Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 Teoria Geral do Direito II- Professor Bernardo Montalvão Livro: Compêndio de Introdução à Ciência do Direito- Machado Neto f Capítulo 1� Conceito e temática da Introdução à ciência do direito 1. A introdução à ciência do direito não é uma ciência, não é uma arte, não é filosofia ou religião - É uma epistemologia com característica marcante do saber enciclopédico, ou seja, um conhecimento que pretende ser generalista e abrangente - Proporciona a discussão dos conceitos básicos que formam a chamada ciência do direito. É formada pela integração de 3 áreas do direito: sociologia, história e filosofia jurídica 2. A I. C. D é uma "enciclopédia de conhecimento científicos e filosóficos" gerais e introdutórios ao estudo da ciência jurídica - Multidisciplinar, área do conhecimento que se abastece de diferentes áreas do conhecimento 3. Temas fundamentais: - "Que coisa é a ciência do direito?" e "Quais os conceitos fundamentais que o jurista irá manipular em sua elaboração?" ( caráter epistemológico) 4. A filosofia pode ser dividida em: 1. Ontologia: estudo das essências, saber como atingi-la. "O que? "exemplo: o que seria a essência da democracia. 2. Gnoseologia : Como é possível conhecer. "Como?" Não há enfoque no objeto, no lugar de destino mas sim, no caminho a se chegar, se é efetivamente verdadeiro 3. Epistemologia :Como eu produzo o conhecimento científico? É um conhecimento banal, de senso comum, vulgar ou possui caráter científico? (teoria da ciência) 4. Deontologia (axiologia) : Estudo dos valores, como eles se formam dentro da sociedade. Quais são os valores que interessam o direito, ou não interessam? 5. Filosofia da história : Estudo da filosofia observando como foi se transformando ao longo do tempo 5. O conteúdo da I. C. D é: sociológico, histórico e filosófico-jurídico 6. A I. C.D não possui um objeto de estudo, por isso não é ciência Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 - Falta da unidade epistemológica, uma peculiaridade - Não tem um objeto de estudo científico, não possui um método de estudo específico, deve obedecer a um método, ou seja, pode-se verificar como o conhecimento está sendo produzido; É sistematizado. 7. Apesar de ser um saber enciclopédico, a I. C. D é uma disciplina epistemológica, pois o seu objeto de estudo é o direito - Prepara o terreno para que possamos conhecer o que é o direito, apresenta os conceitos básicos para o estudo do direito 8. O que identifica a I.C. D é o estudo dos conceitos básicos do direito e o ensino do que é a ciência do direito 9. Epistemologia não é gnoseologia (teoria geral do conhecimento) - Teoria geral do conhecimento x Teoria do conhecimento científico 10. A I. C.D não é a mesma coisa que ciência do direito - Apresenta os conceitos básicos e apresenta uma espécie de organograma, "árvore", rede, dos ramos do direito. As raízes seriam a introdução à ciência do direito 11. Epistemologia é a teoria da ciência 12. A I. C. D se dedica ao estudo introdutório dos vários ramos do direito 13. A I. C. D apresenta ainda, em breve linhas, a hermenêutica jurídica e a teoria das fontes do direito 14. A I. C. D tem caráter instrumental e parece ser discriminada com o início da modernidade e a sua "cultura de adoração ao especialista" Capítulo II: As ciências do direito 1. A conduta humana em suas diversas abordagens: a) Cada ciência tem o seu próprio objeto de estudo a) Os objetos ideais, por exemplo, são estudados pela matemática b) Mas em um mesmo objeto, como é o caso da conduta humana, admite-se diferentes abordagens: causal ou normativa Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 - A abordagem normativa refere-se a um produto cultural, estabelecido pelos homens, visando uma determinada ordem e paz social, enquanto que a natureza causal pode ser definida como um produto decorrente dos fenômenos naturais. c) Causal: a abordagem, da sociologia ou da história d) A abordagem normativa se subdivide-se em: ética e/ou técnica e) A abordagem técnica é anti-horária: dos fins para os meios. A ética: dos meios para os fins - Abordagem técnica: Qualquer ato ou projeto nosso no sentido oposto ao temporal. Assim, toda vez que, tendo em vista certos fins, (que ocorrerão obrigatoriamente após os meios) procuramos encontrar os meios idôneos de sua realização, estamos diante de uma abordagem técnica - Se ao contrário, a consideração da conduta segue um sentido temporal,temos uma consideração ética, seja moral ou seja jurídica f) A abordagem ética divide-se em: direito e moral g) Nos direitos temos: a correlação entre o fazer de um e o impedir de outro (interferência intersubjetiva) h) Na seara da moral: a correlação entre o fazer e o omitir do mesmo sujeito (interferência subjetiva) i) A abordagem causal é marcada pela "lógica do ser"; a abordagem normativa pela lógica do "dever ser" Lógica do ser: dado A será B; Lógica do dever ser: dado A deve ser B j) Kant, Kelsen, Miguel reale (miguel reale: lições preliminares do direito, capítulo 5) - importante - a norma jurídica é bilateral e atributiva - norma moral: bilateral mas não é atributiva Kelsen - Critério da coercitividade: as norma jurídicas são dotadas de coercibilidade enquanto as normas morais não Kant - Critério da heteronomia. Normas jurídicas