no Romantismo nem estilização como no 
Modernismo. Ou seja, essa visão muda ao longo da História. 
É ainda mais relevante compreender o principal objetivo da 
época: propagar a visão eurocêntrica. Logo, o ponto de 
vista dos textos era do colonizador e não dos indígenas. 
 Vamos estudar a partir de dois depoimentos diferentes abaixo como que a perspectiva sobre 
o mesmo assunto pode mudar a depender de quem profere o discurso. 
 
PONTO DE VISTA EUROCÊNTRICO 
 
Tomai o fardo do Homem Branco 
 Continua pacientemente 
Encubra-se o terror ameaçador 
 E veja o espetáculo do orgulho; 
Pela fala suave e simples 
 Explicando centenas de vezes 
Procura outro lucro 
 E outro ganho do trabalho. 
 
Tomai o fardo do Homem Branco 
 As guerras selvagens pela paz 
Encha a boca dos Famintos, 
 E proclama, das doenças, o cessar; 
E quando seu objetivo estiver perto 
 (O fim que todos procuram) 
Olha a indolência e loucura pagã 
 Levando sua esperança ao chão. 
 
Nesse trecho, o eu lírico de Rudyard Kipling, Prêmio Nobel de Literatura de 1907, julga 
que oHomem Branco tem como missão levar a esperança a outros chãos, de preferência, os 
pagãos. Chegando aonde há fome e doença, infere-se que ele seria um herói salvador. Porém, 
a missão também é um peso, ou seja, um fardo, algo a que o Homem Branco estaria destinado. 
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Este poema é de 1899. Nessa ocasião, a Europa, depois da colonização, passava por outra etapa 
capitalista: o Imperialismo, sendo que uma onda de competição por novos mercados 
competidores recomeçava. 
 Observação 1: o uso da letra maiúscula no termo “Homem Branco” ajuda a reforçar a 
importância de seu status. 
 Observação 2: percebam também o uso do imperativo afirmativo na segunda pessoa 
do plural: “[vós] tomais”. Isso indica um apelo à coletividade, à formação de um povo, grupo ou 
classe específica e a sua orientação para compor a parte participativa da História. 
 
PONTO DE VISTA INDÍGENA 
 
O pensamento vazio dos brancos não consegue 
conviver com a ideia de viver à toa no mundo. 
Acham que o trabalho é a razão da existência deles. 
Eles escravizaram tanto os outros que agora 
precisam escravizar a si mesmos. Não podem parar, 
experimentar a vida como um dom e o mundo 
como um lugar maravilhoso. O possível mundo que 
a gente pode compartilhar não tem que ser um 
inferno, ele pode ser um lugar bom. E o que 
estamos vivendo no Brasil nos últimos anos é uma 
espécie de surto capitalista, como uma metástase 
num organismo que adoeceu. Um organismo que 
não consegue buscar água pra beber, uma 
medicina saudável; então come mais veneno, 
produzindo uma agricultura cada vez mais drogada. 
Essa espécie de metástase do pensamento do 
branco sobre a Terra é o maior engano. (AILTON 
KRENAK. Depoimento à Revista Cult). 
Já nesse depoimento, o filósofo indígena contemporâneo Ailton Krenak, da etnia 
crenaque, faz outra observação acerca do trabalho, como se este servisse como uma espécie 
de um vazio que o homem branco precisaria preencher. A falta de entendimento do homem 
branco da alteridade, isto é, do outro, repercute numa incompreensão de si próprio: 
escravizando os outros, não sobra outro público-alvo de escravização a não ser si próprios. 
Ailton Krenak chega a comparar essa visão consumista a uma doença. Uma certa preguiça, 
uma não disposição para ir buscar alimentos saudáveis, produz indivíduos doentes. Por outro 
lado, uma preguiça meramente contemplativa, por meio da qual a natureza pudesse ser 
apreciada, também não é aceita. Segundo o pensador, o homem branco pensa que tem domínio 
sobre a terra e essa perspectiva enviesada é prejudicial. 
 
É importante nessas situações identificar qual é a relação entre sujeito-objeto. 
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Na época do Quinhentismo, quem detinha o poder da 
escrita e consequentemente do pensamento, eram os 
portugueses. A Literatura Contemporânea é o 
movimento literário no qual o lugar de fala do indígena 
enquanto sujeito cresce. A temática indígena continua 
sendo conteúdo da Literatura Contemporânea, como é 
o caso da obra Urihi: nossa terra, nossa floresta, do 
escritor e professor Devair Fiorotti. Esse livro de poesia 
conta a história de um jovem Yanomami. 
 
A LITERATURA DE CATEQUESE 
Os jesuítas vindos ao Brasil com a missão de catequizar os índios deixaram inúmeras cartas, 
tratados descritivos, crônicas históricas e poemas. Os principais deles foram José de Anchieta e o 
padre Manuel de Nóbrega, que chegaram juntos ao Brasil em 1553 e fundaram no ano seguinte, no 
planalto de Piratininga, um colégio que se tornou o núcleo da futura cidade de São Paulo. 
 
 
A primeira missa no Brasil (1861), de Victor Meirelles. 
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Sinopse: o filme é ambientado em 1570 e 
conta a história de mulheres órfãs de Portugal 
que eram enviadas ao Brasil para se casar com 
os colonizadores. Essa prática visava construir 
núcleos familiares cristãos e de ascendência 
europeia, coibindo os relacionamentos entre 
homens brancos e mulheres indígenas. 
Pero Vaz de Caminha 
Nasceu em 1450 e faleceu em 1500. Foi um fidalgo 
português e um escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral. 
Sua produção mais relevante foi a carta escrita a D. Manuel I, 
datada de 1º de maio de 1500, na qual revela os primeiros 
relatos descritivos sobre a terra do Brasil. 
Essa obra de arte foi criada em um movimento artístico 
posterior: o Romantismo. No centro do quadro, há a 
celebração do culto religioso católico-cristão, no caso, a 
Primeira Missa no Brasil, em terra de Vera Cruz, cidade de 
Cabrália. As vestes do padre são brancas e iluminadas. 
Literalmente, representação do teocentrismo, no caso, sendo 
o padre o representante de Deus na terra. Os indígenas, 
embora estejam em maior número, encontram-se 
marginalizados. Por meio desse posicionamento, podemos 
perceber criticamente o processo de aculturação: ou seja, os 
indígenas sendo relegados às margens, sem possibilidade de 
participação efetiva, a não ser um papel como espectadores. 
 
 
 
 
 
 Filme: Desmundo. 
 
