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15/09/2022 FAMEG | Afya 1 Marcela Beltrão Tireoide 1. Definir a embriologia, histologia e morfofisiologia da tireoide; 2. Compreender a formação e o desaparecimento do ducto tireoglosso; 3. Apontar quais hormônios são secretados e os que regulam a tireoide, além de apresentar suas funções; A glândula tireoide se desenvolve a partir do endoderma da porção cefálica do tubo digestivo. Aparece como proliferação epitelial no assoalho da faringe entre o tubérculo ímpar e a cópula, no ponto indicado mais tarde pelo forame cego. Subsequentemente, a tireoide desde na frente do intestino faríngeo como um divertículo bilobado. Durante essa migração, a tireoide permanece conectada à língua por um canal estreito, o ducto tireoglosso. Mais tarde, esse ducto desaparece. Com a continuação do desenvolvimento, a glândula tireoide desce para frente do osso hioide e das cartilagens laríngeas. Ela alcança sua posição final na frente da traqueia na sétima semana. Nesse período, ela adquiriu um pequeno istmo mediano e dois lobos laterais. A tireoide começa a funcionar por volta do final do terceiro mês, quando se tornam visíveis os primeiros folículos contendo coloide. As células foliculares produzem o coloide, que funciona como fonte de tiroxina e de tri-iodotironina. As células parafoliculares, ou C, derivadas do corpo ultimobranquial produzem calcitonina. FIGURA 1: A. O PRIMÓRDIO DA TIREOIDE SURGE COMO UM DIVERTÍCULO EPITELIAL NA LINHA MÉDIA DA FARINGE, IMEDIATAMENTE CAUDAL AO TUBÉRCULO ÍMPAR. B. POSIÇÃO DA GLÂNDULA TIREOIDE NO ADULTO. LINHA PONTILHADA, VIA DE MIGRAÇÃO. A glândula tireoide, em formato de borboleta, está localizada logo abaixo da laringe. É composta pelos lobos direito e esquerdo, um em cada lado da traqueia, conectados por um istmo, anteriormente à traqueia. Cerca de 50% das glândulas tireoides apresentam um pequeno terceiro lobo, chamado de lobo piramidal, que se estende superiormente a partir do istmo. A massa normal da tireoide é de aproximadamente 30g. FIGURA 2: ANATOMIA E APARÊNCIA MICROSCÓPICA DA GLÂNDULA TIREOIDE, MOSTRANDO A SECREÇÃO DA TIREOGLOBULINA NO INTERIOR DOS FOLÍCULOS. A tireoide é composta de milhares de folículos tireoidianos, que são pequenas esferas de 0,2 a 0,9mm de diâmetro. A parede dos folículos é um epitélio simples cujas células são também denominadas tireócitos. A cavidade dos folículos contém uma substância gelatinosa chamada coloide. A glândula é revestida por uma cápsula de Objetivos Embriologia Localização, histologia e hormônios 15/09/2022 FAMEG | Afya 2 Marcela Beltrão tecido conjuntivo frouxo que envia septos para o parênquima. Os septos se tornam gradualmente mais delgados ao alcançar os folículos, que são separados entre si principalmente por fibras reticulares. A tireoide é um órgão extremamente vascularizado por uma extensa rede capilar sanguínea e linfática que envolve os folículos. As células endoteliais dos capilares sanguíneos são fenestradas, como é comum também em outras glândulas endócrinas. Essa configuração facilita o transporte de substâncias entre as células endócrinas e o sangue. Em cortes, o aspecto dos folículos tireoidianos é muito variado, alguns folículos são grandes, cheios de coloide e revestidos por epitélio cúbico ou pavimentoso, e outros são menores, com epitélio colunar. De maneira geral, quando a altura média do epitélio de um número grande de folículos é baixa, a glândula é considerada hipoativa. Em contrapartida, o aumento acentuado na altura do epitélio folicular acompanhado por diminuição da quantidade de coloide e do diâmetro dos folículos costuma indicar hiperatividade da glândula. As células foliculares produzem dois hormônios: tiroxina, também chamada de tetraiodotironina (T4), pois contém quatro átomos de iodo, e tri-iodotironina (T3), que contém três átomos de iodo. T3 e T4 juntas também são chamadas de hormônios da tireoide. FIGURA 3: A TIREOIDE É FORMADA POR MILHARES DE PEQUENAS ESFERAS CHAMADAS FOLÍCULOS TIREOIDIANOS (F) PREENCHIDOS POR COLOIDE. [FOTOMICROGRAFIA. HE. PEQUENO AUMENTO] Outro tipo de célula encontrada na tireoide é a célula parafolicular ou célula C. Ela pode fazer parte do epitélio folicular ou, mais comumente, formar agrupamentos isolados entre os folículos tireoidianos. As células parafoliculares produzem um hormônio chamado calcitonina (CT), também denominado tirocalcitonina, cujo efeito principal é inibir a reabsorção de tecido ósseo e, em consequência, diminuir o nível de cálcio no plasma. A secreção de calcitonina é ativada por aumento da concentração de cálcio do plasma. FIGURA 4: CORTE DE UMA TIREOIDE MOSTRANDO OS FOLÍCULOS CUJA PAREDE É FORMADA POR UM EPITÉLIO SIMPLES CÚBICO DE CÉLULAS FOLICULARES (SETAS). OS