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1 ASPECTOS JURÍDICOS DA SUSTENTABILIDADE 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 SUSTENTABILIDADE ............................................................................. 5 Histórico ............................................................................................... 5 Critérios formadores do conceito ......................................................... 8 Mudanças Climáticas ........................................................................... 8 As três dimensões formadoras da sustentabilidade: ambiental, social e econômica .................................................................................................... 11 Interdisciplinaridade: Ecologia e Economia ........................................ 12 A Análise Econômica ......................................................................... 13 A ONU E O MEIO AMBIENTE ............................................................... 15 Assembleia Ambiental da ONU (UNEA) ............................................. 22 Miniguia das conferências de meio ambiente e desenvolvimento sustentável .................................................................................................... 22 RIO+20 .................................................................................................. 23 Mobilização da sociedade e o FSM 2012 ........................................... 24 Governança e desenvolvimento sustentável ...................................... 25 REFERENCIAS ..................................................................................... 27 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Recentemente, foram constadas mudanças climáticas em âmbito global causadas e aceleradas pela ação humana. Estudos científicos comprovaram a ligação entre a Revolução Industrial e o aumento acelerado de gás carbônico na atmosfera, o que causou o aumento de sua temperatura média. Por tratar-se de um acontecimento em cadeia, o aumento da temperatura média atmosférica não causou apenas impactos ambientais, mas sociais e econômicos também. Dessa forma, surge o conceito de sustentabilidade, criado pela Ecologia, e que expressa a capacidade de um ecossistema de absorver um impacto externo e retornar ao seu estado anterior. Esse conceito passou a ser debatido pela Economia, em sede de suas principais correntes doutrinárias, ao se confrontar o crescimento econômico e à preservação de recursos naturais. Para que possa abranger toda a gama de consequências causadas pelas alterações climáticas, a sustentabilidade será abordada como medidas a serem adotadas nas esferas ambiental, social e econômica. A primeira vertente, a ambiental se focaria em evitar e mitigar os danos ao meio ambiente, tornando-o apto a suprir as necessidades das pessoas e dos seres vivos. A segunda, a vertente econômica refere-se aos investimentos públicos e privados a serem empregados para que se atinja a gestão eficiente dos recursos produtivos; com isso, procura-se aumentar a eficiência produtiva e os lucros dos agentes econômicos. Por fim, a sustentabilidade social, que se centra em diminuir as desigualdades sociais, promover a dignidade no trabalho e uma melhor distribuição de renda. É necessário que cada país considere suas peculiaridades naturais para que possa empreender medidas para se atingir o ideal da sustentabilidade. No caso do Brasil, entre outros fatores, sobressai-se sua vastidão territorial, e a predominância de terrenos rurais, com relação aos urbanos. Isso aponta, claramente, a necessidade de se aplicar a sustentabilidade na parte rural brasileira. A aplicação da sustentabilidade no meio rural se dará por meio da função social da propriedade rural, que é descrita pelo artigo 186 da Constituição 4 Federal de 1988. Deste dispositivo, percebe-se que é possível dividir a função social da propriedade em três dimensões: a ambiental, a social e a econômica, da mesma forma em que foi conceituada a sustentabilidade. Assim, esta será vista como forma de implementação da função social da propriedade rural. A sustentabilidade assume, portanto, a configuração de norma ética, de dever ser, ligando-se a uma sanção: quando descumprida a função social da propriedade, legitima-se a sua arrecadação para fins de reforma agrária. Assume, portanto, uma noção cogente. O direito de propriedade envolve outros direitos, como o de usar, gozar, dispor e fruir. De nada adiantaria a existência desses direitos se não pudessem ser transacionados, por meio dos contratos. Dessa forma, também será aplicada a sustentabilidade por meio da função social do contrato, prevista no artigo 421 do Código Civil de 2002 Assim, a sustentabilidade será tida como princípio, no que tange à interpretação e formação de cláusulas contratuais. O fato de que a propriedade e o contrato exercem uma função social expressa a sua correlação com o conceito de sustentabilidade, em suas vertentes ambiental, social e econômica. Ocorre que a função social da propriedade rural se relaciona, dentre outros fatores, à produtividade do imóvel. Nesse sentido, destaca-se a importância do agronegócio à balança comercial brasileira e à formação de seu Produto Interno Bruto (PIB). Assim, será aplicada a sustentabilidade ao Sistema Agroindustrial do etanol, que, para seguir a lógica desenvolvida, será dividido em produção e contratos. 