 
 
 
 
2.1 – Autores e Obras do Quinhentismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luana Signorelli
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Pero de Magalhães Gândavo 
 Gândavo (1540-1579) foi um português de 
origem francesa (o nome deriva de Gand). Foi 
professor de Humanidades e amigo de Camões. Foi ele 
quem escreveu os primeiros informes sistemáticos 
sobre o Brasil. Sua estada aqui coincidiu com o 
governo Mem de Sá. Seu tratado que hoje 
conhecemos como História da Província de Santa Cruz 
a que Vulgarmente Chamamos Brasil não foi publicado 
em vida do autor, apenas em 1826 na Academia Real 
das Ciências de História de Portugal. 
Padre Manuel de Nóbrega 
 Manuel de Nóbrega (1517-1570) foi um 
sacerdote jesuíta português. Chefiou a primeira 
missão jesuítica na América. Estudou na Universidade 
de Salamanca e Coimbra. Escreveu cartas e a obra 
Diálogo sobre a conversão do gentio. Contribuiu para 
o estudo dos costumes do povo Tupinambá. 
 
 
Padre José de Anchieta 
José de Anchieta (1534-1597) teve uma 
vasta produção. Tendo em vista a catequese, 
todos seus textos apresentavam intenção 
pedagógica. Ele escreveu poemas, hinos, canções 
e autos (gênero teatral originado na Idade 
Média), além das cartas que informavam sobre o 
andamento da catequese no Brasil e de uma 
gramática da língua tupi. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"PADRES"
LITERATURA DE CATEQUESE
"PEROS"
LITERATURA DE INFORMAÇÃO
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Outras obras de destaque do período do Quinhentismo no Brasil foram: 
 Pero Vaz de Caminha – Carta. Endereçada a el-rei D. Manuel, referindo o descobrimento 
de uma nova terra e as primeiras impressões da natureza e do aborígene; 
 Pero Lopes de Sousa – Diário de navegação (1530). Ele foi o escrivão do primeiro grupo 
colonizador, o de Martim Afonso de Sousa. 
 Frei Vicente do Salvador – História do Brasil (1557); 
 Hans Staden – Duas viagens ao Brasil (1557); 
 Magalhães Gândavo – Tratado da terra no Brasil (1576); 
 Gabriel Soares da Sousa – Tratado descritivo do Brasil (1576); 
 Jean de Léry – Viagem à terra do Brasil (1578); 
 Fernão Cardim – Narrativaepistolar e Tratados da terra e da gente do Brasil (1583). Ele foi 
um jesuíta. 
 Ambrósio Fernandes Brandão – Tratado descritivo do Brasil (1618). Ou ainda Diálogos das 
grandezas do Brasil. 
 Frei Vicente do Salvador – História do Brasil (1627). 
 
 Observação 1: percebam que, para além da colonização portuguesa, houve interesse 
de outras nacionalidades acerca da terra do Brasil. De fato, tudo era muito chamativo, sendo 
que atraiu a atenção de alemães e franceses, por exemplo. 
 Observação 2: a noção que as pessoas daquela época tinham sobre o conceito de 
“História” é diferente do que temos hoje. Isto é, para eles, descrevia-se a História Presente, os 
fatos que realmente estavam acontecendo, ao passo que hoje temos noção de distanciamento 
histórico. 
 
 
 
 
 
Ao lado, como curiosidade, foto de 
minha autoria da carta de Pero Vaz na cidade 
de Santa Cruz Cabrália (BA). Trechos da carta 
são dispostos em uma oca, ao lado de uma 
réplica da caravela de Pedro Álvares Cabral. É 
um ponto turístico: é possível adentrar a 
caravela e ver as réplicas dos canhões, por 
exemplo. Viajei pessoalmente para lá no ano 
de 2011 e conheci também a cruz onde foi 
celebrada a Primeira Missa no Brasil. Ao redor 
dela, hoje há um mercado de artesanato 
indígena. 
 
 
 
 
 
 
Luana Signorelli
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(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli) 
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de 
Páscoa, que foram 21 dias de abril, estando da dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos 
diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que 
os mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-
feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos. 
 Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, 
mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: 
ao monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra – a Terra da Vera Cruz. 
 Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os 
navios pequenos, por chegarem primeiro. 
 Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau 
do Capitão-mor, onde falaram entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho 
para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos 
dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte 
homens. 
 Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos 
traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que 
pousassem os arcos. E eles os pousaram. Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de 
proveito, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de 
linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. 
 Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas 
vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, 
miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, 
e com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar. 
 
*Vocabulário 
Chã: terreno plano, planície 
Batéis e esquifes: barcos pequenos 
Barretes: cobertura de tecido flexível que se ajusta facilmente à cabeça e termina em ponta que 
pende para trás ou para o lado. 
 
1) Para começar o estudo da literatura brasileira, toma-se geralmente por base o início da 
colonização portuguesa, pois o desenvolvimento dessa literatura se dá no contexto da transposição 
da cultura ocidental para a América. À luz destes conhecimentos, selecione a alternativa correta. 
a) A literatura colonial produzida no Brasil, na época de 1500-1700, tinha como principal gênero a 
poesia. 
b) Autores como José de Anchieta e Padre Antônio Vieira foram de importância crucial para o 
desenvolvimento da literatura nacional, sobretudo porque desenvolveram uma literatura de cunho 
jesuítico. 
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c) A carta de Pero Vaz de Caminha, destacada como marco da literatura colonial, demonstra uma 
linguagem considerada difícil para os dias atuais, pois se tratava de português arcaico. 
d) Pode-se concluir do texto que Nicolau Coelho foi grande amigo de Pero Vaz de Caminha e chegou 
com ele junto ao Brasil. 
e) É possível depreender do texto que, uma vez que os nativos possuíam barrete e carapuças, eles 
representavam séria ameaça aos viajantes. 
Comentários 
 Questão de contexto histórico-social/interpretação de texto literário. 
Alternativa A: incorreta. O Trovadorismo em Portugal teve como principal gênero a poesia. A 
produção literária do Quinhentismo no Brasil se limitou a 1500, pois em 1600 já havia outros 
movimentos literários, como Barroco e Arcadismo. Além do mais, a principal obra desse período é 
escrita em forma de prosa, tratando-se da carta de Pero Vaz de Caminha. 
Alternativa B: incorreta. Padre Antônio Vieira já era autor do Barroco. 
Alternativa C: fases da História da Língua Portuguesa. 
 1) Arcaico: 1500 => cartas. Portugal ~ Espanha: língua de contato – galego/português; 
 2) Clássico: 1600 => Camões; 
 3) Moderno: até hoje. 
Alternativa D: incorreta. Não é possível concluir isso a partir do trecho. Porém, pode-se inferir 
o seguinte: o capitão-mor manda Nicolau Coelho como o primeiro a testar terras desconhecidas. Ou 
seja, ele serviu como cobaia. Na verdade, historicamente Nicolau Coelho era um comandante da 
armada de Pedro Álvares Cabral. 
Alternativa E: incorreta. A História irá comprovar que a chegada dos portugueses significou 
massacre para os povos indígenas, mas, em um primeiro momento, não é possível depreender isso 
do texto. Tanto é que houve um sinal de contato e de reconhecimento entre eles, momento 
simbolizado pela troca de chapéus. 
Gabarito: C. 
 Grau de dificuldade da questão: médio. 
 
