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TERAPIA-OCUPACIONAL-EM-SAÚDE-MENTAL-INFANTIL

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TERAPIA OCUPACIONAL EM SAÚDE MENTAL INFANTIL 
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SUMÁRIO 
 
NOSSA HISTÓRIA............................................................................................. 2 
Introdução............................................................................................................ 3 
A Profissão Terapeuta Ocupacional ............................................................... 4 
A Terapia Ocupacional No Cenário Da Reforma Psiquiátrica Brasileira .. 6 
Percurso Histórico Da Saúde Mental Infantojuvenil ................................... 10 
Terapia Ocupacional E Saúde Mental .......................................................... 16 
Produzindo Saúde Ocupacional ................................................................ 17 
A Terapia Ocupacional E As Novas Formas Do Cuidar Em Saúde Mental
 ........................................................................................................................................ 20 
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 26 
 
 
 
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NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Introdução 
 
 
Traduzir a subjetividade do sujeito com transtornos mentais é trilhar um 
caminho desconhecido e que parece não ter fim, é buscar um sentido que 
aparentemente não tem sentido, é transformar ideias, é repensar, é desconstruir, 
é habilitar, é ampliar os limites, é sonhar, é criar, é reviver, é viver. E acima de 
tudo, produzir inquietações no fazer cotidiano, desacomodando o que está 
estático. No entanto, quanto mais buscamos respostas para as inquietações que 
surgem a partir do trabalho que desenvolvemos, mais produzimos inquietações, 
que podem vir a produzir saúde mental e fazer a diferença entre o cuidar e o 
reabilitar. 
A reabilitação propõe um desafio gigantesco em que a desrazão deve 
encontrar novos fazeres e pensares originais, para muito além do treinamento 
ou adestramento (SARACENO, 2001). No cenário da política nacional de saúde 
mental, novos atores sociais foram chamados a compor esse panorama 
democrático de construção conjunta de uma política efetiva na perspectiva de 
redes de atenção psicossocial (MARTINS, 2003). 
O Terapeuta Ocupacional saiu de uma prática apenas (práxis) para um 
futuro cheio de possibilidades que procura mobilizar e produzir saúde, utilizando 
diferentes formas de atividades, respeitando a subjetividade e singularidade dos 
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sujeitos, o seu entorno e as atividades para ele significativas, encontra o desafio 
de criar práticas que conduzam a desinstitucionalização, favorecendo a 
autonomia, e consequentemente a inclusão do sujeito estigmatizado pela 
doença mental em seu próprio território. Nestes novos paradigmas de atenção 
ao portador de sofrimento psíquico, é na transdicisplinaridade que a 
ressocialização do sujeito ecoa. 
A Terapia Ocupacional, na atenção em saúde mental, ocupa um lugar 
comprometido com o direito, a cidadania e a ética, conduzindo a um 
conhecimento que induz à flexibilidade nas ações, assim, ela não deve ser 
apenas uma estratégia de intervenção para eliminação e controle do mal estar 
psíquico, mas deve colaborar para que a vida coletiva e as existências individuais 
sejam mais abertas, interessantes e criativa e nós, terapeutas ocupacionais, 
facilitadores desse processo de mudança, precisamos ser incansáveis criadores 
de possibilidades. 
 
A Profissão Terapeuta Ocupacional 
 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Terapia Ocupacional 
é a ciência que estuda a atividade humana e a utiliza como recurso terapêutico 
para prevenir e tratar dificuldades físicas e/ou psicossociais que interfiram no 
desenvolvimento e na independência do cliente para suas atividades de vida 
diária, trabalho e lazer. É a arte e a ciência de orientar a participação do indivíduo 
em atividades selecionadas para restaurar, fortalecer e desenvolver a 
capacidade, facilitar a aprendizagem das habilidades e funções essenciais para 
a adaptação e produtividade, diminuir ou corrigir patologias e promover e manter 
a saúde (BARTALOTTI, 2001). 
Por princípio, é no processo terapêutico que, por meio do fazer (ato, 
ações, atividades), o paciente pode reconhecer-se como sujeito que cria, atua, 
reconhece, organiza e gerencia seu cotidiano concreto. A regulamentação 
profissional do Terapeuta Ocupacional no Brasil se deu através do Decreto-Lei 
nº 938, de 13 de outubro de 1969, que dispõe: “O fisioterapeuta e o terapeuta 
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ocupacional, diplomados por escolas e cursos reconhecidos, são profissionais 
de nível superior. [...] É atividade privativa do terapeuta ocupacional executar 
métodos e técnicas terapêuticas e recreacional com a finalidade de restaurar, 
desenvolver e conservar a capacidade mental do paciente”. 
Em 17 de dezembro de 1975 é criado o Conselho Federal e Conselho 
Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A Terapia Ocupacional No Cenário Da Reforma 
Psiquiátrica Brasileira 
 