FOLÍCULOS SÃO PREENCHIDOS POR UM MATERIAL AMORFO - O COLOIDE (C). CÉLULAS PARAFOLICULARES (PF), PRODUTORAS DE CALCITONINA, SE SITUAM ENTRE FOLÍCULOS. [FOTOMICROGRAFIA. HE. MÉDIO AUMENTO] FIGURA 5: A E B, ANATOMIA DA GLÂNDULA TIREOIDE. C, IMAGEM DA CAPTAÇÃO DE PERTECNETATO POR UMA GLÂNDULA TIREOIDE NORMAL. A glândula tireoide é a única glândula endócrina que armazena seu produto secretório em grandes quantidades – normalmente o suficiente para cerca de 100 dias. A síntese e secreção de T3 e T4 ocorrem da seguinte forma: 1. Retenção de iodeto. As células foliculares da tireoide retêm íons iodeto (I-), transportando- os ativamente do sangue para o citosol. Por conta disso, em geral, a glândula tireoide contém a maioria do iodeto corporal. Formação, armazenamento e liberação dos hormônios da tireoide 15/09/2022 FAMEG | Afya 3 Marcela Beltrão 2. Síntese de tireoglobulina. Ao mesmo tempo que retêm iodeto, as células foliculares também sintetizam tireoglobulina (TGB), uma grande glicoproteína produzida no retículo endoplasmático rugoso, modificada no complexo de Golgi e armazenada em vesículas secretoras. As vesículas sofrem exocitose, o que libera TGB para o lúmen do folículo. 3. Oxidação de iodeto. Parte dos aminoácidos na TGB consiste em tirosinas que se tornarão iodadas. Entretanto, íons iodeto com carga elétrica negativa não conseguem se ligar à tirosina até que sofram oxidação (remoção de elétrons) para iodeto: 2 I- I2. Na medida em que os íons iodeto são oxidados, eles atravessam a membrana para o lúmen do folículo. 4. Iodação da tirosina. Conforme moléculas de iodo (I2) se formam, elas reagem com as tirosinas integrantes das moléculas de tireoglobulina. A ligação de um átomo de iodo produz monoiodotirosina (MIT) e a de dois produz diiodotirosina (DIT). A TGB com átomos de iodo fixados é um material viscoso que se acumula e é armazenado no lúmen do folículo da tireoide, chamado de coloide. 5. Acoplamento de T1 e T2. Durante a última etapa da síntese dos hormônios da tireoide, duas moléculas de DIT se juntam para formar T4 ou uma de MIT com uma de DIT se unem para formar T3. 6. Pinocitose e digestão de coloide. Gotículas de coloide penetram de novo nas células foliculares por pinocitose e se juntam aos lisossomos. Enzimas digestivas nos lisossomos degradam a TGB, separando moléculas de T3 e T4. 7. Secreção de hormônios da tireoide. Como são lipossolúveis, T3 e T4 se difundem através da membrana plasmática para o líquido intersticial e, em seguida, para o sangue. Em geral, T4 é secretada em maior quantidade que T3, mas T3 é muitas vezes mais potente. Além disso, depois que a T4 entra no corpo celular, a maioria dela é convertida a T3 por remoção de um iodo. 8. Transporte no sangue. Mais de 99% de T3 e T4 se combinam a proteínas transportadoras no sangue, principalmente à globulina transportadora de tiroxina (TBG). FIGURA 6: SÍNTESE (SETAS AZUIS) E SECREÇÃO (SETAS VERMELHAS) DOS HORMÔNIOS TIREOIDEOS PELAS CÉLULAS EPITELIAIS DA TIREOIDE. AS SETAS BRANCAS INDICAM AS VIAS ENVOLVIDAS NA CONSERVAÇÃO DO IODO E AMINOÁCIDOS. O hormôniotireóideo age essencialmente sobre todas as células e tecidos do corpo e tem muitas ações diretas, mas também age por vias mais sutis para otimizar as ações de muitos outros hormônios e neurotransmissores. Tem como principais ações o aumento da taxa metabólica basal, a estimulação a síntese de proteínas, acentuam o uso de glicose e ácidos graxos para a produção de ATP, intensificam a lipólise, aumentam a excreção de colesterol, aceleram o crescimento corporal e contribuem para o desenvolvimento do sistema nervoso. Efeitos Cardiovasculares O T3 aumenta a frequência cardíaca, garantindo, assim, um aporte suficiente de O2 para os tecidos. A frequencia cardíaca em descanso e o volume de ejeção são aumentados. A velocidade e a força das contrações do miocárdio são melhoradas e o tempo de relaxamento diastólico é diminuído. A pressão sanguínea sistólica é modestamente aumentada e a pressão sanguínea diastólica é diminuída. A pressão de pulso ampliada resultante reflete os efeitos combinados de volume de ejeção aumentado e redução da Efeitos fisiológicos do hormônio tireóideo O desequilíbrio na função da tireoide é uma das doenças endócrinas mais comuns. 