5 SUSTENTABILIDADE Histórico Acerca da sustentabilidade com a análise daquilo que a incitou: a questão ambiental. Esta surgiu com a descoberta da ocorrência de mudanças climáticas geradas pela elevação da temperatura atmosférica, devido ao aumento da concentração atmosférica de gases de efeito estufa. Dessa forma, primeiramente ocorre a constatação científica do fenômeno, que foi discutida por grupos intelectuais, os quais fomentaram mais estudos na área, gerando a publicação de relatórios, como será visto adiante. A discussão se propagou rapidamente por causa da sua urgência e da necessidade de novos estudos acerca das consequências desse aquecimento. E, a questão ambiental se propagou internacionalmente por não conhecer fronteiras, atingindo a todos os países. Concomitantemente, a discussão da questão ambiental ganhava importância na doutrina, principalmente a econômica, já que os estudos científicos apontavam que o aumento significativo da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera estaria ligado à Revolução Industrial. Ou seja, a discussão econômica se focou na possibilidade de coexistirem o crescimento econômicoe a escassez dos recursos. Em 1824, o cientista francês Jean-Baptiste Joseph Fourier, através da análise de fontes de calor, da radiação infravermelha, discutiu a possibilidade da atmosfera terrestre servir como isolante térmico, a partir da constatação de que a temperatura da terra deveria ser aproximadamente 30º C mais baixa do que é, considerando-se seu tamanho e distância do sol. Dessa forma, alguns afirmam que esta foi a primeira proposta de que o Efeito Estufa realmente ocorria. Em 1861, o físico inglês John Tyndall descobriu que o gás carbônico e o vapor d’água presentes na atmosfera permitem a entrada da luz e dificultam a saída do calor. Tydall, ao reconhecer a função que desempenham tais gases, denominou-os de gases de efeito estufa. Daí seguiu-se uma série de estudos científicos acerca do assunto, destacando-se o de Svante August Arrhenius, cientista sueco e Nobel de Química, que calculou a relação entre os gases de efeito estufa e a temperatura 6 da atmosfera da Terra. Mas, pode-se dizer que as discussões acerca das questões ambientais se intensificaram mesmo nas décadas de 1960 e 1970. Em 1968, Aurelio Paccei, industrial e acadêmico italiano e Alexander King, cientista escocês, fundaram o Clube de Roma, fórum de discussões que destacou a preocupação e a disponibilidade de recursos naturais do planeta e o crescimento econômico. O Clube contratou uma equipe do Massachusetts Institute of Technology (MIT) que, em 1972, publicou o relatório Os limites do crescimento, coordenado por Dennis Meadows, o qual abordava essencialmente os fatores que condicionam o desenvolvimento da humanidade, tais como: energia, saúde, poluição, crescimento populacional, entre outros. Chegou-se à conclusão de que, o crescimento populacional se defrontaria com a escassez dos recursos naturais oferecidos pela biosfera, mesmo se considerando a possibilidade do advento de novas tecnologias que permitissem o seu melhor aproveitamento. Assim, surgiu o termo desenvolvimento sustentável, originado do conceito de ecodesenvolvimento, que, segundo Ademar Ribeiro Romeiro, reconheceu o crescimento econômico como necessário à eliminação das disparidades sociais ao mesmo tempo em que assumia os recursos ambientais como limitações a esse crescimento. Ou seja, propunha-se uma utilização criteriosa dos recursos, aliando-a ao crescimento econômico. Ainda em 1972, a Organização das Nações Unidas convocou a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, na Suécia, que resultou na produção de um Manifesto Ambiental, dando início a uma agenda ambiental do Sistema das Nações Unidas. Também foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), pela Assembleia Geral da ONU. Já no início da década de 1980, a Assembléia Geral das Nações Unidas instituiu a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou World Commission on Environment and Development (WCED), composta por 21 membros e presidida pela primeira-ministra de Meio-Ambiente da Noruega, Gro Harlem Brundtland. 7 Essa Comissão elaborou o relatório denominado Nosso Futuro Comum, ou Relatório Brundtland, que se focou na questão do Desenvolvimento Sustentável, como política que deveria ser comum a todos os países, respeitadas suas particularidades e as implicações concretas da aplicação dessa política. Ainda, ficou definido o termo “desenvolvimento sustentável”, que seria o desenvolvimento que equilibrasse a satisfação das necessidades atuais e garantisse a subsistência das gerações posteriores. Neste relatório foi enfatizada a necessidade de se realizarem os preparativos para a instauração de uma conferência internacional sobre o desenvolvimento econômico. Nesse sentido, em 1992 foi realizada, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como ECO-92, com a participação de 102 representantes de países. Cada país se comprometeu a elaborar sua própria Agenda 21, possibilitando a aceleração da substituição dos atuais padrões de desenvolvimento vigentes, em busca de meios de implantação de soluções para os impactos do desenvolvimento sustentável. O fato de cada país ser responsável pela elaboração de sua própria Agenda 21 condiz com o conteúdo do relatório Brundtland, segundo qual, a política do Desenvolvimento Sustentável deve seguir as peculiaridades de cada país. Desse encontro resultou a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, tratado internacional firmado por 192 países, em vigor desde 1994, que reconhece que o sistema climático é um recurso compartilhado e que, assim sendo, o passo inicial seria a estabilização da concentração atmosférica dos gases de efeito estufa. Desde 1995, se iniciaram as chamadas Conferências das Partes (COP), que possuem poder de decisão, para o cumprimento dos objetivos dessa Convenção. O mencionado tratado inclui disposições para atualizações, os “protocolos”, que c r i a m e renovam metas obrigatórias de redução das emissões. Um deles é o Protocolo de Quioto, que foi concluído no Japão em 1997, apenas entrando em vigor em 2005, após a ratificação da Rússia em novembro de 2004. Esse protocolo estabelece as metas de redução para os 8 países desenvolvidos signatários. Para os demais países, são aplicados os compromissos gerais dessa convenção, como o desenvolvimento de programas nacionais de mitigação das emissões, mas sem metas específicas. Em 2002, ocorreu, em Johannesburgo, África do Sul, a Conferência Rio+10, com a participação de representantes das nações, além de agências das Nações Unidas, e outras organizações. O como objetivo principal da conferencia foi discutir a Agenda 21, no que tange à sua inserção em cada país e ao estabelecimento de prioridades a serem consideradas em políticas futuras. Em 