Pinel, na França, e Tuke, na Inglaterra, foram os propositores do 
tratamento moral, partindo do pressuposto de que a organização e as ocupações 
no ambiente hospitalar levavam à reorganização e ao equilíbrio do doente 
mental, ainda presente nas práticas asilares. Foi por seu intermédio que a 
Terapia Ocupacional construiu seu primeiro modelo de intervenção, durante o 
chamado processo de re-emergência, em torno de 1920 (BARTALOTTI, 2001). 
Com o passar dos anos surge o modelo reducionista de tratamento, que 
se divide em modelo psicanalítico, cinesiológico e neurológico, em que a visão 
do homem era voltada para os mecanismos internos. A década de 70 foi um 
período de busca e crescimento no campo profissional. Surge a abordagem 
psicodinâmica em Terapia Ocupacional, que abrange todas as faixas etárias e 
grupos populacionais considerados marginalizados e estigmatizados, como por 
exemplo, os deficientes mentais, visuais, auditivos, menores carentes, idosos e 
detentos (PÁDUA, 2005). 
Bartalotti, Mângia e Nicácio (2001), ao analisar o processo de 
desinstitucionalização dos pacientes psiquiátricos, referem a possibilidade de a 
Terapia Ocupacional redefinir seus objetivos na atenção, pautados na produção 
da autonomia e de itinerários que enfrentem a exclusão social. No processo de 
transformação das instituições asilares, a ocupação se apresenta como uma 
resposta à ociosidade. Diferente dessa compreensão, a perspectiva institucional 
revela que o vazio institucional não é produto da falta de ocupação, e sim, remete 
ao processo de institucionalização e à ausência de intercâmbio, de relações, 
expressão do “manicômio como lugar zero de trocas” (PÁDUA, 2003). 
O Terapeuta Ocupacional utiliza uma metodologia de trabalho conhecida
como trilhas associativas, que tem como princípio norteador a concepção de que 
a dinâmica estabelecida pela tríade terapeuta-paciente-atividade compõe um 
campo transicional no qual é possível ao paciente, por meio do trabalho 
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associativo com as produções realizadas nos settings terapêuticos, construir e 
reconstruir sua história (BENETTON, 1991). 
Através da relação entre terapeuta, paciente e atividade, é procurado 
levar o indivíduo a encontrar formas mais gratificantes de vida, seja nos 
pequenos grupos, seja na sociedade em geral, tendo as atividades como 
elemento centralizador e orientador do processo terapêutico e permitindo que o 
paciente se aproprie da definição de seu projeto terapêutico. O processo de 
Reforma Psiquiátrica Brasileira, contemporânea da Reforma Sanitária, é inscrito 
num contexto internacional de mudanças pela superação da violência asilar. 
Fundado, ao final dos anos 70, na crise do modelo de assistência centrado 
no hospital psiquiátrico, por um lado, e por outro, na eclosão dos esforços dos 
movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquiátricos, é maior do que a 
sanção de novas leis e normas e maior do que o conjunto de mudanças nas 
políticas governamentais e nos serviços de saúde. É compreendida como um 
conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais. É 
no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais 
que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, 
tensões, conflitos e desafios (AMARANTE, 2008). 
O movimento formado por trabalhadores em saúde mental, através de 
variados campos de luta, passa a protagonizar e a construir a denúncia da 
violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma 
rede privada de assistência, e a construir coletivamente uma crítica ao chamado 
saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com 
transtornos mentais. A experiência italiana de desinstitucionalização em 
psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio é inspiradora, e revela a 
possibilidade de ruptura com os antigos paradigmas. 
Em 1989 são implantados no município de Santos (São Paulo) Núcleos 
de Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionam 24 horas, são criadas 
cooperativas, residências para os egressos do hospital e associações. Também 
no ano de 1989, dá entrada no Congresso Nacional o projeto de lei do deputado 
Paulo Delgado (PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa 
com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. É o 
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início das lutas do movimento da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativos 
e normativos. 
Com a Constituição de 1988, é criado o SUS – Sistema Único de Saúde, 
formado pela articulação entre as gestões federal, estadual e municipal, sob o 
poder do controle social, exercido através dos “Conselhos Comunitários de 
Saúde”. 
A partir do ano de 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto 
de Lei Paulo Delgado, conseguem aprovar em vários estados brasileiros as 
primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos 
por uma rede integrada de atenção à saúde mental. É a partir desse período que 
a política do Ministério da Saúde para a saúde mental, acompanhando as 
diretrizes em construção da Reforma Psiquiátrica, começa a ganhar contornos 
mais definidos. 
É na década de 90, marcada pelo compromisso firmado pelo Brasil na 
assinatura da Declaração de Caracas e pela realização da II Conferência 
Nacional de Saúde Mental, que passam a entrar em vigor no país as primeiras 
normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção diária, 
fundadas nas experiências dos primeiros CAPS (Centros de Atenção 
Psicossocial), NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial) e Hospitais-Dia, e as 
primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos. 
Do mesmo modo, as normas para fiscalização e classificação dos hospitais 
psiquiátricos não previam mecanismos sistemáticos para a redução de leitos. 
É somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso 
Nacional, que a Lei Paulo Delgado é sancionada no país. A aprovação, no 
entanto, é de um substitutivo do projeto de lei original, que traz modificações 
importantes no texto normativo. 
Assim, a Lei 10.216/01 redireciona a assistência em saúde mental, 
privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, 
dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas 
não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. 
Ainda assim, a promulgação da lei federal impõe novo impulso e novo ritmo para 
o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil (BRASIL, 2005). 
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Nesse mesmo período, o processo de desinstitucionalização de pessoas 
longamente internadas é impulsionado, com a criação do Programa “De Volta 
para Casa”. Uma política de recursos humanos para a Reforma Psiquiátrica é 
construída, e é traçada a política para a questão do álcool e de outras drogas, 
incorporando a estratégia de redução de danos. Esse processo caracteriza-se 
por ações dos governos federal, estadual, municipal e dos movimentos sociais, 
para efetivar a construção da transição de um modelo de assistência centrado 
no hospital psiquiátrico, para um modelo de atenção comunitário. O período atual 
caracteriza-se assim por dois movimentos simultâneos: a construção de uma 
rede de atenção à saúde mental substitutiva ao modelo centrado na internação 
hospitalar, por um lado, e a fiscalização e redução progressiva e programada 
dos leitos psiquiátricos existentes, por outro (BRASIL, 2005). 
No Sistema Único de Saúde (SUS) os centros de atenção psicossocial 
(CAPS) são referência para o tratamento do portador de transtornos mentais 
severos e persistentes, garantindo ao usuário o acolhimento e 
acompanhamento, proporcionando um vínculo terapêutico humanizado. São 
articuladores da rede de atenção de saúde mental no território e organizam os 
recursos existentes em variadas redes – sócio- sanitárias, jurídicas e 
educacionais –, promovendo a reinserção social, a vida comunitária e a 
autonomia. A atenção inclui ações dirigidas aos usuários e familiares, através de 
projetos de inserção social, a fim de minimizar o estigma e promover a cidadania, 
a qualidade de vida e a inserção social (AMARANTE, 2008). 
O Terapeuta Ocupacional no Sistema Único de Saúde trabalha questões 
específicas e coletivas, no atendimento individual ou em grupo nos CAPS, 
NAPS, ambulatórios, residenciais terapêuticos; proporciona supervisão e apoio 
específicos para as Equipes Saúde da Família, objetivando integrar as 
dificuldades do usuário da família e até mesmo da comunidade, despertando o 
potencial de cada um. As atividades são grupos, oficinas, assembleias, grupos 
de familiares, visitas domiciliares, participação em feiras e passeios, entre outras 
atividades no dia a dia do serviço. As atividades que se desenvolvem possibilitam 
o resgate da sua autoestima, da autoconfiança, do seu valor como sujeito. 
O processo terapêutico tem por principio ser o lugar onde, por meio do 
fazer (atos, ações, atividades), o paciente possa reconhecer-se como sujeito que 
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cria, atua, reconhece, organiza e gerencia o seu cotidiano concreto. Um lugar 
onde a convivência com as contradições vividas pelas suas ações cotidianas 
possa ser trazida para fazê-lo concreto no manuseio de diferentes 
materiais/atividades/situações, abrindo assim a possibilidade de reconhecimento 
e enfrentamento de suas dificuldades cotidianas, na busca por um 
enriquecimento de suas necessidades e possibilidades concretas, no interior da 
coletividade (FRANCISCO, 2001). 
A desinstitucionalização inscreve a necessidade de desmontar as 
soluções existentes para (re)conhecer, (re)contextualizar o problema 
representado pelo sofrimento
psíquico e inventar novas possibilidades, processo 
que, necessariamente, permeia as diferentes disciplinas (AMARANTE, 2008). As 
práticas de atenção em Terapia Ocupacional pautadas na desinstitucionalização 
têm exigido e propiciado novas formas de olhar com a experiência do adoecer e 
da exclusão, o conhecer e o interagir (BARTALOTTI, 2001). 
 
