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IBET – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS
Módulo IV: Controle da Incidência Tributária
Seminário III: Sistema, Competência e Princípios
Aluno: Gabriel de Sousa Lopes
1. Que é sistema? Há diferença entre sistema e ordenamento jurídico? Pode-se dizer que
o direito positivo se caracteriza como um sistema? Que se entende por “sistema constitucional
tributário”?
A língua portuguesa oferece diversas definições para a palavra "sistema". Por exemplo, pode
ser descrita como "a reunião de elementos concretos ou abstratos que se conectam de
maneira a constituir uma estrutura organizada", ou ainda como "qualquer conjunto formado
por elementos ou seções que interagem entre si". Pessoalmente, tenho uma preferência pela
segunda definição mencionada, que destaca um "conjunto composto por elementos ou
seções que se inter-relacionam".
Assim, podemos entender um sistema jurídico como um conjunto composto por elementos
jurídicos que se relacionam entre si.
Além disso, é importante ressaltar que existe uma distinção entre sistema e ordenamento
jurídico. O primeiro abrange todos os elementos jurídicos, incluindo a contribuição dos
cientistas jurídicos e a atividade dos juristas, enquanto o segundo (ordenamento) se
concentra exclusivamente no direito vigente, devidamente organizado e hierarquizado. Essa
distinção é esclarecida nos ensinamentos do Professor Paulo de Barros Carvalho em sua obra
"Direito Tributário, Linguagem e Método".
Portanto, não podemos afirmar que o direito positivo se caracteriza como um sistema, pois
está mais relacionado à ideia de um ordenamento jurídico hierarquizado.
Por fim, o termo "sistema constitucional tributário" se refere ao conjunto de normas de natureza
constitucional que tratam de assuntos relacionados à tributação e suas obrigações
correspondentes.
2. Que é princípio, como é e para que serve? Há diferença entre regras e princípios? No
caso de conflito, qual deve prevalecer? E no caso de conflito entre princípios, qual critério
deve informar a solução? (Vide anexos I e II):
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O conceito de princípio pode ser descrito como uma norma jurídica que possui uma posição
hierarquicamente relevante, estabelecendo valores a serem seguidos por outras normas e,
em alguns casos, atuando como uma regra concreta a ser diretamente observada. Portanto,
a função principal dos princípios é servir como um guia normativo ou como um limite objetivo
na avaliação de outras normas ou ações específicas.
Desse modo, é minha compreensão que um princípio pode ser considerado uma regra
quando assume a forma de um limite objetivo, uma vez que direciona uma conduta
específica a ser seguida. No entanto, quando atua como um guia normativo, o princípio não
se configura como uma regra propriamente dita.
Na minha perspectiva, quando ocorre um conflito entre regras e princípios, deve-se dar
preferência aos princípios, visto que qualquer regra deve ser elaborada em conformidade
com os princípios preexistentes.
Por outro lado, no caso de conflito entre princípios, a análise para determinar qual deles deve
prevalecer é situacional, pois em cada caso específico podem existir circunstâncias
determinantes que justifiquem a flexibilização ou a primazia de determinados princípios em
questão.
3. Identificar, nas situações a seguir, se algum princípio foi desrespeitado e, em caso
afirmativo, indicar qual e em qual modalidade opera (valor e/ou limite objetivo). Justificar:
a) instituição e regulamentação de dever instrumental por meio de instrução normativa (vide
anexo III)
Em minha análise, é possível identificar um potencial violação ao princípio da legalidade, uma vez que
a imposição de qualquer obrigação tributária, inclusive as de natureza acessória, deve ser estabelecida
através de um ato normativo legal, destacando a importância do processo legislativo (conforme
estipulado nos Artigos 5º, II, 150, I da Constituição Federal e 97, I do Código Tributário Nacional). Além
disso, percebo que, neste contexto, o princípio da legalidade está agindo como um limite objetivo.
