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Prévia do material em texto

Fundamentos de Estudos Jurídicos 
Aplicados à Segurança Pública
VALÉRIO LOUSADA DE CARVALHO
1ª Edição
Brasília/DF - 2020
Autores
Valério Lousada de Carvalho
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4
Introdução ............................................................................................................................................................................. 6
Capítulo 1
Fundamentos Políticos do Constitucionalismo Moderno ............................................................................... 9
Capítulo 2
Constituição e Sociedade .........................................................................................................................................17
Capítulo 3
Democracia e Esfera Pública Moderna ...............................................................................................................26
Capítulo 4
Princípios e direitos fundamentais na CF/1988 ..............................................................................................40
Capítulo 5
O sistema de segurança pública brasileiro à luz da CF/1988.....................................................................63
Capítulo 6
Análise histórico-cultural-legal das organizações policiais brasileiras ..................................................71
Referências Bibliográficas ...........................................................................................................................................82
4
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e 
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros 
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, 
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
5
OrgAnIzAçãO DO LIvrO DIDátICO
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
6
Introdução
Nesta disciplina, trataremos do ordenamento constitucional – um constitucionalismo mais 
moderno –, assim como também estudaremos a relação Constituição e sociedade, a democracia 
atual, consentimentos ou não na democracia. Abordaremos, ainda, os princípios e fundamentos 
que dão base a toda a Constituição, que norteiam as ações e decisões que levaram à confecção 
e promulgação da nossa Magna Carta.
Após essa introdução de Constituição, a análise de seus princípios e fundamentos direcionadores, 
partiremos para uma abordagem mais direcionada ao sistema de segurança pública, ou seja, 
às organizações de segurança pública relacionadas na constituição, faremos uma análise 
histórico-cultural-legal dessas organizações, leis que organizam a atividade policial, o exercício 
da atividade policial no Brasil, e fecharemos com uma relação da atividade policial no Brasil e a 
legislação brasileira – seus conflitos e paradigmas.
Objetivos
 » Argumentar pela necessidade da legislação na formação das sociedades. 
 » Definir direito constitucional.
 » Descrever o conceito de constituição segundo as ênfases sociológica, política, jurídica 
e cultural. 
 » Delinear a conjuntura histórica que levou à consolidação dos direitos sociais. 
 » Detalhar as críticas que o positivismo sofreu após a 2ª Guerra Mundial. 
 » Descrever a relação de peso entre os princípios. 
 » Problematizar o jogo de forças entre capacidade de adaptação de uma constituição 
moderna e a necessidade de uma estabilidade jurídica positivista.
 » Compreender a importância da CF/1988 na recente história do Brasil. 
 » Interpretar a ideia de sentimento constitucional. 
 » Delimitar as características da CF/1988. 
 » Descrever o processo de consolidação de uma constituição, observando as características 
do Estado moderno, no Brasil e no mundo. 
 » Relacionar os elementos indispensáveis na busca pela validação constitucional. 
7
 » Descrever os princípios das constituições modernas e as neoconstitucionais. 
 » Delimitar o papel da CF/1988 na orientação da defesa dos direitos, compreendendo 
seus desafios.
 » Definir esfera pública e relacionar suas características. 
 » Detalhar o mecanismo de comunicação entre sociedade pública e privada com a esfera 
política.
 » Definir consenso para Habermas e discutir as críticas apresentadas a esse conceito. 
 » Detalhar a dinâmica entre consenso e dissenso na prática democrática. 
 » Explicar as teorias participacionista, deliberacionista e realista. 
 » Discutir o conceito de pluralismo na democracia e as formas de lidar com o dissenso.
 » Detalhar o sentido de tolerância por Paulo Freire.
 » Caracterizar os princípios fundamentais da Constituição.
 » Distinguir entre princípios jurídico-constitucionais e princípios político-constitucionais.
 » Definir República, Estado e federalismo. 
 » Detalhar as características do federalismo.
 » Diferenciar União e Federação. 
 » Definir território, soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais. 
 » Relacionar Pluralismo político à proteção e o respeito à diversidade. 
 » Defender o Poder Constituinte. 
 » Detalhar os poderes da União.
 » Delimitar as intenções de transformação social na Constituição.
 » Definir interdependência, prevalência dos Direitos Humanos e autodeterminação, não 
intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz. 
 » Defender o repúdio ao terrorismo e racismo.
 » Detalhar a concessão de asilo político.
 » Explicar o respeito dos direitos individuais e coletivos na nossa sociedade.
 » Delimitar a noção de segurança e observar sua importância no Estado Democrático de 
Direito. 
8
 » Caracterizar a função das instituições de segurança pública.
 » Detalhar os componentes do sistema de segurança pública. 
 » Conceituar segurança pública.
 » Relacionar os órgãos responsáveis por atuar na segurança da sociedade. 
 » Explicar o que são órgãos normativos.
 » Caracterizar o Conselho Nacional de Segurança Pública.
 » Relacionar os componentes do Ministério da Segurança Pública.
 » Narrar o desenvolvimento histórico da legislação sobreas polícias.
 » Delimitar a noção de “sensação de segurança”.
 » Descrever as competências da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia 
Ferroviária Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiro Militar e Guardas 
Municipais.
 » Analisar a função da Força Nacional de Segurança Pública.
9
Introdução ao Capítulo 
Olá! Estamos iniciando a disciplina Fundamentos de Estudos Jurídicos. Ao trabalharmos esse 
assunto, trataremos do ordenamento constitucional – um constitucionalismo mais moderno –, 
assim como estudaremos a relação Constituição e sociedade, a democracia atual, consentimentos 
ou não na democracia. Abordaremos, ainda, os princípios e fundamentos que dão base a toda 
a Constituição, que norteiam as ações e decisões que levaram à confecção e promulgação da 
nossa Magna Carta.
Provocação
PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
A Constituição de 1988 representou um marco da democracia brasileira e a superação do 
regime militar implantado em 1964.
O dia da promulgação
Em 5 de outubro de 1988, dia em que foi promulgada a nova Constituição brasileira, o 
Jornal Nacional, em vez da tradicional escalada de notícias, anunciou apenas esse fato. 
O apresentador Cid Moreira chamou atenção para a data histórica e, em seguida, foi exibida 
a imagem do momento em que o deputado Ulysses Guimarães declarou promulgado “ o 
documento da liberdade, da dignidade, da democracia, da justiça social 
do Brasil ”.
A nova Carta ratificou o presidencialismo como forma de governo e, entre diversas garantias 
civis, sociais e trabalhistas, estabeleceu eleições diretas em dois turnos para presidente, 
governadores e prefeitos, afirmou a independência dos três poderes, restringiu a atuação das 
Forças Armadas, estendeu o voto a analfabetos e maiores de 16 anos e universalizou o direito 
de greve.
O texto lido por Cid Moreira no Jornal Nacional destacou o quanto aquela Constituição, a 
sétima do país, mexia com a vida de todos os brasileiros, garantia novos direitos ao cidadão, 
equilibrava os poderes da República e refletia o amadurecimento político da nação.
No final, a edição do telejornal destacou ainda uma reportagem contando o passo a passo da 
promulgação da nova Constituição no plenário da Câmara.
Reportagem Memória Globo – disponível em http://memoriaglobo.globo.com/programas/
jornalismo/coberturas/promulgacao-da-constituicao/o-dia-da-promulgacao.htm.
1
CAPÍTULO
FUnDAMEntOS POLÍtICOS DO 
COnStItUCIOnALISMO MODErnO
10
CAPÍTULO 1 • FUnDAMEntOS POLÍtICOS DO COnStItUCIOnALISMO MODErnO
Como você pôde ver na reportagem anterior, o portal Memória Globo reverencia o dia da promulgação da Constituição 
Federal de 1988. Esse é, para muitos, o dia mais importante da história recente de nosso país. Se quiser, você pode ver o vídeo 
da promulgação no link http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/promulgacao-da-constituicao/
o-dia-da-promulgacao.htm.
Para você, qual é a importância desse dia? 
Tente escrever um parágrafo sobre esse dia que possa ser lido por uma pessoa da sua família daqui a vinte anos. Como você 
contaria a importância desse fato histórico para as futuras gerações?
No decorrer deste capítulo, você retomará a resposta que escrever agora. 
Objetivos do Capítulo 
 » Argumentar pela necessidade da legislação na formação das sociedades. 
 » Definir direito constitucional.
 » Descrever o conceito de constituição segundo as ênfases sociológica, política, jurídica 
e cultural. 
 » Delinear a conjuntura histórica que levou à consolidação dos direitos sociais. 
 » Detalhar as críticas que o positivismo sofreu após a 2ª Guerra Mundial. 
 » Descrever a relação de peso entre os princípios. 
 » Problematizar o jogo de forças entre capacidade de adaptação de uma constituição 
moderna e a necessidade de uma estabilidade jurídica positivista.
11
FUnDAMEntOS POLÍtICOS DO COnStItUCIOnALISMO MODErnO • CAPÍTULO 1
Diferentes Conceituações de Constituição
Desde que o ser humano começou formar sociedades, viver em comunhão, constituir povos 
ou nações, verificou-se a necessidade de um ordenamento jurídico superior para regular essas 
relações, uma normatização regulada pelo então Direito Constitucional.
Como exemplo da necessidade de legislação, veja o que afirma Gabriel Dezen Júnior sobre a 
obra de Aristóteles denominada Política:
Na Política, desse eminente grego, encontramos que a “Constituição do Estado 
tem por objeto a organização das magistraturas, a distribuição dos poderes, as 
atribuições de soberania, numa palavra, a determinação do fim especial de cada 
associação política”. Esse conceito é assombrosamente próximo da compreensão 
que se imporia séculos após. 