heterônomas e normas morais autônomas . Na moral a adesão às regras se dá de forma autônoma, ou seja, o indivíduo tem a opção de querer ou não aceitar aquelas regras. É, portanto, um querer Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 espontâneo. Importante registrar que esse critério também não atinge a moral social. Já com o Direito ocorre de forma diversa, pois o indivíduo se submete a uma vontade maior, alheia à sua. 2. Os saberes jurídicos: A filosofia do direito subdivide-se em ontologia, gnosiologia, epistemologia, axiologia jurídica e filosofia da história a) O direito é objeto de estudo da filosofia do direito; da sociologia do direito; da história do direito e da dogmática jurídica b) O que diferencia a dogmática, da filosofia, do direito, da sociologia do direito é a metodologia (como aborda o estudo do direito) c) exemplo: a sociologia aborda o direito de modo generalizado, ao passo que a história de modo individualizado - Enquanto a sociologia tenta encontrar as leis gerais da causalidade sociojurídica, a história detém-se em cada um dos eventos da história jurídica dos povos para estudar a fisionomia peculiar em toda a sua riqueza individual. - Sociologia X historiografia d) todas elas - sociologia, filosofia, história, dogmática - mantém uma relação de complementaridade 3. A ciência do direito a) O direito é uma ciência normativa. Mas quais são os sentidos dessa expressão? a.1 O direito é uma ciência normativa porque estabelece normas (Ihering) a.2 O direito é uma ciência normativa porque tem como objeto de estudo a norma (Kelsen) - normativismo jurídico a.3 O direito é uma ciência normativa porque conhece o seu objeto- a conduta humana- através da norma (Carlos Cossio) - A norma é vista como uma espécie de ângulo de vista - Egologismo jurídico: O termo egologismo remete exatamente à análise, pelo direito, da natureza humana em sua esfera do eu, da egoidade, portanto, da existência psicológica e livre do homem em sociedade. b) A conduta, observada a partir da norma, pode ser compreendida como: Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 b.1 Faculdade - a norma permite agir de determinada maneira b.2 Prestação - a norma obriga b.3 Ilícito - a norma proíbe b.4 Sanção - aplicação de castigo no momento em que a norma é violada c) OBS: positivismo científico x Positivismo jurídico - O positivismo científico: movimento iniciado por Comte; adoração, endeusamento da ciência e de seus adventos ao homem moderno - Positivismo jurídico:Normas jurídicas impostas à sociedade pela própria sociedade por quem tem poder a fazer isso, podendo ser a qualquer momento modificadas caso quem esteja no poder assim a desejar d) Argumentos do porque o direito não é uma ciência segundo kirchman - A ciência é um saber universal e atemporal; O direito é um conhecimento histórico e casuístico - Por ser um saber histórico (em constante transformação) não apresenta conceitos capazes de apreender a realidade jurídica (desfiguradas pelas modificações históricas- resultado: os juristas vivem em constante controvérsia uns com os outros e a hermenêutica seria seu calcanhar de aquiles - A ciência do direito não oferece soluções seguras e estáveis. O que um juiz diz hoje é reformulado por outro amanhã; a ciência do direito vive de suas próprias imperfeições: lacuna, contradições da hermenêutica, conflitos… Capítulo III: Fundamentações doutrinárias da ciência do direito . O jusnaturalismo Contexto; Após Julius Kirchman, o autor vai debater sua tese a respeito do direito ser um saber científico, baseando sua tese no jusnaturalismo 1.1 Introdução e evolução histórica a) O direito é sempre um ensaio de ser um direito jurídico justo, como dizem Gustav Radbruch e Recaséns Siches Isso significa que envolve sempre um conteúdo axiológico (estudo de valores), mas ao mesmo tempo, é obra humana e como tal, é mutável no tempo e espaço, Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 b) Apesar do direito ser um saber histórico, desde as mais remotas civilizações, a humanidade tenta, através do jusnaturalismo, conciliar entre o caráter imperecível do ideal de justiça com a variabilidade das representações histórico-sociais do que se considera justo aqui e agora (se o direito não consegue, ele continua tentando ser justo); c) O jusnaturalismo admite diversas representações, desde as mais primitivas, de uma ordem legal de origem divina até a moderna filosofia do direito natural de Giorgio Del Vecchio e Rudolf Stammler d) Há diversas manifestações do jusnaturalismo: 1. Sofística; 2. Estóica; 3. Medieval de influência católica; 4. ilustrada e racionalista; 5. moderna; 6. contemporânea e) A primeira manifestação do jusnaturalismo se dá com os sofistas f) Sofistas: são filósofos céticos. - Para eles a ideia de um direito natural (segundo a natureza), que se opunha ao direito segundo a convenção (injusta) dos homens, é fruto do caráter revolucionário que assumiu seu pensamento relativista em face às crenças e instituições vigentes na Grécia de seu tempo, especialmente a Polis. - Ideia do coletivo (diferente da sociedade individualista moderna). (direito natural mais forte e direito positivo mais fraco, feito para a maioria) g) Segundo o sofista Cálicles, o jusnaturalismo é o direito natural do mais forte. h) Segundo Cálicles, o direito