2) O Dia Nacional do Índio é decretado no dia 19 de abril. Hoje há instituições federais que garante 
respaldo aos direitos humanos indígenas, tais quais a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Com 
base na cultura indígena, eleja a alternativa correta. 
a) Pero Vaz de Caminha foi importante para ressalvar os direitos indígenas. Na sua carta, considerada 
a primeira obra da literatura nacional, o autor exibe um profundo conhecimento indígena, e uma 
postura amigável aos nativos. 
b) As terras indígenas serão administrativamente demarcadas por iniciativa e sob a orientação do 
órgão federal de assistência ao índio. 
c) O escambo era uma prática colonial comum, e consistia em uma troca de objetos por parte do 
colonizador e do colonizado, sendo que cada uma das partes entregava um bem ou prestava um 
serviço à outra, a fim de formar um sistema de crédito. Isto pode ser facilmente evidenciado nos dois 
últimos parágrafos do trecho selecionado. 
d) Fica claro do trecho acima que os índios e os portugueses, de tradição europeia, apresentavam 
culturas semelhantes, por isso se entendiam com tanta facilidade. 
e) Para chegar ao Brasil, os portugueses percorreram o Oceano Pacífico. 
Comentários 
 Questão de atualidades/conhecimentos interdisciplinares. Há datas e documentos 
importantes sobre o assunto: 
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É comum nesse período a 
representação da Pietá, Nossa Senhora 
carregando Jesus morto em seus braços, 
imagem de dor profunda e desoladora. O 
Quinhentismo, apesar de ser um 
movimento literário primitivo, apresentou 
uma riqueza de gêneros literários. Ao lado, 
observamos uma poesia de Padre José de 
Anchieta. Sua poesia altamente descritiva, 
rebuscada, cheia de riqueza de detalhes, 
imagens e sofrimento, como a metáfora 
do rio de sangue, já se aproxima da 
linguagem do Barroco. Ao lado está 
apenas um trecho, mas o começo do 
poema está todo em latim e, ao fim dele, 
o eu lírico diz que deseja que todo esse 
sangue lhe sirva como purificação e meio 
de entrada para a Morada Eterna. 
*19 de abril: Dia Nacional do Índio 
*09 de agosto: Dia Internacional dos Povos Indígenas (ONU) 
  Decreto de Lei nº 1.775/96: dispõe sobre o procedimento administrativo da demarcação das 
terras indígenas. 
  Lei nº 11.645/2008: inclui a história e cultura indígenas na Lei de Diretrizes Básicas (LDB). 
Alternativa A: incorreta. A postura não era amigável, era de desconfiança frente ao 
desconhecido. 
Alternativa B: correta – gabarito. É o artigo 1º da Lei nº 1.775/96. 
Alternativa C: incorreta. A prática histórica do escambo foi descrita na alternativa. Quando é 
assim, apenas confiem. Saber o termo nesse caso não era decisivo para gabaritar a questão. O fato é 
que o gesto que foi estipulado nestes dois parágrafos – a troca de chapéus, no caso um sombreiro da 
parte do português e um ramal (cocar) da parte do índio, representou o primeiro contato travados 
entre ambos, e não troca comercial de objetos. 
Alternativa D: incorreta. Eram culturas bastante diferentes e desconfiavam uns dos outros. 
Alternativa E: questão interdisciplinar de Geografia. Foi o Oceano Atlântico. 
Gabarito: B. 
 Grau de dificuldade da questão: médio. 
 
EXEMPLO PRÁTICO 
 
Padre José de Anchieta – Poema da Virgem 
Olha com que azorrague o carrasco sombrio 
retalha do Senhor a meiga carne a frio. (...) 
Vê como a dextra má finca em lenho de escravo 
as inocentes mãos com aguçado cravo 
Olha como na cruz finca a mão do algoz cego 
os inocentes pés com aguçado prego. 
Ei-lo, rasgado jaz nesse tronco inimigo, 
e c'o sangue a escorrer paga teu furto antigo! 
Vê como larga chaga abre o peito, e deságua 
misturado com sangue um rio todo d'água. 
Se o não sabes, a mãe dolorosa reclama 
para si quanto vês sofrer ao filho que ama. 
Pois quanto ele aguentou em seu corpo desfeito, 
tanto suporta a mãe no compassivo peito. 
Ergue-te pois e, atrás da muralha ferina 
cheio de compaixão, procura a mãe divina. 
 
 
 
 
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3 – TROVADORISMO 
Na Idade Média, tanto a educação formal quanto a produção artístico-cultural encontravam-
se dominadas pela Igreja. O nascimento das cantigas trovadorescas e das novelas da cavalaria na 
Baixa Idade Média, pautadas na vida cotidiana ou para a fantasia de aventura, simbolizou o 
surgimento de uma cultura leiga. 
A cantiga mais antiga que se tem notícia é a “Cantiga da Ribeirinha” ou “da Guarvaia” de Paio 
Soares de Taveirós (1189-1198). Elas são unidas em coletâneas: os cancioneiros, sendo os mais 
conhecidos: Cancioneiro da Ajuda (século XIII); Cancioneiro da Vaticana (século XV). 
O português teve um estágio antigo chamado galego-português. As primeiras manifestações 
literárias nessa língua datam do século XII. As principais eram as cantigas, canções compostas e 
cantadas por poetas denominados de trovadores. 
Segundo Cereja e Magalhães (2004, p. 86), esses cantores apresentavam uma hierarquia 
entre si: 
• Trovador: membro da nobreza ou do clero, era autor da letra e da música das composições 
que executava para o seleto público das cortes; 
• Segrel: nobre de escala mais baixa, escudeiro sem recursos para ascender à cavaleiro, 
sobrevivia percorrendo as cortes ou acompanhando o exército real nas lutas contra os árabes. 
Executava composições próprias. 
• Jogral: cantor de origem popular, raramente compunha, limitando-se a executar 
composições dos trovadores. Normalmente, era acompanhado por uma soldadeira, mulher que 
dançava e cantava durante as apresentações e, por isso, tinha má reputação. 
Entre as cantigas, há a seguinte distinção: cantigas de amor e cantigas de amigo. Ainda de 
acordo com os autores, a cantiga de amigo é classificada da seguinte maneira: 
 
CANTIGA DE AMIGO 
• Pastorela: de ambiente rural, tratam do envolvimento amoroso entre uma 
pastora e um cavaleiro; 
• Bailias ou bailadas: fazem referência à dança de moças que esperam os 
namorados; 
• Romarias: referem-se às romarias feitas a lugares sagrados; 
• Albas ou alvas: fazem menção ao amanhecer, que muitas vezes surpreende os 
amantes; 
• Marinhas ou barcarolas: apresentam ambiente marinho. 
 