Dezen Jr, 1998.
Podemos perceber com o trecho acima que o direito constitucional, nos dias de hoje, retoma 
aspectos importantes do direito grego. Assim, a constituição do Estado é organizada por um 
regime legal abrangente, que engloba a forma como os poderes são distribuídos, os magistrados, a 
soberania. Mas constituição é um conceito polissêmico: existem modos diferentes de entendê-la. 
Ênfase sociológica, de acordo com Ferdinand Lassalle
A Constituição regula-se de acordo com o desenvolvimento 
da sociedade, necessidades e anseios. Ela é fruto das relações 
sociais, e de nada adianta um documento escrito se a regra 
codificada não corresponde aos costumes e tradições da 
coletividade. O autor afirma que é a soma mais efetiva do 
poder que predomina na coletividade. Para Lassalle (2000-
2006), a Constituição não passa de um pedaço de papel se não 
corresponder a uma Constituição real ou efetiva, que sempre 
deve advir dos anseios sociais, das tradições e costumes. O que 
nos leva a considerar que a legislação, em seu sentido mais 
básico, aponta para a sociabilidade humana. 
Figura 1 – Imagem ilustrativa da sociabilidade.
Fonte: http://fatosociologico.blogspot.com/2010/05/conceitos-sociologicos-fundamentais.html.
Importante
O direito constitucional é o ramo do 
direito que controla e sistematiza as 
leis fundamentais do Estado, regula 
as demais normas, é superior a elas, 
prevalecendo caso haja alguma 
discordância. É uma lei fundamental e 
suprema da sociedade que estabelece 
em seu texto as normas de organização 
do Estado e dos poderes, e declara os 
direitos e garantias fundamentais.
12
CAPÍTULO 1 • FUnDAMEntOS POLÍtICOS DO COnStItUCIOnALISMO MODErnO
Ênfase política, de acordo com por Carl Schmitt
A Constituição, para Carl Schmitt (2007), é fruto de uma decisão política 
fundamental, tendo em vista que ela surge por meio de princípios e ideias 
em um determinado momento histórico. A Constituição antecede as Leis 
Constitucionais. De acordo com o conceito político, ela se divide em duas 
vertentes: conteúdo material, ou norma materialmente constitucional; e 
conteúdo formal, ou norma formalmente constitucional.
Quadro 1 – vertentes do Conceito Político de Constituição.
Conteúdo Material Conteúdo Formal
As normas materiais possuem força normativa, impõem 
obrigações, defendem direitos, englobam os princípios 
constitucionais, os direitos fundamentais, direitos 
individuais, direitos sociais, nacionalidades, direitos 
políticos, partidos políticos, organização política 
administrativa e organização dos poderes.
As normas formais não possuem essa força impositiva; 
no geral, ela direciona, orienta e autoriza a regulação por 
leis, por exemplo, o Preâmbulo da CF/1988.
Elaboração: próprio autor. 
Ênfase jurídica proposta por Hans 
Kelsen
A Constituição é a norma pura que dá origem à construção de 
todo ordenamento jurídico (leis e atos administrativos) e, por 
isso, possui hierarquia sob todo ordenamento jurídico. Segundo 
Hans Kelsen (1993), ainda, a Constituição situa-se no plano do dever-ser; ela foi feita para ser 
pura e simplesmente cumprida, independentemente de posições sociais, situação política e 
econômica, ou melhor, suprema e positivada de cumprimento obrigatório.
Figura 2 – Pirâmide de Kelsen
 
Fonte: https://blogdoguerra.com/2011/01/13/constituicao-leis-portarias-o-que-e-isso-e-ordenamento-juridico/.Ênfase cultural, defendida por Konrad Hesse, 
Peter Häberle e Paulo Bonavides
Esse conceito pretende integrar dimensões que já vimos nas 
propostas anteriores. Para os autores, a Constituição tem que 
ser uma mescla de social, política e jurídica, deve englobar os 
Saiba mais
Para conhecer mais sobre a ênfase 
sociológica, você pode ler o livro O que 
é Constituição?, de Ferdinand Lassalle 
(LASSALLE, 2000-2006).
Saiba mais
Para conhecer mais sobre a ênfase 
política, você pode ler o livro 
Legalidade e Legitimidade, de Carl 
Schmitt (SCHMITT, 2007). 
Saiba mais
Para conhecer mais sobre a ênfase 
jurídica, você pode ler o livro A 
Democracia, de Hans Kelsen (KELSEN, 
1993)
13
FUnDAMEntOS POLÍtICOS DO COnStItUCIOnALISMO MODErnO • CAPÍTULO 1
anseios da sociedade, derivar de uma decisão política fundamentada e ser uma norma suprema 
positivada.
Saiba mais
Para aprimorar-se nas ideias de Konrad Hesse, você pode ler o livro Temas Fundamentais do Direito Constitucional (HESSE, 
2009). 
Para conhecer mais sobre o pensamento de Peter Häberle, você pode ler o artigo Breve ensaio acerca da hermenêutica 
constitucional de Peter Häberle, de Rafael Caiado Amaral (AMARAL, 2003). 
Por fim, para um detalhamento da abordagem do direito constitucional feita por Paulo Bonavides, você pode ler o livro 
Curso de Direito Constitucional (BONAVIDES, 1994). 
Provocação
Lembra-se de que, no início deste capítulo, você escreveu sobre a CF/1988? Então, quando você escreveu sobre a 
constituição, a partir de qual perspectiva você argumentou? Retome suas anotações e verifique qual das ênfases acima mais 
se aproxima das ideias que você utilizou.
Fundamentos Políticos do Constitucionalismo Moderno
Com fim da 1ª Guerra Mundial, os seres humanos começaram a exigir mais direitos protegidos 
pelo Estado, com especial ênfase nos direitos sociais. Foi quando começou a surgir o conceito 
de Estado social, um Estado que se comprometia mais em dar educação, saúde, trabalho e 
previdência, uma assistência mais próxima aos seus governados. 
Já com o final da 2ª Guerra Mundial e em decorrência de atrocidades que ocorreram, esses direitos 
sociais evoluíram em grandes países da época, entre eles, Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e o 
Brasil. Tais países depararam-se com um impasse jurídico entre o positivismo de Hans Kelsen – a 
Constituição é puramente o conteúdo impresso, não sofrendo modificação para se adequar ao 
contexto social ou reivindicações populares – e surgimento de uma gama de direitos difusos, com 
expressões como dignidade da pessoa humana, supremacia dos direitos humanos, funções sociais 
da propriedade, trabalho digno e susto, salário proporcional, igualdade de direitos, igualdade entre 
homens e mulheres e vários outros que estavam inerentes a uma Constituição mais moderna e justa. 
Com essa nova perspectiva, apoiada numa nova ordem social e reforçada por direitos muito mais 
amplos e humanos, a força normativa, pura e simplesmente, perde lugar para os princípios, que 
saem de trás do palco para preencher uma lacuna no protagonismo constitucional.
Numa breve citação de Canotilho, conforme apresentado por Flávia Bahia (2017):
Tanto o princípio como a regra sejam espécies de norma, o princípio se diferencia da 
regra porque, em livre resumo, tem um maior grau de abstração, por trazer sempre 
14
CAPÍTULO 1 • FUnDAMEntOS POLÍtICOS DO COnStItUCIOnALISMO MODErnO
um caráter de fundamentalidade dentro do sistema e um maior compromisso 
com a ideia de justiça e, enfim, por ser o próprio fundamento da regra, sendo 
esta um desdobramento casuístico do princípio. 
Diante da complexidade em transformar princípios em regras – leis –, os princípios transformaram-se 
em verdadeiros pilares constitucionais, direcionando o nascimento dos fundamentos 
constitucionais, já que explicamos a importância destes numa sociedade organizada. Nessa complexa 
mudança, notamos que, numa ideia positivista em que a legalidade é formada por regras escritas ou 
leis, torna-se quase impossível ao governante antever todas as possibilidades jurídicas. 
Assim, diante da máxima de que direito deve ser o que está escrito, alguns acontecimentos estarão 
longe do alcance legal, o que evidenciará que a legislação é falha. Por outro lado, as regras devem 
ser claras para que não haja interpretações inadequadas, ou para que o juízo não corra o risco 
de criar interpretações.
Por outro lado, não podemos falar que uma regra é mais 
importante que outra. Sendo de mesma ordem, ela pode até 
ter maior importância com a resolução, mas nunca se essas 
regras saírem de um mesmo ordenamento ou ocuparem a 
mesma escala de importância na ordem jurídica.
Perceba como bem coloca essa questão o texto de Flávia Bahia 
(2017):
ainda, que, embora princípio e regras 
devam atender igualmente aos ideais de 
justiça, os princípios estão mais próximos 
dessa finalidade do que as regras, em razão 
de seu alto conteúdo axiológico e moral e, 
ademais, por constituírem a própria ratio 
das normas jurídicas. 
Nessa linha de pensamento, também devemos observar o que apontam Teizeria Tavares e Iris 
Eliete (1998):
expresso uma necessidade de reformas constitucionais, as reformas são 
imprescindíveis como adaptações da mudança constitucional às condições 
sociais em constante modificação; mas devem ser efetuadas com cuidado e 
reserva, sem o que desvalorizam o “sentimento constitucional”. 