produzido pela polis democrática é a convenção dos mais fracos, que são a maioria. i) Cosmopolitista, - ( direito em comum entre todas as cidades, povos, culturas, nacionalidades - direitos humanos, internacional, em comum, compartilhado por todas as nações). - Hípias de Élis (parte da corrente do estoicismo) relativiza o direito nacional da polis democrática, comparando-o com o direito natural de igualdade absoluta de todos os homens, que não distingue- ao contrário do direito grego- entre gregos, bárbaros e escravos. ( O direito de Aristóteles e Platão é o direito da polis, ou seja, "é bom para quem for grego"; entretanto, os excluídos da sociedade não os possuíam) Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 j) Para Platão e Aristóteles, direito natural (direito produzido pela polis a partir do debate de interesses em comum travado pelos cidadãos gregos quando estes são convidados a se reunirem na praça - a Ágora- ideia de congresso) é o direito justo eterno e imutável ( direito natural x direito positivo - critério de distinção- direito natural imutável e direito positivo mutável) k) As ideias de Platão influenciaram os estóicos. (direito mutável; ideia de universalidade; diferente do cosmopolita) Estes viviam no e do mundo cultural grego, mesmo após a ruína do sistema da Polis, assim como os epiculturistas (direito natural dos indivíduos que não quer ter seus direito, como a propriedade e liberdade confrontados pela polis), seus contemporâneos, vão buscar uma nova idade média para o homem grego l) Caída a polis, restava o indivíduo (uma micropolis; a medida individualista do epiculturista), ou a humanidade (uma cosmópolis), a medida do cosmopolitismo estóico (direitos individualistas) m) A moral estóica é uma moral segundo a natureza humana (direito decorrente da nossa natureza humana - direitos humanos) e não mais moral política como a de platão e Aristóteles n) Dessa moral segundo a natureza derivaria um direito natural que influencia os juristas da Roma antiga (Tribunal dos mortos) o) Durante a idade média, o fundamento do direito natural passaram a ser a inteligência e vontade divina - A leitura religiosa interfere na leitura da sociedade e do direito O.1 Trata-se portanto, de um jusnaturalismo teológico, que só é compatível com uma sociedade homogênea, marcada pela crença religiosa - Diferenciação social: Subdivide-se a sociedade, que até então era um todo, em grupos menores (1500, século XVI) p) Por conta da secularização, o jusnaturalismo abandona a explicação religiosa no início da era moderna, para agora, ter como seu fundamento a razão humana, que justificaria a validade perene e universal do direito natural - jusnaturalismo teológico compatível com uma sociedade homogênea; por conta da secularização - transformar conceitos antes obedecidos na ideia de fé ou crença, e agora passa a ser estabelecido na ideia de razão Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 P.1 Foi obra de Hugo Grotius (pai do direito internacional), essa proeza intelectual que consiste em admitir que, mesmo suposta a existência de Deus, o direito natural continuaria válido, uma vez que ele tem fundamentos nas leis imanentes à razão humana, que o racionalismo de Descartes, aceitava como perenes - critério temporal, , "não muda ou dificilmente muda" e universais P.2 No primeiro momento, com Grotius e Hobbes, o direito natural foi entregue à guarda poderosa do Estado Leviatã, o Estado absoluto - assegura a obediência às leis naturais- leis derivadas da nossa razão e não é fruto do nosso arbítrio P.3 Mas quando a burguesia chegou ao poder com a Revolução Francesa, a guarda do Direito natural foi confiada a "vontade geral do povo", segundo Rousseau. - maioria: burguesia e proletariado em formação (exclui-se o clero e a nobreza) P.4 Em Kant, temos o último grande representante do direito natural ilustrado (baseado em ideia de razão), o qual levou às últimas conseqûencias as premissas teóricas da teoria iluminista (teoria do direito racional) - fundamentação das metafísicas dos costumes: Kant propõe a divisão do direito natural e direito positivo, ao dizer que o direito positivo regula a relação de um cidadão para outro (súdito para súdito), enquanto o direito natural regula as seguintes situações: a) A relação entre Estado e súdito, b) Relação entre Estado e outro Estado, c) Todas as situações de lacuna do direito positivo - eventual omissão P.5 Durante o século XIX, a partir de 1800, o jusnaturalismo perde espaço e floresce o positivismo jurídico - Avanços científicos P.6 No século XX, o jusnaturalismo reaparece por meio da doutrina de Giorgio Del vecchio e Rudolf Stammler, defendendo uma teoria do direito natural formal e de conteúdo variável (poderia oscilar o conteúdo; no entanto, o procedimento - modo de elaborar, o processo legislativo seria universal e imutável) P.7 Mais recentemente, alguns autores transformaram o antigo direito natural em axiologia, capítulo da filosofia do direito ou seja, no estudo da teoria da justiça 2. Considerações críticas: jusnaturalismo como "ideologia" - O jusnaturalismotem a justiça como um conceito relativo; a concepção juspositivista possui uma ideia de neutralidade, ou seja, uma explicação para o direito mais científica para o direito: "O direito natural é incompatível com a