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Ignaz Semmelweis e a Lavagem das Mãos

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27/09/2022 08:21 Ignaz Semmelweis: as lições que a história da lavagem das mãos ensina
https://agencia.fiocruz.br/print/12385 1/5
Publicado na Agência Fiocruz de Notícias (https://agencia.fiocruz.br)
Início > Ignaz Semmelweis: as lições que a história da lavagem das mãos ensina
Ignaz Semmelweis: as lições que a história da lavagem das mãos ensina
Lavar as mãos. Este hábito tão simples quanto antigo vem sendo repetido como mantra pelas
autoridades sanitárias do mundo inteiro como uma das armas mais eficazes na luta para conter
a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). Desde março, quando a
Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia, houve uma verdadeira cruzada
para conscientizar as pessoas sobre a importância de lavar as mãos e evitar aglomerações. No
entanto, se a lavagem das mãos ainda é um desafio no século 21, no século 19, esse tipo de
questão quase inexistia. Os hospitais, as ‘Casas de Morte’, eram espaços em que doentes
ficavam amontoados, em salas pouco ventiladas, sem acesso a higiene e água limpa. Os mais
abastados preferiam se tratar em casa, onde as taxas de mortalidade chegavam a ser de três a
cinco vezes menores.
Arte: Silmara Mansur (COC/Fiocruz)
 
Nessa época, ir ao hospital para ter um bebê, por exemplo, era quase uma sentença de morte.
Foi o que observou em 1846 o recém-nomeado assistente do diretor e residente-chefe da
Clínica de Maternidade do Hospital Geral de Viena, o médico húngaro Ignaz Semmelweis.
Preocupado com a mortalidade por febre puerperal ou pós-parto, ele percebeu uma diferença
https://agencia.fiocruz.br/
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sinistra entre as clínicas sob sua responsabilidade: as mortes na clínica utilizada para o ensino
de jovens médicos onde, além dos partos, realizavam-se autópsias e cirurgias, chegavam ao
triplo da outra, onde era feito o treinamento de enfermeiras-parteiras.
O médico atribuiu essas mortes, então, ao que chamou de ‘partículas cadavéricas’ que,
aderidas às mãos dos médicos, estariam contaminando as pacientes. Atualmente, a relação
entre doenças e contaminação por micro-organismos é reconhecida como um problema de
saúde pública e um desafio global pela OMS, mas em meados do século 19, a recomendação
de Semmelweis de que os médicos deveriam lavar as mãos e os instrumentos cirúrgicos em
solução de cal clorada para evitar a febre puerperal enfrentou oposição.
Primeiro estudo experimental relacionado à lavagem das mãos
A partir de informações estatísticas e observações do
que acontecia nas duas salas, o médico passou a
formular hipóteses para explicar a discrepância.
Primeiro, atribuiu as mortes ao ar contaminado pelos
miasmas, mas logo descartou a suposição, pois as
salas eram igualmente ventiladas. Supôs também
que as mortes se deveriam à superlotação. No
entanto, a clínica das enfermeiras recebia mais
mulheres, que suplicavam para não serem atendidas
pelos médicos. Poderia ser medo, já que o padre
responsável pela extrema unção caminhava pelos
corredores tocando uma campainha. A pedido de
Semmelweis, o sacerdote deixou de fazê-lo, mas isso
não contribuiu para diminuir as mortes. Uma a uma,
essas e outras hipóteses foram desconsideradas.
Foi então que um acidente ajudou o médico a
solucionar o enigma: um colega e amigo, Jacob
Kolletschka, ferido pelo bisturi de um dos estudantes,
havia apresentado os mesmos sintomas das
parturientes antes de morrer. Ao realizar a autópsia
de Kolletschka, Semmelweis descobriu que os órgãos
do amigo também apresentavam aspecto
semelhantes ao das mulheres vítimas da febre. Deduziu então que a sepse e a febre puerperal
deveriam ter a mesma origem: as mãos de estudantes e médicos, que, sujas por dissecações
recentes, transportariam ‘partículas cadavéricas’ para os órgãos genitais das mulheres em
trabalho de parto. Isto explicaria ainda por que os níveis de mortalidade eram menores entre as
parteiras: elas não participavam das autópsias.
O médico húngaro conduziu, então, o primeiro estudo experimental relacionando à falta de
higienização das mãos e de equipamentos à febre puerperal. Semmelweis ordenou que todos
lavassem as mãos com uma solução de cal clorado antes de realizar qualquer exame e
observou, em poucos meses, a taxa de mortes cair drasticamente, de 12,24% a 3,04%, ao fim
do primeiro ano, e a 1,27% ao término do segundo, fato registrado na Enciclopédia Britânica
(1956).
Batalha pelo reconhecimento da técnica
Apesar dos resultados positivos, a hipótese de Semmelweis foi alvo de muita contestação. O
ponto de atrito estava para além da simples recusa em concordar com a eficácia do
procedimento de higiene das mão. Em primeiro lugar, é preciso considerar que o êxito do
médico húngaro – hipótese sobre contaminação e recomendação de profilaxia – estava
circunscrito à prática clínica e carecia de um método científico, como testes experimentais e
generalização da hipótese, a exemplo do que ocorre normalmente nas construções científicas. 
 