15/09/2022 FAMEG | Afya 4 Marcela Beltrão resistência vascular periférica total, secundária à dilatação dos vasos sanguíneos na pele, músculo e coração. Esses efeitos, por sua vez, são em parte decorrentes do aumento, nos tecidos, da produção de calor e CO2 induzidos pelo hormônio tireóideo. Entretanto, ao mesmo tempo, o hormônio tireóideo diminui a resistência vascular sistêmica pela dilatação das arteríolas de resistência na circulação periférica. O volume total do sangue é aumentado pela ativação do eixo renina- angiotensina-aldosterona, assim, aumentando a reabsorção renal tubular de sódio. Os efeitos inotrópicos cardíacos do T3 são indiretos, mediados pelo aumento da resposta às catecolaminas, e diretos. A captação de cálcio pelo miocárdio é aumentada, o que aumenta a força contrátil. O hormônio tireóideo inibe a expressão do anticarreador Na+-Ca2+, aumentando, assim, a [Ca2+] intramiocelular. O T3 aumenta a velocidade e a força da contração miocárdica. Esse hormônio também aumenta os canais rianodina Ca2+ no retículo sarcoplasmático durante a sístole. A Ca2+- ATPase do retículo sarcoplasmático (SERCA) é aumentada pelo T3 e, como resultado, o sequestro de cálcio durante a diástole é facilitado e o tempo de relaxamento é encurtado. FIGURA 7: MECANISMOS PELOS QUAIS OS HORMÔNIOS DA TIREOIDE AUMENTAM O DÉBITO CARDÍACO. OS MECANISMOS INDIRETOS SÃO, PROVAVELMENTE, MAIS IMPORTANTES QUANTITATIVAMENTE. Efeitos no Metabolismo Basal O hormonio tireóideo aumenta a taxa basal de consumo de oxigênio e a produção de calor (ex. taxa metabólica basal). Aumenta a expressão das proteínas desacopladoras mitocondriais (UCP, uncoupling proteins). Essa ação é observada em todos os tecidos exceto no cérebro, gônadas e baço. A captação e a oxidação de glicose e ácidos graxos são aumentadas, da mesma forma que a reciclagem de lactato-glicose e de ácidos graxos- triglicerídeos. O hormônio tireóideo não aumenta a utilização do O2 induzida pela dieta, e pode não alterar a eficiência da utilização de energia durante o exercício. A termogênese precisa aumentar concomitantemente com a utilização do O2. Assim, variações na temperatura corpórea são paralelas às flutuações na disponibilidade do hormônio da tireoide. O aumento potencial na temperatura corpórea, entretanto, é moderado por um aumento compensatório na perda de calor pelo aumento apropriado do fluxo sanguíneo, sudorese e respiração, processos mediados pelo hormônio tireóideo. O hipertireoidismo é acompanhado por intolerância ao calor, enquanto o hipotireoidismo é acompanhado pela intolerância ao frio. O aumento da utilização de O2 é, basicamente, dependente de um aumento no suprimento de substratos que possam ser oxidados. O T3 aumenta a absorção de glicose no trato gastrointestinal e aumenta o seu turnover (captação, oxidação e síntese de glicose). No tecido adiposo, o hormônio tireóideo induz as enzimas de síntese de ácidos graxos, acetil-CoA carboxilase e ácido graxo sintase, e intensifica a lipólise pelo aumento do número de receptores β- adrenérgicos. O hormônio tireóideo também aumenta a depuração de quilomícrons. Assim, o turnover de lipídeos (liberação de ácidos graxos livres do tecido adiposo e sua oxidação) é aumentado. O turnover de proteínas (liberação de aminoácidos do músculo, degradação de proteínas e, em menor intensidade, síntese proteica e formação de ureia) é, também, aumentado. O T3 potencializa os efeitos estimulantes da epinefrina, norepinefrina, glucagon, cortisol e o hormônio do crescimento sobre a gliconeogênese, lipólise, cetogênese e a proteólise de proteínas lábeis, respectivamente. O efeito metabólico geral do T3 foi adequadamente descrito como um agente que acelera a resposta à fome. Ademais, o hormônio tireóideo estimula a síntese de colesterol e, mais intensamente, a oxidação e a secreção biliar do colesterol. O efeito final é um decréscimo dos níveis plasmáticos e corpóreos de colesterol total e ligado a lipoproteínas de baixa densidade. 15/09/2022 FAMEG | Afya 5 Marcela Beltrão A depuração metabólica dos hormônios esteroides de adrenal e gônadas, algumas vitaminas B e certas drogas administradas é também aumentada pelo hormônio tireóideo. Efeitos Respiratórios O hormônio tireóideo estimula a utilização de O2 e também aumenta o aporte de O2. Apropriadamente, o T3 aumenta a frequencia respiratória em repouso, a ventilação minuto e a resposta ventilatória à hipercapnia (presença de doses excessivas de dióxido de carbono no sangue) e hipóxia (diminuição das taxas de oxigênio no ar, no sangue arterial ou nos tecidos). Estas ações mantêm a Po2 arterial normal, quando a utilização de O2 está elevada, e uma Pco2 normal quando a produção de CO2 está aumentada. Além disso, o hematócrito aumenta discretamente e, portanto, melhora a capacidade transportadora de O2. Esse aumento na massa de células vermelhas sanguíneas resulta do estímulo da produção de eritropoetina pelos rins. Efeitos na Musculatura Esquelética A função normal dos músculos esqueléticos também requer quantidades ótimas do hormônio da tireoide. Essa necessidade pode estar relacionada à regulação da produção e armazenamento de energia. A glicólise e a glicogenólise são aumentadas, e o glicogênio e a fosfocreatina são diminuídos por um