Percurso Histórico Da Saúde Mental Infantojuvenil 
 
O caminho trilhado no campo da atenção à saúde mental das crianças e 
adolescentes ao longo do tempo, a despeito da história da saúde mental do 
adulto, conheceu movimentos diferentes, no que se refere aos projetos políticos 
e ao contexto de interesses e premissas colocados para sua consolidação 
(COUTO, 2001). 
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No cenário internacional e com importantes repercussões no Brasil, as 
bases teóricas da psicopatologia da infância e adolescência derivavam-se de 
duas correntes principais, uma que transpunha para este grupo populacional as 
mesmas considerações sobre a psicopatologia do adulto, no chamado 
adultomorfismo (REIS et al., 2010), e outra, que se detinha pela descrição dos 
processos de incapacidade e deficiências intelectuais. Em relação aos 
adolescentes, que não constituíam alvo das políticas para educação formal, 
delineia-se o construto do jovem delinquente (RIBEIRO, 2006). Além da 
categorização psicopatológica da delinquência, referiam-se como diagnósticos 
próprios das crianças e adolescentes a idiotia, a debilidade e a imbecilidade 
(REIS et al., 2010; COUTO, 2001; RIBEIRO, 2006). 
Em 1943, com a publicação de um estudo descritivo do funcionamento de 
uma criança autista por Leo Kanner nos Estados Unidos da América, efetiva-se 
uma ruptura fundamental na constituição do campo da psicopatologia da infância 
e adolescência, inaugurando de forma mais precisa a Psiquiatria Infantil. Em seu 
estudo, Kanner se detém ao detalhamento de uma problemática eminentemente 
infantil, considerando que as crianças não possuíam os mesmos modos de 
funcionamento afetivo e psicológicos que os adultos. Sua importância decorre 
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também de que Kanner se propõe à descrição de um acometimento grave, de 
ordem afetiva e não necessariamente intelectual (REIS et al., 2010). 
Embora tenha se constituído com algumas similitudes aos processos de 
formação internacionais, as bases da psiquiatria infantojuvenil no Brasil serviram 
a outros projetos de saúde e de sociedade. Durante o período colonial, são 
escassas as referências a qualquer modalidade de atenção à infância e 
adolescência. As primeiras ações destinadas à saúde mental infantojuvenil 
surgem conjuntamente com as primeiras iniciativas neste campo para os adultos, 
justamente com a inauguração do primeiro hospital psiquiátrico do país, em 
1832, o Hospital D. Pedro II, no Rio de Janeiro. Neste período, e em decorrência 
de tal inauguração, foram realizados os primeiros estudos e teses brasileiros no 
campo da psiquiatria (COSTA, 1983; RIBEIRO, 2006). 
O que se percebe é que as ações à saúde das crianças e adolescentes, 
incluídos também os aspectos relativos à saúde mental, acompanharam o plano 
político, ideológico e social do país, após sua independência. Quanto mais a 
“cientifização” da disciplina médica tornava-se entidade reguladora dos modos 
de vida nas cidades, mais funcionava como aliada de uma burguesia urbana, 
que tinha entre seus projetos a negação do estilo de vida patriarcal de base rural, 
estabelecido durante o período do Brasil Colônia. Neste plano, o controle das 
situações de precariedade foi impulsionado pelo discurso do Movimento 
Higienista, que embora não tenha tido grande representatividade numérica entre 
a sociedade, e tampouco participação popular em suas formulações, foi 
responsável por estabelecer uma série de prerrogativas em relação aos modos 
saudáveis de vida e convivência nas cidades que se estabelecem ainda hoje 
(BOARINI; YAMAMOTO, 2004; REIS et al., 2010; RIBEIRO, 2006). 
Surgem neste cenário, de modo mais sistematizado, as primeiras práticas 
direcionadas às crianças, incluindo as ações ao cuidado materno-infantil. Os 
propósitos de higienização da sociedade encontravam nas crianças terreno fértil 
para seu desenvolvimento a partir da individualização das mazelas e 
responsabilidade sobre a saúde, produzindo-se uma série de indicações e 
programas a serem executados no interior das escolas e educandários 
(RIBEIRO, 2006). 
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Neste panorama, tal como apontam Boarini e Yamamoto (2004), algumas 
das práticas difundidas pelo Movimento Higienista atrelam-se às condutas 
cunhadas e defendidas pelo Movimento Eugenista, que consistia em defender o 
melhoramento da raça. Esse melhoramento referia-se ao controle dos 
matrimônios e à reprovação de práticas e condutasde âmbito pessoal e familiar. 
Cabe ressaltar que, embora os dois citados movimentos tenham tido 
importante repercussão na condução dos valores morais da sociedade burguesa 
no Brasil, ambos provinham, a princípio, da iniciativa privada e não contavam 
com recursos públicos nem se constituíam como política de Estado. Apesar 
disso, mesmo não figurando como política pública, assumiram expressiva 
relevância para os planos políticos de desenvolvimento e progresso nacional, 
cunhados especialmente em práticas de controle (BOARINI; YAMAMOTO, 
2004). 
Em meados da década de 1920, com a criação da Liga da Higiene Mental, 
entidade assumidamente preocupada com o desenvolvimento mental da 
população brasileira, em especial da infância, são desenvolvidas por estas ações 
de assistência, frequentemente de caráter repressivo, em que as instituições 
psiquiátricas de internação respondiam pelo papel de reguladoras do espaço 
social, dando possibilidades para o efetivo estabelecimento da disciplina 
