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Aula 02 - Movimentos Literários - Parte II_P_85 (1)

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Aula 02
Senado Federal (Técnico - Policial
Legislativo) Literatura Nacional -
Cebraspe 2022
Autor:
Luana Signorelli
19 de Novembro de 2021
03164915195 - Willy Clayton Alves dos Santos
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Sumário 
Introdução ............................................................................................................................................... 3 
1 – Barroco ............................................................................................................................................. 3 
1.1 – Características Gerais do Barroco ........................................................................................ 4 
1.2 – Contexto Histórico Geral ....................................................................................................... 9 
2 – Barroco em Portugal ...................................................................................................................... 12 
2.1 – Autores e Obras Barrocos Portugueses .............................................................................. 13 
3 – Barroco no Brasil ............................................................................................................................ 19 
3.1 – Autores e Obras Barrocos Brasileiros .................................................................................. 20 
4 – A Arte Barroca ............................................................................................................................... 25 
4.1 – Rococó ................................................................................................................................. 26 
4.2 – A Arte Barroca no Brasil ...................................................................................................... 27 
4.3 – Interpretação de Obra de Arte Barroca .............................................................................. 28 
 5 – Arcadismo ...................................................................................................................................... 30 
5.1 – Apresentação ....................................................................................................................... 31 
5.2 – Contexto Histórico Geral: O Iluminismo ............................................................................. 32 
5.3 – A Racionalidade na Literatura ............................................................................................. 33 
5.4 – Características Gerais do Arcadismo ................................................................................... 34 
6 – Arcadismo em Portugal .................................................................................................................. 37 
6.1 – Autores e Obras do Arcadismo Português .......................................................................... 38 
7 – Arcadismo no Brasil ........................................................................................................................ 42 
7.1 – Autores e Obras do Arcadismo Brasileiro ........................................................................... 43 
8 – A Arte Neoclássica ......................................................................................................................... 46 
8.1 – Neoclassicismo em Portugal................................................................................................ 48 
Luana Signorelli
Aula 02
Senado Federal (Técnico - Policial Legislativo) Literatura Nacional - Cebraspe 2022
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8.2 – Interpretação de Obra de Arte Neoclássica ........................................................................ 48 
9 – Quadro Sinóptico ........................................................................................................................... 49 
10 – Interpretação de Texto ................................................................................................................ 53 
10.1 – Interpretação da Prosa Barroca Portuguesa ..................................................................... 53 
10.2 – Interpretação da Poesia Barroca Brasileira ....................................................................... 54 
10.3 – Interpretação da Poesia Árcada Brasileira ........................................................................ 56 
11 – Gramática Aplicada à Literatura ................................................................................................ 58 
12 – Crítica Literária ............................................................................................................................ 59 
13 – Lista de Questões ......................................................................................................................... 61 
14 – Gabarito ...................................................................................................................................... 68 
15 – Questões Comentadas ................................................................................................................. 68 
16 – Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 80 
17 – Considerações FInais .................................................................................................................... 81 
 
 
Professora Luana Signorelli 
 Instagram: @luana.signorelli 
 Telegram: Luana Signorelli 
 Facebook: /luana.signorelli 
 YouTube: Professora Luana Signorelli 
 TikTok: @luanasignorelli1 
 
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INTRODUÇÃO 
Olá, prezados concurseiros. 
Hoje nós vamos dar continuidade ao nosso Curso de Literatura para Técnico 
Legislativo/Policial Legislativo – Senado Federal 2022 em teoria e questões. Lembrem-se sempre do 
nosso lema: 
 
O segredo do sucesso é a constância no objetivo. 
 
Segundo o nosso cronograma de aulas, hoje estudaremos o seguinte: 
 
AULA TÓPICOS ABORDADOS 
Aula 02 Barroco e Arcadismo 
Barroco. Contexto em Portugal e no Brasil: Gregório de Matos (tipos de 
poesia, incluindo a poesia satírica e a poesia lírico-amorosa); Padre Antônio 
Vieira (sermões e cartas). Arcadismo. Contexto em Portugal. Bocage. 
Contexto no Brasil: Cláudio Manuel da Costa; Tomás Antônio Gonzaga; 
Basílio da Gama e Santa Rita Durão. 
 
A metodologia dessa aula irá se pautar na contextualização do período histórico, tanto 
brasileiro quanto português, e em características gerais dos movimentos. Além disso, iremos estudar 
os movimentos artísticos no geral do período. Hoje em particular vocês ainda encontrarão um quadro 
sinóptico, para sedimentar os conhecimentos estudados. 
Ao fim da aula, temos nossas seções complementares: Interpretação de Texto, Gramática 
aplicada à Literatura e Crítica Literária. Além das questões, tão importantes para o seu estudo. 
Então, vamos lá! Não percamos tempo! 
 
1 – BARROCO 
Considera-se Barroco o movimento artístico que se 
segue ao Classicismo ou à arte Renascentista. Ninguém formou 
um Movimento Literário chamado “Barroco” de caso pensado. 
Os artistas, entusiasmados com a qualidade alcançada nas 
gerações anteriores, procuraram imitar os mestres pesando a 
mão nas técnicas. 
Posteriormente, críticos e autores perceberam que os 
artistas dos séculos XVII e XVIII eram exagerados e lhes dedicaram esse nome que até hoje não se 
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Ao lado, umhipogrifo, um ser medieval 
híbrido, junção de leão com águia. Entre as 
características do pessimismo e do feísmo, 
encontra-se também o hibridismo. 
sabe o que significa. Acredita-se que o termo “Barroco” se aplique a uma pérola de forma irregular, 
ou seja, a arte desse período, caracterizada pelo exagerado, seria algo meio deformado. 
1.1 – Características Gerais do Barroco 
Alguns temas são recorrentes nesse movimento literário. Elas podem ser conferidas abaixo. 
 
 
 
 
 
 
• Trata-se do tema mais marcante da poesia barroca; há vários poemas em que o
eu lírico se dirige a Jesus numa espécie de oração.
• Principais dualidades: pecado x perdão; espiritualidade x materialidade
(sensualidade).
RELIGIOSIDADE
• Uma certa obsessão pelo comportamento ético-cristão torna-se evidente nesse
movimento literário.
• A poesia satírica, fescenina (de baixo calão) e encomiástica (laudatória), tem
como objetivo exaltar ou criticar as pessoas pelos seus vícios ou virtudes, tendo
como parâmetro a moral católica.
MORALISMO CRÍTICO
• A noção de efemeridade da vida leva a uma proximidade com a ideia de morte.
• Olhar mais pessimista sobre o mundo, visto como um lugar de sofrimento, em
comparação com a vida celestial, que seria repleta de felicidade.
• Por isso também muitas obras barrocas exploram o lado mais doloroso e cruel
da vida humana. Há atração por cenas trágicas e aspectos grotescos do
cotidiano.
PESSIMISMO E FEÍSMO
• O homem barroco é fruto de uma religiosidade medieval e uma racionalidade
renascentista. Sua angústia vem dessa sua visão entre o teocentrismo e o
antropocentrismo.
• Principais dualidades: fé x razão; vida x morte; corpo x alma; erotismo x
espiritualidade; luz x sombra.
DUALIDADE SAGRADO X PROFANO
• Como consequência em que os artistas se encontram, suas obras tentam
aproximar mundos opostos e extremos, conciliando-os ao mesmo tempo que
expõe os contrastes.
• Imagens como a aurora e o crepúsculo podem aparecer como expressão dos
contrastes.
CONTRASTE
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Quanto à forma no Barroco, ou seja, o modo com que as obras são escritas, há duas correntes 
que se destacam: o cultismo e o conceptismo. 
 
CULTISMO CONCEPTISMO 
• Predominante na poesia. 
• Envolve o leitor por meio dos sentidos. 
• Tendência caracterizada pela elaboração da 
linguagem, muito rebuscada e trabalhada. 
• Uso da norma culta da língua de maneira 
poética. 
• Jogos de palavras (exemplo: trocadilhos) 
• Jogos de imagem (exemplo: figuras de 
linguagem) 
• Jogos de construção (exemplo: inversão da 
ordem) 
 
Exemplo 
O todo sem a parte não é todo; 
A parte sem o todo não é parte; 
Mas se a parte o faz todo, sendo parte, 
Não se diga que é parte, sendo o todo. 
 
 Nesse caso, o eu lírico fica dizendo a 
mesma coisa e brinca com as palavras. 
• Predominante na prosa. 
• Envolve o leitor por meio da argumentação, da 
construção de raciocínio lógico. 
• Apelo à retórica, ou seja, à eloquência. 
• Há organização sintática rigorosa dos textos, 
visando ser didático, educativo. 
• Jogos de ideias (exemplo: paradoxos) 
• Jogos de conceitos (exemplo: analogias) 
 
Exemplo 
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, 
Da vossa alta clemência me despido; 
Porque quanto mais tenho delinquido, 
Vos tenho a perdoar mais empenhado. 
 
 Agora sim, o eu lírico de fato diz alguma coisa, 
ele pretende provar algo. 
 
 
 
 
Portanto, independentemente da corrente a que se filiam, os autores barrocos fazem grande 
uso de figuras de linguagem, principalmente antítese, comparação, hipérbole, hipérbato, metáfora, 
paradoxo e prosopopeia. Vamos lembrar o significado de cada uma delas? 
 
Antítese 
Ocorre quando há a presença de termos de sentidos opostos numa mesma oração. 
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Exemplo: faça chuva ou faça sol, sairemos hoje. 
 