excesso de T4 e T3. A incapacidade do músculo de captar e fosforilar a creatina resulta em um aumento da sua excreção urinária. Efeitos no Sistema Nervoso Autônomo e Ação das Catecolaminas Os hormônios da tireoide são sinérgicos com as catecolaminas e aumentam a taxa metabólica, a produção de calor, a frequência cardíaca, a atividade motora e a excitação do sistema nervoso central. O T3 pode aumentar a atividade motora do sistema nervoso simpático por aumentar o número de receptores β-adrenérgicos no músculo cardíaco e a geração de mensageiros intracelulares secundários, tais como o AMPc. Efeitos no Crescimento e Maturação Outro efeito importante do hormônio tireóideo é promover o crescimento e a maturação. Uma quantidade pequena, mas crucial, de hormônio tireóideo atravessa a placenta e o eixo tireóideos fetal torna-se funcional no meio da gestação. Os hormônios da tireoide são importantíssimos para o desenvolvimento neurológico normal e a formação apropriada dos ossos no feto. Em bebês, quantidades insuficientes de hormônios da tireoide fetal causam cretinismo, caracterizado por retardo mental irreversível e estatura pequena. Efeitos nos Ossos, Tecidos Duros e Derme O hormônio tireóideo estimula a ossificação endocondral, o crescimento ósseo linear e a maturação dos centros epifisários ósseos. O T3 aumenta a maturação e a atividade dos condrócitos na placa de crescimento cartilaginosa,em parte pelo aumento da produção e ação de fatores de crescimento locais. Embora o hormônio tireóideo não seja necessário para o crescimento linear até após o nascimento, é essencial para a maturação normal dos centros de crescimento nos ossos de fetos em desenvolvimento. O T3 também estimula a remodelação óssea em adultos. O desenvolvimento e erupção progressivos dos dentes dependem do hormônio tireóideo, bem como o ciclo normal de crescimento e maturação da epiderme, seus folículos capilares e unhas. Os processos de degradação normal nessas estruturas e no tecido tegumentar também são estimulados pelo hormônio da tireoide. Desta maneira, tanto quantidades elevadas quanto reduzidas de hormônio tireóideo podem levar à perda de cabelo e formação anormal das unhas. O hormônio tireóideo altera a estrutura do tecido subcutâneo pela inibição da síntese e aumento da degradação dos mucopolissacarídeos (glicosaminoglicanos) e fibronectina no tecido conjuntivo extracelular. Efeitos no Sistema Nervoso O hormônio tireóideo regula a velocidade e o ritmo do desenvolvimento do sistema nervoso central. A deficiência do hormônio tireóideo, no útero e no início da infância, diminui o crescimento do córtex cerebral e cerebelar, a proliferação dos axônios e a ramificação dos dendritos, assim como a sinaptogênese, mielinização e migração celular. Danos cerebrais irreversíveis são consequências da falta de reconhecimento e tratamento da deficiência de hormônio tireóideo imediatamente após o nascimento. Os defeitos estruturais descritos são acompanhados por anormalidades bioquímicas. Níveis diminuídos de hormônio tireóideo reduzem o tamanho das células, o conteúdo de proteínas. RNA e proteínas associadas 15/09/2022 FAMEG | Afya 6 Marcela Beltrão a microtúbulos e tubulinas, o conteúdo proteico e lipídico da mielina, a produção local de fatores críticos de crescimento e a taxa de síntese de proteínas. O hormônio tireóideo também aumenta a vivacidade, o estado de alerta, a resposta a vários estímulos, a audição, a consciência de fome, a memória e a capacidade de aprendizagem; além do fato de o tônus emocional normal depender da disponibilidade adequada de hormônio da tireoide. Além disso, a velocidade e amplitude dos reflexos nervosos periféricos são aumentadas pelo hormônio da tireoide, bem como a motilidade do trato gastrointestinal. Efeitos nos Ossos, Tecidos Duros e Derme Os hormônios da tireoide desempenham um importante papel permissivo na regulação da função reprodutiva, tanto em homens como em mulheres. O ciclo ovariano normal de desenvolvimento e maturação folicular, e ovulação, o processo testicular homólogo de espermatogênese, e a manutenção de uma gravidez saudável são todos interrompidos por alterações significativas nos níveis de hormônios da tireoide. Em parte, esses efeitos deletérios podem ser causados por alterações no metabolismo ou disponibilidade dos hormônios esteroides. Por exemplo, o hormônio tireóideo estimula a síntese hepática e libera a globulina ligadora de esteroides sexuais. O hormônio tireóideo também tem efeitos significativos sobre outros componentes do sistema endócrino. A produção pituitária do hormônio do crescimento é aumentada pelo hormônio da tireoide, enquanto que a da prolactina é diminuída. A secreção adrenocortical de cortisol bem como a depuração desse hormônio