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Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Fundamentos Sociais e Históricos do Direito Unidade Nº 4 - Concepções do Direito Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Autoria: Yara Alves Gomes Revisão Técnica: Cauê Hagio Nogueira de Lima Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Introdução Para encerrarmos o estudo dos Fundamentos Sociais e Históricos do Direito, abordaremos nesta última unidade as origens do conjunto de normas classificadas como: Direito natural e Direito positivo. Posteriormente a elas, ainda, estudaremos a relação existente entre Sociologia e Direito, expondo as teorias clássicas e modernas que se destacam como contribuição a nós vindas deste campo das Ciências Sociais. Em relação ao conteúdo da unidade temos que: o direito conceituado como um conjunto de normas tem como objetivo a regulamentação da vida em sociedade. Entretanto, neste momento de nosso aprendizado, devemos nos questionar de onde vêm estas normas. Lembraremos, claro, que elas decorrem de inúmeras fontes, conforme tratamos na Unidade 2. Porém de onde se originam as fontes do direito? Qual o fundamento de existência das normas? Pois bem, esta fundamentação advém de duas matrizes: o Direito Natural e o Direito Positivo. Foca nos estudos e vamos ao trabalho! 1. O Direito Natural: Jusnaturalismo A fundamentação de existência do direito denominada de Direito natural ou Jusnaturalismo aponta que o direito pode ser um simples fato social de poder que é posto em prática. Isto é, um conjunto de razões que os indivíduos possuem e que podem se solidificar em padrões sociais a serem seguidos. O direito, então, pode nascer do comportamento da sociedade. Devemos conceber que todos nós nascemos livres e sem obrigação até adquirirmos certidão de nascimento. Mas temos direitos preservados mesmo antes deste documento, como: à vida, à segurança, à liberdade, à igualdade etc. E possuímos estes direitos, porque o Direito natural nos proporciona. Temos assim que o Direito oriundo da natureza protege os seres humanos, independentemente da existência de uma norma jurídica imposta por um Estado, direitos estes que são inspirados nas concepções: 1. Religiosa, em que o Direito seria um produto dos mandamentos de um Deus. Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito 2. Inscrito na natureza das coisas e independente do juízo que o homem possa ter sobre o mesmo, como, por exemplo, o fato de que somente mulheres engravidam. 3. Ou ainda, que seja resultado do exercício da razão humana. 1.1 Desenvolvimento Histórico do Jusnaturalismo Para a compreensão do Jusnaturalismo, faz-se necessária a observação de seu desenvolvimento histórico, assim vamos classificar o Direito natural em sua passagem pela história da humanidade. 1.1.1. Jusnaturalismo Grego Na Grécia Antiga, a atividade legislativa era considerada como uma parte necessária do governo da cidade. Dependendo do regime político, as leis eram estabelecidas pelos réus ou pelo povo onde o Direito natural era caracterizado como corpo de normas universais e de validade geral, independentemente dos interesses e das opiniões prevalecentes em cada sociedade fundamentada na justiça e na razão. Nesta fase observa-se o direito natural como anterior à sociedade e a política, superior, portanto, ao direito escrito. 1.1.2. Jusnaturalismo Teológico O Direito passou a ser vinculado às crenças e convicções religiosas, a ser considerado herança divina tendo como fundamento as leis concedidas por Deus aos homens que vivenciavam a Idade Média. 1.1.3. Direito natural moderno É neste momento histórico que o Jusnaturalismo rompe com a visão teocêntrica. Hobbes, observa a Lei natural como algo que existe tanto no Estado de Natureza como no Estado Político. Ocorre, entretanto, que a natural se subordina à Lei Civil no caso político. Rousseau ao propor uma organização política que observasse o bem comum, resgata no Direito natural sua inspiração. 