psiquiátrica infantil, que, entre seus atributos, ocupava-se também de projetos 
de prevenção de patologias. Ao atuarem junto às crianças, e com forte 
veiculação entre a população, atingiam também a organização das famílias 
brasileiras, entre outras coisas, incutindo nestas a ideia de que somente a 
disciplina médica seria capaz de orientar efetiva e adequadamente quanto aos 
modos de educação das crianças para uma vida saudável, afastada de 
insanidade, desvios de conduta e, principalmente, da delinquência (BOARINI; 
YAMAMOTO, 2004; REIS et al., 2010). 
Os objetivos da psiquiatria infantil no território nacional residiam em sanar 
as problemáticas que caracterizavam o país enquanto nação atrasada como a 
delinquência e a mortalidade infantil, a partir da moralização da sociedade e do 
controle de suas condutas. Surgem com esta finalidade as primeiras clínicas de 
orientação infantil, principalmente nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e 
Belo Horizonte, que além de médicos psiquiatras e pediatras contavam também 
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com a chegada recente de psicólogos e psicanalistas, que atuavam também com 
foco nas problemáticas relacionadas aos processos de aprendizagem (BOARINI; 
YAMAMOTO, 2004; RIBEIRO, 2006). 
Por outro lado, as crianças e adolescentes severamente comprometidos 
em decorrência do sofrimento psíquico mantinham-se reclusas em alas 
conjuntas com os adultos nos hospitais psiquiátricos do país. Uma vez que as 
principais ações no campo da saúde mental infantojuvenil se detinham à 
prevenção de agravos, poucas ações estiveram descritas e direcionadas às 
populações em intenso sofrimento psíquico. À exceção de tal constatação tem-
se, em 1902, a criação do Pavilhão Infantil anexo ao Hospital da Praia Vermelha 
no Rio de Janeiro, e da Ala Infantil no Hospital Juqueri, em 1921, em São Paulo 
(RIBEIRO, 2006). 
A principal forma de institucionalização de crianças e adolescentes em 
sofrimento psíquico se deu para além das instituições psiquiátricas, e deste fato 
advém a escassez de registros sobre o tema na área da saúde. Grande parte 
das crianças adoecidas permanecia em instituições assistenciais mantidas por
entidades filantrópicas, que, embora não figurassem nas comunidades 
psiquiátricas, mantinham modos de exclusão e violência muito semelhantes. As 
intervenções para institucionalização de crianças e adolescentes no Brasil foram 
utilizadas em proporções arrebatadoras. Durante décadas, esta foi a principal 
resposta para a maioria das problemáticas sociais. Assim, além das crianças e 
adolescentes com algum tipo de sofrimento psíquico, as crianças e adolescentes 
pobres também tiveram como alternativa única para sua existência a 
institucionalização. O medo social em relação ao louco e ao pobre, que 
supostamente poderia se tornar delinquente, justificou ao longo dos anos série 
de violações à vida humana e à sua integridade (COUTO, 2001; COUTO; 
DUARTE; DELGADO, 2008; RIZZINI, 2005). 
Em 1927, a criação do primeiro Código Melo de Mattos conferiu respaldo 
tanto às ações em saúde mental já realizadas, como também à questão da 
delinquência. No início da década de 1940, com a emergência do Estado Novo 
e sob a rubrica de seus projetos de nação, foi criado o Departamento Nacional 
da Criança, que inaugurou serviços estatais, públicos para a atenção à saúde 
mental de crianças e adolescentes. Desde o fim da década de 1970, o panorama 
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de atenção se modificou pouco, à exceção da criação de algumas redes 
filantrópicas de atendimento à criança e ao adolescente com deficiência (REIS 
et al., 2010). 
Mesmo que as políticas de saúde não tivessem contemplado as crianças 
e adolescentes no campo da saúde mental, outros documentos e políticas 
sociais deste período tiveram importantes repercussões para a vida destes 
sujeitos. A exemplo, o Código de Menores de 1979 justificou internações na 
Fundação para o Bem-Estar do Menor (Febem) em quantidades abusivas 
cunhadas na ideia de uma suposta proteção aos riscos e perigos vividos pela 
população infantojuvenil. Estas internações, em sua maioria destinadas aos 
grupos populacionais mais pobres e em maior situação de vulnerabilidade, 
tiveram violentas repercussões para o desenvolvimento e a vida de crianças e 
adolescentes, incluídas nestas o número aumentado de agravos de saúde 
mental (BRASIL, 2014). 
A assistência à infância e adolescência no Brasil, tal como assinalado 
anteriormente, esteve marcada então por ações de proteção que culminaram em 
reclusão e institucionalização com evidentes situações de privação de direitos e 
liberdade. Instituições filantrópicas eram as principais responsáveis pelo cuidado 
que além de ações restritivas continham forte apelo jurídico (COUTO, 2001; 
HOFFMANN; SANTOS; MOTA, 2008). 
Parte do que se traduzia nestas ações derivava de uma concepção sobre 
estas fases da vida humana que recusavam o transtorno mental infantil enquanto 
uma condição de existência. Os eventos de sofrimento e adoecimento psíquicos 
eram atravessados por diagnósticos de deficiência mental, que, outrossim, 
necessitavam de reparação e demandavam, para seu cuidado, práticas de 
caráter pedagogizante e adaptativo, negligenciando, destarte, as dimensões 
subjetivas e até mesmo sociais da experiência de sofrimento. Grande parte das 
ações em psiquiatria infantojuvenil se direcionava, por conseguinte, ao 
diagnóstico e intervenção nos déficits de aprendizagem e ao distúrbio de conduta 
(COUTO, 2001; REIS et al., 2010). 
 