são estimulados, mas os níveis de cortisol livre no plasma permanecem normais. A relação entre estrogênio e androgênio é aumentada em homens (nos quais pode ocorrer crescimento de seios, nos casos de hipertireoidismo). A diminuição da produção tanto do hormônio paratireóideo quanto de 1,25-(OH)2-vitamina D são consequências compensatórias do efeito do hormônio tireóideo sobre a reabsorção óssea. O tamanho do rim, o fluxo plasmático renal, a taxa de filtração glomerular e a taxa de transporte de várias substâncias também são aumentadas pelo hormônio da tireoide. T4 e T3 entram na célula por um processo mediado por um transportador e dependem de energia. Os receptores intracelulares de hormônio tireoidiano têm afinidade muito alta com a triiodotironina (T3). Logo, mais de 90% das moléculas de hormônio tireoidiano que se ligam aos receptores consistem em triiodotironina (T3) ou rT3. Muitas, mas nem todas, as ações do T3 são mediadas por sua ligação a um dos membros da família dos receptores de hormônios tireóideo (TR, thyroid hormone receptor). A família TR pertence à superfamília dos receptores nucleares que agem como fatores reguladores da transcrição. FIGURA 8: ATIVAÇÃO DE CÉLULAS-ALVO POR HORMÔNIO TIREOIDIANOS. A TIROXINA (T4) E A TRIIODOTIRONINA (T3) ENTRAM NA MEMBRANA CELULAR ATRAVÉS DE UM PROCESSO DE TRANSPORTE MEDIADO POR CARREADOR, DEPENDENTE DE ADENOSINA TRIFOSFATO. UMA GRANDE PARTE DE T4 É DEIODADA PARA FORMAR T3, QUE INTERAGE COM O RECEPTOR DE HORMÔNIO TIREOIDIANO, LIGADO COMO UM HETERODÍMERO AO RECEPTOR DE RETINOIDE X, DO ELEMENTO GENÉTICO DE RESPOSTA AO HORMÔNIO TIREOIDIANO. ESSA AÇÃO AUMENTA OU REDUZ A TRANSCRIÇÃO DE GENES QUE LEVAM À FORMAÇÃO DE PROTEÍNAS, PRODUZINDO, ASSIM, A RESPOSTA CELULAR AO HORMÔNIO TIREOIDIANO. SÃO DEMONSTRADAS AS AÇÕES DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS NAS CÉLULAS DE DIFERENTES SISTEMAS. NA+-K+-ATPASES, ADENOSINA TRIFOSFATASE DE SÓDIO-POTÁSSIO; MRNA, ÁCIDO RIBONUCLEICO MENSAGEIRO; SNC, SISTEMA NERVOSO CENTRAL; TMB, TAXA METABÓLICA BASAL. Mecanismos de ação dos hormônios tireóideos 15/09/2022 FAMEG | Afya 7 Marcela Beltrão O mais importante regulador da função e crescimento da glândula tireoide é eixo hipotálamo-hipófise: hormônio de liberação de tireotrofina (TRH) – tireotrofina hormônio tireoestimulante (TSH). O TSH estimula cada aspecto da função da tireoide. O TSH tem ações imediatas, intermediárias e de longa duração sobre o epitélio da tireoide. Seus efeitos específicos na tireoide são: 1. Aumento da proteólise da tireoglobulina já armazenada nos folículos, com resultante aumento da liberação dos hormônios tireoidianos para o sangue circulante e diminuição da própria substância folicular. 2. Aumento da atividade da bomba iodeto que aumenta a “captação de iodeto” pelas células glandulares, às vezes elevando a proporção entre as concentrações intra e extracelular de iodeto na substância glandular para até oito vezes o normal. 3. Aumento da iodização da tirosina para formar os hormônios tireoidianos. 4. Aumento do tamanho e da atividade secretora das células tireoidianas. 5. Aumento do número de células tireoidianas, além da transformação de células cuboides em colunas e grande pregueamento do epitélio tireoidiano nos folículos. Em resumo, o TSH aumenta todas as conhecidas atividades secretoras das células glandulares tireoidianas. A secreção de TSH pela hipófise anterior é controlada pelo hormônio hipotalâmico, o hormônio de tireotrofina (TRH), secretado por terminações nervosas na eminência mediana do hipotálamo. A partir da eminência mediana, o TRH é transportado para a hipófise anterior pelo sangue portal hipotalâmico-hipofisário. O TRH afeta diretamente as células da hipófise anterior, elevando sua secreção de TSH. O mecanismo molecular pelo qual o TRH provoca a produção de TSH pelas células secretoras da hipófise anterior consiste na ligação a receptores de TRH na membrana das células hipofisárias. Isso ativa o sistema de segundo mensageiro da fosfolipase no seu interior, produzindo grande quantidade de fosfolipase C, o que é seguido por cascata de outros segundos mensageiros, incluindo íons cálcio e diacilglicerol, que, finalmente, provocam a liberação de TSH. Condições que aumentam a demanda de ATP – ambiente frio, hipoglicemia, altitude elevada e gravidez – também intensificam a secreção dos hormônios tireóideos. Diversas reações emocionais também podem afetar a liberação de TRH e TSH e, assim, afetar indiretamente a secreção de hormôniostireoidianos. Agitação e ansiedade – condições que estimulam intensamente o sistema nervoso simpático – causam redução aguda da secreção de TSH, talvez porque esses estados aumentem o metabolismo e a temperatura corporal e, portanto, exercem efeito inverso