2009, foi elaborado o relatório “Prosperity without Growth”, por Tim Jackson para a Comissão de Desenvolvimento Sustentável do governo britânico. O impacto deste trabalho será tratado mais adiante. Critérios formadores do conceito O conceito de sustentabilidade não pode ser traçado sem antes se esboçar alguns pressupostos. Primeiramente, o presente estudo abordará a sustentabilidade como um valor, um princípio que guiará as atitudes tanto dos agentes econômicos quanto da sociedade civil, tendo em vista a produtividade e o consumo, respectivamente. Seguirá, então, a análise conceitual do termo, que partirá do conceito de mudanças climáticas, respeitando as considerações econômicas levantadas a esse respeito, mas o tem como objetivo a aplicação jurídica ao termo. Merecerá ainda destaque, o fato de ter sido a sustentabilidade um termo discutido tanto pela Ecologia quanto pela Economia. Essa noção de interdisciplinaridade, de diálogo entre essas áreas, muito influenciou o que hoje é conhecido pelo termo sustentabilidade. Mudanças Climáticas O conceito de sustentabilidade não pode sequer ser delineado sem a compreensão de seu caráter ecológico, que lhe deu ensejo. Assim, partir-se-á a uma breve análise das mudanças climáticas. Como foi possível perceber pelo histórico apresentado no início do presente trabalho, os efeitos nocivos da atuação dos gases de efeito estufa na atmosfera foram estudados, desde a primeira metade do século XIX. Em uma 9 breve análise, a ação desses gases ocorre da seguinte forma: a energia solar alcança Terra na forma de radiação; parte dessa radiação é absorvida e aquece a superfície terrestre; outra parte é refletida e retorna ao espaço na forma de irradiação infravermelha que: pode ser devolvida ao espaço ou ser absorvida pelo vapor d’água e gases de efeito estufa presentes na atmosfera, promovendo o aquecimento. Este é um processo que ocorre naturalmente. Ou seja, esses gases de efeito estufa e o vapor d’água são responsáveispor manter a temperatura na atmosfera terrestre. Assim, o que deve ser combatido é o aceleramento dessa situação – ou seja, o aquecimento em excesso da atmosfera terrestre, que pode ocasionar diversas mudanças climáticas. Conforme defendido por Walter Figueiredo de Simoni, utilizar-se do termo “mudança do clima” é mais adequado do que o termo “aquecimento global” para se referir aos impactos do aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, já que este último termo não engloba todas as alterações que decorrem da elevação da temperatura atmosférica: Um fator inerente à discussão sobre a mudança do clima são as incertezas acerca de seus impactos na sociedade. A mudança do clima lida com alterações em sistemas globais e regionais de clima cujo comportamento depende de inúmeras variáveis. Mudar uma variável, nesse caso a temperatura, terá diversos efeitos em outras variáveis, como intensidade de chuvas, que, por sua vez influenciarão outras variáveis, como intensidade de inundações ou os períodos de seca. Esses ciclos e feedbacks vêm sendo entendidos com maior detalhe ao longo do tempo, reduzindo as incertezas sobre o tema, porém não as eliminando. Não é possível prever ao certo quais são as implicações desse aumento, já que são muitas as possibilidades – a alteração de uma variante climática pode causar alteração em outras variantes, que gerarão outras consequências, antes imprevisíveis, pois que a biosfera é inegavelmente um todo conectado. Partindo dessa premissa, tem-se que o mais importante é a redução da emissão de tais gases, o que gera a necessidade de adaptação de setores da Economia, para que seja desacelerado o aumento da temperatura na atmosfera. 10 Face ao fato de não ser possível pontuar quais serão todos os impactos da simples elevação da temperatura atmosférica, causada pelo aumento da emissão dos gases de efeito estufa na biosfera, tem-se ao certo que essas consequências podem ser dividas em: Ambientais: alterações nos padrões de chuvas, na salinidade do mar, a ocorrência de secas, extinção de espécies, entre outros. Sociais: mudanças nas atividades humanas, questões de saúde pública (como o aumento de doenças em algumas regiões), mudanças na configuração demográfica (principalmente nas regiões costeiras, que serão afetadas pela alteração do nível do mar, provocada pelo derretimento de calotas polares), etc. Econômicas: países terão de adaptar a sua produção à nova configuração geográfica, tanto natural quanto populacional, lidar com a escassez dos recursos essenciais, como a água (o que poderá gerar nova configuração do mercado internacional), entre outros. Ressalte-se que os países subdesenvolvidos são aqueles que passarão por maiores dificuldades pelas mudanças climáticas, por estarem mais vulneráveis e por possuírem menor capacidade de se adaptarem: As populações de baixa renda tendem a ser mais vulneráveis aos eventos extremos pois habitam locais mais expostos, gastam mais da sua renda em alimentação, e dependem fortemente da agricultura para a formação da renda. (…) Adaptação é um processo inerentemente dinâmico e ocorre no contexto de outros processos dinâmicos endógenos incluindo crescimento da população, migração, mudanças tecnológicas, crescimento econômico, e transformação estrutural. Além da maior dificuldade de adaptação por parte dos países subdesenvolvidos, estes possuem maior dependência de atividades econômicas que serão afetadas quase que imediatamente pelas mudanças climáticas, como a agricultura. Ou seja, haverá reconfiguração mundial não apenas no que tange ao fator ambiental, mas também social e econômico. Assim, se se pretende instituir a 11 sustentabilidade, esta deve possuir, em seu conceito, essas três vertentes, já citadas. As três dimensões formadoras da sustentabilidade: ambiental, social e econômica Se divide em três vertentes, quais sejam: a ambiental, a social e a econômica. Tais vertentes encerram uma noção integral de como devem ser implementadas as medidas sustentáveis. A primeira, a ambiental, pretende evitar e mitigar os danos ao meio ambiente, de modo a ser mantida a capacidade do meio ambiente de