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Terapia Ocupacional E Saúde Mental 
 
As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam-se pelo uso de 
Atividades, elemento centralizador e orientador na construção complexa e 
contextualizada do processo terapêutico. A doença mental e o sofrimento 
psíquico são fatores que isolam o indivíduo, passando a viver seu próprio mundo, 
partilhando-os menos com os outros. 
Para Schneider apud Ribeiro, o uso das atividades também possibilita 
uma melhor observação do doente e a participação, é quando se estabelece o 
que hoje se denomina Terapia Ocupacional dentro do “modelo médico”, assim 
são prescritas atividades específicas para cada doença ou síndrome. Segundo 
Medeiros apud Ribeiro, o instrumento da profissão mostra-se condizente com 
as proposições da transformação atual, mediante uma lógica de (re) inclusão 
social. A terapia ocupacional, por ter como ferramenta principal a atividade, que 
reflete a cotidianidade do sujeito, pode transformar a sua ação junto à sua 
clientela em promotora de um protagonismo social que historicamente foi 
arrancado daqueles que foram marcados pela história da psiquiatria. 
Ribeiro afirma que no contexto da Terapia Ocupacional aplicada aos 
sujeitos com a experiência do sofrimento psíquico, a primeira grande alteração 
deu-se com a mudança do perfil de seu cliente hospitalizado, quando o Estado 
passou a subsidiar a iniciativa privada na assistência psiquiátrica, ampliando 
seus serviços para a classe trabalhadora, estruturando uma atenção marcada 
pela alta rotatividade, o que passa a inviabilizar a laborterapia clássica, fazendo 
surgir outras orientações que caracterizaram o panorama da terapia ocupacional 
psiquiátrica brasileira contemporânea, onde o terapeuta ocupacional leva a 
ampliação do cuidado e a possibilidade do resgate dos direitos da cidadania, 
promovendo o protagonismo social dos sujeitos. 
Por ser uma profissão que congrega conhecimentos de várias disciplinas, 
a terapia ocupacional pode “ser um elemento importante na construção de novos 
rumos para a atenção à saúde integral, globalizante e na perspectiva da 
totalidade, subjetividade e singularidade das pessoas”. Os terapeutas 
ocupacionais realizam, então, uma importante revisão de seus postulados e 
17 
 
