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TEORIA DA EMPRESA E SOCIEDADES (CCJ0235) DIREITO EMPRESARIAL I Prof. Msc. Augusto Cesar Ferreira UNIDADE I 1. Introdução ao Direito Empresarial: Direito Privado x Direito Público 1.1. Evolução Histórica do Direito Empresarial: Idade Antiga Idade Média x Idade moderna Renascimento (Sec. XII a XVI) Formação da burguesia 1.1.1. 1ª fase – Direito Consuetudinário Corporações de ofício (Época do Direito Estatutário italiano = juízos ou tribunais consulares) 1.1.2. Características da 1ª fase Idade Média: descentralização política; Burgos e renascimento do comércio; Usos e costumes mercantis; Corporações de Ofício; Subjetivismo – sujeito da relação jurídica; Autonomia (características e institutos típicos); Doutrina empresarialista – Tratactus de Mercatura, de Benvenuto Straccha, publicado em 1553. 1.1.3. 2ª fase – Era das codificações Autonomia do Direito Comercial Teoria dos Atos de Comércio Surgimento de dois sistemas para a disciplina da atividade econômica: Francês - Teoria dos Atos de Comércio Italiano - Teoria da Empresa 1.1.3.1. Teoria dos Atos de Comércio Codificação Napoleônica A mercantilidade deixa de ser definida pelo sujeito e passa a ser definida pelo objeto. 1.1.3.2. Problemas da 2ª fase Restrição: (a) a prestação de serviços inicialmente não era caracterizada como ato de comércio; (b) a negociação de bens imóveis não era considerada mercantil, só era considerada mercantil a negociação de bens móveis e semoventes; (c) as atividades rurais historicamente foram excluídas dos atos de comércio; (d) os atos mistos às vezes eram atos de comércio para uma das partes e não eram para a outra. 1.1.3.3. Características da 2ª fase Formação dos Estados Nacionais – monopólio da jurisdição por parte do Estado, tribunais e juízes consulares perdem força, as corporações de ofício vão perdendo gradativamente o poder político; Monopólio estatal da jurisdição; Codificações legais – o Direito Comercial deixa de ser um direito consuetudinário, passa a ser um direito posto e aplicado pelo Estado, por meio das grandes legislações; Desenvolvimento da Teoria dos Atos de Comércio como critério delimitador da abrangência do Direito Comercial; Objetivação do Direito Empresarial – o que importa é o objeto da relação jurídica, e não o seu sujeito. 1.1.4. 3ª Fase – Teoria da Empresa Meados do séc. XX – Itália Código Civil italiano de 1942 Perfis da empresa: a) O perfil subjetivo, pelo qual a empresa seria uma pessoa (física ou jurídica), ou seja, o empresário; b) O perfil funcional, pelo qual a empresa seria uma “particular força em movimento que é a atividade empresarial dirigida a um determinado escopo produtivo”, ou seja, uma atividade econômica organizada; O jurista italiano Alberto Asquini, analisou a empresa como um fenômeno jurídico poliédrico, concebendo a “teoria poliédrica da empresa” ou “teoria dos perfis da empresa” c) O perfil objetivo (ou patrimonial), pelo qual a empresa seria um conjunto de bens afetados ao exercício da atividade econômica desempenhada, ou seja, o estabelecimento empresarial; e d) O perfil corporativo, pelo qual a empresa seria uma comunidade laboral, uma instituição que reúne o empresário e seus auxiliares, empregados ou colaboradores, ou seja, “um núcleo social organizado em função de um fim econômico comum”. 1.1.4.1. Características da 3ª Fase Revolução Industrial – o mercado ganha uma complexidade tal que o comércio deixa de ser a atividade econômica mais relevante para ser apenas mais uma das atividades econômicas praticadas no mercado; Código Civil italiano de 1942 – rompe-se com a tradição das codificações de separar o direito privado em diplomas legislativos; Unificação do Direito Privado – não significa que o Direito Empresarial perdeu sua autonomia. Materialmente, Direito Civil e Direito Empresarial continuam sendo direitos distintos e autônimos, mas as regras nucleares estão no mesmo diploma legislativo, no Código Civil. Teoria da Empresa – Substituição da Teoria dos Atos de Comércio 1.1.4.2. Evolução no Brasil Ordenações portuguesas; Chegada da família real portuguesa ao Brasil; Código Comercial de 1850: Inspiração no Código Comercial Napoleônico Adota a Teoria dos Atos de Comércio Código de defesa do consumidor Conceito de fornecedor (+abrangente) Código Civil de 2002 Adota a Teoria da Empresa O Código Comercial de 1850 está em vigor apenas na parte de comércio marítimo A partir do Código Civil Italiano, o conceito de empresa é que passa a orientar todo o regime jurídico empresarial. Por isso que o nome mudou de Direito Comercial para Direito Empresarial, porque se abandona a Teoria dos Atos de Comércio e se passa para a Teoria da Empresa. UNIDADE II 2. TEORIA GERAL DO DIREITO COMERCIAL 2.1. Objeto do Direito