1.1.4. Jusnaturalismo na Ordem Internacional Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito O maior nome deste período é Hugo Grócio. Ele é responsável por construir uma teoria de que a fonte do direito será a moral e a razão natural que Deus inscreveu no coração do homem. O pensador observa que esta fonte seria válida por sua própria natureza, independentemente de costumes, opiniões particulares ou fronteiras, considerando os homens como dotados de um parentesco natural. Após o exame da teoria de Hugo Grócio, cumpre-nos observar os dizeres de Kant sobre o tema, para este autor o estado civil nasce não para anular o Direito natural, mas para possibilitar seu exercício através da coação. Segundo Kant, leis naturais correspondem às leis externas, cuja obrigatoriedade pode ser reconhecida a priori pela Razão. Conclui-se que o Direito natural é o conjunto de princípios ou ideais superiores, imutáveis estáveis e permanentes sendo que sua autoridade provém da natureza e não dá vontade dos homens observável por dois momentos: a) Constatação: é a percepção de que o homem faz parte da natureza ordenada (cosmos) que impõe a todas as regras e limites. b) Aplicação: o conceito de natureza abrange a sociedade como um todo pode se considerar que certos valores são estáveis, permanentes e imutáveis. Porque fazemos parte do cosmos que possui seu próprio equilíbrio, pois o homem é parte desta. 1.1.5. Jusnaturalismo Contemporâneo A concepção de direito deste período é marcada pelo jusnaturalismo, que relaciona o Direito ao Justo, vinculado este à lei natural, agora tendo como sujeito o indivíduo, fundando-se na dignidade humana. Assim, a resistência que se reformula na modernidade busca inicialmente opor-se à ação injusta do tirano e também a limitar a ação do Estado – no caso indissociada do rei – contra o indivíduo. Ela se justificava na obrigatória vinculação da lei e do direito ao Direito natural, dando a hipótese do povo de rebelar-se quando essa vinculação não se verificasse. Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Você quer ver? Direito Natural. Vamos revisar o conteúdo? Para isto recomendo que assistam o vídeo, Jusnaturalismo em 5 passos (Direito Natural) do canal Direito sem Juridiquês, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ESDR46OPICA>. 2. Juspositivismo: O direito posto O positivismo jurídico ou juspositivismo conceitua o direito como as normas que efetivamente são postas pelas autoridades que possuem o poder político de impor as normas jurídicas. Tal teoria tem como inspiração o Positivismo, criado pelo sociólogo Augusto Comte que ensejou com seu trabalho realizar um estudo da sociedade apartado dos valores a que esta era submetida. É através do positivismo jurídico que as normas podem ser identificadas como formais ou não, pois é esta teoria que apresenta critérios à classificação normativa — e faz este procedimento afastando do direito méritos externos como a moral, a ética, a política e a religião, por exemplo. O critério então que servirá à validação de uma norma jurídica como formal reside no fato desta ter sido ou não emanada por uma autoridade competente. Já a sua criação, se a autoridade poderia ter criado a norma sobre aquele tema. É necessário considerar se foram respeitados os limites temporais e espaciais que a norma poderia tomar e ainda se foi verificada a compatibilidade da norma jurídica nova para com o ordenamento. Nesta toada, assim como realizado no estudo do Direito natural, passemos a expor o desenvolvimento histórico do positivismo jurídico. De início temos que oEstado Absolutista, que antes era importante para gerar a estabilidade e a uniformidade necessárias ao desenvolvimento das atividades burguesas, passou a ser encarado como entrave ao capitalismo. Isso porque o poder soberano do monarca não encontrava limites no plano terreno, podendo de tudo dispor dentro do seu território. Fez-se necessário, então, que se garantissem os direitos naturais subjetivos do homem, sobretudo o direito à propriedade, através de um processo de contestação e deslegitimação do poder soberano do rei. https://www.youtube.com/watch?v=ESDR46OPICA https://www.youtube.com/watch?v=ESDR46OPICA Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Assim, ao jusnaturalismo teológico sucedeu o jusnaturalismo