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Unidade Inicie a jornada! Habilidades da BNCC EM13LP06, EM13LP45, EM13LP46, EM13LP48, EM13LP52, EM13LGG103 Nesta unidade você irá estudar: o conceito de literatura, as funções da literatura, a periodização da Literatura brasileira e portuguesa, a natureza da linguagem literária, as figuras de linguagem e os blogs e vlogs literários. A linguagem literária 1 ��ÿƸŏǜŏģÿģĪ�ģĪ�ĪƫĜƣŏƸÿ�ƫĪ�Űżģŏǿ� Ĝżǀ�ĜżŰ�ÿƫ�łĪƣƣÿŰĪŲƸÿƫ�ģŏŃŏƸÿŏƫ᠇ 2 Literatura O conceito de literatura Os seres humanos, de modo geral, têm consciência da realidade que os cercam. Essa consciência pode movê-los tanto à contemplação como à criação. A criação é resultado do desejo do ser humano de expressar o belo, a partir de como ele percebe, sente e apreende o mundo. Essas experiências são transformadas e, por meio da criatividade, podem tornar-se manifestações artísticas. Ao processo de produzir beleza por meio da recriação da realidade dá-se o nome de “arte” e a sua existência está relacionada ao prazer estético. A arte é plural e pode usar diferentes linguagens. A dança, o canto, a música, o teatro, o cinema, as artes plásticas (pintura, escultura e arquitetura) e a literatura, por exemplo, são manifestações artísticas que utilizam diferentes formas de expressão. A pintura faz uso da luz, das cores e das formas; a dança utiliza movimentos corporais; a literatura utiliza a palavra e a cerca de variados recursos para obter efeitos especiais de significação. No caso específico da literatura, um texto se torna artístico à medida que o escritor busca formas mais incomuns de usar e combinar palavras ou confere ao texto vigor comunicativo e expressividade inesperados. A arte literária está presente em variadas culturas, mas o seu conceito e o modo de fazer literatura variam de uma cultura para a outra e de época para época. Ao analisar a imagem de abertura, evidencie como a atividade de escrita se modi� cou com as ferramentas digitais e a internet. Comente também que esse contexto tem transformado o processo de edição de obras impressas e digitais. R o m a n S a m b o rs k y i/ S h u tt e rs to ck MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 2 29/06/2021 18:10 3 Unidade 1 A palavra literatura deriva do termo latino littera, que significa “letra”. Por isso a relação dessa manifestação artísti- ca com a palavra escrita, usada para a expressão criativa e ficcional. No entanto, a palavra “literatura” pode ser usada em expressões comuns no meio acadêmico, que significam “produção, conjunto de obras escritas”. Por exemplo: quando se diz “literatura médica”, não se está referindo à natureza própria da literatura como expressão artística em que a palavra é usada criativamente, mas ao conjunto de obras relacionadas à área médica. A literatura pode ser, então, entendida como uma manifestação artística que recria a realidade por meio da palavra, motivada pelos fatos da vida que cercam o escritor. Veja a seguir a definição do crítico literário Afrânio Coutinho. A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada, através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiên- cia de realidade de onde proveio. [...] O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mais medidas pelos mesmos padrões das verdades ocorridas. [...] Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as ver- dades da mesma condição humana. COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 9-10. Funções da literatura Da mesma forma que a linguagem tem suas funções, a literatura também as tem. São cinco as suas funções. Cognitiva É o mecanismo pelo qual o leitor pode adquirir o conhecimento por meio de informações contidas no texto que lê. Essa é uma função muito presente em textos de natureza mais científica, mas, mesmo não sendo sua função primordial, o texto literário pode acrescentar informações ao leitor, quando faz literatura de natureza mais histórica ou biográfica, por exemplo. Estética A estética está relacionada às ideias de percepção e sensibilidade; por isso, essa é a função primeira da literatura, pois, como manifestação artística, expressa a percepção e a sensibilidade do literato por meio de recursos que potencia- lizam a palavra, sua matéria-prima. A função estética é percebida pelo leitor quando ele entra em contato com a força expressiva da linguagem e com a forma como ela é trabalhada pelo escritor. Lúdica Ludismo é característica de algo divertido, como um jogo ou uma brincadeira. A função lúdica está relacionada à capacidade de o autor envolver o leitor por meio da brincadeira com a linguagem, dos jogos de palavras, para favorecer o entretenimento e o relaxamento. Catártica Em uma obra literária, o artista pode abordar temas problemáticos ou questões existenciais importantes, acessan- do emoções que o impulsionam a se expressar. O contato do leitor com um livro ou uma peça de teatro pode levá-lo a viver experiências liberadoras que provocam a catarse: uma espécie de descarga emocional que gera certo alívio da tensão ou da ansiedade psicológica ou moral, mesmo que o leitor saiba que a realidade expressa no texto é ficção. Social A obra literária pode ser instrumento de conscientização e engajamento das pessoas para a transformação da so- ciedade. Os autores retratam a realidade que os cerca e produzem um texto que, além de descrevê-la, critica alguns de seus aspectos, podendo recorrer à ironia e ao humor. São temas comuns que podem ser utilizados para configurar essa função: gênero, racismo, pobreza, corrupção, política, entre outros. A natureza da linguagem literária As palavras podem representar apenas uma ideia objetiva, geralmente registrada no dicionário, ou ter seu signifi- cado ampliado e ganhar novas possibilidades de expressão. São dois os sentidos das palavras: • denotativo:�ƫŏŃŲŏǿ�ĜÿğĘż�ƣĪƫƸƣŏƸÿ᠒�ƫĪŲƸŏģż�ĜżŰǀŰ�ģż�ģŏĜŏżŲĀƣŏż᠒�Ơÿŧÿǜƣÿ�ǀƫÿģÿ�Ơÿƣÿ�ŏŲłżƣŰÿƣ᠒�ŧŏŲŃǀÿŃĪŰ�ĜżŰǀŰ᠇� �ŧŃǀŲƫ�ŃįŲĪƣżƫ�ƸĪǢƸǀÿŏƫ᠁�ĜżŰż�ÿƫ�ŲżƸőĜŏÿƫ᠁�ÿƫ�ƣĪƠżƣƸÿŃĪŲƫ᠁�żƫ�ƸĪǢƸżƫ�ĜŏĪŲƸőǿ�Ĝżƫ᠁�ÿƫ�ěŏżŃƣÿǿ�ÿƫ᠁�żƫ�ƣĪŧÿƸŽƣŏżƫ᠁�ÿƫ� receitas, as bulas, entre outros, empregam preponderantemente a denotação; • conotativo:�ƫŏŃŲŏǿ�ĜÿğĘż�ÿŰƠŧÿ᠒�ƫĪŲƸŏģżƫ�ĪǢƸƣÿƠżŧÿŰ�ż�ƫĪŲƸŏģż�ĜżŰǀŰ᠒�Ơÿŧÿǜƣÿ�ǀƫÿģÿ�ģĪ�Űżģż�ĜƣŏÿƸŏǜż᠒�ŧŏŲŃǀÿŃĪŰ� rica e expressiva. A conotação está presente, também, na linguagem coloquial, na publicidade e em ditos populares. MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 3 29/06/2021 18:10 4 Literatura Distinção entre poesia, poema e prosa Os textos literários, normalmente, manifestam-se por meio do poema e da prosa e essas duas estruturas formais podem expressar conteúdos poéticos (poesia) ou prosaicos (prosa). Leia o fragmento a seguir, primeiro silenciosamente e depois oralmente, para auxiliá-lo na compreensão desses conceitos. Canto I As armas e os Barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; E também as memórias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valorosas Se vão da lei da Morte libertando, Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Netuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se levanta. CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas. Disponívelem: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000178.pdf. Acesso em: 19 fev. 2021. O excerto pertence à obra Os lusíadas, de Luís de Camões, poeta do Classicismo português (século XVI). Apresentamos as três primeiras estrofes de um longo poema que exalta o povo português, ao contar a viagem de Vasco da Gama à Índia. O trecho lido quanto à sua apresentação formal constituiu um poema. Ele se organiza em versos e, por isso, tem um ritmo diferente do da fala, percebido pela quebra da sequência natural da frase em nome da sonoridade que caracteriza esse tipo de texto. Seus elementos são: • verso:�Ĝÿģÿ�ǀŰÿ�ģÿƫ�ŧŏŲŊÿƫ�ģż�ƠżĪŰÿ�ᠤŲÿ�żěƣÿ�ĜŏƸÿģÿ�ŊĀ�ᚄᡱᚄᙷᚂ�ǜĪƣƫżƫᠥ᠒ • estrofe: conjunto de versos (Os lusíadas�ī�ǀŰ�ŃƣÿŲģĪ�ƠżĪŰÿ�ĜżŰ�ᙷᡱᙷᙶᙸ�ĪƫƸƣżłĪƫ�ĜżŰ�ᚄ�ǜĪƣƫżƫ�ĪŰ�Ĝÿģÿ�ǀŰÿ�ģĪŧÿƫᠥ᠒ • rima:�ƣĪĜǀƣƫż�ƢǀĪ�ǀƸŏŧŏǭÿ�ÿ�ƫĪŰĪŧŊÿŲğÿ�ƫżŲżƣÿ�ģĪ�Ơÿŧÿǜƣÿƫ�Ųż�ǿ�Ųÿŧ�ģżƫ�ǜĪƣƫżƫ�ᠤƣŏŰÿ�ĪǢƸĪƣŲÿᠥ�żǀ�Ųż�ŏŲƸĪƣŏżƣ�ģżƫ�ǜĪƣᠵ sos (rima interna). (As estrofes apresentam rimas externas com o seguinte esquema: abababcc, ou seja, o primeiro verso rima com o terceiro e o quinto; o segundo rima com o quarto e o sexto; e o sétimo verso rima com o oitavo.); • métrica: número de sílabas poéticas que o verso apresenta. A divisão de sílabas poéticas segue critérios distintos da divisão de sílabas gramaticais. Por exemplo, vogais átonas podem ser reunidas numa única sílaba poética; a contagem considera até a última sílaba tônica, conforme pode ser visto nos exemplos a seguir. As/ ar/mas/ e os/ Ba/rões/ as/si/na/la/dos Que/ da O/ci/den/tal/ prai/a/ Lu/si/ta/na Por/ ma/res/ nun/ca/ de an/tes/ na/ve/ga/dos Pas/sa/ram/ ain/da a/lém/ da/ Ta/pro/ba/na, Comente rapidamente o contexto das Grandes Nave- gações para a compreensão do excerto apresentado e leia-o em voz alta para mar- car o tom de grandiosidade do texto épico. Para melhor compreensão dos alunos, relacione a situação com grandes � lmes baseados em epopeias. Lusitano: que nasceu em Portugal. Taprobana: atualmente Sri Lanka; antigo Ceilão. Alexandro: Alexandre Magno, rei da Macedônia, que conquistou a Grécia, o Egito e o Oriente Médio. Trajano: imperador romano. Netuno: deus do mar. Marte: deus da guerra. Musa antiga: o que inspira o poeta, imagem para representar a poesia. MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 4 29/06/2021 18:10 5 Unidade 1 As métricas mais comuns são redondilhas (menor, com cinco sílabas métricas; maior, com sete), decassílabos (dez sílabas métricas) e alexandrinos (doze sílabas métricas). Os versos de Os lusíadas são todos decassílabos, ou seja, possuem todos eles dez sílabas métricas. Agora, observe o excerto a seguir, de uma adaptação em prosa da obra Os lusíadas, que, como vimos, originalmente, foi escrita em versos. Leia-o silenciosamente e, depois, oralmente. Reflita sobre o que diferencia este texto do anterior. Por mares nunca dantes navegados A frota portuguesa singrava o Oceano Índico, entre a costa oriental da África e a Ilha de Madagascar. O vento brando inchava as velas e uma espuma branca cobria a superfície das águas cortadas pelas proas. Eram quatro naus. A São Gabriel, comandada por Vasco da Gama, que chefiava a esqua- dra; a São Rafael, sob o comando de Paulo da Gama, irmão de Vasco; a Bérrio, que tinha por capitão Nicolau Coelho; e a nau que transportava os alimentos, São Miguel, comandada por Gonçalo Nunes. Levavam cento e setenta homens, entre marujos, escrivães, religiosos e dez degreda- dos. Partiram da Praia do Restelo, em Lisboa, em 8 de julho de 1497, à procura do caminho marítimo para a Índia, o reino das especiarias, como cravo, canela e pimenta, então cobi- çados em toda a Europa. Em 22 de novembro, dobraram o Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África, fa- çanha só realizada por Bartolomeu Dias, dez anos antes. Mas agora já haviam ultrapassado o último ponto atingido por aquele navegante na costa oriental da África e continuavam a