neutralidade axiológica" Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 - O jusnaturalismo desconhece a distinção entre valor e ser, hipostando o valor jurídico do justo numa realidade jurídica ideal, o direito natural - O direito natural, longe de ser ciência, era apenas uma ideologia, ora de caráter conservador a fim de manter um status quo, ora de revolucionário . Exegetismo 1. Introdução as consequências dele decorrente a) A ciência do direito nasce no século XIX - Contemporânea da escola histórica do direito, sendo essa quase oposta a exegese. b) O código de Napoleão, de 1804, é um símbolo do Exegetismo - Influenciado pelo iluminismo francês - (Ideia da tripartição dos poderes - Montesquieu; conceito de fiscalização recíproca; cada um dos poderes possuem funções específicas. Para Montesquieu não é função do juiz flexibilizar o sentido da lei - Juiz boca da lei) ; ( Código da Prússia, Suíça, Áustria, França - reunir todas as regras em um lugar só, concentrar, a fim de tornar o livro claro, completo e coerente) c) Para o Exegetismo, a tarefa do cientista do direito é a mera exegese do texto legal d) O exegetismo defende um positivismo estatal, legalista e avalorativo - Parte do pressuposto que todo direito é produzido pelo Estado; (Para os juristas da época, deve- se manter preso ao texto de lei, a literalidade dele, sem admissão de flexibilizações; avalorativo: deve buscar a neutralidade) e) Por esta postura avalorativa, o Positivismo de Exegese ganha adeptos por se coadunar à ideia de neutralidade f) O legalismo estatal atinge o seu auge na doutrina de Blondeau- um dos maiores juristas da Escola- o qual defende a autoridade da lei - ("não queira maleabilizar o sentido da lei"; para ele a interpretação é uma atividade voltada para a descoberta da vontade do legislador) g) Blondeau defende que a sentença judicial deve fundamentar-se exclusivamente no texto legal. Para ele, a interpretação é a mera exegese dos textos e a sua finalidade é a descoberta da vontade do legislador - (vontade da lei x vontade do legislador; a vontade do legislador é uma concepção subjetiva da interpretação; obs: no sentido vulgar, subjetivo seria algo arbitrário, Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 no entanto em tal conceito, atribui-se o sentido técnico, na qual o objetivo seria descobrir a vontade do sujeito que elaborou a lei para perguntar-se o que ele pensava no momento que a fez) h) Alguns autores da escola: Melville, Bugnet, Demolombe, Pothier, Laurent i) Bugnet teria dito, certa vez: "Eu não conheço o direito civil, só ensino o código de Napoleão" - Na prática, o que se ensina é a aplicação direta do texto de lei j) A interpretação é mera exegese. O objetivo dela é a intenção psicológica do legislador. Logo, o método que se deve utilizar é o gramatical ou literal - ( Apegue-se ao que está escrito no texto; análise semântica e sintática do texto, nada mais, como comparações, analogias ou flexibilizações) j.1 Se a lei é plena, se ela contém todo o direito, então a simples inteligência das palavras é o suficiente. "Quando a lei é clara ela não precisa ser interpretada"( in claris, cessat interpretatio) k) Alguns juristas admitiam o método histórico da interpretação: investigar e descobrir documentos que retrata os trabalhos e discussões do legislador antes da lei ser elaborada l) Para os exegetas, o código era claro, completo e coerente. Porém, na prática, com as transformações sociais rapidamente aparecem as lacunas. - (a completude se dá devido a inexistência de lacunas, pois não há falta de norma jurídica; o ordenamento é coerente pois apresenta normas que não entram em choque (antinomia), em conflito umas com as outras, estando em processo de harmonia) m) Os jurista mais extremados, como Blondeau, sustentam que, diante de um vazio normativo, o juiz deve se recusar a julgar o conflito n) Outros juristas aceitavam a integração da lei por meio da analogia, ou do argumento a contrario, ou do argumento a pari o) No que toca à aplicação do direito ao caso defendiam o silogismo judicial. A lei é a premissa maior, o caso é a premissa menor e a sentença é a conclusão Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 2.2 Motivos que provocaram o surgimento do exegetismo a) Primeiro motivo: é de ordem sociológica, a ascensão social da burguesia recentemente instalada ao poder; Com a revolução francesa, interessava a burguesia o código de Napoleão - Texto de lei perfeito aplicado e silogístico (espécie de direito natural- ironia) b) O código de Napoleão se converte em uma espécie de símbolo do direito natural da burguesia recém chegada ao poder. - (A atividade bancária era controlada pela burguesia e em nome dessas atividades, as leis e a interpretação não deviam mudar, pois poderiam interferir nos negócios econômicos quanto menos interpretação das leis oscilares, menos vantajosos serão os interesses da burguesia) c) Segundo motivo: o acentuado racionalismo do século XIX (entusiasmo exagerado com o que a ciência e racionalismo poderiam proporcionar ao homem; ambiente de euforia com a escola de exegese d) Terceiro motivo: a ascensão e difusão do ideal de Montesquieu acerca da necessidade de tripartição de poderes. (ressalva ao poder legislativo- espécie de hierarquia, a partir da segunda guerra mundial, o