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Da transmissão das obrigações e assunção de dívida

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Ana Luiza Bittencourt 
DIREITO CIVIL III – DAS OBRIGAÇÕES E RESP. CIVIL 
Da transmissão das obrigações e assunção de dívida – arts. 286/303 
Considerações gerais: 
- Cessão de crédito: é o negócio jurídico mediante o qual o credor (pessoa natural ou jurídica) transfere para outra 
pessoa (natural ou jurídica) os seus direitos de crédito da relação obrigacional. Pode ser de forma gratuita ou onerosa 
e total ou parcial. 
pode ser de forma onerosa (credor vende seus créditos a um terceiro) ou gratuita (doação). 
- Sujeitos: 
• Cedente: o que cede seus bens (de forma onerosa ou graciosa); 
• Cessionário: o que compra ou recebe os créditos; 
• Devedor: aquele que deve restituir a coisa (não precisa anuir com a cessão > a opinião dele não importa > o 
que ele pode fazer é antecipar o pagamento para que a cessão não seja feita). O devedor deve ser avisado 
sobre a cessão de crédito para que ele saiba a quem pagar. 
Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com 
o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do 
instrumento da obrigação. O credor pode ceder o seu crédito, salvo algumas exceções: 
• Quando a cessão de crédito se opuser à natureza da obrigação: nem todo direito pode ser cedido. Ex.: direitos 
da personalidade; créditos alimentares. As obrigações personalíssimas devem ser exercidas pessoalmente 
pelas pessoas que são titulares do direito, e por isso não podem ser cedidas. 
• Quando a lei não permite: vedação. Ex.: crédito que já foi penhorado não pode ser transferido; benefício da 
justiça gratuita não pode ser cedido. 
• Quando convencionado entre as partes a proibição: autonomia da vontade das partes. 
A cláusula contratual que proíbe a cessão de crédito tem de constar expressamente no contrato (instrumento) para 
poder ser exigida. Caso o credor realize uma cessão de crédito para um cessionário de boa-fé e, posteriormente, o 
devedor venha alegar que o credor não poderia ter cedido o crédito, a proibição só poderá ser alegada pelo devedor 
se constar no instrumento da obrigação. 
Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. Princípio da 
gravitação jurídica: os acessórios acompanham o principal. Exemplo de acessórios de um crédito: juros; multa; fiança; 
aval; hipoteca; penhor etc. 
Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento 
público, ou instrumento particular revestido das solenidades do §1º do art. 654. A cessão de crédito pode ser realizada 
por contrato; verbalmente; por meio eletrônico etc, mas desde que tenha um documento formalizando essa ação. 
Para que tenha eficácia contra terceiros, o instrumento particular deve obedecer os parâmetros do art. 654. 
Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel. Crédito 
hipotecário é quando um bem imóvel é oferecido pelo devedor ao credor como garantia para pagamento de uma 
dívida (garantia de natureza real). Quando o credor recebe um crédito hipotecário e passa para outra pessoa, essa 
pessoa que recebeu é chamada de cessionário do crédito hipotecário. Averbação no registro do imóvel é o ato de 
inserir modificações que possam ter havido no registro do imóvel. Conclusão: a averbação deve ser feita para que 
todos que tiverem acesso ao registro do imóvel saberão que houve uma cessão de crédito hipotecário. 
Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por 
notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita. O devedor deve 
ser notificado para que ele saiba que deverá pagar a dívida para o atual credor (cessionário) e não para o credor 
originário (cedente). O fato de o devedor não ter sido notificado da cessão de crédito apenas torna ineficaz a cessão 
em relação a ele (devedor), mas não invalida a cessão de crédito feita entre o cedente e o cessionário. 
Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito 
cedido. Se o cedente fizer várias cessões do mesmo crédito, vai valer a cessão que ocorreu pela tradição (entrega) do 
título do crédito cedido. 
Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no 
caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação 
cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação. Esse artigo aborda para 
quem o devedor deverá pagar a dívida: 
• Se o devedor não for notificado da cessão de crédito: o devedor ficará desobrigado (extingue-se a obrigação) 
se pagar a dívida para o credor originário (primitivo). 
• Se forem feitas mais de uma cessão do mesmo crédito e o devedor for notificado de mais de uma cessão: o 
devedor ficará desobrigado se pagar a dívida para o cessionário que apresentar o título da cessão juntamente 
com o título do crédito cedido. 
• Se forem feitas mais de uma cessão do mesmo crédito por escritura pública: o devedor ficará desobrigado a 
pagar para o cessionário cuja cessão foi a primeira a ser notificada ao devedor. 
Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos 
conservatórios do direito cedido. O fato de o devedor não ter sido notificado da cessão de crédito não extingue a 
dívida, portanto, o cessionário pode praticar atos de modo a conservar o direito cedido, como inscrever o nome do 
devedor nos órgãos de proteção ao crédito e outras coisas. 
Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que 
veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. Exceção é a defesa que cabe contra uma pretensão dentro 
de um processo judicial. Dessa forma, o devedor pode opor as defesas que tiver contra o cessionário e também pode 
opor as defesas que tiver em relação ao cedente por fatos ocorridos até o momento em que soube da cessão. 
Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela 
existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, 
se tiver procedido de má-fé. Quando o cedente faz uma cessão de crédito onerosa, ele será responsável perante o 
cessionário pela existência do crédito ao tempo que lhe cedeu. No momento em que foi realizada a cessão do crédito, 
o crédito necessariamente tem de existir sob pena de configurar-se o enriquecimento ilícito do cedente. Logo, o 
cedente será responsável se fizer a cessão onerosa de um crédito que não existe; ou de um crédito que não tenha 
validade. Se o crédito deixa de existir após o cedente realizar a cessão, o cedente não terá responsabilidade. Na 
responsabilidade gratuita a responsabilidade só irá ocorrer se o cedente tiver agido de má-fé. 
Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. Se o contrato nada disser 
quanto à responsabilidade do cedente pela solvência do devedor, o cedente não será responsável pela solvência do 
devedor. A única obrigatoriedade que o cedente tem é provar que existe um crédito. 
Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele 
recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito 
com a cobrança. O cedente deverá devolver para o cessionário o valor que recebeu pela cessão do crédito + juros + 
despesas com a cessão + despesas com a cobrança 
Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora;mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos 
de terceiro. Quando o credor tem um crédito para receber e esse crédito fora penhorado, ele não pode transferir o 
crédito para outra pessoa que tiver conhecimento da penhora. Se o devedor não tiver sido notificado da penhora do 
crédito e pagar a dívida diretamente para o credor, o devedor não terá responsabilidade e não precisará pagar a dívida 
novamente (“fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao devedor primitivo”). O 
terceiro (cessionário) somente vai poder cobrar o valor do próprio credor (credor do crédito penhorado) e não do 
devedor. 
Da assunção de dívida 
Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando 
exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele (terceiro), ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. 
Assunção de dívida. É quando uma pessoa (natural ou jurídica) assume o lugar do devedor primitivo > um terceiro 
assume. A dívida permanece inalterada. Esse terceiro passa a ser chamado de assuntor. É preciso ter o consentimento 
expresso do credor. Se o terceiro era insolvente e o credor não sabia da insolvência, o devedor primitivo não fica 
exonerado da dívida, podendo ser demandado (assunção de dívida cumulativa). 
Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, 
interpretando-se o seu silêncio como recusa. Se o credor foi informado da assunção de dívida e não se pronunciar quer 
dizer que ele não aceitou a assunção. Precisa de concordância expressa. 
Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as 
garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor. Garantias especiais são formas de garantir o pagamento 
de uma dívida, e que não são essenciais ao negócio jurídico, como hipoteca, penhor, fiança, aval. Se o devedor 
primitivo não concordou expressamente com a assunção de dívida, as garantias dadas por ele serão extintas. Se o 
devedor primitivo concordou expressamente com a assunção de dívida as garantias dadas por ele permanecerão. A 
garantia de terceiro dada antes da assunção da dívida sempre será extinta (exceto se esse terceiro queira que 
continue). 
Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as 
garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação. Substituição do devedor 
anulada. Se for anulado, o negócio jurídico volta igual estava antes (a dívida retorna ao devedor primitivo) e as 
garantias prestadas pelo devedor primitivo também se restaura. As garantias prestadas por terceiro não se restauram, 
exceto se o terceiro sabia do vício que o negócio tinha 
Art. 302. O novo devedor (assuntor) não pode opor ao credor as exceções (defesas) pessoais que competiam ao devedor 
primitivo. A defesa pessoal era contra o primitivo, então ela não pode ser “reutilizada”. As exceções genéricas e 
posteriores podem ser opostas. 
Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, 
notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento. Adquirente do 
imóvel hipotecado é um terceiro que adquiriu do devedor o imóvel que estava hipotecado em favor do credor. Após 
o terceiro ter adquirido o imóvel hipotecado, ele poderá assumir a dívida do devedor primitivo, mas deverá notificar 
o credor para informar que adquiriu o imóvel hipotecado e que vai assumir a dívida do devedor primitivo. Se o credor, 
após informado, não se pronunciar no prazo de 30 dias, entende-se que ele concordou (tacitamente).

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