Embora o Trovadorismo também tenha reconhecido os gêneros da 
prosa e do teatro também, a predominância foi da lírica com as cantigas. O 
que favoreceu isso é que poucas pessoas à época sabiam ler e escrever, já que 
a Igreja detinha o conhecimento. A cantiga era fácil de ser difundida, 
acompanhada de música e dança, motivo pelo qual recebe esse nome. 
 
 
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PARALELISMO 
 As cantigas de amigo geralmente apresentam paralelismos, uma técnica frequentemente 
usada em literatura, que consiste em repetições de palavras ou versos ou construções 
sintáticas. Essas repetições podem ser de partes de versos ou até de versos inteiros. 
 Além do refrão, as cantigas de amigo costumam apresentar dois tipos de paralelismo: o de 
par de estrofes e o leixa-pren. O de par de estrofes consiste na repetição de duas estrofes 
com uma ligeira diferença entre o verso de uma e o seu correspondente na outra estrofe. O 
leixa-pren é uma espécie de encadeamento entre estrofes pares e ímpares: o segundo verso 
da primeira estrofe se repete no primeiro da terceira estrofe, o segundo verso da segunda 
estrofe se repete no primeiro da quarta estrofe e assim por diante. 
 Veja os dois tipos de paralelismo nos versos seguintes. As setas em azul correspondem ao 
paralelismo de par de estrofes e as setas em vermelho, ao leixa pren: 
 
 Non chegou, madre, o meu amigo, 
 E oje est o prazo saido! 
 Ai, madre, moiro d’amor! 
 
 Non chegou, madre, o meu amado, 
 E oje est o prazo passado! 
 Ai, madre, moiro d’amor! 
 
 E oje est o prazo saido! 
 Por que mentiu o desmentido? 
 Ai, madre, moiro d’amor! 
 
 E oje est o prazo passado! 
 Por que mentiu o perjurado? 
 Ai, madre, moiro d’amor! 
Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2004, p. 84 (adaptado). 
 
As cantigas de amigo têm raízes na Península Ibérica, em festas rurais e populares, com 
música e dança, com vestígios da cultura árabe. São suas características: 
 Ambientação rural; 
 Linguagem simples; 
 Repetições; 
 Estrutura paralelística; 
 Forte musicalidade. 
Na cantiga de amigo, o eu lírico é geralmente feminino, e o tema mais frequente é um 
lamento amoroso da moça cujo namorado partiu para as guerras árabes. 
 
Já as cantigas de amor têm origem na poesia provençal (de Provença, região do sul da França), 
nos ambientes finos e aristocráticos e logo estão presas a certas convenções de linguagem e de 
sentimentos. São suas características: 
 Linguagem mais refinada quanto a vocabulário e construções; 
 Ambiente: a corte. 
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O eu lírico normalmente é um homem (um cavaleiro), que declara o seu amor a uma mulher 
inalcançável, em conformidade com as regras do amor cortês. O eu lírico masculino confessa a coita: 
o sofrimento amoroso por uma dama que lhe é inacessível devido à diferença social entre eles. 
 
 
 
 
 Observação: assim como a noção de “História” não era a mesma naquela tempo, também 
não o era a noção de “romance”. Entende-se o romance medieval também como “romanceiro”, no 
sentido de composição poética. 
 
Designa a atividade poética luso-espanhola, de caráter épico e lírico, 
anônima, transmitida por via oral, durante a Idade Média, configurada nos 
romances, ou a sua compilação em romances, ou a sua compilação em 
volume, integral ou antológico (MOISÉS, 2013, p. 417). 
 
AMOR CORTÊS 
 O relacionamento entre amantes pode recorrer à expressão do amor cortês, isto 
é, um tipo de amor convencional, cheio de regras sociais como: 
 *Submissão absoluta à dama; 
 *Vassalagem humilde e paciente; 
 *Promessa de honrar e servir a dama com fidelidade; 
 *Prudência para não abalar a reputação da dama, sendo o cavaleiro, por essa 
razão, proibido de falar diretamente dos sentimentos que tem por ela; 
 *A amada é vista como a mais bela de todas as mulheres; 
 *Pela amada o trovador despreza todos os títulos, as riquezas e a posse de todos 
os impérios. 
Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, p. 85 (adaptado). 
 
 
Também há uma segunda distinção entre as cantigas trovadorescas: as cantigas de escárnio 
e as cantigas de maldizer. Elas têm valor histórico, porque representam a sociedade medieval 
portuguesa e seus aspectos culturais, morais e linguísticos. 
 
 
“Coita”, em galego-português, significa dor, sofrimento e designa no 
português moderno o vocábulo “coitado”. O termo mesmo significa dor, 
aflição, desgosto, especialmente por motivo de amor; pressão das 
circunstâncias, compulsão física ou moral, necessidade (dicionário 
Houaiss). Exemplo: "Não me meta em tal coita vosso amor!” (Afonso 
Lopes Vieira, Romance de Amadis) (dicionário Aulete). 
Coita 
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CANTIGAS DE ESCÁRNIO CANTIGAS DE MALDIZER 
Crítica indireta; normalmente, a pessoa 
satirizada não é identificada. 
Crítica direta; geralmente, a pessoa satirizada é 
identificada. 
Linguagem trabalhada, cheia de sutilezas, 
trocadilhos e ambiguidades. 
Linguagem agressiva, direta, por vezes obscena. 
Ironia. Zombaria. 
Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2004, p. 105. 
 
Elas se diferem das cantigas de amor e de amigo por serem menos rígidas e seguirem menos 
os modelos convencionais; portanto, elas têm mais liberdade formal, são mais experimentalistas e 
exploram mais recursos expressivos, por exemplo, figuras de linguagem. 
Costumam ter como seus alvos clérigos devassos, prostitutas, os próprios trovadores etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli/2020) 
Ai dona fea! Foste-vos queixar 
Que vos nunca louv'en meu trobar 
Mais ora quero fazer un cantar 
En que vos loarei toda via; 
E vedes como vos quero loar: 
Dona fea, velha e sandia! 
 
A partir do texto acima, julgue o item a seguir. 
Instrumentos musicais da Idade 
Média. À esquerda, um alaúde e à 
direita, uma viela de arco. 
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Pode-se classificar o texto medieval acima como sendo uma cantiga de maldizer, pelo fato de nela 
haver ironia tipicamente moderna, à moda machadiana, e ao mesmo tempo sutil, pois a pessoa 
atacada não é identificada. 
 