Tal argumentação é desenvolvida em consonância com a perspectiva de Antonio Porras Nadales:
em que esclarece esse aspecto e analisa a forma pela qual se opera a absorção das 
mudanças pelo Direito Constitucional. Percebe ele, no modelo atual do Estado 
social, uma dualidade paradoxal:
Atenção
Diante dessas dúvidas, os juristas que 
defendem os princípios diante das 
regras justificam que os dois resolvem 
situações particulares e únicas, mas 
os princípios, além de trazerem uma 
solução aplicável ao caso concreto, têm 
seu embasamento no comportamento 
geral ou médio. Outro ponto defendido 
é que os princípios possuem um peso 
no contexto social e cultural. Se, na 
situação em si, houver um conflito 
entre princípios, o princípio que tiver 
maior peso ou importância deve 
prevalecer na solução do conflito. 
15
FUnDAMEntOS POLÍtICOS DO COnStItUCIOnALISMO MODErnO • CAPÍTULO 1
a) de um lado, são sistemas sociais em permanente processo de transformação, 
onde a inovação, o desenvolvimento tecnológico, a adaptação à complexidade 
e, portanto, a mudança são uma exigência da própria dinâmica da ordem social 
ou jurídica da constituição;
b) por outro lado, temos a ordem constitucional e seu sistema de valores 
consagrado como um elemento necessário de estabilidade, no qual há uma 
“dimensão social transcendente de lealdade e legitimação – como assinalou 
Habermas” – capaz de processar e amortizar as mudanças geradas na periferia 
do sistema.
(TAVARES; ELIETE, 1998)
Temos, de um lado, a capacidade de adaptação de uma constituição moderna diante dos anseios 
sociais, as evoluções mundiais, a industrialização e constantes modificações estruturais, e do 
outro a necessidade de uma estabilidade jurídica positivista, uma manutenção das regras atuais, 
mesmo com uma capacidade limitada diante dos progressos constantes.
A grande dúvida é como resolver o dilema jurídico da introdução de novas ordens constitucionais 
num campo de saber tão sistêmico, mas ao mesmo tempo adaptável:
a. somente é necessária a conceituação técnica e jurídica, um estudo amparado de 
juridicidade, o que demanda interpretação Constitucional; ou
b. por ser uma demanda social em si, somente tem poder de recepção Constitucional, 
desde que venha precedida de um debate, participação popular e demais convenções 
sociais, e tem fundamentação suficiente para o ingresso e legitimação.
Sintetizando
Vimos até agora:
 » O conceito de constituição segundo as ênfases sociológica, política, jurídica e cultural. 
 » A conjuntura histórica que levou à consolidação dos direitos sociais.
 » As críticas queo positivismo sofreu após a 2ª Guerra Mundial.
 » A relação de peso entre os princípios.
 » O jogo de forças entre capacidade de adaptação de uma constituição moderna e a necessidade de uma estabilidade 
jurídica positivista.
 » A legislação é necessária na formação das sociedades.
 » O direito constitucional é o ramo do direito que controla e sistematiza as leis fundamentais do Estado, que regula as 
demais normas, é superior a elas, prevalecendo caso haja alguma discordância. 
 » Na ênfase sociológica, a Constituição regula-se de acordo com o desenvolvimento da sociedade, necessidades e anseios.
 » Na ênfase política, a Constituição é fruto de uma decisão política fundamental, tendo em vista que ela surge por meio de 
princípios e ideias, em determinado momento histórico.
16
CAPÍTULO 1 • FUnDAMEntOS POLÍtICOS DO COnStItUCIOnALISMO MODErnO
 » As normas materiais possuem força normativa, impõem obrigações, defendem direitos. Elas englobam os princípios 
constitucionais, os direitos fundamentais, direitos individuais, direitos sociais, nacionalidades, direitos políticos, partidos 
políticos, organização política administrativa e organização dos poderes.
 » As normas formais não possuem essa força impositiva. No geral, ela direciona, orienta e autoriza a regulação por leis.
 » Na ênfase jurídica, a Constituição é a norma pura que dá origem à construção de todo ordenamento jurídico (leis e atos 
administrativos), e, por isso, possui hierarquia sob todo ordenamento jurídico. 
 » A ênfase cultural pretende integrar dimensões, afirmando uma mescla de social, política e jurídica, na qual a constituição 
deve englobar os anseios da sociedade, derivar de uma decisão política fundamentada e ser uma norma suprema 
positivada.
 » A priorização dos direitos sociais está ligada ao contexto histórico da 1ª e 2ª Guerras Mundiais.
 » OS princípios possuem um peso no contexto social e cultural.
 » Existe um jogo de forças entre, de um lado, a capacidade de adaptação de uma constituição moderna, e, de outro, a 
necessidade de uma estabilidade jurídica positivista.
17
Introdução ao Capítulo 
No Capítulo 1, estudamos os elementos fundamentais do direito constitucional. Neste capítulo, 
vamos abordar a relação entre a constituição e a sociedade. Estudaremos o processo de 
construção e validação de uma constituição, buscando compreender as dinâmicas sociais e 
jurídicas envolvidas. 
Objetivos do Capítulo 
 » Compreender a importância da CF/1988 na recente história do Brasil. 
 » Interpretar a ideia de sentimento constitucional. 
 » Delimitar as características da CF/1988. 
 » Descrever o processo de consolidação de uma constituição, observando as características 
do Estado moderno, no Brasil e no mundo. 
 » Relacionar os elementos indispensáveis na busca pela validação constitucional. 
 » Descrever os princípios das constituições modernas e as neoconstitucionais. 
 » Delimitar o papel da CF/1988 na orientação da defesa dos direitos, compreendendo 
seus desafios. 
Provocação
O movimento Diretas Já constituiu uma importante mobilização social no Brasil, entre os anos de 1983 e 1984. Foi um 
movimento social pelas eleições diretas para presente do Brasil. O povo foi às ruas exigir uma mudança política que 
permitisse à população ter voz sobre os destinos da nação. 
2CAPÍTULOCOnStItUIçãO E SOCIEDADE
18
CAPÍTULO 2 • COnStItUIçãO E SOCIEDADE
Figura 3 – Movimento Diretas Já – Manifestação em Brasília, diante do Congresso nacional.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1a/Diretas_J%C3%A1.jpg/300px-Diretas_J%C3%A1.jpg.
Esse movimento representa uma apropriação social dos direitos políticos e forma um conjunto de fatos históricos 
importantes para se entender o processo de legitimação social do governo.
Neste capítulo, vamos falar de legitimação social. O que você sabe sobre esse assunto?
Escreva um parágrafo sobre essa ideia principal: o governo do povo.
19
COnStItUIçãO E SOCIEDADE • CAPÍTULO 2
Constituição e Sociedade 
Na recente História do Brasil, uma das formas de efetivar a transição entre o autoritarismo 
da ditadura militar de 1964 e a democracia foi a promulgação da Constituição Federal 
de 1988. Sob a égide da democracia e com fundamentos voltados à dignidade da pessoa 
humana e na proteção aos direitos humanos, a CF/1988 perpetuou-se e hoje ganha 
força não somente no mundo jurídico, mas também nas reinvindicações sociais, nos 
movimentos da sociedade civil organizada e em boa parte da sociedade ativa.
O histórico das Constituições brasileiras não tem sido favorável no sentido de se respeitar 
as normas. Várias constituições anteriores foram desrespeitadas em algum momento. 
Exemplo disso é a emancipação de D. Pedro II, assim como constituem exemplos de 
quebra das normas constitucionais os atos institucionais no regime militar, entre outros.
Atualmente, temos uma Constituição sólida que já perdura por 30 anos. Mesmo com 
todos os acontecimentos recentes que colocam em questão a manutenção da norma 
constitucional na história recente do país – dois impeachments e outros fatos importantes 
–, não há uma ruptura declarada dos princípios constitucionais, e a Carta Magna 
ainda é o ponto-base, na condição de norma suprema, da atual democracia brasileira. 
A Constituição ganhou força normativa, e setores importantes da sociedade conclamam 
os poderes públicos a vê-la como uma norma que precisa ser respeitada. E mais um ponto 
importante para se destacar é a importância jurídica que ela conserva, diferentemente de 
constituições brasileiras anteriores, que eram vistas por muitos como normas retóricas.
Toda essa estrutura constitucional, composta de norma autêntica, foi de primordial 
importância para amparar garantias jurídicas, que ganharam forças em suas decisões. 
Seus fundamentos norteiam as decisões mais importantes e fundamentais na República, 
e seus princípios direcionam o mundo jurídico para o bem comum.
A Constituição também tem ganhado importância no contexto social. O “sentimento 
constitucional” tem crescido nas reinvindicações e manifestações. A sociedade tem 
conseguido, cada vez mais, incorporar seus princípios e exigir seus direitos. Suas 
promessas constitucionais têm se aproximado de seus objetivos. Mesmo que a passos 
lentos, o mundo jurídico e os poderes públicos têm presenciado cada vez mais essa 
aproximação da norma com realidade social, política e institucional. Mas há, ainda, 
um abismo entre a norma e seus objetivos, mesmo que possamos afirmar que houve 
melhoras. Quanto mais necessitado for o alvo, maior é o precipício entre a norma e sua 
efetividade. (BONAVIDES, 2000; BARROSO, 1998).
É impossível não perceber a discrepância entre a norma constitucional e seus objetivos. 
A Constituição preceitua normas que nem mesmo tornaram-se realidade implementada 
20
CAPÍTULO 2 • COnStItUIçãO E SOCIEDADE
e determina coisas que nunca existiram. Não há dúvidas de que ainda temos vários 
problemas, mas estes não se resolverão com a ação isolada dos entes públicos. É necessária 
atuação conjunta entre o poder público e a sociedade.