judiciário recebeu maior relevância) e) Quarto motivo: a lei ser o instrumento funcionalmente melhor adaptado à nova realidade social e econômica decorrente da Revolução Industrial (A principal fonte do direito- exclusiva- era a lei- controle do Estado) 2.3 A evolução histórica retifica ou ratifica o exegetismo? a) A prática dos tribunais jamais se rendeu ao exegetismo ( Se a escola tivesse tido êxito, não haveriam divergências entre os juízes nos tribunais) b) Se a lei é plena, por que há conflito ou direito de ação? ( Se a lei fosse tão clara, não existiria conflito entre as pessoas e não haveria o direito de ação- direito de provocar o judiciário quando sentimos que meu direito foi lesado) c) Se a lei é clara e a ninguém é dado desconhecer a lei, então, quem exerce o direito de ação deve ser punido? (estaria colocando em dúvida a lei?) d) O exegetismo é uma Escola ultrapassada, mas muitos são os operadores do direito que ainda pensa de acordo com a escola, porque pararam de estudar Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 2.4 Conclusão a) A Escola de Exegese reduz a ciência do direito a uma mera técnica de aplicação silogística da lei ( Estudar direito seria nada mais que estudar o texto de lei) - O silogismo jurídico consiste na aplicação do método lógico-dedutivo ao saber jurídico . Historicismo jurídico 1. Introdução: a) É uma contra-revolução a revolução iluminista ( Exegese) b) Surge no início do século XIX c) Iluminismo: indivudalista e racionalista x Histoicismo (ou romantismo): irracionalista e nacionalista - (O individualismo tem como base conter os abusos do Estado e garantir liberdades individuais; racionalismo - controlar o poder, impondo limites ao poder, tentativa do direito como um todo desde o seu surgimento até sua aplicação- o modo, quem produz, o prazo da lei, etc; irracionalismo: não será possível controlar o poder completamente, pois há brechas para que o poder atue de forma descontrolada e abusiva; a principal fonte do direito não é a lei, e sim, é o espírito do povo, a convicção compartilhada pela maioria da população- costumes; os costumes seriam irracionais, pois não se sabe que produz, se pode revogar, prazo de vigência, quando será substituída,em outras palavras, não se tem controle) d) Iluminismo: produziu o jusnaturalismo e o exegetismo; contra-revoluçãoé o historicismo romântico acústico e) A contra-revolução tem sua matriz ideológica no legitimismo e no tradicionalismo em política; no romantismo e nas letras e nas artes e na Escola Histórica no caso do direito. - Movimento conservador: manutenção do status quo f) Iluminismo : progressista; historicismo: tradicionalista nostálgico e irracionalista Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 g) O iluminista é: individualista, racionalista, universalista e só conhece o homem ideal (o modelo ideal de homem) - Pura razão, sempre o mesmo em tempo e latitude h) O historicismo é nacionalista, irracionalista, casústico e conhece apenas o cidadão que pertence ao Estado. - O cidadão pertence ao Estado (discurso invertido, já que no exegetismo, o Estado serve ao cidadão) i) O iluminista é um vanguardista; o historicista é um conservador j) Nem todos os irracionalistas são conservadores, há também a visão progressista k) Normalmente, porém, o irracionalismo é conservador, pois nega que a razão seja capaz de interpretar o mundo histórico e consertar o mundo ideal l) O precursor do historicismo foi Gustavo Hugo m) O irracionalismo histórico sustenta que a fonte do direito por excelência é o costume, pois é uma manifestação espontânea (irracional) do espírito nacional do caráter conservador n) Tanto a linguagem quanto o direito desenvolvem-se historicamente de forma espontânea (irracional), pois são realidades históricas em constante transformação, sem se encontrarem orientadas em uma determinada direção. - (Irracionalismo como tudo o que está dentro da história, nada está orientando a condução da história, não há linearidade na história- caráter cíclico e helicoidal) o) O direito, enquanto produto da história, tem como fonte o instinto de sobrevivência do homem p) As ideias da escola histórica tem seu principal defensor em Friederich Carl Von Savigny q) A polêmica entre Thibaut e Savigny foi por conta da codificação - ( A alemanha deveria adotar um código só dela? Savigny totalmente contra - vivemos em uma sociedade marcada pela rev industrial, se transformando cada vez mais rápido, incertezas a respeito dos códigos, pois rapidamente ficam ultrapassados e Thibaut totalmente a favor - maior segurança jurídica) Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 r) J. F Puchta dá continuidade às ideias de Savigny - ( O direito não é criado de cima para baixo, mas sim, de baixo para cima- causa maior engajamento, envolvimento, pertencimento) s) A verdadeira fonte do direito é a Volks Geist ( Espírito do povo). Convicção compartilhada pela maioria da população = costumes - (Para uma lei ser elaborada, não deve romper os costumes s e sim, aproveitar o que a maioria da sociedade já pratica) 2. Contribuições e críticas do historicismo jurídico a) Contribuições a.1 Ontologização do direito positivo: - Onto- essência, a escola conseguiu identificar qual seria essência do direito- o fato do direito ser uma construção histórica a.2 " O fundamento da ciência do direito é a experiência" - o direito tem esse aspecto histórico, o direito não é uma construção metafísica e sim, parte da premissa da observação empírica, aprende das observações dentro da sociedade ao longo da história - conhecimento prático e não apenas teórico b) Críticas b.1 A fantasmagoria metafísica poética do romantismo impediu a substancialização e personificação do coletivo por meio de figuras imaginárias como a do "espírito do povo" - apesar de ser uma escola histórica, também acabou cometendo erros, de recorrer e abusar conceitos metafísicos, como o conceito de espírito do povo; apesar de falar mal da concepção jusnaturalista, acaba cometendo erros semelhantes b.2 A contradição que pode ser observada na obra de Savigny entre um programa historicista e a relação racionalista que redunda uma “jurisprudência dos conceitos- Savigny começa defendendo a concepção histórica, mas essa forma de compreensão levou-o a defender que a forma mais correta seria a concepção jurisprudência dos conceitos- nova escola de filosofia do direito na Alemanha no início do século XIX, derivado do próprio pensamento de Savigny a partir da escola histórica do direito; jurisprudência como sinônimo de ciência do direito; se o direito é uma construção histórica e deve ser entendido como ciência, então ele mesmo vai consolidar alguns conceitos jurídicos e com o passar do tempo tornam-se essenciais para explicar o Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 direito e ahistóricos- não estão mais sujeitos a serem transformados pela história, como sistema, norma e ordenamento b.3 A obra de Savigny não chega a conclusão de que o direito é uma ciência de objeto cultural; equívoco c) Pode-se falar em um historicismo alemão e um outro, o anglo saxão, que é mais prático, do que teórico e que, por isso, abriu campo para o sociologismo - produziu menos literatura que o historicismo alemão; mais prático e abriria espaço para o sociologismo, em especial nos EUA no século XX . O sociologismo Jurídico: 1. Introdução: a) A sociologia surge no séc XIX, ameaçando anular tanto a Ciência do Direito quanto às demais ciências sociais. - Física- química- biologia afirmam que são saberes autônomos e não mais se relacionam com a filosofia. Em seguida, a sociologia passa a afirmar que é uma ciência social e abre-se a discussão se direito é uma ciência. Os juristas argumentam que o direito seria sim uma ciência pois estaria incluída, sendo um desdobramento da sociologia ( saber enciclopédico ). Concentra dentro de si diversos outros saberem, trabalhando a seu serviço, como a história, a psicologia e o direito. - Nesse sentido,a sociologia jurídica identifica o Direito não com lei ou com jurisprudência, mas com o fato social. Desvincula o Direito do Estado, concebendo-o como simples fenômeno social, primeiro formado pelo povo na forma de costume e depois transformado em lei estatal. a) Segundo August Comte (pai da sociologia), a sociologia é uma ciência social, uma ciência geral da sociedade - Positivismo científico b) A sociologia apresenta uma natureza enciclopédica tanto para Herbert Spencer quanto para Comte - Leitura biológica da sociedade- influência de Charles Darwin Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 c) A obra de Marx e Engels é uma manifestação do materialismo histórico e tem pretensão ainda mais abrangente que a sociologia. - Direito dentro da superestrutura trabalhando para o funcionamento da economia; ciência marxista do conjunto, da unidade da sociedade e história d) Para os sociólogos do séc XIX, as demais ciências da cultura do são apenas departamentos autônomos da sociologia e) Georg Simmel, alemão do século XX, nega que a sociologia tenha caráter enciclopédico. f) Enquanto a sociologia foi pensada como saber enciclopédico, o direito foi compreendido como saber auxiliar, sem gozar de autonomia científica g) As diversas vertentes do sociologismo 2. Sociologismo francês a) O grande expoente é Augusto Comte: - mito- religião - progresso e ciência b) Durkheim também defende uma concepção enciclopédica da sociologia e por isso elabora um método sociológico para conferir status de ciência a sociologia - objeto da sociologia: fato social; distingue-se da sociologia de Max Weber - A sociologia é um saber enciclopédico do saber científico sobre o social c) René Worms, discípulo de Durkheim, vai além, ao defender que a sociologia é a filosofia das ciências sociais particulares d) Durkheim nega que os outros saberes culturais, como o direito, apresentem método próprio. O único método seria o da sociologia e, por isso, os outros saberes fazem parte da sociologia e) A aplicação do método sociológico de Durkheim a esfera do direito foi obra de George Davy e Léon Duguit f) Leon Duguit pretende basear a ciência na pura observação, nos puros fatos sociais Cecília Máximo CoutinhoFaculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 g) Duguit, com base na teoria de Durkheim da solidariedade social, baseada na divisão do trabalho, fundamenta o direito no puro fato social do sentimento de solidariedade, bem como no sentimento de justiça - solidariedade mecânica (Igreja na Idade média- impediu a divisão do trabalho em economia, política, religião, moral, ciência etc) e orgânica (com o início da Idade