 Há aqui duas palavras opostas: “chuva” e “sol”. Elas são conjugadas 
na oração e posicionadas próximas. Nesta construção, as palavras não 
formam uma única expressão, apenas estão lado a lado na oração. 
Outros exemplos: 
 Não sei dizer o que é verdade e o que é mentira. 
 “E onde queres bandido, sou herói” (Caetano Veloso) 
 “Depois da Luz se segue a noite escura” (Gregório de Matos) 
 
Comparação 
Quando se estabelece confronto entre dois termos a partir do que eles têm de semelhante. 
Exemplo: seus olhos são como o céu. 
 
 Os olhos e o céu têm uma relação de semelhança: a 
cor. Em vez de escrever “os olhos são azuis”, parte-se desse 
ponto comum entre eles (a cor) para garantir maior 
expressividade. 
Outros exemplos: 
 Ele é teimoso que nem uma mula. 
 “Meu coração tombou na vida / tal qual uma estrela ferida” (Cecília Meireles) 
 “Oh nunca foram tantos 
 nem tão fortes meus males 
 como as ondas.” (Gregório de Matos) 
 
 ATENÇÃO: essa figura de linguagem vem sempre acompanhada de um conectivo: como, assim 
como, tal qual, que nem. 
 
Hipérbole 
Ocorre quando há o uso de uma expressão exagerada, claramente simbólica. 
Exemplo: eu estava morta de cansaço. 
 
Evidentemente, não se pode estar verdadeiramente 
“morta”, senão não a pessoa não poderia falar sobre seu estado. 
“morta de cansaço” é uma expressão idiomática, que torna mais 
evidente a profundidade daquilo que se diz. É equivalente a 
dizer “Eu estava muito cansada”. 
Outros exemplos: 
 Tentei resolver esse exercício um milhão de vezes. 
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 “Chega mais perto e contempla as palavras. / Cada uma / tem mil faces secretas sob a face neutra” 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
 “E eu também me resisto, 
 há mais de mil auroras 
 aos vaivéns da fortuna” (Gregório de Matos) 
 
Hipérbato (inversão) 
Ocorre quando há inversão da ordem normal das palavras em uma oração ou da ordem das 
orações em um período. 
Exemplo: está pronto o almoço. 
 
Na ordem normal, essa frase seria “O almoço está pronto”. Aqui, há uma 
inversão dos termos, sem, no entanto, prejudicar o entendimento do significado. 
Outros exemplos: 
 “Terminou o Carnaval” 
 “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante” (Hino 
Nacional) 
 “Se formosa a Luz é, por que não dura?” (Gregório de Matos) → Na ordem direta, esse período 
seria “Se a Luz é formosa, porque não dura? 
 
Metáfora 
É uma comparação subentendida: emprega-se um termo com significado de outro a partir da 
semelhança entre ambos. 
Exemplo.: a notícia foi um balde de água fria. 
 
 
“Água fria” é algo que assusta, que pode apagar o fogo, 
que pode acordar alguém dormindo, entre outras 
possibilidades. Aqui, a expressão é empregada simbolicamente 
para significar algo que causou desânimo: a notícia desanimou 
as pessoas, “apagou o fogo”. 
 
 
Outros exemplos: 
 A história era apenas a ponta do iceberg. 
 “Amor é fogo que arde sem se ver” (Luís de Camões) 
 “Se és fogo (...) se és neve” (Gregório de Matos) 
 
 
 
 
Comparação:
Sua boca é como um túmulo. 
Metáfora:
Sua boca é um túmulo. 
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Paradoxo 
Ocorre quando são apresentadas ideias de sentidos opostos formando um todo de sentido, 
ou seja, é uma expressão formada por palavras cujos significados são aparentemente excludentes. 
Exemplo: o silêncio é eloquente. 
 
 “silêncio”significa a ausência de sons e “eloquente” significa 
capacidade de expressar-se bem. 
 
Apesar de aparentemente se negarem, a construção com essas duas palavras tem um 
objetivo: afirmar que, por vezes, não dizer nada também é uma resposta. Por isso, há aqui uma 
expressão paradoxal e que forma um todo de sentido. 
 
Outros exemplos: 
 “Estou cego e vejo./Arranco os olhos e vejo.” (Carlos Drummond de Andrade) 
 “Só sei que nada sei” (Sócrates) 
 “E na alegria sinta-se tristeza” (Gregório de Matos) 
 
 ATENÇÃO: apesar de semelhantes antítese e paradoxo possuem significados diferentes! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Personificação (prosopopeia) 
Ocorre quando se atribuem características humanas a seres inanimados ou irracionais. 
Exemplo: o dia acordou triste. 
 
Antítese:
Termos opostos na mesma 
oração. 
Paradoxo:
Ideias opostas formando 
expressão aparentemente 
absurda. 
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 “acordar” e “sentir tristeza” são ações humanas. O dia, como 
fragmento temporal, não pode sentir nada nem agir de maneira alguma. Neste 
caso, há a atribuição de um sentimento humano a algo inanimado. 
 
Outros exemplos: 
 O céu chorava de alegria. 
 “Em vão me tento explicar, os muros são surdos.” (Carlos Drummond de Andrade) 
 “E quando o mar vomita, o mundo arrasa.” (Gregório de Matos); ou como na figura ao lado em 
que o mar engole a faixa de terra sem respeitar a placa. 
 
 ATENÇÃO: muitas vezes, a personificação é a projeção do sentimento de quem fala. No exemplo 
“O dia acordou triste”, por exemplo, possivelmente o falante acordou triste naquele dia e projetou 
no recorte temporal seu próprio sentimento. É como se estivesse dizendo “Acordei triste neste dia”. 
 
1.2 – Contexto Histórico Geral 
 
Perceberam qual é o contexto, não é mesmo? A Reforma e a Contrarreforma. Em 1527, 
Lutero se revolta contra a Igreja e dá início a um movimento protestante que abala o século XVII com 
consequências não previstas pelos atores históricos envolvidos. A Igreja Católica reage (daí no nome 
Contrarreforma). Haverá um banho de sangue vergonhoso em toda a Europa. Se até então os cristãos 
podiam se orgulhar de terem submetidos os pagãos e gentios, agora eram cristãos que matavam 
cristãos, algo que envergonharia o próprio evangelho. 
 O Barroco será a arte que representará esse momento sombrio. No caso de Portugal e, 
portanto, do Brasil, pode-se dizer que o Barroco é a arte da luta contra o herege protestante. Trata-
se, portanto, de uma manifestação artística perpassada pelo poder. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1517 1534 1534- 1546 
 
 
 
 
 
 
 
Descontentamento com os 
abusos da Igreja 
Renascimento: possibilidade 
de duvidar 
Lutero prega as 95 
teses na porta da 
Igreja de 
Winttenberg, 
Reforma alemã 
 
Calvino dá Início à 
Reforma na 
França 
A Inglaterra rompe 
com o Vaticano; 
Henrique VIII cria a 
Igreja Anglicana 
Concílio de Trento: 
Contenção dos 
Abusos 
Reafirmação dos 
dogmas 
 
Reativado o Tribunal do 
Santo Ofício 
Livros proibidos (Index) 
Cisão da Cristandade 
Guerras e 
perseguições 
religiosas 
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Fonte das imagens: Pixabay. 
 Quem estava perdendo poder? A Igreja estava sendo ameaçada pelos protestantes e os 
nobres que já percebiam a burguesia em ascensão. O papa estava perdendo seus fiéis e os nobres 
católicos poderiam perder o poder político até então bem alicerçado pela teoria política católica e 
escolástica. 
 Como eles reagiram? 
 
 
 
TRAÇOS NA LITERATURA 
 
MEDO/TEMAS OSTENTAÇÃO/ORNAMENTOS 
• Pecado versus Perdão 
• Morte 
• Vaidade (vanitas); carpe diem 
• Crítica moral 
• Hipérbole 
• Metáfora 
• Antítese 
• Cultismo/conceptismo 
 
LATINISMOS BARROCOS 
 Memento mori. O termo significa “lembra-te da morte” e se refere à morte como algo natural e 
certo, que não deve ser temido, mas sim para o qual nos preparamos. Exemplo: “ser ou não ser? Eis 
a questão.” (Shakespeare – Hamlet). 
 
Controle através do medo: 
Vigilância do 
comportamento.
Acusação Moral.
Reafirmação dos pecados.
Sensibilização através de uma 
arte de “massa”; espetáculo. 
Controle aravés da 
ostentação: 
Ênfase nos objetos que 
realçavam o status.
Cultura como capital de 
diferenciaçãoo
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 Chiaroscuro. É uma expressão em italiano, na verdade. Significa luz e sombra ou, mais 
literalmente, claro-escuro. A problematização da luz leva os artistas do Barroco a considerar as 
implicações psicológicas. 
 
 Vanitas. A palavra latina significa vacuidade, futilidade. Pode ser compreendida como uma alusão 
à efemeridade da vida, da futilidade de agradar, e da certeza da morte. 
 
