Buscar

Paz, justiça e instituições eficazes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A justiça é cega. Uma das frases comumente utilizadas quando se faz referência não somente ao abstrato do que é justo, mas também as instituições que detém o poder de manipulação de tal. Porém, quando se observa a concretude de tal afirmação, esta assume caráter a face de caráter ideológico ante a realidade. 
Isso fica ainda mais claro, quando se observam os dados do ranking mundial sobre a efetividade da justiça e o respeito ao estado de direto, este que vem se deteriorando no mundo. Obviamente, uma deterioração explicitada na relação entre o nível econômico de cada país e os medidores usados para fundamento das pesquisas.
Ficou ainda mais preocupante o acesso a efetividade Justiça e o respeito ao Estado de direto durante a pandemia. O World Justice Project Rule of Law Index, a principal fonte de pesquisa na captação de dados sobre a situação do estado de direito no mundo relata que “...74,2% dos países pesquisados ​​experimentaram declínios no desempenho do estado de direito...”
Diante dessas e demais preocupações, a ONU (Organização das Nações Unidas) evoca metas que conduzem em direção a “Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis”[footnoteRef:1]. [1: IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. https://www.ipea.gov.br/ods/ods16.html. Acesso em: 24 de abril de 2022.] 
Quando saímos do âmbito mundial, partindo para o nacional, percebemos que há predisposição, por parte da ONU Brasil, em caminhar rumo à inserção do objetivo do desenvolvimento sustentável número 16, em especial, a meta 16.3, visto inclusive pela adequação do seu texto base a realidade brasileira, sendo: “Fortalecer o Estado de Direito e garantir acesso à justiça a todos, especialmente aos que se encontram em situação de vulnerabilidade.”[footnoteRef:2] [2: Ibid., 2022.] 
Mesmo diante da boa vontade de instituições como a ONU Brasil, a realidade não demonstra nitidamente favorável a tal implementação no país. Isso pelos motivos anteriormente citados, a nível mundial, e com os atenuantes próprios da sociedade brasileira, que vão desde déficit de servidores(as) na Defensoria Pública à discriminação que omite o direito como arma de manutenção do status quo.
Tomemos como exemplo de desigualdade o déficit no número de defensores(as) públicos, o que expressa omissão ante o menos favorecido que depende se sua atuação no acesso a justiça.
Segundo a CNN Brasil, em matéria do dia 04.08.2021, ressalta que “o Brasil tem um déficit de pelo menos 4,5 mil defensores(as) para atender toda a população em situações de vulnerabilidade no Brasil”. Até aquela data, o acesso à justiça muito demonstrava-se centralizado na região sudeste dado o número de defensores(as) atuantes no estado de São Paulo que possuía, até a época, 768 advogados públicos.
Em contrapartida temos o estado de Santa Catarina, alvo de nossa ótica regional. De acordo com o 2º Mapa das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital do Brasil, feito em agosto de 2021, o estado possuía 1 defensor(a) público para cada 54.076 pessoas. 
Atualmente, conforme o próprio site da Defensoria Publica do Estado de Santa Catarina, o quadro é de 100 defensores titulares distribuídos em 24 núcleos regionais, prefigurando a média de 71.650 pessoas atendidas por defensor(a), o que não passa nem perto do ideal de atendimento previsto de 15.000.
O papel de cada defensor(a) público é atribuído através das resoluções do Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado de Santa Catarina (CSDPESC). Sua atuação passa por todas as esferas do direito, tornando-se este de suma importância na preservação e manutenção da justiça àquele que se encontra em situação de vulnerabilidade.
Por isso, diante do quadro apresentado, existe a necessidade de expansão do atendimento, visto a obviedade da desigualdade na manutenção efetiva da justiça e o respeito ao estado de direto, quando comparado o número de defensores(as) públicos em Santa Catarina (100) ao número total de advogados no estado que é de 53.085, sendo 29.102 homens e 23.983 mulheres, segundo a matéria “A nova geração da advocacia catarinense é feminina”, de 07/03/2019, exposta no site da OAB-SC.
Diante de todo o quadro exposto conclui-se que há a necessidade de instrumentos para “Fortalecer o Estado de Direito e garantir acesso à justiça a todos, especialmente aos que se encontram em situação de vulnerabilidade”, como propõe a Meta 16.3 da ONU Brasil. Visto que o estabelecimento e ampliação de tal instrumento possuí um caráter não somente de cunho institucional, mas profundamente existencial, caráter esse objeto de estudo filosófico.
A preservação da justiça e do direito possibilita ao ser amplitude de conexão com a sua existência e desenvolvimento de suas possibilidades em quanto ser. É o ser tendo o direto de ser. Por isso a justiça pode até ser cega, mas as instituições não podem deixar de enxergar e lutar contra as injustiças para que o ser seja.
Protocolo: 202204253651830466D7262D80

Outros materiais