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UNIVESIDADE PAULISTA – UNIP BIGAMIA ART 235 CP SÃO PAULO 2022 UNIVESIDADE PAULISTA – UNIP LUCAS SANTOS FERREIRA – RA: D88GDE1 ERISBERTO SAMPAIO DA SILVA JUNIOR - RA: D481878-8 MRS. Dr. LUCIANO SANTORO SÃO PAULO 2022 SUMÁRIO Introdução ................................................................................................4 Tipo Penal ..................................................................................................5 Preceito primário e preceito secundário......................................................6 A bigamia na antiguidade e nos dias atuais ...............................................7 Bigamia x poligamia x poliandria ................................................................9 Decisões judiciais referentes a bigamia ....................................................10 Desfecho sobre o tema .............................................................................19 Bibliografia .................................................................................................20 INTRODUÇÃO Este trabalho busca o aprendizado e o desenvolvimento referente a um tema bastante ''esquecido'' no cenário moderno: a bigamia; esquecido no sentido literal da palavra, por não ser muito habitual pronunciar ou ouvir sendo exposta habitualmente, mais que é mais comum do que se imagina no caso concreto. Além de estudar e desenvolver novos conhecimentos sobre o assunto, também veremos casos apreciados pela esfera judiciária e quais as medidas de aplicação da lei ao caso concreto, lembrando sempre que nenhum caso é igual ao outro, tendo cada uma sua particularidade e diferenças. Vale salientar o desenvolvimento histórico e atual deste delito penal que se encontra descrito no código penal brasileiro. TIPO PENAL Tipificado no decreto-lei n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940 (código penal) e descrito no art. 235 que diz: ART 235-Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena - reclusão, de dois a seis anos. §1ºAquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. § 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime. Sendo uma tipificação contida dentro do título VII (dos crimes contra a família); capítulo I (dos crimes contra o casamento). o caput do artigo deixa claro pelo verbo do tipo: ''contrair alguém'‘, (contrair quer dizer celebrar, convolar, pactuar); ''novo casamento'' (casamento é o vínculo estabelecido entre duas pessoas, de acordo com as formalidades legais caracterizado pela comunhão plena da vida tendo como objetivo à constituição de uma família); já sendo casado. deixando claro o entendimento que a lei pune o indivíduo que realiza nova celebração matrimonial já tendo uma existente. Tornando-se passível de punição a pessoa solteira que sabendo da existência da condição de casado contrai casamento com alguém já matrimoniado (como descrito no parágrafo 1) Anulado o casamento por diferentes motivos que não do delito citado a conduta é atípica, sendo impunível (transcrito no parágrafo 2). PRECEITO PRIMÁRIO E PRECEITO SECUNDÁRIO DO ART. 235 CP Na conduta descrita no artigo 235 CP; tem-se como preceito primário a proibição da lei de alguém contrair novo matrimonio já existindo um anterior...deixando claro a objetividade e precisão da impossibilidade da conduta segundo a lei. E com cominação de uma punição de cumprimento de pena de reclusão de 2 a 6 anos; ou, detenção de 1 a 3 anos como preceito secundário. A BIGAMIA NA ANTIGUIDADE E NOS DIAS ATUAIS Existem variadas correntes de estudos históricos referentes ao crime de bigamia, não sendo possível uma análise certa e determinada sobre o assunto, tendo em vista que é uma conduta que atinge várias etnias, crenças, grupos sociais. A bigamia não é uma conduta atual e nova no cenário mundial , ao contrário é uma conduta antiga que vem de muitos anos atrás, e de todas as partes do planeta.na considerada era antiga já se concretizava-se esta conduta, na África antiga, Europa, asia e até nos tempos pré- históricos ;onde a figura masculina de um futuro homem moderno se colocava hierarquicamente