suprir as necessidades das pessoas e dos seres vivos. Quando ocorrido o dano, volta-se à sua reparação. Entra aqui a noção de resiliência do ecossistema. Adaptações no sistema produtivo e nos contratos devem ser realizadas nesse sentido. Já a sustentabilidade econômica refere-se aos investimentos (públicos e privados) e às políticas públicas a serem empregadas para que se atinja a gestão eficiente dos recursos produtivos. Dessa forma, procura-se aumentar a eficiência produtiva com o uso racional de recursos naturais. Entra aqui a noção de integração vertical da firma, que será abordada futuramente no presente estudo. A sustentabilidade social, por sua vez, se centra em diminuir as desigualdades sociais, promover a dignidade humana e adaptar o desenvolvimento sustentável às especificidades de cada sociedade. Fala-se, portanto, em três diferentes dimensões da sustentabilidade. Assim postula Marcos Fava Neves: A sustentabilidade vem sendo tratada num tripé que envolve os três P’s, na língua inglesa. São as palavras profit (lucro) que é a dimensão econômica, a palavra people (pessoas), representando a dimensão da inclusão, principalmente, e a palavra planet (planeta), representando a preservação ambiental. Ressalte-se, ainda, que essas três dimensões da sustentabilidade devem ser consideradas sempre de forma cumulativa: se um desses aspectos for desconsiderado, não se pode mais falar em sustentabilidade. 12 Interdisciplinaridade: Ecologia e Economia Diante do exposto, pode-se afirmar que o conceito de sustentabilidade comporta uma noção interdisciplinar, por ter origem na Ecologia e por ter sido exaustivamente discutida na Economia, no que tange à possibilidade de coexistência entre o respeito aos recursos naturais e o crescimento econômico. Tal situação é descrita por Ademar Ribeiro Romero, ao tratar da economia política do meio ambiente: No esquema analítico convencional, o que seria uma economia da sustentabilidade é visto como um problema, em última instância, de alocação intertemporal de recursos entre consumo e investimento por agentes econômicos racionais, cujas motivações são fundamentalmente maximizadoras de utilidade. No campo da ecologia, segundo José Eli da Veiga, a sustentabilidade adotou o sentido de “resiliência”, ou seja, a capacidade de um ecossistema, após ter sofrido uma perturbação, de retornar ao seu estado anterior. Note-se que resiliência não se confunde com a noção de equilíbrio ambiental, que ocorre quando a fauna e flora são constantes, e convivem em situação de dependência em suas interações. Um sistema pode ser resiliente e não ser equilibrado. Por outro lado, no âmbito da economia, conforme mencionado, o que se debateu foi a possibilidade de uma nação poder crescer mesmo com os limites impostos pelos recursos naturais. Dessa forma, discutiu-se a possibilidade de implementação da sustentabilidade aliada ao crescimento econômico, ou seja, o desenvolvimento sustentável. A análise econômica da sustentabilidade a ser desenvolvida pelo presente estudo, ocorreu em sede de suas duas principais correntes: a Neoclássica e a Institucionalista, além da terceira via, denominada Economia Ecológica. No que tange à Neoclássica, se dividiu em: Economia da Poluição, Economia dos Recursos Naturais, e nos critérios de Sustentabilidade Forte e Sustentabilidade Fraca. Já a Teoria Institucionalista abordou a sustentabilidade pelas seguintes perspectivas: Institucionalista propriamente dita, Pós-Keynisiana e Regulacionista. Por sua vez, a teoria da Economia Ecológica se dividiu em inúmeras vertentes e estudos. 13 A Análise Econômica Como visto, a sustentabilidadefoi amplamente discutida pela economia, que contrapôs o desenvolvimento econômico, o fomento à indústria, ao fato de que os recursos naturais seriam finitos. As divisões teóricas acerca deste questionamento vão desde a mais otimista, a mais pessimista, segundo a qual, não haveria solução, tendo em vista que os recursos naturais se esgotariam, o que barraria o crescimento econômico do país. A análise econômica é crucial para o desenvolvimento do presente trabalho, tendo em vista que foi responsável pela formulação de certas vertentes que devem guiar a aplicação da sustentabilidade, como se verá. Nesse sentido, José Eli da Veiga trata a análise econômica da sustentabilidade desde o surgimento das discussões, dividindo-as em três concepções: a sustentabilidade fraca, a sustentabilidade forte e sua variante, e a perspectiva biofísica. A partir disso, o autor evolui para o debate atual acerca da sustentabilidade, que seria dividido em três correntes básicas: a primeira, que não recebe denominação, estabelece o patamar econômico de renda per capta de um país em torno de US$ 20 mil, a partir do qual “passaria a haver mais melhorias ambientais que deteriorações”, defendendo, portanto, a maximização do crescimento econômico no âmbito mundial. A segunda corrente, denominada “economia ecológica”, que defende uma condição tida como “estacionária” (stationary state), prega a melhoria da qualidade de vida sem significativa expansão do sistema econômico. A terceira via, que também não recebe denominação, seria uma alternativa entre as duas correntes anteriores, ao defender a possibilidade de se ofertar bens e serviços sem que a energia fosse tratada de forma intensiva. Maurício de Carvalho Amazonas, por outro lado, adota a linha de que o desenvolvimento sustentável passou pela interpretação de três principais correntes: a Neoclássica, a Institucionalista e a Economia Ecológica. A primeira seria dividida em duas abordagens, a Economia da poluição e a Economia dos Recursos Naturais. A Institucionalista se dividiu em três perspectivas: a 14 institucionalista propriamente dita, a pós-keynesiana e a regulacionista. Por fim, a Economia ecológica se dividiu em muitas interpretações, por apenas ter estabelecidos preceitos básicos, o que fez com que algumas correntes até divergissem entre si. Ao se considerar essa abordagem, a análise econômica pode ser esquematizada da seguinte forma: 15 A ONU E O MEIO AMBIENTE Pode-se dizer que o movimento ambiental começou séculos