moderna, surge as divisões nítidas na sociedade) h) Duguit distingue três espécies de normas sociais, todas oriundas de necessidades da vida humana em sociedade: a) normas econômicas; b) normas morais; c) normas jurídicas - espécie do gênero norma social (reforçando que o direito é um ramo da sociologia, não passam de fatos sociais) i) Crítica de Machado Neto: Se Duguit estivesse consciente que fazia sociologia jurídica não haveria problema, mas ele pretende fazer ciência jurídica j) Para Duguit, o direito é um ramo da sociologia k) Segundo a teoria da solidariedade social de Duguit, os fatos sociais trazem consigo o valor da solidariedade, a partir do qual são extraídas as normas sociais - Durkheim afirma que a solidariedade é uma relação moral que faz com que os indivíduos se percebem como pertencentes a uma mesma sociedade. l) A crítica mais dura que se faz a Duguit é a de que a sua teoria da solidariedade social; termina por se aproximar do jusnaturalismo que ele tanto critica (valor de solidariedade imutável, presente em todas as sociedade… aparência de imutabilidade) m) Outra manifestação do sociologismo jurídico francês é encontrada na obra de Maurice Hauriou, expoente maior da escola institucionalista n) Hauriou não foge ao sociologismo pois, para ele, o direito emane das instituições e elas são fatos sociais o) Hauriou é influenciado por Gabriel Tarde, o que se percebe na sua defesa dos ideais, valores, crenças dos indivíduos que compõem a sociedade e as instituições p) Outra expressão do sociologismo francês é a obra de François Gény. O seu sociologismo é eclético - sofre influência de diversas áreas do saber; tem grande contribuição para o campo da hermenêutica, entendia que a princípio, era necessário manter-se fiel Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 ao texto de lei, porém, diferente da escola de exegese, entendia a existência de lacunas dentro direito, cabendo ao juiz decidir conflitos e criar uma decisão ao caso, só que, ele decidirá o caso com o compromisso de consultar as melhores informações , como no campo da filosofia, psicologia, etc. 3. Sociologismo Brasileiro a) Forjado a partir da influência do sociologismo francês b) Nasceu sob “o influxo” de Spencer e Haeckel c) Influenciou a Escola do Recife: Tobias Barreto, Clóvis Beviláqua, Sylvio Romero, Queiroz Lima. Influenciou também Pontes de Miranda e Djacir Menezes. d) Na faculdade de Direito da Bahia ( a UFBA de hoje) contaminou o pensamento de Leovigildo FIlgueiras, Virgílio de lemos e Almachio Diniz 4. Positivismo Penal Italiano a) Influenciou o pensamento de Cesare Lombroso - (preocupa-se em descrever o criminoso, sendo necessário antecipar a punição do suposto criminoso), Enrico Ferri e Rafael Garofalo - Determinismo antropológico sem eticidade ao direito penal b) O sociologismo que fora o positivismo penal italiano, contrapõem-se ao Direito penal iluminista de Cesare Beccaria 5. Sociologismo norte- americano e o Ex-União Soviética a) Principais autores norte-americanos: Oliver Holmes Jr, John Dewey, Karl Llewellyn, Jerome Frank, Benjamin Cardozo, Rouscove Pound. b) Sustenta que o direito é dito pelos tribunais - (centro da explicação, além de dizer que o direito deveria ser lido pela sociologia, deve-se ter claro que ele não é feito pelo legislador ou pelos costumes, mas sobretudo, predominantemente feito pelos tribunais - existe um direito que encontra-se escondido, nos bastidores dos tribunais; o juiz primeiro decide depois justifica sua decisão) Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 c) Tal linha de pensamento ficou conhecida como realismo jurídico norte-americano d) O sociologismo Soviético sofre forte influência dos escritos de Karl Marx e Engels - ( o direito está a serviço do capital e do Estado e é voltado pela opressão das classes trabalhadoras, ou seja, não está preocupado com sua emancipação, nascendo com o compromisso de manter a desigualdade entre as classes sociais- leitura "desconfiada"do direito, desconfia do Estado liberal capitalista, propondo um novo modelo, onde a ideia de Estado seja transitória) e) Alguns autores ficaram identificados com a causa: Pachukanis, Reisner, Stuchka, Iudin, Petrazhitskii, Bodenheier, Golunskii e Strogovich 6. Outras manifestações sociologistas pelo mundo: a) Na Escandinávia, Lundstedt e Olivecrona b) Na Dinamarca, Alf Ross c) Na Hungria, Barna Horvath. Na romênia, Mircea Djovana 7. As razões do sociologismo: a) má formação filosófica dos juristas b) A ascensão das ciências naturais - ( trouxe um desconforto para o direito, que precisava se afirmar que era ciência) c) O receio de que o Direito não fosse visto como ciência d) A comodidade de demonstrar que o Direito é uma ciência por meio da sociologia - ( Se o discurso era que a sociologia era enciclopédica, veio junto que a noção de que o direito era uma ciência auxiliar da sociologia) e) A revolta do Exegetismo e Jusnaturalismo Normativismo Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 1. Introdução e um breve resumo de sua obra a) Autor: Hans Kelsen , século XX. Diversas obras importantes: Teoria Pura do Direito, Teoria Geral do Direito, Teoria Geral das Normas, A Ilusão da Justiça b) Sustentou a crítica ao pensamento predominante de sua época: sociologismo jurídico; direito não se confunde com