Com a reaparição da democracia, consolidada com a promulgação da Constituição Federal 
de 1988, a demanda por uma ordem mais protetiva e humanitária e a desvinculação 
de um Estado autoritário fizeram com que a Carta Magna fosse carregada de direitos 
fundamentais individuais e coletivos com diversos vínculos sociais, que a caracteriza 
como uma Constituição moderna.
A carta maior da República Federativa do Brasil tem total capacidade de uma plena 
eficácia, pois tem uma moldagem contemporânea. Trata-se de uma construção com 
base nas crescentes democracias do pós-guerra e precedida de uma ditadura militar; 
uma norma em que se privilegia a dignidade da pessoa humana, os direitos humanos e 
o amparo social. Inspirada em constituições como a alemã, a portuguesa e influenciada 
pela norte-americana, ela já nasce com os novos ditames democráticos, com uma clara 
convicção de dignidade e um avançoconsiderável dos direitos humanos.
Uma Constituição deve se impor como 
norma jurídica. Ela tem força e autonomia 
para ser reconhecida como tal. Mas seu 
reconhecimento como força máxima resulta 
de uma composição entre a norma e um 
fator histórico. A Constituição precisa de 
um período para conseguir expressividade. 
Por si mesma, a Constituição não ocupa o 
espaço que lhe é devido. Ela precisa se fixar 
e alcançar o respeito da sociedade. Uma 
norma constitucional não convence uma 
nação se não houver um consenso para dar 
legitimidade a ela, identificar os interesses 
da esfera pública. Ela precisa passar por um 
contexto de reivindicações da sociedade, 
ouvir as necessidades, elencar prioridades 
e saber quais são os anseios do seu povo.
Esse é o posicionamento do Ministro da 
Suprema Corte Luiz Edson Fachin, expresso 
da seguinte forma:
...uma Constituição não nasce Constituição, ela se faz Constituição.
FACHIN, 2008.
Provocação
A Constituição Brasileira é uma Constituição que deve 
ser concebida em qual sentido? Presume-se que dessa 
resposta possa haver uma fagulha de luz que ilumine 
as causas pelas quais uma Constituição democrática 
e com vigência inquestionável, não encontra na 
sociedade um reflexo daquilo que se estabeleceu 
juridicamente, sendo que visivelmente optou por ser 
uma Constituição dirigente e não uma Constituição 
meramente organizatória da atuação do Estado.
Bernardi; Pierobon, 2014.
Coloque-se a pensar com o conhecimento que você já 
adquiriu no capítulo 1 e neste capítulo e responda às 
seguintes questões:
 » Para você, qual seria o verdadeiro sentido da 
Constituição Federal de 1988?
 » Você acha que ela consegue dar efetividade ao que se 
propõe?
 » De quem seria a responsabilidade para uma melhor 
efetividade?
21
COnStItUIçãO E SOCIEDADE • CAPÍTULO 2
Um exemplo bem exagerado para fixarmos esse processo seria o seguinte: digamos 
que no ano de 2019 um Senador da República proponha um projeto de Emenda à 
Constituição em que, na copa do mundo de 2022, no Qatar, os brasileiros não poderão 
torcer pela seleção brasileira; que todos tenham até o dia 31/12/2021 para aderir à seleção 
argentina. Votada, aprovada e sancionada, essa Emenda à Constituição vai ter validade? 
Desde que sejam observados os procedimentos, sim. Essa lei terá eficácia? Não, uma 
vez que não é um consenso da população, não são nossos anseios, não é decorrente de 
nossas reivindicações. É uma necessidade comum da população?
Saiba mais
Para saber mais sobre o processo de consolidação da CF/1988, você pode ler o artigo Dez anos da Constituição de 1988, de 
Luís Roberto Barroso (1998).
Para estudar sobre o desenvolvimento do constitucionalismo no Brasil, você pode ler o artigo A evolução constitucional do 
Brasil, de Paulo Bonavides (2000).
O neoconstitucionalismo Moderno
Será necessário conhecermos um pouco mais da história da nossa Constituição para 
que possamos entender qual é o papel da Constituição e qual é a sua principal função. 
Ela é uma constituição dirigente – propõe direcionar os poderes ao que se deseja – ou é 
organizacional – que simplesmente organiza o funcionamento do estado e deixa que as 
leis ordinárias e complementares cuidem da proteção de direitos e deveres da República?
Nossa constituição já nasce num constitucionalismo moderno, que ocorreu a partir do 
pós-guerra e saiu de um regime autoritário – no qual o Estado afastava-se das questões 
sociais e muitas vezes usava a força para se perpetuar no poder – para iniciar um regime 
liberal/social, em que as questões sociais ganham força, mas continuam com limitação 
estatal, um movimento que aconteceu com várias similaridades, mas sem vinculação 
em diversas partes do ocidente. É importante frisarmos que esse constitucionalismo 
moderno partiu de um regime autoritário, transformando as relações da sociedade com 
o Estado. Os anseios e expectativas da modernidade são diferentes do que veremos no 
neoconstitucionalismo. No moderno, eles vinham de um Estado considerado inimigo do 
seu povo; um Estado em que suas vontades eram impostas com a força de seus exércitos.
O Estado moderno vem fortemente amparado por um positivismo jurídico, assegurando a atuação 
do Estado na aplicação da lei, em que protege os direitos individuais e caminha na intenção de 
uma maior proteção aos direitos sociais, mas não permite ações de longa duração.
O neoconstitucionalismo surge num Estado mais voltado para a dignidade da pessoa 
humana, mesmo que com ações limitadas, e uma legislação que tenta superar o positivismo 
22
CAPÍTULO 2 • COnStItUIçãO E SOCIEDADE
do Estado moderno. Essa nova retórica vem com a exigência de um Estado mais ligado 
ao constitucionalismo, em que a lei não seja somente para impor direitos e obrigações 
em uma norma positivada, mas que se ligue aos seus princípios, à hermenêutica, e 
coadune com a moral.
São diversas as teorias do neoconstitucionalismo, mas a ideia central é dar força à 
Constituição para sair do mundo do “mandar fazer” – da organização – para o mundo do 
“é assim que devemos fazer” – direção – e com isso também trazer nova interpretação e 
maior controle de constitucionalidade. O Judiciário ganha força nesse papel. As discussões 
devem ser pautadas numa corte estabelecida para tal. Essa corte também deve ser a 
responsável pelo controle de constitucionalidade.
Com o surgimento do neoconstitucionalismo no Brasil, mesmo quando ainda estávamos 
engatinhando no constitucionalismo moderno, a Constituição buscou ser ainda mais ativa; 
buscou uma maior verticalização da norma. A Constituição traz em seu texto a tentativa 
de “tomar as rédeas” na proteção dos direitos individuais e coletivos, tentando suprir a 
edição de leis ordinárias, e, com isso, ela passa a ser o recurso que a sociedade tem. Em 
outras palavras, a Carta Magna “diz ao povo que ela será a grande garantidora de direitos, 
que sua nação tratará direto com ela e o que ela achar pertinente será delegado às leis 
ordinárias e complementares, mas não abre mão de cuidar das coisas mais importantes”. 
Com essas novas formas interpretativas, os métodos anteriores não foram abandonados. 
Só houve uma espécie de aprimoramento da técnica ou a inclusão de novos métodos 
que também completavam os já existentes (DALLARI, 2010).
No Brasil, a Constituição ganhou os traços do 
neoconstitucionalismo. Ela se faz promulgar (escrita) em 
suas intenções de aplicabilidade, muitas vezes indicando 
positivamente as regras que podem se sobrepor às falhas 
que possam surgir com a ausência do Estado. Isso quer 
dizer que, por muitas vezes, a Constituição é o recurso 
que a sociedade tem para sanar as falhas estatais, sem 
a necessidade de leis ordinárias que regulem isso. Essa 
espécie de ligação direta com a sociedade faz com que o Judiciário tome força com o 
terceiro poder, pois grande parte das ações políticas serão deliberadas por meio do crivo 
do Judiciário (CAMBI, 2016).
Um exemplo do papel do Poder Judiciário nessa nova concepção de Constituição do 
Ministro Celso de Mello é bem expresso num de seus votos na Suprema Corte:
É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções institucionais 
do poder Judiciário - e nas desta Suprema corte em especial- a atribuição de 
formular e de implementar políticas públicas [...], pois, nesse domínio, o encargo 
Saiba mais
Para saber mais sobre os percursos 
históricos que marcaram o 
constitucionalismo, você pode ler o 
livro de A Constituição na vida dos 
povos: da Idade Média ao século XXI, 
de Dalmo de Abreu Dallari (DALLARI, 
2010).
23
COnStItUIçãO E SOCIEDADE • CAPÍTULO 2
reside primeiramente, nos Poderes Legislativo e Executivo. Tal incumbência, no 
entanto, embora com bases excepcionais poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, 
se e quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos 
político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal 
comportamento, a eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos 
impregnados de estaturaconstitucional, ainda que derivados de cláusulas 
revestidas de conteúdo programático. [...] o caráter programático das regras 
inscritas no texto da carta política “não pode converter-se em promessa 
constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas 
expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir de maneira ilegítima, 
o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de 
infidelidade governamental ao que determina a própria lei fundamental do Estado”.
Toda essa teoria depende de uma Constituição válida. Depende da força conquistada por ela. 
Uma Constituição que se aproxime do que se propôs a fazer, aproxime-se do ideal buscado 
por ela e não deixe que seus fundamentos fiquem no papel. Um instrumento, portanto, cujos 
princípios sejam praticáveis. Alguns elementos são indispensáveis na busca por essa validação 
constitucional, os quais são elencados por Konrad Hesse:
Baseia-se na compreensão da necessidade e do valor de uma ordem normativa 
inquebrantável, que proteja o Estado contra o arbítrio desmedido e disforme. 