 Locus horrendus. É o oposto de locus amoenus. Significa lugar horrível. Construção de um cenário 
horrível para expressar sentimentos mais angustiantes. 
Para completar essa explicação, basta acrescentar dois tópicos: a dualidade entre 
teocentrismo e antropocentrismo e o aspecto sensualista dessa estética. 
A questão religiosa passa a ocupar o primeiro plano na cultura europeia, mas não da mesma 
forma como ocorria na Idade Média. Tratava-se de uma questão política, de manutenção de poder. 
Mais do que conquistar corações e mentes, a Igreja precisava reafirmar seu poder mundano. Como 
fazer isso depois das Grandes Navegações e do próprio Renascimento? 
Culturalmente, a ideia de antropocentrismo tinha se espalhado pelo continente. A própria 
Igreja foi condescendente com o movimento cultural, manifestando uma posição ambígua diante do 
Renascimento. Quando ocorre a Reforma, o Vaticano entende que tinha ido longe demais na sua 
tolerância. Mas qual seria o empecilho para o retorno para uma cultura teocêntrica? 
O antropocentrismo econômico. Durante mais de um século, os europeus expandiram seus 
domínios: compraram, venderam, escravizaram, criaram colônias artificiais etc. Tal empreendimento 
fundava-se num empreendedorismo típico do “homem que faz”, daquele que acredita na força de 
sua própria ação e previsão. Ou seja, não havia mais volta para aquela situação anterior ao 
Renascimento. 
A Igreja vai agir a partir do externo, da aparência. A força da Inquisição e do poder político do 
Papa deixa marcas profundas. A heresia será condenada pela Inquisição; o orgulho, a arrogância, a 
falta de hierarquia serão condenados nos púlpitos da Igreja. Surge daí essa oposição tão exaltada 
segundo uma tradição literária: 
 
 
A Igreja Católica se deparava com o seguinte dilema: como atingir o maior número de fiéis? 
Diante de uma massa de iletrados, a melhor forma de disseminar as ideias da Contrarreforma é 
tornando-as compreensíveis, apelando às sensações. A ideia é de que, através da materialidade das 
coisas, o fiel poderia entender o que é invisível aos olhos. 
Antropocentrismo versus Teocentrismo
Antítese e Paradoxo (figuras que expressam conflito 
entre posições contrárias) 
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Para se ter uma ideia do que isso significava, podemos considerar a obra de San Juan de La 
Cruz (1542-1591), frade místico espanhol que escreveu uma poesia, na qual se valia de 
representações do encontro sexual para indicar o encontro da alma (feminina) com Cristo 
(masculino). Observe o poema abaixo. 
 
 
 
 
 
Na dureza do peito atormentada, 
Nasede dos alívios consumida, 
No sono da preguiça amodorrada, 
No desmaio à razão amortecida, 
Nos temores da morte trespassada, 
No soluço do pranto esmorecida, 
Já morro, já feneço, já termino. 
Vão-me chamar o Médico Divino. Referência espiritual 
 (Sóror Maria do Céu) 
 
 
Sóror é uma forma de tratamento usada para 
freiras professas; soror, irmã, madre. Na Idade 
Média, as mulheres também escreviam. 
 
Percebam que a poetisa se vale de sensações físicas, “sede”, “sono”, “desmaio” para 
configurar uma doença, mas no fundo, isso é uma metáfora da doença espiritual, o que a leva a 
solicitar a intervenção de Deus. 
 
2 – BARROCO EM PORTUGAL 
O Barroco começa em Portugal em 1580 e vai até 1756. 
 
Difícil falar em um Barroco português e outro brasileiro. No final do século XVI, o Brasil era 
apenas uma colônia de exploração com uma formação cultural ainda incipiente. Padre Antonio Vieira, 
português, viveu muito tempo no Brasil. Gregório de Matos, nascido no Brasil, viveu muito tempo 
em Portugal. Apesar disso, para melhor compreensão, consideraremos a separação sobretudo em 
Sensualismo 
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virtude da obra de Gregório de Matos, que só pode ser bem compreendida no contexto do Brasil 
colônia. 
Abaixo, segue uma apresentação visual da época compreendida como barroca. Alguns 
eventos são de grande importância para a Literatura. 
 
 
 
 
 
Não se pode entender o espírito do catolicismo ibérico ou mesmo brasileiro sem destacar a 
importância da Cia de Jesus. Santo Inácio de Loyola, fundador da companhia, cria uma espécie de 
exército espiritual de combate ao protestantismo, e, logo, essa ordem se espalha atuando junto com 
os colonizadores nas regiões colonizadas. 
 Nesse período, começa o ciclo do açúcar, que tornará Salvador a cidade mais importante da 
colônia. Ao mesmo tempo, Portugal perderá parcialmente sua autonomia, pois o trono português 
passa para o rei de Espanha. 
A restauração da monarquia portuguesa, a ascensão de Pombal e o ouro do Brasil marcam a 
decadência do barroco literário. 
Segundo Massaud Moisés, crítico literário, o Barroco português não manifesta o brilho do 
movimento anterior. Observa-se um ou outro escritor de destaque, mas que não se filiam a nenhum 
movimento em comum. “Falta à época uma ‘atmosfera’ comum, tão dispersos estão os intelectuais, 
guiados por clichês, ou padrões estéticos de alambicamento e de forçado sentido literário”. 
Outro fator parece determinar a qualidade literária dos textos, seu caráter utilitário. Os textos 
incluem prosa moralista ou mística, sermões, poemas religiosos ou satíricos etc. Essa variedade de 
gêneros é atravessada pelo viés filosófico doutrinário que impregnava culturalmente os países sob a 
Contrarreforma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1534 1580 1640 1697 1750 
 Morte de D. 
Sebastião. União das 
Coroas: Portugal e 
Espanha 
Criação da 
Cia de Jesus 
Holandeses 
tomam Recife e 
Olinda 
Restauração da 
Monarquia 
Portuguesa 
Portugal se 
torna submisso 
à Espanha 
 
1630 
Início do ciclo 
do açúcar 
Começa a 
exploração de 
ouro em Minas 
Marques de Pombal 
torna-se ministro 
reformador 
Barroco 
1756 
Arcadismo 
1550 
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2.1 – Autores e Obras Barrocos Portugueses 
Para se ter uma ideia do caráter doutrinário da literatura barroca portuguesa, tomemos dois 
autores do período: D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666) e sóror Mariana do Alcoforado (1640-
1723). As obras, escritas em prosa, deixam transparecer uma literatura de circunstância. 
 
 
 
 
Pode-se observar que a produção deles, embora manifestem qualidades literárias, atendiam 
a circunstâncias específicas e não tinham como finalidade a produção de um texto literário por si. 
Até mesmo o grande escritor desse momento, reconhecido até por Fernando Pessoa como um 
escritor mestre, Padre Antonio Vieira, não escapa desse viés. A obra do padre tinha finalidade 
moralista. 
 
Padre Antonio Vieira 
Padre Antonio Vieira (1608-1697) foi o maior 
expoente do Barroco na prosa. Nasceu em Lisboa, veio para 
o Brasil com apenas 7 anos. Enfrentou várias polêmicas. 
Quando houve a invasão holandesa, primeiro destacou o 
custo da reação contra a Holanda, depois incentivou a reação 
contra os protestantes. Caiu em desgraça ao defender os 
judeus perante dominicanos e jesuítas. Em 1641, vai para 
Portugal, iniciando carreira diplomática e consegue apoio do 
Rei João IV. Defendeu os cristãos novos e entrou em conflito 
com o Santo Ofício. 
 Entre 1653 e 1661, esteve no Brasil, comandando 
missões no Maranhão e Pará, onde defendeu a liberdade dos 
índios. Isso lhe valeu a oposição dos senhores de escravos da 
região e teve que voltar a Portugal. Em 1662. Ascendeu ao poder D. Afonso VI que não era afeito ao 
padre; assim, Vieira perdeu o apoio contra seus inimigos. Entrou em choque com a Inquisição 
portuguesa por defender o sebastianismo (crença na volta do rei D. Sebastião que morreu em 
batalha em 1580). Foi condenado e teve que permanecer recluso em um colégio jesuíta. 
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 Em 1668, recebeu o perdão das penas e um ano depois partiu para Roma. Deslumbrou a Cúria 
com seus sermões. Criticou a Inquisição portuguesa diante do papa e conseguiu a façanha de parar 
o Santo Ofício em Portugal por sete anos e de conseguir sua absolvição diante do Santo Tribunal. 
 Em 1675, voltou para Portugal e, em 1681, parte definitivamente para o Brasil, onde morre, 
não sem antes organizar sua obra. Vieira deixou por escrito cerca de 200 sermões e 700 cartas. 
 
 
 Sermão da Sexagésima (1655). Padre Antonio Vieira esclarece como deve ser a arte de pregar. 
Condena aqueles que pregam só para provocar espanto no público, mas não produzem qualquer 
efeito purificador no ouvinte. Critica o estilo cultista dos pregadores. Contudo, a crítica reconhece 
que Vieira utiliza de recursos similares. 
 
 Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (1640). Nesse sermão, 
Vieira incentiva seus ouvintes a reagir contra a Holanda, contra os protestantes. 
 
 Sermão de Santo Antônio aos peixes (1654). O orador faz uma alegoria entre a comunidade de 
peixes e a comunidade dos homens, destacando que os peixes comem uns aos outros. Criticava os 
colonos que escravizam os índios. 
 
