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Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS MORFOFISIOLOGIA DA TIREOIDE: A tireoide é uma glândula em formato de “H” localizada na região anterior e basal do pescoço, anteriorizada em relação à traqueia e às cartilagens tireóidea e cricotireoidea. Esse posicionamento torna bastante favorável sua identificação em exames de imagem. Posicionamento da tireoide, com alguns referenciais anatômicos No que se refere à anatomia topográfica da tireoide, é possível destacar algumas relações importantes: Lateral: a tireoide está em contato íntimo com os músculos da laringe; Medial: associa-se com a laringe, traqueia, esôfago e com os nervos laríngeo e recorrente; Posterior: há proximidade com a bainha carotídea (estruturas vasculares) e com músculos pré-vertebrais. Anatomia topográfica do pescoço, com destaque para estruturas relacionadas à tireoide A irrigação sanguínea é mediada pela artéria tireóidea superior (derivada da carótida externa), da artéria tireóidea inferior (ramificação do tronco tireocervical, oriundo da subclávia), e da artéria tireóidea “mais baixa”. Esses vasos são blaterais, e a existência de múltiplos ramos arteriais favorece o suprimento de oxigênio e nutrientes, mesmo em casos de oclusão. Panorama arterial tireoidiano No que se refere à drenagem venosa, os vasos se associam à nomenclatura arterial, com veias tireóideas superior, média e inferior, que formam um plexo sobre a glândula. Mapeamento da drenagem venosa da tireoide A drenagem linfática tireóidea se segmenta em porções superior (linfonodos cervicais superiores profundos), inferior (área Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS cervical inferior profunda) e do istmo (linfa escoa para a área braquiocefálica) A compreensão dos linfonodos da região do pescoço é fundamental para a detecção da progressão de neoplasias FISIOLOGIA DA TIREOIDE: No que se refere à produção hormonal pela tireoide, ressalta-se que, apesar de a tiroxina (T4) ser sintetizada em maior volume, esta substância deve ser convertida em triiodotironina (T3), que apresenta maior velocidade de ação. Essa mudança é fruto da “desodização” gradual (em poucos dias) de T4. A organização histológica da tireoide é importante para a compreensão de seu papel endócrino. O coloide, material gelatinoso que preenche os folículos, é repleto de tireoglobulina que abriga múltiplos aminoácidos tirosina, componentes de T3 e T4. O fluxo sanguíneo local é bastante intenso, de forma a excretar a grande quantidade de hormônios secretados. Representação de corte histológico da tireoide O iodo, sobre a forma de iodeto, é necessário para a formação de tiroxina e triiodotironina, sendo obtido a partir da alimentação. Mesmo com tanta importância, a maior parte desse composto é excretada pelos rins, com apenas 1/5 do volume total sendo usado por células tireoidianas Essa captação ocorre por meio do simporte de sódio-iodeto, sendo os íons de sódio removidos pela bomba de Na/K/ATPase, que fornece energia ao processo e mantém baixa concentração intracelular de Na+. Já na tireoide, o iodeto é levado até o folículo por meio da pendrina, membrana que mais uma vez realiza cotransporte, dessa vez com cloreto. A partir desse momento, se desenvolvem os processos essenciais à síntese hormonal, que são: Oxidação do iodeto: a tireoide faz uso do iodo nascente, também chamado de I3, formado a partir da peroxidase, liberada no exterior das células da tireoide; Distúrbios no sistema de peroxidase levam à ausência total da síntese de hormônios. Organificação da tireoglobulina: corresponde à ligação direta entre I3 e a Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS tireoglobulina, que se dá gradualmente até criar os hormônios finais T3 e T4; Armazenamento da tireoglobulina (agora com hormônios): há retorno dessas moléculas para os folículos, que conseguem reter volumes suficientes para vários meses. Esse estoque justifica o “efeito retardado” da deficiência da tireoide. Mecanismo de síntese dos hormônios tireoidianos A liberação de T4 e T3 é dependente da clivagem da tireoglobulina, que se dá por meio da criação de vesículas pinocíticas no coloide, áreas isoladas que sofrem a ação de lisossomos e suas enzimas. Os hormônios recém-libertos migram para a base das células tireoidianas, sendo difundidos para os capilares. Na circulação sanguíneas T3 e T4 se ligam imediatamente a proteínas plasmáticas, principalmente