Comentários 
 Questão de interpretação de texto literário/Gramática aplicada à Literatura. 
 Trata-se da “Cantiga de Escárnio” de João Garcia de Guilhade; logo, é uma cantiga de escárnio 
e não de maldizer. A pessoa é, de fato, não identificada, sendo acusada de velha e sandia (estúpida), 
mas sendo denominada apenas de “dona fea”, ou seja, uma mulher feia, não identificada, portanto. 
Há, sim, ironia nas cantigas de escárnio. A ironia é tanto uma figura de linguagem quanto um efeito 
de texto em que se diz o contrário do que se quer dizer. A ironia nessa cantiga reside no termo “loa”: 
que é um elogio, mas no texto foi empregado com o sentido de crítica. Em todo caso, não é a mesma 
ironia refinada e sutil machadiana do século XIX. Também há a história da ironia e ela foi se 
aperfeiçoando com o tempo. 
Gabarito: E. 
 Grau de dificuldade da questão: médio. 
3.1 – Autores e Obras do Trovadorismo 
Airas Nunes de Santiago 
O galego João Airas de Santigo (c. 1230-1293) foi poeta na corte de Sancho IV de Castela. Obra 
de destaque foi a pastorela “Pelo souto do Crexentes”, de natureza descritiva em que o homem 
participa do meio por meio de um cenário paisagístico. 
 
Estêvão Coelho 
Seu nascimento data de 1305. É designado nos 
Livros de Linhagens por Estêvão Coelho de Riba Homem 
e escreveu em galego-português. Casou-se com Maria 
Mendes Petite, ligada aos mosteiros de Canedo e de 
Grijó, com quem teve 7 filhos. 
Podemos destacar como produção sua um 
gênero que a canção de tear (chanson de toile) sua 
cantiga “Sedia la fremosa seu sirgo torcendo”. 
Caíram 4 questões (2 questões, com 2 
alternativas cada). Para essa cantiga, vocês poderiam 
aplicar as regras de paralelismo. 
 
 
Sedia la fremosa seu sirgo torcendo, 
Sa voz manselinha fremoso dizendo 
Cantigas d’amigo. 
 
Sedia la fremosa seu sirgo lavrando, 
Sa voz manselinha fremosa cantando 
Cantigas d’amigo. 
Luana Signorelli
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- Par Deus de Cruz, dona, sey que avedes 
Amor muy coytado que tan ben dizedes 
Cantigas d’amigo. 
 
- Par Deus de Cruz, dona, sey que andades 
D’amor muy coytada que tan ben cantades 
Cantigas d’amigo. 
 
- Avuytor comestes, que adevinhades. 
 
 
AS NOVELAS DE CAVALARIA 
 A prosa, em Portugal, começou entre o século XIV e o início do século XV, em forma de 
hagiografias, nobiliários, cronicões e novelas de cavalaria. 
 *Hagiografias: relatos de episódios da vida de santos, cuja finalidade era catequética e 
didática. 
 *Nobiliários ou livros de linhagem: compilações de genealogias de famílias nobres, feitas 
com o objetivo de conhecerem os graus de parentesco. 
 *Cronicões: documentos que faziam mera ordenação de fatos históricos. 
 *Novelas de cavalaria: são um gênero narrativo tipicamente medieval. Em geral de autor 
desconhecido, são resultado da transformação das canções de gesta, poemas que narravam 
heroicas aventuras de cavaleiros andantes. 
 Seus temas são, portanto, as aventuras fantásticas de cavaleiros lendários e destemidos 
que liquidavam monstros e homens malvados em batalhas sangrentas, travadas em nome 
tanto de Deus quanto do amor por uma donzela. Produto de uma fértil inventividade, a novela 
de cavalaria descreve com abundância de detalhes a vida e os costumes da cavalaria medieval. 
 De acordo com seus temas, as novelas de valeria compõem três ciclos: 
  Ciclo bretão ou arturiano: tem como personagens centrais o rei Artur e os cavaleiros da 
Távola Redonda; 
  Ciclo carolíngio: gira em torno da figura de Carlos Magno e os doze pares da França (a 
qual tem uma adaptação para o cordel brasileiro do Nordeste); 
  Ciclo clássico: abrange figuras e acontecimentos da Antiguidade clássica, como a Guerra 
de Tróia. 
 O romance de cavalaria encontra a sua autocrítica em Dom Quixote de la Mancha, de 
Miguel de Cervantes no século XVI. Trata-se já da decadênciados valores medievais da 
cavalaria, que abriam espaço para o aburguesamento da sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, p. 85 (adaptado). 
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E quem disse que concurseiro não se diverte? Elenquei abaixo uma sugestão de filmes e séries 
pertinentes à temática que estamos estudando hoje. Boa diversão! 
 
 
SUGESTÃO SINOPSE/COMENTÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
Filme: Cruzada (2005) 
Sinopse: Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, 
que guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a 
visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é 
também um conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica 
sua vida a manter a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar 
também à esta meta, mas após a morte de Godfrey ele herda 
terras e um título de nobreza em Jerusalém. Determinado a 
manter seu juramento, Balian decide permanecer no local e 
servir a um rei amaldiçoado como cavaleiro. Paralelamente ele 
se apaixona pela princesa Sibylla (Eva Green), a irmã do rei. O 
filme é importante para estudar as Guerras Santas entre os 
católicos e mulçumanos. 
 
 
 
 
 
 
Filme: Thor (2011) 
Sinopse: Thor (Chris Hemsworth) ia herdar o trono de Asgard 
das mãos de seu pai Odin quando inimigos quebraram um 
acordo de paz. Disposto a se vingar, o guerreiro desobedece às 
ordens do rei e quase dá início a uma nova guerra entre os 
reinos. Enfurecido com a atitude do filho e herdeiro, Odin retira 
seus poderes e o expulsa para a Terra. Lá, Thor acaba 
conhecendo a cientista Jane Foster e precisa recuperar seu 
martelo, enquanto seu irmão Loki elabora um plano para 
assumir o poder. Este é o primeiro filme de uma trilogia e o 
herói também participa das sagas dos Vingadores. Thor é um 
deus do panteão da mitológica nórdica, mas na cultura de 
massa da contemporaneidade é transformado em super-herói. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Filme: A lenda de Beowulf (2007) 
Sinopse: Ilha de Sjaelland, perto de onde fica a Dinamarca. O 
demônio Grendel ataca o castelo do rei Hrothgar sempre que 
tem uma festa, cerimônia ou ocasião importante, porque não 
suporta o barulho gerado. Grendel sempre mata várias pessoas 
nos seus ataques, embora poupe Hrothgar. Com o povo 
aterrorizado, o rei Hrothgar ordena que o salão onde as 
comemorações são realizadas seja fechado. Até que chega ao 
local Beowulf, um guerreiro que promete eliminar o monstro. 
Além de tudo, essa obra tem uma forma de filmagem especial: 
são atores reais que passaram por um véu/filtro de animação. 
O filme é importante para estudar as sagas nórdicas, pois sua 
época histórica é datada de 900-1000 d. C. É uma assunto 
interessante para revisar o conteúdo histórico das migrações 
bárbaras. 
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Filme: Senhor dos Anéis: a sociedade do anel (2001) 
Sinopse: numa terra fantástica e única, chamada Terra-Média, 
um hobbit (seres de estatura entre 80 cm e 1,20 m, com pés 
peludos e bochechas um pouco avermelhadas) recebe de 
presente de seu tio o Um Anel, um anel mágico e maligno que 
precisa ser destruído antes que caia nas mãos do mal. Para isso 
o hobbit Frodo terá um caminho árduo pela frente, onde 
encontrará perigo, medo e personagens bizarros. Ao seu lado 
para o cumprimento desta jornada aos poucos ele poderá 
contar com outros hobbits, um elfo, um anão, dois humanos e 
um mago, totalizando 9 pessoas que formarão a Sociedade do 
Anel. A saga foi baseada no livro homônimo de J. R. R. Tolkien, 
que usou o medievo como fuga de sua realidade, pois 
presenciou a o tempo das Grandes Guerras. 
 
