Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES É quando o credor ou devedor transfere seu crédito ou dívida para alguém que assume a posição daquele na obrigação, sem alteração da obrigação inicial. Credor é a parte na relação obrigacional que cede o crédito (cessão de crédito). Devedor é a parte na relação obrigacional que cede a dívida (assunção de dívida). O crédito é um elemento inserido no patrimônio do credor, suscetível de transmissão, tal como qualquer outro bem jurídico. A operação de crédito envolve uma troca de um valor presente por um valor futuro. Mesmo antes do momento da exigibilidade da prestação, normalmente no momento do vencimento, o crédito já representa um elemento atual do patrimônio do credor. O credor já detém o direito subjetivo ao crédito desde o tempo da constituição válida do negócio jurídico, apenas não poderá exercitar a sua pretensão contra o devedor, pois carece de exigibilidade. CESSÃO DE CRÉDITO A cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral pelo qual o credor transfere a terceiro a sua posição patrimonial na relação obrigacional, sem que com isso se crie uma nova situação jurídica. O termo cessão significa transferência onerosa ou gratuita de bens imateriais e intangíveis. A cessão de crédito surge como um negócio jurídico que envolve: O cedente é aquele que transfere total ou parcialmente o seu crédito. O cessionário é aquele que adquire o crédito parcial ou total, preservando a mesma posição do cedente na relação obrigacional. O cedido é o devedor que terá de adimplir a obrigação em favor do cessionário. A vontade do cedido não participa da validade do negócio jurídico, pois ele não desfruta de legitimidade para se opor à transmissão do crédito. Em regra, a modificação da pessoa do credor não lhe acarreta prejuízo, à medida que a prestação que terá de cumprir objetivamente se mantém idêntica. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em precatórios a terceiros, independentemente de concordância do devedor. O credor não precisa consultar e ser autorizado pelo devedor para ceder o crédito, ele possui liberdade para dispor do seu crédito ao cessionário. Porém, é fundamental que o devedor seja informado e notificado sobre a realização da cessão para fins de eficácia e para que, em relação ao devedor, a cessão produza efeitos. Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita. A notificação do devedor quanto à cessão de crédito será expressa quando o cedente ou o cessionário tomar a iniciativa de comunicar àquele que transferiu o crédito a determinada pessoa. Há a possibilidade, também, de notificação presumida, quando resulta de espontânea declaração de ciência do devedor, em escrito público ou particular. A cessão de crédito implica tão somente a substituição subjetiva no pólo ativo da obrigação, pois o seu objeto remanesce intacto, abrangendo ainda todos os seus acessórios, como juros e cláusula penal. A notificação não objetiva a obtenção do consentimento do devedor, mas o simples conhecimento, pois ele sofrerá os efeitos do negócio jurídico. A notificação vincula o devedor cedido ao cessionário, impedindo assim que pague ao credor primitivo. Se assim o fizer após a ciência da cessão, pagará mal e, portanto, duas vezes. Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação. Caso o devedor pague ao cedente pelo fato de não ter sido notificado da cessão, poderá o devedor de boa-fé obter eficácia liberatória, restando ao cessionário apenas o direito de regresso em face do cedente para evitar o seu enriquecimento sem causa. Devedor pagou pessoa que ainda parecia ser o credor (primitivo), porque não foi notificado para saber ao certo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida, ficará desobrigado → TEORIA DA APARÊNCIA. Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. Exceto cláusula limitativa inserta na convenção, o cessionário assume idêntica situação jurídica ativa à do cedente, com seus cômodos e incômodos. Acompanham a mutação subjetiva da obrigação todas as cauções reais, pessoais, juros, cláusula penal e mesmo situações potestativas. Os requisitos da cessão de crédito são os seguintes: um negócio jurídico que estabeleça transmissão da totalidade ou de parte do crédito; a inexistência de impedimentos legais ou contratuais a esta transmissão; e a não ligação do crédito à pessoa do credor como decorrência da própria natureza da prestação. Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrado mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido de solenidades... Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel. Obs: caso a cessão envolva crédito hipotecário do cedente em face do devedor, deverá o cessionário averbar a cessão da escritura pública, no registro imobiliário. Trata-se de um ônus ao cessionário, pois, se não averbar a cessão, sua proteção perde eficácia. Exige-se também a outorga do cônjuge do cedente, cuidando-se o ônus real que incide sobre o bem imóvel, excepcionando-se o regime da separação convencional de bens. Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido. Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido. Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. Deverá o cedido, tão logo notificado, comunicar as exceções pessoais oponíveis ao cedente, sob pena de perda da faculdade, caso demore em agir. As exceções pessoais devem ser afirmadas na primeira oportunidade. Já as exceções pessoais contra o cessionário poderão ser invocadas a partir da notificação, pois antes dela a cessão lhe era indiferente, e a qualquer tempo antes do adimplemento. Com relação às exceções objetivas que concernem à própria prestação, poderão ser opostas ao cessionário, mesmo que em momento posterior à época da transmissão, mesmo porque a posiçãodo cessionário deriva da própria posição do cedente. Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé. Responsabilidade ou cessão pro soluto: o cedente responde pela existência e legalidade do crédito, mas não responde pela solvência do devedor. Responsabilidade ou cessão pro solvendo: o cedente responde também pela solvência do devedor. Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. A regra geral é a de que o cedente garanta apenas a existência do crédito cedido; todavia, se, por norma expressa, além de garantir a existência do crédito, também pode garantir a solvência do devedor. Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança. Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro. Obs: após a intimação do credor sobre a penhora de seu crédito, fica o mesmo impossibilitado de praticar atos de disposição do referido crédito, inviabilizando-se a sua cessão, doravante vinculada ao processo de execução contra ele instaurada, qualificando-se o crédito como intransmissível. ASSUNÇÃO DE DÍVIDA É quando um devedor cede a obrigação de débito para um novo devedor que vai entrar na relação obrigacional sem alterar a estrutura obrigacional. A posição do devedor primitivo é cedida a novo devedor (assuntor), mas sempre com anuência do credor. Na assunção de dívidas, a identidade do devedor é fator fundamental para o suporte do credor, principalmente, quanto às suas condições de solvabilidade. É imprescindível o consentimento do credor para que se concretize a transmissão do débito. Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. Assunção liberatória (privativa ou exclusiva): a transmissão da obrigação propicia a liberação do devedor originário, sem perda de identidade do vínculo, que se mantém inalterado. Assunção cumulativa: o novo devedor assume o débito conjuntamente ao devedor primitivo. Não há substituição do polo passivo, mas uma ampliação, a qual poderá exigir a prestação de um ou de outro. Apenas existirá solidariedade entre os devedores na assunção cumulativa quando houver cláusula expressa nesse sentido. Sendo certo que a solidariedade não se presume, no silêncio do contrato a obrigação poderá ser exigida de cada um dos devedores na integralidade - ampliando a garantia de crédito. Mas sem a possibilidade de um se voltar em face do outro em sede regressiva para a restituição de uma fração, nem de aplicação das demais regras voltadas às relações internas entre os devedores solidários. Assunção por expromissão: é celebrada diretamente entre o credor e o novo devedor (expromitente), mesmo sem a anuência ou qualquer participação do devedor primitivo. Assunção por delegação: há um acordo entre o devedor primitivo e o novo devedor, para a delegação do débito. Porém, tal delegação, por si só, não aperfeiçoa a assunção da dívida, sendo ainda necessário o expresso consentimento do credor àquele acordo. Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor. Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação. Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo. As exceções pessoais são aquelas defesas que se referem a fatos inerentes à própria pessoa do devedor. Nada obstante, poderá se servir das suas próprias exceções pessoais, bem como das exceções concernentes à relação obrigacional que lhe foi transmitida. Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento. DA CESSÃO DO CONTRATO Não é regulamentada por lei, a cessão é um negócio jurídico atípico. Art. 425: é lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste código. Em regra, o cedente não se responsabiliza pelo adimplemento do contrato-base após a cessão. A cessão do contrato ou cessão da posição contratual é a transferência da inteira posição ativa ou passiva da relação contratual, incluindo o conjunto de direitos e deveres de que é titular uma determinada pessoa. Ela quase sempre está relacionada com um negócio cuja execução ainda não foi concluída. É necessária a autorização do outro contratante para que ocorra a cessão da posição contratual.
Compartilhar