 
passam a buscar em outras áreas de conhecimento, como a sociologia e a 
filosofia, os apoios teóricos para essa tarefa. 
 
 
 
 
 
 
Produzindo Saúde Ocupacional 
 
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As oficinas terapêuticas passam a ter um novo enfoque e grande 
importância no tratamento dos pacientes com sofrimento psíquico. Deixaram de 
ser apenas uma forma de ocupação e de passar o tempo e se tornaram uma 
alternativa na reinserção, inclusão social e familiar, independização e autonomia 
dos pacientes. Não apenas para os pacientes psiquiátricos, o trabalho e a arte 
têm a função de inserção no mundo e de rompimento do isolamento. Através 
dessa reformulação o papel da Terapia Ocupacional passou a ser relevante, 
devido ao conhecimento e às atividades desenvolvidas (AMARANTE, 2000). 
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Durante as oficinas de Terapia Ocupacional o profissional utiliza as mais 
variadas atividades, devidamente analisadas para cada indivíduo, 
desenvolvendo principalmente a relação de grupo, a convivência e a 
comunicação com o outro (COSTA, 2004). 
Quando se deseja, por meio da arte ou do trabalho, produzir territórios 
existenciais (inserir ou reinserir socialmente, torná-los cidadãos), deve-se fazer 
com que o trabalho e arte se reconecte com o primado da criação, ou com o 
desejo ou com o plano de produção da vida. Pois que o plano da produção 
desejante é também o plano de engendramento do mundo humano. Trata-se de 
reinventar a vida em seus mais cotidianos, pois é do cotidiano, principalmente, 
que se encontram privados os chamados doentes mentais (AMARANTE, 2000). 
Segundo a psiquiatra e terapeuta ocupacional Nise da Silveira, o ateliê de 
pintura a fez compreender que a principal função das atividades na terapêutica 
ocupacional seria criar oportunidades para que as imagens do inconsciente e 
seus concomitantes motores encontrassem formas de expressão, o que permite 
ao doente viver um processo que lhe possibilitará dar forma às desordens 
internas vividas, uma vez que são instrumentos que permitem ao mesmo tempo 
organizar a desordem interna e reconstruir a realidade, pois, na medida em que 
as “imagens do inconsciente” vão sendo objetivadas nos desenhos e pinturas, 
torna-se possível tratá-las (FRANCISCO, 2001). 
O Terapeuta Ocupacional é um agente facilitador e estimulador junto com
sua equipe multiprofissional de trabalho, em que ao usuário é permitido ensaiar, 
errar, aprender, trocar e experimentar o que por muito tempo não foi possível ou 
nunca aconteceu. O corpo do sujeito, aos poucos, deixa de ser um sinalizador 
de sintomas, torna-se algo a ser descoberto, algo que faz surgir bem-estar, que 
faz circular afetos, e que mostra a cada um novas possibilidades de ser e estar 
no mundo, que ajuda a ultrapassar a barreira da exclusão. Habilitar, trocar as 
identidades, produzir e trocar mercadorias e valores delineiam os cenários, 
contextos e relações que revelam a riqueza e a banalidade da vida cotidiana e 
se configuraram como eixos fundamentais para gerar o enriquecimento de 
relações de trocas e a potencialização de contratualidades (FRANCISCO, 2001). 
 