 
 
 
 
 
 
Filme: O nome da rosa (1983). 
Sinopse: em 1327 William de Baskerville (Sean Connery), um 
monge franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um 
noviço, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. 
William de Baskerville pretende participar de um conclave para 
decidir se a Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a 
atenção é desviada por vários assassinatos que acontecem no 
mosteiro. O filme é baseado no romance do escritor italiano 
contemporâneo Umberto Eco. O seu romance é de 1980. O 
filme é muito interessante para estudar a primazia que a Igreja 
Católica detinha acerca do conhecimento, com a preservação 
de grandes bibliotecas e inclusive via profissão do copista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Série: Vikings (2013-...) 
Sinopse: Ragnar Lothbrok é o maior guerreiro da sua era. Líder 
de seu bando, com seus irmãos e sua família, ele ascende ao 
poder e torna-se Rei da tribo dos vikings. Além de guerreiro 
implacável, Ragnar segue as tradições nórdicas e é devoto dos 
deuses. As lendas contam que ele descende diretamente de 
Odin, o deus da guerra. Há uma edição em livro também, em 
Língua Portuguesa, escrita originalmente por por Haukr 
Erlendsson e Saxo Grammaticus e traduzida por Artur Avelar (o 
mesmo que traduziu outro épico, chamado Edda). O título da 
obra é As Histórias de Ragnar Lodbrok. 
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Série: Guerra dos Tronos (2011-2019). 
Sinopse: Game of Thrones conta a história de um lugar onde 
uma força destruiu o equilíbrio das estações, há muito tempo. 
Em uma terra onde os verões podem durar vários anos e o 
inverno toda uma vida, as reivindicações e as forças 
sobrenaturais correm as portas do Reino dos Sete Reinos. A 
irmandade da Patrulha da Noite busca proteger o reino de 
criaturas que podem vir de lá da Muralha, mas já não tem os 
recursos necessários para garantir a segurança de todos. 
Conspirações e rivalidades correm no jogo político pela disputa 
do Trono de Ferro, o símbolo do poder absoluto. A série 
baseada em uma saga de livros escrita pelo estadunidense 
George R. R. Martin, cujo primeiro volume se intitula As 
crônicas do gelo e do fogo (1996). 
 
 
 
 
 
 
 
Filme: Valente (2012). 
Sinopse: esse é um filme para assistir com os(as) filhos(as)! A 
princesa Merida foi criada pela mãe para ser a sucessora 
perfeita ao cargo de rainha, seguindo a etiqueta e os costumes 
do reino. Mas ela não tem a menor vocação para esta vida 
traçada, preferindo cavalgar pelas planícies selvagens da 
Escócia e praticar o seu esporte favorito, o tiro ao arco. Quando 
uma competição é organizada contra a sua vontade, para 
escolher seu futuro marido, Merida decide recorrer à ajuda de 
uma bruxa, a quem pede que sua mãe mude. É um filme leve e 
da Disney, de animação já com tecnologia 3D, mas é importante 
para se estudar o papel da mulher na Idade Média. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Filme: A espada era a lei (1963). 
Sinopse: esse é outro filme para assistir com os(as) filho(as)! 
Filme leve e divertido, consiste numa animação da Disney, mas 
é interessante para compreendermos a importância do 
imaginário da magia na época medieval. Arthur é um jovem 
menino que sonha em se tornar cavaleiro. Reza a lenda que 
aquele que conseguir tirar a espada mágica da pedra se tornará 
o rei da Inglaterra. Merlin, um poderoso, mas atrapalhado 
mago, sabe que Arthur será o novo rei e por isso, vai até o 
castelo onde o garoto trabalha prepará-lo para o futuro. 
 
Ufa! E agora que já descansamos, vamos voltar ao nosso conteúdo. Ainda temos mais 
movimentos literários para estudar. 
 
 
 
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4 – HUMANISMO 
 O ícone do Humanismo português foi Gil Vicente,cujas origens são incertas. Provavelmente, 
era alfaiate, mas Gil era um nome vulgar e São Vicente era patrono de Lisboa, sendo que podia haver 
um carpinteiro homônimo à época. 
Nessa época, é muito comum o teatro em verso à moda de William Shakespeare na Inglaterra 
(1564-1616). Afinal, ele também foi um escritor do movimento literário do humanista; porém, era 
britânico. Era comum na época a noção de world as stage (mundo como palco), ou seja, a ideia de 
que estaríamos encenando sempre o tempo todo, até mesmo em nossas vidas reais e especialmente 
em sociedade. 
 
Nesse período, era significativo o papel da performance, isto 
é, um desempenho típico para ser exibido, geralmente com 
eloquência. Um adepto será Padre Antonio Vieira no Barroco 
com seus sermões. E também pode ser mencionada a 
Comedia dell’arte, que ocorreu no século XV na Itália. 
Representava o mundano, já não se tratava mais de um teatro 
religioso (autos). Trata-se de uma modernização nesse 
sentido, uma laicização das artes. Personagens importantes 
são: Arlequino e Colombina. 
 
Por outro lado, também há os autos. “Auto” é um gênero literário. “Vinculado aos mistérios 
e moralidades, e talvez deles proveniente, o autor designa toda peça breve, de tema religioso ou 
profano, encenada durante a Idade Média: equivaleria a um ato que integrasse espetáculo maior e 
completo, daí o apelativo que recebeu: auto” (MOISÉS, 2013, p. 46, grifo meu). 
Aproximavam-se da tragicomédia, pois tinham moralizavam sem perder o teor satírico. Por 
participar do debate de ideias que agitavam o período histórico, é conhecido como teatro de ideias. 
Vejam abaixo alguns exemplos dos mais conhecidos, dos humanistas até modernistas: 
 
 
 
Fonte das imagens: Shutterstock. 
O auto da índia – Gil Vicente (1509)
O auto da barca do inferno – Gil Vicente (1517)
O auto da compadecida – Ariano Suassuna 
(1955)
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O HUMANISMO 
 O termo é usado para indicar duas coisas diferentes: I) o movimento literário e filosófico 
que nasceu na Itália na segunda metade do séc. XIV, difundindo-se para os demais países 
da Europa e constituindo a origem da cultura moderna; II) qualquer movimento filosófico 
que tome como fundamento a natureza humana ou os limites e interesses do homem. 
 Em relação à primeira, as bases fundamentais do humanismo podem ser assim expostas: 
 1) Reconhecimento da totalidade do homem como ser formado de alma e corpo e destinado 
a viver no mundo e a dominá-lo. 
 2) Reconhecimento da historicidade do homem, dos vínculos do homem com o seu passado, 
que, por um lado, servem para uni-lo a esse passado e, por outro, para distingui-lo dele. 
 3) Reconhecimento do valor humano das letras clássicas. É por esse aspecto que o H. 
temesse nome. Já na época de Cícero e Varrão, a palavra humanítas significava a educação do 
homem como tal, que os gregos chamavam de paídéia; eram chamadas de "boas artes" as 
disciplinas que formam o homem, por serem próprias do homem e o diferenciarem dos outros 
animais. 
 