atrás, como uma resposta à industrialização. No século XIX, os poetas românticos britânicos exaltaram as belezas da natureza, enquanto o escritor americano Henry David Thoreau pregava o retorno da vida simples, regrada pelos valores implícitos na natureza. Foi uma dicotomia que continuou até o século XX. Após a Segunda Guerra Mundial, a era nuclear fez surgir temores de um novo tipo de poluição por radiação. O movimento ambientalista ganhou novo impulso em 1962 com a publicação do livro de Rachel Carson, “A Primavera Silenciosa”, que fez um alerta sobre o uso agrícola de pesticidas químicos sintéticos. Cientista e escritora, Carson destacou a necessidade de respeitar o ecossistema em que vivemos para proteger a saúde humana e o meio ambiente. Em 1969, a primeira foto da Terra vista do espaço tocou o coração da humanidade com a sua beleza e simplicidade. Ver pela primeira vez este “grande mar azul” em uma imensa galáxia chamou a atenção de muitos para o fato de que vivemos em uma única Terra – um ecossistema frágil e interdependente. E a responsabilidade de proteger a saúde e o bem-estar desse ecossistema começou a surgir na consciência coletiva do mundo. Com o fim da tumultuada década de 1960, seus mais altos ideais e visões começaram ser colocados em prática. Entre estes estava a visão ambiental – agora, literalmente, um fenômeno global. Enquanto a preocupação universal sobre o uso saudável e sustentável do planeta e de seus recursos continuou a crescer, em 1972 a ONU convocou a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia). O evento foi um marco e sua Declaração final contém 19 princípios que representam um Manifesto Ambiental para nossos tempos. Ao abordar a necessidade de “inspirar e guiar os povos do mundo para a preservação e a melhoria do ambiente humano”, o Manifesto estabeleceu as bases para a nova agenda ambiental do Sistema das Nações Unidas. “Chegamos a um ponto na História em que devemos moldar nossas ações em todo o mundo, com maior atenção para as consequências ambientais. 16 Através da ignorância ou da indiferença podemos causar danos maciços e irreversíveis ao meio ambiente, do qual nossa vida e bem-estar dependem. Por outro lado, através do maior conhecimento e de ações mais sábias, podemos conquistar uma vida melhor para nós e para a posteridade, com um meio ambiente em sintonia com as necessidades e esperanças humanas…” “Defender e melhorar o meio ambiente para as atuais e futuras gerações se tornou uma meta fundamental para a humanidade.” Trechos da Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente (Estocolmo, 1972), parágrafo 6 Aproveitando a energia gerada pela Conferência, a Assembleia Geral criou, em dezembro de 1972, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente), que coordena os trabalhos da família ONU em nome do meio ambiente global. Suas prioridades atuais são os aspectos ambientais das catástrofes e conflitos, a gestão dos ecossistemas, a governança ambiental, as substâncias nocivas, a eficiência dos recursos e as mudanças climáticas. Em 1983, o Secretário-Geral da ONU convidou a médica Gro Harlem Brundtland, mestre em saúde pública e ex-Primeira Ministra da Noruega, para estabelecer e presidir a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Burtland foi uma escolha natural para este papel, à medida que sua visão da saúde ultrapassa as barreiras do mundo médico para os assuntos ambientais e de desenvolvimento humano. Em abril de 1987, a Comissão Brundtland, como ficou conhecida, publicou um relatório inovador, “Nosso Futuro Comum” – que traz o conceito de desenvolvimento sustentável para o discurso público. “O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades.” “Um mundo onde a pobreza e a desigualdade são endêmicas estará sempre propenso a crises ecológicas, entre outras…O desenvolvimento sustentável requer que as sociedades atendam às necessidades humanas tanto 17 pelo aumento do potencial produtivo como pela garantia de oportunidades iguais para todos.” “Muitos de nós vivemos além dos recursos ecológicos, por exemplo, em nossos padrões de consumo de energia… No mínimo, o desenvolvimento sustentável não deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos.” “Na sua essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão em harmonia e reforçam o atual e futuro potencial para satisfazer as aspirações e necessidades humanas.” — do Relatório Brundtland, “Nosso Futuro Comum” As amplas recomendações feitas pela Comissão levaram à realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que colocou o assunto diretamente na agenda pública, de uma maneira nunca antes feita. Realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a “Cúpula da Terra”, como ficou conhecida, adotou a “Agenda 21’, um diagrama para a proteção do nosso planeta e seu desenvolvimento sustentável, a culminação de duas décadas de trabalho que se iniciou emEstocolmo em 1972. Em 1992, a relação entre o meio ambiente e o desenvolvimento, e a necessidade imperativa para o desenvolvimento sustentável foi vista e reconhecida em todo o mundo. Na Agenda 21, os governos delinearam um programa detalhado para a ação para afastar o mundo do atual modelo insustentável de crescimento econômico, direcionando para atividades que protejam e renovem os recursos ambientais, no qual o crescimento e o desenvolvimento dependem. As áreas de ação incluem: proteger a atmosfera; combater o desmatamento, a perda de solo e a desertificação; prevenir a poluição da água e do ar; deter a destruição das populações de peixes e promover uma gestão segura dos resíduos tóxicos. Mas a Agenda 21 foi além das questões ambientais para abordar os padrões de desenvolvimento que causam danos ao meio ambiente. Elas incluem: a pobreza e a dívida externa dos países em desenvolvimento; padrões 18 insustentáveis de produção e consumo; pressões demográficas e a estrutura da economia internacional. O programa de ação também recomendou meios de fortalecer o papel desempenhado pelos grandes grupos – mulheres, organizações sindicais, agricultores, crianças e jovens, povos indígenas, comunidade científica, autoridades