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Além disso, a hipótese de Semmelweis contrariava o
paradigma vigente, a teoria miasmática: “Somente
mais tarde, a era da bacteriologia, iniciada com os
trabalhos de Louis Pasteur e Robert Koch, forneceu
uma nova racionalidade ao uso de substâncias
antissépticas utilizadas por cirurgiões. Nesse campo,
os artigos publicados por Joseph Lister, na revista
The Lancet, em 1867, documentando suas
experiências com o uso do spray carbólico, tiveram
enorme impacto”, explica o historiador Flavio Edler,
pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz
(COC/Fiocruz). No Brasil, a introdução da técnica foi
paulatina. “Desde a década de 1880, já há menções
ao curativo de Lister como ‘profilaxia das septicemias
cirúrgicas’ para evitar a ‘fermentação pútrida’,
descoberta por Pasteur”, afirma o historiador.
Em segundo lugar, também havia razões
institucionais: a ausência de publicações em
periódicos científicos e a difícil relação com a
comunidade médica. Semmelweis se recusou durante
muito tempo a escrever artigos e difundir suas
descobertas. Quando o fez, em 1861, utilizou o livro A
etiologia, o conceito e a profilaxia da febre do pós-parto para atacar os médicos que não
concordavam com ele, atribuindo-lhes a responsabilidade pela morte das vítimas da febre do
pós-parto. Obviamente, a obra gerou muitos confrontos e o húngaro se viu relegado ao
ostracismo.
Pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, a historiadora Simone Kropf alerta que a produção de
fatos científicos não é resultado da mera aplicação de um método puramente fundado na
observação empírica da natureza, mas envolve diversos fatores. “Trata-se de um processo
diretamente relacionado a elementos de ordem social, cultural e política, que afetam não
apenas o entorno das ciências, mas as próprias ideias científicas. Nesse sentido, a
transformação de enunciados e alegações em fatos científicos aceitos e legitimados depende
de um intenso processo de negociação e disputas em busca da produção de consensos
compartilhados”, afirma.
Semmelweis adoeceu e acabou sendo internado em um hospício, onde morreu meses mais
tarde. Dentre as teorias que circulam sobre sua morte, a mais difundida é que, ao se cortar, em
um acesso de loucura, a ferida produziu a febre contra a qual lutou durante sua carreira. Uma
outra sustenta que as surras que levou na instituição onde foi internado provocaram uma lesão
fatal. Embora não tenha conseguido apresentar uma explicação nos moldes do que se
considerava um enunciado científico, nem quebrar a resistência do paradigma científico do seu
tempo, a receita simples de Ignaz Semmelweis de ‘lavar as mãos’ tem salvado vidas desde
então.
História como antídoto ao negacionismo científico
Diante do cenário de crise sanitária, os meandros e processos da história de Semmelweis
ajudam a compreender a ciência como uma atividadecoletiva de produção de consensos, que
envolve controvérsias, associações entre determinados grupos em momentos históricos
específicos, e a considerar as relações constitutivas entre ciência, política e sociedade. Em
especial, a historicidade convida a refletir sobre as disputas que marcam tais processos de
negociação.
A historiadora conta que o negacionismo da ciência, sob a forma em que se apresenta hoje em
dia remonta à atuação da indústria do tabaco na década de 1950, quando esta se viu ameaçada
diante de estudos que evidenciavam a relação entre fumar e certas doenças, como o câncer.
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Além dos que negaram os efeitos nocivos do tabaco, a ciência tem enfrentado os que negam as
vacinas e a emergência climática. "As estratégias dos ‘mercadores da dúvida’, citando o título
do livro de Naomi Oreskes e Erik Conway, são sempre as mesmas: semear incertezas para
enfraquecer e solapar consensos científicos”, compara Simone.
Essas estratégias geralmente contam com supostos especialistas para confrontar os
enunciados científicos em espaços externos e alternativos às instituições e práticas de
certificação da ciência (que são os periódicos, congressos e demais espaços e procedimentos
de avaliação por pares), o que atualmente é facilitado pelas mídias sociais, que, segundo
Simone, “são um meio [dos negacionistas] para reivindicar autoridade e credibilidade que
 nunca teriam nos meios científicos institucionalizados”. A historiadora alerta, por fim, que tais
negacionismos sempre representam interesses econômicos e políticos, seja no caso da
indústria do tabaco, ou na contestação das medidas sanitárias para enfrentar a disseminação
do coronavírus e, como tais, devem ser expostos. “A ciência, como qualquer atividade da vida
social, é indissociável da política”, conclui.
Crédito: 
Jacqueline Boechat e Haendel Gomes (COC/Fiocruz)
Links na Fiocruz: 
Especial Covid-19: o olhar dos historiadores da Fiocruz [1]
Especial Covid-19 - o olhar dos historiadores da Fiocruz: O laboratório e a urgência de mover o
mundo [2]
Fiocruz registra momento da infecção do Sars-CoV-2 em célula [3]
Data de publicação: 
segunda-feira, 13 Abril, 2020
Imagem para listagem: 
Chamada para destaque: 
Historiadores da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) lembram a história de Ignaz
Semmelweis, médico húngaro que conduziu o primeiro estudo experimental relacionado à
lavagem das mãos
E-mail do crédito: 
ccs@fiocruz.br [4]
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