trajetória para o norte, por águas jamais singradas por naves europeias. CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas. Adaptação de Rubem Braga e Edson Braga. São Paulo: Scipione, 1997. p. 5. O texto lido, formalmente, é um exemplo de prosa, porque se estrutura por meio de parágrafos, compostos por períodos com o ritmo da lingua- gem falada. Nesse sentido, é uma expressão diferente do texto anterior. O que os aproxima é o fato de que ambos contam uma história. Quando o conteúdo de um texto expressa uma narrativa, dizemos que esse texto está escrito em prosa, porque esse termo está relacionado ao ato de contar. Por isso, podemos concluir que, quanto à forma, o primeiro texto é um poema, enquanto o segundo é um exemplo de prosa. Em relação ao conteúdo, ambos são exemplos de prosa, porque contam algo, expressando fatos de uma realidade. Agora atente ao texto seguinte. Leia-o silenciosamente e depois oralmente. O amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. CAMÕES, Luís Vaz de. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf. Acesso em: 28 abr. 2021. Depois da leitura do excerto do texto de Camões, você deve ter observado que, formalmente, é um poema, pelas características já conhecidas, como o fato de ser organizado em versos. Quanto ao seu conteúdo, ele não narra objetivamente um fato da realidade; ao contrário, revela a intenção de sensibilizar o leitor por meio de recursos específicos da linguagem, como a escolha das palavras e um arranjo especial para favorecer a sensibilização esperada. Por isso, a estrofe apresentada, por seu conteúdo, é uma expressão de poesia, formalmente apresentada por um poema. Muita gente con- funde os dois conceitos, mas não se esqueça de que não são sinônimos, já que o poema se refere aos aspectos externos e formais do texto, enquanto a poesia se relaciona com o conteúdo e a expressão da emoção. Quando a prosa expressa conteúdo poético e se distancia do objetivo de simplesmente contar um fato, temos uma prosa poética. Como afirma o professor Fernando Paixão: [...] No caso da prosa poética, fica evidente que sua característica principal está relacionada com as qualidades da prosa; por isso mesmo, apresenta uma tendência voltada para acolher textos maiores – narrativos ou não –, mesmo que procure fixar um olhar lírico sobre a realidade. As frases e parágrafos acabam por supor uma dinâmica extensiva para o texto e as imagens evocadas. Em geral, a prosa poética costuma recorrer a figuras típicas da poesia, como a aliteração, a metáfora, a elipse, a sonoridade das frases etc. Contudo, o emprego desses elementos subordina-se ao ritmo mais alongado do discurso, voltado para ser, ao final das contas, uma boa prosa. PAIXÃO, Fernando. Poema em prosa: problemática (in)de« nição. Disponível em: https://www.academia.org.br/abl/media/Revista%20Brasileira%2075%20-%20PROSA.pdf. Acesso em: 3 abr. 2021. Capa da adaptação da obra Os lusíadas de Luiz Vaz de Camões feita por Rubem Braga. R e p ro d u ç ã o /E d it o ra S c ip io n e MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 5 29/06/2021 18:10 6 Literatura Anotações Agora você poderá comprovar que a poesia não é exclusiva do poema. Leia o trecho a seguir, de uma crônica de Rubem Braga, que apresenta características de prosa poética: Lembro-me do dia em que fui perto de sua casa apanhar o retrato, que me prometera na véspera. Esperei-a junto a uma árvore; chovia uma chuva fina. Lembro-me que tinha uma saia escura e uma blusa de cor viva, talvez amarela; que estava sem meias. Os leves pelos de suas pernas lindas queimados pelo sol de todo o dia na praia estavam arrepiados de frio. Senti isso mais do que vi, e, entretanto, esta é a minha impressão mais forte de sua presença de 14 anos: as pernas nuas naquele dia de chuva, quando a grande amendoeira deixava cair na areia grossa pingos muito grandes. Falou muito perto de mim, e perguntei se tomara café; seu hálito cheirava a café. Riu, e disse que sim, com broas.Broas quentinhas, eu queria uma? Saiu correndo, deu a volta à casa, entrou pelos fundos, voltou depois (tinha dois ou três pingos de água na testa) com duas broas ainda quentes na mão. Tirou do seio a fotografia e me entregou. Dei uma volta pela praia e pelas pedras para ir para casa. Lembro-me do frio vento sul, e do mar limpo, da água transparente, em maré baixa. Duas ou três vezes tirei do bolso a fotografia, protegendo-a com as mãos para que não se molhasse, e olhei. Não estava, como neste sonho de agora, sentada em uma canoa, e não me lembro como estava, mas era na praia e havia uma canoa. “Com sincero afeto…” Comi uma broa devagar como uma espécie de unção. BRAGA, Rubem. Uma lembrança. In: MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. 