superior a sua companheira que o ''dividia'' com outras sem ter nenhum tipo de controle ou objeção, até pelo fato de não existir nenhuma punição, cognição e interesses sociais estabelecidos, claro podemos utilizar o termo de maneira abstrata pelo motivo de não existir casamento ou qualquer vínculo com formalidades jurídicas sobre o assunto. a partir do desenvolvimento da humanidade se teve o consentimento e autorização da referida prática para algumas classes sociais (reis, anciões, senhores feudais, etc.) cada nação estabelecendo sua liberação para determinados cidadãos ou a proibição para outros ou para todos. a partir do crescimento e ascendência da influência da igreja sobre os costumes e leis de determinados lugares, países, impérios, reinos; se teve uma mudança drástica sobre a visão dessa prática frente à igreja que começou a considerá-la maléfica. “A bigamia era vista pela igreja não como uma heresia, mas como ato semelhante aos diversos tipos de proposições. era combatida pelas autoridades religiosas através das visitas pastorais, da confissão e dos próprios mecanismos do santo ofício” (Braga, 2004, p. 302)''(trecho retirado do trabalho acadêmico sobre descriminalização da bigamia na sociedade brasileira de autoria ferro, Viviane e Pelin, Edson. pensamento esse que não mudou da igreja e foi sendo utilizado cada vez mais pelos países, nações que se desenvolviam e utilizavam a igreja como alicerce de suas legislações e como costumes cristãos (exemplo que se segue até os dias atuais em que vários países discriminam e tipificam essa conduta como delituosa como o brasil). com o crescimento da humanidade e seu desenvolvimento é natural haverem debates sobre a real necessidade de se ter um tipo penal destes, com o crescimento intelectual e tecnológico moderno, que nós mostra ser um caso muito corriqueiro e considerado natural por parte das pessoas nos tempos presentes, chegando a levantar dúvidas se é necessário a sociedade se preocupar com esse assunto, com o mundo cada vez mais liberal e ''desenvolvido'', havendo cada vez menos relações de monogamia na atualidade . existindo também uma grande e errônea confusão entre bigamia e poligamia. BIGAMIA X POLIGAMIA X POLIANDRIA É comum existir uma grande confusão entre bigamia e poligamia, sendo causado na maioria das vezes por ignorância dos cidadãos que desconhecem o real sentido e significado das palavras. não existindo igualdade de sentidos e sim semelhanças. Bigamia é a situação em que se ''casa mais de uma vez'', é o interesse e pretensão de alguém matrimoniado de realizar novo matrimonio, é o famoso ''estar casado com duas pessoas'', não podendo realizar por proibição da lei penal. enquanto que a poligamia é a união consensual de três ou mais indivíduos em uma relação amorosa, tendo liberdade e conhecimento da situação da união conjugal entre todos os envolvidos. Existem um embate em relação da proibição da poligamia, se está é ou deveria ser considerada ilícito penal como é a bigamia. parte da jurisprudência e doutrinadores divergem sobre o tema, com defensores de diferentes vertentes. consideram alguns como uma conduta delituosa que é atingida por meio extensivo do art. 235 (bigamia) devendo ser aplicado de maneira anexa ao descritono referido artigo; já outra parte da doutrina defende que não deve ser criminalizada pelo fato de haver um consenso comum e aceitação de ambas as partes, que sabem da situação de todos os envolvidos. Caso semelhante e tratado de maneira similar é o caso de poligamia feminina também creditada como poliandria (mulher mantendo união conjugal com dois ou mais homens e com consentimento de ambos) sendo menos comum que a poligamia masculina, tendo embate similar pelos doutrinadores. exemplo emblemático e conhecido de poliandria é o filme ''dona flor e seus dois maridos'' de 1976 baseado no livro de mesmo nome do escritor Jorge amado de 1966. DECISÕES JUDICIAIS REFERENTES A BIGAMIA É fato que a conduta descrita como bigamia é considerada delituosa, até pela mesma estar descrita no código penal, deixando claro que existe uma desaprovação social referente a está conduta. Devendo