humanista, substituindo o transcendentalismo da “razão divina” pela também metafísica noção de “razão humana”. A filosofia do direito da época apoiou-se, portanto, em valores universais, uma vez que a perspectiva relativista não serviria ao propósito revolucionário burguês. Desta forma, para entendermos o positivismo jurídico que daí se originou, devemos remontar à teoria contratualista de Thomas Hobbes; para quem não existiria outro critério para o justo e o injusto fora da lei positiva. Ora, para abandonar o estado de natureza, no qual prepondera a luta de todos contra todos, os indivíduos concordam em renunciar seus direitos naturais para transmiti-lo a um soberano, buscando, dessa forma, a paz. O principal direito que os indivíduos possuem no estado de natureza é o de decidir o que é justo e o que é injusto, segundo seus próprios interesses e desejos. Portanto, a partir do momento em que se constrói o Estado Civil, não existe outro critério para decidir sobre a justiça que não a vontade do soberano (o direito positivo). Já com Montesquieu, que também era contratualista, se desenvolve e se propaga a noção de representatividade. As pessoas, como seres livres que são, elabora as leis pelas quais se viverá em sociedade através dos representantes que ele elege. Esse ideal é incorporado pelo Código Civil Francês — ou Código Napoleônico como é mais conhecido e inspira a criação da escola da exegese. Esta escola consiste em uma das primeiras correntes de pensamento do positivismo e determina que somente a lei poderá ser admitida como fonte do direito. Dentre as teorias positivistas devemos analisar neste momento inicial do curso jurídico a Teoria Pura do Direito, proposta por Hans Kelsen. O Positivismo Jurídico tem como destaque os seguintes autores: Hans Kelsen e Bobbio. Kelsen propõe que o Direito deverá ser estudado desvinculado dos valores dessa sociedade. Inspirado no Positivismo Comteano, o autor concretiza a denominada teoria pura do direito que tem como objetivo estudar as normas sem que sejam estas valoradas pela moral ou pela política. Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Desta forma, o Direito deixa, então, de ser uma ciência humana para ser uma ciência quase exata. Ao alcance deste objetivo o autor desenvolve a Teoria Pura do Direito. Trata-se de uma forma de organizar o Direito através de uma estrutura escalonada de normas. Nesta, a norma jurídica superior fundamenta a existência de validade das inferiores. Assim, fica sendo necessária a projeção da norma hipotética fundamental por sobre toda a estrutura, para que ela possua validade e através desta se alcance a eficácia. Norberto Bobbio, por sua vez, desenvolve o Positivismo Jurídico Crítico que possui cinco características, as quais estudarmos através da exposição de Zanon Júnior (2012): a. Normas Jurídicas são proposições prescritivas, ou seja, um conjunto de palavras cujo significado visa influenciar o comportamento humano. Percebe-se, então, que a Norma é analisada segundo critérios formais, ou seja, considerada de acordo com sua estrutura, independentemente do seu conteúdo. b. Ótica do Ordenamento, ao invés de focar a Normas individualmente consideradas. c. Problema da unidade do Ordenamento Jurídico, verifica-se que a dificuldade reside em estabelecer os critérios para determinar a pertença das Normas ao sistema. d. Coerência do Ordenamento Jurídico - antinomias que podem ser suprimidas mediante o emprego de critérios como: hierárquico da Regra superior sobre a inferior, na revogação cronológica da Regra anterior pela posterior e na preferência especial da Regra específica sobre a genérica. e. Completude do Ordenamento Jurídico, considerando a indiscutível falta de preceitos legais para regência de todos os casos conflituosos emergentes em Sociedade, a completude do Ordenamento Jurídico somente pode se sustentar na aplicação de uma de duas Normas implícitas, consistentes em, primeira, na Norma geral permissiva (ou espaço jurídico vazio), no sentido de que há liberdade para agir de qualquer modo quando ausente limitação normativa, conforme inclusive já havia sugerido Kelsen; ou, segundo, na Norma geral exclusiva, a qual estabelece a proibição ou vedação de tudo aquilo não expressamente autorizado pelo plexo jurídico. Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito 2.1. Oposição ao Jusnaturalismo O positivismo jurídico ataca as teorias do direito natural de duas formas distintas. Se o direito natural é confundido com a noção de direito justo, o positivismo corresponde às teorias que defendem que “o direito pode ter qualquer conteúdo”, até mesmo injusto (formalismo jurídico). Já, se o direito natural é entendido como direito racional, o positivismo corresponde às teorias que defendem que o direito não é um sistema da razão, mas o conjunto dos atos de vontade dos governantes. O conhecimento jurídico, então, seria apenas a constatação dessa vontade (voluntarismo jurídico). Essas duas espécies de positivismo jurídico foram influentes no século XIX, mas estão hoje em declínio. Você quer ler? Conhecer os fundamentos do Direito é de extrema necessidade, logo aproveite a leitura indicada para revisar o conteúdo e aprimorar o conhecimento. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/6/direito-natural-e-direito- positivo>. 3. Sociologia Jurídica A Sociologia Jurídica tem como intuito o estudo de teorias sociológicas de destaque no curso de sociologia durante a graduação em Direito jurídico, visando à formação humanística dos alunos e a efetividade das normas perante a sociedade. Você quer ver? Porque estudar sociologia na Faculdade de Direito Para que o tema fique mais claro e prazeroso indicamos a vídeo aula presente no vídeo: Sociologia – Aula. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9vckN_XZRHQ>. https://jus.com.br/artigos/6/direito-natural-e-direito-positivo https://jus.com.br/artigos/6/direito-natural-e-direito-positivo https://www.youtube.com/watch?v=9vckN_XZRHQ Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito 3.1. Émile Durkeim Émile Durkheim, autor nascido na França, pertencia a uma família de rabinos, sendo judeu franco-alemão. Tem como principais influenciadores Saint-Simon e Auguste Comte. Para estes, a humanidade avança no sentido de seu gradual aperfeiçoamento, governada pela força da lei do progresso. A sociologia desenvolvida por este autor dá ênfase nas instituições sociais, seu surgimento e funcionamento. Sendo as instituições construídas pelo coletivo de pessoas e responsáveis por refletir crenças e comportamentos. Já a vida coletiva por sua vez consiste em um ser distinto somado pela junção de todas as pessoas. E ainda os fenômenos sociais (aquilo que aparece socialmente) que têm sua origem na coletividade e não em cada um dos seus participantes. O autor buscava um método científico capaz de superar o senso comum e que fosse objetivo. Durkheim elege como aspecto principal de sua teoria os fatossociais, ou seja, tudo que for exterior ao indivíduo que exercer autoridade sobre estes, como por exemplo, a família ou a escola. Duas são as classificações de fatos sociais: ● Fato Social Normal: É aquele que é geral, que é recorrente e que favorece a integração social. O recurso da quantificação via estatística, se a taxa de crime se mantém em condições suportáveis pelas estruturas sociais. ● Fato Social Patológico: É excepcional, é transitório e põe em risco a integração social. Decorre da impossibilidade de acomodação de todos os indivíduos às normas de condutas pré-estabelecidas. Além da classificação temática de fatos sociais temos que apresentar como estes são caracterizados. Primeiro, os fatos sociais que são externos, moldando as formas de pensar, sentir e agir dos indivíduos, são internalizados por meio do processo de socialização. Percebam que, desde crianças, somos educadas para determinadas formas de se comportar, e para capacidade de obedecer às regras postas, desde seguir horários a tratar as demais pessoas. Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Como segunda característica, temos a coercibilidade que decorre da força que esses fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a agirem de acordo com as regras estabelecidas pela sociedade em que vivem. E, por fim, temos a generalidade, que determina o grau de difusão dos padrões sociais, ou seja, que determina que seja para todos imposto determinado padrão de comportamento. Em decorrência dessas características, devemos observar a Coesão Social, em relação a estas temos que o Individualismo, tal qual se compreende em nossos dias, é um conceito teórico bastante recente. No núcleo da coesão social apresenta-se a figura das solidariedades descritas pelo autor com os seguintes ideais: ● Sociedade Simples ou Mecânica: são sociedades arcaicas, homogêneas, com pouca divisão do trabalho, a consciência coletiva abrange a maior parte das consciências individuais. ● Sociedades Complexas ou Orgânicas: são sociedades diversificadas, ocorre uma redução dessa força e não acontece a coincidência entre a consciência coletiva e a consciência individual, havendo espaços para a individualidade. 3.2. Max Weber Max Weber, filho de um jurista e político do Partido Liberal Nacional. Estudou nas universidades de Heidelberg, Berlim e Gotinga. Formou-se em Direito e doutorou-se em Economia. Weber foi defensor do ideal de que a ciência da sociedade não deveria se reduzir a realidade comprovada. Por conta disto, o autor direcionou sua teoria à análise de fatores relacionados à realidade e aos valores sociais com o objetivo de compreender qual a relação existente entre os anseios sociais e as práticas individuais. Sobre a análise do objeto proposto, Weber desenvolve o conceito de ação social, ou seja, o instrumento de destaque na presente teoria refere-se a uma conduta dotada de um sentido que é socialmente compartilhado a partir da Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito interação com outros e fundamentalmente é uma ação que é orientada para o outro, tem o outro como referencial. Neste sentido, baseado nos tipos ideais, weber formulou quatro tipos puros de ação social, conforme leciona o autor Roniel Sampaio Silva. 1. Ação social racional com relação a fins, na qual a ação é estritamente racional. Toma-se um fim e este é, então, racionalmente buscado. Há a escolha dos melhores meios para se realizar um fim. 2. Ação social racional com relação a valores, diferentemente da ação social racional o importante não é o fim ou o resultado em si, mas o meio que motiva ação. Tal meio é o valor inerente às crenças, convicções religiosas, política, éticas ou estéticas do sujeito. 3. Ação social afetiva, conduta orientada por sentimentos motivadores, sejam positivos ou negativos: devoção, paixão, vingança, ciúmes, esperança, inveja, medo etc 4. Ação social tradicional, que é reproduzida a partir de geração para geração como forte apelo à tradição, hábitos e costumes. (SILVA. 2012) Na concepção de Weber, tipo ideal ou tipo puro é um instrumento da análise sociológica elaborado para a apreensão de fenômenos sociais. Através da elaboração de tipologias puras, ou seja, destituídas de tom avaliativo, oferece um recurso analítico baseado em conceitos, como o que é religião, burocracia, economia, capitalismo, dentre outros. O tipo ideal é o fato de que não corresponde à realidade, mas pode ajudar em sua compreensão, estabelecido de forma racional. Porém se constrói com base nas escolhas pessoais anteriores daquele que analisa, buscando generalizar a razão, funcionando apenas como uma referência para se compreender uma realidade dada. Por fim, cumpre a nós observar a definição dada por Weber às dominações como a oportunidade de encontrar uma pessoa determinada pronta a obedecer a uma ordem de conteúdo determinado. Weber classificou a dominação como sendo: Legal (aquela decorrente da legislação); Tradicional (fruto da sociedade como por exemplo as relações entre pais e filhos); e ainda Carismática (a qual a autoridade é suportada, graças a uma devoção Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito afetiva por parte dos dominados, como, por exemplo, a escolha de determinado político que tenha sido um jornalista). 4. A Sociologia Jurídica Contemporânea Assim como o Direito fez ao transicionar de tempo em tempo histórico, a Sociologia, agora já no tardar da modernidade, após a II Guerra Mundial, passou por diversas alterações. Posto isso destacamos dois autores que tem indiscutível importância neste período. Observaremos, sobretudo, duas autorias que se destacam: Michel Foucault e Hannah Arendt. 