Comercial O objeto do direito comercial é a atividade do empresário. O empresário articula os fatores de produção (CMIT): Capital; Mão de obra; Insumos; Tecnologia. A atividade econômica organizada para fornecimento de bens e serviços é denominada de empresa. Empresa, em sentido técnico, é a atividade exercida pela pessoa física ou jurídica 2.2. Teoria da Empresa No Brasil, pelo Código Comercial de 1850, que adotava a Teoria dos Atos de Comércio, só eram consideradas atividades de mercancia: Compra e venda de bens móveis semoventes, no atacado ou no varejo; Indústrias; Bancos; Logísticas; Armação e expedição de navios. Perceba que atividades como negociação de imóveis, atividades rurais e principalmente prestação de serviços, não considerada uma atividade comercial. 2.2.1. Perfis da empresa De acordo com o conceito poliédrico desenvolvido por Alberto Asquini, temos quatro perfis da empresa: • PERFIL SUBJETIVO: é a pessoa natural (empresário individual) ou a pessoa jurídica (sociedade empresária) que exerce atividade empresarial; • PERFIL OBJETIVO: São os bens corpóreos e incorpóreos que instrumentalizam a vida negocial. • PERFIL FUNCIONAL: é o complexo de atos que compõem a vida empresarial; • PERFIL CORPORATIVO OU INSTITUCIONAL: são os empregados que, com o empresário, envidam esforços à consecução dos objetivos empresariais. No Brasil, a Teoria Poliédrica da Empresa foi reduzida à Teoria Triédrica da Empresa, em razão do aspecto corporativo se submeter às regras do Direito do Trabalho, abrangendo os perfis subjetivo, objetivo e funcional (Waldírio Bulgarelli). 2.2.2. Definição de empresa: É atividade econômica organizada de produção e circulação de bens e serviços para o mercado, exercida pelo empresário, em caráter profissional, por meio de um complexo de bens. 2.2.3. Conceito de empresário: Código Civil, Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Característica da atividade empresária: Exercida de forma profissional (não habitual); Econômica (intuito lucrativo); Organizada; Voltada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. a) Profissionalismo: atividade habitual, exercida com assunção dos riscos; b) Atividade econômica: atividade exercida com fins lucrativos; c) Organização: atividade exercida com articulação dos fatores de produção: capital, insumos, mão-de-obra e tecnologia; d) Produção/circulação de bens/serviços: abrangência da Teoria da Empresa. Atividade econômica organizada Produção e circulação de bens e serviços Mercado Empresário, em caráter profissional Meio de um complexo de bens Espécies de empresário:a) Empresário individual: pessoa natural que exerce empresa profissionalmente, respondendo direta e ilimitadamente pelas obrigações empresariais, equiparado à pessoa jurídica para fins tributários b) Sociedade Empresária: pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade, cujo objeto social é o exercício de empresa. O Código Civil admite a possibilidade de Sociedade Limitada com sócio único: Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. § 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) ATENÇÃO: EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada): nova pessoa jurídica criada pela Lei nº 12.441/11, que tem um único titular NÃO é uma sociedade empresária, pois não admite que tenha sócio. O CC faz uma ressalva, estabelecendo que certas atividades econômicas não configuram empresa, portanto seus exercentes não são considerados empresários, a exemplo dos profissionais liberais/intelectuais, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. c) Empresário Rural: seu registro é facultativo e pode ser desempenhado após o exercício efetivo de suas atividades. Assim, a inscrição do empresário rural possuirá natureza constitutiva, equiparando-o, para todos os efeitos, às demais classes empresariais. Para o empresário rural “é o registro que faz o empresário”. Este sentido o CC: Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 Empresário regular e irregular: De acordo com o Código Civil, o empresário deve se inscrever perante o Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede (Junta Comercial) antes do início de sua atividade: Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Caso inicie a atividade antes do registro, ainda assim será considerado empresário, embora irregular, podendo ser aplicado os ônus típicos de um empresário, mas não alguns bônus em relação aos quais a lei exige regularidade empresarial (ex: não poderá requerer a falência de um devedor nem pleitear recuperação judicial). Nesse caso, portanto, o registro a posteriori perante a Junta Comercial é declaratório, ou seja, empresário ele já é, mas o registro é necessário para que ele seja considerado regular.
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