existir uma apreciação e análise por parte do poder judiciário. Por ser um crime antigo e praticado por várias partes do mundo é comum existir decisões variadas pelo brasil inteiro, com análises diferentes de aplicação da lei penal. Vejamos exemplos: 1- INTERIO TEOR Estado do Maranhão Poder Judiciário segunda câmara criminal APELAÇÃO CRIMINAL nº 13.467/2019 Sessão do dia 31 de outubro de 2019 Apelante: Cleiton Silva Ramos Advogado: Peterson Chaves da Costa (OAB/MA 17.069) Apelado: Ministério Público do Estado do Maranhão Promotor de Justiça: Agamenon de Jesus Azevedo Origem: Juízo de Direito da Comarca de Santa Luzia do Paruá Incidência Penal: art. 235, caput, do Código Penal Relator: Desembargador Vicente de Castro Revisor :Desembargador José Bernardo Silva Rodrigues APELAÇÃO CRIMINAL. BIGAMIA. ART. 235, CAPUT, DO CP. PRESCRIÇÃO RETROATIVA. OCORRÊNCIA. DECLARAÇÃO DE OFÍCIO. I. "A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença, quando não há recurso da acusação"(Súmula nº 146 do STF). Inteligência do art. 110 do CP. II. Decorridos mais de 6 (seis) anos entre a data do recebimento da denúncia (14.09.2011) e da publicação da sentença (outubro de 2017), tendo-se como prazo de prescrição para o caso de 4 (quatro) anos, ante a pena aplicada em concreto, resta fulminada a pretensão punitiva estatal. III. Declarada, de ofício, a extinção da punibilidade do crime, ante a ocorrência da prescrição retroativa. DECISÃO: "Unanimemente e de acordo com o parecer da DR Procuradoria Geral de Justiça, a Segunda Câmara Criminal declarou, de ofício, extinta a punibilidade do crime em razão da prescrição, nos termos do voto do Desembargador Relator". São Luís, MA, 31 de outubro de 2019. Desembargador Vicente de Castro Relator Decisão de apelação n*13.467/19 proferida pelo poder judiciário do estado do maranhão referente a condenação em primeira instância pelo senhor Cleiton silva ramos pelo crime do artigo 235 (bigamia), no qual este teve uma sentença desfavorável apelando ao segundo grau de jurisdição para modificação da decisão pelo colegiado. apelação realizada pelo Peterson chaves da costa (advogado do apelante) com intuito de transfigurar a sentença favorável ao ministério público (apelado da ação) Tendo êxito na convenção da decisão pelo colegiado, alegando prescrição do delito e extinção da punibilidade em face do artigo 110 cp. sendo unânime a decisão do tribunal a favor do apelante. Outra decisão sobre o tema, apreciada pelo tribunal de justiça de minas gerais: 2- INTEIRO TEOR Ementa: apelação criminal - bigamia - sentença absolutória - recurso ministerial - condenação - impossibilidade - atipicidade material da conduta. O direito penal, na condição de última ratio, deve-se ocupar tão somente das condutas mais nocivas ao convívio social e deve atuar somente quando os demais ramos do direito revelarem-se incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do indivíduo e da própria sociedade. No presente caso, a conduta do apelado não gerou grave ofensa aos bens jurídicos tutelados pelo crime de bigamia (casamento e família), de modo que a sanção civil de nulidade do segundo casamento (art. 1.516, § 3º, do CC) já é capaz de dar uma resposta adequada e proporcional ao fato narrado na denúncia, mormente porque à época do segundo casamento o apelado se encontrava separado judicialmente havia mais de dois anos e porque o cônjuge do segundo casamento tinha pleno conhecimento dessa condição. V.V. Embora o agente tenha praticado ato vedado em lei, pois não há prova de que tinha, no momento do fato, consciência sobre a ilicitude de sua conduta. Considerando que o agente praticou conduta típica e antijurídica, excluída a culpabilidade, nos termos do disposto no art. 21 do Código Penal, deve ser mantida a sentença absolutória com a modificação do fundamento jurídico para aquele previsto no art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal. APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0525.10.012754-3/001 - COMARCA DE POUSO ALEGRE - APELANTE (S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - APELADO (A)(S): ANDERSON JOSÉ DA SILVA - CORRÉU: EMERSON