(MSCONCURSOS – IFAC – Docente em Língua Portuguesa/Literatura – Superior – 2014) 
SERMÃO DO BOM LADRÃO 
(...) 
E para que um discurso tão importante e tão grave vá assentado sobre fundamentos sólidos 
e irrefragáveis, suponho primeiramente que sem restituição do alheio não pode haver salvação. 
Assim o resolvem com Santo Tomás todos os teólogos, e assim está definido no capítulo Si res aliena, 
com palavras tiradas de Santo Agostinho, que são estas: Si res aliena propter quam peccatum est, 
reddi potest, et non redditur, poenitentia non agitur sed simulatur. Si autem veraciter agitur non 
remittitur peccatum, nisi restituatur ablatum, si, ut dixi, restitui potest. Quer dizer: Se o alheio, que 
se tomou ou retém, se pode restituir, e não se restitui, a penitência deste e dos outros pecados não 
é verdadeira penitência, senão simulada e fingida, porque se não perdoa o pecado sem se restituir o 
roubado, quando quem o roubou tem possibilidade de o restituir. — Esta única exceção da regra foi 
a felicidade do Bom Ladrão, e esta a razão por que ele se salvou, e também o mau se pudera salvar 
sem restituírem. Como ambos saíramdo naufrágio desta vida despidos e pegados a um pau, só esta 
sua extrema pobreza os podia absolver dos latrocínios que tinham cometido, porque, 
impossibilitados à restituição, ficavam desobrigados dela. Porém, se o Bom Ladrão tivera bens com 
que restituir, ou em todo, ou em parte o que roubou, toda a sua fé e toda a sua penitência, tão 
celebrada dos santos, não bastara a o salvar, se não restituísse. Duas coisas lhe faltavam a este 
venturoso homem para se salvar: uma como ladrão que tinha sido, outra como cristão que começava 
a ser. Como ladrão que tinha sido, faltava-lhe com que restituir; como cristão que começava a ser, 
faltava-lhe o Batismo; mas assim como o sangue que derramou na cruz lhe supriu o Batismo, assim 
a sua desnudez e a sua impossibilidade lhe supriu a restituição, e por isso se salvou. Vejam agora, de 
caminho, os que roubaram na vida, e nem na vida, nem na morte restituíram, antes na morte 
Sermões mais importantes
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testaram de muitos bens e deixaram grossas heranças a seus sucessores, vejam onde irão ou terão 
ido suas almas, e se se podiam salvar. 
(...) 
Mas estou vendo que com este mesmo exemplo de Deus se desculpam ou podem desculpar 
os reis, porque, se a Deus lhe sucedeu tão mal com Adão, conhecendo muito bem Deus o que ele 
havia de ser, que muito é que suceda o mesmo aos reis, com os homens que elegem para os ofícios, 
se eles não sabem nem podem saber o que depois farão? A desculpa é aparente, mas tão falsa como 
mal fundada, porque Deus não faz eleição dos homens pelo que sabe que hão de ser, senão pelo que 
de presente são. Bem sabia Cristo que Judas havia de ser ladrão; mas quando o elegeu para o ofício 
em que o foi, não só não era ladrão, mas muito digno de se lhe fiar o cuidado de guardar e distribuir 
as esmolas dos pobres. Elejam assim os reis as pessoas, e provejam assim os ofícios, e Deus os 
desobrigará nesta parte da restituição. Porém as eleições e provimentos que se usam não se fazem 
assim. Querem saber os reis se os que proveem nos ofícios são ladrões ou não? Observem a regra de 
Cristo: Qui non intral per ostium, jur est et latro. (O que não entra pela porta, esse é ladrão e 
roubador.” – Jo. 10,1). A porta por onde legitimamente se entra ao ofício, é só o merecimento. E 
todo o que não entra pela porta, não só diz Cristo que é ladrão, senão ladrão e ladrão: Fur est latro. 
E por que é duas vezes ladrão? Uma vez porque furta o ofício, e outra vez porque há de furtar com 
ele. O que entra pela porta poderá vir a ser ladrão, mas os que não entram por ela já o são. Uns 
entram pelo parentesco, outros pela amizade, outros pela valia, outros pelo suborno, e todos pela 
negociação. E quem negocia não há mister outra prova: já se sabe que não vai a perder. Agora será 
ladrão oculto, mas depois ladrão descoberto, que essa é, como diz S. Jerônimo, a diferença de fur a 
latro. 
(...) 
Encomendou el-rei D. João, o Terceiro, a S. Francisco Xavier o informasse do estado da Índia, 
por via de seu companheiro, que era mestre do Príncipe; e o que o santo escreveu de lá, sem nomear 
ofícios nem pessoas, foi que o verbo rapio (furtar) na Índia se conjugava por todos os modos. A frase 
parece jocosa em negócio tão sério, mas falou o servo de Deus como fala Deus, que em uma palavra 
diz tudo. Nicolau de Lira, sobre aquelas palavras de Daniel: Nabucodonosor rex misit ad congregandos 
satrapas, magistratus et judices (“Despachou o rei Nabucodonosor correios para que se ajustem os 
sátrapas, os magistrados e os juízes.” – Dan. 3,2), declarando a etimologia de sátrapas, que eram os 
governadores das províncias, diz que este nome foi composto de sat e de rapio: Dicuntur satrapae 
quasi satis rapientes, quia solent bona inferiorum rapere: Chamam-se sátrapas, porque costumam 
roubar assaz. E este assaz é o que especificou melhor S. Francisco Xavier, dizendo que conjugam o 
verbo rapio por todos os modos. O que eu posso acrescentar, pela experiência que tenho, é que não 
só do Cabo da Boa Esperança para lá, mas também das partes daquém, se usa igualmente a mesma 
conjugação. Conjugam por todos os modos o verbo rapio, porque furtam por todos os modos da arte, 
não falando em outros novos e esquisitos, que não conheceu Donato nem Despautério. 
Tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação 
que pedem aos práticos é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. 
Furtam pelo modo imperativo, porque, como têm o mero e misto império, todo ele aplicam 
despoticamente às execuções da rapina. Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quanto lhes 
mandam, e, para que mandem todos, os que não mandam não são aceitos. Furtam pelo modo 
optativo, porque desejam quanto lhes parece bem e, gabando as coisas desejadas aos donos delas, 
por cortesia, sem vontade, as fazem suas. Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco 
cabedal com o daqueles que manejam muito, e basta só que ajuntem a sua graça, para serem quando 
menos meeiros na ganância. Furtam pelo modo potencial, porque, sem pretexto nem cerimônia, 
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usam de potência. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes 
compram as permissões. Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem o fim o furtar com o fim do 
governo, e sempre lá deixam raízes em que se vão continuando os furtos. Estes mesmos modos 
conjugam por todas as pessoas, porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus 
criados, e as terceiras quantas para isso têm indústria e consciência. Furtam juntamente por todos 
os tempos, porque do presente — que é o seu tempo — colhem quanto dá de si o triênio; e para 
incluírem no presente o pretérito e futuro, do pretérito desenterram crimes, de que vendem os 
perdões, e dívidas esquecidas, de que se pagam inteiramente, e do futuro empenham as rendas e 
antecipam os contratos, com que tudo o caído e não caído lhes vem a cair nas mãos. Finalmente, nos 
mesmos tempos, não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, plus quam perfeitos, e quaisquer 
outros, porque furtam, furtaram, furtavam, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse. 
Em suma, que o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a 
furtar para furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias 
suportado toda a passiva, eles, como se tiveram feito grandes serviços, tornam carregados de 
despojos e ricos, e elas ficam roubadas e consumidas. 
(...) 
VIEIRA, Pe Antonio. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000025pdf.pdf. 
Páginas 2, 6, 7 e 8. 
 
1. Os fragmentos extraídos da obra de Padre Antonio Vieira intitulada “SERMÃO DO BOM LADRÃO” 
pertencem ao período literário conhecido como Barroco ou Seiscentismo. Assinale o fragmento 
extraído do texto que melhor define o Bom Ladrão 
a) “... porque furtam, furtaram, furtavam, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse.” 
b) “... E todo o que não entra pela porta, não só diz Cristo que é ladrão, senão ladrão e ladrão.” 
c) “... uma como ladrão que tinha sido, outra como cristão que começava a ser.” 
d) “... a penitência deste e dos outros pecados não é verdadeira penitência, senão simulada e 
fingida...” 
Comentários 
  Questão de interpretação de texto literário/associação de trechos. 
Alternativa A: incorreta. No fundo, esse é um trecho metalinguístico: que reflete sobre a 
própria língua, mais especificamente, sobre a conjugação do verbo “furtar”. Aqui no caso parece não 
haver esperança para o futuro, já que o Bom Ladrão não iria se revelar tão bom assim, continuando 
a roubar no futuro. 
 AlternativaB: incorreta. É o que Padre Antonio Vieira chama de duplo ladrão: “E por que é 
duas vezes ladrão? Uma vez porque furta o ofício, e outra vez porque há de furtar com ele”. Em todo 
caso, o ladrão continuaria sendo ruim, sem ter se convertido ainda. 
 Alternativa C: correta – gabarito. No fundo, o ladrão só é “bom”, isto é, tem esse juízo de valor 
aplicado a ele pois está se convertendo. Como texto barroco que é, tem tom moralista. 
 Alternativa D: incorreta. O processo de conversão não teria sido completado. 
 O grau de dificuldade dessa questão é: médio. 
Gabarito: C 
 
2. “A persuasão em Vieira alcança o raio da alegoria — de resto, um recurso típico da tradição 
medieval — como reforço à grandeza dos padrões sociais e éticos. Consubstanciada pelo modelo 
do pregador, alimenta-se também da ironia, da sátira, do ataque (sutil ou explícito) contra vícios 
morais e administrativos dos representantes do rei na Colônia do Brasil. Assim é que, no “Sermão 
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do Bom Ladrão”, Vieira fala de políticos e administradores que furtam, roubam e enforcam, 
escondendo suas próprias falcatruas. O suporte alegórico do bom ladrão é a demonstração pouco 
corrente, escolhida pelo pregador para testemunhar melhor dos erros de sua época, dos crimes de 
superiores e nobres e de colonizadores reles, distantes da justiça reinol e divina.” 
(Extraído. http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Sermao-Do-Bom-Ladrao/43114042.html). 
 