sobre o centro de controle de temperatura. Nenhum desses efeitos emocionais nem o efeito do frio são observados após o seccionamento do pedúnculo hipofisário, demonstrando que ambos os efeitos são mediados pelo hipotálamo. A síntese e secreção do TSH, por sua vez, é inibida pelos hormônios tireóideos (feedback negativo) e estimuladas pelo hormônio liberador da tireotrofina (TRH), produzido no hipotálamo. T4 é convertido em T3 nos tireotrofos hipofisários, sob ação da 5’-deiodinase tipo 2. Em seguida, o T3 se liga a seu receptor nuclear, inibindo a transcrição de TSH. Desse modo, se a função hipotalâmico- hipofisária estiver intacta, pequenas alterações nos níveis dos hormônios tireóideos livres provocam grandes alterações nos valores séricos do TSH. Por isso, o TSH constitui-se no melhor indicador de alterações discretas da produção hormonal da tireoide. A secreção do TSH é pulsátil e apresenta um ritmo circadiano, com pulsos de secreção ocorrendo entre 22h e as 4h. Eixo Hipotalâmico-Hipofisário-Tireoidiano A secreção é intensificada pelo TRH, que estimula a liberação de TSH em resposta aos níveis reduzidos de hormônio da tireoide, taxa metabólica baixa, frio, gravidez e altitudes elevadas. As secreções de TRH e TSH são inibidas frente a níveis elevados de hormônios da tireoide, níveis altos de iodo suprimem a secreção de T3 e T4. 15/09/2022 FAMEG | Afya 8 Marcela Beltrão FIGURA 9: ESQUEMA DE FEEDBACK DO HORMÔNIO TIREOIDIANO. O hormônio produzido pelas células parafoliculares da glândula tireoide é a calcitonina (CT). A CT diminui o nível sanguíneo de cálcio por meio da ação dos osteoclastos, células que degradam a matriz celular óssea. A secreção de CT é controlada por um sistema de feedback negativo. Quando o nível de sanguíneo de calcitonina esta elevado, ocorre queda da concentração sanguínea de cálcio e fosfato, com inibição da reabsorção óssea (degradação da matriz óssea extracelular) pelos osteoblastos e aceleração da captação de cálcio e fosfato na matriz óssea extracelular. FIGURA 10: PACIENTE COM EXOFTALMIA POR HIPERTIREOIDISMO. Calcitonina A miacalcina, um extrato da calcitonina derivado do salmão que é 10 vezes mais potente que a calcitonina humana, é prescrita no tratamento de osteoporose. Na maioria dos pacientes com hipertireoidismo, o tamanho da tireoide aumenta duas a três vezes acima do normal, com enorme hiperplasia e pregueamento do revestimento celular folicular para o interior dos folículos, de modo que o número de células aumenta muito. Além disso, cada célula aumenta sua secreção por muitas vezes; estudos de captação de iodo radioativo indicam que algumas das glândulas hiperplásicas secretam hormônio tireoidiano em quantidades 5 a 15 vezes kj,kp maiores que o normal. A doença de Graves, a forma mais comum de hipertireoidismo, é uma doença autoimune, na qual os anticorpos, chamados Imunoglobulinas estimulantes da tireoide (TSIs), formam-se contra o receptor de TSH na glândula tireoide. Esses anticorpos se ligam ao mesmo receptor que liga o TSH e provoca a ativação contínua dos sistemas celulares do AMPc, com resultante desenvolvimento de hipertireoidismo. Os anticorpos TSI têm efeito estimulante prolongado na secreção da glândula tireoide, durando até 12 horas, em contraste com o curto tempo para o TSH, de pouco mais de 1 hora. O alto nível de secreção do hormônio tireoidiano, causado pelo TSI, por sua vez, suprime a formação de TSH pela hipófise anterior. Portanto, as concentrações de TSH ficam abaixo da normal (muitas vezes, essencialmente zero), em vez de aumentadas, em quase todos os pacientes com doença de Graves. Os anticorpos causadores do hipertireoidismo decorrem, quase certamente, do desenvolvimento da autoimunidade contra o tecido tireoidiano. Presume-se que, em algum momento da história clínica da pessoa, foi liberado um excesso de antígenos pelas células tireoidianas, resultando na formação de anticorpos contra a tireoide. Adenoma tireoidiano. Ocasionalmente, o hipertireoidismo resulta de adenoma (tumor) localizado, que se desenvolve no tecido da tireoide e secreta grande quantidade de hormônio tireoidiano. Essa apresentação é diferente da forma mais comum de hipertireoidismo, pois, em geral, não está associada à evidencia de doença autoimune. Enquanto o adenoma secreta grandes quantidades de hormônio tireoidiano, a função secretora de todo o restante da tireoide é quase totalmente inibida, porque o hormônio tireoidiano do adenoma suprime a produção de TSH pela hipófise. O hipertireoidismo apresenta sintomas como estado de alta excitabilidade, intolerância ao calor, redução da sudorese, perda de peso ligeira a extrema, graus variáveis de diarreia, fraqueza muscular, nervosismo ou outros transtornos psíquicos, fadiga