21. ed. São Paulo: Cultrix, 1998. p. 545-547. A periodização da literatura brasileira e da literatura portuguesa Para facilitar o estudo da evolução histórica da literatura brasileira e da literatura portuguesa, organizam-se suas manifestações em períodos ou estilos de época. Os marcos históricos de início e fim de cada período são publicações significativas que sintetizam um conjunto de características que as difere das obras existentes até então. Em geral, a literatura acompanha outras expressões artísticas com as quais convive e compartilha características em comum. A literatura portuguesa, formalmente, surge durante a Idade Média, quando Portugal se constitui como país. A brasileira é estudada a partir do século XVI, com as primeiras produções sobre a terra “recém-descoberta”. Observe a li- nha do tempo a seguir para compreender a evolução da nossa literatura. Separamos os três primeiros períodos, porque eles não ocorreram no Brasil. Literatura portuguesa Trovadorismo Humanismo Classicismo Séculos XII a XV Século XV Século XVI Literatura brasileira Quinhentismo e Realismo, literatura de Barroco Arcadismo Romantismo Naturalismo e Simbolismo Pré-Modernismo Modernismo informação Parnasianismo 1500 1601 1768 1836 1881 1893 1902 1922 Carta, de “Prosopopeia”, Obras poéticas, Suspiros poéticos Memórias póstumas Missal e broquéis, Os sertões, Semana de Pero Vaz de Bento de Cláudio e saudades, de Brás Cubas, de Cruz e Sousa de Euclides Arte Moderna de Caminha Teixeira Manuel da Costa de Gonçalves de Machado de Assis da Cunha de Magalhães O mulato, de Aluísio Azevedo Era nacionalEra colonial Literatura portuguesa Trovadorismo Humanismo Classicismo Séculos XII a XV Século XV Século XVI Literatura brasileira Quinhentismo e Realismo, literatura de Barroco Arcadismo Romantismo Naturalismo e Simbolismo Pré-Modernismo Modernismo informação Parnasianismo 1500 1601 1768 1836 1881 1893 1902 1922 Carta, de “Prosopopeia”, Obras poéticas, Suspiros poéticos Memórias póstumas Missal e broquéis, Os sertões, Semana de Pero Vaz de Bento de Cláudio e saudades, de Brás Cubas, de Cruz e Sousa de Euclides Arte Moderna de Caminha Teixeira Manuel da Costa de Gonçalves de Machado de Assis da Cunha de Magalhães O mulato, de Aluísio Azevedo Era nacionalEra colonial S y d a P ro d u c ti o n s /S h u tt e rs to ck MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 6 29/06/2021 18:10 7 Unidade 1 Figuras de linguagem As figuras de linguagem são recursos para tornar os textos mais expressivos, a partir da extrapolação do alcance das palavras e das construções da língua. Essas figuras contribuem para que a comunicação ocorra de maneira alternativa e mais expressiva. Na literatura, haverá uso intenso das figuras de linguagem, que aparecem também na linguagem coloquial, na publicidade e em ditos populares. O termo “figuras de linguagem” tem sentido amplo e se refere a um conjunto de recursos linguísticos que alguns estudiosos dividem em quatro categorias: figuras de palavras (recursos que afetam o sentido da palavra), figuras de pensamento (referem-se ao sentido da palavra em contexto), figuras de construção (relacionadas a aspectos de sintaxe ou de concordância verbal e nominal: desvios de ordem, omissões ou excessos) e figuras de harmonia (centram-se na representação sonora). Leia, a seguir, trechos da canção “Faltando um pedaço”, de Djavan. O amor é um grande laço Um passo pr´uma armadilha Um lobo correndo em círculos Pra alimentar a matilha. [...] O amor é como um raio Galopando em desafio Abre fendas cobre vales Revolta as águas dos rios. FALTANDO um pedaço. Intérprete: Djavan. Compositor: Djavan. EMI-Odeon, 1982. Disponível em: https://www.letras.com/ djavan/45524/. Acesso em: 24 fev. 2021. Observe que, para conceituar o amor, o compositor não resgata o sentido dicionarizado do termo, porque não é a sua intenção tratar do tema com um sentido único para a palavra (sentido denotativo). Ele relaciona esse sentimento a um objeto, a uma ação, a um ato instintivo e, depois, a um fenômeno da natureza, porque quer uma expressão de sentido conotativo, múltiplo, criativo e figurado. O que será que o eu lírico quer expressar ao afirmar que “O amor é um grande laço”, “Um passo pr´uma armadilha”, “Um lobo correndo em círculos”? E mais, o que significa a afirmação “O amor é como um raio”? Troque ideias com os colegas sobre o que vocês compreenderam das expressões destacadas pelas aspas, antes de continuarmos. Note que, nas duas estrofes, o autor cria relações entre as palavras para esclarecer o conceito de amor. Ao analisar as estruturas frasais usadas por ele, você verá que, quando ele diz “O amor é um grande laço”, ele faz uso de uma metáfora, que é uma comparação implícita, indireta e subentendida. Sabemos que o amor não é, literalmente, um laço, mas acei- tamos que é um sentimento que pode possuir alguma característica desse artefato, como a função de amarrar, prender, entre outros sentidos. Ao dizer “O amor é como um raio”, opta-se por uma expressão explícita, chamada comparação, evidenciada pela palavra “como”. Além dessas duas figuras de linguagem, existem outras que também são usadas em diferentes situações e gêne- ros textuais. Leia o quadro a seguir para conhecer algumas delas. Evidencie a comparação implícita que há nas ex- pressões que conceituam o amor: o amor é um grande laço, um passo para uma armadilha, um lobo corren- do em círculos, é como um raio. Chame a atenção para a diferença de sentido na última expressão, que apre- senta a palavra “como”. MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 7 29/06/2021 18:10 8 Literatura Figura de linguagem Conceito Exemplo Aliteração Repetição de consoantes nas palavras. “Na messe, que enlourece, estremece a quermesse” (Um sonho, Eugênio de Castro) Observe a repetição dos fonemas /s/ e /m/. Anáfora Repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no princípio de frases ou versos consecutivos. Se você pensasse melhor, Se você escutasse mais, Tudo seria tranquilo, Tudo estaria em seu lugar. Antítese Uso de palavras de sentido oposto na mesma frase. Iniciou a pesquisa durante o dia e só a concluiu à noite. Antonomásia Substituição de um nome próprio pela característica que o distingue. O pai da aviação nasceu no Brasil. (referência a Santos Dumont) Assonância Repetição de vogais nas palavras. “Na messe, que enlourece, estremece a quermesse” (Um sonho, Eugênio de Castro) Observe a repetição do fonema /e/. Catacrese Uso de expressão sem considerar seu sentido original, por falta de outra. Ninguém embarcou na mentira contada por ele. Você pode cortar um dente de alho, por favor? Eufemismo Uso de termo que suaviza uma expressão. Vários alpinistas abotoaram o paletó na tentativa de escalar aquela montanha. (Morrer: descansar, dar o último suspiro, entregar a alma a Deus, esticar a canela, ir desta para melhor, subir no telhado.) Gradação Ideias expressas em uma escala ascendente ou descendente. Os escoteiros arrumaram seus equipamentos, repassaram as orientações e começaram a explorar o bosque. Hipérbato Inversão de termos na frase ou no verso.