a globulina ligadora de tiroxina (TBG), que apresenta afinidade considerável por esses hormônios. Assim, nota-se que a liberação para os tecidos é lenta, também necessitando de proteínas intracelulares, que criam pequenas “reservas”. Além da liberação, a taxa de ação da tiroxina é lenta, apresentando efeito prolongado A ação hormonal dos produtos tireoidianos reside na ativação de receptores nucleares de transcrição, de forma a gerar mRNA de diversas proteínas. Alguns papéis não genômicos desses compostos são a regulação da fosforilação oxidativa e a ativação de mensageiros intracelulares. Impactos do T3 sobre a transcrição gênica Outra importante consequência da ação do T3 é o aumento do metabolismo celular, acelerando o consumo energético alimentar de modo simultâneo à síntese proteica. Essa resposta aparenta estar associada ao crescimento das mitocôndrias, tanto em número quanto em função. Dentre as funções específicas associadas à triiodotironina, destacam-se: Os produtos intermediários desse processo, monoiodotirosina e diiodotirosina, são minimamente excretadas. Sua maioria sofre a ação da enzima deiodinase, que recicla o iodo para formar mais hormônios. Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Estímulo ao metabolismo de carboidratos: há aumento da captação de glicose pelas células, bem como da absorção intestinal desse composto e da glicólise. A secreção de insulina também é elevada; Aumento do metabolismo de gorduras: uma mudança importante é a aceleração da mobilização do tecido adiposo, diminuindo o acúmulo de gordura corporal. Há acúmulo de ácidos graxos no plasma, porém o mesmo não acontece para triglicérides e colesterol (excretado pela bile). Maior necessidade de vitaminas; Excitabilidade cardíaca: o metabolismo celular leva à vasodilatação, de forma a garantir o suprimento de oxigênio e suprimentos. Como resposta, o corpo aumenta o débito e a frequência cardíaca; Maior motilidade do TGI; Aumento da frequência respiratória (maior consumo de O2 pelas células); Excitação do SNC (maior velocidade dos pensamentos); Impactos sobre a função sexual: os extremos da produção tireoidiana levam a oligo ou amenorreia, impotência e alterações da libido; Função muscular: inicialmente, ocorre reação mais vigorosa ao movimento (tremores), que lentamente transforma- se em enfraquecimento, decorrente do catabolismo de proteínas. Efeitos sistêmicos dos hormônios tireoidianos REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE HORMÔNIOS TIREOIDIANOS: A modulação da função da tireoide é dependente do eixo hipotalâmico- hipofisário, que atua por meio de hormônio liberador de tireotropina (TRH) e da tireotropina (TSH), respectivamente. A liberação de ambas essas substâncias respeita o feedback negativo, de forma que o aumento da produção de T3/T4 leva a uma diminuição da atividade central. O TRH produzido é carreado pela circulação porta-hipofisária até a hipófise anterior, onde promove a ativação da fosfolipase, desencadeadora de diversas cascatas iônicas que culminam na liberação de TSH. O TSH, por sua vez, age diretamente sobre a tireoide, estimulando diversos dos processossecretores (ex.: iodização e proteólise da tireoglobulina), mediados pela elevação de AMPc intracelular. Outra importante consequência desse sistema é o aumento numérico e funcional de células foliculares da tireoide. Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Mecanismo de feedback negativo para a síntese de hormônios tireoidianos A regulação da atividade tireoidiana normalmente ocorre mesmo em situações de sobrecarga de iodo, porém algumas circunstâncias podem precipitar o aparecimento de tireopatias, a saber: Efeito Wolff-Chaikoff: ocorre em indivíduos que apresentam lesão prévia na tireoide, de modo que ela não suporta o influxo de iodo e bloqueia sua organificação, induzindo hipotireoidismo; Comparação entre a secreção de hormônios tireoidianos (dir.) e o “desligamento” da glândula no efeito Wolff-Chaikoff (esq.) Efeito Jod-Basedow: predomina em eutireoideos ou pessoas com quadros latentes de hipertireoidismo, nos quais a maior disponibilidade de substrato leva à produção acentuada de T3 e T4, culminando em hipertireoidismo secundário ao excesso de iodo. O uso de medicamentos associada à psicoterapia apresenta ótimos resultados, sendo empregados principalmente antidepressivos (os mesmos aplicados à bulimia) e sibutramina.
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