b) estipulação de graus de risco da atividade laborativa (para o SAT) por meio de decreto
(vide anexo IV);
Nessa situação, minha perspectiva é que não se configura uma infração a quaisquer
princípios. Isso se deve ao fato de que a definição dos níveis de risco associados à atividade
de trabalho (para fins do Seguro Acidente de Trabalho - SAT) pode ser considerada como
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uma simples medida regulamentar, para a qual não é necessária a utilização do processo
legislativo.
c) multas sancionatórias na percentagem de 75% (vide anexos V e VI);
Na minha análise, considero que multas estabelecidas em 75% representam um excesso e
contradizem o princípio de proibição de confisco. Nesse contexto, o princípio desempenha
um papel como um valor, pois fornece uma diretriz a ser considerada nas situações
específicas.
d) imposto de importação com alíquota de 150%;
Apesar da natureza extrafiscal dessa alíquota, minha visão é que ela se revela excessiva e
contraproducente ao princípio de evitar o confisco. Nesse contexto, o princípio assume um
papel como um referencial, uma vez que oferece uma orientação a ser considerada em
situações específicas.
e) lei municipal ou distrital que institui responsabilidade pelo crédito tributário a terceira
pessoa;
Dado que estamos lidando com uma lei no sentido técnico (promulgada por meio do
procedimento legislativo) e que a Lei complementar que aborda as regras gerais permite essa
imposição (como evidenciado no artigo 6º da LC nº 116/2003), minha perspectiva é que não
ocorre qualquer violação de princípios.
f) elaboração, pelo CONFAZ, de lista de produtos semielaborados sujeitos à incidência do
ICMS (vide anexo VII);
Da mesma forma que exposto no ponto anterior, minha interpretação é que não se configura
qualquer infração a princípios. Isso se deve ao fato de que a elaboração, pelo CONFAZ, de
uma lista de produtos semielaborados sujeitos à incidência do ICMS é considerada como uma
simples medida regulamentar, para a qual não é necessária a utilização do processo
legislativo.
g) penhora, em execução fiscal, de automóvel de pequeno valor utilizado para transportar
portador de necessidades especiais (vide anexo VIII).
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Em minha avaliação, vejo que há uma contrariedade aos princípios que dizem respeito à
dignidade da pessoa humana, à minimização da carga financeira e à utilidade para o
credor. É importante destacar que esses princípios desempenham um papel no contexto de
valores.
h) quebra do sigilo bancário em favor da fiscalização.
Neste caso, nota-se um claro conflito de princípios, quais sejam, (1) Supremacia do interesse
público e (2) Sigilo Bancário, mas, a meu ver, o princípio do sigilo bancário (limite objetivo) foi
mitigado indevidamente neste caso.
i) a imposição da desistência das discussões judiciais e administrativas para adesão a
parcelamento de débitos.
Nessa situação, minha interpretação é que ocorre uma transgressão aos princípios referentes
ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa, todos eles de natureza
valorativa. Além disso, essa ação também prejudica o direito de petição, limitando o acesso
à busca pela jurisdição.
j) desconsideração de negócio jurídico realizado pelo contribuinte mediante planejamento
tributário em razão de ausência de propósito negocial nos atos praticados pelo contribuinte
Entendo que há clara violação ao princípio da legalidade, pois independente das razões que
levaram o contribuinte a executar determinado planejamento tributário, se este tiver sido feito
em atenção às legislações vigentes e sem configurar fraude ou simulação, não há que se
falar em desconsideração de negócio jurídico realizado4. Que é, como é e para que serve a competência tributária? Quais as características da
competência tributária? Qual a diferença entre competência tributária e capacidade
tributária? Analisar a facultatividade do seu exercício relativamente à Lei de Responsabilidade
Fiscal (LC n. 101/00), que veda a transferência voluntária de receitas a entes que tenham
deixado de instituir algum tributo de sua competência. (vide anexo IX)
Conforme as palavras do Professor Paulo de Barros Carvalho, conforme registrado em sua
obra "Curso de Direito Tributário" na 30ª edição, página 143, podemos conceituar a
competência tributária como "uma das faculdades entre as prerrogativas legislativas detidas
pelas entidades políticas, manifestada na capacidade de legislar para a criação de normas
legais relacionadas a tributos."