Essa premissa associa o significado da corrente do humanismo à erudição. 
 4) Reconhecimento da naturalidade do homem, do fato de o homem ser um ser natural, 
para o qual o conhecimento da natureza não é uma distração imperdoável ou um pecado, mas 
um elemento indispensável de vida e de sucesso. 
O pensador – Rodin 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Pixabay. 
Em relação à outra, o segundo significado dessa palavra nem sempre tem estreitas conexões com 
o primeiro. Pode-se dizer que, com esse sentido, o humanismo é toda filosofia que tome o homem como 
“medida das coisas”, segundo antigas palavras de Protágoras. 
Em sentido mais geral, pode-se entender por humanismo qualquer tendência filosófica que leve 
em consideração as possibilidades e, portanto, as limitações do homem, e que, com base nisso, 
redimensione os problemas filosóficos. 
Fonte: ABBAGNANO, 2007, p. 518-519 (adaptado). 
 
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4.1 – Autores e Obras do Humanismo 
“Reza a lenda” que entre a noite de 7 para 8 
de junho de 1502, nos Paços de Alcaçova de Lisboa, 
um homem fantasiado de vaqueiro irrompeu nos 
salões da rainha D. Maria, mãe do futuro rei D. João 
III, para manifestar a sua alegria em relação ao 
nascimento do menino. Os convivas gostaram tanto 
que pediram para o homem repetir a façanha nas 
festividades religiosas de Natal. 
Esse homem, de origem incerta, mas que se 
desconfia ter nascido em Belém (c. 1465) e morrido 
c. 1535 era Gil Vicente, o principal autor do 
Humanismo. Essa sua obra ficou conhecida como 
Auto da visitação e ela foi importante por introduzir 
o teatro leigo em Portugal, já que o menino 
homenageado era um homem, ainda que nobre. 
Sua influência foi Juan del Encina, de caráter pastoral e religioso. Gil Vicente escreveu mais de 
40 obras para a corte, algumas bilíngues, outras em português e outra em castelhano. 
Mesmo ainda tendo influência da tradição religiosa, o teatro de Gil Vicente – também 
chamado de teatro vicentino – não apresenta caráter teocêntrico. A sua finalidade era representar 
o homem na sociedade e o objetivo maior era criticar os seus costumes cuja missão era menos 
moralizante e mais reformadora. 
Nem as peças religiosas pretendem difundir a religião, mas sim mostrar o ser humano, daí o 
nome do movimento. Ele não era contra a Igreja igualmente, mas sim contra o que se fazia dentro 
dela. Algumas das classes sociais retratadas por Gil Vicente eram o clérigo corrupto, o papa, o reio, o 
devasso, o médico incompetente, o curandeiro, a mulher adúltera, a alcoviteira, o juiz desonesto, o 
camponês, o bobo etc. 
Tecnicamente, a sua obra não é muito rebuscada e segue as leis tradicionais do teatro greco-
latino: a lei das três unidades. Por isso, também é possível falar de ausência de tempo e espaço no 
teatro vicentino, pois eles muitas vezes se confundem. 
 
A LEI DAS TRÊS UNIDADES 
 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
 
 
 
Tempo: o tempo de duração deveria caber dentro do período de um sol 
ou pouco excedê-lo, segundo Aristóteles. Esse tempo era medido pela 
clepsidra, isto é, ampulheta. 
 
 
 
Cenário: o enredo deve se passar dentro dos limites de uma cidade. O 
cenário é basicamente descrito pela linguagem. 
 
 
 
Ação ou drama: a história deve apresentar um mesmo tipo de ação. 
Fonte das imagens: ícones feitos a partir de www.flaticon.com. 
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Gil Vicente também era contemporâneo de: 
 Lope de Vega (1562-1635): poeta e dramaturgo espanhol. Escreveu O cavaleiro de Olmedo, 
A dama boba etc. Em português, pela editora Peixoto Neto, temos Fuente Ovejuna. 
 Tirso de Molina (1579-1648): religioso, poeta e dramaturgo do Barroco espanhol. Escreveu 
comédias históricas, mitológicas, filosóficas entre outros. 
 Calderón de la Barca (1600-1601): dramaturgo e poeta espanhol. Obra-prima: A vida é 
sonho. 
 
Eis agora alguns quadros sinópticos de obras que podem ser importantes e cair na sua prova. 
 
O auto da barca do inferno (1517) 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA Teatro em versos. Não tem divisão em atos nem em cenas. É classificado como um 
auto de moralidade. 
PERSONAGENS Diabo, anjo, fidalgo, onzeneiro (espécie de agiota), parvo, sapateiro, frade, Brízida 
Vaz (alcoviteira), judeu, corregedor, procurador, cavaleiros. 
TEMPO Pode-se dizer que atemporal. Na barca do inferno, entram humanos de todas as 
épocas, desde os cruzados (séc. XIV) até os contemporâneosde Gil Vicente. 
ESPAÇO Metafísico: o inferno. Mítico: às margens do rio da morte, o rio Letes. 
CONFLITO O fidalgo é o primeiro que se aproxima dos barcos sem reconhecer o diabo. Ao se 
apresentar, o fidalgo se recusa a entrar. Cada um que entra carrega um símbolo 
daquilo que representa: o fidalgo, a cadeira; o agiota, a bolsa; o frade, armas; o 
sapateiro, ferramentas; Brísida, apetrechos; Judeu, bode; corregedor e procurador, 
livros e processos. Por ora, apresenta-se uma falsa esperança de poderem entrar na 
Barca do Céu, mas eles são reconduzidos. 
CLÍMAX O livro é uma grande crítica do apego à vida material e daquilo que não conseguimos 
nos desfazer nem mesmo depois da morte. 
DESFECHO O auto se encerra com 4 cavaleiros que morreram nas cruzadas, mas que bem 
poderiam representar os quatro cavaleiros do Apocalipse Bíblico. 
 