20 
 
 
A Terapia Ocupacional E As Novas Formas Do 
Cuidar Em Saúde Mental 
 
O caráter de marginalização e exclusão econômica e social típico da 
psiquiatria tradicional, imposto aos portadores de transtornos mentais ao longo 
da história, favoreceu o aparecimento de críticas e de reivindicações que 
passaram a questionar a legitimidade e a capacidade das instituições e 
respectivos profissionais para tratar e curar os doentes mentais. 
Os critérios técnico-científicos que davam a base de gestão da loucura 
estabeleceram uma relação social com o louco que o privava de assumir o 
contrato social que todo cidadão está submetido; assim, a relação instituída foi 
a relação de tutela, que impossibilitava o indivíduo de participar de uma 
sociedade como sujeito de direitos e deveres (MANGIA, 2001). 
Após a II Guerra Mundial, o modelo psiquiátrico clássico instituído por 
Pinel, que privilegiava o espaço asilar como local de intervenção na loucura foi 
revisto e, assim, surgiram propostas e modelos novos, principalmente na Europa 
e nos Estados Unidos. Esse processo, ao longo dos anos, foi sendo reconhecido 
e denominado Reforma Psiquiátrica, e posteriormente estendeu-se também para 
o Brasil. 
É preciso apontar que no Brasil tal movimento de questionamento e 
transformação ocorreu de forma mais tardia, paralelamente ao movimento de 
abertura política e redemocratização da sociedade brasileira. 
Até o final da década de 70, a assistência psiquiátrica brasileira era 
realizada por meio de internações hospitalares como única forma de tratamento 
para doentes mentais uma vez que a estrutura manicomial e a oferta de leitos 
consolidava esse modelo de assistência. 
Após sucessivas transformações, a psiquiatria insinuou-se em um novo 
cenário no Brasil: alguns setores da sociedade civil passaram a se mobilizar em 
favor da luta pelos direitos dos pacientes, abrindo espaço, nos meios 
universitários, intelectuais e nas próprias instituições psiquiátricas, para novas 
discussões sobre a loucura. Esse movimento denominou-se Reforma 
21 
 
 
Psiquiátrica Brasileira e se constitui, até os dias atuais, no movimento de garantia 
das mudanças assistenciais em saúde mental. 
A partir de seu surgimento, no campo assistencial, foram criados ao longo 
dos anos seguintes, em todo o país, novos serviços com propostas de 
tratamentos diferenciados dos tradicionais, levando em consideração a 
singularidade e as condições concretas das pessoas que buscam esses 
serviços. 
Nessas novas propostas, um dos grandes princípios a ser considerado 
é a questão da cidadania. Também a loucura passa a ser percebida em sua 
complexidade e não mais pela objetivação da psiquiatria. Ampliam-se os 
movimentos sociais, como as associações de familiares e usuários, além de 
cooperativas e eventos com o objetivo de possibilitar a construção de novas 
formas de convivência (RIBEIRO, 2005). 
No contexto da Terapia Ocupacional aplicada aos sujeitos com a 
experiência do sofrimento psíquico, a primeira grande alteração deu-se com a 
mudança do perfil de seu cliente hospitalizado, pois, por meio da Previdência 
Social, o Estado passou a subsidiar a iniciativa privada na assistência 
psiquiátrica, ampliando seus serviços para a classe trabalhadora e seus 
dependentes, com isso estrutura-se uma atenção marcada pela alta rotatividade, 
o que passa a inviabilizar a laborterapia clássica. 
Com os novos rumos que a psiquiatria foi tomando, inclusive o uso da 
nova denominação “saúde mental”, surgiram outras orientações que 
caracterizaram o panorama da terapia ocupacional psiquiátrica brasileira 
contemporânea. 
Entre elas podemos destacar a terapia ocupacional junguiana, dirigida por 
Nise da Silveira; a socioterapia, desenvolvida por Luis Cerqueira; a terapia 
ocupacional psicodinâmica, impulsionada por Maria José Benetton; e os projetos 
de transformação institucional, que ocorreram em várias partes do país. 
É importante pontuar que, dentro desse contexto histórico, toda a Saúde 
passava por um processo de reconstrução. Vislumbrava-se uma nova 
concepção sobre o processo saúde-doença, gerando modelos de atenção nos 
22 
 
 
quais as respostas aos problemas de saúde não fossem encontradas 
unicamente nos serviços médicos, e que o próprio conceito de Saúde não fosse 
definido como ausência de doença. 
Dessa forma, atualmente vem sendo estimulada a constituição de redes 
de atenção psicossocial que trabalhem rumo à implantação de uma rede 
integrada de base comunitária, com ofertas complexas de atenção médico-
social, sob a diretriz da reabilitação psicossocial. 
Esse movimento é marcado pela construção de uma nova postura ética 
em relação aos indivíduos acometidos por transtornos mentais. O sujeito não 
mais deve ser visto como portador de uma doença que precisa ser controlada, 
mas sim como pessoa que, devido às suas diferenças, necessita de locais e 
pessoas que o ajudem a garantir sua cidadania, a sua qualidade de vida, enfim, 
as suas trocas sociais e afetivas (RIBEIRO, 2005) 
Nesses novos locais de atenção, o profissional de terapia ocupacional 
deve levar, por meio de sua especificidade, a ampliação do cuidado e a 
possibilidade de resgate dos direitos de cidadania desses sujeitos. 
A terapia ocupacional, por ter como ferramenta principal a atividade, que 
reflete a cotidianidade do sujeito, pode transformar a sua ação junto à sua 
clientela em promotora de um protagonismo social que historicamente foi 
arrancado daqueles que foram marcados pela história da psiquiatria. Para tanto 
é preciso mudar o olhar sobre a atividade, não mais trabalhar com a atividade 
como uma abstração esvaziada de sentido concreto para o indivíduo, mas unir 
sua função interpretativa, que se dá através da dimensão inconsciente absorvida 
da psicologia, com seu conceito de historicidade, nutrido pela dimensão sócio-
política e cultural enquanto instrumento para a emancipação (BARROS et al., 
2002). 
Assim, o terapeuta ocupacional deixa de ocupar o lugar de balizador do 
processo da atenção e permite que esse lugar seja compartilhado com outros 
agentes do processo, onde a atividade passa a ser percebida, vivida e 
interpretada por cada um de seus atores (a pessoa, o terapeuta ocupacional, a 
família, a cultura e os valores buscados). 
23 
 