extrema, acompanhada de insônia e tremor nas mãos. A maior parte das pessoas com hipertireoidismo desenvolve algum grau de protusão dos globos oculares, chamado de exoftalmia. Para o caso usual de hipertireoidismo, o exame diagnóstico mais preciso é a medição direta da concentração de tiroxina “livre” no plasma. Patologias 15/09/2022 FAMEG | Afya 9 Marcela Beltrão FIGURA 11: PACIENTE COM MIXEDEMA. Os efeitos do hipotireoidismo, em geral, são opostos aos do hipertireoidismo, mas alguns mecanismos fisiológicos são específicos dessa patologia. O hipotireoidismo, assim como o hipertireoidismo, é provavelmente iniciado por autoimunidade contra a tireoide (doença de Hashimoto), mas, nesse caso, é a imunidade que destrói a glândula, em vez de estimula-la. A tireoide da maioria desses pacientes apresenta “tireoidite” autoimune, que significa inflamação da tireoide. A tireoidite causa deterioração progressiva e, por fim, fibrose da glândula, resultando em diminuição ou ausência da secreção do hormônio tireoidiano. Muitos outros tipos de hipotireoidismo podem ocorrer, frequentemente, associados ao aumento da glândula, chamado de bócio. O termo “bócio” significa um grande aumento da tireoide. Conforme ressaltado na discussão sobre o metabolismo do iodo, cerca de 50mg de iodo por ano são necessários para a formação de quantidade adequada de hormônio tireoidiano. Em certas regiões do mundo, existe quantidade insuficiente de iodo no solo, de modo que os alimentos não possuem sequer essa minúscula quantidade. Portanto, nos tempos anteriores ao sal de cozinha iodado, muitas pessoas que viviam nessas áreas desenvolviam tireoides extremamente aumentadas, chamadas bócios endêmicos. O mecanismo de desenvolvimento de grandes bócios endêmicos é o seguinte: a falta de iodo impede a produção tanto de tiroxina quanto de triiodotironina. Como resultado, não há hormônios disponíveis para inibir a produção de TSH pela hipófise anterior, que passa a secretar quantidade excessiva desse hormônio. O TSH, então, estimula as células tireoidianas a secretar grande quantidade de coloide de tireoglobulina nos folículos, e a glândula torna-se cada vez maior. Entretanto, devido à falta de iodo, a produção de tiroxina e triiodotironina não ocorre na molécula de tireoglobulina e, portanto, não causa a supressão normal da produção de TSH pela hipófise anterior. Os folículos adquirem um enorme tamanho, e a tireoide pode aumentar 10 a 20 vezes. Bócio Coloide Atóxico Iodopático. O aumento da tireoide, semelhante ao que acontece no bócio coloide endêmico, pode também ocorrer em pessoas que não apresentam deficiência de iodo. Essas glândulas aumentadas podem secretar quantidade normal de hormônios tireoidianos; entretanto, com mais frequência, sua secreção é reduzida, como o bócio coloide endêmico. A causa exata do aumento da tireoide em pacientescom bócio coloide idiopático não é conhecida, mas a maioria desses pacientes apresenta ligeiro hipotireoidismo que, então, leva ao aumento da secreção de TSH e ao crescimento progressivo das porções não inflamadas da glândula. Essa teoria poderia explicar porque essas glândulas são, em geral, nodulares, com o crescimento de algumas porções da glândula, enquanto outras são destruídas pela tireoide. Em algumas pessoas com bócio coloide, a tireoide apresenta anormalidade no sistema enzimático necessário para a formação dos hormônios tireoidianos. No hipotireoidismo causado por tireoidite, bócio coloide endêmico, bócio coloide idiopático, destruição da tireoide por radiação ou remoção cirúrgica da glândula, os efeitos fisiológicos são os mesmos. Eles incluem fadiga e sonolência extrema, provocando 12 a 14 horas de sono por dia, extrema lentidão muscular, redução da frequência cardíaca, do débito cardíaco e do volume sanguíneo, ocasionalmente aumento de peso, constipação, lentidão mental, insuficiência de muitas funções tróficas do organismo, evidenciada por redução do crescimento do cabelo e descamação da pele, desenvolvimento de rouquidão e, em casos graves, de aparência edematosa em todo o corpo, chamada mixedema. O mixedema se desenvolve no indivíduo que tem ausência quase total da função do hormônio tireoidiano. Apresenta flacidez sob os olhos e o inchaço na face. Nessa condição, por motivos não explicados, a quantidade muito elevada de ácido hialurônico e sulfato de condroitina, ligados a proteínas, forma um excesso de gel tecidual nos espaços intersticiais, aumentando a quantidade total do líquido intersticial. Como o líquido em excesso trata-se de um gel, é essencialmente imóvel, e o edema é deprimível. Alguns alimentos contêm substâncias bociogênicas com atividade antitireoidiana, semelhante ao propiltiouracil, levando ao aumento da tireoide, estimulado pelo TSH. Tais