“Ouviram do Ipiranga às margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante...” (Hino Nacional Brasileiro) Hipérbole Expressão exagerada que transmite intensidade. O diretor da escola teve de ouvir um mar de reclamações dos pais. Ironia Trabalha com o sentido contrário, quando se diz algo querendo expressar outra ideia. Que bonito, você está quebrando os brinquedos porque quer! Metonímia Situações de substituição, de aproximação de sentido. Pode compreender relações de parte/todo, continente/conteúdo, causa/ efeito, autor/obra, marca/produto, entre outras. Beberei um Porto enquanto leio Eça de Queirós. Não uso gilete para me barbear. Onomatopeia Imitação da voz ou do som emitido pelos seres ou produzidos por objetos. À medida que subiam, escutava-se o croooc das pequenas pedras que se rompiam. Paradoxo Ideias aparentemente contraditórias. No campo aberto, fazia um frio que queimava mais que o fogo. Perífrase Substituição de um nome por uma expressão que identifica um ser, a partir de características de conhecimento público. A lagoa fica próxima à Cidade Maravilhosa. Personificação Atribui-se uma característica humana a um ser não humano. O vento ruge muito forte nesta região. Pleonasmo Repetição desnecessária. A série é baseada em fatos reais. Sinestesia Fusão de dois ou mais sentidos para criar uma sensação inédita. Ele tinha uma visão amarga da vida. Anotações MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 8 29/06/2021 18:10 9 Unidade 1 1. Identifique as afirmações com V de verdadeiras ou F de falsas. Em se- guida, reescreva as falsas para que se tornem verdadeiras. a) ( V ) A noção de belo pode ser representada por uma série de conceitos, de acordo com a noção de cultura de cada um. b) ( F ) A função catártica da literatura tem a ver com o conceito de belo. A função catártica da literatura tem a ver com a descarga emocional. c) ( V ) A função lúdica da literatura está relacionada ao deleite e à diversão. d) ( F�ᠥ�£żģĪᠵƫĪ�ÿǿ� ƣŰÿƣ�ƢǀĪ�Ƹǀģż�ÿƢǀŏŧż�ƢǀĪ�ƫĪ�ĪƫĜƣĪǜĪ�ī�ŧŏƸĪƣÿƸǀƣÿ᠇� A literatura é uma manifestação artística que recria a realidade por 2. ENEM Texto I Chão de esmeraldas Me sinto pisando Um chão de esmeraldas Quando levo meu coração À Mangueira Sob uma chuva de rosas Meu sangue jorra das veias E tinge um tapete Pra ela sambar É a realeza dos bambas Que quer se mostrar Soberba, garbosa Minha escola é um cata-vento a girar É verde, é rosa Oh, abre alas pra Mangueira passar BUARQUE, C.; CARVALHO, H. B. Chico Buarque de Mangueira. Marola Edições Musicais Ltda. BMG. 1997. Disponível em: www.chicobuarque.com.br. Acesso em: 30 abr. 2010. Texto II Quando a escola de samba entra na Marquês de Sapucaí, a plateia delira, o coração dos componentes bate mais forte e o que vale é a emoção. Mas, para que esse verdadeiro espetá- culo entre em cena, por trás da cortina de fumaça dos fogos de artifício, existe um verdadeiro batalhão de alegria: são costu- reiras, aderecistas, diretores de ala e de harmonia, pesquisa- dor de enredo e uma infinidade de profissionais que garantem que tudo esteja perfeito na hora do desfile. AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores. Revista de Carnaval 2010: Mangueira. Rio de Janeiro: Estação Primeira de Mangueira, 2010. meio da palavra, usada de modo criativo e artístico. Faça em sala Blog e vlog literários O blog é um espaço virtual que funciona como suporte para a divulgação de diferentes gêneros textuais. É literário quando objetiva expor exclu- sivamente textos literários e sobre literatura, como as resenhas. Na sua origem, o blog caracterizava-se por um caráter mais pessoal, já superado pela prática profissional, técnica e acadêmico-científica, por também abarcar áreas muito especializadas, reveladoras de notório saber. Ainda que os blogs privilegiem o texto escrito, os blogueiros usam recursos complementares, como imagens, áudios e vídeos. O vlog é uma versão de blog cujo conteúdo é gravado em vídeos. Os de natureza literária abordam temas relacionados à literatura e ao estímulo à leitura. Os vlogueiros produzem seus vídeos e os apresentam em plataformas específicas, em espaços individuais chamados canais. Além disso, contam com outros espaços de divulgação nas redes sociais. Já falamos sobre a diferença entre blog e vlog, mas uma tendência atual é usar a estrutura do blog para publicar somente fotos. Nesse caso, o espaço virtual passa a se chamar flog. Os vlogs se manifestam exclusivamente por meio de vídeos; os flogs, por fotos. No entanto, os blogs podem conciliar todas essas linguagens no mesmo espaço. O contrário não é possível. Faça em sala: 3 e 4 | Faça em casa: 7 a 12 Vlog literário Relatam-se fatos cotidianos relacionados à leitura e à