Reside igualmente, na compreensão de que essa ordem constituída é mais do 
que uma ordem legitimada pelos fatos (e que por isso, necessita de estar em 
constante processo de legitimação). Assenta-se também na consciência de que, 
ao contrário do que se dá com uma lei do pensamento, essa ordem não logra ser 
eficaz sem o concurso da vontade humana. Essa ordem adquire e mantém sua 
vigência através de atos de vontade. Essa vontade tem consequência porque a 
vida do Estado, tal como a vida humana, não está abandonada à ação surda de 
forças aparentemente inelutáveis.
(HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. apud BERNARDI; PIEROBON, 2014).
Sistematizando as ideias de Hesse (apud BERNARDI; PIEROBON, 2014), temos os seguintes 
elementos indispensáveis na busca por validação constitucional:
Esquema 1 – Elementos da validação constitucional por Konrad Hesse.
ro
bu
st
ez
: compreensão 
da necessidade 
e do valor de 
uma ordem 
normativa 
inquebrantável le
gi
tim
aç
ão
: Compreensão 
de que essa 
ordem 
constituída é 
mais do que 
uma ordem 
legitimada 
pelos fatos
vo
nt
ad
e: consciência de 
que essa ordem 
adquire e 
mantém sua 
vigência por 
meio de atos de 
vontade
Elaboração: valério Carvalho.
24
CAPÍTULO 2 • COnStItUIçãO E SOCIEDADE
As constituições modernas e consequentemente as neoconstitucionais vêm no sentido de evitar 
que o Estado seja um mal para a sociedade. Devem tentar evitar que o Estado deixe que aconteça 
ou que ele próprio ameace os direitos individuais do cidadão, a dignidade da pessoa humana, 
violando os direitos humanos. Afinal, qual seria a função do Estado senão proteger e fazer com 
que se proteja o seu bem maior: o seu povo?
A Carta Magna brasileira dá um passo ainda maior. Além da função coibente da maioria das 
constituições, ela vem imbuída com a função de orientar a defesa desses direitos, não somente 
de coibir – como grande parte das constituições modernas. Em seus fundamentos, ela indica uma 
atuação social forte, expressa várias vezes em seus artigos. Não constituiu somente um Estado 
de Direito, mas sim um Estado Democrático de Direito, que facilmente poderia ser chamado de 
“Estado Social Direito”.
A Constituição brasileira passou de moderna para o 
neoconstitucionalismo sem mesmo ter conseguido ser 
uma norma moderna. Essa transição foi muito recente na 
nossa história, uma história recente que não comportou as 
necessidades exigidas do constitucionalismo moderno. Isso 
tudo se tornou um problema. Nossas leis são ótimas no papel, 
mas o Estado não comporta essa eloquência e acaba falhando 
no dia a dia estatal.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é a 
passagem do Estado Liberal para o Estado Democrático 
de Direito sem que as ideologias, filosofias e atitudes 
tenham mudado. As instituições, os poderes públicos e até mesmo seu povo devem ter 
a consciência de que as leis devem ser direcionadas ao sujeito, uma vez que o indivíduo 
é o principal objetivo.
Mas a Constituição não é de todo falha. Tem havido uma crescente imposição constitucional. 
Ela tem se mostrado bem efetiva em vários pontos, e a judicialização tem sido um marco. 
O grande problema é que isso deveria partir da política para que essa intervenção fosse 
primordialmente no controle de constitucionalidade.
Sintetizando
Vimos que:
 » Na recente história do Brasil, uma das formas de efetivar a transição entre o autoritarismo da ditadura militar de 1964 e a 
democracia foi a promulgação da Constituição Federal de 1988.
 » O histórico das constituições brasileiras não tem sido favorável no sentido de se respeitar as normas. Várias constituições 
anteriores foram desrespeitadas em algum momento.
Provocação
Diante de tantas informações, dos 
conhecimentos dos fundamentos 
constitucionais e seus princípios, você 
acha que a Constituição conseguiu se 
impor? Faça um apanhado mental, 
em seus direitos, no direito do vizinho 
e no seu município, e escreva um 
parágrafo dissertando criticamente 
se a Constituição Federal de 1988 
conseguiu tudo o que promete. Reflita 
um pouco sobre isso.
25
COnStItUIçãO E SOCIEDADE • CAPÍTULO 2
 » Atualmente, temos uma Constituição sólida que já perdura por 30 anos. Vale destacar a importância jurídica que ela 
conserva, diferentemente de constituições brasileiras anteriores, que eram vistas por muitos como normas retóricas. Seus 
fundamentos norteiam as decisões mais importantes e fundamentais na República, e seus princípios direcionam o mundo 
jurídico para o bem comum.
 » O “sentimento constitucional” tem crescido nas reinvindicações e manifestações. A sociedade tem conseguido, cada vez 
mais, incorporar seus princípios e exigir seus direitos. 
 » Com a reaparição da democracia, consolidada com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a demanda por uma 
ordem mais protetiva e humanitária e a desvinculação de um Estado autoritário fizeram com que a Carta Magna fosse 
carregada de direitos fundamentais individuais e coletivos com diversos vínculos sociais, o que a caracteriza como uma 
Constituição moderna.
 » A carta maior da República Federativa do Brasil já nasce com os novos ditames democráticos, com uma clara convicção de 
dignidade e um avanço considerável dos direitos humanos.
 » Uma Constituição deve se impor como norma jurídica. Ela tem força e autonomia para ser reconhecida como tal. Mas seu 
reconhecimento como força máxima resulta de uma composição entre a norma e um fator histórico.
 » O Estado moderno vem fortemente amparado por um positivismo jurídico, assegurando a atuação do Estado na aplicação 
da lei, em que protege os direitos individuais e caminha na intenção de uma maior proteção aos direitos sociais, mas não 
permite ações de longa duração.
 » O neoconstitucionalismo surge num Estado mais voltado para a dignidade para pessoa humana, mesmo que com ações 
limitadas e uma legislação que tenta superar o positivismo do Estado moderno. 
 » São diversas as teorias do neoconstitucionalismo, mas a ideia central é dar força à Constituição. 
 » Foi concedida à Constituição uma aplicação mais verticalizada. A norma passou a ser garantidora de direito sem 
intermédio de legislação ordinária, o que criou uma forma mais fácil de controle de constitucionalidade.
 » No Brasil, a Constituição ganhou traços do neoconstitucionalismo.
 » Alguns elementos são indispensáveis na busca por essa validação constitucional: compreensão da necessidade e do 
valor de uma ordem normativa inquebrantável; compreensão de que essa ordem constituída é mais do que uma ordem 
legitimada pelos fatos; consciência de que essa ordem adquire e mantém sua vigência por meio de atos de vontade. 
 » As constituições modernas e consequentemente as neoconstitucionais vêm no sentido de evitar que o Estado seja um mal 
para a sociedade.
 » A Carta Magna brasileira vem imbuída com a função de orientar a defesa desses direitos, não somente de coibir – como 
grandeparte das constituições modernas.
 » A Constituição brasileira passou de moderna para o neoconstitucionalismo sem mesmo ter conseguido ser uma norma 
moderna.
 » Outro ponto que deve ser levado em consideração é a passagem do Estado Liberal para o Estado Democrático de Direito 
sem que as ideologias, filosofias e atitudes tenham mudado.
26
Introdução ao Capítulo 
No Capítulo 2, estudamos as constituições e seus processos de produção e legitimação. Vimos 
que, na condição de normas jurídicas, as constituições têm uma relevante função social, como 
elementos definidores, norteadores e organizadores da experiência em sociedade. Neste capítulo, 
vamos trabalhar os processos que envolvem a sociedade, a esfera pública e a política. Debateremos, 
portanto, as lógicas que integram essas esferas, de forma a dar corpo às normas sociais.
Provocação
Só de Sacanagem
Ana Carolina
Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, 
do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, 
pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira 
dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos 
que os precederam:
“ - Não roubarás!”
“ - Devolva o lápis do coleguinha!”
“ - Esse apontador não é seu, minha filha!”
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus 
preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda 
insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
3
CAPÍTULO
DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA 
MODErnA
27
DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA • CAPÍTULO 3
No poema acima, Ana Carolina faz um desabafo sobre tudo de errado que vê acontecendo no cotidiano que a cerca. Desde 
denúncias de corrupção envolvendo o governo até hábitos arraigados nas relações sociais. Como forma de enfrentamento 
desse estado de coisas, ela conclama a todos nós pela adoção de uma postura ética, responsável e comprometida. Vê esse 
posicionamento como uma resistência, uma forma de mudar o padrão de relações e por conseguinte de mudar o mundo. 
Assista ao vídeo da declamação do poema no <link https://youtu.be/cE1VuxpOshI>. 
Você fez ou já teve vontade de fazer um desabafo público como esse? Se teve ou fez, qual você acha que seria ou foi o efeito 
de fazê-lo? Em suma: qual é a potência de soltar a voz no espaço público? 
Faça uma redação sobre o tema “Uma voz na multidão”, buscando abordar suas ideias principais sobre a opinião do cidadão 
na esfera pública. Ao final, vamos ver se os elementos que você trouxe na sua argumentação têm relação com o que será 
discutido neste capítulo. 
Objetivos do Capítulo 
 » Definir esfera pública e relacionar suas características. 
 » Detalhar o mecanismo de comunicação entre sociedade pública e privada com a esfera 
política.
 » Definir consenso para Habermas e discutir as críticas apresentadas a esse conceito. 