locais, empresas, indústrias e ONGs – para alcançar o desenvolvimento sustentável. Para assegurar o total apoio aos objetivos da Agenda 21, a Assembleia Geral estabeleceu, em 1992, a Comissão para o Desenvolvimento Sustentável como uma comissão funcional do Conselho Econômico e Social. A Cúpula da Terra também levou à adoção da Convenção da ONU sobre a Diversidade Biológica (1992) e a Convenção da ONU de Combate à Desertificação em Países que sofrem com a Seca e/ou a Desertificação, Particularmente na África (1994). Em 1994, a Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, realizada em Barbados, adotou um Programa de Ação que estabelece políticas, ações e medidas em todos os níveis para promover o desenvolvimento sustentável para estes Estados. A Assembleia Geral realizou uma sessão especial em 1997, chamada de “Cúpula da Terra +5” para revisar e avaliar a implementação da Agenda 21, e fazer recomendações para sua realização. O documento final da sessão recomendou a adoção de metas juridicamente vinculativas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa que geram as mudanças climáticas; uma maior movimentação dos padrões sustentáveis de distribuição de energia, produção e uso; e o foco na erradicação da pobreza como pré-requisito para o desenvolvimento sustentável. Os princípios do desenvolvimento sustentável estão implícitos em muitas das conferências da ONU, incluindo: A Segunda Conferência da ONU sobre Assentamentos Humanos (Istambul,1999); a Sessão Especial da Assembleia Geral sobre Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (Nova York, 1999); a Cúpula do Milênio (Nova York, 2000) e seus Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (cujo sétimo objetivo procura “Garantir a sustentabilidade ambiental”) e a Reunião Mundial de 2005. 19 Em 1988, a ONU Meio Ambiente (então PNUMA) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) se uniram para criar o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), que se tornou a fonte proeminente para a informação científica relacionada às mudanças climáticas. O principal instrumento internacional neste assunto, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), foi adotado em 1992. O Protocolo de Kyoto, que estabelece metas obrigatórias para 37 países industrializados e para a comunidade européia para reduzirem as emissões de gases estufa, foi adotado em 1997. Em 2002, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável foi realizada em Johanesburgo, (África do Sul) entre 8 de agosto e 4 de setembro, para fazer um balanço das conquistas, desafios e das novas questões surgidas desde a Cúpula da Terra de 1992. Foi uma Cúpula de “implementação”, concebida para transformar as metas, promessas e compromissos da Agenda 21 em ações concretas e tangíveis. Os Estados-Membros concordaram com a Declaração de Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável e um Plano de Implementação detalhando as prioridades para a ação. A Divisão para o Desenvolvimento Sustentável do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais – que atua como secretariado da Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável, e que já estava engajada no monitoramento da implementação da Agenda 21 e do Programa de Ação para o Desenvolvimento Sustentável dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento de Barbados de, 1994 – começaram a fazer o mesmo com relação ao Plano de Implementação de Joanesburgo. Em janeiro de 2005, a comunidade internacional se reuniu nas Ilhas Maurício para realizar a revisão do Programa de Barbados das Nações Unidas, aprovando um amplo conjunto de recomendações específicas para sua implementação. A Estratégia de Maurício aborda questões como as mudanças climáticas e a elevação do nível do mar; desastres naturais e ambientais; gestão de resíduos; recursos costeiros, marítimos, de água doce, terrestres, energéticos, turísticos e de biodiversidade; transporte e comunicação; ciência e tecnologia; globalização e liberação do comércio; produção e consumo sustentável; desenvolvimento de capacidade e educação para o 20 desenvolvimento sustentável; saúde; cultura; gestão do conhecimento e da informação para tomada de decisão. Na Cúpula da Terra, ficou acordado que a maior parte dos financiamentos para a Agenda 21 viria dos setores públicos e privados de cada país. No entanto, foram necessários recursos novos e adicionais para ajudar os esforços dos países em desenvolvimento para implementar as práticas de desenvolvimento sustentável e proteger o meio ambiente global. Atendendo a essa necessidade, foi estabelecido a Facilidade Ambiental Global (GEF, na sigla em inglês), em 1991, para ajudar os projetos de financiamento dos países em desenvolvimento que protegem o meio ambiente global e promovem meios de vida sustentáveis nas comunidades locais. Ele forneceu 8,8 bilhões de dólares em doações e gerou mais de 38,7 bilhões em cofinanciamento com os governos beneficiários, agências de desenvolvimento internacional, indústrias privadas e ONGs, para ajudar mais de 2.400 projetos em mais de 165 países em desenvolvimento e economias em transição – também fez mais de 10 mil pequenas doações diretamente à organizações não- governamentais e comunitárias. Os projetos do GEF – realizados principalmente pela PNUD, ONU Meio Ambiente e pelo Banco Mundial – conservam e fazem o uso da diversidade biológica, combatem as mudanças climáticas, revertem a degradação das águas internacionais, eliminam as substâncias que destroem a camada de ozônio, combatem a degradação da terra e a seca, e reduzem e eliminam a produção e o uso de certos poluentes orgânicos persistentes. Para ajudar a avançar a causa do desenvolvimento sustentável de forma contínua, a Assembleia Geral também declarou o período entre 2005 e 2014 como a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. A Década, que tem a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como principal agência, procura ajudar as populações a desenvolverem atitudes, habilidades e conhecimento para tomarem decisões informadas para o benefício próprio e dos outros, agora e no futuro, e para agirem sobre essas decisões. 