Assinale a alternativa que, por característica do Barroco, pode definir o texto “Sermão do Bom 
Ladrão”. 
a) Teocentrismo versus Antropocentrismo. 
b) Feudalismo. 
c) Humanismo. 
d) Niilismo. 
 
Comentários 
 Questão interpretação de texto literário; crítica literária, interdisciplinaridade. Atenção: 
algumas questões podem cobrar conceitos das Ciências Humanas. 
Alternativa A: correta – gabarito. Estudamos que esse dualismo é a tônica do texto barroco. 
Agora, trata-se de uma oportunidade para estudarmos essa outra figura de linguagem: a 
alegoria. Segundo o Hênio Tavares (2002, p. 374), a alegoria é “uma sequência de metáforas, ou seja, 
a exposição do pensamento ou da emoção sob ampla forma tropológica e indireta, pela qual se 
representa um objeto para significar outro. A alegoria, segundo já ensinava Quintiliano, pode ser 
‘pura’ (quase confundindo-se com o enigma) e ‘mista’, quando propicia indicações que possibilitem 
a associação do que foi figurado com o que está subentendido. Na pintura, na escultura, enfim nas 
artes plásticas é a alegoria bastante empregada como o valor de símbolo. Uma figura de mulher, com 
uma balança numa das mãos e uma espada na outra, é uma alegoria de Têmis, ou seja, a Justiça. 
Em literatura a alegoria informa determinadas espécies genéricas como a fábula, o apólogo e 
a parábola, nas quais as coisas abstratas ou inanimadas personificam-se (...)”. 
 Alternativa B: incorreta. Termo da História. Sistema político, econômico e social que vigorou 
na Europa durante a Idade Média e que se baseava na propriedade da terra, cedida pelo senhor 
feudal ao vassalo em regime de servidão (dicionário Aulete). 
 Alternativa C: incorreta. O conceito de Humanismo foi abordado na aula anterior. É um 
movimento tanto literário quanto filosófico do século XVI. O principal representante português é Gil 
Vicente. 
 Alternativa D: incorreta. Doutrina do nada absoluto, da não existência. Não é o caso. 
 O grau de dificuldade dessa questão é: fácil. 
Gabarito: A. 
 
3. No fragmento “Conjugam por todos os modos o verbo rapio, porque furtam por todos os modos 
da arte, não falando em outros novos e esquisitos, que não conheceu Donato nem Despautério.”, 
“Donato” seria um respeitável gramático extensamente estudado pelos noviços da ordem Jesuíta, 
já “Despautério” seria um visionário da língua portuguesa digno de reprovação e ridicularização. 
Esse cruzamento de ideias opostas é, por definição, uma 
a) Metáfora. 
b) Metonímia. 
c) Antítese. 
d) Personificação. 
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Comentários 
 Questão de Gramática aplicada à Literatura. Lembrando que para o movimento literário do 
Barroco o conhecimento acerca de figuras de linguagem é essencial. 
Alternativa A: incorreta. A metáfora é uma comparação subentendida: emprega-se um termo 
com significado de outro a partir da semelhança entre ambos. No caso, os nomes dos gramáticos 
foram empregados em seu sentido literal, a título de exemplificação, e não metafórico. 
 Alternativa B: incorreta. A metonímia corre quando há uma substituição da parte pelo todo, 
ou seja, utiliza-se um termo para representar outro, pois há uma relação estabelecida entre eles. Os 
gramáticos poderiam representar suas funções; porém, o comando requisitou cruzamento de ideias. 
Exemplo: muitas famílias não têm um teto para morar. 
 
 “teto” é a parte de um todo (casa). Aqui, substitui 
 o termo “casa” e assume seu significado. 
 Alternativa C: correta – gabarito. Aqui também permeando mais uma vez o tom 
metalinguístico. Um dos recursos conceptistas para atingir a eloquência e tornar a repetição mais 
fácil de ser compreendida é o uso da metalinguagem, ou seja, fazer algo se voltar a si mesmo, no 
caso a linguagem sob a linguagem. 
 Alternativa D: incorreta. Personificação ou prosopopeia é quando qualidades humanas são 
atribuídos a seres inanimados. No caso, tanto Donato quanto Despautério são pessoas. 
 O grau de dificuldade dessa questão é: fácil. 
Gabarito: C. 
 
3 – BARROCO NO BRASIL 
A primeira obra barroca escrita 
em terra pátria data de 1601, 
Prosopopeia, de Bento Teixeira. O 
período barroco em literatura termina 
com a publicação de Obras Poéticas de 
Cláudio Manuel da Costa em 1768. 
Nesse período, Salvador e 
Olinda tornaram-se as cidades mais 
importantes do Brasil. Entre 1580 e 
1640, o negócio do açúcar vai de vento 
em popa. No começo do século XVII, o 
país é o maior exportador do produto. 
Salvador vai se tornando opulenta. Porém, na década de 40 do mesmo século, a invasão 
holandesa dá início à decadência do que se convencionou chamar de “ciclo da cana”. Os elevados 
custos da produção num país em batalha contra o invasor e a concorrência com o açúcar das Antilhas 
torna o açúcar brasileiro menos atrativo. 
 
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A figura da cidade uma versão colorizada de Salvador em 1640, de John Ogilby, da 
ilustração Urbs Salvador, publicada em 1671, na obra de Arnoldus Montanus. É uma 
ilustração de domínio público. 
 
A Literatura Barroca irá refletir essas condições históricas. Os autores vivem em cidades cujas 
marcas de opulência estão presentes ao mesmo tempo que se sente o clima de decadência. A 
população letrada dos raros centros urbanos demanda algum tipo de cultura letrada, que é fornecida 
por bacharéis ou clérigos formados em Portugal. Percebem-se, portanto, três grandes vertentes 
temáticas no Brasil: a descrição muitas vezes crítica das condições nativas, reverberação dos temas 
ligados à tradição literária portuguesa e a expressão da religiosidade própria desse período de luta 
religiosa. 
Dada a ligação profunda com Portugal, fala-se em literatura nativa, na medida em que as 
descrições do cotidiano da colônia podem ser percebidas claramente sem que isso expresse algum 
tipo de nacionalismo. 
 
3.1 – Autores e Obras Barrocos Brasileiros 
Bento Teixeira(1561-1600) 
 Sabe-se pouco a respeito do autor. Sua família era de cristãos-novos (judeus convertidos) que 
aportaram no Brasil em 1567. Escreveu Prosopopeia, publicada postumamente em 1601. 
 Prosopopeia é um poema épico inspirado em Os Lusíadas que conta a história de Jorge de 
Albuquerque Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco. O poema conta com um aspecto 
nativista que viria a se tornar marca de outras escolas literárias no futuro. 
 
Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) 
 Primeiro escritor nascido no Brasil. Sua principal obra é Música do Parnaso (1705). 
A obra é bem variada em formas poéticas (sonetos, oitavas, décimas etc). Como todo bom 
barroco, o poeta faz uso de antíteses e paradoxos e desenvolve um tópico comum ao movimento: a 
instabilidade do mundo. O principal poema da obra é o “A Ilha da Maré”: poema que descreve as 
frutas, vegetais e legumes do Brasil. É a primeira vez que a natureza é louvada em uma obra poética 
escrita no Brasil. 
As laranjas da terra 
poucas azedas são, antes se encerra 
tal doce nestes pomos, 
que o tem clarificado nos seus gomos; 
mas as de Portugal entre alamedas 
são primas dos limões, todas azedas. 
(In.: A ilha de Maré) 
 
Gregório de Matos (1636-1696) 
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Mais importante poeta barroco do Brasil. Nasceu em 
Salvador, filho de uma família abastada. Foi para Portugal em 
1651, onde estudou em Lisboa e Coimbra. Exerceu alguns 
cargos importantes na metrópole: juiz, representante da Bahia 
e procurador. Voltou ao Brasil em 1679, com 43 anos. 
 Foi nomeado desembargador eclesiástico e, 
posteriormente tesoureiro-mor da Sé (1682). Como não 
quisesse usar a batina, foi destituído das funções. Conta-se que 
a partir desse momento começou a levar a sério a verve satírica 
já demonstrada em Portugal em algumas circunstâncias. 
Começa a satirizar os costumes do povo e de algumas 
autoridades. Ficou conhecido como Boca do Inferno. 
Desenvolve também outros tipos de poesia: fescenina (erótica), 
lírica, religiosa e existencial. 
 Em 1685, foi denunciado à Inquisição. Em 1694, tendo acumulado várias inimizades, é 
deportado para Angola. Volta para o Brasil, mais especificamente para Recife, já que em Salvador é 
considerado persona non grata e foi proibido de desembarcar. Morre em Pernambuco devido à febre 
contraída em Angola. 
 