 » Detalhar a dinâmica entre consenso e dissenso na prática democrática. 
 » Explicar as teorias participacionista, deliberacionista e realista. 
 » Discutir o conceito de pluralismo na democracia e as formas de lidar com o dissenso.
 » Detalhar o sentido de tolerância por Paulo Freire.
28
CAPÍTULO 3 • DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA
A Esfera Pública Moderna 
A esfera pública é um elo de comunicação entre a sociedade e a esfera política. Compõe 
uma rede ou sistema que se liga na intenção de dar opiniões, ideias e demonstrar 
posicionamentos para que sejam tomadas as decisões no mundo político. Não se trata 
de uma instituição com espaço físico, com normatização e com fixação de funções. É 
um caminho, uma espécie de rede que circula com um objetivo específico: oferecer ao 
Estado os anseios e necessidades da sociedade.
Esquema 2. Esfera pública, por Jürgen Habermas.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Esfera_pública.
Assim sendo, percebemos que a esfera pública integra um 
mecanismo de comunicação entre sociedade pública e privada 
com a esfera política, tendo nas relações interpessoais seu 
ponto de partida. Habermas, um grande definidor de esfera 
pública, informa que ela não pode conter indivíduos do poder 
político, nem mesmo afinar-se com a política institucional. 
Ademais, a esfera pública não tem um espaço definido, pois 
não há uma materialização. Por mais confuso que pareça, Habermas explica que, mesmo que 
não haja um espaço predeterminado, ela está em todos os espaços, podendo até ocupar um 
prédio ou restaurante.
Na definição conceitual a seguir, considerando a facilidade de troca de informações na modernidade, 
Habermas torna mais fácil compreender essa questão de lugar:
Além disso, as esferas públicas ainda estão muito ligadas aos espaços concretos 
de um público presente. Quanto mais elas se desligam de sua presença física, 
integrando também, por exemplo, a presença virtual de leitores situados em 
lugares distantes, de ouvintes ou espectadores, o que é possível através da mídia, 
Saiba mais
Para conhecer um pouco mais da 
definição de esfera pública por Jürgen 
Habermas, você pode ler Direito 
e democracia: entre facticidade e 
validade, de Jürgen Habermas (2003).
https://www.google.com/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjtzs7Ct8XcAhUHvJAKHXoFDSUQjRx6BAgBEAU&url=https://pt.wikipedia.org/wiki/Esfera_p%C3%BAblica&psig=AOvVaw2MRePQLDBsD2KxUc4ybEc0&ust=1532992307245136
29
DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA • CAPÍTULO 3
tanto mais clara se torna a abstração que acompanha a passagem da estrutura 
espacial das interações simples para a generalização da esfera pública.
(HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública, apud LOSEKANN, 2009.)
A esfera pública tem o papel de perceber os anseios sociais, seus problemas, identificar as 
preocupações da sociedade, as suas necessidades e, principalmente, influenciar o sistema 
político. Exerce pressão para que os anseios da sociedade sejam atendidos. É um ciclo que se 
inicia com a problematização que ocorre no dia a dia, que gera uma intensa troca de ideias – 
debates. Com isso, há a percepção das vontades – os anseios, preocupações – que se transforma 
em opinião pública. Essa última constitui uma vontade em comum, um consenso gerado após 
os debates.
Nessa mesma linha, Habermas (2003) sugere que haja um grau a ser considerado na opinião 
pública, que depende da força dos debates – força no sentido de importância, qualidade – por 
ser composta de consenso. Esse grau dependerá da racionalidade empenhada na discussão. 
Em decorrência disso, a esfera política sofrerá uma maior ou menor pressão da esfera pública.
Um ou outro indivíduo ou um grupo mais organizado destaca-se na interlocução da esfera 
pública com o poder público. Isso pode ocorrer devido à sua eloquência, por sua rede de 
contatos, por sua importância social ou até por seu lugar de destaque na sociedade. Mas 
sempre será primordial que a criação da opinião pública envolva todos os segmentos sociais, 
independentemente de sua escolaridade, condição social, orientação, entre outros atributos. 
A opinião pública deve ser composta pelo todo. Quem não tem interesse em ser interlocutor 
ou não constituir nenhum grupo deve participar com suas opiniões, oferecendo ou não seu 
consentimento sobre o tema debatido.
Consenso para Habermas é a concretização das trocas de interesses, e esse acontecimento se 
caracteriza pela:
“...busca do entendimento entre os participantes, em contraste com a ação 
instrumentalou com a ação estratégica, voltadas para o sucesso na consecução 
de objetivos definidos de antemão.”
(HABERMAS apud MIGUEL, 2014.)
Normalmente, a esfera pública não age em concorrência com a esfera privada. Na maioria 
das vezes, suas necessidades ligam-se, estão entrelaçadas, até mesmo em seu teor. O que vai 
diferenciar uma da outra é a forma de discussão e a pressão a ser exercida. Observe abaixo um 
trecho em que Habermas (2003) demonstra tal fato:
Sendo assim, esfera pública e esfera privada não estão desconectadas; pelo 
contrário, cada uma tem ressonância na outra. A esfera pública capta e realça as 
temáticas existentes na esfera privada, problematizando-as e trazendo-as para 
o debate público. A esfera privada, por sua vez, incorpora os debates e agrega 
30
CAPÍTULO 3 • DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA
informações que influenciam na vida cotidiana e possibilitam refletir sobre a 
mesma. Também não é o conteúdo das temáticas que separam as duas esferas. 
Habermas escreve que são as condições de comunicação modificadas que as 
diferenciam. Ou seja, não existe a priori definido: os temas que são privados 
e os que são públicos. O que determina a passagem de um tema privado para 
uma esfera pública é a capacidade dos atores articularem tal temática num 
debate que se mostre relevante para o interesse geral. Os problemas gerados pela 
sociedade são perceptíveis na vida cotidiana, nas histórias de vida de cada um. 
Desta forma, na medida em que problemas são captados e tematizados na esfera 
privada, logo poderão ser incorporados nos debates públicos e encaminhados 
ao sistema político como demanda pública a ser atendida. Segundo Habermas: 
as associações da sociedade civil “formam o substrato organizatório do público 
de pessoas privadas que buscam interpretações públicas para suas experiências 
e interesses sociais [...]”
(HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública, apud LOSEKANN, 2009).
Algumas críticas são lançadas ao modelo de Habermas, entre elas destacamos algumas mais 
diretas:
 » a consideração habermasiana de igualdade nas relações: os críticos do pensamento 
de Habermas acreditam que os envolvidos no “ciclo” da esfera pública dificilmente se 
colocaram em pé de igualdade com os outros que não têm igual influência. Alertam que 
faz parte do ser humano posicionar-se em favor de seu ciclo social, de sua formação 
cultural e demais similaridades;
 » a ideia de uma única esfera pública: na mesma linha da igualdade, essa crítica insiste 
na necessidade de uma diferenciação. Deveria haver uma esfera pública para cada 
meio social, de acordo com o ideal de “igualdade para os iguais e desigualdade para os 
desiguais”;
 » a falta de um debate em questões exclusivamente privadas na esfera pública: trata-se 
de um limite muito tênue entre a diferenciação do que é público ou privado. Quais são 
os critérios e como saber separar algo tão complexo? Outro obstáculo é: como ficariam 
os “separados”? Muitas pessoas e grupos ficariam fora dessa racionalidade por motivos 
diversos, tais como religião, credo, cultura, tradições e tantas outras;
 » a necessidade da separação entre sociedade civil e Estado: essa crítica alega que, 
toda vez que há a separação muito forte entre sociedade civil e Estado, há uma grande 
dificuldade da sociedade civil em ter ferramentas para definir suas demandas ao Estado. 
É posta uma separação em que o chamado “público fraco” representaria a sociedade 
civil. Esse público fraco formaria sua opinião, mas sem tomada de decisão. Por outro 
lado, representando o Estado, haveria um “público forte”, que faria a interlocução 
das opiniões tomadas pela sociedade civil e analisaria a possibilidade da domada 
de decisão.
31
DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA • CAPÍTULO 3
Observe o esquema a seguir que sintetiza o conceito de Habermas, assim como as críticas que 
recebeu. 
Esquema 3 – Esfera Pública: conceito e críticas.
•Crítica: a separação 
entre sociedade cívil e 
Estado gera grande 
dificuldade da 
sociedade civil para 
definir suas demandas 
ao Estado (público fraco 
x forte). 
•Crítica: a separação
entre público e privado 
é tênue. Pessoas e 
grupos ficariam de fora 
dessa racionalidade por 
motivos diversos.
• Crítica: é necessária 
uma diferenciação. 
Deve haver uma esfera 
pública para cada meio 
social, pois as pessoas 
são desiguais.
•Crítica: dificilmente as
pessoas estão em pé de 
igualdade. Faz parte da 
conduta humana 
posicionar-se em favor 
de seu ciclo social.
Igualdade 
nas 
relações
Esfera 
pública 
única
Separação 
entre Estado 
e Sociedade 
Civil
Questões 
exclusiva-
mente 
públicas
Elaboração: próprio autor.
Alguns estudiosos se esmeram no trabalho de adaptar o conceito de esfera na política brasileira 
e em países de terceiro mundo. Encontram, porém, grandes dificuldades que se referem ao 
processo democrático, instituições, relações sociais, culturais e outra mais -– até mesmo por ser 
um modelo ainda não acabado.
Merecendo ser aprofundado, o tema ainda suscita várias 
dúvidas na democracia brasileira, uma democracia 
marcada por grandes diferenças e desigualdades. 
