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Módulo Controle da Incidência Tributária ALUNO: LEANDRO TAKEO ALVES WATANABE TURMA: 2022.02-CIT-BSB SEMINÁRIO III - SISTEMA, COMPETÊNCIA E PRINCÍPIOS Questões 1. Que é sistema? Há diferença entre sistema e ordenamento jurídico? Pode-se dizer que o direito positivo se caracteriza como um sistema? Segundo os ensinamentos do professor Paulo de Barros Carvalho1, “o sistema aparece como objeto formado de porções que se vinculam debaixo de um princípio unitário ou como a composição de partes orientadas por um vetor.” Nesse sentido, entende-se que o sistema é um conjunto de elementos, aglutinação de coisas que pertencem ao mesmo gênero. Partindo dessa premissa, ao nome de sistema jurídico pode-se relacionar o conjunto de normas jurídicas. Tais normas formam um sistema, na medida em que se relacionam, de vários modos, segundo um princípio unificador. Outro ponto que se destaca de um sistema jurídico é existência de hierarquia entre as normas, assim as normas inferiores encontram fundamentos de validade nas normas de caráter superior. Entretanto, não se pode confundir sistema com ordenamento jurídico, como bem preceitua Paulo Ayres Barreto2: A distinção [...] evidencia a existência de dois corpos de linguagem, cada qual com suas estruturas lógica próprias: o ordenamento jurídico como resultado da somatória de textos de direito positivo; sistema jurídico como decorrência do esforço de ordenação e depuração (em relação a contradições e ambiguidades) do próprio ordenamento. Ressalta-se que todo sistema jurídico, antes de ser jurídico é sistema. Importante os ensinamentos do professor Paulo de Barros, quando diz que sistema é o discurso da Ciência do Direito, todavia, o sistema também é o domínio finito, porém indeterminável do direito posto. As normas jurídicas formam um sistema na medida em que se relacionam de várias maneiras, com base em um princípio 1 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31 ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 140-141. 2 BARRETO, Paulo Ayres. Ordenamento e sistema jurídico. In: CARVALHO, Aurora Tomazini de. Constructivismo Lógico-semântico. Vol. I. São Paulo: Noeses, 2018, p. 254. Módulo Controle da Incidência Tributária unificador. Nesse sentido, embora o sistema da Ciência do Direito como o do direito positivo possua natureza bastante distintas, o sistema jurídico pode referir a ambos. Isso porque há sistema na autenticidade do direito positivo como também há sistema nos enunciados cognoscitivos que sobre ele reflete a ciência jurídica. Veja-se que embora a ordenação e purificação só ocorrem no sistema dos enunciados acima citados, não há como abdicar de conceder caráter sistêmico, mesmo que introdutório, ao direito positivo. 2. Que se entende por “sistema constitucional tributário”? Qual sua função no direito tributário? O sistema constitucional tributário é uma subclasse que reúne proposições normativas com dimensão global. Bem lembra a autora Betina Treiger Grupenmacher3, que o sistema harmônico e racional de normas constitucionais tributárias integra esse sistema em estudo. Segundo Paulo de Barros4, trata-se de um verdadeiro subsistema. Explica ele que esse subsistema abrangendo a classe mesma da Constituição, da qual se destaca por simples expediente lógico de função didática, dispõe sobre os poderes capitais do Estado, na área da tributação, juntamente de medidas que resguardam as garantias imprescindíveis à liberdade das pessoas, frente daqueles poderes. Nesse sentindo, pode-se dizer que o sistema constitucional tributário, é composto por normas e princípios, em sede de Constituição Federal, que dispõem sobre tributos, matéria tributária. Tal sistema tem a finalidade de dispor sobre as regras, normas, poderes, espécies, direitos e deveres, entre outros temas, relacionados à seara tributária. Confere competência para instituição de tributos, conceitua as espécies tributárias, regula imunidades, dentre outros. 3. Que é princípio, como é e para que serve? Há diferença entre regras e princípios? No caso de conflito, qual deve prevalecer? E no caso de conflito entre princípios, qual 3 CARVALHO, Paulo de Barros; SOUZA, Priscila de. 50 anos do Código Tributário Nacional. São Paulo: Noeses, 2016, p. 141 (apud, GRUPENMACHER, Betina Treiger). 