 
 
 
Esse é o gênero pelo qual Gregório se tornou mais conhecido. Criticava os padres, as freiras, 
algumas autoridades da cidade da Bahia, os mulatos e indígenas. Suas críticas eram moralistas. 
Condenava o comportamento hipócrita e o orgulho inapropriado de uma classe vinda dos 
estamentos mais baixos, mas que se comportava como a fina flor da nobreza. 
Gregório desenvolve ainda uma outra subcategoria da satírica, a fescenina (obscena). Nesse 
tipo, ele usa palavras de baixo calão para desqualificar seus inimigos. 
 
 
 
O poeta descreve a Bahia 
A cada canto um grande conselheiro, 
Que nos quer governar cabana e vinha*; 
Não sabem governar sua cozinha 
E podem governar o mundo inteiro. 
 
Em cada porta um bem frequente olheiro, 
Que a vida do vizinho e da vizinha 
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha**, 
Para o levar à praça e ao terreiro. 
Poesia satírica
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Muitos mulatos desavergonhados, 
Trazidos sob os pés os homens nobres, 
Posta nas palmas toda a picardia***, 
 
Estupendas usuras**** nos mercados, 
Todos os que não furtam muito pobres: 
E eis aqui a cidade da Bahia. 
 
*vinha: terreno plantado com videiras. 
**esquadrinha: examina minuciosamente. 
***picardia: falha de caráter. 
****usuras: agiotagem, empréstimo a juros superiores ao que é legal. 
Gregório de Matos crítica nesse poema o provincianismo de Salvador de uma forma muito viva. 
Ao começar o soneto com a expressão “a cada canto um grande conselheiro”, faz com que o leitor 
imagine vivamente uma cidade na qual o esporte predileto é ocupar-se da vida alheia. As duas 
primeiras estrofes desenvolvem essa ideia, ao final do oitavo verso o leitor é obrigado a perceber a 
grande ironia na expressão “grande conselheiro”. 
 Na terceira estrofe, destaca-se o aspecto sensual dos mulatos segundo a visão eurocêntrica 
de que, nas colônias, predominava a licenciosidade. Finalmente, na última estrofe, o poeta expressa 
a última tópica da falta de caráter dos habitantes de Salvador: a desonestidade. Somente aqueles 
que roubavam, inclusive através da usura, é que conseguiam viver bem. 
 
(INTELECTUS – SESC – Animador Cultural: Literatura – Médio – 2014) 
O Barroco literário foi marcado por antíteses e paradoxos entre duas de suas linhas (Cultismo e 
Conceptismo), como rebuscamento, virtuosismo, ornamentação exagerada, jogo sutil de palavras e 
ideias, ousadia de metáforas e associações. O principal representante da linha conceptista ao 
escrever sermões é: 
A) Pe. Manuel da Nóbrega. 
B) Pero Vaz de Caminha. 
C) Pe. Antonio Vieira. 
D) Pe. Anchieta. 
E) Gregório de Matos 
Comentários 
 Questão de reconhecimento de cânone. 
Alternativa A: incorreta. Escritor do Quinhentismo e não do Barroco. 
Alternativa B: incorreta. Escritor do Quinhentismo e não do Barroco. 
Alternativa C: correta – gabarito. Padre Antonio Vieira predominou na prosa, com seus 
sermões e cartas. 
Alternativa D: incorreta. Escritor do Quinhentismo e não do Barroco. 
Alternativa E: incorreta. Gregório de Matos predominou na poesia e não na sermonística. 
 O grau de dificuldade dessa questão é: fácil. 
Gabarito: C. 
 
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Considera-se esse gênero como o típico do Barroco. Costuma ser um tipo de poesia bastante 
cobrado, por indicar a visão teocêntrica barroca. 
 O eu lírico, expressando profunda reverência pela Igreja ou por Jesus, destaca sua submissão, 
procurando alcançar o perdão divino de forma, às vezes, desesperada. Trata-se de poemas bem 
elaborados com forte apelo sensorial e retórico. São poesias de alto grau de elaboração. 
 
 
O poeta na última hora da sua vida 
Meu Deus, que estais pendente em um madeiro*, 
Em cuja lei protesto de viver, 
Em cuja santa lei hei de morrer 
Animoso**, constante, firme e inteiro. 
 
Neste lance, por ser o derradeiro, 
Pois vejo a minha vida anoitecer, 
É, meu Jesus, a hora de se ver 
A brandura*** de um Pai manso Cordeiro. 
 
Mui grande é vosso amor, e meu delito, 
Porém, pode ter fim todo o pecar, 
E não o vosso amor que é infinito. 
 
Esta razão me obriga a confiar, 
Que por mais que pequei, neste conflito 
Espero em vosso amor de me salvar. 
 
*pendente em um madeiro: equivalente a pendurado na cruz. 
**Animoso: corajoso, forte. 
***brandura: ternura, carinho. 
 
Notem a construção belíssima desse poema, no qual o eu lírico demonstra seu desejo de ser 
perdoado. Na primeira estrofe, invoca-se a imagem de um crucifixo no qual Jesus está pendente. Os 
dois versos paralelos “Em cuja lei protesto de viver,/ Em cuja santa lei hei de morrer” trazem em seu 
interior a antítese entre vida e morte. 
 Na segunda estrofe, o eu lírico torna a situação mais dramática, pois se trata de um lance 
derradeiro, ele aproxima-se da morte (“pois vejo a minha vida anoitecer”). A situação é descrita como 
a última oportunidade para que o eu lírico consiga o perdão divino. 
 O desespero do poeta contrasta com a figura de Cristo, ele é retratado como brando, “manso 
cordeiro”, dotado de um grande amor que jamais cessa, pois é infinito. Sente-se, na poesia, o 
acolhimento desejado pelo eu lírico. 
Poesia religiosa
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Gregório de Matos desenvolve ainda dois outros temas que parecem ser uma imitação de 
Camões. Aliás, algo bastante verossímil, já que os poetas barrocos se consideravam imitadores da 
poesia clássica. Camões alcançou notoriedade com poemas dedicados ao estudo do amor em si 
(poesia lírica) e aqueles em que discute a desestabilização do viver (a constante mudança das coisas). 
 
 
 Poesia lírica 
Sonetos a D. Ângela de Sousa Paredes 
Não vira em minha formosura, 
Ouvia falar dela todo dia, 
E ouvida me incitava, e me movia 
A querer ver tão bela arquitetura: 
 
Ontem a vi por minha desventura* 
Na cara, no bom ar, na galhardia** 
De uma mulher, que em Anjo se mentia; 
De um Sol, que se trajava em criatura: 
 
Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me, 
Se esta a cousa não é, que encarecer-me 
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me: 
 
Olhos meus, disse então por defender-me, 
Se a beleza heis de ver para matar-me, 
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me. 
 
*Desventura: desgraça, adversidade 
** Galhardia: nobreza, grandeza 
 
Observem o tema do amor que cega e mata bem ao gosto camoniano. Gregório de Matos 
acrescenta alguns traços de sensualidade que tornam a tensão entre amor espiritual e físico mais 
acentuada, aliás traço típico do Barroco. 
 A mulher tem anjo no nome (Angélica), mas o tempo todo o poeta destaca sua aparência 
física, tanto que chega a afirmar textualmente que ela “em Anjo se mentia”. A possibilidade de o eu 
lírico sofrer por essa atração física despertada por Angélica leva-o a concluir: “Antes olhos cegueis, 
do que eu perder-me”. 
 
 Poesia existencial 
Poesia à moda camoniana
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A instabilidade das Cousas no Mundo 
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, 
Depois da Luz se segue a noite escura, 
Em tristes sombras morre a formosura, 
Em contínuas tristezas a alegria. 
 
Essa é a primeira estrofe de um soneto de Gregório de Matos, no qual ele retoma o tema da 
mudança. Camões já o havia desenvolvido de uma forma muito semelhante, destacando as antíteses 
e paradoxos que expressam a mudança angustiante que nos leva o que temos de mais caro: o dia, a 
formosura, a alegria etc. 
 
4 – A ARTE BARROCA 
O Barroco Artístico perdura entre 1550 e 1750. 
A arte barroca tem início, na Europa, no final do século XVI e vai até meados do século XVIII, 
chegando às Américas pelas mãos dos colonizadores. O movimento, através da arquitetura 
grandiosa, dos afrescos impressionantes e das pinturas dramáticas, expressa poder e glória. 
 
O afresco acima, “A Apoteose de Santo Inácio de Loyola”, exemplifica bem essas 
características do Barroco artístico. Pode ser visto na Igreja de Santo Inácio, em Roma. Foi pintado 
por Andrea Pozzo (1642-1709). 
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Na imagem, o Santo fundador da Companhia de Jesus é observado por representações 
alegóricas dos quatro continentes, inclusive da América. A impressão que se tem é de que o teto da 
Igreja se abre para os céus. As figuras se contorcem e parecem flutuar no ar. A técnica é rebuscada e 
ilusionista. Surpreende saber que essa imagem foi pintada no plano. Esse afresco resume várias das 
características do Barroco. 
 Trata-se de uma arte com forte apelo sensorial e emocional. Para manter parte do rebanho 
que não havia se tornado protestante, a Igreja vale-se da arte como propaganda do seu poder e dos 
seus dogmas. O público analfabeto poderia ter uma representação bastante vívida do que era dito 
em latim nas missas. Ao mesmo tempo, a grandiosidade da arte e da arquitetura barroca mostrava 
ao fiel o seu lugar no mundo. 
 