sociologia; possui autonomia científica c) O objeto de estudo da ciência do direito é a norma jurídica e o seu método d) Neokantista: Influenciado pelo pensamento de Kant: Racionalista moderno. d.1 Proposta de distinguir as ciências naturais de outras ciências: crítica das razões práticas d.2 Sustenta a ideia de que é possível distinguir o direito do campo da moral- diferencia-se de Kant no critério utilizado: - Enquanto Kant utiliza o critério da heteronomia x autonomia: as normas jurídicas são heterônomas (o indivíduo se submete a uma vontade maior, alheia à sua) e as normas morais são autônomas (o indivíduo tem a opção de querer ou não aceitar aquelas regras- saber espontâneo); Kelsen vale-se do critério da coercibilidade: as norma jurídicas são dotadas de coercibilidade enquanto as normas morais não d.3 Kant determina o imperativo hipotético (ordem condicional) e o imperativo categórico (ordem autoaplicável - aplicabilidade imediata) e) Kelsen vai dizer que quando o objetivo da ciência do direito é estudar a norma, precisamos focar, em um segundo momento, a ideia de um ordenamento ( qual seria o fundamento do ordenamento jurídico?) f) O que idealiza a ideia de norma não é seu conteúdo , ou a justiça ou injustiça atrelada a ela, e sim, a estrutura lógica da norma, pois essa não oscila g) A norma jurídica é um juízo hipotético: coincide com a doutrina de Kant; "SE I ENTÃO DEVE SER S" Possui uma estrutura condicional, ou seja, não se sabe quando, mas no momento em que o evento acontece, dispara a norma em funcionamento e suas consequências. Se acontecer um ilícito, então deve ser aplicada um sanção - a estrutura hipotética da norma regula os comportamentos pela ideia do castigo, sanção; Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 h) Princípio da causalidade: elo entre causa e consequência . Utiliza-se a Imputação: Atribuição, responsabilização; na prática é o elo entre o ilícito à sanção. i) Direito não pode ser confundida com história pois se utiliza do princípio da causalidade , enquanto o direito fundamenta-se no princípio da imputação j) Sanção premial:controle premunitivo . Exemplo: política de isenção fiscal no direito tributário . Espécie de premiação ao realizar o comportamento desejado . O Estado quer ser um agente atuante dentro do mercado . Da estrutura a função - Noberto Bobbio k) Quando se explica o que é norma jurídica, estuda-se o direito como estático, no entanto, para estudá-lo em uma dinâmica jurídica, é necessário pensar nas relações das normas com as outras - Estática jurídica (estudo da norma isolada e os conceitos atreladas a ela) x Dinâmica jurídica (relação entre as normas - teoria do ordenamento jurídico; grande conjunto de normas jurídicas; estrutura piramidal) l) Baseando-se na ideia de Adolf Merckel, sustenta a estrutura piramidal da norma, para explicar o ordenamento jurídico l.1 Metáfora para simbolizar o verdadeiro critério de organização das normas: critério hierárquico l.2 Contrato e sentença: base da pirâmide (normas bastante específicas), subindo em direção topo, as normas ficam mais escassas e mais amplas, dirigindo-se a um número maior de casos) l.3 A primeira norma que daria origem a todo o ordenamento jurídico seria a norma fundamental: mesma coisa do imperativo categórico de Kant: Norma pressuposta, não positivada (normas postas, inclusive a constituição). As normas postas são impostas, manifestação de poder, evento histórico (começo, fim) - A norma fundamental: A norma pressuposta não é um evento histórico, nunca aconteceu no espaço temporal; proposição que em um determinado momento, fora da história, houve uma primeira norma que deu origem a todas as normas m) Kelsen propõe a redução de dicotomias existentes no direito e substitua por conceitos únicos: Explicar o direito com base em um único conceito: norma Cecília Máximo Coutinho Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia 2022.2 - Exemplo: Direito público e direito privado (direito e ponto); Pessoa física e pessoa jurídica (sempre jurídica, já que é a norma quem dita); direito subjetivo e objetivo (todo direito é objetivo), Estado e direito (Todo Estado é de direito e todo direito é produzido pelo Estado - Monismo jurídico, somente o Estado produz direito) - OBS: Pluralismo jurídico- Há diversos ordenamentos jurídicos 2. Motivos que levaram ao surgimento do normativismo a) Momento histórico da formulação da teoria pura do direito e o significado social desse momento b) Desmoronamento inicial da cultura e do mundo burguês com a primeira guerra mundial e revolução russa., o que provoca uma crise da expansão imperialista do mundo capitalista c) Relativismo da teoria pura e sua busca por neutralidade se adequa da melhor maneira ao período de transição e de decadência do mundo burguês d) A teoria pura do direito busca a racionalização do poder (manter-lo sob controle) e é produto de um democratismo formal 3. Contribuições do normativismo e as críticas dirigidas a ele Contribuições do normativismo a) Estrutura hierárquica do ordenamento jurídico b) Conceito de imputação c) Identificação entre direito e Estado criando agora a figura do Estado de Direito Crítica: a) Kelsen ignora a questão axiológica no que se refere ao direito: Kelsen ignora a ideia de justiça para explicar o que é o direito
Compartilhar