literatura. Postagens frequentes com conteúdos gravados em vídeos curtos. Blog literário Publicação frequente de conteúdos com textos verbais e não verbais. Estrutura simples e pré- -formatada. Exige habilidade de escrita. MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 9 29/06/2021 18:10 10 Literatura Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a tradição e o compromis- so dos dirigentes e de todos os componentes com a escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Uma das diferenças que se estabelece entre os textos é que a) o artigo jornalístico cumpre a função de transmitir emoções e sensações, mais do que a letra de música. b) a letra de música privilegia a função social de comunicar a seu público a crítica em relação ao samba e aos sambistas. c) a linguagem poética, no Texto 1, valoriza imagens metafóricas e a própria escola, enquanto a linguagem, no Texto 2, cumpre a função de informar e envolver o leitor. d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da escola, o Texto 1 acende a rivalidade entre escolas de samba, enquanto o Texto 2 é neutro. e) o Texto 1 sugere a riqueza material da Mangueira, enquanto o Texto 2 destaca o trabalho na escola de samba. Resposta C. 3. Identifique as figuras de linguagem percebidas nas expressões popula- res a seguir. a) Quem vê cara, não vê coração. ________________________________ b) Ele é esperto feito uma raposa. _______________________________ c) Estava mais morto que vivo. __________________________________ d) Como escritor, ele é um ótimo cozinheiro. ______________________ e) Meu pai já não está entre nós. ________________________________ f) Já chorei um rio de lágrimas. _________________________________ 4. ENEM Blog é concebido como um espaço onde o blogueiro é livre para expressar e discutir o que quiser na atividade da sua es- crita, com a escolha de imagens e sons que compõem o todo do texto veiculado pela internet, por meio dos posts. Assim, essa ferramenta deixa de ter como única função a exposição de vida e/ou rotina de alguém – como em um diário pessoal –, função para qual serviu inicialmente e que o popularizou, permitindo também que seja um espaço para a discussão de ideias, trocas e divulgação de informações. A produção dos blogs requer uma relação de troca, que aca- ba unindo pessoas em torno de um ponto de interesse comum. A força dos blogs está em possibilitar que qualquer pessoa, sem nenhum conhecimento técnico, publique suas ideias e opiniões na webe que milhões de outras pessoas publiquem comentários sobre o que foi escrito, criando um grande debate aberto a todos. LOPES, B. O. A linguagem dos blogs e as redes sociais. Disponível em: www.fateczl.edu.br. Acesso em: 29 abr. 2013 (adaptado). De acordo com o texto, o blog ultrapassou sua função inicial e vem se destacando como a) estratégia para estimular relações de amizade. b) espaço para exposição de opiniões e circulação de ideias. c) gênero discursivo substituto dos tradicionais diários pessoais. d) ferramenta para aperfeiçoamento da comunicação virtual escrita. e) recurso para incentivar a ajuda mútua e a divulgação da rotina diária. Metonímia. Comparação. Antítese. Ironia. Eufemismo. Hipérbole. Resposta B. 1.ENEM Guardar Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro Do que um pássaro sem voos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar. MACHADO, G. In: MORICONI, I. (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. A memória é um importante recurso do patrimônio cultural de uma nação. Ela está presente nas lembranças do passado e no acervo cultu- ral de um povo. Ao tratar o fazer poético como uma das maneiras de se guardar o que se quer, o texto a) ressalta a importância dos estudos históricos para a construção da memória social de um povo. b) valoriza as lembranças individuais em detrimento das narrativas populares ou coletivas. c) reforça a capacidade da literatura em promover a subjetividade e os valores humanos. d) destaca a importância de reservar o texto literário àqueles que possuem maior repertório cultural. e) revela a superioridade da escrita poética como forma ideal de preservação da memória cultural. Resposta C. Faça em casa 3. Ao corrigir a questão, chame a atenção para os seguintes aspectos: a) “cara” e “coração” substituem “exterior” e “interior”, respectivamente; b) a palavra “feito” equivale a “como”; c) as palavras “morto” e “vivo” se opõem; d) a ironia está no fato de evidenciar que a pessoa é boa em outro aspecto que não o de sua atividade. No caso do exemplo, para expressar que a pessoa não é um bom escritor; e) “já não está entre nós” signi� ca que o pai morreu; f) “rio de lágrimas” é uma expressão de exagero para dizer que “chorou muito”. MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 10 29/06/2021 18:10 11 Unidade 1 FUVEST Leia o texto para as questões 2 a 4, a seguir. Os textos literários são obras de discurso, a que falta a ime- diata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função ir- realizante da imaginação que os constrói. E prendem-nos na teia de sua linguagem, a que devem o poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado [...]. No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sen- tindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou. Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de papel. O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem. Graciliano Ramos, Angústia. Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante. Graciliano Ramos, Memórias do cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia. Enlear: confundir. 