 
 
 
Os pintores e escultores se valeram de 
várias técnicas para dar o efeito de 
movimento e dramaticidade às cenas. As 
esculturas são contorcidas, as roupas 
detalhadas em que se observam as mínimas 
dobras dos tecidos, os rostos apresentam 
expressão exagerada como se fosse retratado 
um ator no clímax de sua atuação. 
 Nos quadros, o pintor explora o 
claro/escuro, as linhas diagonais e circulares. 
Além disso, costuma haver imagens 
assimétricas, com vários pontos de fuga 
(centros do olhar do espectador). 
Na arquitetura não é muito diferente. Percebe-se a relevância da curva em oposição à linha 
reta; exagero no uso de abóbadas, arcos e contrafortes; jogo de luz e sombra, dada a quantidade de 
janelas; diálogo entre arquitetura e pintura, criando um ambiente dramático. 
 Havia ainda outras manifestações artísticas como a de casas de espetáculos chamadas de 
“teatro italiano”, locais equipados para produzir efeitos especiais. É importante destacar que tanto 
o balé quanto a ópera foram criações cênicas do Barroco. 
 
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4.1 – Rococó 
Dentro do próprio Barroco, surge um estilo mais suave 
marcado pela leveza e suavidade, inicialmente usado para 
decoração de interiores. O fato de essas obras atenderem a 
vida mundana e não religiosa permite que os artistas não 
exagerem tanto nos efeitos artísticos, pois não é preciso 
impressionar o espectador e sim encantá-lo com uma certa 
simplicidade. Para alguns, ele perdurou por pouco tempo de 
1720 a 1780. 
O termo deriva da palavra “concha”, pois as linhas 
curvas e suaves dela parecem inspirar o formato ou desenho 
de várias obras. Era uma arte própria da corte Francesa no 
período de Luís XV e Luís XVI. Reflete uma sociedade fútil e 
encantada com objetos decorativos. Os temas mais comuns 
são: cenas eróticas, mitológicas, pastorais, ornatos baseados 
na sugestão vegetal. 
Os traços mais importantes são: 
 linhas curvas e suaves; 
 cores suaves; 
 temas tirados da vida mundana e das festas galantes; 
 caráter intimista; 
 elegância, alegria, frivolidade. 
 
 
Na arquitetura, percebe-se a suavidade da 
exuberância barroca, em edifícios menores, com 
apenas dois andares, fachadas sem tantos 
enfeites, telhados de duas águas, decoração de 
portas e janelas, simbiose entre arquitetura e 
decoração interior e exterior (jardins). 
 
 
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4.2 – A Arte Barroca no Brasil 
O Barroco Artístico chegou ao Brasil 
quase 100 anos depois de ter dado frutos na 
Europa e também perdurou por mais 
tempo, vai até o início do século XIX. Na 
época em que começa o Arcadismo no Brasil 
(1768), os grandes nomes no barroco 
nacional, Aleijadinho e Mestre Ataíde, 
estavam começando sua produção. 
 O movimento chega com os padres e 
atende às necessidades da Igreja Católica no 
país. Prosperou no contexto da luta de 
conquista do território, seja em relação aos 
índios, seja em relação ao invasor europeu. As marcas do barroco arquitetônico são irregulares, as 
primeiras igrejas são simples e continuam assim nos lugares afastados dos ciclos econômicos. 
O açúcar permitiu a construção de Igrejas cheias de ouro em Salvador. O ciclo do ouro teve o 
mesmo efeito em Minas Gerais e Rio de 
Janeiro. Nesses lugares, observa-se uma arte 
maissofisticada, mas, mesmo assim, sem as 
grandes elaborações da europeia. Aqui, o 
Barroco foi adaptado apresentando uma cor 
local. 
Nos projetos arquitetônicos mais 
ousados, há uma mistura de curvas e retas em 
igrejas de porte médio e, ao mesmo tempo, 
portentosas. Comportam algum tipo de 
frontaria, e portas esculpidas. Observam-se 
pilastras, colunas e frontão. 
Na pintura e escultura, predomina o tema sacro e narrativo, com representações sobretudo 
da paixão e do sofrimento de Cristo. As imagens muitas vezes expressam traços físicos que lembram 
o de mulatos ou índios. O gosto pelo desmedido pode ser observado pelas cores fortes e pela 
dramatização das cenas que muitas vezes comprometem até mesmo a proporção das figuras 
humanas. 
 A importância do Barroco como expressão cultural é tamanha que muitos o consideram como 
a essência do sentimento nacional até hoje. O escritor Affonso Romano de Sant’Anna referia-se ao 
movimento como sendo expressão da “alma do Brasil”. 
 
4.3 – Interpretação de Obra de Arte Barroca 
Pois bem, concurseiros. 
Agora vocês já têm uma ideia geral do que é o Barraco e podem reconhecê-lo. As 
características típicas costumam ser: 
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 Exagero; 
 Assimetria; 
 Predomínio de linhas esféricas; 
 Dramaticidade; 
 Jogo de claro/escuro; 
 Elementos sensoriais. 
Depois de reconhecido o movimento artístico, procurem fazer a interpretação da obra. Sigam 
os passos subsequentes. 
 
 
 
Agora, vocês já podem testar seu conhecimento, observando como que esse assunto cai em 
Concurso Público. 
(FUNIVERSA – IPHAN – Analista: História – Superior – 2009) 
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Com o auxílio da imagem acima, assinale a alternativa incorreta acerca do Barroco brasileiro. 
(A) O Barroco apareceu no Brasil quando já se haviam passado cerca de cem anos de presença 
colonizadora no território; a população já se multiplicava nas primeiras vilas e alguma cultura 
autóctone já lançara sementes. 
(B) A obra de Aleijadinho mistura diversos estilos do barroco. Em suas esculturas, estão presentes 
características do rococó e dos estilos clássico e gótico. Ele utilizou como material de suas obras de 
arte, principalmente a pedra-sabão, matéria-prima brasileira. A madeira também foi utilizada pelo 
artista. A riqueza de detalhes, como as dobras dos tecidos e os arranjos dos cabelos apresentadas na 
imagem, são marcas singulares de sua sensibilidade. 
(C) É reconhecido entre os especialistas o fato de que a produção artística deixada por Aleijadinho é 
considerável. Sua contribuição para a formação do patrimônio artístico brasileiro é imensurável. 
Graças ao trabalho de historiadores e especialistas em artes visuais, seu acervo foi catalogado e 
autenticado por vários documentos. 
(D) É fato que durante um período de mais de vinte anos, Aleijadinho foi requisitado sucessivamente 
pela maioria das vilas coloniais minerais que passaram a requisitar ou até disputar o trabalho do 
artista, cuja vida transformara-se em uma verdadeira roda-viva, sendo às vezes, obrigado a trabalhar 
em obras de duas ou mais cidades diferentes. 
(E) Por sua amplitude, o Barroco é considerado o marco divisor para uma arte realmente brasileira. 
É com ele que surge o Nacionalismo Cultural e, com a passagem para o século XIX, é instituído e 
reconhecido como representação máxima da cultura popular brasileira. 
 
Comentários 
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 Questão de interpretação de obra de arte/reconhecimento acerca do contexto histórico-
social. 
Alternativa A: correta. O Barroco Artístico no Brasil é predominante no século XVI, por isso é 
que também um de seus sinônimos é arte seiscentista, levando em consideração o século de sua 
produção, espelhando-se no nome do movimento do “Quinhentismo”. Autóctone significa que é 
natural da região onde habita ou se encontra (dicionário Aulete). 
Alternativa B: correta. Na representação de Cristo, por exemplo, observam-se traços 
distorcidos, como que para acentuar a dramaticidade da cena. 
Alternativa C: correta. O patrimônio é uma reunião de bens materiais ou imateriais. No caso 
da arte barroca de Aleijadinho, serve como herança coletiva com o intuito de preservar a arte local 
do século XVI. 
Alternativa D: correta. Na época, era comum o tipo de arte encomiástica ou laudatória, de 
elogio a outras pessoas, mas também a arte de encomenda. À medida que ia ganhando fama, a arte 
de Aleijadinho superou as fronteiras locais. 
Alternativa E: incorreta – gabarito. Será o Arcadismo e não o Barroco que desenvolverá uma 
arte com traços nativistas. 
 O grau de dificuldade dessa questão é: difícil. 
Gabarito: E. 
 
5 – ARCADISMO 
E enfim, o Barroco cansou. Os escritores da segunda metade do século XVIII deram-se conta 
de que os exageros artísticos dos poetas anteriores eram puro artifício, cujas técnicas tornavam a 
arte algo de mau gosto, a “hidra de mau gosto”. 
 
É com base no mito da Arcádia que erguem suas doutrinas: 
destruindo a “hidra do mau gosto”, os árcades procuram 
realizar obra semelhante à dos clássicos antigos. Daí a imitação 
dos modelos greco-latinos ser a primeira característica a 
considerar na configuração da estética arcádica. (Massaud 
Moisés. A literatura portuguesa, 1992. Adaptado.) 
 
Como antídoto, os artistas voltaram-se para os preceitos poéticos da antiguidade, 
principalmente para as regras de comedimento dos poetas romanos como Ovídio, que, “de quebra”, 
tematizavam a simplicidade do campo. Isso explica o outro nome do movimento “Neoclassicismo”, 
ou seja, os poetas acreditam estar resgatando os traços mais puros da estética desenvolvida no 
Renascimento e vão beber nas fontes da poesia antiga. 
 