EDMAR RODRIGUES, EVA LÚCIA DA SILVA CLARO A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO PARCIALMENTE O VOGAL. DES. FLÁVIO BATISTA LEITE RELATOR. DES. FLÁVIO BATISTA LEITE (RELATOR) V O T O Trata-se de apelação interposta pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais contra a sentença de fls. 177/178, na qual o MM Juiz de Direito de Pouso Alegre julgou improcedente a denúncia contra ANDERSON JOSÉ DA SILVA. A denúncia narra que: (...) no dia 02 de outubro de 2009, às 14h30min, no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, nesta cidade e comarca, os denunciados Anderson, então separado judicialmente, e Eva, então solteira, com consciência e vontade, contraíram casamento, mediante declarações falsas firmadas pelo primeiro denunciado, vem como pelos denunciados Emerson e Luiz Carlos, estes na qualidade de testemunhas. Segundo se apurou o denunciado Anderson, em 25 de janeiro de 2003, na cidade e comarca de Pedralva/MG, contraiu núpcias com Julieta Donizetti de Paula, de quem se separou judicialmente em 15/06/2007. Decorreu que, já nesta cidade e comarca, Anderson e Eva, pretendendo se casarem, deram início, em 18 de agosto de 2009, ao processo de habilitação perante o Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais desta cidade, arrolando como testemunhas os denunciados Emerson e Luiz Carlos. Apurou-se que Anderson, separado judicialmente, não obstante conhecesse o impedimento de, nessas circunstâncias, contrair novas núpcias, apresentou ao Oficial do Cartório sua certidão de nascimento - onde não constava qualquer anotação acerca de seu estado civil (fl. 12) - e, com consciência e vontade, omitiu tal informação perante o Oficial de Registro Civil, declarando-se solteiro (fl. 14). Quanto a Eva, apurou-se que, sendo solteira, porém conhecedora do verdadeiro estado civil de Anderson, com consciência e vontade, com ele contraiu núpcias. Já os denunciados Luiz Carlos e Emerson, por suas vezes, também conhecedores do verdadeiro estado civil de Anderson, firmaram declarações falsas, afirmando ser este solteiro, assim concorrendo de forma determinante para o sucesso do delito (fl. 15). Diante do exposto, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais DENUNCIA a Vossa Excelência ANDERSON JOSÉ DA SILVA como incurso no artigo 235, caput, do Código Penal, e EVA LÚCIA CLARO DA SILVA, EMERSON EDMAR RODRIGUES e LUIZ CARLOS DAVID, como incursos no artigo 235, § 1º, c/c art. 29, todos do Código Penal (...) (sic, fls. 02/03). Foi ofertado o benefício da suspensão condicional do processopara os acusados Emerson Edmar Rodrigues e Eva Lúcia Claro da Silva (fls. 99/100) e ocorreu o desmembramento do feito em relação ao acusado Luiz Carlos David (fls. 126 e 127). Finda a instrução criminal, o juiz julgou improcedente a denúncia e absolveu Anderson José da Silva com base na atipicidade material da sua conduta (fls. 177/178). Intimações da sentença regulares. O Ministério Público apelou e, nas razões de fls. 186/188-v, requereu a condenação de Anderson nos termos da denúncia. Nas contrarrazões de fls. 190/191, a defesa pugnou pela improcedência do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça opinou pelo conhecimento e provimento do recurso (fls. 195/196-v). Esse é, em síntese, o relatório. Passo ao voto. Presentes seus pressupostos de admissibilidade e processamento, conheço do recurso. Ausentes preliminares, arguidas ou que devam ser apreciadas de ofício, passo à análise do mérito da apelação. A materialidade está demonstrada pelos documentos de fls. 09/21 e pelas certidões de casamento de fls. 29 e 51. A autoria também é certa, uma vez que o apelado confessou em juízo que "já era casado quando se casou com Eva (...), que não homologou sua separação" (sic, fl. 163). A confissão judicial do acusado está em consonância com o restante da prova oral produzida, especialmente com as declarações de Eva Lúcia Claro da Silva e de Emerson Edmar Rodrigues, que afirmaram na delegacia que sabiam que Anderson não estava divorciado de Julieta do Donizetti de Paula, mas tão somente separado judicialmente quando contraiu matrimônio com Eva (fls. 37 e 38). O dolo é facilmente extraído do fato de o acusado ter se declarado solteiro durante o processo de habilitação para o casamento com Eva (fls. 17 e 18). Destarte, não resta nenhuma dúvida de que o apelado contraiu núpcias com Eva Lúcia Claro da Silva na vigência do matrimônio anterior, ou seja, sua conduta é formalmente típica. Não obstante a presença da tipicidade formal (subsunção do fato à norma penal incriminadora) e da tipicidade subjetiva (dolo), assim como o juiz, entendo que falta à conduta do apelante a tipicidade material, que consiste na relevância penal do ato praticado e do resultado típico em face da significância da lesão produzida no bem jurídico tutelado pelo Estado. O crime de bigamia (art. 235 do CP) está inserido no Título que trata dos crimes contra a família (Título VII) e no capítulo que protege o casamento (Capítulo I). Portanto, os bens jurídicos protegidos pelo delito em questão são a família e o casamento. No presente caso, entretanto, extrai-se da prova dos autos que o apelado já se encontrava separado judicialmente de Julieta Donizetti de Paula desde 14/08/07, ou seja, há mais de dois anos, quando constituiu matrimônio com Eva Lúcia da Silva Claro, com quem já mantinha união estável. Por conseguinte, restou claro nos autos que já não existia nenhum vínculo afetivo entre o apelado e Julieta, não havia mais relacionamento marital entre os dois, de modo que os dois somente estavam casados formalmente, diante da não conversão da separação judicial em divórcio. Convém ressaltar que à época a separação judicial por mais de dois anos era requisito necessário à homologação do divórcio. Logo, salta aos olhos que a dissolução material do casamento existente entre o apelado e Julieta somente não foi formalizada imediatamente com o divórcio em razão de imposição legal, que, com razão, foi posteriormente banida do direito brasileiro pela Emenda Constitucional 66, de 13 de junho de 2010, por ferir a liberdade das partes e por representar uma intromissão estatal na vida privada das pessoas. Diante do exposto, filio-me ao entendimento do magistrado sentenciante, e mantenho Absolvição do apelado pela atipicidade material da sua conduta. Destarte, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO. Ministério Público imune de custas. DES. WANDERLEY PAIVA (REVISOR) - De acordo com o (a) Relator (a). DES. EDISON FEITAL LEITE Com a devida vênia, divirjo parcialmente do eminente Relator por entender que o caso narrado nos autos configura erro sobre a ilicitude do fato. Como se depreende do exame dos autos, o apelado casou-se no dia 25.01.2003 na comarca de Pedralva e separou-se judicialmente da primeira esposa em 15.06.2007. Mais de dois anos depois, o apelado e a corré, pretendendo contrair casamento, deram início ao processo de habilitação no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais da comarca de Pouso Alegre. Do que consta nos autos, observa-se que foi apresentada ao referido cartório a certidão lavrada em agosto de 1982, dias após o nascimento do apelado (fl. 15 e fl. 148), sem que o Sr. Oficial do Registro exigisse certidão atualizada onde poderia aferir o estado civil e constatar que se tratava de pessoa separada judicialmente, impedida, portanto de contrair casamento até que se efetivasse o divórcio. Também o Ministério Público deixou de observar tal requisito quando da habilitação, prosseguindo o processo até a celebração do casamento em 02/10/2009 (fl. 51). Os depoimentos colhidos apontam para o fato de que o apelante concluiu não haver impedimento para o novo casamento, pois já era separado judicialmente há mais de dois anos, vivia maritalmente com a corré e entregou ao Oficial do Registro Civil os documentos exigidos, não lhe sendo apresentando qualquer obstáculo. Consta ainda que foi o próprio apelante quem entregou no cartório de Pedralva o documento que registra o segundo casamento e que originou este processo, circunstância que, se tivesse má-fé, não teria se concretizado. Acerca do tema, a doutrina de Delmanto esclarece: Tipo subjetivo: O dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de contrair