Mas trata-se de um conceito que não pode ser 
descartado. Devem ser procurados outros formatos, 
com base no modelo ideal de Habermas, acrescidos 
das críticas construtivas, elaborado um modelo ideal 
para a política brasileira – um modelo que minimize os 
privilégios de camadas sociais, que balanceie tendências 
discriminantes e tenha princípios de racionalidade. 
Assim, poder-se-á pensar num modelo adaptado para 
o bem comum do país.
Saiba mais
Se você tiver interesse em conhecer um pouco 
mais sobre as obras de Habermas, leia:
 » Mudança estrutural da esfera pública ( 1984 
[1962])
 » Tempo Brasileiro (2003 [1981]).
 » Teoría de la acción comunicativa ( 1997 
[1992])
 » Direito e democracia: entre facticidade e 
validade (1997 [1992]).
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CAPÍTULO 3 • DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA
Saiba mais
Para maior conhecimento de algumas teorias e modelos de esfera que sofreram alterações para se adaptar a democracia 
brasileira, leia:
 » O artigo As conferências nacionais no governo Lula: limites e possibilidades da construção de uma esfera pública, de 
Céli Pinto, 2006.
 » O artigo Esfera pública, e as mediações entre cultura e política: para uma leitura sociológica da democracia, de Sergio 
Costa, 2000.
Consenso e dissenso na prática democrática
Começaremos este tópico do capítulo com o significado de cada termo desse estudo.
Provocação
Observe a figura a seguir e interprete. Há um grupo de pessoas unidas. O que elas estão fazendo? 
Figura 4. Para interpretar.
Fonte: https://www.emaze.com/@ALILzWOL.
Apresentamos essa imagem para que você pense sobre o consenso. Consenso significa a conformidade de juízos, opiniões 
ou sentimentos, opinião ou posições majoritárias, consentimento.
E agora a próxima. O que parece?
Figura 5. Para interpretar.
Fonte: http://www.nacurutunews.com/2012/05/llamados-construir-en-el-disenso.html.
https://www.google.com/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwj6j4GugLbcAhVOOZAKHQEaC60QjRx6BAgBEAU&url=https://www.emaze.com/@ALILZWOL&psig=AOvVaw0Xm44ksKhR4LYHeRCRfWaA&ust=1532462069478422
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DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA • CAPÍTULO 3
Já essa outra imagem remete ao dissenso. O dissenso é diversidade de opinião, desavença, divergência, contraste. 
Agora, por último, pense nesta imagem:
Figura 6. Para interpretar.
Fonte: <http://www.vermelho.org.br/noticia/307584-1>.
Essa imagem aponta para a democracia. A democracia é a forma de governo em que o povo exerce a soberania, direta ou 
indiretamente.
 
Em meados dos anos 1950, o liberal-pluralismo ganhou força 
com uma visão que incentiva a competição entre grupos de 
interesses. Essa competição se dava com ênfase nos interesses 
pessoais de cada grupo e não prestigiava a igualdade. Contudo, 
o liberal-pluralismo teve oposição de uma teoria democrática 
mais radical que não queria ver as conquistas democráticasperderem espaço no contexto mundial e não aceitava que 
pequenos grupos dominassem a política com seus interesses.
Então, duas vertentes se destacaram contra a teoria dos 
grupos de interesse. Elas não aceitavam a diminuição da 
recente democracia e buscavam o fortalecimento dos regimes 
democráticos com uma maior efetivação da soberania popular e igualdade política. Uma dessas 
visões é a participacionista. 
A teoria participacionista defende a autogestão, maior participação popular, descentralização e 
– principalmente – que as decisões política tenham maior participação do dia a dia do povo, seja 
nas escolas, no trabalho, igrejas e demais espaços de discussão. Essa teoria não busca diminuir 
conflitos. Na verdade, alega que essa participação mais democrática é o meio pelo qual as pessoas 
aprendem a lidar com o dissenso e a externar divergências para que possam chegar a um consenso.
Já o deliberacionismo ganhou força com a diminuição da importância da corrente anterior. 
Essa teoria foi desenvolvida com embasamento nas obras de Habermas, assim como apropriou-se 
Atenção
Das interpretações que você fez, é 
preciso destacar que são palavras que 
têm significados em oposição, mas que 
são inerentes à prática democrática. 
Trabalharemos melhor cada termo 
e faremos a junção num sistema 
democrático global. Uma democracia é 
composta de diversas opiniões e, em se 
tratando de um convívio democrático, 
é certo que opiniões contrárias 
ocorrerão – isso inclusive é um elo para 
um desenvolvimento geral.
https://www.google.com/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwi2roXThLbcAhWGTJAKHZheAEIQjRx6BAgBEAU&url=http://www.vermelho.org.br/noticia/307584-1&psig=AOvVaw37SAd8u_XkLsVm2Goe6nDu&ust=1532463243571727
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CAPÍTULO 3 • DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA
da tradição da teoria crítica e do pragmatismo. Essa última foi desenvolvida por um filósofo e 
sociólogo alemão denominado John Rawls. Ele foi um professor de filosofia política na Universidade 
de Harvard, autor de “Uma Teoria da Justiça”, de 1971, “Liberalismo Político”, de 1993, e O Direito 
dos Povos, de 1999. O deliberacionismo aponta que se faz necessária maior compreensão de 
democracia, mas dá maior importância para o consenso nas relações humanas e com grande 
aplicação na democracia. 
Amparado no “véu da ignorância”, o deliberacionismo defende que cada qual deve se abster 
de seus talentos, características pessoais, preferências, conhecimentos, entre outros atributos, 
para definir um mundo ideal. Rawls (1995) acredita que a barreira do interesse fica superada no 
processo político, uma vez que, caso cada um ou grupo não tenha interesses pessoais em jogo, 
não haverá empecilho para a imposição da razão. Nessa teoria, a parcialidade é o mal que avança 
contra a razão e deve ser suplantado. A razão ganha força e é aceita gerando princípios que são 
recepcionados por todos; os responsáveis no mecanismo de decisão, qualquer que seja a fase, 
ficam livres da parcialidade e decidem de forma racional.
Já em sua última obra, Rawls (1995) aponta que a ideia do véu da ignorância vai perdendo força. 
Surge o consenso em uma pluralidade de doutrinas até razoáveis, mas que não podem ser 
compatíveis. Nessa fase, o autor vê-se obrigado a permitir doutrinas diversas, pois é impossível 
um instrumento que torne a decisão unânime ou que defina qual é a decisão correta.
Nessa linha pluralista de Rawls (1995), o consenso deve ser direcionado pelo Estado. Aqui, o 
consenso é um problema a ser enfrentado, as questões almejadas devem ter uma resposta 
racional. As respostas são predefinidas, e o trabalho do Estado é fazer com que suas respostas 
sejam o almejado. É um tipo de consenso que busca garantir o cumprimento das metas políticas 
sem que haja grandes levantes contrários. Isso implica dizer que as manifestações contrárias 
devem ser controladas para que não interrompam o andamento político racional. Como bem 
ressalta Rawls (1995):
 “...doutrinas que se oponham a esse consenso precisam ser contidas, como se 
fossem “guerra ou doença”.
(RAWLS, 2005 [1995], apud MIGUEL, 2014).
Tal convenção somente terá eficácia com todos em pé de igualdade e com possibilidade de se 
expressar. As opiniões devem ser levadas em consideração e devem ter um mesmo peso para se 
chegar ao consenso.
O consenso é o objetivo principal das relações comunicativas. Para Habermas, diferentemente 
de Rawls, as posições sociais devem se sobrepor à imparcialidade. O requisito de imparcialidade 
em Habermas é mais complexo. Ele afirma que é imprescindível a abertura para que o outro 
possa se expressar e ser ouvido. A busca pelo pensamento racional pura e simplesmente pode 
não acarretar uma decisão que traga satisfação. Em lugar de um único ponto de vista que tente 
35
DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA • CAPÍTULO 3
considerar tudo – o que seria a imparcialidade –, é melhor considerar vários pontos de vista que 
tudo considerem.
Uma corrente mais realista surgiu com críticas ao modelo de Rawls e de Habermas e trouxe 
essas teorias para mais próximo da realidade, flexibilizando os moldes em que se apresentavam 
as ideias. Nessa modernização de entendimento, busca-se uma pauta mais exclusiva, em 
vez de vários representantes com diversas solicitações numa pauta exaustiva e inconclusiva. 
Começou-se a discutir a qualidade das deliberações em pontos específicos. Aquela coisa de abrir 
o espaço público para todos que tenham interesse na causa passou a ser mais restritoa, mesmo 
que englobando a mesma diversidade de aspectos. Com isso, a negociação entra no cenário e 
faz com que o consenso deixe de ser o foco principal.
“Numa percepção marcadamente idealista, o móvel para o conflito social não 
são as divergências de interesses, mas o sentimento de injustiça provocado pela 
ausência de reconhecimento pela outra pessoa.”
Miguel, 2014.
Com tudo isso, concluímos que, para Rawls e Habermas, o conflito deve ser eliminado. É uma 
prática na democracia que deve ser evitada, com base na teoria de Rawls – pela imparcialidade, 
no qual a participação é mínima e as manifestações em contrário não devem ser difundidas 
– ou na teoria de Habermas – pela possibilidade de argumentação alheia, entre as partes com 
poder argumentativo e igualdade de posições, para se chegar a num senso comum mínimo. 
Os críticos intitulam que essas teorias são antidemocráticas por não deixarem que os conflitos 
de interesses ganhem espaço no contexto político. Uma grande crítica dessas práticas é Chantal 
Mouffe, cientista política pós-marxista belga que desenvolve trabalhos na área da teoria política.