21 A lista dos órgãos ativos da ONU para ajudar o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável inclui o Banco Mundial, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Organização Marítima Internacional (OMI), a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), a Organização das Nações Unidas para Agriculturae Alimentação (FAO), o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU- HABITAT), a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O Pacto Global da ONU envolve a comunidade empresarial internacional no cumprimento dos princípios ambientais, e uma iniciativa da GEF, do Banco Central, ONU Meio Ambiente e PNUD, ajuda a financiá-lo. Tendo em mente a importância do ponto de vista ambiental e do princípio da sustentabilidade, a Assembleia Geral declarou uma série de observâncias para catalisar a ação positiva em todo o mundo. Entre aquelas atualmente em vigor estão a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014) e a Década Internacional, “Água para a Vida”, que começou em 22 de março de 2005. Além disso, a comunidade mundial observou o Ano Internacional das Fibras Naturais, em 2009, o Ano Internacional da Biodiversidade, em 2010, e o Ano Internacional das Florestas, em 2011. As datas comemorativas relacionadas ao meio ambiente declaradas pela Assembleia também incluem o Dia Mundial da Água (22 de março), o Dia Internacional para a Diversidade Biológica (22 de maio), o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca (17 de junho), o Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio (16 de setembro), o Dia Internacional para a Prevenção da Exploração do Meio Ambiente em Tempos de Guerra e Conflito Armado (6 de novembro) e o Dia Internacional das Montanhas (11 de dezembro). 22 Assembleia Ambiental da ONU (UNEA) Desde 2014, a ONU passou a contar com a Assembleia Ambiental das Nações Unidas (UNEA, na sigla em inglês), cuja primeira edição ocorreu em 2014 e a segunda em 2016. A UNEA é a mais importante plataforma da ONU para a tomada de decisões sobre o tema e marcou o início de um período em que o meio ambiente é considerado problema mundial – colocando, pela primeira vez, as preocupações ambientais no mesmo âmbito da paz, segurança, finanças, saúde e comércio. Em sua primeira edição, reuniu mais de 160 líderes de alto nível. Miniguia das conferências de meio ambiente e desenvolvimento sustentável 15 de setembro de 1971, Sede das Nações Unidas, Nova Iorque. Maurice F. Strong, secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano (à direita), mostra ao secretário-geral das Nações Unidas, U Thant, um desenho para o cartaz oficial da Conferência. À esquerda está Keith Johnson (Jamaica), presidente da Comissão Preparatória da Conferência. Crédito da foto: ONU/Teddy Chen A primeira grande conferência-marco na área de meio ambiente foi a Conferência de Estocolmo, de 1972. 23 Em 1992 ocorreu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92) Dez anos depois, em 2002, ocorreu em Joanesburgo, na África do Sul, a Rio+10. Por fim, em setembro de 2015, ocorreu em Nova York, na sede da ONU, a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável. Nesse encontro, todos os países da ONU definiram os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como parte de uma nova agenda de desenvolvimento sustentável que deve finalizar o trabalho dos ODM e não deixar ninguém para trás. Com prazo para 2030, mas com o trabalho começando desde já, essa agenda é conhecida como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. RIO+20 A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), conhecida também como Rio+20, foi uma conferência realizada entre os dias 13 e 22 de junho de 2012 na cidade brasileira do Rio de Janeiro, cujo objetivo era discutir sobre a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. A Rio+20 contou com a participação de chefes de Estado e de Governo de 188 nações (das quais, 185 dentre os 193 países-membro da ONU, além de representantes do Vaticano, da Palestina e da Comunidade Europeia) que reiteraram seus compromissos com a sustentabilidade do desenvolvimento, sobretudo, no que concerne ao modo como estão sendo usados os recursos naturais do planeta. A Rio+20 foi marcada pelo esforço de se promover a participação social na construção e na implementação dos compromissos pela sustentabilidade. De forma inédita às conferências da ONU, a Rio+20 concedeu espaço de palavra aos representantes dos nove grupos sociais distinguidos na Agenda 21 (os Major Groups) para se manifestarem na Plenária de Alto Nível - na qual tradicionalmente somente se manifestam os Chefes de Estado e de Governo dos países-membro da ONU. A "plena participação da sociedade civil" está realçada no primeiro parágrafo do documento resultante da Rio+20 24 intitulado "O Futuro que Queremos". No entanto, tal participação social nos resultados da Rio+20 foi questionada por diversos grupos sociais, gerando críticas ao texto da Conferência. O evento ocorreu em dez locais, tendo o Riocentro como principal local de debates e discussões; entre os outros locais, figuram o Aterro do Flamengo e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Mobilização da sociedade e o FSM 2012 No Brasil, foi formado o Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20. Segundo Aron Belinky, coordenador de Processos Internacionais do Instituto Vitae Civis, que representa o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) na Coordenação Nacional do Comitê, o papel do grupo – atualmente formado por 14 redes – é trazer mais participantes para o debate até o ano que vem. “Nossas ações são elaboradas por meio de grupos de trabalhos. Um deles é o de formação e mobilização, que deverá levar os temas em discussão para a sociedade e cuidará da organização do evento paralelo previamente chamado de Cúpula dos Povos, que terá a participação da sociedade civil”, pontual. O encontro da sociedade, segundo ele, deverá começar antes, por volta do dia 20 de junho de 2012. “Além de representantes do Brasil, outros do Canadá, França, Japão, e de alguns países da América Latina já estão envolvidos nestas ações”, adianta o ambientalista. “Na Cúpula dos Povos, queremos que seja garantido que a economia verde seja avaliada como um interessante indutor de sustentabilidade, desde que abranja as questões sociais, além das ambientais, e tenha sempre presente a questão da qualidade de vida dos cidadãos, além da ecoeficiência.” Uma outra frente da sociedade civil rumo à Rio+20 se dará no âmbito do Fórum Social Mundial (FSM). A decisão foi tomada ao final da edição deste ano, em Dacar, no Senegal. Segundo o empresário e ativista da área de responsabilidade social, Oded Grajew, que integra o Comitê Internacional do FSM – que ocorrerá entre 27 e 31 de janeiro de 2013 (data sujeita a alterações) –, a edição internacional descentralizada do evento terá como principal pauta a temática ambiental, voltada à conferência. 