2. O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza artística da lite- ratura, leva a considerar que a obra só assume função transformadora se a) estabelece um contraponto entre a fantasia e o mundo. b) utiliza a linguagem para informar sobre o mundo. c) ŏŲƫƸŏŃÿ�Ųż�ŧĪŏƸżƣ�ǀŰÿ�ÿƸŏƸǀģĪ�ƣĪǵŧĪǢŏǜÿ�ģŏÿŲƸĪ�ģż�ŰǀŲģż᠇ d) oferece ao leitor uma compensação anestesiante do mundo. e) conduz o leitor a ignorar o mundo real. Resposta C. 3. ®Ī�ż�ģŏƫĜǀƣƫż� ŧŏƸĪƣĀƣŏż� ᡆÿĜŧÿƣÿ�ż� ƣĪÿŧ�ÿż�ģĪƫŧŏŃÿƣᠶƫĪ�ģĪŧĪ᠁� ƸƣÿŲƫłŏŃǀƣÿŲģżᠶżᡇ᠁� ƠżģĪᠶƫĪ�ģŏǭĪƣ�ƢǀĪ�hǀőƫ�ģÿ�®ŏŧǜÿ᠁�ż�ŲÿƣƣÿģżƣᠵƠƣżƸÿŃżŲŏƫƸÿ�ģĪ�Angústia, já não ƫĪ�ĜżŰżǜĪ�ĜżŰ�ÿ�ŧĪŏƸǀƣÿ�ģĪ�ᡆŊŏƫƸŽƣŏÿƫ�łĀĜĪŏƫ᠁�ƫĪŰ�ÿŧŰÿƫ�ĜżŰƠŧŏĜÿģÿƫᡇ�ƠżƣƢǀĪ a) ƣĪšĪŏƸÿ᠁�ĜżŰż�šżƣŲÿŧŏƫƸÿ᠁�ÿ�ĪƫĜƣŏƸÿ�ģĪ�ǿ� ĜğĘż᠇ b) ƠƣĪłĪƣĪ�ÿŧŏĪŲÿƣᠶƫĪ�ĜżŰ�ŲÿƣƣÿƸŏǜÿƫ�īƠŏĜÿƫ᠇ c) é indiferente às histórias de fundo sentimental. d) está engajado na militância política. e) se afunda na negatividade própria do fracassado. Resposta E. 4. Para Graciliano Ramos, Angústia não faz concessão ao gosto do público na medida em que compõe uma atmosfera a) dramática, ao representar as tensões de seu tempo. b) grotesca, ao eliminar a expressão individual. c) satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso. d) ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e mundo. e) alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira. Resposta A. 5. ENEM Canção amiga Eu preparo uma canção, em que minha mãe se reconheça todas as mães se reconheçam e que fale como dois olhos. [...] Aprendi novas palavras E tornei outras mais belas. Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças. ANDRADE, C. D. Canção amiga. In: ANDRADE, C. D. Novos poemas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1948. (Fragmento) A linguagem do fragmento apresentado foi empregada pelo autor com o objetivo principal de a) transmitir informações, fazer referência a acontecimentos observados no mundo exterior. b) envolver, persuadir o interlocutor, nesse caso, o leitor, em um forte apelo à sua sensibilidade. c) ƣĪÿŧğÿƣ�żƫ�ƫĪŲƸŏŰĪŲƸżƫ�ģż�Īǀ�ŧőƣŏĜż᠁�ƫǀÿƫ�ƫĪŲƫÿğƛĪƫ᠁�ƣĪǵŧĪǢƛĪƫ�Ī� opiniões frente ao mundo real. d) destacar o processo de construção desse poema, ao falar sobre o papel da própria linguagem e do poeta. e) ŰÿŲƸĪƣ�Īǿ� ĜŏĪŲƸĪ�ż�ĜżŲƸÿƸż�ĜżŰǀŲŏĜÿƸŏǜż�ĪŲƸƣĪ�ż�ĪŰŏƫƫżƣ�ģÿ� mensagem, de um lado, e o receptor, de outro. Resposta D. 6. UFPE O olhar também precisa aprender a enxergar Há uma historinha adorável, contada por Eduardo Galeno, escritor uruguaio, que diz que um pai, morador lá do interior do país, levou seu filho até a beira do mar. O mesmo nunca tinha visto aquela massa de água infinita. Os dois pararam so- bre um morro. O menino, segurando a mão do pai, disse: “Pai, me ajuda a olhar”. Pode parecer uma história de fantasia, mas deve ser a exata verdade, representando a sensação de falta- rem não só palavras, mas também capacidade para entender o que é que estava se passando ali. Agora imagine o que se passa quando qualquer um de nós passa diante de uma obra de arte visual: como olhar para aquilo e construir seu sentido na nossa percepção? Só com auxílio mesmo. Não quer dizer que a gente não se emo- cione apenas por ser exposto a um clássico absoluto, um Picasso, um Niemeyer, um Caravaggio. Quer dizer apenas que a gente pode ver melhor se entende melhor a lógica da criação. (Luís Augusto Fischer. Folha de S.Paulo) Esse pequeno texto pode ser aplicado a nossas experiências diante da Arte. Em relação à Literatura, a arte feita com as palavras, cabe a se- guinte consideração: MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 11 29/06/2021 18:10 12 Literatura a) as criações literárias são eminentemente metafóricas; ou seja, a metáfora somente ocorre em textos literários. b) a Literatura prima por manter as palavras em seus sentidos básicos, denotativos, como se diz. c) as obras literárias têm um sentido explícito cuja autêntica percepção envolve sobretudo o conhecimento da língua. d) os romances, por exemplo, exercem, como função primeira, a capacidade de nos informar sobre os fatos históricos de nosso meio. e) toda produção literária são criações artísticas e somente podem ser percebidas em seu sentido estético e fantasioso. Resposta E. 7. ENEM R e p ro d u ç ã o /E n e m , 2 0 11 . O argumento presente na charge consiste em uma metáfora relativa à teoriaevolucionista e ao desenvolvimento tecnológico. Considerando o contexto apresentado, verifica-se que o impacto tecnológico pode oca- sionar: a) o surgimento de um homem dependente de um novo modelo tecnológico. b) a mudança do homem em razão dos novos inventos que destroem sua realidade. c) a problemática social de grande exclusão digital a partir da interferência da máquina. d) ÿ�ŏŲǜĪŲğĘż�ģĪ�ĪƢǀŏƠÿŰĪŲƸżƫ�ƢǀĪ�ģŏǿ� ĜǀŧƸÿŰ�ż�ƸƣÿěÿŧŊż�ģż�ŊżŰĪŰ᠁� em sua esfera social. e) o retrocesso do desenvolvimento do homem em face da criação de ferramentas como lança, máquina e computador. Resposta A. 8. FAMERP R e p ro d u ç ã o /F a m e rp , 2 0 1 8 . (Quino. Toda Mafalda, 2012. Adaptado.) O autor inseriu no balão do último quadrinho uma fala que exemplifica o conceito de metonímia (figura de linguagem baseada numa relação de proximidade). Essa fala é: a) Bem!... Vai ver que em vez de mente meu pai quis dizer cabeça. b) ®Ī�ī�ÿƫƫŏŰ᠁�Ơżƣ�ƢǀĪ�ǜżĜį�ǿ� Ĝÿ�łżƣÿ�ģż�ÿƣ᠁�ģĪ�ǜĪǭ�ĪŰ�ƢǀÿŲģż᠈ c) FŏŧŏƠĪ᠇᠇᠇�ßżĜį�ÿĜŊÿ᠁�ĪŲƸĘż᠁�ƢǀĪ�ż�ŰĪǀ�Ơÿŏ�ŰĪŲƸĪ᠈ d) Olhei pelo buraco do seu ouvido e não vi nada... e) Pra você, com esse topete que parece uma antena, é fácil! 