Em meados de 1990, Chantal Mouffe demonstra mais 
profundamente a crítica que faz aos desenvolvimentos 
recentes da teoria na democracia e concentra suas críticas em 
três pontos distintos, mas interligados: a soberania popular, 
o esquecimento entre a diferença de política e moral, e o 
entendimento da importância do conflito em uma democracia. 
Esse último ponto tem ligação mais direta com o objeto desta 
parte do estudo. 
Saiba mais
Para conhecer mais sobre o pensamento de Chantal Mouffe, em suas obras mais recentes e direcionadas ao nosso contexto, 
você pode ler:
 » o livro El retorno de lo político: comunidad, ciudadanía, pluralismo, democracia radical (MOUFFE, 1999). Em espanhol;
 » o artigo Democracia, cidadania e a questão do pluralismo (MOUFFE, 2003); 
 » o artigo Por um modelo agonístico de democracia (MOUFFE, 2005).
 
Saiba mais
Para conhecer um pouco mais da 
cientista política Chantal Mouffe em 
um período em que sua obra teve um 
importante destaque na esquerda 
pós-marxista, leia Hegemonia e 
Estratégia Socialista (LACLAU; 
MOUFFE, 2015).
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CAPÍTULO 3 • DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA
Mouffe começa demonstrando as diferenças existentes na sociedade entre a política e o político, 
e essa diferença coloca em xeque as utopias do ideal racional. Da mesma forma, coloca em 
questão um consenso sob um véu, que querendo ou não está manchadopelo político. Uma vez 
que não se pode considerar o político nesse contexto do ideal, igualmente não se pode considerar 
seus interesses pessoais e as interferências como externas. Mouffe vai mais longe e demonstra 
que o político baseia sua ação e seus motivos na diferença que ele dá entre amigos e inimigos. 
Percebe-se que a autora se empenhou em demonstrar a necessidade de mudança no político. É 
preciso saber bem a diferença entre inimigos e adversários. Isso leva a um desafio que a política 
e as instituições têm em moldar o político, que é antagonista por natureza. A tendência em se ver 
pensamentos contrários como uma ameaça deve ser substituída por uma visão menos agressiva 
de seus contrários, a visão de um adversário, e não de um inimigo. Ela completa que, quando os 
políticos não conseguem agir de forma agonística, podem ter respostas violentas (MOUFFE, 2005).
Figura 7. Imagem-metáfora do direcionamento ideal que as instituições devem dar para as eleições, com base 
na visão de Mouffe.
Fonte: https://medium.com/@Arierbos/a-direita-e-o-pobre-aebb97acbd79.
As instituições têm grande peso nesse processo de transformação. Se elas não estiverem 
empenhadas, não será possível impor as mudanças necessárias. As eleições são um ponto 
estratégico desse contexto. Os entes que não participam ficam fadados a ficar fora das importantes 
decisões. Com isso, as eleições devem ser direcionadas ao centro, uma busca por equilíbrio e 
moderação – não deve pender para a direita ou para a esquerda.
Admitindo que “o político” pertence à nossa condição ontológica e, portanto, 
que o conflito é inerradicável da existência humana, é necessário mostrar como, 
nessas condições, é possível criar e manter uma ordem democrática pluralista. 
Este desafio pressupõe uma nova distinção e determinação correlata de categorias: 
“antagonismo entre inimigos” e “agonismo entre adversários”. “Inimigo”, explica 
Mouffe, é um outro que deve ser destruído, pois sua existência nega minha 
identidade. “Adversário”, ao invés disso, é um outro opositor “com quem temos 
alguma base em comum, em virtude de termos uma adesão compartilhada aos 
princípios ético-políticos da democracia: liberdade e igualdade”. 
Ames, 2015.
Além das regras e normas, o consenso estende-se aos valores que envolvem a elaboração das 
regras, não podendo ficar no básico, como prega a teoria liberal. Dessa forma, ela reforça a 
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwigrp6Mk8LcAhULlpAKHTdaAZIQjRx6BAgBEAU&url=https://medium.com/@Arierbos/a-direita-e-o-pobre-aebb97acbd79&psig=AOvVaw2lWymElV4r0YpLSKtpoCoi&ust=1532879240219458
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DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA • CAPÍTULO 3
teoria de Rawls e Habermas, mas com uma visão mais aprofundada, ou seja, dando mais valor 
à visão pluralista, com o acréscimo da necessidade de o consenso vir junto com os valores que 
dão origem às regras e normas.
Ao se aproximar do pluralismo, ela salienta que qualquer proximidade pode ser um risco 
sem que o mal do antagonismo não seja dominado, pois acha impossível que seja eliminado. 
Ela expressa em algumas obras que há um otimismo em que o político tem possibilidade de agir 
com agonismo, ou seja, que o político possa ver seus adversários como pessoas que pensam 
diferentes não como inimigos, e procure entender que seus pensamentos diferentes podem ser 
consentidos pela busca de um consenso a partir do dissenso racional e democrático.
Provocação
Luis Felipe Miguel cita um filme que bem expressa a possibilidade de acordo num antagonismo de ideias:
...série de televisão Terra Nova, produzida por Steven Spielberg e exibida nos Estados 
Unidos em 2011. Num futuro não tão distante, a Terra tornou-se quase inabitável devido 
aos danos ambientais. Mas é descoberto um buraco no espaço-tempo que permite a 
algumas pessoas voltarem ao período cretáceo. O eixo do seriado é a disputa entre os 
“peregrinos” que desejam um novo começo para a civilização humana (ecologicamente 
correto, sustentável) e aqueles que querem explorar intensivamente os recursos do 
passado para transferi-los para o futuro, tornando viável a permanência da vida na 
Terra no século XXII. O seriado tem posição: os heróis são os peregrinos que buscam 
romper os laços com o futuro. Mas é possível reconhecer a legitimidade do pleito 
daqueles que estão presos num planeta condenado. Nem por isso, as posições se 
tornaram menos antagônicas e irreconciliáveis.
Miguel, 2014.
Figura 8. Folder de anúncio da série terra nova de Steven Spielberg, em 2011.
Fonte: https://sharetv.com/shows/terra_nova/season_1.
E na nossa democracia? Qual seria a nossa participação popular no dissenso? Será que conseguimos alcançar um consenso 
mínimo, um consenso que abrace todos? E você, adepto da visão pluralista de Rawls e Habermas, conseguiria escolher 
o melhor consenso para todos? Conseguiria se vestir do véu da ignorância para escolher o melhor consenso, sem suas 
convicções, prioridades e amores?
https://sharetv.com/shows/terra_nova
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CAPÍTULO 3 • DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA MODErnA
Com os pontos elencados aqui, percebemos que a busca pelo consenso é inerente à democracia, 
um consenso mínimo, que possa englobar todas as classes, que possa vir desprovido de vícios, 
um consenso que parta de conflitos e discussões sem o peso do autoritarismo ou de uma 
comunicação pouco provável de ser alcançada. O dissenso é um fator importantíssimo nesse 
processo, à medida que possa produzir discussões desprovidas de “embates de trincheiras”, com 
todos os grupos sociais e com equilíbrio.
Deve haver amor na política contra as ideias puramente racionais de um consensualismo cravado 
de autoritarismo ou, no mínimo, eivado de um ideal inalcançável. O mais importante deve ser 
um ideal democrático, com continuidade, em que todos tenham direito de defender suas ideais, 
ouvir e serem ouvidos. 
Dar espaço para que as pessoas possam se expressar faz parte 
da democracia. Ela inclusive deve incentivar o dissenso, pois 
esse é um sinal de tolerância. A tolerância é importante em 
qualquer lugar. Mais primordial ainda numa democracia é 
deixar que as pessoas expressem suas opiniões e respeitar 
as divergentes. Quando falamos de tolerância, não estamos 
falando na passividade em ter que aguentar tudo nem em se 
colocar inferior ao outro. 
O sentido de tolerância que se coaduna com a democracia 
é citado por Paulo Freire (2016) como uma tolerância como 
virtude. É no sentido do indivíduo que consegue ter um bom convívio com o outro, conviver com os 
diferentes tipos de pessoas, sabendo respeitar suas ideias diferentes, os gostos diversos e a variedade 
de escolhas. Uma democracia consolidada exige que as ideias diferentes sejam respeitadas.
Provocação
Agora, que tal você retomar sua redação “Uma voz na multidão”? Verifique se suas ideias sobre a opinião do cidadão na esfera 
pública estão relacionadas com os conceitos e processos que você estudou neste capítulo. Provavelmente, algumas de suas 
ideias são próximas do que você estudou de maneira mais sistemática aqui. Então, tente aprimorar seu texto, fornecendo 
argumentos técnicos e fundamentados na teoria sobre a democracia e o espaço público. 
Sintetizando
Vimos até agora que:
 » A esfera pública é um elo de comunicação entre a sociedade e a esfera política. Compõe uma rede que se liga na intenção 
de dar posicionamentos para que sejam tomadas as decisões no mundo político. 
 » A esfera pública integra um mecanismo de comunicação entre sociedade pública e privada com a esfera política, tendo 
nas relações interpessoais seu ponto de partida.
Importante
O dissenso é uma prática comum em 
democracias sólidas, até mesmo em 
locais de trabalho e escola. Discussões 
são necessárias para que possamos 
aprender e estar dispostos a mudar, 
se for o caso. A discordância de 
opiniões leva à discussão. Mesmo 
sendo opiniões contrárias, esses 
diferentes pensamentos levam ao 
enriquecimento das relações. 
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DEMOCrACIA E ESFErA PÚBLICA

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