 
 
 
 
 
 
Na pintura, na escultura, enfim nas Artes Plásticas é a alegoria bastante 
empregada como o valor de símbolo. Uma figura de mulher, com uma 
balança numa das mãos e uma espada na outra, é uma alegoria de 
Têmis, ou seja, a Justiça. Em literatura a alegoria informa determinadas 
espécies genéricas como a fábula, o apólogo e a parábola, nas quais as 
coisas abstratas ou inanimadas personificam-se. 
Alegoria 
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(VUNESP – Universidade Estadual Paulista – 1o/2017 – 1ª fase – adaptada) 
Leia o Leia o excerto de Auto da Barca do Inferno do escritor português Gil Vicente (1465?-1536?). A 
peça prefigura o destino das almas que chegam a um braço de mar onde se encontram duas barcas 
(embarcações): uma destinada ao Paraíso, comandada pelo anjo, e outra destinada ao Inferno, 
comandada pelo diabo. 
 
Vem um Frade com uma Moça pela mão […]; e ele 
mesmo fazendo a baixa1 começou a dançar, dizendo 
 
Frade: Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; 
 Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; 
 Tã-tã-ta-ri-rim-rim-rã, huha! 
Diabo: Que é isso, padre? Quem vai lá? 
Frade: Deo gratias2! Sou cortesão. 
Diabo: Danças também o tordião3? 
Frade: Por que não? Vê como sei. 
Diabo: Pois entrai, eu tangerei4 
 e faremos um serão. 
 E essa dama, porventura? 
Frade: Por minha a tenho eu, 
 e sempre a tive de meu. 
Diabo: Fizeste bem, que é lindura! 
 Não vos punham lá censura 
 no vosso convento santo? 
Frade: E eles fazem outro tanto! 
Diabo: Que preciosa clausura5! 
 Entrai, padre reverendo! 
Frade: Para onde levais gente? 
Diabo: Para aquele fogo ardente 
 que não temestes vivendo. 
Frade: Juro a Deus que não te entendo! 
 E este hábito6 não me val7? 
Diabo: Gentil padre mundanal8, 
 a Belzebu vos encomendo! 
Frade: Corpo de Deus consagrado! 
 Pela fé de Jesus Cristo, 
 que eu não posso entender isto! 
 Eu hei de ser condenado? 
 Um padre tão namorado 
 e tanto dado à virtude? 
 Assim Deus me dê saúde, 
 que eu estou maravilhado! 
Diabo: Não façamos mais detença9 
 embarcai e partiremos; 
 tomareis um par de remos. 
Frade: Não ficou isso na avença10. 
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Diabo: Pois dada está já a sentença! 
Frade: Por Deus! Essa seria ela? 
 Não vai em tal caravela 
 minha senhora Florença? 
 Como? Por ser namorado 
 e folgar c’uma mulher? 
 Se há um frade de perder, 
 com tanto salmo rezado?! 
Diabo: Ora estás bem arranjado! 
Frade: Mas estás tu bem servido. 
Diabo: Devoto padre e marido, 
 haveis de ser cá pingado11… 
(Auto da Barca do Inferno, 2007) 
 
1 baixa: dança popular no século XVI. 
2 Deo gratias: graças a Deus. 
3 tordião: outra dança popular no século XVI. 
4 tanger: fazer soar um instrumento. 
5 clausura: convento. 
6 hábito: traje religioso. 
7 val: vale. 
8 mundanal: mundano. 
9 detença: demora. 
10 avença: acordo. 
11 ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo (segundo o imaginário popular, processo de tortura 
que ocorreria no inferno). 
 
1) Leia o texto acima e julgue o item subsequente. 
No excerto, o escritor satiriza, sobretudo, o relaxamento dos costumes do clero. 
Comentários 
 Questão de interpretação de texto literário. 
 O excerto remete, sobretudo, ao comportamento do frade, que é retratado como alguém 
dado às coisas mundanas, como divertimentos populares e o envolvimento com mulheres. Tudo isso 
é sinal do relaxamento dos costumes do clero, que na crítica do autor levaria os membros da Igreja 
ao inferno. 
Gabarito: C. 
 O grau de dificuldade dessa questão é: fácil. 
 
2) Leia o texto acima e julgue o item subsequente. 
No excerto, o traço mais característico do diabo é a ironia, visível no seguinte trecho: “Que preciosa 
clausura!”. 
Comentários 
 Questão de interpretação de texto literário/Gramática aplicada à Literatura. 
Ironia é uma figura de linguagem e também um efeito de texto por meio do qual se diz o 
contrário do que se quer dar a entender. No caso, “clausura” significa situação de quem não pode 
sair do claustro; internamento, encerramento (dicionário Houaiss), o que não é o caso do frade, que 
vive em certa libertinagem. A pontuação de exclamação ressalta a “surpresa”, a suposta surpresa do 
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diabo em relação aos atos do padre, que na realidade eram previsíveis para ele. É muito importante 
reconhecer ironia nesses textos medievais. Ela foi uma forte fonte de expressão da época. 
Gabarito: C. 
 O grau de dificuldade dessa questão é: médio. 
 
3) Leia o texto acima e julgue o item subsequente. 
Com a fala “E eles fazem outro tanto!”, o frade sugere que seus companheiros de convento estavam 
preocupados com a própria salvação. 
Comentários 
 Questão de interpretação de texto literário. 
Pelo contrário, agiam e se comportavam como se não houvesse amanhã. O interessante do 
teatro vicentino é que ele não é moralizante. 
Gabarito: E. 
 O grau de dificuldade dessa questão é: fácil. 
 
Farsa da Inês Pereira (1523) 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA Teatro em versos. Não é dividida nem em ato nem em cenas. É classificada como 
uma farsa de folgar. 
PERSONAGENS Inês Pereira, Pero Marques (rico proprietário que a pedira em casamento), nobre 
decadente, mãe, Lianor, Latão, Vidal, escudeiro, moço, judeus, Fernando, ermitão. 
TEMPO É dedicada a rei D. João, o terceiro do nome em Portugal, que reinou no período de 
1502-1557. Atenção: muitos dos escritores da época queriam cair “em boas graças” 
dos reis. Por isso, era bastante comum honrá-los, elogiá-los ou dedicar obras a eles, 
pois assim a chance de terem seu status aumentado era maior. 
ESPAÇO Na casa da mãe; no rio; na fazenda. Cenário semidefinido. 
CONFLITO Inês sonha em se casar com um homem educado, que soubesse cantar e agradar as 
mulheres, ainda que não tivesse dinheiro. Tanto é que se casa com um nobre 
decadente, em detrimento de Pero Marques, um rico proprietário de terra. 
CLÍMAX O marido de Inês a prende em casa e viaja para combater os mouros com a 
finalidade de enriquecer. 
DESFECHO O marido de Inês acaba morrendo na guerra, e ela termina por aceitar o pedido de 
Pero Marques, com quem casa e de quem acaba tirando proveito financeiramente. 
 
FARSA. Sutil, se não difícil de precisar, a distinção entre a 
farsa e a comédia. De modo genérico, pode-se afirmar que 
a diferença é de grau: a farsa consistira no exagero do 
cômico, graças ao emprego de processos grosseiros, como

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