4.1. Michel Foucault Figura 1 - Michel Foucault. Fonte: Jacobin Mag. Nascido em uma família tradicional de médicos, Paul-Michel Foucault frustrou as expectativas de sua família ao não seguir carreira em medicina. Licenciou-se em filosofia pela Sorbonne em 1948, mesmo ano em que tentaria suicídio, submetendo- se a tratamento psiquiátrico. Aos 28, publicou Doença Mental e Psicologia, mas foi com História da Loucura que ganhou destaque. Faleceria por complicações de AIDS antes de completar seu mais ambicioso trabalho: A História da Sexualidade. O autor em suas obras tratou temas como: loucura, sexualidade, disciplina, poder e punição. temas estes tratados como: a. O saber médico e psiquiátrico: a patologização e a medicalização como formas modernas de dominação sobre seres, econômica e os socialmente inconveniente os loucos; Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito b. O nascimento das ciências humanas e da filosofia moderna como saberes que atestam a invenção do conceito de homem transformando o ser humano ao mesmo tempo em sujeito do conhecimento e objeto de saber o grande dogma da modernidade filosófica; c. A prisão e outras instituições de confinamento não como um avanço nos sentimentos morais e humanitários, mas como mudança de estratégia do poder, que visa o disciplinamento e a docilização dos corpos. d. A sexualidade como dispositivo histórico da objetivação e subjetivação do corpo, através dos quais se implica uma verdade essencial do homem. Em nossos estudos devemos observar o que versou o autor sobre o sistema penal e a filosofia propriamente dita. Foucault reflete acerca do sistema penal e da filosofia do poder que aparecem em sua renomada obra Vigiar e Punir. Em tal obra teve como objetivo pensar toda a tecnologia do poder, que teria surgido no século XVIII, visando compreender que o domínio no qual se exerce o poder não é a lei, mas sim a norma, que produz condutas, gestos e molda o próprio indivíduo moderno. No que tange a propostateórica do autor, devemos destacar que este buscava combater o racismo e os abusos aos direitos humanos através de reformas do sistema penal e do estudo sobre o poder. Essencial à compreensão da teoria de Foucault é visualizar que para este autor todo o comportamento humano se desenvolve através de uma relação de poder. Foucault desenvolverá ao longo de suas obras, temas como: prisão, disciplina e o exercício da soberania, governabilidade, sexualidade, política, saúde mental, dentre outros, sempre destacando a existência de microesferas de poder. A microfísica do poder consiste na relação entre um poder central do Estado e as mudanças que ocorrem neste advindas de micro alterações de poder exercidas entre os indivíduos. 4.2. Hannah Arendt Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Figura 2 - Hannah Arendt. Fonte: El País. Hannah Arendt foi uma filósofa e teórica política contemporânea. Judia nascida na Alemanha, Arendt vivenciou os horrores da perseguição nazista, o que motivou a sua pesquisa sobre o fenômeno do totalitarismo. Hannah Arendt destaca-se por tecer críticas ao totalitarismo, por um lado, e ao marxismo de origem stalinista, por outro, pois na visão da autora estes poderiam aniquilar os direitos civis. Sendo que na concepção da autora o stalinismo serve como uma fundamentação teórica do totalitarismo, vez que este é caracterizado por uma centralização do poder político que cultua um líder e o elege para que controle toda a vida pública e privada das pessoas, uma espécie de eleição do inimigo comum de toda a sociedade. Neste contexto de totalitarismo, Arendt desenvolve o conceito de, banalidade do mal, que se destaca como um dos mais importantes dos formulados pela autora. A banalidade do mal consiste na prática de um mal radical, um mal que tem raízes na sociedade em quem o pratica. É um mal praticado de forma tão corriqueira que se torna banal e acaba por se desprender da motivação inicial. A autora usa para exemplificar o mal banal Adolf Eichmann, oficial do exército nazista que transportava os judeus para os campos de concentração. Arendt afirma que Eichmann não foi para o exército por acreditar estar servindo à sua pátria, mas apenas por dinheiro. Era banal a gente prática dos males de genocídios e tortura. Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito A banalidade do mal retrata que o indivíduo que desprendido de uma consciência coletiva e que age somente à seu bem tende a prática do mal banal. Síntese Nesta unidade foram explanadas as concepções fundantes do direito, o jusnaturalismo e o juspositivismo e ainda foram elencados os destacados sociólogos Durkheim e Weber. Acompanhando os avanços das sociedades sobre a sociologia contemporânea foram trabalhamos os importantes conceitos de microfísica do poder de Michael Foucalt e a Banalidade do Mal de Hannah Ardent. O conteúdo exposto tem por objetivo, proporcionar o aluno: ● Capacitar o estudante à identificação crítica dos diferentes pensamentos jurídicos e correlaciona-los de forma eficiente segundo a teoria dos fatos sociais. ● Utilizar o raciocínio e a argumentação jurídica, de forma articulada, a fim de promover a persuasão e a reflexão crítica. ● Atentar o estudante aos riscos da obediência irrefletida à norma. ● Definir a estratégia de atuação profissional com coerência e ética, identificando soluções ilícitas, com criticidade e criatividade, diante de todos os cenários possíveis. Lembrem-se o Direito tem por objetivo regular a sociedade e sanar conflitos de interesse que possam existir nessa. Por isso o estudo da sociologia é de suma importância, pois estudar a sociedade através de sua ciência própria é o caminho para o alcance de uma sociedade justa. Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Bibliografia BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. BATALHA, Wilson de Souza Campos. Teoria geral do direito. Rio de Janeiro: Forense, 1982. BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Trad. Maria Celeste Cordeiro Leite dos Santos. 10. ed. Brasília: Editora UnB, 1999, p. 92. DINIZ, Maria Helena. Lei de introdução às normas do Direito brasileiro interpretada. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2012a, p. 24. DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do Direito: introdução à teoria geral do direito, a filosofia do direito, à sociologia jurídica e lógica jurídica. Norma jurídica e aplicação do direito. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do Direito. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. João Baptista Machado. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. REALE, Miguel. Teoria tridimensional do Direito: situação atual. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1994. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. SILVA. Roniel Sampaio. Ação social: Conceito fundamental de Weber. Disponível em: <https://www.cafecomsociologia.com/acao-social-de-weber-dar-a-seta/>. ZANON JUNIOR, Orlando Luiz. Positivismo Jurídico de Bobbio. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3339, 22 ago. 2012. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/22461>. Acesso em: 21 out. 2019. Referência imagética: https://www.cafecomsociologia.com/acao-social-de-weber-dar-a-seta/ https://jus.com.br/artigos/22461 Fundamentos Sociais e Históricos do Direito – Unidade Nº 4 – Concepções do Direito Figura 1 - JACOBIN MAG. Michel Foucault. Disponível em: <https://jacobinmag.com/2019/09/michel-foucault-neoliberalism-friedrich-hayek- milton-friedman-gary-becker-minoritarian-governments>. Acesso em: 23 out. 2019. Figura 2 - EL PAÍS BRASIL. As vozes de Hannah Arendt. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/26/cultura/1461669894_626416.html>. Acesso em: 23 out. 2019. https://jacobinmag.com/2019/09/michel-foucault-neoliberalism-friedrich-hayek-milton-friedman-gary-becker-minoritarian-governments https://jacobinmag.com/2019/09/michel-foucault-neoliberalism-friedrich-hayek-milton-friedman-gary-becker-minoritarian-governments https://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/26/cultura/1461669894_626416.html
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