4 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31 ed. São Paul: Noeses, 2021, p. 159. Módulo Controle da Incidência Tributária critério deve informar a solução? (Vide anexos I e II). Inicialmente deve-se destacar que norma é o gênero do qual os princípios, as regras e os valores são espécies. Os princípios são normas que ditam relevantes critérios objetivos, trazendo consigo valores importantes, e podem ser explícitos e implícitos. São exemplos de princípios explícitos o da legalidade, isonomia, capacidade contributiva, vedação da cobrança de tributos com efeito de confisco, irretroatividade, anterioridade, uniformidade tributária e não cumulatividade. Já implícitos podemos citar os princípios da segurança jurídica do contribuinte, da justiça tributária, da tipicidade e da vinculabilidade da tributação. Um dos pontos que diferencia princípios das regras é o caso de que princípios se aplicam a um sem-número de situações, por outro lado, as regras são específicas, sendo aplicadas a um caso jurídico determinado. Dessa forma, revela-se que princípios e regras não se confundem. Princípios poderão ser positivados ou consuetudinários, ao passo que as regras estão expressas no texto constitucional ou leis infraconstitucionais. Adiante, a diferença entre essas espécies normativas, movimentam-se, também, no espaço dos conflitos. Quando duas regras não compactuam entre si, uma terá sua validade perdida, de modo que a outra se torne aplicável. Já no que tange aos princípios, acontecerá é apenas maior valoração de um em relação ao outro, entretanto, nenhum dos dois perderá sua vigência. Sendo assim, nota-se que conflito entre regras é solucionado de maneira mais severa que quando ocorre o conflito entre princípios. Todavia, quando da ocorrência de conflito entre norma e princípio, entende-se que deverá prevalecer o princípio, pois trata-se de valor, muitas vezes servindo de base para elaboração da própria norma. Já em relação ao conflito entre princípios, entende-se que deve haver uma ponderação, um juízo de dimensão valorativa, analisando qual deve ser aplicado ao caso concreto. Lembra-se, conforme explanado anteriormente, não há exclusão de um princípio para supremacia absoluta do outro, mas uma harmonização entre eles, uma flexibilização de um dos princípios à margem do caso concreto. 4. Identificar, nas situações a seguir, se algum princípio foi desrespeitado e, em caso afirmativo, indicar qual: Módulo Controle da Incidência Tributária a) instituição e regulamentação de dever instrumental por meio de instrução normativa (vide anexo III); Entende-se que não há violação de princípio, inclusive funcionando a instrução normativa como norma complementar. Inclusive, entendimento firmado pelo STJ, por meio de julgamento do REsp 724.779/RJ, expressa que a instituição ou regulamentação de dever instrumental por meio de IN não desrespeita qualquer princípio, todavia, desde que essa IN gere deveres ou produza interpretações que viole a legislação tributária existente. Caso contrário, haverá afronta ao principio da legalidade e, até mesmo o da anterioridade, a depender do caso concreto. b) estipulação de graus de risco da atividade laborativa (para o SAT) por meio de decreto (vide anexo IV); No caso em tela também não ocorre desrespeito de princípios. Não extrapola os limites de competência regulamentar do Poder Executivo estipular o grau de risco de atividades laborativa de acordo com a preponderância de dessas atividades e de cada empresa. Tendo em vista inúmeras consultas que afirmavam ilegalidadeem decretos desse tipo, o STF em 2005, reconheceu a previsão de conceitos de graus de riscos leve, médio e grave, afastando a afronta ao princípio da legalidade. c) multas sancionatórias na percentagem de 75% (vide anexos V e VI); Há violação de princípios, pois, multa nesse percentual, apesar do Fisco tentar justificá-la como método de coibição à prática de ilícitos, desrespeita princípios como da vedação do confisco e da razoabilidade. Tal multa em proporção extrapolada se traveste de caráter