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Seguindo as premissas desse mesmo autor, é possível definir a competência tributária com as
seguintes características: indelegabilidade, irrenunciabilidade e inexauribilidade. Outros
estudiosos também destacam a exclusividade e a discricionariedade como atributos da
competência tributária.
É importante ressaltar que a competência tributária e a capacidade tributária se diferenciam
no sentido de que a competência é exercida por meio do poder de legislar e de estabelecer
regras tributárias específicas, enquanto a capacidade é manifestada na qualidade de "ser
sujeito ativo" e "cobrar" a obrigação tributária que foi previamente criada por quem detém a
competência tributária.
No que diz respeito à facultatividade do exercício da competência tributária em relação à
Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/00), que proíbe a transferência voluntária de recursos
para entidades que deixaram de instituir algum tributo de sua competência, entendo que
não ocorre uma violação à facultatividade. Isso se deve ao fato de que, embora o texto da
lei desencoraje a não utilização da competência, ela não a proíbe. Além disso, a lei veda
apenas as transferências voluntárias, enquanto as transferências obrigatórias continuam
sendo efetuadas.
5. Proposta de Reforma Tributária Nacional que substitua os impostos estaduais e
municipais sobre bens e serviços, por um imposto único de competência da União por
emenda constitucional viola os Princípios do Pacto Federativo e do Federalismo Fiscal? E se
esta emenda prever expressamente o repasse obrigatório da integralidade ou parte do
produto da arrecadação desse imposto único para os estados e municípios?
Minha interpretação é que em ambas as situações ocorre uma violação dos Princípios do
Pacto Federativo e do Federalismo Fiscal. Isso ocorre porque a criação de um único imposto
sob a competência exclusiva da União, com uma única metodologia de cálculo e forma de
recolhimento, restringiria a capacidade dos Estados e Municípios de exercer plenamente sua
autonomia.
Por exemplo, em tal cenário, não seria viável a concessão de incentivos fiscais aos
contribuintes de uma determinada região, com o objetivo de promover atividades e
transações específicas nesse local. Isso por si só demonstra uma limitação na autonomia dos
entes estaduais e municipais.
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É importante salientar que, mesmo que houvesse uma distribuição total da arrecadação
desse imposto único para os Estados e Municípios, eles não teriam a liberdade necessária para
estimular atividades e transações específicas, devido à uniformidade das regras tributárias
impostas pela União.
6. A Emenda Constitucional n. 39/02 acrescentou à Constituição o art. 149-A e parágrafo
único, dispondo:
“Art. 149-A. Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das
respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art.
150, I e III.
Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura
de consumo de energia elétrica”.
Com fundamento nesse dispositivo, a Prefeitura de Itumambé instituiu o seguinte tributo:
Prefeitura Municipal de Itumambé, Decreto Municipal 3.708 de 10/10/03 (DOM 13/10/03)
Art. 1º Fica instituída contribuição para o custeio do serviço municipal de energia elétrica que
tem como fato gerador a prestação do serviço de energia elétrica pelo Município.
Art. 2º A base de cálculo é o valor da fatura de consumo de energia elétrica.
§ 1º A alíquota é de 0,5%.
§ 2º Os contribuintes que morarem na região central pagarão 50% a mais do valor devido.
Art. 3º Contribuinte é o consumidor de energia elétrica.
Art. 4º Compete à Secretaria de Finanças fiscalizar o abatimento realizado pela
concessionária.