9. ENEM R e p ro d u ç ã o /E n e m , 2 0 0 4 . Nessa tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas figuras de linguagem para a) condenar a prática de exercícios físicos. b) valorizar aspectos da vida moderna. c) desestimular o uso das bicicletas. d) caracterizar o diálogo entre gerações. e) criticar a falta de perspectiva do pai. Resposta E. 10. ENEM R e p ro d u ç ã o /E n e m , 2 0 1 4 . Os meios de comunicação podem contribuir para a resolução de pro- blemas sociais, entre os quais o da violência sexual infantil. Nesse sen- tido, a propaganda usa a metáfora do pesadelo para a) informar crianças vítimas de violência sexual sobre os perigos dessa prática, contribuindo para erradicá-la. b) denunciar ocorrências de abuso sexual contra meninas, com o objetivo de colocar criminosos na cadeia. c) dar a devida dimensão do que é abuso sexual para uma criança, enfatizando a importância da denúncia. d) destacar que a violência sexual infantil predomina durante a noite, o que requer maior cuidado dos responsáveis nesse período. e) chamar a atenção para o fato de o abuso infantil ocorrer durante o sono, sendo confundido por algumas crianças com um pesadelo. Resposta A. Resposta C. MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 12 29/06/2021 18:10 13 Unidade 1 11. UNICAMP Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante talvez seja desigualdade. E nem é uma boa palavra, incomoda. Começa com des. Des de desalento, des de desespero, des de desesperança. Des, definitivamente, não é um bom prefixo. Desigualdade. A palavra do ano, talvez da década, não im- porta em que dicionário. Doravante ouviremos falar muito nela. De-si-gual-da-de. Há quem não veja nem soletre, mas está escrita no destino de todos os busões da cidade, sentido centro/ subúrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade, no sinal fechado, fez seu primeiro rap, “tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome”, somente com esses subs- tantivos. Você ainda não conhece o Solano? Corra, dá tempo. Dá tempo para você entender que vivemos essa desigualdade. Pegue um busão da Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o vale-transporte na catraca e simbora – mais de 30 qui- lômetros. O patrão jardinesco vive 23 anos a mais, em média, do que um humaníssimo habitante da Cidade Tiradentes, por todas as razões sociais que a gente bem conhece. Evitei as estatísticas nessa crônica. Podia matar de deses- perança os leitores, os números rendem manchete, mas ca- recem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa, só há uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mire-se na desi- gualdade, talvez não haja mais jeito de achar que os pontos da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um país. (Adaptado de Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El País, 28/10/2019. Disponível em https://brasil. elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/1572287747_637859. html?fbclid=IwAR1VPA7qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO_ snMDUAw4yZpZ3zyA1ExQx_XB9Kq2qU. Acessado em 25/05/2020.) Flamejante: que chama a atenção (sentido figurado). Manchete: título, em letras grandes, que se dá a uma matéria de jornal ou revista. A crônica instiga o leitor a ficar atento à desigualdade na cidade de São Paulo. Assinale a alternativa que identifica corretamente os recursos expressivos (estilísticos e literários) de que se vale o autor. a) A desigualdade está escrita nas linhas de trens e ressoa nos versos de Solano Trindade: onomatopeia. b) No destino dos transportes coletivos no sentido centro/subúrbio é possível viver a desigualdade: eufemismo. c) A desigualdade se mostra na expectativa de vida dos moradores de bairros bem situados e periferias: alusão. d) Na cobertura da imprensa, números da desigualdade perdem para pontos da bolsa de valores: ambiguidade. Resposta A. 12. Unicamp Entre os versos de Gilberto Gil transcritos a seguir, podemos identificar uma relação paradoxal em: a) ᡆ®żǀ�ǜŏƣÿŰǀŲģż�ǜŏƣÿģż�᠓�ƠĪŧż�ŰǀŲģż�ģż�ƫĪƣƸĘż᠇ᡇ b) ᡆhżǀǜż�ÿ�ŧǀƸÿ�ƣĪƠĪƸŏģÿ�᠓�ģÿ�ǜŏģÿ�Ơƣÿ�ŲĘż�ŰżƣƣĪƣ᠇ᡇ c) ᡆ'Ī�ģŏÿ᠁�'ŏÿģżƣŏŰ᠁�᠓�ģĪ�ŲżŏƸĪ᠁�ĪƫƸƣĪŧÿ�ƫĪŰ�ǿ�Ű᠇ᡇ d) ᡆ¼żģÿ�ƫÿǀģÿģĪ�ī�ƠƣĪƫĪŲğÿ�᠓�ģÿ�ÿǀƫįŲĜŏÿ�ģĪ�ÿŧŃǀīŰ᠇ᡇ� Resposta C. ŊĪŃÿŰżƫ�ÿż�łŏŲÿŧ�ģÿ�ÃŲŏģÿģĪ�ᙷ᠇��ěƫĪƣǜĪ᠁�ĜżŰ�ÿƸĪŲğĘż᠁�ż�ĪƫƢǀĪŰÿ�ƢǀĪ�ƫŏŲƸĪƸŏǭÿ�żƫ�ƠƣŏŲĜŏƠÿŏƫ�ÿƫƠĪĜƸżƫ�ģżƫ�ĜżŲƸĪǁģżƫ�ƸƣÿěÿŧŊÿģżƫ᠇�/Ű�ƫĪŃǀŏģÿ᠁� responda às questões propostas. Junte os pontos Depois de analisar o esquema, responda: 1. Cite qual(is) da(s) função(ões) da literatura está(ão) estritamente rela- cionada(s) à expressão da sensibilidade e da percepção do autor. A função que está estritamente relacionada à expressão da sensibilidade do autor é a função estética. Entretanto, as funções lúdica e catártica também servem a esse propósito. 2. De que forma os blogs e vlogs�ģŏǜǀŧŃÿŰ�ÿ�ŧŏƸĪƣÿƸǀƣÿ�ÿƸǀÿŧŰĪŲƸĪ᠈ Os blogs e os vlogs divulgam a literatura, estimulando a leitura por meio de comentários, resenhas escritas e vídeos com a experiência de leitura dos vlogueiros. Literatura Manifestação: poesia, prosa, poema. Funções: cognitiva, estética, lúdica, catártica, social. Divulgação: blogs e vlogs literários. Conceito: manifestação artística que recria a realidade por meio da palavra. Natureza da linguagem: predominantemente conotativa. Algumas figuras de linguagem: metáfora, metonímia, comparação, aliteração, anáfora, antítese, assonância, eufemismo, entre outras. MAXI_EM22_1S_LIT_C1_CA.indd 13 29/06/2021 18:10 LIT1_U01
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