confiscatório, ato este proibido pela CF/88 em seu art. 150, IV. Foge a razoabilidade uma punição em que a multa ultrapasse mais da metade do valor do tributo devido. STJ e STF já possuem entendimento quanto ao afastamento desse tipo de exação, como no RE 523.471, RE 712.285, entre outros. d) imposto de importação com alíquota de 150%; O caso não é de violação, eis que o imposto de importação é extrafiscal, tendo como principal objetivo mais auxiliar o equilíbrio da balança comercial do que propriamente a arrecadação. Dessa forma, tendo em vista que as alíquotas podem sofrer variação de acordo com a essencialidade do produto, bem como as altas alíquotas são reflexo da capacidade contributiva, entende-se que neste caso não há Módulo Controle da Incidência Tributária ofensa aos limites constitucionais de tributação. e) lei municipal ou distrital que institui responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa; Entende-se que em tal hipótese não há violação, eis porque, o art. 6º da LC 116/2003, permite Municípios e o Distrito Federal, mediante lei, atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação. f) elaboração, pelo CONFAZ, de lista de produtos semielaborados sujeitos à incidência do ICMS (vide anexo VII); Tal elaboração, da lista de produtos semielaborados sujeitos ao ICMS, é uma das competências do CONFAZ, órgão legítimo para essa atribuição, logo não se vislumbra violação de princípios. g) penhora, em execução fiscal, de automóvel de pequeno valor utilizado para transportar portador de necessidades especiais (vide anexo VIII). Cabe destacar que o rol de bens impenhoráveis não é taxativo e absoluto, devendo analisar, deveras, o caso concreto. No caso, trata-se de bem que é utilizado para a subsistência do executado, sendo assim, a penhora de tal bem, viola o princípio da dignidade da pessoa humana. h) quebra do sigilo bancário em favor da fiscalização. Apesar de restar expresso a tutela da intimidade das pessoas, contida no art. 5º, X, da CF/88, o STF por meio de julgamento do RE 601.314, ao analisar o art. 6º, da LC 105/2001, decidiu pela constitucionalidade da quebra de sigilo bancário, inclusive sem autorização judicial. Em que pese tal entendimento do Supremo de não violação de princípio, entendo de forma diversa, pois há princípio constitucional que protege a intimidade e a vida privada, conforme artigo da Carta Magna supracitado. i) a imposição da desistência das discussões judiciais e administrativas para adesão a parcelamento de débitos. Entende-se que há violação do princípio da inafastabilidade da jurisdição, conforme art. 5º, XXXV, da CF/88 quando diz que “a lei não excluirá da apreciação Módulo Controle da Incidência Tributária do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.” j) desconsideração de negócio jurídico realizado pelo contribuinte mediante planejamento tributário em razão de ausência de propósito negocial nos atos praticados pelo contribuinte. Trata-se de caso complexo, eis que há claro conflito de princípios. O princípio da livre iniciativa é base do sistema econômico brasileiro. Em geral, a pessoa é livre da intervenção do Estado para dirigir suas atividades da melhor maneira para si. Já o princípio do propósito negocial estabelece que qualquer negócio jurídico deve ter uma finalidade econômica, uma forma de função social do contrato. Caso a redução tributária seja a única finalidade, o planejamento será tido como ilegal Apesar da existência dos princípios acima, afronta-se o princípio da solidariedade social. Mesmo que, a princípio, a arrecadação de tributos tenha como função o custeio de serviços essenciais prestado pelo Estado à coletividade, é irracional, em que pese a livre iniciativa, a empresa optar pelo meio menos oneroso em si, visto que essa escolha pode acarretar prejuízo para a coletividade de modo que o Estado estará com menos recursos direcionados ao bem-estar social. Veja-se, dito isso, por um lado tem-se o princípio da livre iniciativa, da legalidade, por outro tem-se o princípio da capacidade contributiva e o da solidariedade. Assim, importante será analisar caso a caso. 5. Considere as informações a seguir para responder ao