 
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5.1 – Apresentação 
Ainda impressionado com o Barroco e lembrando as características do movimento anterior, 
tente ler o poema abaixo e perceber o que ele tem de diferente. Lembre-se de que você pode 
considerar a forma ou o tema. 
 
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, 
Que viva de guardar alheio gado; 
De tosco trato, d’ expressões grosseiro, 
Dos frios gelos, e dos sóis queimado. 
Tenho próprio casal*, e nele assisto; 
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; 
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, 
E mais as finas lãs, de que me visto. 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
 (Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga) 
*casal: tipo de propriedade rural. 
 
PASSOS PARA A INTERPRETAÇÃO DA POESIA ÁRCADE 
 
 
No caso do poema acima, o eu lírico se identifica como sendo um vaqueiro que não guarda 
gado dos outros, ou seja, ele é dono dos seus meios de vivência, é um proprietário. Dirige-se à Marília, 
com quem conversa, usando um vocabulário menos rebuscado do que era usual no Barroco. O poeta 
até mesmo utiliza o diminutivo como sinal de uma conversa quase “ao pé do ouvido”. 
O texto parece ser descritivo e, tirando o fato de haver ficção poética, não há figuras de 
linguagem evidentes. O poema não impressiona, não foi escrito para deslumbrar o leitor. Realmente, 
o poema está longe da afetação barroca. 
A chave para entender o poema está num conceito: “razão”. O elogio da racionalidade tem a 
ver com o momento histórico. 
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5.2 – Contexto Histórico Geral: O Iluminismo 
O século XVIII ficou conhecido como o século das Luzes. O banho de sangue que se abateu 
sobre a Europa por motivos religiosos durante os séculos XVI e XVII, afinal resultaria em alguma 
reação. Pensadores, intelectuais e cientistas perceberam que a religião como guia social poderia se 
tornar extremamente perigosa, pois apoiava-se na fé, na crença e na tradição. O antídoto? O 
pensamento racional. 
Os eventos enumerados abaixo são representativos do que ia pela cabeça dos Europeus. O 
terremoto de Lisboa abalou a fé dos católicos. A tragédia foi de grandes proporções, a cidade ficou 
arrasada. Como um país tão religioso poderia ser devastado de tal forma? Naturalmente, não se 
tratava de punição divina. Foi algo natural. 
A Revolução Industrial começou a mostrar quais eram as possibilidades que se poderiam 
alcançar através de técnicas baseadas no cálculo. E os dois eventos, Declaração da Independência 
dos EUA e a Revolução Francesa, vão abalar decisivamente a forma de se viver. Ambos fatos políticos 
foram profundamente influenciados pelo Iluminismo. 
 
 
 
Vocês devem ter percebido que, para Literatura, de tudo o que ocorreu no século em questão, 
o Iluminismo foi o fenômeno mais relevante. 
A mola propulsora desse movimento cultural foi a razão. “Luz” deve ser entendida como luz 
natural no sentido de que haveria uma centelha divina na mente humana capaz de fazer qualquer 
pessoa compreender o que seria verdadeiro no sombrio mundo dos fenômenos. Isso seria a garantia 
de que o homem poderia conhecer a realidade. Haveria, portanto, dois livros divinos, a própria Bíblia 
(1751-1775) Projeto da Encyclopédia 
Pensadores: Rousseau, Voltaire, D’Alembert, 
Rousseau, Lavoisier, Isaac Newton, Hobbes, Locke , 
 
 
 
 
 
 
1755 
 
 
 
1760 1776 1789 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Terremoto 
em Lisboa 
 
Revolução 
Industrial 
E 
Declaração 
Independência 
EUA 
Revolução 
Francesa 
 
Ilu Iluminismo & Ciência 
Valorização 
da razão 
 
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(1) adequada aos assuntos da fé; e a (2) natureza que deveria ser lida pela perspectiva da 
racionalidade matemática. 
Essa nova concepção deu muitos frutos em todas as áreas do conhecimento. A observação da 
natureza desenvolveu a ciência de maneira surpreendente, seja com Isaac Newton na Inglaterra, seja 
com Lavoisier na França, só para mencionar alguns exemplos. 
 
5.3 – A Racionalidade na Literatura 
Na cultura, esse preceito de luz natural seria mais 
problemático. Como imitar a natureza no que diz respeito 
aos sentimentos humanos? 
A resposta dada nas artes pode até parecer 
paradoxal, mas faz sentido. Em vez de observar quase 
cientificamente como os homens se comportam, os 
escritores se voltaram para aqueles que eram considerados 
os grandes investigadores da alma humana, os artistas 
greco-romanos. 
Como a ênfase deveria ser dada na natureza, esses 
autores foram além, procuraram na tradição clássica a 
representação do meio pastoril. O homem em contato com 
o campo se tornaria pleno da Luz Natural e, portanto, teria 
uma vida mais racional. Onde eles encontraram o modelo? 
Em Horácio e Virgílio e na mitologia. 
 
Na mitologia? Mas mitologia não é fantasia, o contrário 
da razão? Acontece que o Arcadismo empregava a 
racionalidade e ao mesmo tempo a mitologia e a ficção, 
pois eram criados eu líricos pastores, quando na 
verdade os poetas não eram pastores de verdade. Por 
isso é que, embora racional e equilibrado, o Arcadismo 
também foi um movimento essencialmente idealista. 
Vamos entender a lógica. O poeta deveria estar em contato com a natureza para poder 
expressar de forma mais racional seus sentimentos e sua percepção de vida. Ora, no século XVIII, as 
cidades passam a ter um papel importante na vida cultural da Europa. O escritor vive no espaço 
urbano. Como atender ao requisito de uma vida pastoril? 
 Por meio da imaginação, da ficção. 
 Os gregos tinham um modelo perfeito para essa ficção. Segundo a mitologia, haveria dois 
lugares agradáveis no cosmo: o Olimpo, onde habitavam os deuses e a Arcádia, país imaginário 
habitado por pastores que viviam em paz e tranquilidade. 
O poeta do século XVIII imaginava ser pastor da Arcádia, juntava-se a outros poetas numa 
agremiação literária e usava um codinome grego ou romano como uma espécie de senha para se 
transportar para esse novo mundo. 
Fonte do Infográfico: Showeet. 
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5.4 – Características Gerais do Arcadismo 
 
 Dentro dessa ficção, havia até mesmo 
topos ou tópicos pré-determinados. A isso 
chamamos de FORMALISMO. Esse termo se 
refere ao fato de que a expressão interior 
deve se submeter a aspectos formais já 
determinados previamente: tipo de poema, 
tipo de métrica, maneira de escrever e temas. 
 
PARÂMETROS DE ESCRITA 
 Bucolismo. “Bucólico” é um adjetivo que se relaciona à vida e costumes dos pastores; à vida no 
campo, sua paisagem, seus costumes; ao meio campestre; a algo que faz parte ou está próximo da 
natureza ou da vida natural (dicionário Aulete). No contexto do Arcadismo, refere-se ao modo de 
viver no ambiente rural. As poesias descrevem a simplicidade da vida rural, destacando as belezas da 
vida campestre e da natureza. 
 
 Pastoralismo. O eu lírico assume uma outra identidade como pastor, vaqueiro ou alguma 
atividade ligada ao campo. 
 
 Poesia lírica. O amor equilibrado é o grande tema do amor árcade. Assim como o poeta assume 
um codinome, ele adota um nome feminino, Marília, por exemplo, que revela perfeição da mulher 
amada. 
 
LATINISMOS ÁRCADES (TEMAS) 
 Aurea mediocritas. O termo significa medida de ouro e se refere ao princípio de equilíbrio no uso 
das figuras de linguagem e no efeito provocado na leitura. O poeta deve ser comedido, não ser 
sentimental demais nem ser apático. 
 
 Fugere urbem. A expressão latina significa “fugir da cidade”. O eu lírico convida a amada para fugir 
da corte. 
 
 Locus amoenus. A melhor tradução para o termo seria “lugar ameno ou aprazível”. Já que o poeta 
recusa a cidade, resta a ele indicar o melhor lugar para “os pombinhos” se encontrarem, nesse caso, 
o ambiente rural. 
 
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Luana Signorelli
Aula 02
Senado Federal (Técnico - Policial Legislativo) Literatura Nacional - Cebraspe 2022
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 Carpe diem. O termo significa “aproveitar o momento”. Isso poderia ser feito de duas maneiras: 
ou contemplando a natureza ou de forma sensual. Observam-se no Arcadismo essas duas vertentes, 
uma poesia libertina ao lado de uma poesia contemplativa. 
 
 Inutilia truncat. Ou seja, cortar o que é inútil, cortar aquilo que é rebuscado. O repúdio às técnicas 
barrocas é evidente. 
 
TRAÇOS ROMÂNTICOS 
 
 As várias regras para se produzir poesia acabaram por tornar a produção desse período 
bastante pobre do ponto de vista da expressividade. Os críticos literários tendem a valorizar os 
autores que extrapolam esses elementos, embutindo em seus poemas algum traço de 
sentimentalismo que vai contra o preceito de racionalidade. Estudaremos o Romantismo na próxima 
aula, mas pode ser que, para resolver alguns exercícios, você precise lembrar-se de algumas 
características para poder assinalar quando o texto puder ser classificado como pré-romântico. 
 subjetivismo, observável sobretudo pelo uso excessivo do pronome “eu” nos poemas, pode 
ser explícito ou implícito – vários

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