25 “O FSM não representa as elites econômicas e exigirá uma demanda de mobilização da sociedade sobre outro modelo de desenvolvimento. Trataremos de propostas de mudança da matriz energética para a renovável, da questão nuclear, das hidrelétricas em confronto com as populações indígenas, do modelo de consumo e resíduos orgânicos, entre outros”, aponta Grajew. Segundo ele, a meta é propor políticas públicas ao governo e informações sobre indicadores quanto à grave situação do modelo atual de desenvolvimento, que leva ao esgotamento de recursos naturais e ao aumento das desigualdades. “Como 2012 será também um ano de eleições em alguns países importantes como EUA, Alemanha e França, isso prejudica decisões. Talvez essas nações não queiram assumir alguns compromissos, que podem comprometer os resultados nas urnas”, alerta. Ele reforça que, no contexto da Economia Verde, as discussõesdo FSM permanecerão voltadas a questões sociais, ao combate às desigualdades. No campo empresarial, Grajew informa que algumas iniciativas em andamento são do Instituto Ethos, que lançou, em fevereiro deste ano, a Plataforma por uma Economia Inclusiva, Verde e Responsável. “A proposta é que possa ser apresentada também uma agenda de sustentabilidade urbana para os candidatos às eleições municipais brasileiras, no ano que vem. O projeto será amadurecido na Conferência Ethos, em agosto deste ano.” Governança e desenvolvimento sustentável Um tema complexo que estará na Conferência, segundo Belinky, diz respeito à governança em um cenário de desenvolvimento sustentável. “Este tema está sendo pouco debatido oficial e extraoficialmente. Deve ser visto não como uma discussão sobre burocracia, mas como uma condição necessária para encaminhar as decisões e recomendações que se tomem na conferência”, analisa. Belinky afirma que, se por um lado, hoje se enxerga o desenvolvimento sustentável no conjunto, as instituições internacionais e internas a cada país são estanques. “Umas atuam no campo econômico, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o FMI e a Organização Mundial do Comércio (OMC), que não se conectam nas dimensões sociais e ambientais. Já a Organização 26 Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial do Trabalho (OMT), que têm algum poder político, estão desconectadas do lado ambiental. A ideia é integrá- las à questão do desenvolvimento sustentável”. No caso da questão ambiental, as discussões levam à constatação de que não existe nenhuma organização internacional com real poder regulatório. “O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) é um dos com menor orçamento na ONU e depende de adesões voluntárias. Não é essencial dentro do sistema, participa quem quer. Pode encaminhar, no máximo, estudos, recomendações, mas sem poder regulatório”. Como primeiro passo, uma das propostas que serão defendidas pela sociedade civil é que haja uma resolução para se criar uma agência ambiental internacional, aprimorando o funcionamento do Pnuma ou por meio de sua união com outras agências. “O governo brasileiro, inclusive, tem defendido uma 'agência guarda-chuva', que tenha sob ela várias agências internacionais do sistema ONU.” As entidades, segundo Belinky, enxergam que existe uma necessidade tanto ética quanto política e econômica de tirar as pessoas da pobreza. “Isso não significa que deverão ter padrão de consumo insustentável, como o norte-americano e europeu. Não é objetivo estender a sociedade perdulária”, adverte. As expectativas sobre os resultados da Rio+20 caminham na direção de dois extremos. “Será uma grande oportunidade ou nulidade. A conferência pode fazer uma convergência, desatar nós ou, então, se não se dispuser, será um ponto de jogar conversa fora. Mas de qualquer forma, a mobilização de propostas da sociedade civil será um avanço. Ou os governos são capazes de mostrar relevância no mundo contemporâneo ou são incapazes de acompanhar o ritmo que a sociedade avança, se tornando um empecilho”. 27 REFERÊNCIAS Diferentemente da Rio+20, Cúpula dos Povos supera divergências no texto final. Jornal do Brasil. disponível em: https://www.jb.com.br/redirect.php?url=/ambiental/noticias/2012/06/22/diferente mente-da-rio20-cupula-dos-povos-supera-divergencias-no-texto-final/. Acesso em 24 de junho de 2012 Rio+20 é o maior evento já realizado pela ONU, diz porta voz. Jornal do Brasil. disponível em: https://www.jb.com.br/redirect.php?url=/ambiental/noticias/2012/06/22/rio20-e- o-maior-evento-ja-realizado-pela-onu-diz-porta-voz/. Acesso em 24 de junho de 2012 NAÇÕES UNIDAS BRASIL (NUB). A ONU e o meio ambiente. Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/meio-ambiente/. Acesso em: 17 set. 20. SILVA. A sustentabilidade como forma de implementação da função social da propriedade rural. Pag 18 – 28. AVELHAN, Bruna Liria; SOUZA, José Paulo de. A estrutura de governança do setor sucroalcooleiro: uma avaliação de fornecimento de matéria-prima da região de Araçatuba, Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v. 41, p.13-25, ago. 2011. BRASIL. BLOG DO PLANALTO. A história das conferências da ONU sobre mudanças climáticas. Disponível em: <http://blog.planalto.gov.br/a- historia-das-conferencias-da-onu- sobre-mudancas-climaticas/>. Acesso em: 01 ago. 2012.