final. Regras de Futebol 2018/2019 CBF Regra 12 (...) Se o árbitro aplicar uma vantagem depois de uma falta punível com cartão amarelo ou expulsão, a advertência deve ser aplicada quando a bola estiver fora de jogo. (...) Num jogo de futebol, um jogador sofre falta, mas segue a jogada e marca o gol. Analise o caso sob a ótica das regras e princípios e responda: a) Há regra existente e aplicável à infração (falta)? Qual o papel desempenhado pela lei da vantagem (regra ou princípio)? Princípios podem excepcionar Módulo Controle da Incidência Tributária regras? A resposta é afirmativa, pois há regra existente e aplicável à infração (falta), qual dispõe, nos termos das Regras de Futebol da CBF, que haverá aplicação de advertência e sanções disciplinares quando ocorrer tal infração. O papel desempenhado pela lei da vantagem é o de princípio, pois visa integrar a aplicação da regra que dispõe sofre a infração, com a finalidade de coibir a prática de injustiça e punir aquela equipe que praticou o ato antidesportivo. Ou seja, a lei da vantagem é princípio, o qual ordena que algo seja realizado na medida do possível. Entende-se que princípios, em alguns casos, podem excepcionar regras. Como exemplo muito popular se tem a questão de um furto, este que como regra, deverá haver punição para quem aplicá-lo. Entretanto, dependendo do objeto e condições do caso, a punibilidade expressa pela regra deverá ser afastada em vista do princípio da insignificância. b) Qual a relação entre a lei da vantagem (futebol) e o brocardo nemo auditur turpitudinem allegans (ninguém pode se beneficiar da própria torpeza)? Em um jogo de futebol, de acordo com a lei da vantagem, a jogada só terá continuidade quando, na ocorrência de uma infração (falta), caso a bola continue a favor da equipe que sofre tal infração. Logo, caso a equipe que sofreu o ato tenha condições, por exemplo, de marcar um gol, o árbitro dará continuidade a jogada e só após o fim desta, aplicará a punição a outra equipe que cometeu a infração. Dessa forma, essa equipe que cometeu a falta, não poderá ser beneficiar da sua atitude antidesportiva, que tinha como objetivo impedir o gol do adversário. Isto é, assim como o brocardo citado no enunciado da questão, constitui princípio que visa complementar a aplicação da regra, com o objetivo de evitar a má-fé. c) O gol deve ser validado? Com base na regra ou no princípio? Justifique sua resposta. Caso aconteça gol da equipe que sofreu a infração, deverá ser validado, com base no princípio da vantagem. Pois, caso não fosse validado, estaria justamente beneficiando a equipe que cometeu a falta, inclusive, fortalecendo o cometimento de atos antidesportivos. Após a validação do gol com base no princípio da vantagem, aí sim o arbitro aplicará a regra, qual seja, a advertência pelo cometimento da infração (falta). Módulo Controle da Incidência Tributária 6. Que é, como é e para que serve a competência tributária? Quais as características da competência tributária? Qual a diferença entre competênciatributária e capacidade tributária? Analisar a facultatividade do seu exercício relativamente à Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/00), que veda a transferência voluntária de receitas a entes que tenham deixado de instituir algum tributo de sua competência. (vide anexo IX) Nas lições do professo Paulo de Barros5, competência tributária se trata de uma das parcelas entre as prerrogativas legiferantes de que são portadoras as pessoas políticas, concretizada na possibilidade de legislar a elaboração de normas jurídicas sobre tributos. Nesse sentido, entende-se que tal competência está relaciona a aptidão constitucional para atribuir tributos, poder de legislar conferido às pessoas políticas. Paulo de Barros Carvalho indica 3 importantes características da competência tributária, indelegabilidade, irrenunciabilidade e incaducabilidade. Todavia, importante ainda, acrescentar mais algumas, destacadas na obra de Antônio Roque Carraza, quais sejam, privatividade, inalterabilidade e faculdade do exercício. Ademais, não se pode confundir competência tributária com capacidade tributária. A primeira é um momento prévio à existência mesma