novo matrimônio, sabendo que não poderia fazê-lo. Na falta desta ciência, como no caso do agente leigo e de pouca instrução que contrai novo casamento, embora separado judicialmente, mas não ainda divorciado, poderá haver isenção ou diminuição da pena, nos termos do art. 21 do CP (erro de proibição). Na corrente tradicional é o "dolo genérico". Não há forma culposa. (in Código Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 731). Apelação movida pelo ministério público (apelante do recurso) sendo apreciada pelo tj-mg referente a uma sentença absolutória em favor dos apelados: Anderson josé da silva e corréus: Emerson Edgar Rodrigues, Éva lúcia da silva claro e Luiz Carlos David pela prática do artigo 235 cp. Pela descrição do MP(ministério público) houve uma errônea apreciação do poder judiciário em primeira instância referente a conduta do apelado e de seus coautores ,tendo sentenciado a favor dos mesmos, o que motivou a referida apelação. Entendimento que não se alterou pelo tribunal, tendo em vista que o colegiado manteve a decisão a favor do autor e coautores, sobre o parecer que o senhor Anderson josé da silva não se encontrava mais sobre união afetiva com sua ex-esposa a senhora julieta Donizetti de Paula na qual já se encontravam judicialmente separados desde 14/08/2007( mais de dois anos antes)do matrimônio com a senhora Éva lúcia( já existindo união estável entre ambos). O tribunal argumentou que os fatos narrados tem maiores competências e relevâncias na esfera civil, dissertando o tribunal que o crime de bigamia (art 235 cp) está inserido no título que trata dos crimes contra a família (título vii), e no capítulo que protege o casamento (capítulo i).os bens jurídicos protegidos pelo delito em questão são a família e o casamento, não tendo correlação com o fato em si, pois o mesmo não se encontrava mais judicialmente com a ex companheira e tão pouco foi atingido ou relatado sobre prejuízo a situação familiar. tendo maior respaldo e responsabilidade na esfera civil, como dito na argumentação dos apreciadoresdo direito na referida decisão: ''No presente caso, acredito que a conduta do apelado não gerou grave ofensa aos bens jurídicos tutelados (casamento e família), de modo que a sanção civil de nulidade do segundo casamento (art. 1.516, § 3º, do CC), já é capaz de dar uma resposta adequada e proporcional ao fato narrado na denúncia, mormente porque à época do segundo casamento o apelado se encontrava separado judicialmente há mais de dois anos e porque o cônjuge do segundo casamento (Eva) tinha pleno conhecimento dessa condição. Essa separação de fato, que existia há mais de dois anos, não pode ser ignorada, mormente porque no Direito de Família e de Sucessões essa separação de fato recebe maior relevância do que o vínculo formal existente entre marido e mulher. O direito penal, na condição de última ratio, deve se ocupar tão somente das condutas mais nocivas ao convívio social e deve atuar somente quando os demais ramos do direito revelarem-se incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do indivíduo e da própria sociedade.'' DESFECHO SOBRE O TEMA Neste artigo podemos desenvolver e adquirir novos conhecimentos sobre o delito de bigamia; vimos sua tipificação penal, seus preceitos primários e secundários, além de analisar a conduta de bigamia sobre um contexto antigo e nos dias modernos, tomando conhecimento de ser uma ação antiga e que não era tratado de maneira universal, tendo diferentes formas de entendimento sobre o tema em aspectos sociais, religiosos, penais e culturais. Além de ver a apreciação e providências sobre este crime na luz do poder judiciário e suas diferenciações com conceitos similares. Este artigo teve a finalidade de discorrer e argumentar sobre o tema da bigamia, sendo de muito benéfico nos aprofundarmos em diversas matérias complementares. O trabalho em si, elencou sobre o assunto que pode e deve ser visto mais minuciosamente em diversos artigos, livros, decisões, etc. BIBLIOGRAFIA: CAPEZ, FERNANDO-CURSODEDIREITOPENAL.VOLUME3(PARTEESPECIAL) JUSBRASIL-WWW.JUSBRASIL.COM.BR TJ/MG-WWW.TJMG.JUS.BR/JURISPRUDENCIA