 
O empréstimo de seu poder contratual para a efetivação e enriquecimento 
das trocas sociais na população assistida por esse profissional deve acontecer 
não apenas dentro dos alicerces institucionais, é preciso conhecer o território 
onde essas pessoas vivem, desejam, sofrem... O lugar da Terapia Ocupacional, 
no novo modelo de atenção em saúde mental, comprometido com a ética, com 
o direito, com a cidadania, é onde as populações com carência desses conceitos 
e, por conseguinte, dessas práticas, estão. 
Os profissionais de terapia ocupacional que estão in- seridos na rede de 
atenção à saúde mental, e aqueles que serão incluídos neste sistema de 
atendimento, devem estar cientes de que as transformações nos modelos de 
atenção em saúde mental vão para além da implantação e ampliação das redes 
de serviço. Elas conduzem
a um outro saber que exige flexibilidade nas ações e 
nos papéis dos diversos profissionais, e pede uma mudança individual e coletiva 
de todos os envolvidos no processo da reabilitação psicossocial. 
Para garantirmos uma ação comprometida com o processo de reabilitação 
psicossocial e exercício da cidadania é preciso, primeiramente, ultrapassarmos 
o equívoco do conceito de complexidade como sinônimo de complicação. A 
complexidade deve ser considerada como desafio e incitamento para pensar, 
pois representa o incompleto do conhecimento, do conhecimento 
multidimensional (MORIN, 1998) 
A complexidade identificada na concepção da atenção psicossocial 
sugere a existência de contradições, indeterminações, probabilidades, 
dificuldades e ligações que contradizem o pensamento simplificador (PEREIRA, 
2003). 
Daí a complexidade ser um conceito fundamental nesse processo, pois 
força-nos a repensar constantemente em nossos papéis, pondo em cena e 
problematizando o lugar que o cuidado em saúde mental deve estar: um lugar 
de conflito, de confronto e contradição. 
A Terapia Ocupacional não deve ser apenas um instru- mento de 
intervenção para controle e eliminação do mal- estar psíquico, ela deve contribuir 
para que a vida coletiva e as existências individuais sejam mais interessantes, 
24 
 
 
abertas e criativa e nós, terapeutas ocupacionais, facilitadores desse processo 
de transformação, devemos ser incansáveis criadores de possibilidades. 
Trabalhar em serviços que possibilitam novas práticas incita uma nova 
compreensão, requer movimentos internos que conduzem para a 
intersubjetividade e provoca desejos de descoberta; dessa forma, possibilita ao 
profissional transformar a si mesmo enquanto transforma suas ações (PEREIRA, 
2003) 
A nova lógica de funcionamento da assistência no campo da saúde mental 
traz para seus profissionais novos desafios: é preciso um posicionamento 
político para o enfrentamento da exclusão não apenas dos usuários dos serviços, 
mas da própria saúde mental, que fica isolada e muitas vezes esquecida pelos 
órgãos que estabelecem as diretrizes das práticas de construção desses 
serviços. 
Portanto é preciso unir forças. Um bom exemplo disso é a compreensão 
da necessidade da presença de um programa de ensino dentro dos serviços de 
atenção psicossocial, pois este colabora tanto para a reciclagem dos 
profissionais da instituição quanto na formação dos novos profissionais que logo 
entrarão no campo de trabalho. 
Essas parcerias têm importante papel no processo de reformulação 
constante da assistência em saúde mental, garantindo o questionamento 
contínuo das práticas, a aproximação do campo teórico, a não cristalização de 
posturas e, através desse contato, propiciam o aparecimento de idéias 
inovadoras que podem resultar em experiências que agregam o campo teórico 
ao prático. 
Para Bezerra Júnior (2004) essa parceria enriquece tanto a universidade 
quanto a rede, resultando na melhora da formação dos alunos, estimulando os 
profissionais, beneficiando a assistência, garantindo, dessa forma, a 
permanência de discussão constante que resiste àquela conhecida acomodação 
inercial de qualquer instituição. 
É possível pensar, a partir dessa detecção, que o processo contínuo de 
Reforma Psiquiátrica, bem como o entendimento do que é e como exercer a 
25 
 
 
atenção psicossocial, poderia ser facilitado se tivéssemos, por parte das 
instituições universitárias, um enfoque comprometido com esses conceitos na 
formação dos novos profissionais. Outra conquista possível dentro dessa 
proposta seria uma maior produção de conhecimento, de experiência teórica, 
minimizando construções práticas descoladas do saber. 
É preciso compreender que as práticas reabilitadoras devem se encontrar 
no exercício dos direitos sociais e, para isso, devem poder sair do discurso 
técnico para fazerem sentido, para se aproximarem da realidade social, com 
seus conflitos, contradições, sensos e contrasensos, ou seja, a terapia 
ocupacional, para que possa constituir-se efetivamente como promotora da 
reabilitação psicossocial, deve também estar nas ruas, nos mercados, nas 
praças, na vida... inaugurando um cuidado que prioriza a liberdade de criação de 
todos os sujeitos envolvidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
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