substâncias bociogênicas são encontradas especialmente em algumas variedades de nabo e repolho. Aterosclerose no Hipotireoidismo. A falta de hormônio tireoidiano aumenta a concentração sanguínea de colesterol, devido à alteração do metabolismo dos lipídeos e do colesterol e à redução de sua excreção hepática na bile. Geralmente, a elevação do colesterol sanguíneo está associada ao aumento da aterosclerose. Portanto, muitos pacientes com hipotireoidismo, particularmente os com mixedema, desenvolvem aterosclerose, que, por sua vez, resulta em doença vascular periférica, surdez e doença arterial coronariana, com consequente redução da expectativa de vida. Os exames já descritos para o diagnóstico do hipertireoidismo apresentam resultados opostos no hipotireoidismo. A concentração sanguínea de tiroxina livre é baixa. O metabolismo basal no mixedema varia entre -30 e -50, e a secreção de TSH pela hipófise anterior, quando se administra uma dose de TRH, fica, em geral, muito aumentada (exceto em raros casos de hipotireoidismo causado por redução da resposta da hipófise ao TRH). 15/09/2022 FAMEG | Afya 10 Marcela Beltrão FIGURA 12: A GLÂNDULA TIREOIDE ESTÁ LOCALIZADA NA PORÇÃO ANTERIOR DO PESCOÇO, ONDE É FACILMENTE VISUALIZADA E PALPADA QUANDO AUMENTADA (BÓCIO). FIGURA 13: A, CRIANÇA NORMAL COM 6 ANOS DE IDADE (ESQUERDA) E UMA CRIANÇA COM HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO, COM 17 ANOS DE IDADE (DIREITA). OBSERVE PRINCIPALMENTE A BAIXA ESTATURA, OBESIDADE, PERNAS MALFORMADAS E A EXPRESSÃO ESTUPIDIFICADA DA CRIANÇA HIPOTIREÓIDEA, MENTALMENTE RETARDADA. OUTROS ASPECTOS SÃO O ABDOME PROEMINENTE, NARIZ ACHATADO, MANDÍBULA HIPOPLÁSTICA, PELE SECA E DESCAMATIVA, PUBERDADE ATRASADA E FRAQUEZA MUSCULAR. IMAGENS RADIOGRÁFICAS DA MÃO DE UMA CRIANÇA DE 13 ANOS DE IDADE (B) E DE UMA CRIANÇA COM HIPOTIREOIDISMO DA MESMA IDADE (C). VEJA QUE A CRIANÇA COM HIPOTIREOIDISMO APRESENTA UM ATRASO ACENTUADO NO DESENVOLVIMENTO DOS OSSOS CURTOS DAS MÃOS, DO NÚCLEO DE CRESCIMENTO NAS DUAS EXTREMIDADES DAS FALANGES E DO NÚCLEO DE CRESCIMENTO DA PORÇÃO DISTAL DO RÁDIO. • HALL, J.E.; GUYTON, A.C. Tratado de Fisiologia Médica. 13º edição. Rio de Janeiro: Elsevier Editora ltda, 2017. • BERNE, Robert M.; LEVY, Matthew N. Fisiologia. 6º edição. Rio de Janeiro: Elsevier Editora ltda, 2009. • VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. 6º edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan ltda, 2016. • TORTORA, Gerard e DERRICKSON, Bryan. Princípios da Anatomia e Fisiologia. 14º edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan ltda, 2016. O cretinismo é causado por hipotireoidismo extremo em fetos, bebês ou crianças. Essa condição se caracteriza, especialmente, pela deficiência do crescimento corporal e por retardo mental. O cretinismo resulta da ausência congênita da tireoide (cretinismo congênito), de sua incapacidade de produzir hormônio tireoidiano devido a defeito genético, ou da substância de iodo na dieta (cretinismo endêmico). Um neonato sem tireoide pode ter aparências e funções normais, por ter recebido alguma quantidade (embora geralmente insuficiente) de hormônio tireoidiano materno, durante a vida uterina. Entretanto, algumas semanas após o nascimento, os movimentos do neonato passam a ser lentos, e o seu desenvolvimento físico e mental fica bastante retardado. O tratamento do neonato com cretinismo, em qualquer momento, com quantidades adequadas de iodo ou tiroxina, geralmente provoca a normalização do crescimento físico; entretanto, a menos que o cretinismo seja tratado a partir de algumas semanas após o nascimento, o desenvolvimento mental permanece retardado de forma permanente. Esse estado ocorre devido a retardo do crescimento, ramificação e mielinização das células neuronais do sistema nervoso central nesse momento crítico de desenvolvimento das capacidades mentais. O crescimento esquelético da criança com cretinismo é caracteristicamente mais inibido que o do tecido mole. Como resultado dessa desproporcionalidade do crescimento, os tecidos moles apresentam probabilidade de crescer excessivamente, dando à criança uma aparência obesa, estrutura brevilínea e baixa estatura. Ocasionalmente, a língua se torna tão grande, em relação ao crescimento esquelético, que obstrui a deglutição e a respiração, induzindo uma respiração gutural característica, que, por vezes sufoca a criança. Referências 15/09/2022 FAMEG | Afya 11 Marcela Beltrão • JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, José. Histologia básica texto e atlas. 13º edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2017. • LANGMAN. Embriologia Médica. 13º edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2016.
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