Art. 5º A importância devida a título dessa contribuição deve ser paga até o último dia do mês
subsequente e recolhida pela concessionária de energia elétrica juntamente com a fatura
mensal de consumo, ficando a concessionária responsável pelo abatimento do montante
recolhido da fatura municipal.
Parágrafo único. O não-pagamento da contribuição, ou o não repasse, implica multa de 150
UFIRs.
Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, devendo produzir todos os seus
efeitos a partir do dia 01/11/03.
{...].
Pergunta-se:
a) O sistema constitucional tributário brasileiro admite alterações na faixa de
competência tributária das pessoas políticas? Há alguma vedação à ampliação da
competência tributária municipal por meio de emenda constitucional? Em caso afirmativo,
qual(is)?
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O artigo 60, §4º, da Constituição Federal, que enumera as situações em que a deliberação
por Emenda Constitucional é proibida, não inclui restrições relativas a mudanças na
distribuição de competências tributárias entre as entidades políticas. Portanto, a princípio, as
modificações nessa área podem ser objeto de emendas constitucionais.
No entanto, minha visão é que tais alterações devem estar em conformidade com os
princípios tributários estabelecidos na própria Constituição, conforme estipulado nos artigos
150 e seguintes da Carta Magna.
b) Os Municípios podem, na criação de tal contribuição, com fundamento no art. 149-A
da CF, utilizar uma das materialidades que lhes foram atribuídas constitucionalmente para a
instituição de impostos? E das materialidades atribuídas aos Estados, Distrito Federal e União
por ocasião da repartição constitucional das competências para instituição de impostos? Há
vedação constitucional quanto à materialidade eleita: “consumir energia”? Justifique (vide
anexo X).
Conforme estabelecido no RE n. 642.938 AgRg/SP (Anexo X), a contribuição para financiar o
serviço de iluminação pública, de acordo com o artigo 149-A da Constituição Federal, é
considerada constitucional, uma vez que se trata de uma contribuição e não de um imposto.
Portanto, não há violação do artigo 155, §3º, da CF.
Além disso, é importante destacar que os municípios devem respeitar os limites constitucionais
das competências tributárias, evitando invadir as áreas de atuação atribuídas aos Estados,
ao Distrito Federal e à União, conforme delineado nos artigos 153 e seguintes da Constituição
Federal.
c) Quais princípios tributários não foram observados pela Prefeitura de Itumambé ao
instituir esse tributo? A Prefeitura pode escolher quais princípios tributários quer aplicar e
afastar os outros?
1 – Princípio da Legalidade, pois o tributo foi instituído por meio de decreto.
2 – Princípio da anterioridade anual e nonagesimal, haja vista que a legislação, publicada em
13/10/03, pretende dar vigência ao tributo no dia 01/11/03, ou seja, poucos dias após a
publicação.
3 – Pode se discutir se houve violação ao princípio da capacidade contributiva, tendo em
vista que o endereço pode não ser um critério assertivo para aferir a capacidade dos grupos
de contribuintes (Art. 2º, §2º, do referido Decreto)
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A prefeitura não pode escolherquais princípios tributários quer aplicar e afastar os outros, pois
a Constituição Federal não permite tal autonomia aos entes federativos.
d) A alteração do prazo de pagamento deve respeitar o princípio da anterioridade? Em
qual o critério da Regra-Matriz de Incidência figura o prazo para pagamento do tributo? (Vide
anexo XI).
A princípio, me parece que a alteração do prazo de pagamento não deve respeitar o
princípio da anterioridade, tendo em vista que a alteração da data de pagamento não
implica em alteração do momento da incidência tributária. Todavia, a alteração não pode
refletir um tempo mais curto para tal pagamento, pois neste caso haveria de se falar em
violação do princípio da não surpresa.
No que se refere à segunda pergunta da questão, o critério da Regra-Matriz de Incidência
mais próximo do “prazo de pagamento do tributo” é o critério temporal.