do tributo, colocando- se no plano constitucional, ao passo que a capacidade tributária ativa, tem como oposto a capacidade tributária passiva, é assunto a ser analisado no ensejo do desempenho das competências, quando o legislador ele as pessoas componentes do vínculo abstrato, ou seja, a capacidade tributária diz respeito à possibilidade de integrar a relação jurídico-tributário, quer no polo ativo, quer no polo passivo. A LC 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu art. 11, § único, veda a transferência de recurso voluntários para os entes federativos que não realizarem a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação. Tal dispositivo coibi a existência da característica da facultatividade do exercício das competências tributárias, de modo que, o ente não realizando a criação e arrecadação dos tributos a qual está legitimado, não poderá receber receitas voluntárias. Entretanto, adota-se o entendimento do professor Paulo de Barros e entendo 5 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 31 ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 238. Módulo Controle da Incidência Tributária que a competência tributária é indelegável e não se sustentam as características supracitadas por Antônio Carraza, privatividade (senão a União), inalterabilidade e facultatividade de exercício. Dessa forma, tendo em vista entender-se que não há na competência tributária a característica basilar da facultatividade, não há incoerência na vedação disposta na LC 101/2000, pois aquele ente tinha competência para instituição e arrecadação do tributo, porém, não a exerceu. 7. Proposta de Reforma Tributária Nacional que substitua os impostos estaduais e municipais sobre bens e serviços, por um imposto único de competência da União por emenda constitucional viola os Princípios do Pacto Federativo e do Federalismo Fiscal? E se esta emenda prever expressamente o repasse obrigatório da integralidade ou parte do produto da arrecadação desse imposto único para os estados e municípios? Entende-se que haveria violação, pois os entes são independentes administrativamente, politicamente e financeiramente. Feriria cláusula pétrea da Constituição Federal. Nesse diapasão, essa proposta não poderia ser objeto de deliberação, mesmo que por Emenda Constitucional, pois trata-se de medida com nítida consequência a abolir norma federativa do Estado, o que é proibido pela própria CF/88, em seu art. 60, § 4º, I, que assim dispõe: Art. 60. [...] § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; [...] Mesmo que a União efetuasse o repasse aos estados e municípios, fazendo que estes não perdessem receita, tais entes continuariam perdendo autonomia, havendo assim, afronta ao Pacto Federativo e ao Federalismo Fiscal, tornando estados e municípios totalmente dependentes da União. 8. A Emenda Constitucional n. 39/02 acrescentou à Constituição o art. 149-A e parágrafo único, dispondo: “Art. 149-A. Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III. Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo de Módulo Controle da Incidência Tributária energia elétrica”. Com fundamento nesse dispositivo, a Prefeitura de Itumambé instituiu o seguinte tributo: Prefeitura Municipal de Itumambé, Decreto Municipal 3.708 de 10/10/03 (DOM 13/10/03) Art. 1º Fica instituída contribuição para o custeio do serviço municipal de energia elétrica que tem como fato gerador a prestação do serviço de energia elétrica pelo Município. Art. 2º A base de cálculo é o valor da fatura de consumo de energia elétrica. 1 §º A alíquota é de 0,5%. 2 §º Os contribuintes que morarem na região central pagarão 50% a mais do valor devido. Art. 3º Contribuinte é o consumidor de energia elétrica. Art. 4º Compete à Secretaria de Finanças fiscalizar o abatimento realizado pela concessionária. Art. 5º A importância devida a título dessa contribuição deve ser paga até o último dia do mês subsequente e recolhida pela concessionária de energia elétrica juntamente com a fatura mensal de consumo, ficando a concessionária responsável pelo abatimento do montante recolhido da fatura municipal. Parágrafo único. O não-pagamento da contribuição, ou o não repasse, implica multa de 150 UFIRs. Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, devendo produzir todos os seus efeitos a partir do dia 01/11/03. {...]. Pergunta-se: a) O sistema constitucional tributário brasileiro admite alterações na faixa de competência tributária das pessoas políticas? Há alguma vedação à ampliação da competência tributária municipal por meio de emenda constitucional? Em caso afirmativo, qual(is)? A alteração de competências tributárias é possível por meio de Emendas Constitucionais, visto que não se trata de matéria arrolada no art. 60, § 4º, da CF/88, todavia, ressalta-se, desde que não tende a abolir a forma federativa do Estado, conforme explanado na questão anterior. Isso porque as cláusulas pétreas não podem ser aniquiladas, extintas do texto constitucional. Nesse sentido, não havendo a afronta a forma federativa do Estado, não se vê óbice a alteração das competências tributárias por meio de Emendas Constitucionais. Por outro lado, entende-se que há proibição a tal alteração por via de lei complementar, tendo em vista a hierarquia das normas, de fato que uma lei complementar não pode suprimir parte do texto constitucional. Em relação a vedação no que se refere aos municípios, entende-se que há vedação a ampliação de competência tributária municipal. Aires Barreto fundamenta muito bem a respeito do tema: “(...) dentro do espectro constitucional que preside o nosso sistema tributário, conclui-se que a Emenda nº 39/2002, por ter afrontado cláusulas pétreas, está insanavelmente viciada por Módulo Controle da Incidência Tributária inconstitucionalidade: primeiro porque implica a abolição dos limites do poder de reforma; derruba as balizas dessa diretriz para atribuir ao Município tributo cuja espécie a Constituição reservou à União (salvo a de sistemas de previdência); segundo, porque a emenda aniquila o direito individual de os contribuintes não serem tributados, à luz da imodificável discriminação de rendas, plasmada na Constituição.”6 Nessa linha, nos moldes do inciso IV, § 4º, da CF/88, não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais. Entre esses direitos, entende-se que há o do contribuintenão ser tributado além dos limites constitucionalmente incumbidos. Assim, não pode o constituinte derivado, lançar novas hipóteses de tributação, aquém das previstas no texto originário. E nesse sentido, conclui-se que a EC que tem como objetivo a ampliação da competência tributária municipal é dotada de inconstitucionalidade, pois não assegura a preservação de cláusula pétrea. b) Os Municípios podem, na criação de tal contribuição, com fundamento no art. 149- A da CF, utilizar uma das materialidades que lhes foram atribuídas constitucionalmente para a instituição de impostos? E das materialidades atribuídas aos Estados, Distrito Federal e União por ocasião da repartição constitucional das competências para instituição de impostos? Há vedação constitucional quanto à materialidade eleita: “consumir energia”? Justifique (vide anexo X). De acordo a CF/88 somente a União poderá instituir imposto extraordinário sobre hipóteses compreendidas ou não em sua competência tributária, conforme dispõe o art. 154, II, da Carta Maior. Nesse raciocínio, os municípios não podem usar das materialidades dispostas para a instituição de impostos, ainda, não poderão apossar o núcleo de competência prevista para os outros entes federativos, pois, caso contrário, poderá rasgar o sistema de competências tributárias preconizado pela CF/88. Repita-se, somente a União poderá ingressar no âmbito de competência dos estados e munícipios, haja visto sua competência privativa e, assim, sendo vedado aos municípios usufruírem das competências outorgadas a outros entes. No caso em tela, referente a energia elétrica, é proibido a criação de qualquer outro imposto, além do ICMS, que incida sobre as operações relativas a tal energia, com base no art. 155, § 3º, CF/88. 6 BARRETO, Aires F. Curso de Direito Tributário Municipal. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 518. Módulo Controle da Incidência Tributária Ademais, apesar da legislação apresentada na questão possuir tom de imposto, para que de fato fosse, necessário seria que a receita não a vinculasse à prestação que origina, o que não é o caso em discussão. Nessa norma fictícia apresentada pelo enunciado da questão, a materialidade eleita não retrata o art. 149-A da CF/88, motivo pelo qual entende-se que essa norma fictícia se torne inconstitucional. Todavia, em posicionamento contrário, o STF, no precedente firmado no julgamento do RE 573.675, decidiu que a contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública, consoante o disposto no artigo 149-A da CF/88, é constitucional. c) Quais princípios tributários não foram observados pela Prefeitura de Itumambé ao instituir esse tributo? A Prefeitura pode escolher quais princípios tributários quer aplicar e afastar os outros? A Prefeitura de Itumambé, ao criar tal norma, deixou de observar princípios basilares da seara tributária. Violou o princípio da legalidade, tendo em vista a instituição desse tributo por meio de decreto, em detrimento de lei, indo de frente ao inciso I, do art. 150, da CF/88. Ainda, conforme explanado na questão do item anterior, se tratando de prestação de energia elétrica, não é suscetível de tributação como contribuição, pois entende-se que não se encaixa na hipótese do art. 149-A, inclusive, ferindo também o pacto federativo, de modo que, forte no art. 149, da CF/88 “compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas.” Outro princípio violado é o da anterioridade, a iniciar a cobrança do tributo no mesmo exercício de sua instituição, deixando de observar o prazo de 90 dias, conforme determinam as alíneas “b” e “c”, do art. 150, III, da CF/88. Por fim, desrespeita o princípio da isonomia, pois, claramente o § 2º, do art. 2º, dessa norma fictícia, dispõe critério inapto que permite a diferença de alíquota entre os contribuintes, afrontando o art. 150, II, da CF/88. Por fim, conclui-se que a escolha dos princípios não está à livre escolha da Prefeitura, haja visto que se encontram embasamentos na Carta Maior. d) A alteração do prazo de pagamento deve respeitar o princípio da anterioridade? Em qual o critério da Regra-Matriz de Incidência figura o prazo para pagamento do tributo? (Vide anexo XI). Módulo Controle da Incidência Tributária O princípio da anterioridade não abrange a alteração do prazo para pagamento, sendo aplicado apenas quando da instituição e majoração de tributos, conforme dispõe o art. 150, III, alíneas “b” e “c”, da CF/88. Nesse sentido, o STJ por meio do REsp 870.601/SP deu procedência ao pedido de legalidade quanto a Portaria nº 266/88 do Ministério da Fazenda, fundamento a alteração do prazo de recolhimento de IPI, pelo art. 66, da Lei 7.450/85, no entendimento de que a fixação de prazo para recolhimento de tributo não foi submetida pela CF/88 ao princípio da reserva legal. No que tange ao critério material da RMIT quanto ao prazo para pagamento do tributo, entende-se que figura no critério temporal, tendo em vista que este determina o momento da ocorrência do fato gerador e, certo o momento temporal em que se deu o fato gerador, consequentemente terá o prazo para cumprimento da obrigação tributária. 9. Como a conjugação das noções de sistema, competência e princípios com a ideia de hierarquia normativa pode significar limitações ao poder de tributar? Qual o papel do intérprete nessa construção? A Constituição Federal dispõe sobre as limitações do poder de tributar no Título VI, Capítulo I, Seção II, do art. 150 ao 152. Tais limitações referem-se a obediência do sistema tributário às noções de sistema, competência e hierarquia que formam essas limitações. Essas noções constituem justamente as limitações quando restringem possibilidades de atuação do legislador. Noção de sistema, ao assentar dever de coerência no conjunto de normas; competência ao definir quem está autorizado a criação de normas e; os princípios, ao dispor parâmetros de juridicidade básicos. Nessas condições, o intérprete na atribuição de cooperar na construção dessas limitações, frente a ilegalidades e abuso de poder, encontrar guarida junto às noções acima explanadas, de modo a identificar eventuais disposições que afrontem a sistematização e aplicabilidade correta do direito.